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AVALIAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS

Profa. Márcia Jacoby

A avaliação é uma das ações presentes desde a elaboração do


planejamento e objetiva a reflexão de desempenho das ações previstas e
distribuídas nos seus objetivos, metas, cronograma e metodologia. A não
dissociação e a não compartimentalização destas etapas de um Plano,
Programa ou Projeto deve ser reforçada buscando-se a inter-relação de todos
os momentos vividos na operacionalização para que se tenha a apreensão
desde a projeção de uma expectativa, demanda ou idéia até ao alcance
esperado ou as surpresas. Avaliar constitui-se num exercício permanente
enquanto ocorre a operacionalização e não somente no término do
planejamento e gera a retroalimentação de cada uma das projeções.
Cohen e Franco (1993) citam o conceito formulado pela OMS (1981, 11),
referindo que a avaliação é “um meio sistemático de aprender empiricamente e
analisar as lições aprendidas para o melhoramento das atividades em curso e
para o fomento de um planejamento mais satisfatório mediante uma seleção
rigorosa entre as distintas possibilidades de ação futura. Isso supõe uma
análise crítica dos diferentes aspectos do estabelecimento e da execução de
um programa e das atividades que constituem o programa”. (p. 77) É um ato de
retratar o que ocorre em um determinado espaço, caracterizar os executores e
determinar a correlação entre interesses e resultados.
É o processo de avaliação que dá a dimensão do planejamento e suas
repercussões para os atores sociais e o aparato institucional executor e
mantenedor. A avaliação adquire a representação de um lugar, um quantum,
no sentido de uma valoração institucional, pessoal e social refletindo a rotina
institucional, a sistematização de dados e concepções, o contexto social e as
apreciações dos sujeitos sociais, permitindo a visibilidade da inserção de cada
sujeito na operacionalização do planejamento.
A questão do protagonismo é um ponto de discussão recente na
mensuração do produto e do impacto das ações públicas. No entanto, a
contemplação deste aspecto indica determinada opção e entendimento da
participação dos envolvidos na execução e no recebimento dos benefícios das

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políticas públicas. O processo participativo implica na perspectiva de cidadania
e na co-gestão do Estado e este acompanha os movimentos histórico-políticos
da sociedade brasileira, apresentando-se com uma heterogeneidade de
experiências. A inserção dos usuários dos bens e serviços societários tem se
caracterizado pela repressão de qualquer iniciativa da população, pela
convocação de uma participação manipulada para determinados fins ou ainda
pela participação construída pelos sujeitos sociais.
Para Cohen e Franco (1993) a preocupação dos governos com a
deteriorização das condições de vida da população exige o reforço das ações e
o aumento da racionalidade dos recursos para a multiplicação dos seus
rendimentos e para a ampliação da sua captação, inclusive oriundos do apoio
internacional. Tal situação impulsiona a medição da eficiência, da eficácia, da
pertinência e da eqüidade dos empreendimentos públicos na área social.
A “avaliação das políticas públicas, é estudar o processo de tomada de
decisões e os fatores que influenciam esse processo...” (Silva, 1997, p.74).
Também esta autora assinala que os princípios norteadores de avaliação tem
se concentrado na busca de indicadores de eficácia e eficiência das políticas
sociais desprezando a avaliação política destes princípios.
Os princípios de avaliação revelam a intencionalidade posta nas
decisões e no projetar as ações públicas. A intencionalidade indica uma
determinada concepção de homem, mundo e sociedade e define o
entendimento de democracia e cidadania, identificando o papel do Estado e a
inserção dos cidadãos na sua construção e gestão. Nesse sentido, é
necessário desmistificar a ênfase dada à neutralidade e compreender as
implicações ético-políticas presentes no ato de avaliar através da análise do
significado de eficiência imprimida nas orientações e decisões de natureza
política das administrações públicas até as últimas décadas.
Cohen e Franco (1993) afirmam que relacionar os indicadores da
eficiência e da eqüidade na consecução dos objetivos da política social deve
considerar os três tipos de políticas sociais que são os assistenciais, os de
investimento em recursos humanos e os promocionais. Estes indicadores
devem pautar a elaboração e implementação das ações governamentais. A
intencionalidade como norteadora no enfrentamento das necessidades sociais

