Você está na página 1de 19

CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO DE SERGIPE

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

RUBENS VIEIRA DA CONCEIÇÃO

A LEI ROUANET ENQUANTO PORTA DE ACESSO DO DIREITO À


CULTURA E A TENTATIVA DE DESCENTRALIZAÇÃO DE RECURSOS

ARACAJU/SE
2023
RUBENS VIEIRA DA CONCEIÇÃO

A LEI ROUANET ENQUANTO PORTA DE ACESSO DO DIREITO À


CULTURA E A TENTATIVA DE DESCENTRALIZAÇÃO DE RECURSOS

Trabalho de conclusão de curso


apresentado como requisito para a
obtenção do grau de bacharel em Direito
pelo Centro Universitário Estácio de
Sergipe.
Docente: Ana Paula Côrrea de Sales

ARACAJU/SE
2023
RUBENS VIEIRA DA CONCEIÇÃO

A LEI ROUANET ENQUANTO PORTA DE ACESSO DO DIREITO À


CULTURA E A TENTATIVA DE DESCENTRALIZAÇÃO DE RECURSOS

Trabalho de conclusão de curso


apresentado como pré-requisito para a
obtenção do título de bacharel em Direito
pelo Centro Universitário Estácio de
Sergipe – Aracaju/SE.

APROVADO EM: De De

BANCA EXAMINADORA:

ARACAJU/SE
2023
RESUMO

O objetivo deste artigo é demonstrar a importância do Direito a Cultura numa


determinada sociedade, destacando o principal mecanismo que garante a efetivação
desse direito, que esta tipificadamente elencada no rool dos Direitos Humanos. Isso
estabelece que o Estado, desde a Constituição Federal de 1988, tem o dever de garantir
a todos os cidadãos o acesso à Cultura e a sua valorização e, para isso, deve ser adotado
Políticas Públicas Culturais efetivas no País.
Uma única lei de incentivo à cultura foi analisada neste estudo, com o obejtivo de
destacar que ela é uma das principais portas de acesso ao direito de cultura no Brasil.
Neste artigo, será analisado a Lei Rouanet, seu impacto na cultura brasileira e as
tentativas de descentralizar seus recursos. A Lei Rouanet é um dos principais
mecanismos de incentivo à cultura no Brasil, mas há preocupações com a centralização
de recursos em algumas regiões.

PALAVRAS CHAVE

(Direito a Cultura, Direitos Humanos, Descentralização de Recursos, Lei Rouanet)


ABSTRACT

The objective of this article is to demonstrate the importance of the Right to


Culture in a given society, highlighting the main mechanism that guarantees the
implementation of this right, which is typically listed in the list of Human Rights. This
establishes that the State, since the Federal Constitution of 1988, has the duty to
guarantee all citizens access to Culture and its appreciation and, to this end, effective
Cultural Public Policies must be adopted in the Country.
A single culture incentive law was analyzed in this study, with the aim of
highlighting that it is one of the main gateways to cultural rights in Brazil.
In this article, the Rouanet Law will be analyzed, its impact on Brazilian culture
and the initiatives to decentralize its resources. The Rouanet Law is one of the main
mechanisms for encouraging culture in Brazil, but there are concerns about the
centralization of resources in some regions.

KEYWORDS

(Right to Culture, Human Rights, Decentralization of Resources, Rouanet Law)


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO………………………………………………………7

2 DESENVOLVIMENTO......………………………………………..8
2.1 A função do Estado na garantia do direito a cultura...................8

2.2 Conceituando Cultura.................................................................10

2.3 A Lei Rouanet e seu funcionamento...........................................11

2.4 Criticas a Lei Rouanet................................................................ 13

3 CONCLUSÃO..........................................................................16

REFERÊNCIAS...........................................................................18
7

1. INTRODUÇÃO

O direito a cultura no Brasil é devidamente descrito na constituição da republica


