Você está na página 1de 29

ISSN 1981-5999

Ministério da
Agricultura, Pecuária
e Abastecimento

Identificação e tecnologia de
plantas medicinais da flora de
clima temperado

61 Introdução
A medicina moderna ou alopatia vem identificando e relatando
problemas crescentes relativos à ocorrência de efeitos colaterais
negativos, problemas alérgicos e alto custo de vários medicamentos de
uso humano e veterinário, tornando-a pouco acessível para boa parte
da população brasileira. Esta realidade vem tornando a fitoterapia,
a homeopatia, os florais, entre outros, importantes alternativas para
pessoas que buscam métodos naturais ou com acesso restrito a
medicamentos de alto custo. A fitoterapia possui várias vantagens,
tais como baixíssima ocorrência de efeitos colaterais negativos, custo
reduzido do tratamento e aumento do conhecimento da pessoa sobre a
sua doença, que assim se torna agente de sua própria saúde. No entanto,
requer inúmeros cuidados, como perfeita identificação da planta e sua
aplicação na fitoterapia; colheita da planta em local e época indicados;
armazenamento da planta em boas condições; uso da dose indicada para
a planta em questão; conhecimento pleno da doença e disposição de
seguir o tratamento pelo período indicado.
Pelotas, RS
Dezembro, 2007 Nos últimos anos, a medicina natural e a fitoterapia humana e veterinária
tomaram grande impulso, principalmente pela eficácia comprovada
através de resultados experimentais recentes, o que tornou-a novamente
Gilberto A. Peripolli Bevilaqua uma alternativa amplamente utilizada pelas pessoas que procuram
Eng. Agrôn., Dr. Agronomia métodos alternativos ou de baixo custo. A Organização Mundial de
Embrapa Clima Temperado
Pelotas, RS (bevilaq@cpact. Saúde estima que 3,5 bilhões de pessoas em países em desenvolvimento
embrapa.br) dependem de medicamentos derivados de plantas para o tratamento
Gustavo Schiedeck de várias doenças. Entretanto, este fenômeno acabou levando inúmeras
Eng. Agrôn., Dr. pessoas a utilizarem plantas de forma inadequada, obtendo resultado, às
Embrapa Clima Temperado
Pelotas, RS (gustavo@cpact.
vezes, diverso daquele esperado.
embrapa.br)
Segundo Tuxhill (2000), aproximadamente um quarto dos fármacos
Jose Ernani Schwengber Eng.
Agrôn., Dr. receitados nos Estados Unidos são princípios ativos provenientes
Embrapa Clima Temperado diretamente das plantas medicinais, portanto, a fitoterapia constitui-
Pelotas, RS (jernani@cpact.
embrapa.br) se em alternativa no controle de doenças cardíacas, leucemia, câncer
linfático, glaucoma, entre outras doenças sérias. O autor relata perdas
severas da agrobiodiversidade em nível mundial, colocando que uma
em cada oito espécies vegetais existentes está potencialmente sob
risco de extinção. Este fenômeno é agravado em termos de plantas
medicinais, devido a superexploração de determinadas plantas sem a
devida atenção ao seu cultivo, havendo severas perdas de genótipos que
podem apresentar efeitos farmacológicos, mas que não chegam a ser
conhecidos.

O presente documento está dividido em duas partes. Na primeira,


relatam-se informações referentes a algumas espécies de plantas
exóticas de largo uso na fitoterapia e cujo efeito já é reconhecido
cientificamente. Na Segunda parte, por outro lado, apresentam-se relatos
sobre uma vasta gama de espécies de plantas nativas cujos resultados
de pesquisas científicas ainda são escassos e a utilização é indicada pela
2 Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado

medicina popular. vulgar, e classificação em famílias, gêneros e


espécies, é importante para se reconhecer as
Os objetivos do trabalho são contribuir plantas de diferentes regiões.
no conhecimento das plantas medicinais
principalmente aquelas que ocorrem Por exemplo: Aloe vera L., no caso temos o
naturalmente na região de clima temperado e gênero Aloe e espécie vera, identificando a
apresentar tecnologias de manejo e utilização babosa verdadeira. Isto permite diferenciar
das plantas, no sentido de obter produtos outras espécies do gênero Aloe, como as
seguros e de alta qualidade. espécies arborescens e ferox, e que também
são utilizadas como medicinais.
Cuidados gerais no uso de plantas medicinais:
Principais aspectos a serem observados para
- utilizar somente plantas perfeitamente
diferenciar as plantas:
identificadas;
- nunca utilizar plantas desconhecidas ou de - porte da planta - arbóreo, arbustivo, semi-
identidade duvidosa; arbustivo, herbáceo, etc.;
- não colher plantas próximo a locais onde foi - tipo de folha - folhas simples, composta,
aplicado agrotóxico; alternas, opostas, etc;
- não coletar plantas à beira de estradas ou - forma da folha - redonda, ovalada, penada,
locais poluídos; cordiforme, septada, etc.;
- observar rigorosa higiene pessoal e dos - tipo e cor da flor - é o principal meio de
utensílios utilizados no preparo; diferenciar as espécies; flor simples ou
inflorescência;
- não misturar plantas sem o conhecimento
prévio do seu efeito, pois os princípios ativos - época de florescimento - existem
podem não ser compatíves ou causarem basicamente duas épocas de florescimento,
efeitos contrários aos esperados; na primavera ou outono;
- não utilizar plantas com qualquer tipo - produção de semente - a produção da
de efeito tóxico durante a gravidez ou semente é importante na reprodução
amamentação, sem orientação médica; da planta e na variabilidade genética da
espécie. A propagação vegetativa garante a
- utilizar utensílios adequados no preparo;
ausência de variabilidade genética.
- não utilizar chás laxantes e/ou diúreticos
como emagrecedores;
Fases da planta durante o ano
- não utilizar uma mesma planta ou preparado
Durante o seu desenvolvimento, a planta
por período superior a 15 dias, sem consultar
passa por várias fases. De acordo com a
um profissional de saúde;
espécie, podem haver peculiaridades quanto
- colocar rótulo em todos os preparados, as fases e subfases. De uma maneira geral,
contendo composição e data. podemos destacar quatro principais fases:

Crescimento vegetativo – no caso de plantas


Identificação das Plantas anuais, ocorre a emergência das plântulas e
inicia o desenvolvimento das folhas. Nesta
As plantas são identificadas pelo seu porte,
fase a planta cresce em comprimento e
forma e tamanho da folha e, principalmente,
diâmetro do caule.
pelo aspecto e coloração das flores. Assim
para termos certeza da identidade de uma Florescimento - a planta paralisa, total ou
planta devemos observá-la na época de parcialmente, o crescimento vegetativo e
floração. emite flor(es) ou inflorescência.
Apenas a nomenclatura vulgar, com suas Maturação – as flores encontram-se
várias sinonímias, não é suficiente para totalmente abertas e ocorre a sua fertilização.
identificar a planta entre regiões. O sistema Nesta fase tem início a formação das
científico usado com nome científico e sementes.
Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado 3

Repouso - ocorre geralmente no inverno, Tem sido colocado por muitas pessoas,
quando a planta paralisa o metabolismo. erroneamente, que a fitoterapia é isenta de
As plantas perenes perdem as folhas efeitos indesejáveis ou contra-indicações,
(caducifólias) e sobrevivem raízes (rizomas, entretanto a diferença entre o remédio e
tubérculos e bulbos) sob o solo. As anuais o veneno é, muitas vezes, apenas a dose.
produzem sementes que permanecem no solo Observa-se que inúmeras plantas podem
até a próxima estação de crescimento. apresentar sérios efeitos tóxicos, como a
babosa, o confrei, o aveloz, a arruda, a losna,
Ciclo da planta entre outros. Estas plantas que apresentam
Anual - a planta nasce das sementes, algum efeito tóxico devem ser contra-
desenvolve-se, floresce e após seca, indicadas para mulheres grávidas ou que
desaparecendo do campo numa época do ano. estejam amamentando e crianças pequenas,
Necessita ser semeada todos os anos, sendo exceto por prescrição de profissional da
que a maioria ressemeia naturalmente. Por saúde. Da mesma forma, a utilização da
ex. tansagem, coentro, erva-doce. fitoterapia em doses diferentes daquelas
indicadas por resultados experimentais ou
Perene - as plantas vegetam o ano todo, planta em mau estado de conservação, podem
não necessitando de semeadura. Pode ter prejudicar a saúde da pessoa.
dois tipos: perene com folhas caducas ou
perenifólia, que são maioria. De acordo com Simões et al (1985), de uma
forma geral as plantas são classificadas em:
Bianual- necessita dois anos para completar
o ciclo. Geralmente, no primeiro ano o a) plantas de uso interno: são as que
crescimento é vegetativo, no segundo é apresentam índices muito baixo de
reprodutivo. ex. cebola, alho, alcachofra. toxicidade ao homem ou animais
podendo ser ingeridas nas diversas
Partes da planta formas de preparo. Muitas delas já
Raiz – tem a função de fixar a planta ao foram intensamente pesquisadas, sendo
solo e absorver água e nutrientes. As raízes constadado efeito tóxico baixo ou mesmo
subterrâneas apresentam os seguintes tipos: nulo. Em certos casos, algumas plantas com
axial ou pivotante, tuberosa, fasciculada e algum efeito tóxico podem ser indicadas
ramificada. para uso interno, mediante orientação
de profissional da saúde. Nestes casos,
Caule- com a função de produção e suporte o benefício ocasionado pela utilização da
de ramos, flores e frutos, além de condução planta deve compensar o efeito tóxico
de seiva; crescimento e ainda propagação causado pela mesma.
vegetativa. Tipo de caule aéreo: ereto b) Plantas de uso externo: são as que
(herbáceo, arbustivo, lenhoso), rastejante apresentam altos índices de toxicidade
e trepador; e caules subterrâneos: rizoma, ao homem não devendo ser ingeridas e
bulbo (alho) e tubérculos. apenas usadas na forma de pomadas,
unguentos ou banhos. Algumas plantas
Folhas – com a função de síntese de apresentam altos índices de toxicidade e
carbohidratos e a grande maioria dos são consideradas venenosas, pode-se citar:
compostos de importância medicinal. coroa de cristo (Euphorbia sp.), mamona
(Ricinus communis), maria mole (Senecio
Flor- órgão reprodutivo, com a função de brasiliensis), espirradeira (Nerium oleander),
reprodução sexual e produção de sementes, copo de leite (Zantedeschia sp.), sendo
podendo ser flores simples e compostas. utilizadas de forma bastante restrita pelo
homem, inclusive externamente.
Fruto/semente- órgão de dispersão das
sementes, com a função de proteção e - Plantas que podem cauxar problemas no
dispersão das sementes, concentra grande fígado: confrei (Symphytum officinale);
quantidade de princípios ativos (pa). cambará (Lantana camara); canela sassafrás
(Ocotea pretiosa); maria-mole (Senecio
Plantas tóxicas e seu manuseio brasiliensis);
4 Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado

- Plantas que podem causar irritação no princípios ativos, e cada um apresenta


estômago e intestino: jurubeba (Solanum ação específica sobre determinada função
paniculatum), umbu (Phytolacca dioica); fisiológica. Da mesma forma, existe
arnica (Arnica montana) variabilidade química entre os distintos
genótipos da planta, conforme a Figura 1,
- Plantas que podem afetar o sistema nervoso:
o que pode ser realçado de acordo com o
erva de santa maria (Chenopodium
método de extração dos princípios ativos
ambrosioides); trombeteira (Datura
(Bevilaqua et al, 2003). Populações de uma
suaveolens); losna (Artemisia absinthium);
determinada região apresentam maior
cavalinha (Equisetum arvense)
quantidade de determinado composto,
- Plantas que podem provocar danos na pele: entretanto poderá haver interferência do fator
arnica (Arnica montana); folhas de figo local ou da fertilidade do solo.
(Ficus carica); mamica de cadela (Brasimum
gaudichaudii). Desta forma, alguns genótipos poderão
apresentar propriedades distintas sobre
- Plantas que podem provocar diarréias em
determinadas funções fisiológicas ou mesmo
doses altas: babosa (Aloe vera); sene (Cassia
serem inócuos. Devendo-se observar os
acutifolia); ruibarbo (Rheum palmatum);
principais fatores abióticos que atuam sobre
tajujá (Cayaponia spp);
a sua composição, quais sejam solo e clima
da região. A composição química das plantas
Princípios ativos e sua extração poderá sofrer profunda alteração quando
transferidas para áreas de cultivo, devendo-se
Princípio ativo (p.a.) são substâncias químicas, atentar para as condições nas quais a mesma
geralmente metabólitos secundários, que desenvolve-se em seu habitat natural, ou seja,
a planta produz durante o seu crescimento suas preferências de solo e clima.
e desenvolvimento, e que possuem ações
diversas sobre o organismo humano ou
animal. Assim, as plantas produzirão vários
princípios ativos, concomitantemente ou
em diferentes fases da planta, sendo que a
sua localização na planta pode não realizar-
se de maneira uniforme, podendo variar a
concentração de acordo com a parte da planta
e seu estádio fenológico. De acordo com
Franco (1996) e Korbes (1995), a concentração
de princípios ativos atinge os valores mais
elevados por ocasião da floração, devido
provavelmente ao máximo acúmulo de massa
Figura 1. Perfis cromatográficos de 15
seca na planta.
genótipos de chapéu-de-couro (Echinodorus
Os princípios ativos estão presentes em toda spp) coletados em várias regiões do
a planta, apresentando maiores concentrações Rio Grande do Sul e cultivados em área
em determinada(s) época(s) do ano ou experimental. N- indica planta nativa (citado
determinada parte da planta, no entanto não de Bevilaqua et al., 2003).
impossibilitam o uso das demais partes da
planta para fins medicinais. Desta forma,
a parte da planta irá definir a sua forma
de utilização e a indicação de tratamento. Princípios ativos (pa) mais importantes
A extração do princípio ativo visa ao encontrados nas plantas
aproveitamento total da planta e vai depender existe uma quantidade enorme de pa(s)
do método de preparo, pois de acordo com encontrados nas plantas, podendo ser
o método poderá haver aumento do poder destacados os seguintes:
terapêutico.
1. Glicosídeos – substâncias que por
A planta possui grande variedade de aquecimento em meio ácido, ou por ação
de enzimas liberam um ou mais açúcares
Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado 5

