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TRT 18ª Região

noções de direito constitucional


teoria da constituição

Livro Eletrônico
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Teoria da Constituição
Prof. Aragonê Fernandes

SUMÁRIO
1.Eficácia e Aplicabilidade das Normas Constitucionais......................................3
1.1. Normas de Eficácia Plena.......................................................................4
1.2. Normas de Eficácia Contida....................................................................4
1.3. Normas de Eficácia Limitada...................................................................7
1.4. Normas Programáticas......................................................................... 10
1.5. Outras Classificações........................................................................... 11
1.6. Sistematização................................................................................... 12
Questões de Concurso................................................................................ 13
Gabarito................................................................................................... 21
Gabarito Comentado.................................................................................. 22

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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Teoria da Constituição
Prof. Aragonê Fernandes

ARAGONÊ FERNANDES
Atualmente, atua como Juiz de Direito do TJDFT. Contudo, em seu qua-
lificado percurso profissional, já se dedicou a ser Promotor de Justiça do
MPDFT; Assessor de Ministros do STJ; Analista do STF; além de ter sido
aprovado em vários concursos públicos. Leciona Direito Constitucional
em variados cursos preparatórios para concursos.

1.Eficácia e Aplicabilidade das Normas Constitucionais

Quando se fala em teoria da Constituição, dificilmente o edital do concurso deixa


de cobrar a eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais.
O tema é recorrente e, na boa, não é lá um bicho papão. O que as Bancas mais
fazem é trocar as bolas, confundindo você nas normas de eficácia contida e na li-
mitada – uma é o contrário da outra!
Ah, mas como o tema é doutrinário, há mais de uma classificação para piorar as
coisas um pouquinho... No entanto, a mais tradicional delas – e também a mais
cobrada (de longe) – é aquela desenvolvida pelo grande Mestre José Afonso
da Silva no ano de 19671.
É por ela que vou começar, trabalhando rapidamente com as variações referidas
pelos professores Maria Helena Diniz2, Michel Temer3 (ele mesmo) e também por
Celso Bastos e Ayres Britto4.
Um alerta importante: na divisão de José Afonso da Silva, existiriam três es-
pécies de norma, a saber, as de eficácia plena; as de eficácia contida e as de
1
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 3ª ed. São Paulo: Malheiros, 1998.
2
DINIZ, Maria Helena. Norma constitucional e seus efeitos. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 1997.
3
TEMER, Michel. Elementos de direito constitucional. 14ª ed. São Paulo: Malheiros, 1998.
4
BASTOS, Celso Ribeiro; BRITTO, Carlos Ayres. Interpretação e aplicabilidade das normas constitucionais. São
Paulo: Saraiva, 1982).
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eficácia limitada. Estas últimas eram desdobradas em limitadas de princípio ins-


titutivo e limitadas de caráter programático.
É, meu amigo, mas seu negócio é fazer prova... então é importante você saber
(o que se confirma olhando o edital) que normalmente as Bancas colocam a
norma programática como fosse uma quarta espécie, desvinculada das limi-
tadas. Pois é mais ou menos assim que a nossa banda vai tocar...

1.1. Normas de Eficácia Plena

A norma de eficácia plena é a mais fácil e (não à toa) é a que menos cai em

provas.

Elas possuem aplicabilidade direta, imediata e integral. São aquelas nor-

mas que, no momento de sua entrada em vigor, já estão aptas a produzir todos

os seus efeitos, não precisando de norma integrativa infraconstitucional.

Os exemplos mais cobrados pelas Bancas são os remédios constitucionais e

a norma que prevê gratuidade de transportes coletivos urbanos aos maiores

de sessenta e cinco anos (art. 230, § 2º). Outros exemplos: art. 2º; 14, § 2º;

17, § 4º; 19; 20; 21; 22; 24; 30 etc.

É também essa a nomenclatura de Maria Helena Diniz.

1.2. Normas de Eficácia Contida

Aqui e nas limitadas seu cuidado vai ser redobrado!


Eu falo sempre nas minhas aulas que as normas contidas nascem plenas até
serem contidas (restringidas). Como assim?
É que elas também possuem aplicabilidade direta e imediata. A diferença
frente às de eficácia plena é que a sua aplicabilidade possivelmente não será

integral.
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Isso porque, embora elas tenham aptidão, desde o nascimento, para pro-

duzir todos os seus efeitos, já que o legislador constituinte regulou suficiente-

mente os interesses relativos àquela matéria, pode haver a restrição posterior,

seja pelo próprio Constituinte, seja pelo legislador ordinário ou ainda por força de

norma supralegal.

Para explicar usando exemplos, vou para o dispositivo mais cobrado (de longe!)

por todas as Bancas: o artigo 5º, inciso XIII, da Constituição diz que “é livre o exer-

cício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissio-

nais que a lei estabelecer”.

Veja que na primeira parte, quando disse ser “livre o exercício de qualquer

trabalho, ofício ou profissão, a norma nasceu plena, com aplicabilidade direta e

imediata. Contudo, depois o dispositivo dá margem para que a lei estabeleça a exi-

gência de qualificações profissionais.

É dentro desse contexto que eu posso entender que qualquer pessoa pode tra-

balhar como atendente numa padaria, num supermercado, num curso preparató-

rio...

Agora eu pergunto a você: qualquer pessoa pode exercer a profissão de médico,

de engenheiro, de dentista, de arquiteto, de advogado?

Não! Para elas, há necessidade de o trabalhador ser graduado na respectiva

área de conhecimento, ter registro no órgão de classe (Conselhos Regionais) e, em

alguns casos, fazer provas seletivas mesmo depois da obtenção do título de bacha-

relado.

