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Clara Maria de Souza Brandão Fernandes -12531572

Gabriel Mercaldi Evangelista - 5410278

Gabriela Ferreira Codling - 12531839

Gustavo Carrenho Spagnol - 13661322

ANÁLISE DO PARECER NÚMERO 6658/2019 DA COMISSÃO


TÉCNICA NACIONAL DE BIOSSEGURANÇA (CTNBIO)

Professor responsável:
Prof. Antonio Vargas de Oliveira Figueira

Trabalho escrito apresentado à disciplina


LGN0232 - Genética Molecular

Piracicaba
2023
INTRODUÇÃO

Este documento consiste na parte escrita do trabalho final apresentado à disciplina


Genética Molecular e visa apresentar respostas às perguntas propostas no roteiro do trabalho
acerca do parecer escolhido pelo grupo, o parecer número 6658/2019.

DESENVOLVIMENTO

1. “Descreva detalhadamente como funciona a CTNBio e a análise de um parecer técnico


para liberação comercial de um Organismo Geneticamente Modificado (OGM).”

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) é um órgão colegiado


vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Ela foi criada pela Lei de
Biossegurança (Lei nº 11.105/2005) e é responsável por analisar e deliberar sobre a
“formulação, atualização e implementação da Política Nacional de Biossegurança de
organismos geneticamente modificados – OGM, bem como no estabelecimento de normas
técnicas de segurança e de pareceres técnicos referentes à autorização para atividades que
envolvam pesquisa e uso comercial de OGM e seus derivados, com base na avaliação de seu
risco zoofitossanitário, à saúde humana e ao meio ambiente”, como descrito no portal do
Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação.

A análise de um parecer técnico para liberação comercial de um OGM pela CTNBio é


um processo rigoroso e envolve várias etapas. Documentação deve ser enviado para a
CTNBio, contendo informações detalhadas sobre o organismo geneticamente modificado,
seus genes inseridos, características, métodos de produção, dados de segurança, possíveis
impactos ambientais e à saúde humana, entre outros. Com a documentação completa, são
realizadas análises práticas sobre os riscos do OGM em questão. Essas análises originam o
parecer técnico o qual pode recomendar a aprovação ou reprovação, ou até solicitar mais
informações antes de tomar uma decisão final para a liberação comercial do OGM.

2. “Qual a relevância agronômica da cultura no Brasil e no mundo (produtos


manufaturados, área de cultivo, maiores produtores mundiais, posição no Brasil entre
os maiores produtores, maior estado produtor no Brasil, etc?)”
A cana-de-açúcar é uma cultura com grande potencial produtivo, visto que os seus
dois principais insumos (açúcar e etanol) são utilizados na produção de uma série de outros
produtos derivados. Assim sendo, é uma cultura presente em mais de 100 países, com uma
produtividade média mundial de 1,9 bilhão de toneladas em 2020.

Além disso, ela é um grande símbolo de sustentabilidade, tanto no Brasil como no


mundo, sendo grande protagonista na produção de energias renováveis, por conta da sua alta
produtividade agrícola, sua capacidade de sequestrar carbono liberado pela fermentação do
etanol (promovendo um ciclo fechado de carbono e fazendo com que haja menos teores
liberados na atmosfera), e seu amplo portfólio de produtos renováveis.

Sobre o Brasil em questão, a cana-de-açúcar movimenta cerca de R$100 bilhões por


ano, fazendo dele o maior produtor desta cultura no mundo, apresentando uma produtividade
média de 80 toneladas por hectare e uma área colhida de 9.870.590 hectares. No Gráfico 1
está representada a evolução da cana-de-açúcar no Brasil entre os anos 2000 e 2021,
destacando sua produção, seu rendimento e sua área colhida. O estado que possui maior
produção é São Paulo, como se pode observar na Figura 1.

Gráfico 1: Evolução da cana-de-açúcar no Brasil em produção, rendimento e área colhida.

Fonte: IBGE
Figura 1: Valor da produção da cana-de-açúcar em cada estado brasileiro.

Fonte: IBGE

3. “Faça uma breve explanação sobre a organização requerente do OGM.”

