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05/12/2023, 08:34 A Doutrina do Inferno na Teologia Católica: Origem, Desenvolvimento e Influência no Protestantismo | Adventismo em Foco

Adventismo em Foco
14 ANOS ONLINE: A Mensagem da
Igreja Verdadeira

A Doutrina do Inferno na Teologia Católica: Origem, Desenvolvimento e Influência


no Protestantismo
Publicado em fevereiro 9, 2012 por IASD

RESUMO

Este trabalho analisa o desenvolvimento da doutrina do inferno no cristianismo, com ênfase na Igreja Católica,
com o objetivo final de compreender o pensamento atual sobre esta doutrina.

A compreensão do assunto ajudará na abordagem que o Adventista deverá usar no estudo deste tema com um
outro cristão que não crê, como os Adventistas, que não existirá eternamente um lago de fogo a consumir os seres
humanos que não buscaram a salvação em Cristo.

Ao longo do trabalho verificar-se-á como a doutrina do inferno foi utilizada para incutir medo nos fiéis, desde os
primórdios da Igreja Católica, numa tentativa de manter o povo sob um regime de pavor e desespero quanto ao
pensamento de poder ser condenado à pena eterna do fogo, caso discordasse ou rejeitasse os ensinamentos da
Igreja de Roma.

O estudo também abordará a penetração do ensinamento católico sobre o inferno dentro da Igreja Protestante, o
que faz desta doutrina um dos pontos comuns mais defendidos e aceitos pela cristandade em todo o mundo.

INTRODUÇÃO

Uma das doutrinas mais comuns entre os cristãos, tanto católicos quanto protestantes, é a da existência de um
inferno de fogo que consumirá eternamente aqueles que desprezaram a graça de Deus, concedida gratuitamente
ao pecador arrependido. Mas de onde surgiu esta idéia? Como a doutrina do inferno se introduziu na Igreja
Cristã? Como a doutrina se desenvolveu nos anos obscuros da teologia da Idade Média? A resposta a estas
perguntas pode trazer mais luz sobre o porquê de o inferno ser um tema tão comum e gozar de tão ampla
aceitação dentro do cristianismo.

Justificativa

O tema foi escolhido devido à necessidade de se conhecer melhor esta que é uma doutrina tão comum no meio
cristão – a de que os ímpios passarão a eternidade no fogo do inferno. Compreendendo como ela surgiu no
cristianismo, seu desenvolvimento e como foi utilizada pela Igreja Católica, que dominou o pensamento cristão

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por longo tempo, o estudante da Bíblia, especialmente o instrutor bíblico, poderá entender como a concepção do
inferno está enraizada na mente do cristão do século XXI.

Objetivos

Conhecer o surgimento, desenvolvimento e fundamentação teológica da doutrina do inferno, em particular dentro


da Igreja Católica. Também será apresentada uma breve contra-argumentação ao pensamento Católico acerca
da existência literal do inferno de fogo eterno.

Metodologia

O procedimento metodológico utilizado no presente trabalho foi uma breve pesquisa bibliográfica nas obras
disponíveis no acervo da biblioteca do SALTIAENE, bem como em material disponível na Internet.

Estruturação do Estudo

O trabalho está estruturado em 4 capítulos, a saber: o primeiro trata dos antecedentes históricos que podem ter
dado origem ao pensamento cristão sobre o inferno, especialmente na concepção grega e judaica; o segundo
capítulo aborda a doutrina do inferno dentro do Catolicismo; o terceiro capítulo explanará a presença desta
doutrina no Protestantismo; e o quarto capítulo mostrará uma breve análise sobre o que a Bíblia realmente ensina
sobre o inferno, numa tentativa de contraargumentar o pensamento Católico e Protestante sobre o tema. Ao final
serão apresentadas as conclusões do trabalho.

CAPÍTULO I

ANTECEDENTES HISTÓRICO-FILOSÓFICOS

Antes de iniciar o estudo sobre a doutrina do inferno dentro do catolicismo propriamente dito, faz-se necessária
uma rápida descrição dos antecedentes históricos que formaram o pano de fundo para o pensamento católico
sobre o inferno.

Gregos

Na mitologia grega havia uma divindade que era a responsável pelo mundo subterrâneo, considerado o destino
final dos mortos. Seu nome era Hades.1 Um outro nome para Hades era Plutão, simbolizando que ele também era
o dono de todas as riquezas que existem sobre a terra.2 Embora Hades apareça poucas vezes nas lendas gregas,
ele é bastante mencionado, citando-se como algumas de suas principais participações “o rapto de Perséfone, o 12º
trabalho de Héracles, e o de Orfeus e Eurídice”.3

Primariamente, o reino de Hades era localizado no extremo ocidente, além do “rio Oceano” (segundo a Ilíada, de
Homero). Posteriormente é que ele foi situado abaixo da superfície terrestre, passando a inspirar alguns séculos
depois o pensamento cristão ocidental e asiático acerca do inferno.4

Segundo a mitologia grega, a trajetória de um defunto após ser sepultado era descrita como segue:

Quando alguém morria, era levado pelo deus Hermes até o Hades, onde bebia a água do Rio Lete, que trazia o
esquecimento da vida terrena, e atravessava o rio Estige em uma barca, conduzida pelo severo Caronte. Como
pagamento, o barqueiro recebia um óbolo, a moeda de menor valor, que os parentes colocavam na boca do
falecido. O morto atravessava então os portões monumentais, eternamente guardados por Cérbero, cão de três
cabeças e cauda de serpente. O feroz guardião permitia a entrada de todos, porém não deixava ninguém sair.

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Finalmente, diante de Hades e Perséfone, o defunto enfrentava a sentença dos severos e justíssimos juízes dos
mortos – Minos, Radamante e Éaco. Segundo seus méritos, era conduzido aos aprazíveis Campos Elíseos ou aos
tormentos eternos.5

Percebe-se, então, que a mitologia grega fazia uso constante da figura do Hades, posteriormente, introduzido e
desenvolvido na teologia católica e cristã como um todo, como se verá adiante.

Judeus

Inicialmente, a teologia hebraica, no Pentateuco, não contemplava nenhum tipo de vida posterior, nem felicidade
para os bons, nenhum tormento para os maus. Nos Salmos e Profetas, no entanto, aparece a esperança de
imortalidade no pensamento hebraico. Mas são nos livros pseudepígrafos e apócrifos que esta esperança
desenvolveu-se de forma mais acentuada.6 Segundo Champlin, no Antigo Testamento, o pensamento hebreu
assemelha-se, em alguns pontos, ao grego quando refere-se ao estado da morte:

[…]Originalmente, não era um lugar onde habitavam seres conscientes, sofrendo tormentos. As almas eram
concebidas muito mais em termos da moderna noção dos fantasmas, [eram] entidades destituídas de
mentalidade, que ficariam a flutuar ao léu, mas sem qualquer identidade ou existência real. Gradualmente,
porém, às almas do hades foi sendo atribuída a qualidade da consciência e, juntamente com isso, as idéias de
recompensas para almas boas e de castigo para as más.7

Entre os hebreus, o local equivalente ao hades grego chamava-se sheol, 8 que por sua vez possuía dois
compartimentos: um para os bons e outro para maus; o inferno seria, então, o compartimento dos maus.9

A teologia hebraica também apresentou ensinamentos sobre um suposto lugar de destino além da morte. Bruce
declara que “do séc. II a.C. em diante, a idéia do Éden como um lugar de bênção, e do Gehinom, como um lugar de
castigo intenso para os maus, fixou-se na imaginação popular”.10 Para os fariseus, o fogo de Gehinom não é
sempre puramente penal, no caso dos ímpios; Shamai, por exemplo, dizia que aqueles que tinham méritos e
deméritos em equilíbrio, tinham de purgar seus pecados nas chamas do Gehinom, para só depois entrar no
paraíso.11 Esta é uma concepção defendida por alguns judeus da atualidade, como se vê na seguinte citação:

O Gehinom, traduzido como Inferno ou Purgatório, é um dos estágios de purificação e expiação para as almas que,
ao se despedirem deste mundo, não estão aptas a adentrar o Paraíso. O judaísmo, à luz da Chassidut, não
considera o castigo como um objetivo por si. É apenas um meio para purificar a alma, preparando-a para um nível
superior.12

Os israelitas, de modo geral, preocupavam-se mais com o tempo presente, e estarem preparados e aptos para
entrarem no mundo vindouro. Sua concepção acerca do inferno e destino dos condenados, após a morte, não
influenciou a concepção católica, tanto quanto aconteceu com a mitologia grega e pagã.13

CAPÍTULO II

A DOUTRINA DENTRO DO CATOLICISMO

Definição de “Inferno”

Segundo o Catecismo, o inferno é o “estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-
aventurados”.14 O inferno também pode ser definido como o “distanciamento eterno de Deus”.15 O “inferno” é
também considerado por alguns como sendo uma tradução do termo grego “hades”,16 que designava a morada
dos mortos, como visto anteriormente.

