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ANÁLISE ACERCA DAS NORMATIVAS DO

MOMENTO DE LOUVOR E DE AÇÃO DE GRAÇAS NA CELEBRAÇÃO DA PALAVRA

Venho, por meio deste curto texto, apresentar uma perspectiva histórica das normativas acerca do momento de louvor e de
ação de graças nas celebrações dominicais na ausência de presbítero (celebrações da Palavra), para permitir uma reflexão
acerca de se e como executar este rito nas celebrações. Não se pretende fazer digressões acerca da teologia do rito, mas
somente analisar o histórico e o estado normativo ao qual se encontra; em outras palavras: observar a história da introdução
desses ritos nas normas da Igreja, verificar se a realização deste rito de louvor e de ação de graças constitui uma proibição,
uma faculdade ou um dever e, ao final, de forma rápida, como realiza-se sua execução.

Cumpre ressaltar, de início, aquilo que a Igreja sempre afirmou e reforçou no Concílio Vaticano II em 1963 pela
Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium:
22. Regular a sagrada Liturgia compete ùnicamente à autoridade da Igreja [...] Por isso, ninguém mais,
mesmo que seja sacerdote, ouse, por sua iniciativa, acrescentar, suprimir ou mudar seja o que for em matéria
litúrgica.

28. Nas celebrações litúrgicas, limite-se cada um, ministro ou simples fiel, exercendo o seu ofício, a fazer
tudo e só o que é de sua competência, segundo a natureza do rito e as leis litúrgicas.

E que o Papa Francisco novamente ressaltou em 2022 na sua Carta Apostólica Desiderio Desideravi:
23. Sejamos bem claros aqui: todos os aspectos da celebração devem ser cuidadosamente cuidados (espaço,
tempo, gestos, palavras, objetos, vestimentas, canto, música...) e todas as rubricas devem ser observadas. Tal
atenção bastaria para evitar que se roube da assembleia o que lhe é devido; ou seja, o mistério pascal
celebrado de acordo com o ritual que a Igreja estabelece.

Panorama histórico-normativo da Sé Apostólica

É difícil dizer se, em 1963, ao sugerir a realização de celebrações da Palavra de Deus presididas por diáconos ou leigos nos
domingos e dias de festa onde não houver sacerdote (Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium, n. 35), os padres
conciliares imaginavam o fervilhar de criatividade litúrgica que surgiria e a importância que tais celebrações teriam em
muitas comunidades. O mais provável é que não, especialmente ao julgar pelos documentos exarados pela Congregação
para o Culto Divino nas duas décadas subsequentes, que trataram tal celebração como uma mera liturgia da palavra que
acompanha a distribuição da comunhão e, sendo assim, nem sequer merecia a elaboração de um rito próprio.

Tal postura fica evidente em 1964 pela 1ª Instrução para a correta aplicação da Constituição Conciliar Sacrosanctum
Concilium (Inter Oecumenici), ao prever o encerramento da celebração logo após a oração dos fiéis, adicionando-se apenas
o Pai-Nosso, não havendo sequer menção à comunhão eucarística.
37. [...] As normas desta celebração são as mesmas já preceituadas para a liturgia da palavra da missa [...] O
presidente, se é diácono, faça homilia; se não é diácono, leia a homilia indicada pelo bispo ou pelo pároco;
toda celebração termine com a oração comum ou dos fiéis e com a oração dominical.

Ainda, pelo ritual elaborado em 1973 pela citada Congregação intitulado “Sagrada Comunhão e Culto do Mistério
Eucarístico fora da Missa”, no qual o rito da celebração da Palavra, é previsto somente para acompanhar a distribuição a
comunhão fora na missa de uma forma comunitária com maiores benefícios do que em sua enxuta fórmula.
26. Esta forma [do rito com celebração Palavra de Deus] é para ser utilizada sobretudo quando não há
celebração da Missa, ou quando se distribui a comunhão a horas previamente estabelecidas, de sorte que os
fiéis se alimentem também da mesa da Palavra de Deus. Na verdade, ouvindo a Palavra de Deus reconhecem
que as suas maravilhas, ali anunciadas, atingem a plenitude no mistério pascal, cujo memorial se celebra
sacramentalmente na Missa, e no qual participam pela comunhão. [...]