e um outro componente denominado benjoim, bálsamo-do-peru, etc.) possuem


aglicona. Os mesmos são de ocorrência propriedades antiinflamatória, antisséptica
frequente em plantas e são agrupados de e cicatrizante. ex: bálsamo-brasileiro,
acordo com a estrutura das agliconas. Os bálsamo-do-peru, etc.
principais são: glicosídeos cardiotônicos
5. Alcalóides- são substâncias nitrogenadas
- aumentam a capacidade de contração
de reação alcalina (de onde vem o nome),
do coração, cardiotóxicos e cardioativos.
com um ou mais átomos de carbono,
ex. dedaleira, trombeteira; glicosídeos
normalmente em estrutura cíclica.
cianogênicos- de alta toxicidade e que
Apresentam atividades farmacológica
liberam ácido cianídrico, ex: mandioca-
marcantes e muito diversificadas. Podem
brava e pessegueiro-bravo.
acarretar distúrbios neuropsíquicos, como
2. Substâncias tânicas- são substâncias exemplo hioscinamina, escopolamina,
químicas complexas, que se distribuem atropina. Esta última é usada no tratamento
por toda a planta ou partes da planta, de envenamento com agrotóxicos
como mecanismo de proteção a fosfatados e carbamatos. ex. beladona
herbívoros. São percebidas facilmente (Atropa beladona), estramônio e saia branca
pela sua adstringência. Têm propriedades (Datura graveolens)
de precipitar proteínas, formando uma
6. Flavanóides - substâncias fenólicas de
camada protetora, em pequenas doses.
ampla distribuição no reino vegetal,
Em doses maiores podem causar irritação.
ocorrem de forma livre (agliconas) ou
Possuem ação vasoconstritora, cicatrizante,
ligadas a açúcares (glicosídeos). Atuam na
hemostática, antidiarréica, antisséptica
atração de insetos pelas plantas para a sua
e adstringente. Por ex. romã e goiaba –
polinização. De acordo com sua estrutura,
antidiarréico e antisséptico, boldo, chapéu
apresentam ação farmacológica diversa
de couro e confrei - adstringente, etc.
como diminuição da permeabilidade e da
3. Óleos voláteis e essenciais – são fragilidade dos vasos sanguíneos, ação anti-
substâncias oleosas, com odor intenso inflamatória, antiespasmódica, antiviral e
e agradável e que são extremamente antibacteriana.
voláteis. Os óleos são formados por
7. Mucilagens – são polissacarídeos
diversas substâncias e podem apresentar
(condensação de açúcares mais simples)
propriedades antisséptica, bactericida,
que em contato com a água incham
diurética, antiespasmódica (cólica),
formando um composto viscoso. As
ntiinflamatória, expectorante, antivirótica,
mucilagens são encontradas em sementes,
cicatrizante, vermífuga, analgésica e
caules, frutos, raízes e até folhas. As
sedativa. Os principais componentes
mucilagens agem portegendo as mucosas
deste grupo são substâncias químicas
contra irritantes, atenuando inflamações,
denominadas terpenos, monoterpenos e
bem como reguladoras da atividades
sesquiterpenos. São obtidos através de
digestiva em pequenas doses (em doses
destilação, pela evaporação junto com a
maiores tornam-se laxativas. Ex: folhas e
água, possuindo baixa solubilidade em
sementes de linhaça, folhas e sementes de
água. A família Lamiaceae (Labiatae) é a que
tansagem, folha da babosa, etc
apresenta a maior quantidade de variedade
destas substâncias, como por ex. hortelã - 8. Ácidos orgânicos – metabólitos secundários
mentol, manjericão, eucalipto – eucaliptol, da respiração e fotossíntese das plantas
melissa , erva de santa maria – ascaridiol, e que atuam de diversas formas no
etc. organismo. Os ácidos málico e tartárico
atuam como desinfetantes e reconstuintes
4. Resinas e óleo-resinas- é uma secreção
da flora intestinal, com ação antagônica a
fisiológica da planta, especialmente
bactérias estomacais. São encontrados em
as de porte arbóreo. É amorfa, quase
frutas maduras em geral.
sempre transparente e insolúvel em água,
entretanto solúvel em álcool e solventes 9. Saponinas – são glicosídeos com
orgânicos. A categoria engloba gomas- propriedade de formar espuma abundante
resinas (goma-laca vegetal, incenso, etc) em presença de água (de onde provem
oleo-resinas e bálsamos (terebentina, seu nome, indicando propriedades iguais
6 Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado

ao do sabão). São tóxicas para peixes, diariamente. Após esse período, filtrar e
crustáceos e insetos, mas não ao homem acondicionar em vidro escuro.
devido a sua baixa capacidade de absorção
pelo estômago e instestino. Possuem A tintura concentrada obedece a todas as
ação hemolítica (destruição de glóbulos indicações anteriores, exceto na quantidade
vermelhos). São de ocorrência ampla em da planta utilizada que é 100 a 200 g da planta
plantas medicinais e comestíveis, com verde por litro de álcool.
atividades fungicida e antibiótica, ou anti-
inflmatória e antiulcerosa. Ex. tansagem, Uso: tomar 15 gotas, 4 vezes ao dia (ou 20
chapéu de couro, etc. gotas três vezes ao dia), perfazendo um
total de 60 gotas por dia. Pode ser indicada
Métodos básicos de preparo: uma gota por kg de peso da pessoa, até um
A) Infusão – é o principal meio de preparo limite de 60 gotas ao dia. No caso da tintura
das ervas medicinais, indicados concentrada, é recomendado uma dose
preferencialmente para folhas e flores, máxima de 10 a 20 gotas por dia, devendo a
especialmente. Método: colocar 20 gramas dose ser reduzida no caso de crianças.
da planta verde ou 10 g da planta seca (em
média), em um litro de água aquecida à 80- O macerado também pode ser feito em
85oC; deixar tampado por 20 minutos, para água, ou mesmo vinho, usando as mesmas
folhas e flores, e 40 minutos, para cascas e indicações de quantidade anteriores. Para
raízes. Tomar 3 a 4 xícaras ou um litro de chá folhas e flores, deixar em água fria por 12 a
por dia. 18 horas; já para cascas e raízes o tempo é 24
horas. Tomar três xícaras ao dia ou um litro de
B) Decocção – é o principal método de preparo chá.
indicado para cascas e raízes; para flores e
folhas a decocção é contra-indicada, porque Receitas básicas utilizadas no preparo
pode afetar negativamente as propriedades
da planta. Método: colocar 10 g de raízes 1) Pomada - as pomadas são preparados com
ou casca secas para cozinhar em um litro de substâncias gordurosas de uso externo em
água, pelo tempo indicado de acordo com a pessoas ou animais. O material necessário
espécie e parte da planta. O tempo indicado é gordura (banha, vaselina ou lanolina),
para flores e folhas é de 3 a 5 minutos. Já planta (folhas, flores, cascas ou raízes) e
cascas e raízes são fervidas por 15 a 20 cêra de abelha. As tinturas podem substituir
minutos. Após, deixar tampado até amornar. a planta no preparo da mesma (Teske &
Tomar 3 a 4 xícaras de chá ou um litro por Trentini, 1994).
dia.
Método: lavar, secar e socar as plantas. Juntar
C) Maceração - consiste na colocação da erva a gordura e levar em banho maria por 30 a 40
medicinal, folhas, flores ou cascas em álcool minutos. Retirar do fogo, coar e acrescentar
farmacêutico por um período de 14 dias. cera de abelha ralada.
O produto obtido é chamado de tintura-
mãe. A tintura possui efeito semelhante - Pomada milagrosa: para 350 g (1 xícara) de
aquele obtido por infusão, entretanto, mais banha ou vaselina ou lanolina
pronunciado e pode ser usado como base 2 folhas de confrei
para outras formulações. É recomendado 2 folhas de babosa
a utilização de álcool farmacêutico ou
cereal na concentração de 70o ou cachaça 30 g de folhas de tansagem
pura. No caso de álcool concentrado 96o 30 g de folhas de cidró (usada como
GL, o mesmo deve ser diluído em água aromatizante)
fervida, destilada ou mineral, até atingir a 50 g de cêra de abelha ralada
concentração indicada. - Pomada para mamite: 1 xícara de banha ou
Método: lavar, secar e socar 20 g da planta vaselina ou lanolina
verde ou 10 g da planta seca com pilão de 2 folhas de confrei
madeira em recipiente de vidro. Misturar à 5 colheres de sopa de folhas de tansagem
planta um litro de álcool e deixar em vidro 5 colheres de sopa de bálsamo alemão
fechado por 14 dias, no escuro, agitando
Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado 7

50 g de cêra de abelha ralada em óleo ou azeite vegetal, visando extrair


os princípios ativos. Método: lavar e
- Pomada para sarna: 1 xícara de banha ou socar 200 g da planta em um litro de óleo.
vaselina ou lanolina Após deixar em repouso por 21 dias,
30 g de folhas e flores de espirradeira permanecendo no escuro. O produto obtido
(Nerium oleander) serve para massagear ou tomar em gotas,
conforme o caso.
30 g de folhas de cidró (usada como
aromatizante)
50 g de cêra de abelha ralada Receita de óleo para varizes: (somente para
uso externo)
2) Xarope - são preparados líquidos e densos 1 litro de óleo de soja, canola ou girassol
feitos com plantas medicinais ou tintura, 200 g de flores de copo de leite (Zantedeschia
água, mel e açúcar. sp)
Método: juntar açúcar e água e ferver por
30-40 min em panela de ferro até dar ponto Receita de óleo de angico vermelho ou ipê-
de xarope (mel recém colhido); acrescentar roxo
as plantas e ferver por mais 5 minutos em
1 litro de óleo de soja, canola ou girassol
panela tampada e fogo baixo. Tirar do fogo e
deixar amornar com a panela tampada, coar 200 g de casca de angico vermelho ou ipê-
e acrescentar o mel, misturando bem. Se for roxo.
usada tintura concentrada, colocar após retirar Tomar 5 a 10 gotas 4 vezes ao dia.
do fogo, na proporção de uma gota por ml de
xarope. 5) Repelentes e inseticidas - usa-se extrato
alcoólico das folhas secas de fumo ou
- Receita básica de xarope: fumo em corda. Colocam-se as folhas
1 litro de água secas de fumo (250 g) ou fumo em corda
2 xicara de açúcar (25 cm) picados e macerado em alcool
70o por 24 horas, após coa em pano fino e
1/2 xicara de mel
coloca o extrato em vidro escuro fechado.
20 g de folhas verdes de eucalipto Apropriado para pulgões e cochonilhas.
(expectorante) Usa-se espalhante adesivo caseiro: coloca-
20 g de folhas verdes de guaco se sabão (50g) em banho-maria até derreter
(antiinflamatório e expectorante) bem. Misturar os dois componentes,
20 g de folhas verdes de sabugueiro ou mil- diluindo até 5 litros de água e pulverizando
folhas (analgésico e antitérmico) sobre as folhas. Usado para pulgões,
cochonilhas e lagartas.
20 g de casca de banana ou bananinha do
mato (antibiótico)
Repelente de mosca e mosquito - ferver
3) Sabão medicinal - a receita básica é feita durante 30 minutos, em um litro de água, um
da seguinte maneira: ferva separadamente, punhado (250 g) de folhas e frutos da mamona
durante 20 minutos, em meio litro de água, (ricino), após diluir a calda em 5 litros de água
as seguintes plantas: arruda, fumo (em e pulverizar. Misturar junto espalhante-adesivo
corda), boldo, carqueja, losna e babosa. (sabão).
A calda obtida das ervas é misturada e
guardada em frasco escuro. Rale o sabão Pesos e medidas de ervas:
de coco ou glicerina, e aqueça em fogo Medidas aproximadas das ervas medicinais:
baixo até derreter bem. Misture até 1/3 planta verde, usa-se 20 g por litro de água e
do peso do sabão da calda obtida e bata planta seca usa-se 10 g por litro de água.
em fogo baixo até dar ponto de polenta.
1 colher de café corresponde a 4 g de raízes
O sabão é indicado para caspa, queda
secas
de cabelo, seborréia, piolho, sarna e
problemas de pele. 1 colher de café corresponde a 2 g de folhas
verdes
4) Óleo medicinal – é um macerado da planta
1 colher de sopa corresponde a 10 g de
8 Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado

raízes ou cascas verduras.