no seu Art. 215, e necessariamente garantido através da lei de nº 8.313/1991, mais
conhecida popularmente como (Lei Rouanet), que é o ato normativo federal que
institucionalizou o incentivo à cultura, por meio da criação do Programa Nacional de
Apoio à Cultura – (Pronac), de responsabilidade do Ministério da Cultura – (Minc.).
Contudo, será possível observar mediante a conclusão desse trabalho, o que é o
direito a Cultura em sua essencia, bem como, investigar se há uma centralização de
captações de recursos em determinadas regiões do país. Analisar o direito à cultura,
examinando o principal mecanismo de incentivo, através da verificação dos princípios
constitucionais, diretrizes das leis, planos da cultura e enfatizando que se trata de um
estudo realizado por meio de método dedutivo, com pesquisa bibliográfica, artigos de
publicações periódicas e demais sites de busca.
Há também o intuito de explicitar o que é a lei de incentivo a cultura (Lei
rouanet), bem como se deu o seu surgimento; Discutir como funciona a captação de
recursos através da lei rouanet pelos artistas, ao mesmo tempo em que busca entender
qual a medida adotada por governantes para que ocorra a descentralização dos recursos
em determinadas regiões, principalmente em estados mais ricos, como São Paulo e Rio
de Janeiro, o que faz com que outras regiões do País acabem obtendo menos recursos da
lei de incentivo a cultura.
Diante de tudo isso, há a necessidade de traçar uma breve perspectiva a respeito
da Lei Rouanet em seu contexto atual, demonstrando possiveis falhas da lei que abrem
precedentes para problemas como: dificuldade de artistas pouco conhecidos em
conseguir apoio para seus projetos por meio da lei rouanet, demonstrar que há
privilégios de projetos com caráter midiático e externar a concentração de realização de
projetos e centralização de recursos, através da lei em algumas regiões do Brasil.
Ao final, demonstrar uma breve perspectiva a respeito do direito a cultura no
Brasil, fundamentando a efetiva participação dos governantes na criação de politicas
publicas voltadas a área da cultura, que garanta a todos o amplo englobamento de
acesso aos recursos e através de pesquisas, esclarecer como é atribuída a participação
da sociedade na distribuição desses recursos.
8

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 A função do Estado na garantia do direito a cultura

O Estado tem por função primordial, proteger e promover a diversidade cultural


dentro de seu território, reconhecendo e apoiando as expressões culturais das diferentes
comunidades e grupos étnicos, religiosos e sociais, trabalhando para garantir que todos
os cidadãos tenham igualdade de acesso à cultura. Isso pode incluir a criação de
bibliotecas, museus, centros culturais e a promoção de eventos culturais acessíveis a
todos (Costa e Rocha, 2013).
Há de se destacar que é inexistente a posibilidade de distinguir o direito a cultura
dos Direitos Humanos, pois a cultura esta baseada na forma que o ser humano tem de
demonstrar ao mundo a necessidade em se expressar, comunicar-se e transmitir
conhecimentos, seja por meio de suas raízes ou ate mesmo através de seus proprios
valores, algo que pode agregar numa sociedade, mesmo que seja de forma individual,
trazendo assim, futuramente uma perspectiva coletiva a respeito da importancia das
manifestações culturais na sociedade, isso pode ser interpretado através do art. 27 da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, que versa que:

“todo ser humano tem o direito de participar livremente


da vida cultural da comunidade, de fruir das artes e de
participar do progresso científico e de seus benefícios”
(Declaração Universal dos Direitos Humanos, Adotada
e proclamada pela Assembléia Geral das Nações Unidas
- resolução 217 A III - em 10 de dezembro 1948).

E para que haja a garantia desses direitos, o Estado, através de seus


representantes, eleitos democraticamente, mediante processo eleitoral, tem como
atribuições através de suas câmaras Legislativas, a criação de leis que garantam e
assegurem efetivamente, o direito de cultura a todo e qualquer cidadão, seja ele
brasileiro nato ou naturalizado.
É expressamente previsto na constituição da republica de 1988, devidamente
elencada no rol das garantias dos direitos fundamentais no seu:

Art. 215. Que o Estado garantirá a todos o pleno exercício


dos direitos culturais e acesso às fontes a cultura nacional, e
apoiará e incentivará a valorização e a difusão das
manifestações culturais.