Este pedido de parecer para liberação comercial de cana-de-açúcar geneticamente


modificada foi realizado pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). O CTC é uma empresa
de biotecnologia dedicada à pesquisa e desenvolvimento de tecnologias – como o
melhoramento genético – relacionadas à produção de cana-de-açúcar e seus derivados. Foi
fundada em 1969 como nome Centro de Tecnologia Copersucar. Como parte do cenário
agrícola e industrial brasileiro, o CTC desempenha um papel estratégico na melhoria contínua
da produção de cana-de-açúcar e na sustentabilidade do setor sucroalcooleiro, que
desempenha um papel vital na matriz energética do país.
4. “Quais foram as características agronômicas melhoradas no OGM?”

O OGM desenvolvido possui como principal melhoramento em suas características


agronômicas um background genético da cultivar CTC9003, expressando a proteína Cry1Ac
e, como consequência, fazendo essa cultivar ser resistente ao ataque de Diatraea saccharalis.
Segundo SOARES FELIPE (2019), a proteína Cry1Ac possui uma sequência de aminoácidos
idêntica a outros OGMs de milho e soja que foram previamente aprovados e historicamente
mostraram ser seguros.

O sucesso da resistência do OGM para Diatraea saccharalis foi comprovado ao medir


a porcentagem de ataque da praga, por meio do número de colmos danificados pela mesma e
pelo tamanho dos danos nos colmos efetivamente atacados. Verificou-se que essa
porcentagem foi menor ao comparar com o uso de cultivares convencionais, resultando em
um sucesso de 98% do OGM testado em todas as localidades.

5. “Qual gene de interesse foi adicionado e/ou modificado? Discorra se foi mais de um
gene.”

Aproveitando o background do cultivar de cana CTC9003, o CTC desenvolveu o


evento CTC93209-4. Esse evento adiciona às características dessa cultivar a expressão das
proteínas CRY1Ac(Alpha-crystallin A chain). Essas proteínas, inicialmente, alcançam o
intestino dos insetos como uma pró-toxina. Por ação de proteases ela é digerida, liberando um
fragmento tóxico. Essas proteases são essenciais para a liberação do fator de toxicidade, por
isso, seus efeitos são limitados as larvas de lepidópteros, dípteros e alguns insetos coleópteros.

6. “Qual organismo de origem do gene introduzido no OGM? Discorra se foi mais de um


gene.”

Os dois genes inseridos nesse evento desenvolvido pela CTC são originários de duas
diferentes bactérias. O gene cry1Ac foi retirado da bactéria Bacillus thuringiensis, uma
bactéria de solo que expressa proteínas com efeito inseticida, as proteínas cristal e que estão
presentes em seu plasmídeo. O segundo gene, que codifica a proteína NptII, foi retirado do
transposon Tn5 de Escherichia coli e confere resistência a antibióticos, o que será melhor
abordado na questão seguinte.

7. “Qual marca de seleção (gene) foi utilizada para a construção do OGM? O mesmo está
presente no produto comercial?”

Como dito anteriormente, o gene nptII foi adicionado na construção para o


desenvolvimento do evento CTC93209-4. A proteína codificada por esse gene age como
mecanismo de seleção, pois confere resistência a antibióticos de natureza amidoglicosínica,
como canamicina e geneticina. O mecanismo de ação desta enzima reside no fato de que ela
consegue fosforilar esses antibióticos, impedindo que atuem.

A presença desse gene foi mantida no produto comercial. Vale ressaltar que a proteína
é segura para o consumo humano pois há completa degradação no sistema digestório.

8. “Descreva o DNA recombinante (construção do cassete) utilizado para a obtenção do


OGM. Esquematize o plasmídeo mais os insertos do DNA recombinante.”

A combinação de segmentos de DNA, originários de fontes diferentes, é capaz de


formar o DNA recombinante. A utilização de um plasmídeo (como vetor) é essencial para a
construção de um cassete de DNA recombinante, visando a obtenção de um OGM
(Organismo Geneticamente Modificado). Todo esse processo envolve as seguintes etapas: 1)
Identificação do Gene-Alvo; 2) Isolamento do Gene; 3) Preparação do Plasmídeo; 4) Ligação
do Gene no Plasmídeo; 5) Introdução no Hospedeiro; 6) Seleção e Multiplicação.
Fonte: ResearchGate.

9. “Descreva pelo menos duas técnicas moleculares utilizadas durante a obtenção do


OGM.”

Durante a obtenção do OGM, nota-se que a utilização de técnicas moleculares é


evidente (engenharia genética). Diante desse cenário, infere-se que a Clonagem de DNA e o
DNA recombinante podem ser analisados como duas técnicas utilizadas para esta finalidade.