1 colher de sopa corresponde a 5 g de folhas - uso da horta doméstica já existente ou
verdes construção de horta medicinal específica -
1 colher de sopa corresponde a 2 g de folhas alternar plantas aromáticas (hortelã, poejo,
secas cidró, etc) e plantas repelentes (arruda,
losna, artemísia, etc.) com plantas sucetíveis
A quantidade usada depende da idade e peso a pragas e doenças, como tomate, couve,
do paciente: adultos tomam 4 a 5 vezes/dias, etc., pois isto ajuda a controlar as pragas e
jovens acima de 10 anos 3 a 4 vezes por dia e doenças e melhora a exploração do terreno.
crianças 2 vezes por dia (metade da dose do
adulto). Obtenção de propágulos
- com pessoas da comunidade;
Validade dos preparados
- em campos e matos nativos;
Os preparados devem ser guardados em
- com vendedores de ervas;
armário fechado, sem luz, em local arejado e
fora do alcance das crianças. - em agropecuárias e produtores de mudas.
- xarope- 6 meses em geladeira
Escolha do local - o local deve ter as seguintes
- tintura- 2 ano características:
- pomadas - 6 meses a 1 ano - receber luz durante a maior parte do dia;
- chá - 2 dias em geladeira - não ser terreno encharcado;
- protegido de ventos frios;
Rotulação
- próximo de fonte de água, que permita a
A rotulação consiste numa prática essencial irrigação;
no manuseio de formulações com plantas - plano ou levemente ondulado.
medicinais. Após pronto o preparado, deve-se
colocar nos recipientes o conteúdo, o método Solo - a maioria das espécies prefere solos
utilizado e a data de fabricação. Nenhum leves e férteis, com bom teor de matéria
preparado pode ficar sem rótulo, pois na falta orgância. Deve-se realizar a rotação de
de perfeita identificação e fora do prazo de culturas dentro da horta, bem como cultivar
validade, os preparados tornam-se inócuos. antecipadamente plantas recuperadoras de
solo, como nabo, feijão-miúdo e crotalária,
Cultivo das Plantas que renovam o solo e acrescentam nitrogênio
ao mesmo. Deve-se utilizar a cobertura
O objetivo do cultivo das plantas é a garantia permanente do solo com palha, para diminuir
de disponibilidade da planta o ano todo e o risco de erosão e melhorar a estrutura do
em quantidade abundante, observando as mesmo.
recomendações de manejo, com a garantia
de material com qualidade adequada e ainda Adubação - é altamente aconselhável
para comercilização do material excedente, proceder a coleta e análise do solo aonde será
como mais uma fonte de renda para a família. implantada a horta medicinal e de acordo
Os hortos com plantas medicinais ainda com a mesma proceder a adubação. Como
são imprescindíveis para a preservação de fonte de cálcio, usar calcário dolomítico na
inúmeras espécies que podem apresentar dose de 0,5 kg m-2 e composto ou esterco
problemas de extinção, devido à coleta curtido na dose de dois kg m-2 Incorporar o
excessiva em locais de ocorrência natural. calcário e composto com pá até 25 cm de
profundidade. O potássio (K) e fósforo (P) são
Construção da horta – recomenda-se alternar paticularmente importantes para o aumento
plantas aromáticas e repelentes com as da produção de raízes, folhas e flores,
demais. As plantas aromáticas e repelentes podendo afetar a produção de princípios
reduzem a ocorrência de pragas e doenças ativos. O nitrogênio (N) é particularmente
das plantas cultivadas e podem ser usadas importante quando são colhidas folhas.
como adubo verde e melhorar a qualidade das No caso de flores, o excesso de N pode
Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado 9

induzir crescimento foliar em detrimento da das plantas a partir do quarto par de folhas.
floração. Evidências indicam que a adubação Resultado semelhante ocorre com hortelã,
raramente possui efeito maléfico sobre as que sob dias curtos (inverno) apresenta pouco
plantas medicinais e condimentares, havendo desenvolvimento.
aumento na produção de biomassa com a
adubação (NPK); no entanto, acréscimo de Umidade e temperatura - Atualmente
princípios ativos ainda é pouco conhecido. ainda existem poucas informações sobre a
Deve-se prover o solo com a quantidade influência da umidade e temperatura sob o
de nutrientes que é retirada pela colheita, crescimento das plantas e principalmente
podendo-se tranqüilamente substituir a sobre a concentração de p.a.. Plantas de
adubação química pelo aporte de composto clima temperado sob temperaturas altas
orgânico sem prejuízo da produção de matéria aumentam a produção de massa verde, no
seca, utilizando 500 kg ha-1 de fosfato natural e entanto, geralmente ocorre diminuição no
cinza, de acordo com a análise de solo. teor de p.a., como alcalóides, ocorrendo o
inverso com glicosídeos, onde temperaturas
Preparo de cova - este aspecto é altas aumentam a fotossíntese e o teor dessa
particularmente importante nas espécies substância.
arbóreas ou arbustivas que necessitam maior
quantidade de solo. Deve-se cavar uma cova Formas de propagação
de 0,5 x 0,5 x 0,5m, colocando separado os - bulbos, rizomas e tubérculos - são plantadas
20 cm superficiais. Misturar ao solo 15 kg de no final do inverno e início da primavera.
composto orgânico ou esterco curtido, 250 g Coloca-se os bulbos, rizomas e tubérculos
de calcário e 50 g de fosfato natural e cinzas, em leito com areia+composto ou esterco
nas duas porções de solo, colocando na cova curtido (1:1) e cobre-se com fina camada de
novamente na posição original. terra. Ex.: alho, gengibre, cana-de-cerca;
Exigências nutricional e climática das espécies - estacas - existem três tipos de estacas:
herbáceas (guaco, salsaparrilha, alfazema,
Podemos classificar as plantas, quanto à
etc.), semi-lenhosas (alecrim) e lenhosas
fertilidade do solo, em exigentes e pouco
(cancorosa). As estacas são obtidas no
exigentes.
período de repouso da planta (outono e
- Exigentes: orégano, alcachofra, alecrim; inverno). O plantio é feito escalonadamente,
- Pouco exigentes: erva luiza, mil-em-folhas, lenhosas em julho, semilenhosas em agosto
babosa, hortela-pimenta, artemísia; e herbáceas em setembro (primavera) pois
não toleram geadas no canteiro. Para o
enraizamento, as estacas são colocadas em
Podem ser classificadas quanto ao
leito de areia+composto ou esterco curtido
sombreamento:
(1:1) bem umedecido. É recomendado retirar
- De sombra: cancorosa, erva de bugre, etc; todas as folhas, exceto duas ou três apicais.
- Insolação direta: as demais Para evitar o ressecamento, é aconselhável
a cobertura com sombrite ou plástico
Podem ser classificadas quanto à tolerância ao transparente. Ao iniciar a brotação, retira-se
encharcamento: o plástico, e, em algumas semanas, pode ser
- De solo alagado: chapéu de couro, sete- transferido ao local definitivo.
sangrias, erva-de-bicho, quitoco; - divisão de touceira – neste caso as plantas
- Normais: as demais produzem afilhos ou perfihos no caule
Comprimento do dia - Atualmente ainda principal. Na primavera, cortam-se os
existem poucas informações sobre a influência perfilhos com raízes e transplanta para um
do comprimento do dia sob o crescimento das local preparado previamente. Ex.: capim
plantas e principalmente sobre a concentração cidró, citronela, etc.
de p.a.. Existem basicamente plantas de - sementes - geralmente são plantadas no
florescimento sob dias longos e dias curto. início da primavera ou de acordo com a
Em estévia sob dias longos (verão), ocorre época específica para algumas espécies. O
maior produção de folhas e florescimento solo deve ser bem preparado previamente
10 Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado

e as sementes devem ser cobertas com fina mais alta.


camada de solo, principalmente aquelas de
tamanho reduzido de semente. Ex.: endro, Época de colheita
camomila, calêndula, coentro, funcho, etc.
A época de colheita será específica para cada
parte da planta desejada:
Colheita de plantas medicinais a) planta inteira – quando for colhida a planta
inteira, o ponto de colheita é o início
A colheita é, sem dúvida, um ponto crítico no da floração, quando ocorre o máximo
cultivo de plantas medicinais, assim como em desenvolvimento vegetativo.
qualquer empreendimento agrícola, sendo b) folhas – estas devem ser colhidas
necessário definir com precisão o seu ponto quando a planta apresentar o máximo
ideal. Este ponto, se possível, deve coincidir desenvolvimento vegetativo, porém antes
com o momento de maior concentração de da floração. Na floração, a planta desloca
princípio(s) ativo(s) com a máxima produção fotoassimilados (açúcares), proteínas
de massa seca. No entanto, para a maioria e outros compostos das folhas para
das plantas, o ponto ideal de colheita ainda flores e frutos. Em algumas espécies
não está perfeitamente definido, o que requer como a bardana, a floração ocasiona
pesquisas sobre concentração de p.a.(s) o aparecimento de folhas de tamanho
durante o ciclo da planta. reduzido, impedindo a colheita de folhas
nesta fase.
Existem dois tipos de colheita em plantas
medicinais e condimentares, que são a c) flores e extremidades florais – estas devem
colheita de material cultivado e a coleta de ser colhidas no florescimento pleno, quando
material em áreas de ocorrência natural, e que mais de 50% das flores estiverem abertas,
possuem peculiaridades a serem observadas. como por exemplo calêndula, sabugueiro,
Na tabela 1 são apresentadas a época de alfazema, etc. Em certos casos, são colhidos
colheita e a parte da planta aproveitada das os botões florais, como arnica-do-mato.
principais espécies medicinais que ocorrem na d) Frutos e sementes – os frutos são colhidos
região de clima temperado. maduros, quando apresentarem coloração
característica, como no jambolão. As
A colheita de material cultivado pode
sementes são colhidas quando 2/3 da
ser escalonada, conseguindo-se um
inflorescência estiverem com coloração
período prolongado de colheita, ao utilizar-
característica, mas antes do início da
se diferentes épocas de semeadura ou
deiscência, ocasião em que o fruto se abre
transplante. Neste caso observa-se um
e ocorre perda de sementes, principalmente
controle maior sobre o material produzido.
aquelas maiores e de melhor qualidade. Ex.
A coleta de material a campo geralmente erva-de-santa maria.
possui um período de colheita reduzido, e) raízes, rizomas, tubérculos e bulbos – a
devendo-se observar atentamente o ciclo da época indicada é o outono, antes da
planta e a época ideal de colheita, além do que primeira geada. No caso de plantas
o controle sobre a composição do material bianuais, a colhieta se dá nesta época,
produzido é bastante limitado. porém no segundo ano. Em plantas
perenes, é conveniente não aguardar
Plantas ricas em óleos essenciais devem ser após de três a quatro anos, devido à
colhidas pela manhã, ocasião em que ocorre grande produção de lignina, com pouco
uma maior concentração destes componentes, valor comercial. Árvores perenes deve-se
já a tarde o teor de óleos vai reduzindo- aguardar o início da floração, para proceder
se devido a evaporação ocasionada pelo a colheita das raízes.
aumento da temperatura.
f) casca e lenho – a época indicada é
Plantas cujo princípio ativo mais importante na primavera, quando a casca está
são alcalóides devem ser colhidas pela “solta” e a planta apresenta a máxima
manhã, enquanto as ricas em glicosídeos ao atividade metabólica, desde que antes do
final da tarde, quando a sua concentração é florescimento e produção de sementes.
Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado 11