§ 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas


populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros
grupos participantes do processo civilizatório nacional.
9

2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de


alta significação para os diferentes segmentos étnicos
nacionais.

3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de


duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do
País e à integração das ações do poder público que
conduzem à:

I defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;


II produção, promoção e difusão de bens culturais;
III formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura
em suas múltiplasdimensões;
IV democratização do acesso aos bens de cultura;
V valorização da diversidade étnica e regional.

Ainda de acordo com a seção especifica da constituição, no seu:

Art. 216, Constituição Federal:


I-as formas de expressão;
II-os modos de criar, fazer e viver;
III- as criações artísticas, científicas e tecnológicas;
IV- as obras, objetos, documentos, edificações e demais
espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V- “os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,
paisagístico, artístico, arqueológico, ecológico e científico.”
Constituição Federal (Texto promulgado em 05/10/1988).
Tendo como base principal para garantia dos direitos das pessoas, a constituição
serve de bússola para que haja a plena efetivação da garantia do direito a cultura, que
esta assegurada no rol de direitos fundamentais, ela estimula e exige que adotadote-se a
prática de posturas positivas por parte do Estado em prol da efetivação e universalização
da garantia dos direitos.
Consta que a constituição de 1891 que foi a primeira da República, de certa
forma é tida como a mais assertiva e categórica da história do Brasil, no que confere e
estabelece a garantia das liberdades religiosas e na exclusão da interferência religiosa
em questões públicas (Brasil, 1926).
Aponta-se que as constituições subsequentes reincorporaram alguns desses
valores de cooperação com as religiões, trazendo à tona a necessidade de enfatizar que o
Estado é laíco, uma vez que não oferece perigo de entrelaçar assuntos que sejam de
cunho exclusivo da politica, com assuntos que sejam de intereses religiosos, ou seja,
sem que os dois se misturem, o que faz com que o Estado não adote nenhuma religião
como principal, o que traz maior efetividade na proteção do direito de manifestação de
todas elas sem fazer qualquer distinção ou juizo de valor, dessa forma deve ser com a
cultura, pois todo e qualquer cidadão tem o direito de manifestar-se através de sua arte,
desempenhando um papel de relevancia na sociedade (Brasil, 1926).
10

2.2 Conceituando Cultura

A cultura frequentemente se manifesta na forma de expressão artística, incluindo


música, dança, literatura, pintura, escultura e outras formas de criatividade, a cultura
desempenha um papel central na construção da identidade das pessoas e grupos, ela
fornece e atribui um senso de pertencimento e identidade para os membros de
determinada comunidade cultural. Os valores e garantias dos direitos culturais se
enquadram sob a mesma dogmática dos direitos humanos a fim de se fortificarem nas
próprias garantias, assim, os direitos se concretizam sob o olhar da dignidade da pessoa
humana, "ampliando os direitos humanos" (TEIXEIRA COELHO, 2011, p. 31).

A cultura não é estática, ela está atribuída no contexto em que se deriva através de
um direito fundamental de segundo plano, está sujeito à mudanças ao longo do tempo,
seja devido à influências externas, desenvolvimento tecnológico ou mudanças nas
atitudes e valores, pode-se observar que a cultura está de certa forma interligada ao
comportamento de cada ser humano, conectada com cada comunidade, com aspectos
individuais que os liga coletivamente, e que de certa forma acaba por organizar o
convívio social e influencia em padrões relativamente aceitáveis de como o individuo
deve se comportar em sociedade, conforme descreveu (SANTOS, 1996)

O estudo da cultura exige que consideremos a


transformação constante porque passam as sociedades, uma
transformação de suas características e das relações entre
categorias, grupos e classes sociais no seu interior. [...]
Cultura é uma dimensão do processo social, da vida em
sociedade (SANTOS, 1996).

