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Antero

Leia os poemas seguintes com atenção. Se necessário, consulte as notas.

Oceano nox1

Junto do mar, que erguia gravemente


A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo dum pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,

Junto do mar sentei-me tristemente,


Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando2, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...

Que inquieto desejo vos tortura,


Seres elementares, força obscura?
Em volta de que ideia gravitais3?

Mas na imensa extensão, onde se esconde


O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido4, um queixume, e nada mais...

Antero de Quental, Poesia II. Sonetos completos, edição crítica de Luiz Fagundes Duarte, Lisboa, Abysmo, 2017, p. 160.

Notas: 1 Oceano nox: noite no oceano (em latim); 2 cismando: que pensa continuamente; 3 gravitar: andar em volta de um astro; atuar em função de algo.
4 bramido: rugido; grito.

1. Divida o poema em sequências lógicas e sintetize cada uma delas.

2. Atente nas duas quadras.


2.1. Descreva o cenário e o estado de espírito do sujeito poético, explicitando aspetos em comum entre os
mesmos.

3. Tendo em conta os tercetos e o valor expressivo da conjunção adversativa no verso 12, explicite o desejo do eu
lírico expresso nas interrogações retóricas e a resposta dos «Seres elementares» a essas questões. Fundamente a
sua resposta convenientemente.

4. Explique de que forma os elementos da natureza são personificados no poema.

5. Comprove a presença das configurações do Ideal e da angústia existencial no poema.

II

Tormento do ideal

1
Conheci a Beleza que não morre
E fiquei triste. Como quem da serra
Mais alta que haja, olhando aos pés a terra
E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre,

Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre;


Assim eu vi o mundo e o que ele encerra
Perder a cor, bem como a nuvem que erra
Ao pôr do sol e sobre o mar discorre.

Pedindo à forma, em vão, a ideia pura,


Tropeço, em sombras, na matéria dura,
E encontro a imperfeição de quanto existe.

Recebi o batismo dos poetas,


E assentado entre as formas incompletas
Para sempre fiquei pálido e triste.

1. Resuma o que é dito pelo eu poético nas duas primeiras quadras do soneto.

2. Ao longo do poema referem-se dois tipos de realidade.


2.1. Caracterize as duas realidades e apresente exemplos de cada uma delas.

3. Interprete o que é dito no primeiro terceto do soneto.

4. Interprete o terceto final do poema, a «chave de ouro», e identifique um recurso estilístico presente no verso
12, comentando o seu valor expressivo.

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