Por consequência deste caráter auxiliar, neste ritual não há qualquer menção a ritos de louvor e de ação de graças, ocorrendo
uma direta transição entre a liturgia da palavra e os ritos de comunhão, ambos traslados do Missal Romano, veja-se:
30. Terminada a Oração dos Fiéis, o ministro dirige-se ao lugar onde se guarda a Eucaristia, toma o cibório
ou píxide com o Corpo do Senhor, depõe-no sobre o altar e genuflecte. A seguir convida os fiéis à oração
dominical [...]

A mesma postura repete-se em 1984 no Cerimonial do Bispos, segundo o qual, em suas disposições sobre a celebração da
Palavra:
226. Após os ritos iniciais (canto, saudação, oração), fazem-se uma ou mais leituras da Sagrada Escritura,
entremeadas de cantos, salmos ou momentos de silêncio, as quais, por meio de uma homilia, são explicadas e
aplicadas à assembleia dos fiéis. Após a homilia, é conveniente guardar silêncio, para meditar a Palavra de
Deus. Em seguida, a assembleia dos fiéis fará oração num só coração e numa só voz, mediante alguma prece
de tipo litânico ou de outra forma adequada a fomentar a participação. No fim, recitar-se-á sempre a oração
dominical. [...]

Todavia, a Congregação para o Culto Divino não ficou resiliente nesse período. Em razão do pedido de várias conferências
episcopais por orientações para a situação de fato que ocorria - numerosas celebrações da Palavra - e através da experiência
de diversas intervenções feitas por si e por bispos em suas Igrejas particulares, decidiu, através do Diretório para
Celebrações Dominicais na Ausência do Presbítero de 1988, “estabelecer as condições que tornam legítimas tais
celebrações e ainda fornecer algumas indicações para o correto desenvolvimento das mesmas” (n. 7). Tal documento é, até
os dias atuais, referencial a nível de toda a Igreja para tais celebrações, sendo de nosso interesse destacar dois pontos dele.

Em primeiro lugar, a delegação de competência às Conferências Episcopais para, a partir das disposições do Diretório,
determinar suas próprias normas para celebração da Palavra em sua jurisdição, sem mencionar um necessário
reconhecimento ou confirmação da Sé Apostólica, somente informá-la, veja-se:
7. [...] Será da competência das Conferências Episcopais, conforme for sendo oportuno, determinar
posteriormente as próprias normas e adaptá-las à índole dos diversos povos e às várias circunstâncias, e disso
informar a Sé Apostólica.

41. [...] A Conferência Episcopal, ou o próprio bispo, tendo em conta as circunstâncias de lugar e de pessoas,
pode determinar melhor a própria celebração, com subsídios preparados pela comissão nacional ou diocesana
de Liturgia. Todavia este esquema de celebração não se deve modificar sem necessidade.

Tal autoridade das Conferências Episcopais para regular as celebrações será reafirmada posteriormente na Instrução acerca
de algumas Questões sobre a Colaboração dos Fiéis Leigos no Sagrado Ministério dos Sacerdotes (1997), na Exortação
Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis (2007) e na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini (2010),
respectivamente transcritas abaixo:
Art. 7. § 2. Tais celebrações [dominicais na ausência de presbítero], cujos textos deverão ser os aprovados
pela Autoridade eclesiástica competente, configuram-se sempre como soluções temporárias. É proibido
inserir na sua estrutura elementos próprios da liturgia sacrifical, sobretudo a “oração eucarística”, ainda que
em forma narrativa, para não induzir os fiéis ao erro.

75. Entretanto, nos casos em que se torne praticamente impossível, devido à grande distância, a participação
na Eucaristia dominical, é importante que as comunidades cristãs se reúnam igualmente para louvar o Senhor
e fazer memória do dia a Ele dedicado. Mas, isso deverá verificar-se a partir duma conveniente instrução
sobre a diferença entre a Santa Missa e as assembleias dominicais à espera de sacerdote. A solicitude pastoral
da Igreja há de exprimir-se, neste caso, vigiando que a liturgia da palavra — organizada sob a guia dum
diácono ou dum responsável da comunidade a quem foi regularmente confiado este ministério pela
autoridade competente — se realize segundo um ritual específico elaborado pelas Conferências Episcopais e
para tal fim aprovado por elas.