É o caso, por exemplo, da Lei n. 8.906/1994 (Estatuto da OAB), que exige a

aprovação no exame da Ordem para que o Bacharel em Direito se torne advoga-

do. Questionada no STF, a exigência foi confirmada como constitucional (STF, RE

603.583).
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Interessante que os autores da ação falavam que não seria necessária a prova

na OAB ao argumento de que para exercer a Medicina o profissional não se sub-

mete a nenhuma prova. Em resposta, o Tribunal disse que errado estava o pessoal

da Medicina, que também deveria prever a realização de provas, que funcionariam

como um filtro para afastar a atuação dos maus profissionais.

Fique atento, pois há um julgado do STF que cai com frequência em provas de

concurso: a Ordem dos Músicos do Brasil (OMB) exigia a inscrição profissional na-

quela entidade para que os músicos exercessem sua profissão.

O Tribunal, por sua vez, pontuou que a regra seria a liberdade e apenas diante

de potencial lesivo da atividade é que pode ser exigida inscrição em conselho de

fiscalização profissional. Com isso, afastou a obrigatoriedade da inscrição na

OMB para o exercício da atividade de músico (STF, RE 414.426).

Já sobre o exercício da profissão de jornalista, não há a necessidade de

o profissional ser formado em jornalismo, bastando que possua formação em

nível superior (STF, RE 511.961).

Avançando, repare que eu falei ali atrás que às vezes a restrição não vem do

legislador ordinário, certo?

Pois é, é por essa razão que o Pacto de São José da Costa Rica restringiu (con-

teve) o alcance do dispositivo constitucional que prevê que “não haverá prisão por

dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de

obrigação alimentícia e a do depositário infiel”.

Como você deve saber, na atualidade, não é possível a prisão do depositário

infiel e do alienante fiduciário (Súmula Vinculante 25). Isso se deve porque a

norma supralegal (o tratado internacional sobre direitos humanos – Pacto de São

José) revogou as leis ordinárias que regulamentavam a prisão civil nesses casos.

Ou seja, nada mudou na Constituição! Assim, é indevido falar que a pri-

são do depositário infiel se tornou inconstitucional, até mesmo porque nós


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não aceitamos a figura das normas constitucionais inconstitucionais (ou inconstitu-

cionalidade de normas originárias).

Toda a discussão girava em torno de ser uma norma contida, tendo o dispositivo

do artigo 5º, inciso LXVII, da Constituição sofrido a restrição (redução, contenção)

por outra norma (STF, HC 94.013).

Outros exemplos: incisos VII, VIII, XV, XXIV, XXV, XXVII, XXXIII do art. 5º; art.

15, IV etc.

As normas de eficácia contida são chamadas de normas com eficácia relativa

restringível pela professora Maria Helena Diniz. Por sua vez, Michel Temer

utiliza a expressão normas de eficácia redutível ou restringível.

1.3. Normas de Eficácia Limitada

Vou falar uma frase que você deve levar como um mantra, ok? Lá vai: a norma

limitada é o contrário da contida!

Se você entender isso vai parar de errar nas provas! Veja:

Você já viu que a norma contida possui aplicabilidade direta e imediata, mas que

pode não ser integral caso haja a restrição (redução, contenção) por outra norma.

Por sua vez, a norma limitada possui aplicabilidade indireta, mediata e

dependente de complementação.

São aquelas que, de imediato, no momento em que a Constituição é promulga-

da, não têm a possibilidade de produzir todos os seus efeitos, precisando

de uma lei integrativa. Ou seja, será necessária a atuação do legislador in-

fraconstitucional.

Note que na eficácia contida a lei posterior viria para restringir, reduzir, conter o
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alcance da norma constitucional. Em sentido oposto, na eficácia limitada a lei vem

para completar, concretizar a vontade do Constituinte.

Vou explicar por meio de exemplos: o artigo 37, inciso VII, da Constituição diz

que “o direito de greve de servidor público será exercido nos termos e nos li-

mites definidos em lei específica”.

Ou seja, ao mesmo tempo em que deu o direito de greve, condicionou o seu

exercício à edição de lei. Enquanto ela (a lei) não fosse promulgada, não poderia o

servidor utilizar desse direito.

Idêntico raciocínio vale para a aposentadoria especial dos servidores pú-

blicos, prevista no artigo 40, § 4º, da Constituição.

Nesse dispositivo se permite que pessoas com deficiência e aqueles que traba-

lham com atividades que traga risco à vida ou que prejudique a saúde sejam bene-

ficiados por regras diferenciadas “nos termos definidos em leis complementares”.

Abrindo um parêntese, embora não tenham sido editadas as leis regulamentan-

do a greve no serviço público ou a aposentadoria especial para algumas atividades

(exemplo: lidar com aparelhos de Raio X), o STF, ao julgar mandados de injunção,

acabou permitindo que os servidores usassem leis específicas voltadas aos traba-

lhadores da iniciativa privada (STF, MI 608 e SV 33).

Outro exemplo frequente em provas quando o assunto é norma de eficácia li-

mitada está no artigo 7º, XI, que trata da possibilidade de os trabalhadores terem

direito à participação nos lucros da empresa.

Ah, o cabimento do mandado de injunção está intimamente relacionado

às normas de eficácia limitada, pois o remédio constitucional vem exatamente

para combater a síndrome da inefetividade das normas constitucionais. Dito de

outro modo, na falta da norma regulamentadora, o particular acaba recorrendo à

Justiça, como forma de concretizar o exercício do direito garantido da Constituição.

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Outra coisa para lá de importante: é INCORRETO dizer que as normas de

eficácia limitada, sem o complemento legislativo, não produzem nenhum

efeito!