Em decorrência do contexto histórico, torna-se importante enfatizar que a cultura


só passou a participar da constituição, a partir do momento em que os criadores dos
textos constitucionais (Assembleia constituinte) abriram um título especial para as teses
de ordem: econômica, social, educacional e cultural. Primeiro com a Constituição
Mexicana de 1917 que garantia principalmente as liberdades individuais das pessoas e
segundo com a Constituição de Weimar em 1919, o seu sistema passou de Monarquia
para a instauração de uma democracia representativa sob a forma de parlamento, esta
última exerceu uma influência maior sobre as Cartas Políticas produzidas entre as duas
Grandes Guerras Mundiais (SILVA, 2001).
11

2.3 A Lei Rouanet e seu Funcionamento


A Lei de nº 8.313/1991, devidamente identificada como Lei Rouanet, criada
durante o governo de Collor, é o ato normativo federal que tem por objetivo fomentar a
cultura e os movimentos artísticos no país, incentivando a produção cultural e o acesso
da população a eventos culturais. Ela foi criada pelo então Ministro da Cultura a época,
Sérgio Paulo Rouanet, e sancionada pelo presidente à época, José Sarney em 1991,
dessa forma, o nome - Lei Rouanet - é uma referência ao seu idealizador e possuía como
um dos principais pontos: o estabelecimento do Programa Nacional de Apoio a Cultura
– PRONAC (ALMEIDA, 2009).

Descrição dos artigos 1º e 2º da lei 8.313/91:


Art. 1° - Fica instituído o Programa Nacional de Apoio à Cultura
(Pronac), com a finalidade de captar e canalizar recursos para o
setor de modo a:
I - contribuir para facilitar, a todos, os meios para o livre acesso às
fontes da cultura e o pleno exercício dos direitos culturais;
II - promover e estimular a regionalização da produção cultural e
artística brasileira, com valorização de recursos humanos e
conteúdos locais;
III - apoiar, valorizar e difundir o conjunto das manifestações
culturais e seus respectivos criadores;
IV - proteger as expressões culturais dos grupos formadores da
sociedade brasileira e responsáveis pelo pluralismo da cultura
nacional;
V - salvaguardar a sobrevivência e o florescimento dos modos de
criar, fazer e viver da sociedade brasileira;
VI - preservar os bens materiais e imateriais do patrimônio cultural
e histórico brasileiro;
VII - desenvolver a consciência internacional e o respeito aos
valores culturais de outros povos ou nações;
VIII - estimular a produção e difusão de bens culturais de valor
universal,
formadores e informadores de conhecimento, cultura e memória;
IX - priorizar o produto cultural originário do País.

Art. 2° - O Pronac será implementado através dos seguintes


mecanismos:
I - Fundo Nacional da Cultura (FNC);
II - Fundos de Investimento Cultural e Artístico (Ficart);
III - Incentivo a projetos culturais.
12