65. Entretanto a celebração da Palavra de Deus é vivamente recomendada nas comunidades onde não é
possível, por causa da escassez de sacerdotes, celebrar o Sacrifício Eucarístico nos dias festivos de preceito.
Tendo em conta as indicações já expressas na Exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis sobre
as assembleias dominicais à espera de sacerdote, recomendo que sejam redigidos pelas competentes
autoridades diretórios rituais, valorizando a experiência das Igrejas Particulares.

Veja-se o que se define acima: as Conferências Episcopais possuem a competência para determinar as próprias normas,
mesmo que diversas do Diretório de 1988 se as circunstâncias requisitarem, devendo apenas obedecer ao esquema geral
de celebração previsto pela Santa Sé. Não havendo disposições das Conferências Episcopais sobre determinados pontos,
caberia então a aplicação subsidiária do citado Diretório, não decisões arbitrárias dos celebrantes.
Ainda, o Diretório de 1988, reconhecendo a importância litúrgica adquirida pela celebração da Palavra não mais como
reunião de pessoas que somente buscam a comunhão fora da missa, mas como verdadeira assembleia litúrgica, traz o
esquema básico de organização dividido em: ritos iniciais, liturgia da palavra, ação de graças, ritos da comunhão e ritos da
conclusão.
35. A ordem a observar na reunião do dia dominical, quando não há Missa, consta de duas partes, a saber, a
celebração da palavra de Deus e a distribuição da comunhão. Na celebração não deve ser inserido o que é
próprio da Missa, sobretudo a apresentação dos dons e a oração eucarística. O rito da celebração deve ser
organizado de tal modo que favoreça totalmente a oração e dê a imagem duma assembléia litúrgica e não
duma simples reunião.

41. O esquema da celebração compõe-se dos seguintes elementos: a) Os ritos iniciais, cuja finalidade é
conseguir que os fiéis, quando se reúnem, constituam a comunidade e se disponham dignamente para a
celebração; b) a liturgia da palavra, na qual o próprio Deus fala ao seu povo, para lhe manifestar o mistério
da redenção e da salvação; o povo responde mediante a profissão de fé e a oração universal; c) a ação de
graças, com a qual se bendiz a Deus pela sua imensa glória (cf. n. 45); d) os ritos da comunhão, pelos quais
se exprime e realiza a comunhão com Cristo e com os irmãos, sobretudo com aqueles que, no mesmo dia,
participam do sacrifício eucarístico; e) os ritos da conclusão, através dos quais se indica a relação que existe
entre a liturgia e a vida cristã. [...]

Superando a visão acessória da celebração da Palavra contida no ritual “Sagrada Comunhão e Culto do Mistério Eucarístico
fora da Missa”, a Congregação para o Culto Divino normativa aquilo que já vinha brotando nas comunidades por todo
mundo: o desejo de, vitalizados pela Palavra, render graças e bendizer a Deus em resposta ao seu grande amor. O
documento nesse momento inicial, não visando sufocar o florescer litúrgico, mas orientá-lo, dispôs que a ação de graças
pode ser feita após a comunhão ou entre as preces dos fiéis e o Pai-Nosso, com ou sem o cibório com a Eucaristia sobre o
altar, tomando o cuidado para que não assuma formas similares às da oração eucarística.
45. A ação de graças faz-se de um dos modos aqui indicados: a) depois da oração universal ou depois da
distribuição da comunhão, o moderador convida à ação de graças pela qual os fiéis exaltam a glória de Deus
e a sua misericórdia. Isto pode fazer-se com um salmo (v. g. Salmos 99, 112, 117, 135, 147, 150), ou com um
hino ou um cântico (v. g. "Glória a Deus nas alturas", "Magnificat"...), ou também com uma prece litânica,
que o moderador, de pé com os fiéis, voltado para o altar, diz juntamente com todos eles; b) antes da oração
do Pai-Nosso, o moderador aproxima-se do sacrário ou do lugar onde se encontra a Eucaristia e, feita a
genuflexão, depõe a píxide com a sagrada Eucaristia sobre o altar; depois, ajoelhado diante do altar,
juntamente com os fiéis, canta o hino, o salmo ou a prece litânica, que, neste caso, é dirigida a Cristo
presente na santíssima Eucaristia. No entanto, esta ação de graças não deve ter, de modo nenhum, a forma
duma oração eucarística. Não se utilizem os textos do prefácio e da oração eucarística propostos no Missal
Romano, e evite-se todo o perigo de confusão.