Explico: mesmo sem a edição da lei regulamentadora, as normas limita-

das possuem eficácia jurídica imediata. Isso significa que elas contam com a

chamada eficácia mínima ou efeito paralisante e também o efeito revogador.

Trocando em miúdos, desde a promulgação da Constituição (e, repito, sem o

complemento do legislador ordinário), elas impedem que leis inviabilizem direitos

previstos na Constituição (eficácia paralisante) e revogam normas que sejam con-

trárias a seu texto (efeito revogador).

Vou exemplificar: considerando que o artigo 37, VII, da Constituição prevê o

direito de greve aos servidores públicos, seria inconstitucional uma lei editada hoje

dizendo que os servidores públicos em geral não teriam direito de fazer greve (efi-

cácia paralisante).

Por outro lado, uma lei editada no ano de 1985 que proibisse a aposentadoria

especial para servidores públicos que trabalham em atividades que prejudiquem a

saúde não terá sido recepcionada (revogação por ausência de recepção) pela nova

ordem constitucional, especialmente diante do direito assegurado no artigo 40, § 4º.

Maria Helena Diniz chama as normas limitadas de normas com eficácia relati-

va complementável ou dependente de complementação legislativa.

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1.4. Normas Programáticas

Antes de entrar em cada uma das espécies de normas, eu avisei que na obra do

Professor José Afonso da Silva ele fazia um desdobramento dentro das limitadas,

falando em limitadas de princípio institutivo e em limitadas de caráter programático.

Eu faço esse alerta, porque no item aí de cima eu tratei das limitadas de prin-

cípio institutivo, chamando-as simplesmente de limitadas. Agora, as limitadas de

caráter programático serão referidas puramente como programáticas.

Seja como for, você não pode esquecer que as limitadas (de princípio institutivo

ou de caráter programático) contam com aplicabilidade indireta, mediata e depen-

dente de complementação.

Dentro desse cenário, repiso que as normas programáticas possuem aplicação

diferida, e não aplicação ou execução imediata. Mais do que comandos-regras, elas

trazem comandos-valores.

Um ponto importantíssimo que as diferencia das demais: as programáticas

têm como destinatário principal o legislador, que deverá fazer a ponderação

do tempo e dos meios em que vêm a ser revestidas de plena eficácia.

Para facilitar as coisas, elas veiculam programas de governo, daí o nome

de programáticas.

Outra coisa: embora se diga que os cidadãos não podem invocá-las imediata-

mente após a entrada em vigor da Constituição, essas normas também não podem

ser encaradas como uma “promessa vazia e inconsequente do Constituinte”.

Essa afirmação conduz à necessidade de o Estado buscar esforços para concre-

tizar o texto da Constituição, que não poderia ser simplesmente ignorado com o

pretexto de limitações financeiras (teoria da reserva do possível).


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Veja alguns exemplos de normas limitadas: artigos 3º (objetivos da RFB);

4º (princípios nas relações internacionais); 6º (direitos sociais); 196 (direito à

saúde); e 205 (direito à educação).

1.5. Outras Classificações

Ao longo das classificações desenvolvidas pelo Professor José Afonso da Silva,

eu pontuei as nomenclaturas utilizadas para as mesmas espécies por Maria Helena

Diniz e por Michel Temer.

Contudo, é bom lembrar a existência de outra espécie de norma, segundo a

visão de Maria Helena Diniz.

Vez por outra, as provas de concursos fazem referência às normas de eficácia

absoluta ou supereficazes.

Segundo a professora, essas normas são aquelas que não poderiam ser

modificadas por meio de emenda e que possuiriam força paralisante total de

qualquer legislação que, explícita ou implicitamente, vier a contrariá-las. Ela

cita como exemplo as cláusulas pétreas (artigo 60, § 4º, da Constituição).

Avançando, os juristas Celso Bastos e Ayres Britto usam uma divisão bas-

tante peculiar: eles distinguem as normas de aplicação das normas de inte-

gração.

As normas de aplicação já estão aptas a produzir todos os seus efeitos,

dispensando regulamentação ou até mesmo permitindo-a, mas sem qualquer res-

trição do conteúdo constitucional.

Por outro lado, as normas de integração contam com a atuação do legisla-

dor infraconstitucional, que pode vir para completá-las ou para restringi-las.

Sem muito malabarismo, dá para traçar um paralelo entre a classificação dos

dois autores com aquela desenvolvida por José Afonso da Silva.


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É que as normas de aplicação se aproximam das normas de eficácia plena,

enquanto as normas de integração seriam semelhantes às normas de eficácia

contida (quando viessem para restringir) ou de eficácia limitada (quando a atu-

ação fosse para completá-las).

1.6. Sistematização

Nesses muitos anos dando aulas, percebi a grande dificuldade dos alunos na

identificação da norma constitucional. Em regra, a confusão existe principalmente

entre as normas de eficácia contida e as de eficácia limitada.

Pensando nisso, vou usar o seguinte quadro, com o intuito de tornar menos ár-

dua a resolução das provas:

Classificação Características Fórmula identificadora


Eficácia Plena Aplicabilidade direta, imediata Desde a promulgação da CF pode pro-
e integral duzir todos os seus efeitos.
Nasce valendo 100% e não são restringidas
 100%
Eficácia Contida Aplicabilidade direta, imediata, Desde a promulgação da CF pode pro-
mas possivelmente não inte- duzir todos os seus efeitos.
gral Entretanto, norma posterior pode dimi-
nuir (restringir, conter) sua aplicação:
Nasce valendo 100% (-) lei = 50%
Eficácia Limitada Aplicabilidade indireta, mediata Na promulgação da CF, ainda não pode
e dependente de complemen- produzir todos os seus efeitos.
tação Será necessária a elaboração de lei
regulamentadora:
Nasce valendo 50% + lei = 100%
Normas programáticas Aplicabilidade indireta, mediata São as que veiculam programas de
e dependente de complemen- governo, sendo dirigidas aos gover-
tação nantes.

