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BIOGRRAFIA

Neste capítulo, procuraremos expor de forma geral, os momentos marcantes da


vida de Otão de Laguery, futuro Urbano II. Abordaremos a sua história desde o seu
início até à sua morte, recorrendo às fontes biográficas que nos foi possível obter, tendo
conta à falta de fontes existentes para as figuras deste período histórico.

Otão de Laguery, nasceu na França, em Châtillon, perto de Reims, filho de uma


família nobre. Estudou em Reims onde se tornou clérigo, tendo depois transitado para a
ordem Beneditina ao entrar no Mosteiro de Cluny que era o maior centro espiritual do
seu tempo onde veio a se tornar prior. Porém ficou tempo por Cluny pois foi enviado
para Roma a pedido ainda do Papa Gregório para o auxiliar nas reformas que pretendia
para a Igreja.

Seguidamente foi nomeado cardeal de Óstia por méritos que obteve ao trabalhar
a favor da reforma. Posteriormente foi nomeado núncio para a Alemanha e foi delegado
para tratar as causas de Gregório VII onde acabou por ser prisioneiro do imperador
Henrique IV, que se encontrava em guerra aberta com a Santa Sé, opondo-se às
reformas que reforçavam o poder da Santa Sé. Foi na Alemanha que encontrou o seu
maior desafio até então pois eram muitos os príncipes e bispos que se aproximavam de
Henrique IV.

Assim sendo, com a morte do papa Gregório VII é eleito o papa Victor III que
estava entre os cardiais que o papa anterior havia designado como possível sucessor
para a cátedra de Pedro. No entanto, teria ainda que se debater com o papa ou antipapa
Clemente III que queria fixar a sua residência no Vaticano. No leito da sua morte
recomendou Otão de Laguery bispo de Óstia, futuro Urbano II que permaneceu como
papa entre 1086 e 1087.

Urbano II foi um homem de engenho diplomático. Isso verifica-se pelas alianças


e soluções encontradas para enfrentar os desafios que o seu pontificado lhe apresentava,
quer como sucessor da reforma gregoriana, quer como sucessor das querelas antipapais.
Quando o pontificado de Urbano II iniciou, «a sua intenção fundamental é justamente
prosseguir no combate que até ao fim da vida Gregório VII travou.» Para isso,
importava o Papa ter a sua sede em Roma, centro do Cristianismo Ocidental. Em março
de 1088, Urbano encontra Roma, nas mãos do antipapa Clemente III, depois deste ter
sido expulso no curto pontificado de Vítor III, com o apoio da condessa Matilde da
Toscana.1 Sem perder tempo, alia-se intimamente ao rei da Sicília, Roberto I da
Normandia, e «utiliza-o como negociador junto do imperador de Bizâncio, trabalhado
então por emissários de Henrique IV. Garantidas a aliança do Normando e a
neutralidade do Basileu, [Urbano] sobe, com tropas [sicilianas], à reconquista da Cidade
Eterna. Em novembro de 1088 apossa-se da ilha do Tibre. Em junho do ano seguinte
expulsa de Roma Clemente III e as tropas que o apoiam – e reentra em São Pedro no
meio de efusivas aclamações populares.»2

«A tal se não pode resignar Henrique IV, que depressa acorre com hostes
numerosas e restaura o antipapa. Volta Urbano II para o Sul. No Concílio de Amalfi
prestam-lhe homenagem Rogério, duque de Apúlia e Calábria e setenta bispos que
aplaudem os seus eloquentes anátemas contra o soberano da Alemanha e contra a
investidura leiga, a simonia, o nicolaísmo. E as coisas não tardam a sofrer modificações
profundas. Matilde da Toscana, que nunca desarma e até recorre a um consórcio fictício
com o moço filho do duque da Baviera, desenvolve porfiada ação militar e obriga os
imperiais a retroceder. Outros acontecimentos trazem graves preocupações e desaires ao
imperador [germânico]: primeiro a constituição da Liga Lombarda (em que se juntam
Milão, Cremona, Lodi, Placência), insurgida contra os bispos ilegitimamente investidos;
logo seu filho Conrado entra em franca revolta e se faz coroar em Milão rei de Itália. Ao
mesmo tempo, sob o comando do [p. 19] decidido Gebardo, bispo de Constança,
importantes efetivos se movimentam na Alemanha e põem em xeque as suas
guarnições.