De certo que, para dirimir quaisquer conflitos que pudessem surgir ao comparar tal diretório com o Ritual de 1973, foi
disposto que aquelas diretrizes anteriores deveriam ser aplicadas ao rito da comunhão, não necessariamente à toda a
celebração da Palavra, in verbis:
46. Para o ordenamento do rito da comunhão, observe-se quando se diz no Ritual Romano da Sagrada
Comunhão fora da Missa.

Por fim, o ordenamento dos ritos de comunhão previsto nos nn. 30-38 do Ritual citado é: Pai-Nosso, convite à saudação da
paz (facultativamente), convite à comunhão, distribuição da Sagrada Comunhão, recolhimento do cibório com hóstias (caso
sobre), ação de graças em silêncio ou com salmo ou canto de louvor e, ao final, a oração.

Panorama histórico-normativo da CNBB

No Brasil, desde 1985 a CNBB já colocava em seus hinários litúrgicos cantos para o momento de louvor e de ação de
graças, em destaque as dezenas de variações do “É bom cantar um bendito” de Reginaldo Veloso. Com o advento deste
documento da Congregação para o Culto Divino, nossa Conferência Episcopal não exitou em, no ano de 1989, citá-lo em
seu Documento 43 (Animação e Vida Litúrgica no Brasil) para descrever, pela primeira vez com destaque em documento
aprovado pela sua Assembleia Geral, a práxis já ocorrente do rito de louvor e de ação de graças, mantendo, neste primeiro
momento, a flexibilidade trazida pelo Diretório de 1988 acerca de como realizá-lo.
101. Assim presidida, a celebração se desenvolve num ritmo, que exprime bem o diálogo entre Deus e a
assembleia: [...] a ação de graças é um ponto alto, porque a grande resposta ao Deus que se faz Salvador é o
homem e a mulher agradecendo. Por ela se louva e bendiz a Deus por seu grande amor. Um hino, um canto,
uma oração litânica podem exprimi-la após a oração dos fiéis, da comunhão ou no final da celebração.

Cinco anos depois, em 1994 a CNBB aprova o Documento 52 denominado “Orientações para a Celebração da Palavra de
Deus”. Nele, ressalta-se a fundamentalidade do rito de louvor, repetindo a nível nacional as prévias recomendações da
Congregação para o Culto Divino, quais sejam: múltiplas possibilidades de momentos para realização, que pode se dar
através de salmos, hinos, cânticos, orações litânicas ou benditos, com ou sem o Pão Eucarístico sobre o altar, sem nunca
assemelhar-se a uma liturgia eucarística ou realizar-se uma adoração ao Santíssimo Sacramento.
83. Um dos elementos fundamentais da celebração comunitária é o “rito de louvor”, com a qual se bendiz a
Deus pela sua imensa glória. A comunidade reconhece a ação salvadora de Deus, realizada por Jesus Cristo e
canta seus louvores. “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda a
sorte de bênçãos”. “Ele nos arrancou do poder das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado,
no qual temos a redenção – a remissão dos pecados”.

84. A comunidade sempre tem muitos motivos para agradecer ao Senhor, seja pela vida nova que brota da
Ressurreição de Jesus, como pelos sinais de vida percebidos durante a semana na vida familiar, comunitária e
social.

85. O momento da ação de graças ou de louvor pode realizar-se através de salmos, hinos, cânticos, orações
litânicas ou ainda benditos e outras expressões orantes inspiradas na piedade popular. Isso pode ser após a
oração dos fiéis, a distribuição da comunhão ou, ainda, no final da celebração.

86. O momento de louvor não deve ter, de modo algum, a forma de celebração eucarística. Não faz parte da
celebração comunitária da Palavra a apresentação das ofertas de pão e de vinho, a proclamação da oração
eucarística própria da missa, o canto do Cordeiro de Deus e a bênção própria dos ministros ordenados.
Também nas celebrações da Palavra não se deve substituir o louvor e a ação de graças pela adoração ao
Santíssimo Sacramento.