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GABARITO COMENTADO

Eficácia e Aplicabilidade das Normas Constitucionais

1. (CLDF/CONSULTOR LEGISLATIVO/2018) Ao discorrer sobre o direito de resposta

assegurado na Constituição Federal vigente, em voto proferido em sede de argui-

ção de descumprimento de preceito fundamental, determinado Ministro do Supre-

mo Tribunal Federal asseverou que o art. 5º, inciso V, da Constituição brasileira,

ao prever o direito de resposta, qualifica-se como regra impregnada de suficiente

densidade normativa, revestida, por isso mesmo, de aplicabilidade imediata, a tor-

nar desnecessária, para efeito de sua pronta incidência, a interpositio legislatoris,

o que dispensa, por isso mesmo, ainda que não se lhe vede, a intervenção concre-

tizadora do legislador comum.

Nesse trecho, evidencia-se que, quanto à capacidade de produção de efeitos, a nor-

ma que assegura o direito de resposta possui eficácia

a) plena, característica esta inerente a todas as normas definidoras de direitos e

garantias fundamentais.

b) contida, característica esta inerente a todas as normas definidoras de direitos e

garantias fundamentais.

c) plena, característica esta de que não dispõem as normas constitucionais de

eficácia contida, as quais exigem a atuação ou elaboração de normativa infracons-

titucional para produção de efeitos desejados, ainda que se trate de normas defini-

doras de direitos e garantias fundamentais.

d) contida, característica esta de que não dispõem as normas constitucionais de

eficácia limitada, as quais exigem a atuação ou elaboração de normativa infracons-

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titucional para produção de efeitos desejados, ainda que se trate de normas defini-

doras de direitos e garantias fundamentais.

e) plena, característica esta de que não dispõem as normas constitucionais de

eficácia limitada, as quais exigem a atuação ou elaboração de normativa infracons-

titucional para produção de efeitos desejados, ainda que se trate de normas defini-

doras de direitos e garantias fundamentais.

Letra e.

Na divisão da aplicabilidade das normas constitucionais de José Afonso da Silva,

existiriam três espécies de norma, a saber: as de eficácia plena, as de eficácia

contida e as de eficácia limitada. Estas últimas eram desdobradas em limitadas de

princípio institutivo e limitadas de caráter programático.

As normas de eficácia plena possuem aplicabilidade direta, imediata e integral. São

aquelas normas que, no momento de sua entrada em vigor, já estão aptas a produ-

zir todos os seus efeitos, não precisando de norma integrativa infraconstitucional.

Por sua vez, as normas de eficácia contida também possuem aplicabilidade direta

e imediata. A diferença frente às de eficácia plena é que a sua aplicabilidade pos-

sivelmente não será integral. Isso porque, embora elas tenham aptidão, desde o

nascimento, para produzir todos os seus efeitos, já que o legislador constituinte re-

gulou suficientemente os interesses relativos àquela matéria, pode haver a restri-

ção posterior, seja pelo próprio Constituinte, seja pelo legislador ordinário ou ainda

por força de norma supralegal.

Já a norma limitada possui aplicabilidade indireta, mediata e dependente de com-

plementação. São aquelas que, de imediato, no momento em que a Constituição é

promulgada, não têm a possibilidade de produzir todos os seus efeitos, precisando

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de uma lei integrativa. Ou seja, será necessária a atuação do legislador infracons-

titucional.

Dito isso, podemos concluir que o direito de resposta se trata de uma norma de

eficácia plena, já que já produz todos seus efeitos imediatamente, tornando a letra

E gabarito da questão.

2. (CLDF/CONSULTOR LEGISLATIVO/2018) Considere as seguintes normas consti-

tucionais:

1ª norma:

Art. 5º

XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qua-

lificações profissionais que a lei estabelecer;

2ª norma:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem

à melhoria de sua condição social:

XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, ex-

cepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei;

3ª norma:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,

dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legali-

dade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

VII – o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei es-

pecífica;

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Considerando a classificação das normas constitucionais, quanto à sua eficácia,

em normas de eficácia plena, contida e limitada, os dispositivos acima transcritos

constituem exemplos, respectivamente, de normas de eficácia

a) contida − limitada − limitada.

b) contida − contida − limitada.

c) limitada − contida − contida.

d) plena − contida − contida.

e) plena − limitada − limitada.

Letra a.

Vou direto ao ponto, ok?

Podemos perceber que a norma 1 será de eficácia contida, pois pode lei estabelecer

restrições ao exercício profissional, como, por exemplo, ter registro no órgão de

classe. É o que acontece com a exigência de registro na OAB, além do diploma de

bacharel em Direito, requisitos previstos na Lei n. 8.906/1994, que é o Estatuto da

OAB. Ah, para o exercício da atividade de músico, entende o STF que não é neces-

sário o registro na OMB – Ordem dos Músicos do Brasil.

Por outro lado, nos casos 2 e 3 temos normas constitucionais de eficácia limitada,

pois os preceitos nelas contidos não têm a possibilidade de produzir todos os seus

efeitos, necessitando de uma integração legislativa para que isso aconteça.

Portanto, a letra A é o gabarito da questão.

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3. (MPE-PB/PROMOTOR DE JUSTIÇA/2018) Normas constitucionais de eficácia

limitada

a) não servem como parâmetro de inconstitucionalidade.


b) implicam a não recepção da legislação infraconstitucional anterior com elas in-
compatível.
c) orientam, mas não condicionam a produção do legislador infraconstitucional.
d) são indiferentes à configuração de eventual inconstitucionalidade por omissão.
e) admitem disciplina em sentido diverso do que apontam, por meio de lei com-
plementar.