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Hodge assinala que, para os romanistas, o inferno é definido como sendo “o lugar ou estado no qual os anjos
apóstatas, e os homens que morrem em um estado de pecado mortal, ou, como também se expressa, da
impenitência final, sofrem para sempre o castigo de seus pecados.17

Quem é Enviado ao Inferno?

Na seção anterior, foi exposta a definição clássica católica sobre o inferno, que é o local ou estado para onde vão as
almas dos que morrem com pecados mortais. Segundo o Catecismo, “o ensinamento da Igreja afirma a existência
e a eternidade do inferno. As almas dos que morrem em estado de pecado mortal descem imediatamente após a
morte aos infernos, onde sofrem as penas do Inferno, o fogo eterno”.18 O Catecismo continua declarando que não
há predestinação da parte de Deus para que ninguém vá para o Inferno. É necessário, por parte do pecador,
uma “aversão voluntária a Deus (um pecado mortal) e persistir nela até o fim”.19

Tendo em vista que a Igreja Católica crê na existência do inferno como sendo o destino para aqueles que cometem
pecado mortal,20 serão descritos a seguir estes tais pecados.

Pecados Mortais

O catolicismo faz uma diferença entre aqueles pecados que são punidos com a morte eterna no fogo do inferno, os
“mortais”, e aqueles que são penalizados de forma mais “branda”, podendo livrar o transgressor do lago de fogo.
Para os católicos, conforme a gravidade, os pecados recebem distinção de penas diferentes, inclusive na Bíblia
(1Jo 5:16-17).21

Os pecados chamados “mortais” são os que destroem a caridade no coração do homem por uma infração grave da
lei de Deus. Este pecado “desvia o homem de
Deus”.22 Já o pecado classificado como “venial”, deixa subsistir ainda a caridade, embora esta seja ofendida e
ferida.23

O pecado mortal exige no pecador uma nova iniciativa da misericórdia de Deus e uma conversão do coração, “que
se realiza no sacramento da Reconciliação”. Para Tomaz de Aquino, por exemplo, devem ser classificados como
“mortais” os
pecados de blasfêmia, perjúrio, homicídio, adultério, etc.24 Esta classificação é feita, basicamente, sob três
condições, que devem ocorrer simultaneamente, para que o pecado seja classificado como “mortal”, e leve o
pecador à condenação eterna do inferno. São elas:25

1. Ter como objeto uma matéria grave;26


2. É cometido com plena consciência;
3. É cometido deliberadamente.

Por acarretar a perda da caridade, e conseqüente privação do estado de graça, o pecador que comete tal pecado
estará condenado ao inferno eterno, caso não seja recuperado o estado de graça mediante o arrependimento e o
perdão de Deus.27 O pecado venial deliberado, e que fica sem arrependimento, dispõe progressivamente
o pecador a cometer um pecado mortal, por isso, no pensamento de Agostinho, os fiéis não devem acumular
pecados “leves”, para que, juntos, não se tornem em grande peso.28

Origem da Doutrina na Igreja Católica

Desde os escritos dos Pais da Igreja encontram-se descrições acerca do inferno.29 Para Orígenes, por exemplo,
“as torturas aí sofridas [são definidas] como sendo provocadas pela própria consciência do pecador”.30 Outros

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Pais também fizeram menção à existência do inferno através de suas obras: Inácio,
Justino,31 Athenágoras, Irineu, Tertuliano.32

O Credo de Atanásio já declarava que “os maus serão julgados para toda a eternidade”,33 ou seja, todos os que
praticaram o mau conscientemente cairão no fogo eterno. Em 543 AD. encontra-se a declaração concebida na
reunião de Constantinopla, para combater o ensino dos misericordes, e ratificada pelo papa Virgílio:

Se alguém afirmar ou crer que o sofrimento e o castigo dos demônios e dos ímpios estão limitados no tempo e que
algum dia terão fim e que haverá também reconciliação universal com os demônios e com os ímpios, que este seja
condenado.34

O IV Concílio de Latrão (1215) também expressa a crença da punição eterna, 35 bem como o I Concílio de Lião
(1245), ao afirmar que “quem morre sem penitência em estado de pecado mortal sem dúvida será torturado
eternamente nas brasas do inferno eterno”.36 Declarações semelhantes a estas são encontradas no II Concílio de
Lião, no Concílio de Florença, na carta do papa Inocêncio IV ao bispo de Túsculum (escrita em 06/03/1254), no
Credo do imperador bizantino Miguel VIII e na Constituição “Benedictus Deus” do papa Bento XII (1334-
1342).37 As diferentes formas de torturas infernais já são descritas no Catecismo editado após o Concílio
de Trento (divulgado em 1566). 38

Até o Catecismo editado em Roma no ano de 1930, o tema do inferno como local de fogo real ainda não era
considerado um “dogma” pela Igreja Católica, como pode ser visto na declaração a seguir: “É teologicamente
certo, apesar de não ser “de fide”, isto é , apesar de não ser dogma, que o fogo com que os condenados do
inferno são torturados seja fogo real ou corporal, não apenas fogo no sentido figurado”.39

Como se vê, aos poucos a doutrina do inferno foi sendo aprofundada e tomando forma de aceitação universal
entre a cristandade.40 É clara a intenção dos teólogos de concretizar na mente das pessoas a idéia de um inferno
literal, como destino para aqueles que morressem desligados da salvação. Segundo Johnson,

Os escritores pastorais eram muito mais específicos a respeito do Inferno que do Céu; escreviam como se tivessem
estado lá. Os três grandes doutrinadores medievais – Agostinho, Pedro Lombardo e Aquino – insistiam em que as
penas infernais eram tanto físicas quanto mentais e espirituais, e fogo de verdade tomava parte dos tormentos.41

Vê-se, então, que a doutrina do inferno desenvolveu-se paulatinamente, desde o início do catolicismo romano, e
foi cada vez ganhando mais força e adeptos ao longo da Idade Média, chegando até os dias atuais.42

Descrições do Inferno

Após verificar que a doutrina do inferno começou a ser alicerçada desde os primórdios da Igreja Cristã,
demonstrar-se-á nesta seção as descrições utilizadas pelos defensores da doutrina, para tentar “clarificar” na
mente dos fiéis os tormentos que os aguardariam, caso fossem destinados ao tormento eterno no fogo do inferno.
Tais declarações relativas aos horríveis tormentos pelos quais haveriam de passar os condenados ao inferno
demonstram a clara intenção de fazer desta doutrina uma arma para a manutenção da ordem e obediência na
sociedade.43 Temia-se que se esta doutrina viesse a ser esquecida ou amenizada, o que ocorreu em séculos
posteriores (ao menos parcialmente), seria mais difícil controlar os níveis de moralidade e decência.44

Segundo o pensamento geral, o inferno era a concretização de toda e qualquer dor e sofrimento que a imaginação
humana pudesse conceber.45 Jerônimo, por exemplo, comparava o inferno com uma “imensa prensa de
lagar”.46 Agostinho dizia que o inferno era habitado por animais ferozes e comedores de carne, que faziam em
pedaços os humanos, de forma lenta e dolorosa.47 O tormento de passar a eternidade sob tão terríveis torturas

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desenvolveu-se cada vez mais ao longo da Idade Média, chegando até os séculos seguintes. O francês Jacques
Bridaine (1701-1767), por exemplo, pregava que a eternidade do inferno poderia ser imaginada da
seguinte maneira: “Quando os condenados indagavam as horas, uma voz respondia: ‘eternidade’. Não havia
relógios no inferno, nada além de um tique-taque interminável”.48

Na Igreja Católica, em 1732, com Afonso de Ligório, surge a Ordem dos Redentoristas, que eram especialistas em
sermões sobre o fogo do inferno, e até
mesmo se ofereciam para retiros e missões quaresmais em paróquias católicas comuns.49 Em seu livro As
Verdades Eternas, Ligório dá uma descrição assustadora de como seria este destino certo para os pecadores
impenitentes:

O miserável infeliz ficará cercado de fogo como lenha em uma fornalha. Encontrará um abismo de fogo abaixo,
um abismo acima e um abismo de cada lado. Se tocar algo, se vir ou respirar, tocará, verá e respirará apenas
fogo. Estará no fogo como um peixe na água. Tal fogo não somente cercará o condenado, mas penetrará em seus
intestinos para atormentá-lo. Seu corpo será todo incendiado, de modo que os intestinos dentro dele vão arder,
seu coração arderá em seu peito, seu cérebro em sua cabeça, seu sangue em suas veias, até o tutano em seus ossos;
todo enjeitado por Deus tornar-se-á, ele mesmo, uma fornalha em chamas.50

Em 1807, os redentoristas reimprimem a obra de Pinamonti, O Inferno Aberto aos Cristãos, acrescentando
algumas horrendas gravuras xilografadas. O reverendo Joseph Furniss (também da Ordem) preparou também
uma série de livros infantis, com o inferno ocupando posição de destaque.51

O sofrimento pelo qual passariam eternamente os condenados ao inferno era até mesmo visto como “um dos
prazeres do Céu”, para aqueles que alcançassem o paraíso.52 Essa idéia, defendida por Aquino, foi se
desenvolvendo enormemente ao longo do tempo, e chegou a ser um dos pontos comuns entre a teologia católica
e calvinista.53 Os pregadores escoceses asseguravam que aqueles que fossem enviados para os sofrimentos
intermináveis do inferno realmente lá deveriam estar, pois assim se manifestava verdadeiramente a justiça de
Deus. Thomas Boston declarou:

Deus não Se apiedará deles [os condenados do inferno], mas rirá de sua calamidade. O grupo de justos no Céu irá
todo se regozijar com a execução do julgamento de Deus, e cantará enquanto o estrangulamento instaurar-se
para sempre.54

Willian King (1702), também defendia esta idéia, como se vê:

A bondade e a felicidade dos abençoados [no Céu] será confirmada e aprofundada por reflexões surgindo
naturalmente dessa visão da desgraça sofrida por alguns, o que parece ser um bom motivo para a criação desses
seres que enfrentarão o tormento final, bem como para o prosseguimento de sua existência miserável.55

A Enciclopédia Católica declara que dentre as características do inferno encontra-se a existência de “graus” de
sofrimento, aumentados de acordo com o “demérito” cometido pelo condenado.56 Apesar de alguns escritores do
passado terem advogado o pensamento de que existem “momentos passageiros de descanso” no inferno,57 algo
como “intervalos” para os condenados descansarem dos sofrimentos, este nunca foi um ensinamento oficial da
Igreja Católica, condenado desde Aquino.58

Alguns santos da Igreja Católica também declararam ter recebido visões do inferno; por exemplo, Irmã Faustina
(santa católica):

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Hoje fui dirigida por um anjo aos abismos do Inferno. É um lugar de grande tortura; como terrivelmente grande e
extenso é! As espécies de torturas eu vi: A primeira tortura que constitui o Inferno é a perda de Deus; a segunda é
o remorso perpétuo da consciência; a terceira é que aquela condição nunca mudará; a quarta é o fogo que
penetrará na alma sem destruí-la – um sofrimento terrível, como é um fogo puramente espiritual, aceso pela ira
de Deus; a quinta tortura é uma escuridão ininterrupta e um terrível e sufocante odor. Apesar da escuridão, os
demônios e as almas dos condenados vêem todos os males, os próprios e dos outros; a sexta tortura é a companhia
constante de Satanás… Há [também] torturas especiais dos sentidos. Cada alma sofre sofrimentos indescritíveis,
terríveis, relacionados à maneira com que se pecou. Há cavernas e fossas de tortura, onde uma forma de agonia
difere da outra… Escrevo isto no comando de Deus, de modo que nenhuma alma pode achar uma desculpa
por dizer que não há inferno, nem que ninguém jamais esteve lá e por isso não se pode dizer como ele é. 59

Escritores seculares, influenciados pela crença desenvolvida na Idade Média, também se aventuraram na tentativa
de descrever o inferno. Um dos mais conhecidos é Dante Alighieri, que escreveu “A Divina Comédia”. A geografia
do mundo e do reino dos mortos descritos por Dante refletem as crenças vigentes na Idade Média.60 A viagem,
feita por Dante e Virgílio, narrada pelo poema acontece na semana santa de 1300. Dante era, então, um atuante
político de Florença.

O poema faz referência a fatos históricos que aconteceram na época, projetando-se para o futuro através das
“profecias” feitas pelas almas videntes.61

As concepções acerca do inferno foram sendo desenvolvidas com o passar dos anos, e já no séc. XVIII esta
estrutura de amedrontamento e terror começou a mudar seu papel. O fogo infernal passou a ser um destino
apenas para as classes baixas e médias, principalmente na pregação protestante.62 A tradicional doutrina
do destino eterno no fogo de sofrimentos continuou a ser ensinada e pregada apenas para estas classes menos
“esclarecidas” da sociedade. Os católicos, porém, continuaram a serem ensinados que quem duvidasse do inferno
teria ele mesmo o fogo como seu destino.63

Aqueles que aventuraram-se em tentar “amenizar” ou “esfriar” o fogo do inferno sofreram grande reprovação por
parte da Igreja. O Padre Faber, por exemplo, “deplorava toda e qualquer tendência de pregar o fogo do inferno
para as classes
inferiores, mas não para as mais abastadas”. 64 Dentre os que tiveram que rever sua posição, estavam o zoólogo e
professor Saint George Mivart, que em 1892 sugeriu que os sofrimentos dos condenados talvez fossem
“melhorados aos poucos”, o que foi considerado inadmissível.65

Por fim, vê-se na declaração de J. Chorón, em que tornou-se o ensinamento do inferno como um lago eterno de
fogo a consumir os impenitentes:

O além, graças aos esforços da Igreja, tornou-se fonte de terror em vez de consolação. Em vez de recompensa,
muita gente só podia esperar castigo. A fim de garantir uma existência beatífica no outro mundo e não ser
condenado eternamente a torturas inconcebíveis… era necessário levar uma vida que a maioria das pessoas não
podia suportar, exceto alguns ascetas ultradevotos.66

O Pensamento Católico Atual

Após se verificar que o conceito católico acerca do inferno foi sendo desenvolvido e ampliado ao longo dos anos,
fica uma dúvida: O que pensa e ensina a Igreja Católica do século XXI sobre o tema do inferno?

Anteriormente neste trabalho já foi declarada a posição do Catecismo Oficial da Igreja Católica, que em sua
recente edição continua a advogar o ensino da existência do inferno como o destino dos impenitentes. O papa

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João Paulo II, na obra Cruzando o Limiar da Esperança, faz a seguintes indagação: “Pode Deus, que amou tanto o
homem, permitir que o homem que O rejeita seja condenado a tormento eterno?”.67 O papa, então, continua ele
mesmo respondendo à pergunta, com a afirmação de que Deus não é só misericórdia, mas também é justiça,
considerando o homem como responsável pelas suas escolhas de pecado, e conseqüentemente sofrendo a punição.

D. Estêvão Bettencourt, respondendo a perguntas sobre o inferno, citado no site “Veritatis Splendor”, também
afirma que não se pode questionar a misericórdia de Deus, contrastando-a com o ensinamento sobre o inferno,
pois Deus “respeita a Sua criatura e não lhe tira a liberdade que lhe deu para dignificá-la”.68 Sua intenção com a
declaração é dizer que Deus não pode ser responsabilizado pela existência do inferno, porque o homem mesmo é
quem escolhe este destino, e Deus apenas aceita esta escolha do homem.

Basta uma pesquisa rápida na internet (modernamente o meio de comunicação mais eficaz para disseminar
ensinamentos e ideologias), nos sites reconhecidamente católicos (extra-oficiais), para se verificar que o
pensamento sobre o inferno continua enraizado na mente e nas declarações da Igreja. Um destes sites, por
exemplo, transcrevendo um artigo de John Vennari, declara que o tema do inferno faz parte das “revelações” de
Fátima à humanidade, ocorridas em 1917.69 Na ocasião, “Nossa Senhora” teria confirmado a doutrina do inferno,
assegurando que este existe, é um lugar real, e que há almas de pessoas que já estão confinadas lá. Segundo
o artigo, a visão do inferno que as três crianças de Fátima tiveram, foi o que lhes deu “a graça e a coragem de
fazerem sacrifícios heróicos para a salvação das almas”.70

O inferno continua, portanto, “vivo”, real e presente na mente católica atual, pois está na própria base da teologia
de medo que por tanto tempo foi a principal arma para manter as pessoas subjugadas sob o manto da lealdade à
Igreja de Roma.