89. Nas comunidades onde se distribui a comunhão durante a celebração da Palavra, o Pão Eucarístico pode
ser colocado sobre o altar antes do momento da ação de graças e do louvor, como sinal da vinda do Cristo,
pão vivo que desceu do céu.

Ressalto que as diversas aberturas que o Documento 52 traz para o rito de louvor e de ação de graças demonstram o seu
caráter experimental para formulação de um ritual da celebração dominical na ausência do presbítero. Assim, para permitir
“testar” aquilo que o documento expõe, no mesmo ano de 1994 a CNBB lança seu Subsídio 03 “Celebração da Palavra de
Deus”, com roteiros e orações para tais celebrações. Ele consolida os cânticos que o Hinário da CNBB já vinha trazendo
desde os anos 80 e traz opções mais elaboradas de orações dialogadas entre aquele que preside a celebração da Palavra e o
restante da assembleia.

As duas décadas seguintes foram de grande aprendizado a partir da prática daquilo que facultava o Documento 52, sendo
que certas ações produziram bons frutos e enriqueceram tais liturgias e outras retiraram o sentido da celebração da Palavra e
a tornaram o que não deveria ser. Assim, em 2012, após anos de publicação de folhetos litúrgicos para celebrações
dominicais na ausência do presbítero, a Paulus lança, com respaldo da Comissão para a Liturgia da CNBB, os três volumes
da coleção “Celebrando o Dia do Senhor”. Não entrarei muito em seu conteúdo, e ressalto que se trata de um texto de uma
editora católica, não da CNBB, mas aqui nos interessa a elaboração de sua instrução inicial após estes anos de prática. Ela
mantém a fundamentalidade do rito de louvor e de ação de graças, mas sugere um leque reduzido de possibilidades em
comparação às previstas no então referencial Documento 52, veja-se:
O momento de louvor e ação de graças pode também ser realizado com a distribuição do Pão já consagrado
(comunhão eucarística), como é costume em muitas comunidades. Nesse caso, após as preces, faz-se a coleta
fraterna, seguida da louvação ou ação de graças. Logo após, o Pão consagrado é colocado sobre o altar e
passa-se aos ritos da comunhão: Pai-Nosso, abraço da paz (que também pode ser realizado em outro
momento da celebração), convite à comunhão, a distribuição do Pão consagrado, silêncio, oração. (p. 13)

De uma rápida leitura, verifica-se que a editora defende que o rito de louvor passe a possuir um momento definido, após as
preces e antes do Pai-Nosso, e seja feito sem o Pão Eucarístico sobre o altar. Ademais, traz como opções de louvor mais
variações do já conhecido “É bom cantar um bendito” e inova trazendo os cânticos de Efésios, Colossenses, Zacarias e
Maria, todos com forte caráter de bendição.
A maioria das instruções previstas neste subsídio da Paulus acerca do rito de louvor e de ação de graças, apesar de não
possuírem conteúdo normativo, foram replicadas quando, em 2019, a CNBB lançou o Documento 108 “Ministério e
Celebração da Palavra”, em sucessão ao quase “experimental” Documento 52. Além de reafirmar a importância do rito de
louvor e ação de graças na celebração da Palavra e sua distinção da liturgia eucarística da missa, tendo-o incluído em todos
os roteiros anexos ao texto, ele incorpora como normativas muitas das restrições sugeridas pela Paulus em seus roteiros e
delimita mais claramente certos momentos.
82. Um dos elementos importantes da Celebração Dominical da Palavra de Deus é o “rito de louvor e ação
de graças”, com o qual se bendiz a Deus pela sua imensa glória. A comunidade reconhece a ação salvadora
de Deus, realizada por Jesus Cristo e canta seus louvores. “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, que nos abençoou com toda a sorte de bênçãos”. “Ele nos arrancou do poder das trevas e nos
transportou para o Reino do seu Filho amado, no qual temos a redenção – a remissão dos pecados” (Doc. 52,
n. 83).