Letra b.
A norma de eficácia limitada possui aplicabilidade indireta, mediata e dependente
de complementação. São aquelas que, de imediato, no momento em que a Cons-
tituição é promulgada, não têm a possibilidade de produzir todos os seus efeitos,
precisando de uma lei integrativa.
Ou seja, será necessária a atuação do legislador infraconstitucional. Note que na
eficácia contida a lei posterior viria para restringir, reduzir, conter o alcance da nor-
ma constitucional.
Em sentido oposto, na eficácia limitada a lei vem para completar, concretizar a von-
tade do Constituinte. É importante saber que o cabimento do mandado de injunção
está intimamente relacionado às normas de eficácia limitada, pois o remédio cons-
titucional vem exatamente para combater a síndrome da inefetividade das normas
constitucionais.
Dito de outro modo, na falta da norma regulamentadora, o particular acaba re-
correndo à Justiça, como forma de concretizar o exercício do direito garantindo da

Constituição.

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Outra coisa para lá de importante: é INCORRETO dizer que as normas de eficácia

limitada, sem o complemento legislativo, não produzem nenhum efeito!

Explico: mesmo sem a edição da lei regulamentadora, as normas limitadas pos-

suem eficácia jurídica imediata. Isso significa que elas contam com a chamada efi-

cácia mínima ou efeito paralisante e também o efeito revogador.

Trocando em miúdos, desde a promulgação da Constituição (e, repito, sem o com-

plemento do legislador ordinário), elas impedem que leis inviabilizem direitos pre-

vistos na Constituição (eficácia paralisante) e revogam normas que sejam contrá-

rias a seu texto (efeito revogador).

Portanto, letra B correta.

4. (TRT 2ª REGIÃO/TÉCNICO JUDICIÁRIO/2018) Considerando a classificação das

normas constitucionais quanto à sua aplicabilidade e eficácia,

a) todas as normas de direitos e garantias fundamentais previstas na Constituição

Federal têm eficácia plena, já que são normas de aplicação imediata segundo o

texto constitucional.

b) na ausência de norma regulamentadora de norma constitucional de eficácia

contida poderá ser impetrado habeas data, desde que para assegurar a aplicação

de direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalida-

de, à soberania e à cidadania.

c) caracteriza norma de eficácia limitada aquela segundo a qual o direito de greve

será exercido pelos servidores públicos nos termos e nos limites definidos em lei

específica.

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d) caracteriza norma programática aquela segundo a qual é livre o exercício de

qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que

a lei estabelecer.

e) na ausência de norma regulamentadora que torne inviável o exercício dos direi-

tos previstos em normas constitucionais de eficácia limitada, poderá ser impetrado

mandado de segurança.

Letra c.

Vamos primeiro ver as alternativas incorretas. A letra A está errada, pois nem

todas as normas e garantias fundamentais têm eficácia plena, já que algumas nor-

mas têm eficácia contida e outras eficácia limitada.

As letras B e E também estão erradas, pois, no caso de falta de norma regulamen-

tadora, o remédio necessário será o Mandado de Injunção, já que este serve exa-

tamente para combater a síndrome da inefetividade das normas constitucionais.

Além disso, o MI é usado geralmente nas normas limitadas, e não nas contidas.

Igualmente errada a letra D, na medida em que a norma que garante a liberdade

de profissão se trata de norma de eficácia contida, não programática.

Assim, nos resta letra C como correta, pois de fato o direito de greve dos servido-

res públicos é norma de eficácia limitada, necessitando de norma infraconstitucio-

nal para produzir todos os seus efeitos.

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5. (PROCON-MA/FISCAL/2017) De acordo com uma das classificações das normas

constitucionais quanto à sua aplicabilidade, o preceito constitucional segundo o

qual “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor” contém norma

de eficácia

a) plena, uma vez que as normas definidoras de direitos e garantias fundamentais

têm aplicação imediata, podendo produzir todos os seus efeitos independentemen-

te de edição de lei.

b) plena, uma vez que todos os seus efeitos podem ser produzidos mediante or-

dem judicial proferida em mandado de segurança voltado para suprir a ausência de

norma regulamentadora da Constituição.

c) contida, uma vez que todos os seus efeitos podem ser produzidos independen-

temente de lei que, se editada, pode estabelecer os termos em que o direito cons-

titucional deve ser exercido.

d) limitada, uma vez que depende de edição de lei para que todos os seus efeitos

possam ser produzidos.

e) contida, uma vez que todos os seus efeitos podem ser produzidos mediante

ordem judicial proferida em ação popular, voltada para suprir a ausência de norma

regulamentadora da Constituição.

Letra d.

As normas de eficácia limitada são aquelas que, de imediato, no momento em que

a Constituição é promulgada, não têm a possibilidade de produzir todos os seus

efeitos, precisando de uma lei integrativa.

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Ou seja, será necessária a atuação do legislador infraconstitucional. De acordo

com o texto constitucional: “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do

consumidor”.

Logo, percebe-se a necessidade de lei para produzir os efeitos pretendidos quanto

aos direitos do consumidor, circunstância própria das normas limitadas.

Agora, um lembrete importante: a doutrina costuma destacar que esse dispositivo

(inciso XXXII) seria o único do artigo 5º dotado de eficácia e aplicabilidade limitada.

Os demais constituiriam normas de eficácia plena ou contida. Fica a dica.

Dito isso, a letra D tem a resposta esperada.