Cuidados gerais na colheita: de secagem. Para sementes, folhas e flores


a umidade relativa do ar de secagem deve
- colher pela manhã ou a tardinha em dias de
estar abaixo de 65%. Por outro lado, quando
temperatura amena (20 a 25oC), sem chuva
a umidade relativa (UR) do ar estiver igual ou
ou garoa. Evitar as horas mais quentes do
superior a 70%, o material pode reabsorver
dia, entre 11 e 15 horas, pois pode haver
a umidade do ar. Este processo causa perdas
perda significativa na qualidade do material,
de qualidade do material, além de afetar
principalmente em plantas aromáticas;
negativamente o valor terapêutico das plantas.
- colher após a secagem do sereno, evitando
colher material úmido; Cuidados na secagem:
- colher plantas bem desenvolvidas e sadias; - iniciar a secagem logo após a colheita;
- realizar uma poda na planta, retirando as - evitar o excesso de manuseio durante a
partes mais velhas e deixando as mais secagem;
novas para continuar o desenvolvimento;
- o tamanho do secador estacionário deve
- não colher na beira de estradas, evitando corresponder a 10% da área plantada;
poluição, poeira e fumaça da descarga,
- durante a secagem, grãos podem perder até
ou onde foi aplicado qualquer tipo de
20% de peso; enquanto folhas e flores, até
agrotóxicos;
70% e 90% do peso, respectivamente, pela
- colher raízes mais superficiais, nunca a raiz evaporação da água. Assim, uma colheita
principal; de 1000kg de erva verde restará 300kg,
aproximadamente, após a secagem;
- não retirar todas as folhas de um mesmo
galho; - durante a secagem em secador estacionário,
deve-se revolver as plantas aumentando a
- não coletar todas as plantas numa
exposição do materila ao ar seco;
determinada área;
- não secar a pleno sol, principalmente ervas
- não machucar as plantas colhidas, pois
aromática e flores. A secagem ao sol pode
ocorre perda por oxidação e maior
ser feita cobrindo a planta com sombrite,
possibilidade de desenvolvimento de
pano ou papel;
fungos;
- o teor de água ao final da secagem deve
- o material colhido deve estar limpo de
estar entre 10 a 12%.
qualquer tipo de contamitante que deprecie
o produto final e dificulte a secagem. - o ponto final da secagem é determinado pelo
ponto em que as plantas são facilmente
fragmentadas pela pressão dos dedos.
Secagem de Plantas Medicinais
O objetivo da secagem é conservar plantas Partes da planta a secar
que não são consumidas de imediato, - Raiz, lenho e casca- lavar e cortar no sentido
mantendo o valor terapêutico das mesmas. do comprimento. Secar à sombra, ao sol ou
Em muitas plantas, o melhor seria consumí- forno, controlando a temperatura em 50 a
las frescas, mas isso nem sempre é possível, 60oC;
pois elas não estão disponíveis o ano todo.
- Folhas e plantas inteiras – são secas a
Já em outras, sabe-se que o processo de
sombra, em telado secador (figura 2),
secagem pode melhorar o poder fitoterápico
durante 3 a 10 dias, dependendo das
das plantas, pois durante a secagem alguns
condições ambientais;
produtos tóxicos podem ser oxidados,
reduzindo sua toxicidade. Na secagem, - Flores e extremidades florais – é
também há aumento da concentração de recomendado secar no escuro, pois conserva
determinados componentes, devido a perda a coloração. Pode recobrir o material com
de água. folha de papel ou pano;
- Fruto/semente- secar à sombra ou sol,
O teor de água do material entra em equilíbio revolvendo-as com freqüência.
higroscópico com o teor de água do ambiente
12 Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado

Métodos de secagem PF – peso final


a) Natural - aproveita as condições do ar UF – umidade final
ambiente, sem aquecimento, para promover
a secagem das plantas, portanto necessita
Conservação de plantas medicinais
dias ensolarados com presença de vento
ou brisa. Este método é mais demorado, O objetivo desta atividade é manter a
devido à oscilação climática freqüente. Dias qualidade do material colhido pelo maior
nublados, sem vento ou com alta umidade período de tempo possível; entretanto todos
relativa, retardam a secagem e podem os produtos apresentam prazos nos quais
deteriorar as plantas. O ideal é que o local conservam as suas propriedades, após os
para secagem seja passível de isolamento quais devem ser eliminados.
do ambiente externo.
O período máximo de validade em que a
O telado de secagem aumenta planta seca e embalada, dentro de condições
consideravelmente a velocidade de secagem ambientais adequadas é aproximadamente
e a qualidade final do produto.A confecção um ano. Dependendo das condições em
de um telado obedece as medidas de 10% da que é armazenado este período reduz-se
área plantada, devendo estar erguido a uma consideravelmente.
distância de 0,5 a 1 m do solo. A camada de
material sob o telado deve ser pouco expessa, Cuidados no armazenamento
aproximadamente 2 cm, para facilitar a
passagem do ar. É necessário a movimentação - o armazenamento deve ser feito em lugar
freqüente das plantas ao menos duas vezes seco, bem ventilado e à sombra;
por dia, evitando o manuseio excessivo. - o local deve permitir o isolamento do
ambiente externo em caso de condições
b) Artificial – este método utiliza ar aquecido climáticas inadequadas (umidade relativa e
artificialmente para tornar a secagem mais temperatura altas);
rápida. No processo de aquecimento do
ar, a umidade relativa reduz-se para 65% - no caso de material higroscópico e de alto
ou menos, condição necessária para a valor utilizar latas ou caixa plástica que
secagem do material. O processo necessita permitam tampar eficazmente;
aeração artificial, como ventilador junto - não misturar ervas sem cheiro com ervas
ao forno, promovendo a passagem do ar aromáticas, o contato entre elas pode
no material, o que aumenta a velocidade causar alterações das plantas;
de secagem e melhora a qualidade final
- em caso de emboloramento, proceder a
do produto. A temperatura do ar aquecido
ressecagem com a retirada do material
deve ser inferior a 35oC, quando o
atingido;
material secado são ervas aromáticas e
condimentares; para as demais espécies, - guardar separadamente folhas, flores e casca
recomendam-se temperaturas entre 40 e raiz, para não misturar gostos e sabores;
e 45oC, o que evita perdas de qualidade - para embalagem de quantidades grandes de
devido a alta temperatura. Algumas plantas utilizar caixa de madeira com tampa
espécies, principalmente aromáticas, não se bem fechada com material higroscópico,
adequam a este método, pois ocorre perda como uréia ou cloreto de cálcio;
da essência e a qualidade final do produto
diminui. - com aparecimento de insetos e mofos,
proceder a ventilação das plantas e a
Cálculo da perda peso lavagem e desinfecção dos equipamentos
com clorofina a 5%;
A perda de peso da planta após secagem pode
ser feita utilizando a seguinte fórmula: Embalagens de armazenamento
PI (100 - UI) = PF (100 - UF), onde,
PI – peso inicial A maneira indicada é utilizar vidro escuro com
tampa de rosca; na falta dele, pode ser vidro
UI – umidade inicial claro, recoberto com papel pardo ou escuro. O
Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado 13

vidro previamente deve ser fervido em água hortelã-pimenta, sálvia, poejo, manjericão,
por 15 a 20 minutos e, após, seco ao sol. guaco, erva luíza, macela;

Existem outras opções de embalagem, como: Calmante - capim cidró, melissa, maçanilha,
louro, anis.
- Saco plástico - pode ser usado por períodos
b) colares, pulseiras, etc.- aproveitamento de
curtos (15 a 30 dias);
frutos e sementes como fonte de material
- Saco de papel – o qual deve ser guardado para confecção de artesanato, como pata-
dentro de outro recipiente. de-vaca, lágrimas-de-nossa-senhora, etc.
- Lata – com tampa, sem restrições;
- Pote de plástico – com tampa, também sem 4 - Outras formas
restrições; - Muda para cultivo- acondicionada em
- Saco de pano – semelhante ao saco de papel; recipiente plástico adequado;
- Extratos de planta - para controle de doenças
Formas de comercialização e pragas de animais e plantas.
Existem várias formas de comercialização,
as quais irão determinar o preparo e
acondicionamento final do material. Devemos Descrição e utilização das plantas
conhecer previamente o mercado possível medicinais mais importantes
e as formas de comercialização a serem
utilizadas, neste caso, instituições como ABACATEIRO (Persea americana Mill., Fam.
Sebrae e Emater-RS, entre outras, as quais Lauraceae)
poderão prestar valiosa ajuda para conhecer o As folhas possuem ação diurética, favorecem
mercado potencial dos produtos. a menstruação (emenagoga), expectorante
e digestiva. Usada também em problemas
Aqui são apresentados algumas formas de
hepáticos, doenças renais e das vias
comercialização:
urinárias, cistites, diarréias, disenterias,
1 - Fitoterapia: gases intestinais. Excelente depurativo do
a) Planta seca e triturada- em saco de papel ou sangue, sendo usado para baixar a pressão
pano, pode ser comercializada em feiras, arterial. Não existem contra-indicações na
laboratórios farmacêuticos, prefeituras, etc. literatura consultada. Existem informações
que as folhas devem ser secas, conforme as
b) Extrato alcoólico de plantas – tinturas em indicações, antes do uso.
vidro escuro;
Uso: infusão de 20 gramas de folhas verdes
2 - Cosmética por litro de água
a) Sabonete, cremes e sabão medicinal –
podem ser comercializados em feiras e com ALCACHOFRA (Cynara scolymus, Fam.
laboratórios farmacêuticos, prefeituras, etc. Asteraceae)

b) óleos essenciais – plantas como citronela A parte utilizada são as folhas. A planta
produzem óleos de alto valor no mercado é reconhecida como enérgico diurético,
que são comercializados com laboratórios eliminador do ácido úrico, do reumatismo
farmacêuticos; e febres; afecções do estômago, icterícia,
insuficiência hepática, dispepsia, albuminúria
3 - Artesanato crônica, nos distúrbios hepáticos e digestivos.
Faz baixar a pressão arterial e é indicada para
a) Travesseiro de ervas aromáticas - as ervas hidropisia. Indicada como hipoglicemiante
usadas dependem da finalidade a que se (reduz o açúcar no sangue), reduz a taxa de
destinam, podendo ser misturadas várias uréia, de colesterol e de triglicerídeos no
espécies, para fins como: sangue, sendo indicada como coadjuvante nos
Estimulante - alecrim, alfazema, hortelã- regimes de emagrecimento. Seu uso deve ser
pimenta, manjerona, salvia, erva-luíza; evitado na lactação (contra-indicação), sendo
usada para fazer secar o leite das lactentes.
Expectorante - cidreira, eucalipto, hortelã,
14 Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado

Uso: infusão na dose de 10 g/litro de água. As ALFAFA (Medicago sativa L., Fam. Fabaceae)
flores são excelentes como salada, com alto
A planta é uma excelente forrageira, fazendo
valor no mercado, indicadas principalmente
aumentar a produção leiteira e o ganho de
para pessoas diabéticas.
peso, mas quando ingerida verde e como
fonte exclusiva na alimentação, provoca
ALECRIM (Rosmarinus officinalis, Fam.
o “timpanismo das pastagens”, que se
Lamiaceae)
manifesta pelo inchaço geral e inflamações
Subarbusto de origem européia, com folhas internas. A parte usada são as folhas.
estreitas e pequenas, com forte perfume,
A planta tem ação diurética, funciona
e flores azuis. Também conhecida como
como um fortificante do organismo, sendo
rosmarim (rosa marinha). As partes usadas
suplemento alimentar (rico em minerais como
são folhas e sumidades floridas. A planta
potássio, fósforo, cálcio, magnésio, etc.).
também é condimentar, usada como tempero
Indicada contra o raquitismo, escorbuto, falta
de carnes, possuindo um sabor bastante forte.
de apetite, má digestão, úlcerações nervosas,
A época de colheita para folhas é antes da
cistites, reumatismo e artrite. Para lactentes
floração e frutificação.
aumenta a produção do leite e fortifica a
Planta rica em óleos essenciais, dos quais criança. Não foram encontradas contra-
predominam eucaliptol, borneol, pineno indicações na literatura consultada.
e cânfora. É cicatrizante de feridas, anti-
Uso: infusão, na dose de 5 a 10 g das folhas
microbiano, contra varizes, pois é estimulante
secas por litro de água ou em pó seco, na
da circulação periférica (inclusive capilar),
dose de 300 mg a 1 g/dia, para uma pessoa
digestivo, diurético e anti-reumático. É
adulta;
recomendado para pessoas depressivas e
cansaço mental. Tônico do sistema nervoso
AÇOITA-CAVALO (Luehea divaricata, Fam.
e do coração, contra hemorróidas. Eleva
Tiliaceae)
a pressão arterial em pessoas propensas
ao problema. É contra-indicado durante As folhas são antidisentéricas e contra
a gravidez, em casos de prostatite e leucorréias. Úteis nas hemorragias e diarréias
gastroenterite. Combate a febre. Tem crônicas. A raiz e casca são depurativas
propriedades diuréticas, indicada para do sangue e é utilizada contra a artrite,
a pressão alta. Alivia dores de cabeça; reumatismo e tumores.
indigestão, problemas do fígado e gases
intestinais. É tônico e estimulante geral do Uso: Infusão de 10 g de folhas ou cascas por
organismo, possuindo ação anti-depressiva. litro de água.
Combate arteriosclerose, aumentando a
circulação periférica, principalmente no ALFACE (Lactuca sativa L., Fam. Asteraceae)
cérebro. Indicado para falta de menstruação São usadas as folhas. Tem propriedade
(amenorréia), menstruação difícil e dolorida ou calmante, analgésico, emoliente, cicatrizante,
mesmo cólicas. Auxilia na digestão de gordura mineralizante, vitaminizante, depurativa,
e eliminação da urina. Indicado ainda como desintoxicante, sendo indicada para insônia,
expectorante e contra tosse. Externamente, intranquilidade, vertigens, nevralgia e
é usado como cicatrizante e no tratamento hipocondria. Não há referências de contra-
de reumatismo, dores reumáticas, entorces e indicação na literatura consultada.
artrites.
Uso: ferver algumas folhas em pouca água,
A planta é contra-indicada para gestantes, pois sem sal. Coar e comer as folhas com óleo e
é abortiva em altas doses por via oral. limão. Beber o chá pela manhã em jejum e à
noite antes de dormir.
Uso: infusão, na dose de 10 folhas verdes por
litro de água (tomando-se 3 a 4 xícaras/dia, Para regular os intestinos: colocar as folhas
para um adulto).Maceração de 100 g de folhas frescas em meio litro de água quente e ferver
verdes por litro de álcool. em fogo brando por 10 minutos. Coar e beber
2 a 3 xícaras (chá) ao dia, com mel.
Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado 15