A Clonagem de DNA pode ser vista como uma técnica utilizada com o fito de gerar
várias cópias, idênticas, de um fragmento de DNA (1 passo: Um gene alvo é inserido em uma
fragmento circular de DNA, denominado plasmídeo; 2 passo: Esse plasmídeo é
exposto/introduzido em bactérias, que são posteriormente selecionadas via antibiótico
“transformação”; 3 passo: As bactérias que contém o plasmídeo correto são utilizadas para
sintetizar mais DNA do plasmídeo e proteínas.

O DNA recombinante é evidenciado pela molécula de DNA que contém partes de seu
DNA derivados de duas ou mais fontes (espécies diferentes). Essa tecnologia é conhecida
como clonagem molecular e possui algumas etapas para ser feita, dentre as quais podem ser
destacadas: 1) Isolar um fragmento de DNA que contém o gene de interesse; 2) Esse gene de
interesse é submetido a um meio que contém DNA circular bacteriano, as enzimas de
restrição e o plasmídeo; 3) O plasmídeo insere o DNA externo ao seu próprio genoma; 4) As
enzimas de restrição vão atuar cortando uma determinada região do plasmídeo; 5) o
fragmento de DNA isolado, através das enzimas de ligação (ligases), vai unir-se com o DNA
bacteriano; 6) Origina-se o DNA recombinante.

10. “Qual o método de transformação utilizado na obtenção do OGM?”

Os métodos de transformação são etapas essenciais para a obtenção de OGM


(Organismos Geneticamente Modificados). Diante desse cenário, constata-se que a
transformação bacteriana com Agrobacterium tumefaciens é um exemplo de uma forma de
transformação utilizada, atualmente, para a síntese de OGM. Esse método de transformação
consiste na transferência induzida de DNA para algumas plantas (dicotiledôneas) por conta da
característica de fitopatógeno atribuída a bactéria utilizada nesse processo.
11. “Quais principais testes foram realizados devido a exigências do CTNBio para
liberação comercial?”

Foram realizados diversos testes, visando comprovar a eficiência do OGM e descartar


os riscos do OGM em questão para o ser humano, os animais e o ambiente. Os principais
testes, retirados do parecer, foram: 1) Análise detalhada da expressão das proteínas Cry1Ac e
nptII nos órgãos da planta, evidenciando que os níveis de expressão da proteína Cry1Ac nas
folhas permanecem altos ao longo de todo o ciclo de cultivo, garantindo resistência à
Diatraea saccharalis, enquanto os níveis no colmo são muito baixos, garantindo exposição
alimentar mínima.

2) Análise da composição nutricional considerando possível presença de toxinas,


substâncias alergênicas e antinutricionais, bem como as as potenciais propriedades tóxicas ou
alergênicas das proteínas Cry1Ac e nptII. Obteve-se resultados favoráveis à segurança para a
saúde do OGM, sendo que as proteínas Cry1Ac e nptII não têm homologia com alérgenos
conhecidos. Os valores Nível Sem Efeitos Adversos Observáveis (NOAEL) obtidos foram
muito altos, sendo possível concluir que o consumo alimentar humano de derivados não
processados do evento CTC93209-4 é seguro. Também foi confirmada a ausência de DNA
específico e das proteínas Cry1Ac e nptII no produto final do processamento e o refino da
cana-de-açúcar.

3) Confirmação da especificidade de ação da toxina (δ-endotoxina) produzida pelo


gene cry1Ac em insetos da ordem Lepidoptera, únicos animais que possuem receptores no
intestino para essa proteína. Confirmou-se inocuidade em outros insetos e animais.

4) Avaliações sobre possível efeito do consumo por gado de forragem do evento


CTC93209-4, concluindo-se que este consumo é seguro.

5) Comparações que demonstraram que o evento CTC93209-4 não diferiu da cultivar


controle convencional (CTC9003) com relação “à sua taxa de biodegradabilidade de seus
restos culturais, à capacidade de adicionar ou remover substâncias ao solo, tampouco com sua
capacidade de influenciar a microbiota do solo”.
6) Avaliação do efeito da proteína Cry1Ac sobre organismos não alvo, como
polinizadores e inimigos naturais. Nenhum dos organismos de teste mostrou resposta
significativa à proteína Cry1Ac.

7) Avaliação da ação da proteína sobre outras pragas secundárias pertencentes à ordem


Lepidoptera da cana-de-açúcar, incluindo Spodoptera frugiperda, Helicoverpa armigera e
Elasmopalpus lignosellus. Demonstrou-se efeitos potenciais apenas no controle de
Elasmopalpus lignosellus, concluindo-se que nem todos lepidópteros possuem os mecanismos
de suscetibilidade à proteína Cry1Ac.