84. O momento do louvor e da ação de graças pode realizar-se através de salmos, hinos, cânticos, orações em
forma de ladainha, louvações e outras expressões orantes inspiradas na piedade popular, ou ainda, orações
preparadas pela equipe de liturgia, de acordo com o mistério celebrado. Entretanto, esse momento não deve
ter, de modo algum, a forma da Oração Eucarística (Doc. 52, n 86).

85. Quem dirige, convida a assembleia ao louvor e à ação de graças com estas ou outras palavras
semelhantes: “Proclamemos a bondade de Deus e exaltemos a sua misericórdia, manifestada nas palavras de
salvação que escutamos”.

90. Sendo distribuída a Comunhão na Celebração da Palavra, após o louvor e a ação de graças, o Santíssimo
Sacramento é colocado sobre o altar e passa-se aos ritos da Comunhão: Pai-Nosso, saudação da paz (que
também pode ser realizada em outro momento da celebração, ou omitida), convite à Comunhão, distribuição
da Comunhão Eucarística, silêncio, oração.

92. Quem dirige, convida à oração do Pai-Nosso, que nunca deverá faltar na Celebração da Palavra, pois a
Oração do Senhor prolonga o louvor e prepara para a Comunhão Eucarística. [...]

93. Este não é o momento para adoração eucarística (Doc. 52, n. 86), pois ela não faz parte da Celebração
Dominical da Palavra de Deus. A adoração eucarística, prevista e orientada pelo magistério da Igreja,
realiza-se em outros momentos.

É importante destacar que com a redação do supracitado n. 90, o Documento deixa claro que o rito de louvor e ação de
graças é realizado imediatamente antes dos ritos de comunhão, de modo que este rito passa a ter um lugar fixo na
celebração, ao contrário da anterior previsão de flexibilidade.

Ademais, o Documento confirmou o repertório anteriormente elaborado nos Hinários Litúrgicos da CNBB:
86. [...] Os Hinários da CNBB oferecem uma variedade de louvações que podem ser utilizadas nesse
momento da Celebração da Palavra.

Ainda, cumpre ressaltar que após a Liturgia da Palavra e antes do rito de louvor e ação de graças, não ocorre a apresentação
do pão e vinho, eis que, como não há a Liturgia Eucarística, não há pão e vinho para serem apresentados. Contudo, é
comum e permitido que, terminadas as preces, a comunidade realize a coleta de doações para a manutenção da comunidade
e auxílio aos necessitados, sendo mais apropriados cantos de partilha, não de apresentação de dons, de pão ou de vinho.
81. Após a oração dos fiéis, pode-se fazer uma coleta como expressão de agradecimento a Deus pelos dons
recebidos, bem como de corresponsabilidade pela manutenção da comunidade e de seus servidores e como
gesto de partilha com os irmãos necessitados (Doc. 52, n. 82). Neste momento, são mais oportunos cantos de
partilha, e não de apresentação das oferendas, em consonância com a ação ritual.

Voltando ao subsídio da Paulus, o único ponto em que ele não está de acordo com o Documento 108 da CNBB, visto ter
sido elaborado em momento anterior, é justamente a colocação do cibório com o Pão consagrado sobre o altar, durante a
qual a Paulus sugere que se cante “O pão da vida, a comunhão…”, enquanto a CNBB determina que se faça com todos de
pé, em silêncio, fazendo-se apenas uma simples genuflexão.
91. Estando todos de pé, em silêncio, estende-se o corporal sobre o altar, um Ministro Extraordinário da
Comunhão, pelo trajeto mais curto, traz a âmbula com o Santíssimo Sacramento e, de maneira discreta e
respeitosa, coloca-a sobre o altar, e faz uma genuflexão.
Ressalta-se que, pela competência conferida pela Santa Sé e já explicada anteriormente, deve-se seguir as normas do Doc.
108 da CNBB para a celebração da Palavra (eis que ele segue a estrutura básica prevista no Diretório da Santa Sé),
utilizando-se, em caso de omissão, o Doc. 52 da CNBB e, em seguida, as demais normativas do Diretório da Santa Sé,
desde de que estes outros documentos não entrem em conflito com as normativas do Doc. 108.