Contra irritação dos olhos: cataplasma com Da casca é feito o óleo de angico, usado contra
folhas de alface fresca, espalhar sobre uma infecções em geral, como anti-inflamatório,
gaze ou pano limpo e aplicar sobre os olhos depurativo do sangue, problemas do intestino,
por 15 minutos. Fazer isso à noite. contra fraqueza do organismo. É excelente
contra a depressão. Usa-se ainda contra
ALFAZEMA (Lavandula spica, L. officinalis, câncer e tuberculose.
Fam. Lamiaceae)
Uso: Maceração de 200 g de casca por litro de
Conhecida também como lavanda. A planta
óleo.
é de origem européia, tendo dificuldades de
aclimatação, no Rio Grande do Sul. São
ARNICA-DO-CAMPO (Stenachenium
utilizadas as folhas e sumidades floridas.
campestris, Fam. Asteraceae)
A planta fortalece o couro cabeludo; contra a Erva nativa dos campos rio-grandenses. É
leucorréia; usada no tratamento de bronquite pequena, estolonífera, folhas rosuladas.As
e asma; contra enjôos e vertigens. É ainda flores formam capítulos esverdeados. Planta
diurética e cicatrizante. Como calmante e sono pouco pesquisada, mas de amplo uso popular.
agitado.
Usada nos traumatismos, golpes e
Uso: infusão de 20 g de folhas verdes por litro ferimentos; machucaduras, nevralgias,
de água. Tomar 3 a 4 xícaras por dia. paralisias, hemorragias e vias urinárias.
Tem ação antiinflamatória em contusões e
Foto: Gilberto A. Peripolli Bevilaqua

hematomas. É utilizada em casos de úlcera


gástrica, inflamações de ovários, pneumonia,
reumatismo, como analgésico e cicatrizante.

Uso: toda planta, na dose de 20g por litro de


água. Tomar três xícaras por dia. Na forma
de macerado, para uso externo, aumentar a
concentração.

ARNICA-DO-MATO (Chaptalia nutans, Fam.


Asteraceae)
Planta nativa do RS, apresenta folhas em
roseta, levemente recortadas, face superior
verde escura e inferior acinzentada. A
inflorescência é um capítulo lilás ou roxo.
Colhem-se as flores abertas, mas ainda
verdes.

Esta planta foi pouco estudada, popularmente


é usada nos traumatismos, golpes e
ferimentos; machucaduras, nevralgias,
paralisias, hemorragias e vias urinárias.
Tem ação antiinflamatória em contusões e
hematomas. O uso em excesso aumenta as
batidas do coração e pode causar depressão.
Em casos de derrame cerebral, pode
reabsorver o sangue.

ANGICO VERMELHO (Parapiptadenia rigida, Uso: Infusão de 20g da planta verde por litro
Fam. Fabaceae) de água.
Planta nativa do RS, sendo encontrada duas
variedades vermelho e amarelo, de acordo
com a coloração da casca. Utiliza-se a casca da
variedade de casca avermelhada.
16 Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado

ARTEMÍSIA (Artemisia vulgaris, Fam. minutos no local. Em casos de alergia, haverá


Asteraceae) comichão.
Conhecida como infalivina e camomila-
Uso e preparo: 300 a 400g de folhas da
romana. Planta herbácea, perene de origem
planta, 1/2 kg de mel e um cálice de cachaça
européia. O gênero compreende cerca de 150
pura ou conhaque. Retire os espinhos, bata
entre espécies e variedades.
as folhas no liquidificador, misture o mel e a
cachaça. Tomar 4 colheres de sopa por dia,
Usada contra anemia, cólicas, diarréias,
para tratamento de infecções e outros males,
icterícia; contra verminoses, reumatismo,
durante 15 dias. Para limpeza do sangue tomar
gastrite e menstruação deficiente. Possui
por 15 dias duas vezes ao ano.
propriedades semelhantes a losna, por isso
recomenda-se a utilização da planta macerada
BARDANA (Arctium minus e A. lappa, Fam.
em água fria.
Asteraceae)
Uso: maceração em água fria de 10 g da folha Também chamada de baldrana ou baldrame.
verde por litro de água Erva anual que atinge até um metro de altura.
De origem européia ou asiática, é cultivada
BABOSA (Aloe arborescens, A. vera, A. no Brasil. Folhas grandes com 50 a 80 cm,
barbadensis, Fam. Liliaceae, Ordem Liliatae) dependendo do solo, e capítulos de flores
São cerca de 20 espécies conhecidas, com azuladas. Planta comestível, cujas folhas
mais de 400 tipos classificados e outro novas e tenras são usadas como salada e a
tanto ainda não classificados. A espécie raiz é preparada em conserva.
A. arborescens é encontrada com muita
Provoca suor; é diurética e hipoglicemiante,
frequência nos jardins em nossas condições
combatendo acnes e espinhas; contra cálculos
climáticas e tem propriedade medicinal devido
renais, moléstias da pele; grande depurativo
à maior proporção casca:gel. Toda planta é
do sangue, do fígado, dos rins; é rémédio
medicinal existindo um sinergismo entre
anti-sifilítico; combate o reumatismo; contra
casca:gel. O gel é composto de 95% água,
picadas de insetos e aranhas, combate
sendo o componente príncipal as mucilagens,
fungos e frieiras (falta de circulação), doenças
com menor atividade medicinal. A planta
crônicas de pele e alergias, cicatrizante de
possui nove aminoácidos essenciais e
feridas, ajuda o crescimento e evita a queda
praticamente todos os metais encontrados na
de cabelo. Colhe-se toda a planta antes do
natureza, sendo rica em cálcio. Possui ainda
pendoamento.
os metais rodium (Rh); irídio (Ir) e rubídio (Rb),
que a tornam um importante fator na cura do
Uso: Infusão de 20 g de folha verde para um
câncer, impedindo o aparecimento de novas
litro de água e decocção de 10g de raízes por
células malignas.
litro de água cozidas por 3 a 5 minutos.
Foto: Harri Lorenzi

A planta é usada contra o câncer, infecções de


qualquer natureza; reconstituinte do sistema
imunológico; osteoporose; hemorróides;
levemente laxante; regulador da atividade
intestinal; combate febres intestinais; é usada
contra o reumatismo; aplicado diretamente
sobre feridas e doenças de pele. Tônico capilar,
combate a caspa, crespidão e calvície. Usado
contra queimaduras, ferimentos de metais
(tétano), micose (unheiro) e anticancerígeno. É
contra-indicado o uso interno, principalmente
nos casos de cálculos renais e hemorróidas.

Problemas de alergia em algumas pessoas


pode ocorrer em proporção baixa (1/1000).
A verificação é feita esfregando 1cm3 da
planta atrás da orelha ou axila e deixando 5
Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado 17

CALÊNDULA (Calendula officinalis, Fam. CANCOROSA-DE-TRÊS-PONTAS (Jodina


Asteraceae) rhombifolia, Fam. Santalaceae)
Tem ação tonificante, antisséptica e Conhecida como espinheira santa, sombra
cicatrizante. É excelente desintoxicante; usado de touro ou cancerosa. Possui propriedades
em menstruações doloridas. É usada como semelhantes a cancorosa, sendo inclusive
pomada para queimaduras, rugas e ótimo confundidas, mas esta possui apenas três
amaciante da pele seca. espinhos na folha, ao contrário da anterior.
Usada com propriedades cicatrizante em
Uso: Infusão, 20 g de flores por litro de água, ulcerações e anti-carcinogênico. A época de
ou pomada (ver no tópico preparo). colheita das folhas é antes da floração.

CAMOMILA (Matricaria chamomilla, Fam. Uso: 20 g da folha por litro de água em


Asteraceae) decocção por 3 a 5 minutos.
Conhecida também como maçanilha.

Foto: Gilberto A. Peripolli Bevilaqua


Acalma dores intestinais e é digestiva;
anti-inflamatória; contra espasmos e dores
artríticas; é excelente antisséptico para uso
externo e nos olhos, combate conjuntivites.
As flores são colhidas na pós-maturação com
pétalas quase secas.

Uso: 20 g de folhas e flores por litro de água

CANCOROSA (Maytenus ilicifolia, Fam.


Celastraceae)
Também conhecida como espinheira santa
ou erva santa. Planta arbustiva ou arbórea,
nativa do RS. Possui folhas coriáceas, com
10 a 20 espinhos nos bordos, flores miúdas
esverdeadas e frutos pequenos, marrons ou CAPIM-LIMÃO (Cymbopogom citratus, Fam.
alanjados. São utilizadas as folhas ou raízes. Poaceae)
A época de colheita das folhas na floração Sinônimos: Cidró, capim-cidró e erva-
e raízes na primavera-verão. Devido à ação cidreira. Planta de origem européia, com
terapêutica, a planta encontra-se em extinção larga disseminação no Brasil, sendo o óleo de
local em várias regiões. É confundida com o grande valor para a indústria farmacêutica.
cincho (Sorocea bomplandi), mas este possui
folhas grandes e com maior número de Tem efeito refrigerante, calmante, febrífugo,
espinhos nos bordos foliares. hipotensor, digestivo, antireumático e doenças
da bexiga. O óleo essencial citral tem ação
É usada em ulcerações do estômago e bactericida, fungicida, analgésica, anti-pirético
tratamento da gastrite; afecções da pele, (febre) e anti-espasmódico. É excelente
feridas, desinfetante, cicatrizante; bom para calmante em estados de ansiedade. Usado
os rins; acalma dores. Tem ação antitumoral, para baixar a febre. É repelente de insetos
bactericida, antiinflamatória e depurativa. e aromatizante de guarda-roupas. Em altas
Indicada para combater o vício em álcool. doses, pode ser abortivo.
Existem informações ainda não definitivas que
o pó da folha após seca possui propriedades Uso: Infusão de 10 g de folhas verdes por litro
mais efetivas que a infusão ou decocção da de água.
planta.
CARQUEJA (Baccharis trimera, B. articulata,
Uso: 20 g de folhas/litro de água, ferver por 3 a Fam. Asteraceae)
4 minutos. As raízes devem ser fervidas por 10
A primeira espécie é a carqueja amarga (três
a 15 minutos na mesma dosagem.
asas no caule) e a segunda, a doce (duas
asas no caule). São subarbustos nativos do
18 Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado

RS. Ambas possuem ação desintoxicante Utilização: na forma de infusão (chá) utilizando
do fígado, antidiabéticas, diuréticas, 20 g de folhas verdes por litro de água. Pode-
antidiarréicas e antianêmicas. Contra se utilizar a folha em pó na dose de 300 mg 3
gases e afecções gastrointestinais; usada vezes ao dia.
em casos de amigdalite e contra infecção
urinária. Estimulantes do figado e intestino. CONFREI (Symphytum officinale, Fam.
Antireumáticas, cicatrizantes e para baixar o Boraginaceae)
colesterol. Erva nativa da Europa, introduzida no Brasil
há cerca de 30 anos, quando tornou-se uma
Uso: infusão de 20 g de caule verde por litro
planta extremamente consumida como
de água.
emagrecedora e depurativa do sangue.
CELIDÔNIA (Chelidonium majus, Fam.
A planta possui propriedades tóxicas
Papaveraceae)
pronunciadas, por isso seu uso interno foi
Planta conhecida como iodina, infalivina praticamente abandonado há alguns anos.
e erva das verrugas. Recomenda- O uso interno na forma de chá pode causar
se apenas o uso externo, sendo o uso necrose e câncer no fígado. É carcinogênica,
interno desaconselhado devido aos seus abortiva e teratogênica.
efeitos tóxicos. A planta é contra-indicada
para mulheres grávidas ou que estejam Excelente cicatrizante de feridas e ulcerações,
amamentando e crianças pequenas. pela presença de mucilagens e alantoína,
contra queimadura, escaras e cortes em geral,
Elimina as verrugas esfregando o látex em casos de flebite, hematomas, contusões,
alaranjado da planta verde; planta rica em fissuras, picadas de insetos e psoríase.
iodo, sendo excelente germicida. Usada no Tem ação cicatrizante em fraturas ósseas.
tratamento da gota, com a infusão da planta Usado em inflamações da garganta, através
seca. Tira manchas em tecidos, fervendo as de gargarejo. A folha verde macerada atua
folhas. como cicatrizante em feridas; entretanto, não
deve ser utilizada em feridas profundas, pois
CHAPÉU DE COURO (Echinodorus cicatriza rápida e superficialmente podendo
grandiflorus, Fam. Alismataceae) ocasionar abcessos.
Também conhecida como erva-do-brejo e chá
Utilização: 20 g de folhas verdes por litro de
mineiro. A planta é restrita a áreas alagadas,
água para lavagem e gargarejo. É largamente
banhados e pântanos. Para seu crescimento,
utilizada na forma de pomada cicatrizante e
requer bastante água. Em solo seco a planta
antibiótica (ver preparo de pomadas e sabão).
torna-se raquítica e perece. Existem várias
Decocção de 20 g de raízes secas por litro de
espécies e variedades no Sul do Brasil,
água.
com propriedades similares e utilizadas na
farmacopéia popular. A planta encontra-se em
COPO DE LEITE (Zantedeschia sp., Fam.
extinção em vários dos seus locais de origem,
Araceae)
devido às suas propriedades terapêuticas. A
planta nativa Sagitaria montevidensis e outras Planta que vegeta em locais alagados,
espécies, de folhas sagitadas, vêm sendo pântanos e solos com má drenagem,
usadas e denominadas chapéu de couro, no extremamente tóxica ao homem e animais. A
entanto, até agora desconhecem-se as suas flor é grande e branca, de onde provém seu
propriedades terapêuticas. nome.