Absorvido por tão agudos problemas, Henrique IV abandona o Norte da Itália.


Urbano II regressa triunfante a Roma, onde transitoriamente aceita a hospitalidade dos
Frangipani, seus adeptos. Por fim, já senhor da capital, fica restituído à plenitude do
poder, no centro tradicional do mundo cristão.

É agora que lhe vai ser possível dar a sua inteira medida e lançar a Igreja nos
caminhos para que tende a partir de Gregório VII.

Antigo prior de Cluny, cujo espírito absorveu no maior grau, Urbano II, ao sentir
próximo do fim o mais poderoso antagonista e ao compreender até que ponto a nova
1
Cf. Ameal, 2:17–18.
2
Ameal, 2:18.
disposição das forças internacionais lhe é favorável - resolve-se a tirar das premissas
postas todas as consequências e a dar plena execução aos grandes planos de
Hildebrando.»3

O seu primeiro passo é revitalizar o papel dos legados pontifícios: assim, nomeia legado
em França o bispo Hugo de Lião, que já anteriormente exerceu tais funções e se fez
notar pelo zelo e pela atividade; e legado em Espanha o arcebispo Bernardo de Toledo,
desde 1088 primaz das dioceses ibéricas. Autorizados a convocar, em nome do Vigário
de Cristo, sínodos e concílios - os legados representam oportuna descentralização do
poder papal e velam com maior eficácia pela disciplina do clero e pela reforma dos
costumes.

Para dar público testemunho da unificação em redor do chefe da Igreja, chama


Urbano II os bispos da Itália, da Borgonha, da Alemanha e da França a um grande
concílio plenário - aberto em Placência a 1 de março de 1095. Ali se junta a
considerável assembleia descrita pelo cronista Bernoldo de Constância. Formalmente se
reitera a condenação de todas as ordenações episcopais levadas a efeito pelo antipapa
Clemente III - e das ordenações sacerdotais efetuadas pelos falsos bispos obedientes ao
mesmo antipapa. Deste modo se acentua a exclusiva legitimidade daqueles a quem o
verdadeiro pontífice ordenou: só a esses devem os fiéis acatamento e obediência.»4

A primeira ação que teve como papa foi exortar que príncipes e bispos que
tinham sido fiéis aos seus dois últimos antecessores a serem também fiéis ao novo Papa,
declarando prosseguir com a política que Gregório VII iniciara, afirmando assim:

5
«” Tudo aquilo que ele rejeitou, eu rejeito, o que ele amou eu abraço, o que ele
considerou católico, eu confirmo e aprovo”.»

No ano de 1092 o imperador Henrique invade novamente a Itália com um


poderoso exército o que obriga o Papa Urbano II a sair de Itália, permitindo ao antipapa
Clemente que regressasse que acabaria por ser deposto novamente uns meses mais
tarde, regressando assim o Papa Urbano II à sua cátedra. Em 1099 falece em Roma
tendo sido beatificado em 1881 pelo Papa Leão XII.

3
Ameal, 2:18–19.
4
Ameal, 2:18–19.
5
Dos Apóstlos ao Papa João Paulo II, pp. 69.
Concluindo, verificamos que o papa Urbano II teve uma enorme importância
política para aquilo que era o contexto do Vaticano no século XI. Apesar de não ter tido
um pontificado sereno e facilitado, Urbano II mostrou-se resiliente, extremamente
diplomático, conseguindo enfrentar os desafios e as dificuldades da sua época,
mostrando ser exemplo de papa e até de santidade que foi reconhecida posteriormente.
BIBLIOGRAFIA

Ameal, João. História da Europa: da idade Teocêntrica ao Tratado de Tordesilhas.


Vol.2. Lisboa: Editorial Verbo, 1983.

QuidNovi. Dos Apóstolos ao Papa João Paulo II - O Trono de São Pedro. Vol. IV.
12 vols. Matosinhos: QuidNovi, 2005.

Saba, Agustín. Historia de los Papas. Vol. I. Barcelona: Editorial Labor, 1948.

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