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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ -UESPI ALAN RAFAEL DE SENA JOÃO T IAGO NUNES DA SILVA O PR…
alan rafael de sena
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Resumo: Esse artigo foi desenvolvido para avaliação na disciplina História Moderna,
ministrada pelo Professor Josemar Machado de Oliveira no curso de Graduação em
História da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES. O texto busca resumir,
inicialmente, a vida de João Calvino, religioso importante no protestantismo francês e
fundador do Calvinismo, enfatizando suas conquistas na conversão de católicos
franceses para sua nova religião. Em seguida, discutem-se os conflitos acontecidos
entre os Huguenotes e os católicos na França e suas conseqüências principalmente o
surgimento e, posteriormente, revogamento do Edito de Nantes.
1. Introdução
Este trabalho tem por objetivo discutir os motivos políticos e religiosos que levaram
aos conflitos entre Huguenotes (calvinistas franceses) e Católicos na França, no
desenrolar do século XVI. Para isso, inicia-se o artigo com um tópico para uma
resumida descrição da obra e da doutrina de João Calvino, criador da religião
protestante que entrou em conflito com a Igreja romana, antes dominante no país.
Busca-se mostrar as diferenças dessa para aquela, motivos dos conflitos.
Com essa finalidade, a seguir, o artigo será divido em três partes. A primeira, falará
das origens desses conflitos religiosos, do seu desenvolvimento, até a instituição do
Edito de Nantes (1598). Em seguida, a segunda parte continuará a partir da mesma
data, acompanhando a desorganização do partido protestante até a revogação do
Edito de Nantes, aonde começa a terceira parte, que vai até a extinção dos poucos
direitos mantidos no Edito de Fontainebleau, em março de 1715, já no reinado de Luís
XIV.
Mesmo limitado, esse artigo buscará esclarecer fatos importantes, que colaboraram
para o surgimento e desenvolvimento desse conflito, tão importante e relevante na
História das religiões e do homem.
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João Calvino nasceu em Noyon em 1509, e apenas a partir de 1533 é que começou a
fazer-se notar como protestante. Já em 1534, renunciou a todos os seus benefícios.
Em 1554, sua posição se consolidou em Genebra, cidade em que desenvolveu sua
Igreja e em que veio a morrer, em 27 de maio de 1564.
Sobre sua obra, Calvino, na primeira edição da Instituição Cristã, dizia que a Igreja é
essencialmente invisível e que, assim, a Igreja humana é local. Além disso, lutou para
que essa Igreja visível ficasse autônoma em relação ao Estado.
Dos sete sacramentos da Igreja Católica, Calvino manteve apenas dois: o batismo e a
ceia. Além disso, instituiu quatro ministérios para sua igreja: os pastores anunciavam a
Palavra, davam o catecismo, administravam os sacramentos; os doutores instruíam os
fiéis na santa doutrina; o Consistório, formado pelos pastores e pelos “anciãos”, que
deveriam reparar a vida dos fiéis, e relatar à companhia os desvios desses, para que
se fizesse correções fraternas; os diáconos, que recebiam e conservavam os bens dos
pobres, além de cuidar e medicar os doentes.
Sobre a transcendência de Deus, Calvino dizia que a Escritura disse tudo aquilo que o
homem deve saber acerca de Deus. Acreditava que ela era a “única abertura possível
para a imensidade do mistério divino” (DELUMEAU, 1989. p 126).
Voltando aos sacramentos mantidos por Calvino – o batismo e a ceia. Para justificar o
batismo das crianças, fugindo dos argumentos da Igreja romana, baseava-se na
palavra de Jesus: “Deixai vir a mim as crianças”. Além disso, acreditava que seria um
“não reconhecimento da misericórdia de Deus para conosco”. Na ceia, dizia que “o pão
e o vinho não se transformam em momento algum no corpo e no sangue de Cristo.
Mas são os instrumentos, os sinais e o meio pelos quais o fiel comunga realmente a
substância de Cristo” (DELUMEAU, 1989. p 134).