De maneira sucinta, presume-se que a Lei Rouanet possibilita que o contribuinte


destine parte do seu Imposto de Renda, independente se é pessoa fisica ou jurídica,
direcionando o mesmo para um determinado projeto ou fundo cultural (CUNHA
FILHO, 2006).
A metodologia pode ser formulada em duas fases:
Na fase inicial, “pessoas Físicas ou Jurídicas (que
desenvolvem atividades artisticas) apresentam seus projetos
[...] ao Ministério da Cultura. A essas pessoas, a lei dá o
nome de proponentes [...]. Aos projetos que são aprovados,
publicam-se seus dados no Diário Oficial da União, desta
forma se encerra a chamada 1º fase do projeto.”
(ALMEIDA; FERREIRA, 2009).
Enquanto que, na fase posterior, o orgão do ministerio não
influencia no poder de decisão, desta forma, essa fase sera
estabelecida como o momento no qual os proponentes
(geralmente com auxílio dos gestores culturais) apresentam
seus projetos às empresas que possam ter algum interesse
em financiá-los. Essa fase [...] é onde o projeto conseguirá
ou não as verbas públicas necessárias para a sua realização”
(ALMEIDA; FERREIRA, 2009, p.128).
Diante de tudo que foi especificado, se numa evetual situação, determinada
empresa ou pessoa física estiver interessada no projeto do artista, a mesma fará o
repasse do valor integralmente ou de forma parcial para a conta de quem fez a
proposição do projeto e, em seguida, quem possibilitou o incentivo poderá fazer a
dedução do montante repassado, seja parcial ou integral de seu imposto de renda a ser
recolhido pelo governo.
Os projetos culturais sob a ótica da Lei Rouanet, são avaliados com base em
critérios estabelecidos pelo Ministério da Cultura, levando em consideração aspectos
como: mérito artístico, impacto social e acessibilidade. Em virtude disso, as empresas
ou pessoas jurídicas poderão deduzir até 4% do imposto devido (Minc, 2016) e pessoas
físicas até 6% (Brasil, 1991).
Contudo, vale destacar que a Lei Rouanet não foi a primeira normatização federal
de incentivos fiscais à cultura. Pois, antes mesmo dela existir, ja vigorava a Lei nº.
7.505/86, devidamente tipificada como “Lei Sarney”, embora, ambas funcionem sob a
mesma dogmática de que a sua acessibilidade ocorre através da captação de recursos, ou
deduções fiscais, em virtude da dependência do setor privado e sistema de abatimento
do imposto de renda, ainda assim, entende-se que a Lei Rouanet é considerada a
principal financiadora de cultura no Brasil, sendo um importante mecanismo para
prover recursos para projetos culturais realizados no contexto social (Kadletz, 2018).
13

2.4 Criticas a Lei Rouanet


A legislação sobre a lei rouanet é determinantemente subentendida no seu sentido
amplo e não faz uma distinção precisa entre seus possíveis beneficiários, observando
apenas, na maioria das vezes, características potencialmente relevantes do autor, como
sua notoriedade, fama e engajamento no meio artístico, estabelecendo apenas a
condição de interesse da empresa contribuinte no projeto, isso resulta em uma das
principais controvérsias da norma.
A falta de critérios distintivos permite que artistas consagrados, que já possuem
recursos suficientes para investir em obras culturais, recebam quantias exorbitantes para
financiar seus próprios interesses. Esses valores poderiam ser direcionados para novos
projetos culturais, originados de artistas ainda desconhecidos e de certa forma, menos
favorecidos.
Existem casos emblemáticos de direcionamento inadequado de recursos
repassados. Em 2013, a cantora Claudia Leitte, por meio de sua produtora “CIEL
LTDA”, obteve a quantia de quase 5,8 milhões de reais utilizando-se da lei rouanet, que
seria destinado a financiar uma turnê composta por 12 apresentações nas regiões norte,
nordeste e centro-oeste. Entretanto, surgiram várias críticas quanto à utilização efetiva
desses fundos. Em consequencia das expeculações, houve uma severa redução no valor
da captação, passando de quse 5,8 milhões, para o montante de 1,2 milhões de reais
(O GLOBO, 2016).
Tambem no ano anterior, o festival de música Rock in Rio oteve a captação de
mais de R$ 2 milhões em 2015, dados disponibilizados por meio do sistema Salicnet.
Em 2005, o espetáculo canadense Cirque Du Soleil, foi aprovado para receber R$
9,4 milhões em recursos. recebendo apoio de empresas como Gol e Bradesco e mais a
seguir, solicitaram os descontos ao governo. O valor foi utilizado e quem foi assistir na
época teve que pagar um valor muito caro no ingresso.
Uma pesquisa revelou que, considerando o acumulado deste ano de 2023, a
estimativa é que a soma de quase 2 mil projetos obtiveram um montante total de mais de
R$ 815 milhões de reais. As iniciativas de projetos apresentados provenientes da região
Sudeste arrecadaram mais de R$ 570 milhões desse total, correspondendo a mais de
69,94%, enquanto aquelas da região Sul alcançaram R$ 158 milhões, representando
aproximadamente 19,39%. Paralelamente, o Nordeste contribuiu com quase R$ 47
milhões, equivalendo a aproximadamente 5,77%. Em seguida, a região Norte registrou
uma arrecadação de quase R$ 22,5 milhões, correspondendo a 2,76%, e, por fim, o
Centro-Oeste, com uma captação de pouco mais de R$ 17,6 milhão, representando
2,17%(Minc Salicnet, 2023).
14