8) Por fim, comparação na abundância e visitação de organismos não alvo entre o


evento CTC93209-4 e a variedade controle convencional, demonstrando que não houve
diferença significativa entre os dois.

12. Qual a classificação de risco do OGM?

A classificação de risco desse OGM foi a classe de risco 1, fazendo com que este
OGM seja de baixo risco na alimentação humana e animal.

Para que esta conclusão tenha sido feita, foram feitos inúmeros estudos sobre os
efeitos da proteína Cry1Ac no corpo humano e animal. Primeiramente, foi feita uma análise
que determinava a expressão das proteínas Cry1Ac e nptII em folhas, colmos e raízes, onde se
concluiu que a expressão da proteína Cry1Ac foi maior em folhas e menor em colmo e raízes,
e que a média da expressão de nptII foi baixa em todos os tecidos. Assim, a exposição e
possível contaminação humana via consumo de caldo ou produtos derivados, por conta de
virem majoritariamente do colmo da cana-de-açúcar, seria mínima.

Após isso, foram feitos estudos toxicológicos por meio de administração oral das
proteínas Cry1Ac e nptII, incluindo a alimentação de ratos com formas purificadas dessas
proteínas por 90 dias, resultando em valores NOAEL (Nível Sem Efeitos Adversos
Observáveis) muito altos (aproximadamente 5000 mg/kg) e sem efeitos adversos observáveis
nos sujeitos. Com isso, concluiu-se que as proteínas não são tóxicas.

Ademais, foi avaliada a alergenicidade dessas proteínas. Segundo uma análise


bioinformática, encontrou-se que não havia homologia entre as proteínas Cry1Ac e nptII com
alérgenos conhecidos. Além disso, houve estudos com as proteínas purificadas que
demonstraram que as mesmas são degradadas e desnaturadas em fluido gástrico e intestinal,
comprovando que essas proteínas não alergênicas.

Por fim, foi calculada a quantidade de cana-de-açúcar provinda do OGM que o ser
humano precisaria consumir (tanto in natura como derivados) para alcançar os valores
NOAEL de cada proteína, resultando em um consumo necessário de aproximadamente 56,6 e
3.750 toneladas de cana-de-açúcar.

Dessa forma, após os cálculos e os estudos/análises feitos, é possível concluir que o


OGM é extremamente seguro, classificando-o como classe de risco 1.
REFERÊNCIAS

CTNBIO. Parecer Técnico 6658/2019. Disponível em:


<http://ctnbio.mctic.gov.br/liberacao-comercial/-/document_library_display/SqhWdohU4BvU
/view/2266003?_110_INSTANCE_SqhWdohU4BvU_redirect=http%3A%2F%2Fctnbio.mcti
c.gov.br%2Fliberacao-comercial%2F-%2Fdocument_library_display%2FSqhWdohU4BvU%
2Fview%2F614405#/liberacao-comercial/consultar-processo>. Acesso em: 3 nov. 2023.

Fuchs RL, Ream JE, Hammond BG, Naylor MW, Leimgruber RM, Berberich SA. Safety
assessment of the neomycin phosphotransferase II (NPTII) protein. Biotechnology (N Y).
1993 Dec;11(13):1543-7. doi: 10.1038/nbt1293-1543. PMID: 7764244.

IBGE. Produção Agropecuária | IBGE - Cana-de-açúcar. Disponível em:


<https://www.ibge.gov.br/explica/producao-agropecuaria/cana-de-acucar/br>.

PORTAL EMBRAPA. Cana de Açúcar - Portal Embrapa. Disponível em:


<https://www.embrapa.br/en/visao-de-futuro/trajetoria-do-agro/desempenho-recente-do-agro/
cana-de-acucar#:~:text=A%20Cana%20de%20A%C3%A7%C3%BAcar>.

RAÍZEN. Cana-de-açúcar: tudo sobre sua importância e versatilidade. Disponível em:


<https://www.raizen.com.br/blog/cana-de-acucar#:~:text=N%C3%A3o%20d%C3%A1%20pa
ra%20negar%20a>. Acesso em: 15 nov. 2023.

RAÍZEN. Cana-de-açúcar: entenda o potencial da cana na transição energética.


Disponível em: <https://www.raizen.com.br/blog/potencial-da-cana-de-acucar>. Acesso em:
15 nov. 2023.

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