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Porém, alguns dias depois do Edito de Écouen (2 de junho de 1559), que ordenou a
execução de qualquer Reformado revoltoso ou em fuga, o Rei mandou deter os
membros do Parlamento envolvidos, e suspendeu as perseguições.
Catarina de Médicis, em 1560, assumiu a regência do reino, já que seu filho, Carlox IX,
ascendia ao trono sem maioridade legal. O objetivo era impedir que os Guise (que
buscavam a regência) conseguissem se impor na França, exigindo a uniformidade
religiosa, o que os permitiria derrotar seus rivais Huguenotes e adquirir predominância
nos assuntos do Reino.
Através do edito de janeiro (1562), Catarina permitiu, pela primeira vez, o culto público
protestante fora das cidades. O Protestantismo ganhava terreno. A isso, seguiu o
massacre de Vassy, aonde foram mortos 74 protestantes. Delumeau considera esse
massacre como uma “primeira noite de São Bartolomeu”. Em Sens, 200 Huguenotes
foram mortos por católicos.
O príncipe de Conde, líder dos Huguenotes, publicou uma Declaração, justificando sua
decisão de recorrer à luta armada. Dizia que os Guise haviam “submetido ao cativeiro a
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vontade da rainha” ao entrar em Paris com um exército, “com o único intuito de dispor
do Reino como lhes aprouvesse”.
Todavia, provavelmente por causa de desavenças com o almirante Coligny, que tinha
influência sobre o Rei, Catarina de Médicis repentinamente abandonou as tentativas de
conciliação e, através de Carlos IX, iniciou um programa para impelir os protestantes,
de todos os meios possíveis. Esse programa foi executado quando da Noite de São
Bartolomeu, em 1972.
Essa noite ficou conhecida por ser o dia do casamento de Henrique de Navarra com
Margarida de Valois, filha de Catarina de Médicis. Boa parte de seus convidados era de
Reformados e foram massacrados. Na carnificina, pelo menos trinta mil Protestantes
morreram, e o futuro rei Henrique IV, teve que abjurar.
Assim, sendo o partido reformado menor que o católico, e tendo perdido seus principais
líderes durante os conflitos, foi obrigado a se organizar de uma maneira mais sólida. O
príncipe de Conde foi nomeado “governador geral e protetor das Igrejas reformadas de
França”. Coletando tributos de cidades e aldeias, utilizavam o dinheiro para manter um
exército de forma quase permanente nas Províncias Unidas (regiões controladas por
Huguenotes) do Sul da França. Nessas áreas, estava autorizado o culto protestante,
sendo proibido o culto católico onde houvesse maioria huguenote.
Tendo Henrique III morrido em 1589, assassinado por um monge, assumiu o trono
Henrique IV. O novo rei permitiu o culto reformado em todas regiões onde já era
celebrado. O Edito de Mantes (1591), permitiu atos de pacificação e voltou a permitir
aos Protestantes os cargos públicos.
Em 1594, foi aberta a assembléia de Sainte-Foy, sem permissão régia. Nela, escolheu-
se um novo Protetor, e dividiram a França em nove grandes províncias administradas
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4. Da Desmobilização Protestante
pelo partido devoto a “destruir a heresia em seu próprio centro”. Não aceitou,
provavelmente acreditando em uma “reconciliação entre Católicos e Reformados por
consentimento mútuo, mediante determinadas concessões de Roma no culto e na
disciplina” (DELUMEAU, 1989. p 187-188).
Luís XIV, no dia de sua maioridade legal, 21 de maio de 1562, verificou sua fidelidade
aos Reformados, ordenando que fossem “mantidos e protegidos na plena e inteira
fruição do Edito de Nantes”. No entanto, a severidade para com os mesmos foi
aumentando. Luís XIV desejou, assim como seu pai, Luís XIII, suprimir na França a
dualidade de religiões.
Após a morte de Jules Mazarino (sucessor de Richelieu, que havia morrido em 1635),
recomeçaram as tentativas de reunificação. Em 1665, o poder real criou um conselho,
que formulou planos para atingir esses objetivos. Buscava conquistar, pelo menos,
meia centena deles, iniciar então uma conferência com esses, obtendo do Papa
dispensas para os pastores casados e outras questões dogmáticas.