Fundamentação Bíblica Para a Teologia Católica do Inferno

A doutrina do inferno, como explanada até aqui, teve um desenvolvimento gradual e progressivo. Mas qual a base
teológica para a Igreja Católica defender o fogo eterno para os que morrem em pecado mortal? Que textos bíblicos
são citados em defesa desta doutrina? Na presente seção far-se-á uma rápida exposição da argumentação católica
em defesa da existência real do inferno eterno.

No Antigo Testamento, utiliza-se a palavra Sheol (que na LXX foi traduzida para Hades) para designar o reino dos
mortos, tanto bons quanto maus (cf. Núm.16:30). Porém, o Novo Testamento sempre utiliza Hades (na ótica
católica) para designar o local de suplício dos condenados.71 A Enciclopédia Católica defende que o uso que Jesus
adotou para o termo Geena, demonstra que Sua intenção era referir-se ao “inferno” como realmente o lugar de
condenação dos ímpios após a morte.72

A Igreja Católica crê que Deus dotou o ser humano de livre arbítrio, dando a este a opção de escolher servi-Lo ou
não.73 Se o pecador escolhe não amar a Deus, comete o que se chama de “pecado”. Aqueles que morrem no
chamado “pecado mortal”, descrito anteriormente neste capítulo, terão como destino o inferno, que é “um estado
de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bemaventurados”.74 A Igreja ensina que Jesus falou
muitas vezes sobre o fogo que não se apaga, definindo-o como estando destinado aos
impenitentes.75 Portanto, imediatamente após a morte, os que assim morrerem em pecado mortal descem
ao inferno, para sofrer as penas do fogo eterno (cf. Mat. 25:41). Porém, Deus apela para que todos escolham amá-
Lo, e assim serem livrados da condenação eterna (cf. Mat.7:13-14).76

Sabendo deste trágico fim para aqueles que insistem em se desviar da graça e benevolência de Deus, diariamente,
a Igreja deve suplicar a Sua misericórdia, para que os fiéis venham a ser salvos (cf. 2Pe 3:9).77

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PRESENÇA DA DOUTRINA NO PROTESTANTISMO

No capítulo anterior, desenvolveu-se a trajetória do pensamento católico sobre a doutrina do inferno, considerado
o local de castigo eterno para os pecadores impenitentes.

O presente capítulo vai descrever sucintamente qual é o pensamento de algumas das mais tradicionais igrejas
protestantes atuais acerca desta doutrina, para se proceder uma visão de como a doutrina do inferno está presente
na grande maioria das confissões de fé no cristianismo contemporâneo.78

Dwight Pentecost analisa em sua obra sobre escatologia bíblica que “o destino dos perdidos é um lugar no lago de
fogo”, que sublinha o “eterno caráter de retribuição” dos perdidos. 79 Ele cita Chafer, que destaca que quase todas
as expressões referentes ao futuro inferno de fogo “saem dos lábios de Cristo”, e Jesus “sozinho revelou quase
tudo o que se sabe sobre esse lugar de retribuição”.80

O Centro Apologético Cristão de Pesquisas, mantido por um grupo de pastores evangélicos de São José do Rio
Preto, SP, afirma em sua declaração de fé a crença de que “aos salvos está destinado o gozo eterno no céu ao lado
de Deus, bem como aos perdidos à maldição eterna no lago de fogo por toda a eternidade”81

Na Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, o item XIX expressa que “os ímpios condenados e
destinados ao inferno lá sofrerão o castigo eterno, separados de Deus”, enquanto que “os justos, com os corpos
glorificados, receberão seus galardões e habitarão para sempre no céu, com o Senhor”.82

A Confissão de Fé de Westminster, da Igreja Presbiteriana, declara que

As almas dos justos, sendo então aperfeiçoadas na santidade, são recebidas no mais alto dos céus onde vêem a
face de Deus em luz e glória, esperando a plena redenção dos seus corpos; e as almas dos ímpios são lançadas no
inferno, onde ficarão, em tormentos e em trevas espessas, reservadas para o juízo do grande dia final. 83

A Igreja Evangélica Assembléia de Deus, no site da sua congregação matriz em Imperatriz/MA, afirma crer “no
juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis; E na vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis
e de tristeza e tormento para os infiéis”.84 Também a Igreja Evangélica Luterana do Brasil assim se expressa em
sua confissão de fé, acerca das “últimas coisas”:

Cremos, ensinamos e confessamos que Deus determinou um dia, no qual julgará o mundo com justiça. Ninguém
sabe quando será este dia. Naquele dia, Jesus voltará visível e glorioso. Céu e terra se desfarão. Todos serão
julgados por Jesus. Aos incrédulos, Jesus dirá: Apartai- vos de mim, para o fogo eterno, preparado para o diabo e
seus seguidores. Aos fiéis, que terão um corpo glorioso, dirá: Vinde, benditos de meu Pai e entrai no gozo de vosso
Senhor que vos está preparado desde a fundação do mundo. Então serão criados os novos céus e a nova terra, nos
quais habitará justiça.85

Vê-se através destas declarações que a concepção sobre o destino final dos pecadores não salvos, continua sendo
no meio protestante a mesma da Igreja Católica, ou seja, os salvos irão para o gozo eterno com Deus, no Céu, e os
perdidos sofrerão eternamente a punição por não terem atendido aos reclamos da graça de Cristo. Esta punição,
como pôde ser verificada, será impreterivelmente no tormento eterno do fogo do inferno, segundo a cristandade
em geral.

CAPÍTULO IV

CRÍTICA AO ENSINAMENTO CATÓLICO SOBRE O INFERNO

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Até aqui, verificou-se o que a Igreja Católica, bem como a Protestante em geral, tem ensinado sobre o destino do
pecador após a morte, ou seja, o fogo eterno do inferno literal.

Porém, este não parece ser o verdadeiro ensinamento bíblico, uma vez que a Bíblia, como um todo, sem pegar
textos isolados de seu contexto hermenêutico, não sanciona a existência de tal “lago de fogo eterno”. Portanto, o
presente capítulo deste trabalho analisará as falhas da fundamentação teológica utilizada pelas Igrejas Católica e
Protestante para a doutrina do inferno.86

A grande questão é: Como é possível que o Deus, que tanto amou o mundo que enviou Seu Filho unigênito para
salvar pecadores, pode também ser um Deus que
tortura as pessoas (mesmo o pior dos pecadores) para sempre, indefinidamente? É possível considerar Deus como
um Deus de amor e justiça, e ao mesmo tempo crer que Ele permitirá o tormento dos pecadores para sempre no
fogo do inferno? Este paradoxo inaceitável tem levado diversos estudiosos 87 a re-examinarem o ensino bíblico
quanto ao inferno e o castigo final.

O Conceito do Inferno como Aniquilamento Final do Ímpio

Esta crença no aniquilamento dos ímpios está baseada em quatro considerações bíblicas:

1) A morte como castigo do pecado – O aniquilamento final dos pecadores impenitentes é indicado, em
primeiro lugar, pelo princípio bíblico fundamental que o castigo final do pecado é a morte: “A alma que pecar
morrerá” (Ezeq. 18:4, 20); “O salário do pecado é a morte” (Rom. 6:23). A punição do pecado compreende
não somente a primeira morte, a qual todos experimentam como resultado do pecado de Adão, mas também o que
a Bíblia chama a segunda morte (Apoc. 20:14; 21:8), que é a morte final e irreversível a ser sofrida pelos pecadores
impenitentes. Isso significa que o salário final do pecado não é o tormento eterno, mas morte permanente.

A Bíblia ensina que a morte é a cessação da vida. Não fosse pela segurança da ressurreição (1Cor. 15:18), a morte
que o ser humano experimenta seria a terminação da existência. É a ressurreição que converte a morte de ser o
fim da vida em ser um sono temporário.88

Mas não há ressurreição para a segunda morte, porque aqueles que a sofrem são consumidos no “lago de fogo”
(Apoc. 20:14). Este será o aniquilamento final.