Indicado para limpar o sangue e eliminar A flor, na farmacopéia popular, é utilizada


líquidos do corpo; tem propriedades externamente com atividade medicinal contra
antiinflamatórias e combate o reumatismo, varizes, picadas de insetos, flebite e erisipela.
gota e ácido úrico; problemas dos rins e
bexiga. Externamente, é usado para tirar Utilização: ver preparo de pomadas e óleos.
manchas da pele e no tratamento de espinhas
e outras erupções da pele. CIPÓ-MIL-HOMENS (Aristolochia triangularis,
Fam. Aristolochiaceae)
Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado 19

Também conhecido como cipó-jarrinha, DENTE-DE-LEÃO (Taraxacum officinale, Fam.


jarrinha e erva-cobrina. É uma planta Asteraceae)
herbácea, trepadeira, que cresce
Erva européia, amplamente disseminada
espontaneamente nas matas do RS, com
no Sul. Possui folhas recortadas e, no
folhas com coloração verde intenso. Tem flores
florescimento, emite escapo floral amarelo
marrons ou bordôs, cujo aspecto lembra uma
não ramificado, ao contrário da serralha
jarra. A planta é conhecida na cultura popular
(Sonchus oleraceus), cujo escapo floral é
com antídoto de veneno de cobra e usada
ramificado.
como cicatrizante em feridas contaminadas.
Internamente é utilizada em úlceras gástricas, A planta tem ação diurética, depurativa e
infecções, tumores e como afrodisíaco. laxativa. É tônico e fortificante, utilizada em
As folhas da planta têm ação bactericida, xaropes contra gripe e bronquite. A folha é
cicatrizante e antiinflamatória. usada contra o colesterol, glicose e problemas
da vesícula e estômago. Também é planta
É contra-indicada para mulheres grávidas,
anti-reumática e cicatrizante de feridas, com
durante a amamentação e para crianças, por
pronunciada ação bactericida. Contém boas
ser abortiva e causar problemas congênitos.
doses de vitaminas A,B, C e D e potássio. É
excelente na menopausa e em tratamentos
Utilização: decocção de 20 g caule por 20
para emagrecer; a raiz combate cálculos na
minutos.
vesícula e para desintoxicar o fígado. A folha
Foto: Gilberto A. Peripolli Bevilaqua

é comestível como salada e as raízes torradas


substituem o café.

Uso: infusão de 20 g de folhas verdes por litro


de água. Raízes: decocção por 10 a 15 minutos
de 10 g de raízes secas por litro de água.
Tintura de 20 folhas e raízes por litro de álcool.
Foto: Ilustração July

CORDÃO-DE-FRADE (Leonotis nepetifolia,


Fam. Lamiaceae)
Recebe os nomes de agripalma, cardíaca e
cauda-de-leão. Também usada como planta
ornamental, devido à sua beleza.

Usada como ativadora da circulação, com


ação contra a arterioesclerose. Reguladora da
menstruação, em distúrbios da menopausa
e em estados de ansiedade. É reguladora da
pressão arterial. Contra a sinusite, misturada
ao mel.
20 Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado

ERVA-CIDREIRA (Aloysia citriodora (=Lippia Uso: Infusão de 10 g de flores e folhas secas


citriodora), Fam. Verbenaceae) por litro de água. Maceração de 200 g de
folhas e flores verdes por litro de álcool, para
Também chamado cidró, cidreira e erva-
uso externo.
luíza. Arbusto nativo da América, com folhas
verticiladas em número de 3 a 4 por nó. Tem

Foto: Gilberto A. Peripolli Bevilaqua


ação digestiva, tônica e estimulante. Alivia
cólicas e dores intestinais, combatendo a
digestão difícil. É também expectorante. A
flor é calmante. Rica em óleos essenciais
de alto valor no mercado, cujo componente
principal é o citral, além de limoneno, geraniol
e citronelol, entre outros.

Uso: Infusão de 10 de folhas por litro de água

ERVA-DE-BICHO (Polygonum hidropiperoides,


Fam. Polygonaceae)
Possui propriedades adstringentes, anti-
reumáticas, anti-helmínticas, hemostática
e febrífuga. É indicada popularmente para
tratamento de varizes, como cicatrizante,
em distúrbios da menopausa, em edemas e
inchaços, contra reumatismo, hemorróidas e
celulite. Usa-se como banho, a folha macerada
e em infusão.
ERVA-SANTA (Aloysia selowii, Fam.
Uso: Infusão de 10 g de folhas e flores por litro Verbenaceae)
de água, para uso externo.
Conhecido como garupá, cidró-do-túmulo,
Foto: Gilberto A. Peripolli Bevilaqua

cidrão e erva-do-soldado. É amargo-


aromático, com propriedades digestivas e
antiinflamatórias. Combate a tosse, bronquite,
gripes e resfriados. É excelente condimento
para carnes e molhos. As folhas são colhidas
antes da floração e das flores estarem bem
abertas, na primavera.

Uso: Infusão de 20 g de folhas e flores por litro


de água ou como componente de xarope (ver
preparo).

ERVA-DE-BUGRE (Casearia siyvestris, Fam.


ERVA-LANCETA (Solidago chilensis Mayen, Flacourtiaceae)
Fam. Asteraceae) Também chamada guaçatonga, carvalhinho
Também conhecida por lanceta e arnica. e chá-de-bugre. É uma árvore ou arbusto
Erva ereta, nativa do RS, de folhas estreitas nativo e bastante comum no RS, conhecida
e inflorescências amarelas em cachos. Planta largamente na medicina indígena. Possui
invasora usada popularmente em casos propriedades cicatrizantes, antissépticas,
de gastrite, úlceras gástricas, diarréias, depurativas do sangue (baixa o colesterol
traumatismos, hematomas, necroses por e glicose), diurético, anti-reumático,
varizes. emagrecedor e bactericida e fungicida; usado
contra veneno de cobra e picadas de insetos.
Pelos seus princípios ativos tóxicos, não é É usado, ainda, contra feridas na boca,
recomendada para mulheres grávidas ou que sapinho e herpes simples. O uso prolongado
amamentem e crianças pequenas. é reconhecido como grande emagrecedor
Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado 21

pelo poder diurético. É cicatrizante de vermes intestinais. Largamente utilizada


úlceras gástricas e anti-tumoral, em uso na medicina popular como vermicida,
interno. Externamente, é utilizada como anti- fortificante, antiespasmódico e emenagogo.
reumático. A tintura da casca é utilizada contra Porém, devido à sua toxicidade, seu uso é
reações alérgicas de picadas de insetos. É de utilização restrita na medicina caseira.
utilizada contra retenção de placenta e para Folhas, flores e principalmente sementes
facilitar o parto de animais. são utilizadas como vermicida em animais
domésticos e como repelentes de insetos.
É planta tóxica e reconhecida como abortiva,
sendo não recomendada para gestantes, Uso: maceração de 20 g de frutos e sementes
mulheres que amamentam e crianças. por litro de álcool, usar 1 gota por kg de peso
vivo, como vermicida.
Uso: infusão da 10 g de folhas secas por litro
de água. Maceração de 200 g de cascas em 1 ERVA-DE-SÃO-JOÃO (Ageratum conyzoides,
litro de álcool. Fam. Asteraceae)
Também conhecido como mentrasto,
Foto: Gilberto A. Peripolli Bevilaqua

mastruço e picão-roxo. Usado popularmente


como antidepressivo, estimulante, fortificante
dos nervos, antidiarréico, depurativo e
antibiótico, na forma de infusão e banho.
Contra reumatismo e artroses, usa-se a planta
inteira.

Uso: infusão de 20 g da planta inteira por litro


de água.

ERVA-DE-SANTA-LUZIA (Tradeschantia
zebrina, Fam. Commelinaceae)
Conhecida como zebrina, ondinha do mar,
manto-de-viúva e trapoeraba. Erva perene,
rasteira e de caule aquoso, originária do
ERVA-DE-PASSARINHO (Eubrachion
México. A espécie é facilmente identificada
ambiguum Fam. Eremolepidaceae;
pela folhas com face superior com listras
Phrygilanthus acutifolius;Fam. Loranthaceae)
prateadas e arroxeadas e face inferior
A primeira é parasita preferencial da arroxeada. Usada na medicina popular como
pitangueira e a segunda pode atacar diurético, antiinflamatório, conjuntivite e
várias espécies. Ambas são usadas com inflamações nos olhos e afecções da pele.
propriedades semelhantes. Possuem ação
expectorante, bactericida e fungicida, além de Uso: infusão da folha e caule 20 g/litro de
ação analgésica e hipotensora. Popularmente água, para inflamações na bexiga e rins.
é usada nos casos de bronquite asmática,
pneumonia, colesterol alto e anti-reumática ERVA-SILVINA (Pleopeltis polipodioides, Fam.
e contra dores musculares. Deve-se dar Polypodiaceae, Pteridophyta)
preferência à primeira espécie. Conhecida como cipó-cabeludo e samambaia-
de-metro. Popularmente, toda a planta tem
Uso: Decocção de 20 g de caule e folha por propriedades diuréticas e antiinflamatórias.
litro de água. Maceração de 20 g de caule e A tintura da planta em uso externo combate
folha por litro de álcool. inflamações e contusões.
ERVA-DE-SANTA-MARIA (Chenopodium Uso: maceração de 20 g de folhas verdes por
ambrosioides L., Fam. Chenopodiaceae) litro de álcool.
Planta também conhecida como quenopódio,
mastruço. Erva ereta, anual, nativa da FUNCHO (Foeniculum vulgare, Fam. Apiaceae)
América. Possui em sua composição o óleo Digestivo, contra gases; a raiz é diurética;
essencial ascaridiol, com ação sobre
22 Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado

aumenta o leite das mães e combate a

Foto: Gilberto A. Peripolli Bevilaqua


cólica em recém-nascidos; afecções das vias
urinárias. A raíz é comestível. A época de
colheita das folhas é antes da floração à 15
cm de altura do solo e sementes com a cor
marrom antes de cairem.