6. (TST/JUIZ DO TRABALHO/2017) Em relação a sua eficácia jurídica, as normas

de eficácia contida

a) produzem efeitos plenos na ausência de lei que contenha sua eficácia.

b) são ineficazes na ausência de lei regulamentadora.

c) não são autoaplicáveis.

d) não podem ser restringidas por lei.

e) são ineficazes na ausência de política pública.

Letra a.

Eu falo sempre nas minhas aulas que as normas contidas nascem plenas até serem

contidas (restringidas). Como assim?

É que elas também possuem aplicabilidade direta e imediata. A diferença frente às

de eficácia plena é que a sua aplicabilidade possivelmente não será integral. Isso

porque, embora elas tenham aptidão, desde o nascimento, para produzir todos os

seus efeitos, já que o legislador constituinte regulou suficientemente os interesses

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relativos àquela matéria, pode haver a restrição posterior, seja pelo próprio Consti-

tuinte, seja pelo legislador ordinário ou ainda por força de norma supralegal.

Portanto, a letra A é a resposta correta.

7. (DPE-RS/ANALISTA/2017) É considerada de eficácia limitada, na medida em que

dependente de regulamentação para a produção de efeitos, a norma constitucional

segundo a qual

a) a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.

b) a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.

c) é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as quali-

ficações profissionais que a lei estabelecer.

d) são brasileiros naturalizados os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de

mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente

ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tem-

po, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira.

e) são direitos dos trabalhadores a participação nos lucros, ou resultados, desvin-

culada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa,

conforme definido em lei.

Letra e.

A norma limitada possui aplicabilidade indireta, mediata e dependente de comple-

mentação. São aquelas que, de imediato, no momento em que a Constituição é

promulgada, não têm a possibilidade de produzir todos os seus efeitos, precisando

de uma lei integrativa. Ou seja, será necessária a atuação do legislador infracons-

titucional. Note que na eficácia contida a lei posterior viria para restringir, reduzir,

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conter o alcance da norma constitucional. Em sentido oposto, na eficácia limitada a

lei vem para completar, concretizar a vontade do Constituinte.

Dito isso, a alternativa E trata de um exemplo frequente em provas quando o as-

sunto é norma de eficácia limitada (ao lado do direito de greve e da aposentadoria

especial de servidores públicos), que trata da possibilidade de os trabalhadores

terem direito à participação nos lucros da empresa (artigo 7º, XI).

Portanto, a letra E é o gabarito da questão.

8. (TRE-PR/ANALISTA JUDICIÁRIO/2017) Ao julgar arguição de descumprimento

de preceito fundamental tendo por objeto lei editada anteriormente à entrada em

vigor da Constituição Federal (CF) de 1988, considerada não recepcionada em face

do regime constitucional da liberdade de imprensa, o Supremo Tribunal Federal

consignou que “o direito de resposta, que se manifesta como ação de replicar ou de

retificar matéria publicada, é exercitável por parte daquele que se vê ofendido em

sua honra objetiva, ou então subjetiva, conforme estampado no inciso V do art. 5º

da CF”, segundo o qual é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,

além da indenização por dano material, moral ou à imagem. Nesse sentido, o direi-

to de resposta está consubstanciado em norma constitucional de

a) aplicabilidade imediata e eficácia contida.

b) aplicabilidade imediata e eficácia plena.

c) aplicabilidade mediata e eficácia limitada.

d) princípio programático.

e) princípio institutivo.

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Letra b.

As normas de eficácia plena possuem aplicabilidade direta, imediata e integral.

São aquelas normas que, no momento de sua entrada em vigor, já estão aptas a

produzir todos os seus efeitos, não precisando de norma integrativa infraconstitu-

cional. Os exemplos mais cobrados pelas Bancas são os remédios constitucionais

e a norma que prevê gratuidade de transportes coletivos urbanos aos maiores de

sessenta e cinco anos (art. 230, § 2º). Outros exemplos: art. 2º; 14, § 2º; 17,

§ 4º; 19; 20; 21; 22; 24; 30 etc. Dentre as normas de eficácia plena está o direito

de resposta, pois este já produz todos seus efeitos não sendo restringido por norma

infraconstitucional.

Uma dica: a doutrina costuma dizer que o artigo 5º tem apenas uma norma de

eficácia limitada, que é a relativa à defesa do consumidor em juízo (inciso XXXII

do artigo 5º). Os outros dispositivos seriam normas de eficácia plena ou contida.

Só com isso você afastaria as letras C, D e E, uma vez que as normas limitadas,

em verdade, são divididas em limitadas de princípio institutivo (normalmente cha-

madas de limitadas pelas Bancas) e limitadas de caráter programático (geralmente

chamadas apenas de programáticas).

Assim, a letra B tem a resposta correta.

9. (TRT 23ª REGIÃO/ANALISTA JUDICIÁRIO/2016) Dispõe o artigo 18, § 2º, da

Constituição Federal: “Os Territórios Federais integram a União, e sua criação,

transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em

lei complementar”.

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De acordo com a classificação de aplicabilidade das normas constitucionais, o art. 18,

§ 2º, da Constituição Federal de 1988 é uma norma de

a) eficácia contida.

b) eficácia plena.

c) princípio programático.

d) princípio institutivo ou organizativo.

e) eficácia controlada.

Letra d.

Repare bem que para que a norma constitucional do artigo 18, § 2º, da Constitui-

ção possa produzir todos os seus efeitos será necessário que a matéria ali tratada

(criação, transformação ou reintegração de Territórios) seja complementada com a

edição de uma lei complementar.


Em outras palavras, o legislador ordinário atuará para completar o sentido da Cons-

tituição, e não para restringi-lo.

Logo, a única resposta cabível é a letra D, que trata da norma limitada de princípio

institutivo ou organizatório ou, simplesmente, norma limitada.