2) O vocabulário sobre a destruição dos ímpios – A segunda forte razão para se crer no aniquilamento dos
perdidos no julgamento final é o rico vocabulário de
destruição usado na Bíblia para descrever o fim dos ímpios. Segundo Basil Atkinson, o Velho Testamento usa mais
de 25 substantivos e verbos para descrever a destruição final dos ímpios.89

Diversos salmos descrevem a destruição final dos ímpios com imagens dramáticas (por exemplo: 1:3-6; 2:9-12;
11:1-7; 34:8-22; 58:6-10; 69:22-28; 145:17, 20). No Salmo 37, por exemplo, lê-se que os ímpios logo “murcharão
como a verdura” (v. 2); eles “serão desarraigados…e…não existirão” (vv. 9, 10); eles “perecerão…e em fumo se
desfarão” (v. 20); os transgressores “serão a uma
destruídos” (v. 38). O Salmo 1 contrasta o caminho do justo com o dos ímpios. Dos últimos ele diz que “não
subsistirão no juízo” (v. 5); mas serão “como a moinha que o vento espalha” (v. 4); “o caminho dos ímpios
perecerá” (v. 6). No Salmo 145, Davi afirma: “O Senhor guarda a todos que o amam; mas todos os ímpios serão
destruídos” (v. 20). Esta amostra de referências sobre a destruição final dos ímpios está em perfeita harmonia
com o ensinamento do resto das Escrituras, acerca do final aniquilamento dos que rejeitaram a salvação ofertada
por Deus.

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Os profetas freqüentemente anunciam a destruição final dos ímpios em conjunção com o dia escatológico do
Senhor. Isaías proclama que os “transgressores e os pecadores serão juntamente destruídos, e os que deixarem o
Senhor serão consumidos” (Isa. 1:28).90

A última página do Velho Testamento provê um contraste impressionante entre o destino dos crentes e o dos
incrédulos. Sobre aqueles que temem o Senhor, “nascerá o sol da justiça e salvação trará debaixo das suas asas”
(Malaq. 4:1). Mas para os incrédulos o dia do Senhor “os abrasará… de sorte que não lhes deixará nem raiz nem
ramo”.

O Novo Testamento segue de perto o Velho ao descrever o fim dos ímpios com palavras e imagens que denotam
aniquilamento total. Jesus comparou a destruição total dos ímpios a coisas como o joio atado em molhos para
serem queimados (Mat. 13:30, 40), o peixe ruim que é lançado fora (Mat. 13:48), as plantas daninhas que serão
arrancadas (Mat. 15:13), a árvore sem fruto que será cortada (Luc.13:7), entre outros.91 Todas estas ilustrações
descrevem de modo gráfico a destruição final dos ímpios. O contraste entre o destino dos salvos e o dos perdidos é
um de vida versus destruição.

Bacchiocchi ressalta que aqueles que apelam às referências de Cristo ao inferno ou fogo do inferno (gehenna) para
apoiar sua crença num tormento eterno, deixam de reconhecer um ponto importante, a saber: a referência de
Cristo a gehenna não indica que o inferno seja um lugar de tormento infindo. O que é eterno ou inextinguível não
é o castigo mas o fogo que, como no caso de Sodoma e Gomorra, causa a destruição completa e permanente dos
ímpios, uma condição que dura para sempre. John Stott, por exemplo, assinala:

O fogo mesmo é chamado “eterno” e “inextinguível”, mas seria muito estranho se aquilo que nele fosse jogado se
demonstrasse indestrutível. Esperaríamos o oposto: seria consumido para sempre, não atormentado para sempre.
Segue-se que é o fumo (evidência de que o fogo efetuou seu trabalho) que “sobe para todo o sempre” (Apocalipse
14:11; ver 10:3)”.92

A declaração de Cristo de que os ímpios “irão para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna” (Mat.
25:46) é geralmente considerada como prova do
sofrimento eterno e consciente dos ímpios. Esta interpretação ignora a diferença entre punição eterna e o ato de
punir eternamente. O termo grego aionios (“eterno”) literalmente significa “aquilo que dura um período”, e
freqüentemente refere à permanência do resultado e não à continuação de um processo.93 Por exemplo, Judas
7 diz que Sodoma e Gomorra sofreram “a pena do fogo eterno”. É evidente que o fogo que destruiu as duas cidades
é eterno, não por causa de sua duração mas por causa de seus resultados permanentes.

Outro exemplo se encontra em 2Tessal. 1:9, onde Paulo, falando daqueles que rejeitam o evangelho, diz: “Os
quais, por castigo, padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do Seu poder”. É evidente que a
destruição dos ímpios não pode ser eterna em sua duração, porque é difícil imaginar um processo de
destruição eterno e inconclusivo. Destruição pressupõe aniquilamento. A destruição dos ímpios é eterna, não
porque o processo de destruição continua para sempre, mas porque os resultados são permanentes.

Os judeus freqüentemente usavam a frase “segunda morte” (cf. Apoc. 20) para descrever a morte final e
irreversível. Exemplos numerosos podem ser achados no Targum, a tradução e interpretação em aramaico do
Velho Testamento. Por exemplo, o Targum sobre Isa. 65:6 diz: “Seu castigo será em Gehenna onde o fogo arde
todo o dia. Eis, está escrito diante de mim: ‘Não lhes darei descanso durante [sua] vida mas lhes darei o castigo de
sua transgressão e entregarei seus corpos à segunda morte’”.94

Para os salvos, a ressurreição marca o galardão de outra vida mais elevada, mas para os perdidos marca a
retribuição de uma segunda morte que é final. Como não há mais morte para os remidos (Apoc. 21:4), assim não

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há mais vida para os


perdidos (Apoc. 21:8). A “segunda morte”, então, é a morte final e irreversível. Interpretar a frase de outro modo,
como um tormento eterno e consciente ou separação de Deus, nega o significado bíblico da morte como uma
cessação de vida.

3) As implicações morais do tormento eterno – Uma terceira razão para crer


no aniquilamento final dos perdidos é a implicação moral inaceitável da doutrina do tormento eterno. A noção de
que Deus deliberadamente tortura pecadores através dos séculos sem fim da eternidade é totalmente incompatível
com a revelação bíblica de Deus como amor infinito. Um Deus que inflige tortura infinda a Suas criaturas,
não importa quão pecadoras foram, não pode ser o Pai de amor que Jesus Cristo revelou em Sua vida e ministério
(João 3:16).

Tem Deus duas faces? É Ele infinitamente misericordioso de um lado e insaciavelmente cruel de outro? Pode Ele
amar os pecadores de tal modo que enviou Seu Filho para salvá-los, e ao mesmo tempo odiar os pecadores
impenitentes tanto que os submete a um tormento cruel sem fim? Pode-se legitimamente louvar a Deus por Sua
bondade, se Ele atormenta os pecadores através dos séculos da eternidade? A intuição moral que Deus plantou na
consciência do homem não pode aceitar a crueldade de uma divindade que sujeita pecadores a tormento infindo.
A justiça divina não poderia jamais exigir a penalidade infinita de dor eterna por causa de pecados finitos. Stott é
um dos que questionam esta “retribuição” divina ao pecado:

Não haveria, então, uma desproporção séria entre pecados conscientemente cometidos no tempo e tormento
conscientemente sofrido através da eternidade? Não minimizo a gravidade da pecado como rebelião contra Deus
nosso Criador, mas questiono se “tormento eterno consciente” é compatível com a revelação bíblica da justiça
divina.95

4) As implicações cosmológicas do tormento eterno – Uma razão final para crer no aniquilamento, e
conseqüentemente na não existência de um inferno de fogo literal e eterno dos perdidos, é que tormento eterno
pressupõe um dualismo cósmico eterno. Céu e inferno, felicidade e dor, bem e mal continuariam a existir para
sempre lado a lado. É impossível reconciliar esta opinião com a visão profética da Nova Terra na qual não mais
“haverá morte, nem pranto, nem clamor, porque já as primeiras coisas são passadas” (Apoc. 21:4). Como
poderiam pranto e dor serem esquecidos se a agonia e angústia dos perdidos fossem aspectos permanentes da
nova ordem? A presença de incontáveis milhões sofrendo para sempre este tormento, mesmo se fosse bem longe
do arraial dos santos, serviria apenas para destruir a paz e a felicidade do novo mundo. A nova criação resultaria
defeituosa desde o primeiro dia, visto que os pecadores permaneceriam como uma realidade eterna no universo
de Deus.