GUACO (Mikania glomerata e M. laevigata,


Fam. Asteraceae)
Existem várias espécies de guaco, todas
nativas do Brasil. São plantas trepadeiras,
com folhas inteiras, que quando secas ou
aquecidas exalam um cheiro agradável de
cumarina. Utilizam-se folhas e ramos floridos.
Tem ação bronco-dilatadora e anti-tussígena.
Tem efeito antiinflamatório (garganta), contra IPÊ-ROXO (Tabebuia heptaphylla, Fam.
reumatismo, diurético, febrífugo e digestivo; Bignoniaceae)
albuminúria; nevralgias; é expectorante como
xarope (guaco, agrião, poejo, própolis e Também chamado ipê-preto, pau d’arco, ipê-
mel de abelha) contra tosse, catarro, gripe e rosa. Árvore nativa do RS, com flores roxas
bronco-espasmo (asma); contra mordedura de que aparecem próximo ao início de setembro.
cobra; cicatrizante; calmante em geral. A casca da planta é largamente utilizada
na medicina popular, sendo exportada
Uso: infusão de 10 g de folhas secas por litro para vários países do mundo. A exploração
de água. desenfreada da planta tem levado a sua
extinção local e regional.
HORTELÃ (Mentha piperita, M.crispa, M.
citrata, M. spicata; Fam. Lamiaceae) A casca da planta é utilizada no tratamento
de feridas, banhos contra coceiras, sarna,
Existem várias espécies, como a hortelã- inflamações artríticas, catarro da uretra e
pimenta (M. piperita), o alevante (M. citrata), leucorréia.
poejo (M. pulegium) , entre outros, todas de
origem européia e asiática. Entretanto, as Uso: macerado de 200 g de casca em um litro
espécies são cultivadas no Rio Grande do de óleo (ver preparo de óleo)
Sul e se intercruzam, gerando problemas de
identificação. De uma forma geral, a hortelã JAMBOLÃO (Syzygium cumini, Fam.
é estimulante, combate cólicas, resfriados, Myrtaceae)
dor de cabeça, dor de dente. É expectorante,
As cascas e folhas são adstringentes e
tônica e distúrbios digestivos; usada em
antidisentéricas. A planta tem funções
prisão de ventre; a espécie M. crispa é
antiblenorrágicas, antileucorréicas e
eficaz contra lombriga, ameba, tricomonas
antidiabéticas. Usada para reduzir a glicemia
e giárdia; e também contra reumatismo.
no sangue, sendo forte depurativo. Os
Devido ao óleo essencial mentol tem atividade
frutos são comestíveis. A semente possui
antimicrobiana, antiespasmódica e anestésica,
propriedades mais pronunciadas contra a
sendo anti-séptica e aumenta a força cardíaca
diabete do que folhas e cascas.
e a pressão arterial.
Uso: 20 g de folhas ou 10 g de casca por litro
É contra-indicada durante a amamentação
de água.
e para que tem asma e alergia respiratória.
A época de colheita das folhas é antes JURUBEBA (Solanum paniculatum, Fam.
da floração. A secagem deve ser feita em Solanaceae)
temperatura inferior a 35oC, para conservar a
composição química. Planta arbustiva nativa do RS, sendo
confundida com várias outras espécies da
Uso: infusão de 20 g de folhas verdes por litro família, sendo reconhecida pela presença
de água. de espinhos curvos nas folhas e ramos e
Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado 23

face inferior da folha acinzentada. A raiz travesseiro de ervas. Pode causar anemia em
é indicada como descongestionante do tratamentos prolongados.
fígado e para problemas do estômago e em
atonias gástricas. Usada contra a anemia Uso: 10 g de flores por litro de água.
e como cicatrizante. As folhas apresentam
alta concentração de alcalóides e são MAMONA (Ricinus communis, Fam.
recomendadas para uso externo como Euphorbiaceae)
cicatrizante. A planta tem ação diurética, Também conhecida como carrapateira. Planta
febrífuga e emenagoga (estimula a altamente tóxica, cujos alcalóides ricina e
menstruação), sendo usadas contra cistite e ricinina são reconhecidos como algumas
anemia. das substâncias de mais alta toxicidade
na natureza. O óleo extraído da planta é
Uso: Decocção de 10 g de raízes secas por litro lubrificante e combustível. A torta, resíduo da
de água. produção de óleo vem sendo testada como
fertilizante nitrogenado, após submetida a
LOSNA (Artemisia absinthum, Fam.
tratamento térmico adequado, mas também é
Asteraceae)
usado como inseticida de solo e fitoregulador.
Erva perene, nativa da Europa e muito As doses a serem utilizadas ainda não são
utilizada no Brasil. Usada contra afecções totalmente definidas, mas ficam entre 200 e
do estômago e intestino, cicatrizante e anti- 400 kg/ha, conforme a espécie e a finalidade a
reumática. Em pó, é usada contra a enxaqueca ser usada.
e como vermífugo. Contra cólicas menstruais
ou menstruação difícil (emenagoga). A planta Uso: as folhas e frutos, após cozimento, são
tem ação digestiva, estimulante da vesícula e utilizadas como inseticidas e repelentes.
do apetite e é tônica.
MANJERICÃO (Ocimum basilicum, Fam.
A planta possui propriedades tóxicas, por Lamiaceae)
isso não é indicada para gestantes, mulheres Também conhecida por alfavaca ou
que amamentam e crianças pequenas. O uso basilicão. O manjericão-cravo (Ocimum
prolongado da planta ocasiona a destruição gratissimum) pertence ao mesmo gênero
de células nervosas, e em doses elevadas é e tem propriedades semelhantes. É
psicoestimulante provocando convulsões e excelente tempero e condimento para
alucinações. comidas, especialmente massas e carnes.
Tem propriedades digestivas. É calmante
Uso: maceração em água fria de 10 g da planta
e usado contra dor de cabeça e insônia;
verde por litro de água.
indicada em xaropes contra tosse; alivia
a dor em mamilos de lactantes e cólicas
MACELA (Achyrocline satureioides, Fam.
intestinais. Antiespasmódica (acalma os
Asteraceae)
espasmos ou contrações da musculatura lisa),
Erva característica do Rio Grande do Sul e da tônica estomacal, carminativa, estimulante,
região de clima temperado. São utilizadas as galactagogo (que provoca ou aumenta
flores colhidas quando estão maduras, o que secreção de leite), anti-séptica intestinal,
ocorre na época da semana santa. diurética, emenagoga, estomáquica, anti-
helmíntico (vermífugo), calmante (pode ser
Usada para tratar problemas digestivos, sendo dado para bebês) e diurético.
antiespasmódica (cólicas), antiinflamatória,
bactericida, analgésica, sedativa, anti- É indicada para dores estomacais, má
diarréica, hipotensora e diurética. Diminui o digestão, flatulência, espasmos gástricos,
efeito coagulante do sangue e causa vaso- cólicas intestinais, afecções respiratórias,
dilatação coronária. Baixa a taxa de colesterol insônias, enxaquecas, dispepsias nervosas,
no sangue. Usada contra a dor de estômago, pessoas com problemas de aleitamento,
para facilitar a digestão. A infusão das flores afecções renais, combate a falta de apetite,
é excelente colírio para os olhos e serve para dores de ouvido, estafa mental, intelectual
clarear o cabelo, além de ser calmante. Usada e nervosa. Usa a planta inteira. É contra-
contra asma, bronquite e expectorante em indicada na gestação.
24 Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado

Uso: Infusão de 20 g de folhas verdes por litro Uso: infusão de 20 g de folhas verdes por litro
de água de água. Maceração 20 g de folhas verdes por
litro de álcool.
MANJERONA (Origanum majorana, Fam.
Lamiaceae)

Foto: Gilberto A. Peripolli Bevilaqua


Alivia cólicas, ajuda a eliminar os gases
intestinais. Combate catarros nasais; é
usado externamente em queimaduras
e machucaduras (o orégano possui
propriedades semelhantes). Estimula as
contrações do útero, podendo causar aborto
com o uso em excesso.

Uso: 20 g de folhas e ramos verdes por litro de


água.

MALVA (Malva parviflora, Fam. Malvaceae)

Erva nativa da Europa, amplamente difundida


no RS. Existem várias espécies utilizadas,
inclusive M. sylvestris. A planta possui como
componentes mucilagens, sendo emolientes
e cicatrizantes. Calmante dos nervos e dores MENSTRUZ (Coronopus didymus, Fam
em geral; é diurético suave. Usada como Brassicaceae)
cataplasmas para inflamações do estômago, Conhecida como mastruço. Erva prostrada,
dos olhos, de dente, da boca, das gengivas, com folhas recortadas, cheiro forte e sabor
da garganta, dos intestinos, da bexiga, dos picante. É utilizada como salada antes da
rins, da pele e das hemorróidas; banhos nas floração. É usada em contusões, hematomas
inchações das pernas; desinfetante sobre e reumatismo. É tônica e revigorante feral do
feridas e úlceras externas e gástricas. São organismo.
utilizadas folhas e raízes.
Uso: Infusão de 20 de folhas verdes por litro
Uso: Infusão de 10 g de folhas por litro de de água ou como componente do xarope.
água e decocção de 10 g de raízes por litro de Maceração de 200 g de folhas por litro de
água. álcool ou em óleo de oliva para sinusite.

MELISSA (Melissa officinalis, Fam. Lamiaceae) MIL-FOLHAS (Achillea millefolium, Fam.


Também conhecida como cidreira e erva- Asteraceae)
cidreira. Planta herbácea de origem européia, Conhecida por mil-em-rama, pronto-alívio ou
com odor muito agradável. Rica em óleos melhoral. Planta herbácea de origem européia,
essenciais citral, geraniol, citronelol, com folhas filiformes e inflorescência branca
flavanóides e taninos. É indicada em ou lilás. É analgésica, antiespasmódica,
distúrbios do estômago e gases intestinais; hipotensora, anti-febril, diurética,
controla problemas como nervosismo, antiinflamatória, cicatrizante e hemostática.
ansiedade, insônia, dores de cabeça, para Usado para baixar a febre e a pressão arterial;
baixar a pressão, desmaio, palpitações do contra hemorróidas; é excelente analgésico,
coração e resfriados. É sedativa, combatendo aliviando cólicas e enxaqueca. Externamente,
a tosse e perturbações urinárias, em adultos é usada em queimaduras, úlceras e feridas.
e crianças. O óleo tem ação bactericida e Contra cistite (inflamação da bexiga) e
os taninos agem sobre o virus da gripe, excesso de menstruação. Em altas doses,
caxumba, herpes simples e varíola. É pode provocar vertigens e dor de cabeça.
especialmente indicada como calmante para As folhas são colhidas antes da floração
crianças, mas sempre observando suas doses e as flores quanto estão bem abertas. Em
de utilização (metade ou menos da indicada sua composição possui azulenos, taninos,
para adultos). flavonóides heterosídicos e alcalóides (tujona).
Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado 25

Uso: infusão de 10 g de folhas secas por litro Uso: 20 g da folhas verdes por litro de água
de água. Maceração de 20 g de folhas verdes
por litro de álcool. PIXIRICA (Leandra australis, Fam.
Melastomataceae)
PALMINHA-CATINGOSA (Tanacetum vulgare
A planta tem finalidades antidiarréicas,
L., Fam. Asteraceae)
sendo também antiespasmódicas.
Também conhecida por catinga-de-mulata, Por atuar como depurativo, atua em
palminha e palma-crespa. Planta nativa da enfermidades circulatórias, na prevenção da
Europa, herbácea, de coloração verde intensa arterioesclerose, triglicerídeos e colesterol.
e flores em capítulos amarelos. Na medicina
popular é usada como digestivo, emenagoga, Uso: Infusão de 20 g de folhas verdes por litro
cicatrizante externo, vermífugo, anti-reumático de água.
(externo), dores musculares, hematomas,

Foto: Gilberto A. Peripolli Bevilaqua


lombalgia, diurético e “regenerador do tecido
ósseo”. Auxilia em dores de dente e picadas
de insetos. A planta tem pronunciada ação
tóxica, pela presença de tujona e cânfora,
sendo contra-indicada para gestantes, na
amamentação e para crianças.

Uso: macerado alcoólico com 200 g de folhas


verdes por litro de álcool para uso externo.
Uso interno para adultos: 2 g de folhas verdes
por litro de água macerada em água fria, por
18 horas.