Aproveitando, peço que preste atenção na tabelinha a seguir, criada com o intuito

de tornar a tarefa de identificação da espécie de norma uma tarefa menos árdua:

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Classificação Características Fórmula identificadora


Desde a promulgação da CF/1988 pode
Aplicabilidade direta, produzir todos os seus efeitos.
Eficácia Plena
imediata e integral Nasce valendo 100% e não são
restringidas  100%
Desde a promulgação da CF/1988 pode
Aplicabilidade direta,
produzir todos os seus efeitos.
imediata, mas
Eficácia Contida Entretanto, norma posterior pode diminuir
possivelmente não
(restringir, conter) sua aplicação:
integral
Nasce valendo 100% (-) lei = 50%
Na promulgação da CF/1988, ainda não pode
Aplicabilidade indireta, produzir todos os seus efeitos.
Eficácia Limitada mediata e dependente Será necessária a elaboração de lei
de complementação regulamentadora:
Nasce valendo 50% + lei = 100%
Aplicabilidade indireta,
Normas programá- São as que veiculam programas de governo,
mediata e dependente
ticas sendo dirigidas aos governantes.
de complementação

10. (PREFEITURA DE TERESINA/ANALISTA/2016) O conceito segundo o qual as

normas de aplicação diferida, que explicitam comandos-valores e conferem elasti-

cidade ao ordenamento constitucional e têm como destinatário primacial − embora

não único − o legislador, a cuja opção fica a ponderação do tempo e dos meios em

que vem a ser revestidas de plena eficácia, correspondem a normas

a) programáticas.

b) de eficácia plena e aplicação imediata.

c) de eficácia contida e aplicabilidade imediata.

d) de eficácia plena e aplicação diferida.

e) de eficácia contida e aplicação diferida.

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Letra a.

Na obra do Professor José Afonso da Silva se fazia um desdobramento dentro das

limitadas, falando em limitadas de princípio institutivo e em limitadas de caráter

programático.

Eu faço esse alerta, porque as limitadas de caráter programático, no mais das ve-

zes, serão referidas pelas Bancas Examinadoras puramente como programáticas.

Seja como for, você não pode esquecer que as limitadas (de princípio institutivo

ou de caráter programático) contam com aplicabilidade mediata e dependente de

complementação.

Dentro desse cenário, repiso que as normas programáticas possuem aplicação di-

ferida, e não aplicação ou execução imediata. Mais do que comandos-regras, elas

trazem comandos-valores.

Um ponto importantíssimo que as diferencia das demais: as programáticas têm

como destinatário principal o legislador, que deverá fazer a ponderação do tempo e

dos meios em que vêm a ser revestidas de plena eficácia.

Para facilitar as coisas, elas veiculam programas de governo, daí o nome de pro-

gramáticas.

Outra coisa: embora se diga que os cidadãos não podem invocá-las imediatamente

após a entrada em vigor da Constituição, essas normas também não podem ser

encaradas como uma “promessa vazia e inconsequente do Constituinte”.

Essa afirmação conduz à necessidade de o Estado buscar esforços para concretizar

o texto da Constituição, que não poderia ser simplesmente ignorado com o pretexto

de limitações financeiras (teoria da reserva do possível).

Veja alguns exemplos de normas limitadas: artigos 3º (objetivos da RFB); 4º (prin-

cípios nas relações internacionais); 6º (direitos sociais); 196 (direito à saúde); e

205 (direito à educação).

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Nesse contexto, o conceito apresentado na assertiva diz respeito exatamente às

normas constitucionais de eficácia limitada de princípio programático ou simples-

mente normas programáticas, ficando correta a letra A.

11. (TRT 3ª REGIÃO/ANALISTA JUDICIÁRIO/2015) O dispositivo da chamada “PEC

da Bengala” (Emenda Constitucional n. 88/2015), que prevê que os servidores

públicos em geral, com exceção dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, dos

Tribunais Superiores e Tribunal de Contas da União, serão aposentados “compulso-

riamente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta)

anos de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de lei comple-

mentar”, é classificado pela doutrina como norma constitucional de

a) eficácia contida.
b) eficácia plena.
c) eficácia limitada.
d) conteúdo programático.
e) integração restringível.

Letra c.
Pense comigo: a Constituição atualmente prevê que todos os servidores se aposen-
tam automaticamente aos 70 ou aos 75 anos?

Respondendo, o certo é que a idade para a aposentadoria compulsória foi fixada em

70 anos no texto original da Constituição.

Depois, com a EC n. 88/2015, abriu-se a possibilidade no sentido de que, com a

edição de uma lei complementar, o limite poderia ser estendido para 75 anos.

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Ou seja, até que fosse editada a lei complementar, o limite ficaria em 70; comple-

mentado o texto constitucional com o trabalho do legislador, haveria novo limite.

Pois bem. As normas limitadas são aquelas dotadas de aplicabilidade mediata, in-

direta e dependente de complementação por parte do legislador.

Partindo-se desse conceito e considerando a necessidade de integração do texto

constitucional pela lei complementar (a lei vem para se somar ao texto e confe-

rir-lhe plena aplicação), não há dúvidas de que estamos diante de uma norma de

eficácia limitada, ficando certa a letra C.

12. (TRF 3ª REGIÃO/ANALISTA JUDICIÁRIO/2016) Uma das classificações das nor-

mas constitucionais quanto a sua aplicabilidade foi proposta por José Afonso da

Silva. Segundo a classificação desse autor, entende-se por norma constitucional de

eficácia contida aquela que possui aplicabilidade

a) direta e imediata, produzindo de logo todos os seus efeitos, os quais, no entan-

to, podem ser limitados por outras normas jurídicas, constitucionais ou infracons-

titucionais.

b) direta, imediata e integral, não estando sujeita a qualquer tipo de limitação in-

fraconstitucional.

c) indireta e mediata, vez depender a sua plena efetividade de regulamentação

infraconstitucional.

d) direta, imediata e integral, competindo ao Poder Público apenas regrar a forma

de seu exercício por meio de normas administrativas infralegais, vedada qualquer

limitação.

e) indireta e mediata, vez depender a sua plena efetividade da aplicação de outras

normas constitucionais.