Embora a Lei Rouanet seja uma importante ferramenta de fomento à cultura no


Brasil, ao longo dos anos, como demonstrado nesse artigo, ela também tem sido objeto
de debate e críticas quanto à sua eficácia e transparência. Em resposta a essas
preocupações, o governo brasileiro vem tentando realizar adaptações e ajustes na lei ao
longo do tempo, para aprimorar seu funcionamento e garantir uma distribuição mais
equitativa dos recursos destinados à cultura, visando à desconcentração dos recursos em
determinadas regiões.
Contudo, apesar da troca na liderança em 2023, com a cantora e compositora
Margareth Menezes à frente do Ministério da Cultura, persiste o desafio histórico de
reduzir a concentração significativa de recursos da Lei Rouanet, principalmente na
região Sudeste, a mais desenvolvida e populosa do país. Uma análise realizada mostra
que dos quase 2.000 mil projetos aprovados neste ano de 2023 e que já obtiveram
financiamento, revela que mais de 69,94% desses projetos foram direcionados para a
região Sudeste, totalizando mais de 900 captalizações por meio da lei rouanet, isso é
demonstrado por meio de dados do ministerio da Cultura (Salicnet, 2023).
O gráfico abaixo adaptado com dados disponibilizados atráves do sistema do
ministerio da cultura (Salicnet), da ênfase e veracidade a esses numeros.
Figura 1; Disponível em http://sistemas.cultura.gov.br/tmp/sc_2023ComparativoCaptacaoAnoRegiao

VALOR DA CAPTAÇÃO DE RECURSOS


NO ANO DE 2023 DETALHADO POR REGIÃO
17.677.346,58
46.657.559,26 22.448.340,74

Centro oeste
Nordeste
Norte
815.405.498,48 570.526.553,92
Sudeste
Sul
Total Geral

158.095.698,92

Gráfico Adaptado pelo autor do ártigo, conforme dados disponibilizados pelo sistema (Salicnet), do
Ministerio da Cultura.

Em decorrencia do estudo realizado, pode-se deduzir que a região Sudeste,


principamelte no eixo Rio-SP aparece não somente com o maior número de projetos
aprovados, mas também com os maiores valores captados através da lei rouanet, o que
demonstra um total despreparo do Estado em garantir a efetividade quanto à
disponibilização de recursos da cultura para todos, como de fato deveria ser.
15

Diante de todo o exposto, torna-se necessario enfatizar que o governo, desde a


criação da Lei rouanet, vem tentando desconcentrar sem sucesso, recursos obtidos
atraves da lei rouanet da região sudeste, que é o maior captalizador de apoio financeiro
desde a criação do programa de incentivo a cultura, devido a enorme gama de projetos
apresentados, o que torna a disputa por apoio cultural cada vez mais injusta, uma vez
que o atual modelo de captação por meio de deduções fiscais deixa uma enorme falha e
acaba por manter a desigualdade entre artistas que não possuem visual midiatico forte,
frente a artistas renomados e com alto grau de influencia no meio artistico.
Ademais, demonstra-se que o atual modelo de captção visa, por parte de seus
incentivadores, o lucro midiatico como objetivo principal da lei, por isso algumas
empresas e outros incentivadores concentram os recursos em projetos mais lucrativos,
essa falha na lei fez com que o projeto nº 6.772/2010, chamado de Procultura, tentasse
trazer um novo modelo de financiamento federal à cultura e mudanças substanciais no
mecanismo de incentivo cultural por meio de renúncia fiscal, estabelecendo
mecanismos de regionalização dos recursos, porem, ela ainda depende de aval do
senado federal, sem previsão de normatização.
16