Seguindo tais premissas, não havendo publicação de novas normativas após 2019, em síntese, o Documento 108 da CNBB
e, subsidiariamente, o Documento 52 da CNBB e o Diretório da Santa Sé, orientam que em toda a celebração da Palavra,
sempre que possível, se realize o rito de louvor e de ação de graças, o qual ocorre da seguinte forma prescrita:

Após as preces da assembleia e, se houver, a coleta fraterna (durante o qual canta-se um canto de partilha), com todos de
pé e sem o Pão Eucarístico sobre o altar, a assembleia louva e bendize a Deus através de salmos, hinos, cânticos, orações
em forma de ladainha, louvações e outras expressões orantes (ressalta-se que devem ter caráter de bendição),
evitando-se qualquer semelhança com a liturgia eucarística. Somente após a realização do louvor e ação de graças,
estende-se o corporal sobre o altar e um Ministro Extraordinário da Comunhão, de forma discreta e respeitosa, coloca
sobre ele a âmbula com as partículas consagradas em silêncio, faz-se uma rápida genuflexão, sem realização de
qualquer adoração ou piedade eucarística, e prossegue-se diretamente com o convite ao Pai-Nosso e demais ritos de
comunhão, para os quais a CNBB indicou a mesma ordem de textos prevista no Ritual “Sagrada Comunhão e Culto do
Mistério Eucarístico fora da Missa”, qual seja: Pai-Nosso, saudação da paz (que também pode ser realizada em outro
momento da celebração, ou omitida), convite à Comunhão, distribuição da Comunhão Eucarística, silêncio, oração.

Conclusões

Após o exposto, voltemos à pergunta inicial: a realização deste rito constitui uma proibição, uma faculdade ou um dever?

De uma análise do Diretório de 1988, conclui-se com clareza que a Congregação para o Culto Divino não restringiu a
Celebração da Palavra ao disposto no ritual “Sagrada Comunhão e Culto do Mistério Eucarístico fora da Missa”, que não
prevê o rito de louvor e de ação de graças, mormente pois forneceu indicações para o correto desenvolvimento destas
celebrações, entre as quais se encontra a execução do rito de louvor e de ação de graças. Assim, dessume-se que tal rito
certamente não é proibido pela Santa Sé nas celebrações da Palavra.

Ademais, conforme confirmado por documentos posteriores, este Diretório delegou às Conferências Episcopais o múnus de
elaborar rituais para tais celebrações. No Brasil, tomando em conta o vigente Documento 108 da CNBB, o rito de louvor e
de ação de graças constitui elemento fundamental da celebração da Palavra, desde que realizado conforme as orientações do
documento supracitado e sintetizadas na página anterior, tendo sido incluído em todos os roteiros de celebração anexos ao
documento. Tal perspectiva pode, à primeira vista, levar à conclusão que tal rito seria então obrigatório na celebração da
Palavra. Não cheguemos a radicalismos aqui.

De certo que a realização do louvor e ação de graças é mais do que uma mera faculdade do presidente da celebração,
constituindo uma firme orientação que a Congregação para o Culto Divino e a CNBB emanam há mais de três décadas.
Todavia, a ausência de inclusão deste rito em rituais que tratam a Celebração da Palavra, como na edição do “Sagrada
Comunhão e Culto do Mistério Eucarístico fora da Missa” publicada no Brasil já após o seu Doc. 52, demonstra que, apesar
de muito importante e frutuosa, a sua realização não constitui um elemento sem o qual esta celebração não poderia ocorrer.

Assim, conclui-se que, via de regra, o rito de louvor e de ação de graças deve ser realizado, e o ser conforme as
orientações anteriormente sintetizadas. Contudo, o presidente, quando fundado em motivos pastorais válidos para tal
(como um exíguo tempo para a celebração), e jamais de forma arbitrária, pode deixar de realizá-lo, pois, apesar de sua
importância, não constitui elemento sem o qual a celebração dominical na ausência de presbítero não possa ocorrer.

Espero que, apesar de enxutas, tais palavras possam melhor clarear o caminho a ser tomado acerca da organização das
celebrações da Palavra, sem extremismos do tipo “é proibido/é obrigatório”, mas com firme fundamento nas normativas de
nossa Igreja para sua realização.

Cordialmente,
Luiz Antônio de Aquino.

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