O propósito do plano da salvação é desarraigar definitivamente a presença de pecado e pecadores deste mundo.
Somente se os pecadores, Satanás e o mal forem afinal consumidos no lago de fogo e extintos na segunda morte
(Apoc. 2:11; 20:6, 14; 21:8), é que verdadeiramente poder-se-á dizer que a missão redentora de Cristo
foi concluída. Um tormento eterno lançaria uma sombra permanente sobre a nova Criação.

CONCLUSÕES

De todas as doutrinas do cristianismo, uma que está presente em praticamente todas as denominações é a da
existência real de um inferno de fogo literal e eterno. Desta surgem vários outros conceitos e ensinamentos, dentre
os quais está a aceitação de que existe um inferno de fogo a arder por toda a eternidade, e que será o merecido
destino para aqueles que, nesta vida, insistiram em rejeitar os reclamos da graça que Cristo oferece ao pecador
arrependido.

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A aceitação da existência deste local de destino para os condenados já estava presente antes mesmo do surgimento
da Igreja Cristã, pois os gregos a desenvolveram fortemente, e os judeus também passaram a crer que pudesse
existir o inferno como um lugar real e literal. Este pensamento foi desenvolvendo-se na mente das pessoas,
e quando a Igreja Cristã começou a formar seus credos, vê-se que a crença no inferno já fazia parte das doutrinas
professadas. Os Pais da Igreja ensinaram a existência do inferno, e a Igreja Católica recebeu, então, este legado
doutrinário sobre o futuro estado do homem após a morte.

À medida que a Igreja Católica começou a tomar forma e desenvolver-se geográfica e politicamente, o
ensinamento sobre o inferno tornou-se uma grande “arma” para amedrontar as pessoas que viessem a divergir ou
rejeitar o pensamento e ditames da Igreja, pois tal “herege” seria excomungado e ficaria, portanto, destinado a
“arder eternamente nas chamas do inferno”, caso não se retratasse e retornasse ao seio da Igreja.

Ao longo dos anos, cada vez mais a doutrina do inferno ganhou força e desenvolveu-se em sua forma e detalhes. A
Igreja passou, na Idade Média, a pregar de forma vívida sobre todos os possíveis tormentos aos quais os ímpios
estariam sujeitos se fossem para o inferno. Muitos pregadores, poetas, escritores, teólogos e até mesmo os leigos,
esforçaram-se para fazer com que as imagens do inferno impressionassem profundamente as pessoas, pois estas
eram levadas a imaginarem detalhadamente as horríveis torturas que encontrariam no fogo eterno.

Isto serviu grandemente para que a Igreja, e mesmo o Estado, mantivessem sob um certo controle a população
Medieval, pois poucos eram os que se “atreviam” a questionar a autoridade eclesiástica ou temporal, temendo
receber como punição o impedimento de participar dos sacramentos católicos, ficando, assim, impossibilitado de
receber a graça que o livraria do inferno após a morte. As heresias, as revoltas, os crimes e delitos estiveram
“controlados” neste período, pois o pavor que as pessoas tinham de irem para o inferno, tão detalhadamente
prefigurado pela Igreja, as levava a conterem-se na prática do pecado. Posteriormente, quando a autoridade da
Igreja começou a ser questionada e a sua força declinava, perdendo espaço para os pensamentos iluministas que
começavam a surgir após o séc. XVI, as autoridades chegaram mesmo a temer um possível aumento elevado no
número de crimes, em decorrência de as pessoas começarem a perder o “medo” pelo inferno. Em face disto, leis
mais duras passaram a ser formuladas, numa tentativa de preencher a lacuna que ora se abria pelo
enfraquecimento do medo do inferno.

Mas, como se vê até hoje, a doutrina do inferno não morreu. Ela tomou novas formas e explicações, mas continua
a ser ardorosamente defendida por quase todas as confissões religiosas cristãs – católicas e protestantes. Estes
últimos, herdaram da Igreja Católica a doutrina do estado do homem na morte, e continuaram a crer na existência
literal e eterna do inferno de fogo. Apesar de avançarem em algumas doutrinas, os protestantes em geral não
rejeitaram a doutrina do inferno, e ainda hoje ela é muito aceita, pregada e defendida pelos apologetas modernos,
que procuram basear sua crença em declarações bíblicas vetero e neo-testamentárias.

O estudo revelou o quanto a doutrina do inferno foi utilizada como ferramenta de disseminação do medo,
trazendo assim o controle para as mãos do único “poder” que poderia livrar o povo do inferno – a Igreja Católica.
Conclui-se através da análise bibliográfica acerca do tema que a “certeza” de sua existência literal contribuiu
grandemente para o fortalecimento do poder da Igreja, servindo para cumprir o propósito de manter subjugado
qualquer movimento “herético”, ou insubordinatório. Hoje a Igreja Católica já não prega com tanta ênfase e
detalhes sobre o inferno, mas isto não significa que esta doutrina ainda não possa ser considerada o fundamento
da fé de muitos fiéis que não compreendem a mensagem libertadora da graça, e mantém-se unidos à Igreja apenas
pelo medo de perder a salvação e irem para o inferno.

Algumas denominações do protestantismo, por sua vez, também utilizam claramente a doutrina do inferno como
um meio de atrair as pessoas para sua mensagem, especialmente aqueles que têm dificuldade em serem
conquistados pela mensagem de amor do evangelho; estes são os que mais se impressionam com o ensino de que
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poderão arder eternamente no fogo, dentro outras possíveis torturas, caso rejeitem a mensagem e não professem a
aceitação da salvação em Cristo. É claramente observável nos meios de comunicação em massa, nos livros,
filmes, contos infantis, romances de ficção, etc., o quanto a existência de um inferno de fogo eterno está arraigada
na mente da sociedade moderna.

Para aqueles que não crêem na existência deste local literal e eterno, também fica, além da compreensão
proporcionada pelo presente trabalho de que a doutrina do inferno está profundamente consolidada na
mentalidade comum cristã, uma argumentação que tenta refutar o pensamento de que Deus punirá pelos
séculos infindáveis da eternidade aqueles que Lhe forem infiéis. Isto está em franca desarmonia com os
ensinamentos evangélicos, especialmente a revelação de um Deus de amor, na Pessoa de Jesus Cristo.

Ao final deste trabalho, tem-se um bom momento para relembrar as palavras do divino Mestre, que veio para
salvar e buscar o pecador, através de Sua mensagem de fé, esperança e amor: “Eu sou a ressurreição e a vida.
Quem crê em Mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em Mim não morrerá, eternamente.
Crês isto?” (João 11:25-26).

REFERÊNCIAS

1 Wilson A. Ribeiro Jr., “Grécia Antiga – Mitologia – Hades”, pesquisa realizada na internet, no site
http://warj.med.br/mit09-3.asp?rev=0&prt=sim, em 10 de outubro de 2004.
2 Ibid.
3 Ibid.

4 Ibid. Na Grécia, a partir do séc. VII a.C. é que o Hades foi dividido em 3 compartimentos: Tártaro, Érobo e
Campos Elíseos. Somente o Tártaro era considerado um local de estadia permanente. Ver: Junito de Souza
Brandão, Mitologia (Petrópolis, RJ: Vozes, 1998), 314-315; Aldo Natali Terrin, Introdução ao estudo comparado
das religiões (São Paulo: Paulinas, 2003), 181-193.

5 Ribeiro Jr., http://warj.med.br/mit09-3.asp?rev=0&prt=sim, 10/10/2004.

6 R. N. Champlin, “Sheol”, Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia (Cidade Dutra, SP: Hagnos, 2001), 6:199-
200. Por exemplo: 1Enoque 20:2; 21:7-10; 54:1-2; 90:26-27; 22:1-14; 2Enoque 10:20; 2Esdras 7:36, 75;
2Macabeus 12:39; 2Baruque 85:13; Apocalipse de Pedro 7-13.

7 Ibid., 3:323.

8 No hebraico, o termo “  ” (she ’ôl), oscila entre “inferno”, “cova” ou “sheol”; sua etimologia é incerta.
Este vocábulo, no entanto, ocorre apenas no Antigo Testamento e uma única vez nos papiros judaicos de
Elefantina. Ver: R. Laird Harris, Gleason L. Archer Jr., e Bruce K.Waltke, eds., “”, Dicionário internacional
de teologia do Antigo Testamento (São Paulo: Vida Nova, 1998), 1502.