PATA-DE-VACA (Bauhinia forficata (= B.


candicans), Fam. Fabaceae)
Árvore nativa do RS, que possui folhas
bifolioladas, com flores brancas e espinhos QUEBRA-PEDRA (Phyllantus niruri, P.
nos galhos. Existem outras espécies de flor corcovadensis, Fam. Euphorbiaceae)
rosa ou lilás e sem espinhos. As folhas e Erva brasileira de aproximadamente 50 cm
casca do caule são diuréticas, combatem a de altura. A planta é conhecida como erva-
diabete e o colesterol, bem como problemas pombinha, e confundida com o quebra-pedra
renais, como infecções e cálculos. Tem rasteiro, planta esta que é tóxica (possui
ação depurativa, agindo contra prisões de látex), sendo o seu uso fitoterápico não
ventre. Para combater a diabete, são usadas recomendado. Existem cerca de 10 espécies
tanto casca como folhas. A planta não tem de erva pombinha, no entanto, apenas duas
propriedades tóxicas dentro das doses P. niruri e P. corcovadensis, são indicadas
recomendadas. A raiz tem propriedades como medicinais. As demais não possuem
tóxicas, mas externamente é excelente propriedades medicinais ou são tóxicas. P.
germicida, seus terpenóides têm ação niruri tem ação sobre o vírus da hepatite B.
bactericida e fungicida
É diurética, antibacteriana, hipoglicemiante,
Uso: Infusão de 10 g de folhas verdes ou antiespasmódica, hepatoprotetoras, colagoga
cascas por litro de água. e anti-tumoral. Usada para infeções urinárias,
problemas nos rins e bexiga. É excelente
POEJO (Cunila microcephala, Fam. Lamiaceae) diurético e para quebrar as pedras nos rins.
Erva nativa do Rio Grande do Sul, preferindo Combate a azia, a prostatite e a diabete.
locais úmidos. Possui propriedades
semelhantes à espécie Mentha pulegium, de Utilização: 20 g da planta verde em um litro de
origem européia. A planta é tônica e excitante; água.
usada contra gases, dores de barriga; alivia
QUITOCO (Pterocaulon polystachium DC. e
cólicas e ativa a falta de menstruação; é
Pluchea sagittalis; Fam. Asteraceae)
expectorante, nas bronquites.
26 Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado

Também conhecida como pitoco, erva- nativa que ocorre ao redor dos capões
lucera e arnica. Ervas eretas e perenes, de mato do RS e que possui espinhos
nativas do Rio Grande do Sul, vegetando vigorosos. Existe outra planta conhecida
preferencialmente em locais úmicos. Ambas como salsaparrilha que vegeta em hortas
possuem propriedades semelhantes e são e terrenos baldios, pertence ao gênero
confundidas; no entanto, a primeira espécie Muhelembeckia sp., família Poligonaceae, e
possui coloração verde intensa e forte odor; possui propriedades tóxicas, por isso deve ser
já a segunda espécie possui coloração verde- evitada.
acinzentada. Ambas são indicadas contra
distúrbios digestivos, feridas externas, contra Tem propriedades anti-reumáticas e
febre e dores de cabeça e anti-reumáticas. sudoríferas; contra afecções da pele e no
tratamento da gota. Folhas e ramos são
A P. polystachium possui referências como indicados como digestivos e em dores
planta abortiva, por isso é contra-indicada estomacais. A raiz da planta é usada como
para mulheres grávidas ou que estejam deputativo do sangue e contra colesterol.
amamentando e crianças pequenas. Existem
indicações da cura de câncer externo, com o Uso: Decocção de 20 g de raízes por litro de
uso desta planta. água.

Uso: maceração de 200 g da planta verde por SÁLVIA (Salvia officinalis, Fam. Lamiaceae)
litro de álcool, para uso externo. Infusão de 10
g da planta seca por litro de água. Erva européia, com folhas acinzentadas e
largamente utilizada como tempero de carne,
SABUGUEIRO (Sambucus australis, Sambucus com alto valor no mercado. Na medicina
nigra, Fam. Caprifoliaceae) popular, é usada como tônico do corpo e da
mente, estimulante, diurética, expectorante,
A planta é um arbusto de 3 a 4 metros
febrífuga, antidiarréica, diabete e tratamento
de altura, folhas compostas e grandes
da menopausa; tem ação anti-inflamatória e
inflorescências brancas. Os frutos maduros
cicatrizante. Auxilia na digestão e combate
ficam marrom escuro a preto. A primeira
gases intestinais. Usada em gargarejo
espécie é nativa do Brasil.
para inflamação na garganta e gengiva.
Externamente, a tintura é germicida. Devido a
Internamente, as flores são usadas como
presença de óleos essenciais tujona e cânfora
febrífugo, sudorífico, diurético, expectorante,
é contra-indicada na gravidez.
emoliente, para lavar os olhos (conjuntivite)
e para “brotar o sarampo”. Folhas e flores,
Uso: infusão de 20g de folhas verdes por litro
na forma de compressas (externamente)
de água.
em dermatoses, furúnculos e erisipela. A
casca do caule como purgante, diurético
Foto: Gilberto A. Peripolli Bevilaqua

e anti-reumático (gota). As folhas e raízes


têm indicação contra diabetes e como
emagrecedor. O chá feito das folhas ou
das flores é usado quente para provocar
suor em gripes, resfriados, sarampo e
caxumba. Eficiente para eliminar ácido úrico,
cálculos renais e toxinas do sangue, sendo
bom depurativo do sangue. Combate o
reumatismo, pressão alta, diabetes e flebite.

Utilização: Infusão de 10 g de folhas secas ou


10g de flores secas por litro de água. Decocção
de 10g de casca por litro de água.

SALSAPARRILHA (Smilax campestris, S.


officinalis, S. medica, Fam. Smilacaceae)
Conhecida como japecanga. Planta trepadeira
Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado 27

SETE-SANGRIAS (Cuphea carthagenensis, C. Externamente, serve para curar feridas,


glutinosa, C. ingrata, Fam. Lythraceae) doenças de pele, crosta na cabeça, infecção
vaginal, nevralgias das mamas, úlceras;
Também chamada sete-sangrias-do-campo
cataplasmas com as folhas e farinha.
e guanxuma-vermelha. Erva nativa do RS,
Desintoxicante da nicotina e remédio para
com até 50 cm de altura, comuns nos campos
vencer o vício de fumar. Combate a tosse,
sulinos, com várias espécies ocorrentes, a
asma e tuberculose.
grande maioria com propriedades medicinais.
Possuem caule vermelho e flores liláses,
Uso: Infusão de 20 g de folhas e inflorescência
que lembram a guanxuma, donde provem o
por litro de água
nome. Existe ainda a árvore sete-sangrias,
identificada como Symplocos platyphylla TUIA (Thuja sp, Fam. Cupressaceae)
(Familia Symplocaceae), que possui
propriedades fitoterápicas semelhantes. Conhecida como árvore da vida ou cipreste.
Existem cerca de 15 espécies; no entanto,
A planta toda é colhida na floração, sendo a maioria delas não é citada como planta
usada como febrífugos e contra diarréias. medicinal, assim como o cipreste, que é da
Popularmente é usada no tratamento da mesma família mas não possui propriedades
arteriosclerose e doenças circulatórias, semelhantes à tuia.
doenças do estômago, intestino e afecções
da pele. Segundo relatos recupera derrame Conhecida como remédio para combater
cerebral, baixa a pressão sem ser diurética e pólipos uterinos e intestinais e verrugas; como
sem reduzir o potássio. Ativa a vaso-dilatação gargarejos em erupções da pele, nevralgias da
periférica e é usada como calmante do face, reumatismo, inflamações das gengivas;
sistema nervoso. eliminando crescimentos anormais no corpo,
torna-se um preventivo contra o câncer.
Uso: Infusão de 20g de caule e folhas por litro Combate moléstias crônicas, prostatite, asma
de água. e tosse.

TAJUJÁ (Cayaponia tayuya, Fam. Uso: Maceração de 200 g de folhas e frutos


Cucurbitaceae) verdes por litro de álcool para uso externo
ou 20 g de folhas e frutos verdes por litro de
A raiz tem poderes laxantes e é usada como
álcool.
vermífugo; depurativo do sangue, combate o
Foto: Gilberto A. Peripolli Bevilaqua

reumatismo e problemas digestivos e nos rins.


Indicada em ferimentos e problemas da pele.
A raiz, ainda, é excelente atrativo para insetos
como a vaquinha (Diabrotica speciosa). Para
tanto, corta-se a raiz em pedaços, mergulha-se
em solução inseticida e coloca-se na lavoura
em cima de pedras ou lata.

Uso: Decocção de 20 g de raízes por litro de


água.

TANSAGEM (Plantago major; P. lanceolata,


Fam. Plantaginaceae)
Planta também conhecida por tansago, UMBU (Phytolacca dioica, Fam.
transagem, tanchagem, entre outros nomes. Phytolaccaceae)
Existem várias espécies espontâneas no RS,
As folhas da planta são utilizadas como
sendo que a espécie P. australis é nativa.
vermífugo, depurativos e laxante. O chá de
É adstringente, combate qualquer tipo talo de umbu na medicina popular é utilizado
de inflamação ouvidos, olhos, gengivas, como depurativo do organismo e altamente
garganta, amígdalas, faringe, estômago, laxante.
intestinos, rins, bexiga e hemorróidas.
Uso: 10 g de folhas secas por litro de água.
28 Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado

Tabela 1. Informações básicas de ciclo, propagação e aproveitamento das


espécies medicinais e codimentares mais utilizadas no Rio Grande do Sul.
Embrapa Clima Temperado, 2006.

Referências de-couro (Echinodorus spp.) no Rio Grande do


Sul. Ciência Rural, Santa Maria, v. 31, n. 2, p.
ALICE, C.B. et al. Plantas medicinais de uso 213-218, 2001.
popular: atlas farmacognóstico. Canoas: Ed.
da ULBRA, 1995. 205 p. BEVILAQUA, G.A.P. Utilização e conservação
de plantas medicinais de terras baixas.
ALMEIDA, E.R. Plantas medicinais brasileiras: Pelotas: Educat, 2000. 16 p. (Coleção cadernos
conhecimentos populares e científicos. São pedagógicos, 6)
Paulo: Hemus, 1993. 341 p.
CORREA Jr, C.; MING, L.C.; SCHEFFER, M.C.
BEVILAQUA, G.A.P.; NEDEL,J.L.; ZUANAZZI, Cultivo de plantas medicinais, condimentares
J.A.; CORREA, C.T. Distribuição geográfica e e aromáticas. 2. ed. Jaboticabal: FUNEP, 1991.
composição química de genótipos de chapéu- 162 p.
Identificação e tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado 29

CORREA, M.P. Dicionário de plantas úteis LOPES, A.M.V.; ALVAREZ FILHO, A. Plantas
do Brasil e das exóticas cultivadas. Rio de usadas na medicina popular do Rio Grande do
Janeiro: Ministério da Agricultura: IBDF, 1984. Sul. Santa Maria: Infograph, 1997. 49 p.
v. 2, 690 p.
LORENZI. H. Plantas daninhas do Brasil:
FASE. A horta intensiva familiar. Rio de terrestres, aquáticas, parasistas e tóxicas. 3.
Janeiro: ASPTA, 1990. 80 p. ed, Nova Odessa: Editora Plantarum, 2000.
608 p.
FERREIRA, T.N.; LONDERO, C.A.; HOPPE, J.M.;
BRENA, D.A. Plante árvore: arvore é vida. LORENZI. H. Plantas medicinais do Brasil.
Porto Alegre: Emater-RS, 1993. 30 p. Nova Odessa: Editora Plantarum, 2000. 700 p.

FRANCO, L.B. As sensacionais 50 plantas SCHULTZ, A.R. Introdução ao estudo da


medicinais. Curitiba: Santa Monica, 1996. 200 botânica sistemática. 3. ed. Rio de Janeiro:
p. Globo, 1963, v. 2, 430 p.

GUERRA, M.S. Receituário caseiro: SILVA JR.., A.A. et al. Plantas medicinais,
alternativas para o controle de pragas caracterização e cultivo. Florianópolis: EPAGRI,
e doenças de plantas cultivadas e seus 1994. 71 p. (EPAGRI. Boletim Técnico, 68).
produtos. Brasília, DF: Embrater, 1985. 180 p.
SIMÕES, C.M.O et al. Plantas medicinais da
HAYNES, R.R.; HOLM-NIELSEN, L.B. The medicina popular do Rio Grande do Sul. 4. ed.
alismataceae: flora neotropica. New York: Porto Alegre: Ed. Universitária, 1995. 174 p.
The New York Botanical Garden, 1994. 109 p.
(Monograph, 64) TESKE, M.; TRENTINI, A.M. Herbarium:
compêncio de fitoterapia. Curitiba: Herbarium
JOLY, A.B. Botânica: introdução à taxonomia Laboratorio Botânico, 1994. 268 p.
vegetal. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1993. 600 p. TUXHILL, J. Reconhecendo os benefícios da
biodiversidade vegetal. In: Brown, L.R.; Flavin,
KORBES,V.C. Plantas medicinais. 48. ed, C.; French. Estado do mundo 1999: relatório do
Francisco Beltrão: ASSESSOAR, 1995. 188 p. World Watch Institute. Salvador: UMA, 2000.
260 p.
LONGHI R.A. Livro das árvores: árvores e
arvoretas do sul. 2. ed. Porto Alegre: L&PM, ZATTA, M. Receitas de plantas medicinais.
1995. 176 p. Porto Alegre: Pastoral da Saúde, 2000. 150 p.

Comitê de Presidente: Walkyria Bueno Scivittaro


Circular Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: publicações Secretário-Executivo: Joseane Mary L. Garcia
Técnica, 61 Embrapa Clima Temperado Membros: Cláudio Alberto Souza da Silva, Lígia
Endereço: BR 392, Km 78, Caixa Postal 403 Margareth Cantarelli Pegoraro, Isabel Helena Vernet-
Pelotas, RS - CEP 96001-970 ti Azambuja, Luís Antônio Suita de Castro, Sadi
Fone: (0xx53) 3275-8100 Macedo Sapper, Regina das Graças Vasconcelos dos
Fax: (0xx53) 3275-8221 Santos
E-mail: www.cpact.embrapa.br
sac@cpact.embrapa.br Expediente Supervisor editorial: Sadi Macedo Sapper
1a edição Revisão de texto: Sadi Macedo Sapper
1a impressão (2007): 100 Editoração eletrônica: Oscar Castro / Miguel Angelo
(estagiário)

Você também pode gostar