3 CONCLUSÃO

O presente artigo apresenta inicialmente, uma visão abrangente e crítica sobre a


função do Estado na garantia do direito à cultura, abordando aspectos legais e práticos,
como a legislação em vigor, em especial a Lei Rouanet, que foi o principal objeto de
estudo.
Destacou-se a importância do Estado na promoção da diversidade cultural,
reconhecendo e apoiando expressões culturais de diferentes comunidades e grupos
sociais, não fazendo distinção entre os povos, mantendo assim, o status de neutralidade
diante dos direitos garantidos pela constituição a respeito da cultura.
A integração entre o direito à cultura e os direitos humanos é enfatizada,
ressaltando a liberdade de participação na vida cultural da comunidade, conforme
estabelecido na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
A Constituição Federal de 1988 é citada como base para a garantia dos direitos
culturais, enfatizando a proteção e promoção das manifestações culturais, incluindo
grupos étnicos e regionais.
A pesquisa aborda ainda, a Lei Rouanet como uma espécie de mecanismo de
fomento à cultura, que parte da premissa de que, pessoas físicas e jurídicas destinem
parte do imposto de renda a projetos culturais, contribuindo para o acesso à cultura e
produção de eventos artísticos.
Entretanto, são apontadas críticas à aplicação da Lei Rouanet, o que deveria ser a
principal forma de ingresso ao direito a cultura no brasil, acaba por tornar-se um
problema social, ressaltando a falta de critérios distintivos na distribuição de recursos, o
que permite que artistas já consagrados recebam valores elevados em detrimento de
novos projetos e artistas menos conhecidos.
A concentração expressiva de recursos na região Sudeste do Brasil é evidenciada,
revelando uma disparidade na distribuição de apoio financeiro por meio da lei, o que
desafia a efetividade do acesso igualitário à cultura em todo o país.
Por fim, são apontadas tentativas de reformulação, como o Projeto de Lei nº
6.772/2010, que propõe um novo modelo de financiamento federal à cultura e mudanças
substanciais no sistema de incentivo cultural por meio de renúncia fiscal, visando à
regionalização dos recursos. O texto apresenta uma análise crítica e reflexiva sobre a
garantia do direito à cultura, destacando desafios e oportunidades para aprimorar a
distribuição e efetividade dos recursos culturais no país.
Em virtude dos fatos mencionados, o artigo oferece uma análise profunda sobre a
função do Estado na garantia do direito à cultura, abordando tanto aspectos legais
17

quanto práticos, especialmente em relação à Lei Rouanet, um importante instrumento de


fomento cultural no Brasil.
Destacou-se a responsabilidade estatal em proteger e promover a diversidade
cultural, reconhecendo as diferentes expressões culturais de comunidades e grupos
étnicos, assim como a integração intrínseca entre o direito à cultura e os direitos
humanos, como expresso na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
A Constituição Federal de 1988 foi citada como alicerce para garantir os direitos
culturais, ressaltando a importância de proteger e promover as manifestações culturais,
incluindo grupos étnicos e regionais, e reforçando a obrigação do Estado em viabilizar o
acesso à cultura para todos os cidadãos.
Entretanto, críticas pertinentes foram levantadas em relação à aplicação da Lei
Rouanet, especialmente quanto à distribuição de recursos, apontando falhas na seleção
de projetos e na concentração expressiva de investimentos na região Sudeste do Brasil,
o que compromete a equidade no acesso à cultura em todo o país.
A busca por reformulações e por um sistema mais equitativo, como proposto pelo
Projeto de Lei nº 6.772/2010, evidencia a necessidade de aprimoramento no processo de
fomento cultural, visando uma distribuição mais justa e eficaz dos recursos para
fortalecer a diversidade cultural em todas as regiões do país.
Assim, a conclusão reforça a importância de revisões contínuas e ajustes no
sistema de incentivo cultural, buscando garantir que a legislação cumpra de maneira
mais efetiva o propósito de democratizar o acesso à cultura e promover a pluralidade
cultural em todo o território nacional.
18

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Saulo Nunes de Carvalho. Reflexões sobre a nova lei de incentivo à


Cultura, Disponivel em http://www.Publicadireito.com.br/conpedi
/manaus/arquivos/anais/brasilia/08_536.Acesso em: 13 out. 2023.