No ano seguinte, foi publicada a obra Explicação do Edito de Nantes pelos outros
editos de pacificação e sentenças de regulamento, de Mestre Bernard, sendo seguido
por P. Meynier, 4 anos depois, através da obra O Edito de Nantes executado segundo
as indicações de Henrique o Grande. Essas interpretações, chamadas de
“interpretações a rigor”, permitiram conduzir a guerra contra os protestantes.
Uma assembléia do clero em 1670 solicitou novos limites para os protestantes. Uma
outra, em 1675, dirigiu-se diretamente ao Rei dizendo que “é preciso agora que
completeis o testemunho de vosso reconhecimento usando vossa autoridade para a
completa extirpação da heresia”. Além disso, foi aconselhado a dispor cerca de 100
000 libras, entregues por abadias, para gratificações aos novos Católicos.
O Rei assinou em 1678 a paz de Nimègue, que colocava um fim na guerra da Holanda
(1672), e passou a se interessar menos por essa questão, apesar dela envolver a
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Pelos fins de 1682, o número de convertidos chegava a quase 60 000. Esses números
alarmaram os pastores Reformados, mas não foi o suficiente para desmoronar o
protestantismo francês.
Consentiu cada vez mais que os intendentes realizassem as conversões pela força.
Delumeau acredita que Luís XIV havia tomado essa nova posição a fim de responder à
“concorrência” do Imperador Leopoldo, que havia surgido repentinamente como o
campeão do Catolicismo, após vencer os turcos que, em 1683, se encontravam às
portas de Viena. Assim, o Rei francês buscou demonstrar para a Europa e para o
Papado o seu interesse pela religião.
Enquanto isso, o clero constituiu um “grupo de pressão” que não descansou até a
supressão do Protestantismo na França. Os Reformados foram praticamente excluídos
de todos os ofícios reais e senhoriais. Além disso, precisaram reservar lugares
especiais nos templos para os Católicos que quisessem ouvir o pastor, a fim de
colaborar com as denúncias de novos convertidos.
Àqueles que se converteram, foi prometida uma renda vitalícia. Além disso, para
aqueles pastores que desejassem ser advogados, dispensava-se os três anos de
estudos e metade das exigências para o doutorado. Suas escolas foram extintas e
seus filhos foram, com o tempo, batizados e receberam educação católica.
Luís XIV foi louvado pela Igreja, que dizia que havia alcançado “um cúmulo de louvores
imortais... por um feito que a Igreja não esqueceria de assinalar em seus anais”. Entre
os Católicos, Vauban foi um dos poucos a reclamar o retorno ao Edito de Nantes, mas
o Rei recusou.
A Igreja romana enviou 400 missionários para regiões ainda Reformadas, abalando o
Protestantismo com a ofensiva. No fim de 1685, foi comunicado aos intendentes que
não era mais conveniente que restasse um único Huguenote, fugindo ao Edito de
Fontainebleau, que permitia a liberdade de consciência.
Em 1698, a assembléia do clero se agitaram com essas ações, e Luís XIV pediu que
parasse a violência para com os Reformados, respeitando o Edito. Mesmo assim, cerca
de 200.000 Reformados deixaram o reino nessa época. Nisso, segundo Vauban,
migrou para países como a Prússia e o Reino Unido a elite econômica e técnica
francesa, o que foi considerado uma grande catástrofe para o reino. Porém, muitos
mercadores e industriais permaneceram na França, a custo de uma aparente
conversão.
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Finalmente, em 8 de março de 1715, ano de sua morte, Luís XIV anulou a liberdade de
consciência permitida anteriormente pelo Edito de Fontainebleau, deixando essa de
existir por direito. Todos os Reformados que ainda residiam na França foram então
considerados como Católicos.
6. BIBLIOGRAFIA
DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras,
1989.
SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento moderno. São Paulo: Companhia das Letras,
1996.