9 Champlin, “inferno”, 3:323. E o paraíso para os “bons”.

10 F. F. Bruce, Paulo – o apóstolo da graça (São Paulo: Shedd, 2003), 295.

11 Ibid. Em dois apocalipses judaicos do fim do séc. I AD, as almas dos mortos, ou pelo menos dos justos, são
guardadas em “armazéns” ou “depósitos”, no período compreendido entre a morte e a ressurreição (4Esdras 7:32,
75-101; 2Baruque 21:23; 30:2).

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12 Sociedade Israelita de Beneficência Beit Chabad do Brasil, pesquisa realizada na internet, no site
http://www.chabad.org.br/interativo/FAQ/recompensa.html, em 11/10/2004. Ver também: Enciclopédia Judaica
On-line, pesquisa realizada na internet, no site http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?
artid=116&letter=G, em 11/10/2004.

13 Para mais informações sobre a concepção judaica acerca da morte e o além-vida, ver: Alfred J. Kolatch, Livro
judaico dos porquês (São Paulo: Sêfer, 2001), 53-91; Doreen Fine, O que sabemos sobre o judaísmo? (São Paulo:
Callis, 1998); Hélio D. Cordeiro, O que é judaísmo (São Paulo: Brasiliense, 1998); Maurice Lamm, Bem-vindo ao
judaísmo (São Paulo: Sêfer, 1999), 384-396; Maimônides, Tratado sobre a ressurreição (São Paulo: Maayanot,
1994).

14 Felipe Aquino, O catecismo da igreja responde de a a z (São Paulo:Loyola e Cléofas, 2003), 159; Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil CNBB),Catecismo da Igreja Católica (Catecismo), (São Paulo: Loyola, 2000), 291.

15 Renold J. Blank, Escatologia da pessoa (São Paulo: Paulus, 2000), 257. Sobre a eternidade do inferno, ver:
Hubert Jedin, Manual de história de la iglesia (Barcelona: Herder, 1980),1:356-357.

16 Carl E. Braaten, et al, Dogmática cristã (São Leopoldo, RS: Sinodal, 1990), 1:531. Esta obra ressalta que
originalmente se pensava que, ao morrer, as pessoas iam para o hades, uma “sala de espera” para os mortos até o
juízo final. Na teologia posterior ocorreu uma mudança no sentido, de modo que, ao morrer, as pessoas iam
diretamente para o céu ou para o inferno, com exceção das que iam ao purgatório para serem purificadas de suas
impurezas.

17 Charles Hodge, Teologia sistemática (São Paulo: Hagnos, 2001), 1571. Ambrósio também apresenta uma breve
lista dos pecadores destinados ao inferno, considerados os mais incorrigíveis inimigos de Deus: os demônios, os
infiéis, os apóstatas, os sacrílegos, os ímpios (impii). Cf. Brian E. Daley, Origens da escatologia cristã (São Paulo:
Paulus, 1994), 148. Hodge Ele ainda cita aqueles que são destinados a este estado ou lugar de infindável miséria:
1. Todos os que morrem fora da Igreja Católica; 2. Todos os não batizados (adultos); 3. Todos os cismáticos;
4. Todos os hereges; 5. Todos os que morrem impenitentes, ou em estado de pecado mortal, ou seja, pecado cuja
pena é a morte eterna, pecado este que não foi perdoado pela absolvição do sacerdote.

18 CNBB, Catecismo, 292

19 Ibid., 292-293.

20 Ver também: José Gea Escolano, El catecismo de los catequistas (Madrid: San Pablo, 1999), 336-337.

21 CNBB, Catecismo, 497.

22 Ibid.

23 Ibid.

24 Ibid.

25 Ibid.

26 Esta é precisada através dos 10 mandamentos da lei dada por Moisés.

27 CNBB, Catecismo, 498.

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28 Ibid., 499.

29 Blank, 258. Santo Agostinho e São Gregório, posteriormente, já declaravam que o fogo com que Deus puniria
os pecadores seria real, e este foi descrito como de natureza eterna. Haviam também os que discordavam da
eternidade do inferno; por exemplo, Clemente de Alexandria e Orígenes. Aristides, considerado
o mais antigo apologista cuja obra se preservou, também faz menção em sua Apologia à certeza que os cristãos
tinham de que quando um membro virtuoso da sociedade morria, era motivo de alegria; porém, quando um
pecador morria, devia-se chorar amargamente, pois eles “sabem que ele certamente será punido”. Ver: Daley, 40-
41.

30 Ibid. Orígenes chega mesmo a postular a salvação final de todos (apokatástasis), com base em 1Co 15:25-26, o
que é seguido por São Gregório de Nissa, Ambrósio, Teodoro de Mopsuéstia e, durante certo tempo, Jerônimo.
Eles eram conhecidos como os misericordes, e estenderam sua influência até a Idade Média. Ver também: Daley,
89-91, 149.

31 Cf. Daley, 41-42.

32 Joseph Hontheim, “Inferno”, Enciclopédia católica, pesquisa realizada na internet, no site


http://www.enciclopediacatolica.com/i/inferno.htm, em 10/10/2004.

33 Blank, 259. Este credo foi formulado entre o fim do séc. IV e fim do séc.VI. Já em 359, o chamado “Credo
Datado” declarava que Jesus “desceu às regiões inferiores ordenando lá todas as coisas, e os porteiros do Hades,
vendo-O, se espantaram”. Ver: Henry Bettenson, Documentos da igreja cristã (São Paulo: ASTE, 1998), 89.

34 Paul Johnson, História do cristianismo (Rio de Janeiro: Imago, 2001), 412. Segundo este autor, entre
Agostinho e a Reforma, somente o irlandês João Escoto Erígena, no séc. IX, negou positivamente um Inferno
eterno ou mesmo material, substituindo a desgraça infligida pela angústia da consciência.

35 Blank, 259.

36 Ibid. Este Concílio não formulou dogma sobre o tema.

37 Ibid.

38 Ibid. ver: Hontheim, http://www.enciclopediacatolica.com/i/inferno.htm, 10/10/2004.

39 Blank, 259.

40 Até mesmo Voltaire já dizia que “a opinião da existência tanto do purgatório quanto do inferno é da mais
remota Antigüidade”. Ver Frente Universitária Lepanto, Esclarecimentos sobre o inferno na doutrina
católica, pesquisa realizada na internet, no site http://www.lepanto.com.br/DCInferno.html, em 10/10/2004.

41 Johnson, 413. Ver também: Cláudio Bollini, Céu e inferno: o que significam hoje? (São Paulo: Paulinas, 1996),
96-98.

42 Para mais declarações dos Pais da Igreja sobre a doutrina do inferno e do destino dos maus, ver: Michel
Spanneut, Os padres da igreja, 2 vols. (São Paulo:
Loyola, 2002).

https://adventismoemfoco.wordpress.com/2012/02/09/a-doutrina-do-inferno-na-teologia-catolica-origem-desenvolvimento-e-influencia-no-prote… 16/26
05/12/2023, 08:34 A Doutrina do Inferno na Teologia Católica: Origem, Desenvolvimento e Influência no Protestantismo | Adventismo em Foco

43 Por exemplo, alguns ascetas cristãos do período niceno acreditavam que era importante meditar-se acerca do
inferno e do juízo vindouro, com imagens o mais
vívidas possíveis, como uma forma de confirmar a motivação em seguir a vida ascética (longe dos prazeres do
mundo). Ver: Daley, 108-109.

44 Johnson, 415. No séc. XVIII as autoridades ainda consideravam o inferno o mais eficaz obstáculo ao crime; à
medida que o temor com relação a ele declinava, juízes e Parlamento concordaram que as penalidades estatutárias
tinham de ser aumentadas, para compensar a crescente desconsideração pelo “fogo futuro”.

45 Ibid., 413.

46 Ibid.

47 Johnson, 415. Em anos posteriores, outros continuaram a declarar de forma horrenda e amedrontadora os
suplícios do inferno. Adam Scotus dizia que os praticantes de usura seriam fervidos em ouro derretido; outros
falavam de um espancamento contínuo com martelos de bronze em brasa; Richard Rolle (1300-1349) afirmou que
os ímpios rasgavam e comiam a sua própria carne, bebiam o fel de dragões e o veneno de vespas e sugavam a
cabeça de víboras.