ALMEIDA, Saulo Nunes de Carvalho. FERREIRA, Antônia Morgana Coelho.


Reformulação da Lei nº 8.313/91: queda ou ressureição da mais importante política
pública cultural brasileira? Revista de Políticas Públicas, Maranhão, v. 13, n. 1, jan./jun.
2009.

BLOG ARTE EM CURSO. Entendendo os benefícios da Lei Rouanet para os


artistas. Disponível em: Disponível em: https://arteemcurso.com/entenda-os-
beneficios-da- lei-rouanet-para-os-artistas/. . Acesso em: 9 out. 2023.

CAMARA DOS DEPUTADOS. O projeto nº 6.772/2010, chamado de ProCultura.


Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=465486.
Acesso em: 29 out. 2023.

COSTA, L.; ROCHA, R. Muito Barulho Por Nada? Maria Bethânia, a Lei Rouanet
e a mídia brasileira. Disponível em: https://tinyurl.com/2p85amc4. Acesso em: 14 out.
2023.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - AGÊNCIA CÂMARA DE NOTICIAS. Especialistas


defendem descentralização de recursos da Lei Rouanet Fonte: Agência Câmara de
Notícias. Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/559988-especialistas-
defendem-descentralizacao-de-recursos-da-lei-rouanet/. Acesso em: 10 out. 2023.

CUNHA FILHO, Francisco Humberto. O programa nacional de apoio à cultura


como embrião do sistema nacional de cultura. Revista Pensar, Fortaleza, v. 11, fev.
2006.

KADLETZ. Mariana. Cartilha Lei Rouanet (Capacitar). Incentive. 2ed. 2018.


Disponível em: http://capacitar.vc/cartilha-lei-rouanet-2a-ed/. Acesso em: 13 out. 2023.

MINISTÉRIO DA CULTURA. Comparativo de 2023, Captação, Ano e Região.


Disponível em: http://sistemas.cultura.gov.br/salicnet/Salicnet/Salicnet.php#. Acesso
em: 13 out. 2023.
19

NONADA. A Lei Rouanet chega pouco às regiões periféricas e ainda está longe de
atingir descentralização. Disponível em: https://www.nonada.com.br/2023/03/lei-
rouanet-chega-pouco-as-regioes-perifericas-e-ainda-esta-longe-de-atingir-
descentralizacao/. Acesso em: 10 out. 2023.

O GLOBO. Lei Rouanet ainda concentra recursos na região Sudeste. Disponível


em: https://oglobo.globo.com/cultura/noticia/2023/07/16/lei-rouanet- ainda-concentra-
recursos-na-regiao-sudeste.ghtml. Acesso em: 12 out. 2023

PRESIDENCIA DA REPUCLICA, CASA CIVIL. CONSTITUIÇÃO DA


REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL ( DE 24 DE FEVEREIRO
DE 1891). Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm. Acesso em: 29
out. 2023.

SILVA, J. A. da. Ordenação constitucional da cultural. São Paulo: Malheiros, 2001.

SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. 16ª edição. São Paulo: Brasiliense,
1996.(Coleção Primeiros Passos, n. 110).

STF. A Constituição e o Supremo, CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA


FEDERATIVA DO BRASIL TÍTULO VIII Da Ordem Social CAPÍTULO III Da
Educação, da Cultura e do Desporto Seção II Da Cultura. Disponível em:
https://portal.stf.jus.br/constituicao-supremo/artigo.asp?abrirBase=CF&abrirArtigo=215-
216. Acesso em: 17 out. 2023.

TEIXEIRA COELHO, José. Entrevista com Farida Shaheed, da ONU. Revista


Observatório Itaú Cultural/OIC São Paulo: Itaú Cultural, n. 11 (jan./abr. 2011), p.
31, 2011.

UNICEF BRASIL. Declaração Universal dos Direitos Humanos, Adotada e


proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (resolução 217 A III) em 10
de dezembro 1948. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-
dos-direitos-humanos. Acesso em: 17 out. 2023.

Você também pode gostar