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e das demandas organizadas aponta aos princípios de autonomia e
emancipação dos cidadãos. É de se perguntar se o enfrentamento baseia-se
na erradicação da problemática ou busca a minimização das desigualdades
como medida paliativa e neutralizadora do processo participativo real dos
cidadãos. Estas opções políticas demarcam os compromissos e interesses no
estabelecimento de áreas prioritárias para o investimento governamental.
Elucidar os critérios que fundamentam determinada proposição política
requer o entendimento de suas razões. A questão metodológica de avaliação
implica a verificação e análise das mudanças decorrentes das ações, os
valores dos técnicos, das forças sociais na implantação do programa, da forma
definida para enfrentamento da problemática bem como, é condicionada pelo
tipo de programa, quem a realiza e para quem se realiza a avaliação. (Silva,
1997) Neste aspecto, Cohen e Franco (1993) alertam a presença do elemento
político e do elemento técnico na otimização de esforços e recursos e a
necessidade de construir uma nova institucionalidade baseada na articulação
entre os diferentes Departamentos, Fundações, Secretarias ou Ministérios
evitando a fragmentação das administrações, funções, critérios e
investimentos.
É importante ressaltar que a definição do método está permeada pelos
princípios políticos que fundamentam o planejamento e, por isso, encontra-se
também aqui o atravessamento da intencionalidade condicionando esta
questão. Por outro lado a “ausência de adequados controles e a não utilização
das metodologias de avaliação” (Cohen e Franco, 1993, p 31) também é um
indicador do grau de relevância dada à consecução dos objetivos e utilização
dos recursos públicos.
Se o foco central a ser verificado são os aspectos quantitativos ou
qualitativos na leitura do produto das políticas sociais, isto diz respeito tanto à
adoção de procedimentos metodológicos quanto aos propósitos na relação
população e Estado.
A mensuração do produto e do impacto da ação pública considerando os
princípios da justiça política e social e o processo de produção do produto
permite a aferição da eficácia e a captação dos efeitos sobre as condições
sociais dos cidadãos. Cohen e Franco salientam que “a fragmentação da

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política social em múltiplas ações torna-a ineficaz porque não produz um
impacto de importância nas causas dos problemas”. (1993, p. 30) Assim, o
impacto redistributivo ou compensatório remetem aos princípios e intenções já
mencionados.
Silva (1997) menciona os modelos de análise das políticas de produção
de bens e serviços públicos e as de mudança e avaliação de impactos. No
primeiro modelo a mensuração centra-se na distribuição de bens e serviços
verificando o cumprimento de metas, da eficácia moral e instrumental nos
critérios de funcional, administrativo e contábil tratando de identificar a relação
entre meios e metodologia e relação custo-benefício sócio-político. No segundo
modelo dá-se a aferição dos impactos objetivos, subjetivos e substantivos.
Salienta-se que o entendimento de mudança é o referente à avaliação política
no desempenho da política social.
O trajeto metodológico em Cohen e Franco (1993) contém os aspectos
de objetividade na captação da realidade, a suficiência da informação, a
validade dos instrumentos avaliativos, a confiabilidade e estabilidade das
informações. Estes autores distinguem quatro tipos de avaliação: avaliação
externa, interna, mista e participativa. Cada uma implica na diferente
organização do processo avaliativo, dos examinadores, da metodologia, do
grau de envolvimento com a operacionalização dos programas sociais, da
forma de devolução dos resultados, dos destinatários e da perspetiva de
continuidade das ações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. SILVA, Maria Ozanira da Silva e. Avaliação de políticas sociais: concepção


e modelos analíticos. Revista Serviço Social e Sociedade. São Paulo:
Cortez, n. 53, mar., 1997.
2. COHEN, Ernesto e FRANCO, Rolando. Avaliação de projetos sociais.
Petrópolis: Vozes, 1993.

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