48 Ibid. Bridaine definia a eternidade como um pêndulo que não pára de dizer: “sempre, nunca! Nunca, sempre”.

49 Johnson, 466

50 Johnson, 466.

51 Ibid. Cerca de 4 milhões de exemplares foram vendidos em países de língua inglesa.

52 Ibid., 413-414.

53 Ibid., 414. Agostinho dizia que “os instrumentos de punição eterna são, em outras palavras, também criaturas
de Deus, feitas para atingir seu justo propósito, e são, portanto, em si mesmo boas”. Cf. Daley, 215.

54 Ibid. Johnson acrescenta ainda que alguns dos contemporâneos de Locke “chegaram ao ponto de alegar que os
condenados talvez tivessem sido criados antes para completar a alegria celestial”.

55 Johnson, 414. Alguns escritores vêem nestas tentativas de descrever o inferno de forma tão real e dolorosa,
uma manifestação de desejos do inconsciente humano. Por exemplo, Herbert Vorgrimler: Encontram-se [na
descrição do inferno] imagens arcaicas da tradição humana e do inconsciente com desejos manifestados
ou reprimidos de vingança: que Deus pelo menos puna os outros para estabelecer certo equilíbrio! Na palavra
“inferno” também estão concentradas as angústias de inúmeros cristãos intimidados. O autor salienta que tais
imagens encontram-se até mesmo nas declarações oficiais da Igreja Católica. Cf.: Blank, 257.

56 Hontheim, http://www.enciclopediacatolica.com/i/inferno.htm, 10/10/2004. Este pensamento foi defendido


pelo Concílio de Florença (1439). Ver: Willian O.
Saunders, “Sim, Existe um Inferno”, pesquisa realizada na internet, no
site: http://www.veritatis.com.br/print.asp?pubid=1577, em 10/10/2004. Agostinho também defendia a idéia de
graus de sofrimento. Cf. Daley, 214.

57 O poeta Prudêncio, por exemplo.

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58 Hontheim, http://www.enciclopediacatolica.com/i/inferno.htm, 10/10/2004.

59 Saunders, http://www.veritatis.com.br/print.asp?pubid=1577, 10/10/2004

60 Helder da Rocha, “A Divina Comédia”, pesquisa realizada na internet, no site


http:www.stelle.com.br/pt/inferno/inferno.html, em 10/10/2004. O poema de Dante, além das crenças cristãs,
também foi influenciado por outros poemas épicos anteriores, como Homero, Virgílio e Ovídio. Lucrécio, por
exemplo, escreveu: “Já não se tem mais sossego, é impossível dormir tranqüilo: por quê? Porque se tem
que recear, depois desta vida, penas eternas, pelo medo das quais nenhum mortal pode ser feliz”. Ver: Lepanto,
http://www.lepanto.com.br/DCInferno.html, 10/10/2004.

61 Rocha, http:www.stelle.com.br/pt/inferno/inferno.html. O fogo eterno também é encontrado em citações de


livros não-canônicos, como o Apocalipse de Pedro, que descreve nos caps. 7-13 vívidos detalhes sobre as punições
específicas determinadas para as diferentes classes de pecadores. O elemento em comum nos suplícios, porém, é
sempre o fogo. Ver: Daley, 25.

62 Johnson, 414-415.

63 Ibid. Os católicos, ao contrário de alguns protestantes, não tinham uma “doutrina dupla” acerca do inferno.
Ensinavam sobre o tema, com o mais rigoroso teor imaginativo, a todas as classes e idades.

64 Ibid., 467.

65 Johnson, 417. O cardeal Vaughan, arcebispo de Westminster, exigiu que Mivart assinasse uma declaração de
doutrina ortodoxa, reafirmando a crença católica da condenação perpétua no fogo. Ele recusou-se e foi expulso da
Igreja.

66 Blank, 262-263. Este autor lembra que a acentuação demasiada da necessidade do inferno parece ter, em
muitos casos, raízes num sutil e inconsciente desejo de vingança, que “exige” que Deus retribua conforme os
princípios formulados por esta concepção de justiça retributiva.

67 Citado em: Willian Saunders, “Sim, existe um inferno”, pesquisa realizada na internet, no site
http://www.veritatis.com.br/print.asp?pubid=1577, em 10/10/2004.

68 Estêvão Bettencourt, “Cientista Afirma: Existe o Inferno”, pesquisa realizada na internet, no site
http://www.veritatis.com.br/print.asp?pubid=2954, em 10/10/2004.

69 Pesquisa realizada na internet, no site http://old.fatima.org/port/portcr64pg10.html, em 10/10/2004.

70 Ibid.

71 Hontheim, http://www.enciclopediacatolica.com/i/inferno.htm, 10/10/2004.Para a Enciclopédia Católica, o


termo Geena também é utilizado neste sentido, no Novo Testamento, ou seja, o de um local para suplício dos
condenados após a morte. Ao longo do tempo, os judeus passaram a designar o Geena como sendo este lugar
de condenação.

72 Ibid.

73 CNBB, Catecismo, 291.

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74 Ibid.

75 Cf. Mat. 5:22, 29; 13:42, 50; Marcos 9:43-48; etc.

76 CNBB, Catecismo, 292.

77 Ibid., 293.

78 Não cabe aqui analisar, pois não é o foco do trabalho, quando começou, se é que houve, influência da
concepção da Igreja Católica na teologia protestante sobre o estado do homem após a morte.

79 J. Dwight Pentecost, Manual de escatologia (São Paulo: Vida, 1998), 560.

80 Ibid., 560-561. Para o autor, o corpo que os perdidos receberão após a ressurreição, com os quais serão
lançados no lago de fogo, será de tal caráter que se revelará indestrutível, haja vista ter de suportar “eternamente”
ao fogo. Ver: Ibid., 565.

81 Centro Apologético Cristão de Pesquisas (CACP), “Declaração de fé”, pesquisa realizada na internet, no site
http://www.cacp.org.br/declaracao_de_fe.htm, em 12/10/2004.

82 Convenção Batista Brasileira, pesquisa realizada na internet, “Nossas Crenças”, no site


http://www.batistas.org.br/miolo.php?canal=9&sub=117&c=
&d=1, em 12/10/2004.

83 Igreja Presbiteriana do Brasil, “Doutrina”, pesquisa realizada na internet, no site


http://www.ipb.org.br/quem_somos/doutrina.php3, em 12/10/2004.

84 Igreja Evangélica Assembléia de Deus, “Em que Cremos”, pesquisa realizada na internet, no site
http://www.apazdosenhor.org.br/aigreja/cremos.html, em 12/10/2004.

85 Igreja Evangélica Luterana do Brasil, “O que Cremos”, pesquisa realizada na internet, no site
http://www.ielb.org.br/cremos/doutrinas3.htm, em 12/10/2004. Para mais informações sobre o pensamento
protestante sobre a doutrina do inferno, ver: Everett Ferguson, Backgrounds of Early Christianity (Grand Rapids,
MI: William B. Eerdmans Publishing Company, 1993), 142-520; Robert A. Peterson, Hell on Trial (Phillipsburg,
NJ: P & R Publishing, 1995); William Crockett, Four Views on Hell (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1992), 11-39;
Cyril C. Richardson, Early Christian Fathers (Nova Iorque: Collier Books, 1970), 66-369.

86 Argumentação baseada em: Samuele Bacchiocchi, Immortality or Resurrection? (Berrien Springs, MI: Biblical
Perspectives, 1997), 193-242.

87 Bacchiocchi cita, por exemplo, Clark Pinnock em sua obra “Response to John F. Walvoord”, in Four Views on
Hell (Grand Rapids, MI: 1992), 149-150. Ver também: Oscar Cullmann, Imortalidade da alma ou ressurreição dos
mortos? (Artur Nogueira, SP: Centro de Estudos Evangélicos, 2002).

88 Para uma análise mais detalhada sobre a argumentação em favor da morte como um sono, ver: George R.
Knight, Questions on Doctrine (Berrien Springs, MI: Review and Herald, 2003), 397-476; E. Lonnie Melashenko,
What the Bible Says About… (Nampa, ID: Pacific Press, 2003), 25-30.

89 Basil F. C. Atkinson, Life and Immortality – An Examination of the Nature and Meaning of Life and Death as
They Are Revealed in the Scriptures (Taunton,

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