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Letra a.

As normas contidas nascem plenas até serem contidas (restringidas). Como assim?

É que elas também possuem aplicabilidade direta e imediata. A diferença frente às

de eficácia plena é que a sua aplicabilidade possivelmente não será integral.

Isso porque, embora elas tenham aptidão, desde o nascimento, para produzir todos

os seus efeitos, já que o legislador constituinte regulou suficientemente os inte-

resses relativos àquela matéria, pode haver a restrição posterior, seja pelo próprio

Constituinte, seja pelo legislador ordinário ou ainda por força de norma supralegal.

Para explicar usando exemplos, vou para o dispositivo mais cobrado (de longe!)

por todas as Bancas: o artigo 5º, inciso XIII, da Constituição dispõe que “é livre o

exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações pro-

fissionais que a lei estabelecer”.

Veja que na primeira parte, quando disse ser “livre o exercício de qualquer traba-

lho, ofício ou profissão”, a norma nasceu plena, com aplicabilidade direta e imedia-

ta. Contudo, depois o dispositivo dá margem para que a lei estabeleça a exigência

de qualificações profissionais.

É dentro desse contexto que eu posso entender que qualquer pessoa pode traba-

lhar como atendente em uma padaria, em um supermercado, em um curso prepa-

ratório...

Agora eu pergunto a você: qualquer pessoa pode exercer a profissão de médico, de

engenheiro, de dentista, de arquiteto, de advogado?

Não! Para elas, há necessidade de o trabalhador ser graduado na respectiva área de

conhecimento, ter registro no órgão de classe (Conselhos Regionais) e, em alguns

casos, fazer provas seletivas mesmo depois da obtenção do título de bacharelado.

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É o caso, por exemplo, da Lei n. 8.906/1994 (Estatuto da OAB), que exige a aprova-

ção no exame da Ordem para que o Bacharel em Direito se torne advogado. Ques-

tionada no STF, a exigência foi confirmada como constitucional (STF, RE 603.583).

É interessante que os autores da ação falavam que não seria necessária a prova

na OAB sob o argumento de que para exercer a Medicina o profissional não se sub-

mete a nenhuma prova. Em resposta, o Tribunal disse que errado estava o pessoal

da Medicina, que também deveria prever a realização de provas, que funcionariam

como um filtro para afastar a atuação dos maus profissionais.

Fique atento(a), pois há um julgado do STF que cai com frequência em provas de

concurso: a Ordem dos Músicos do Brasil (OMB) exigia a inscrição profissional na-

quela entidade para que os músicos exercessem sua profissão. O Tribunal, por sua

vez, pontuou que a regra seria a liberdade e apenas diante de potencial lesivo da

atividade é que pode ser exigida inscrição em conselho de fiscalização profissional.

Com isso, afastou a obrigatoriedade da inscrição na OMB para o exercício da ativi-

dade de músico (STF, RE 414.426).

Já sobre o exercício da profissão de jornalista, não há a necessidade de o profissio-

nal ser formado em jornalismo, bastando que possua formação em nível superior

(STF, RE 511.961).

Avançando, repare que eu falei ali atrás que, às vezes, a restrição não vem do le-

gislador ordinário, certo?

Pois é, é por essa razão que o Pacto de São José da Costa Rica restringiu (conteve)

o alcance do dispositivo constitucional que prevê que “não haverá prisão por dívida,

salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação

alimentícia e a do depositário infiel”.

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Como você deve saber, na atualidade, não é possível a prisão do depositário infiel

e do alienante fiduciário (Súmula Vinculante n. 25). Isso se deve porque a norma

supralegal (o tratado internacional sobre direitos humanos – Pacto de São José)

revogou as leis ordinárias que regulamentavam a prisão civil nesses casos.

Ou seja, nada mudou na Constituição! Assim, é indevido falar que a prisão do de-

positário infiel se tornou inconstitucional, até mesmo porque nós não aceitamos

a figura das normas constitucionais inconstitucionais (ou inconstitucionalidade de

normas originárias).

Toda a discussão girava em torno de ser uma norma contida, tendo o dispositivo do

artigo 5º, inciso LXVII, da Constituição sofrido a restrição (redução, contenção) por

outra norma (STF, HC 94.013).

Outros exemplos: incisos VII, VIII, XV, XXIV, XXV, XXVII, XXXIII do art. 5º; art. 15,

IV etc.

Feitas essas considerações, correta a letra A.

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DIREITO
CONSTITUCIONAL
Controle de Constitucionalidade

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
DIREITO CONSTITUCIONAL
Controle de Constitucionalidade
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Controle de Constitucionalidade......................................................................................4
1. Considerações Iniciais..................................................................................................4
2. O Princípio da Supremacia da Constituição..................................................................4
3. Bloco de Constitucionalidade....................................................................................... 7
4. O que Acontece com as Normas Pré-constitucionais?. . ............................................... 7
4.1. Situação das Normas Infraconstitucionais................................................................ 7
4.2. Constituição Anterior X Constituição Atual............................................................. 12

5. Espécies de Inconstitucionalidade............................................................................. 14
5.1. Inconstitucionalidade por Omissão.. ........................................................................ 15
5.2. Inconstitucionalidade por Ação............................................................................... 15
6. Momentos de Controle..............................................................................................22
6.1. Controle Preventivo................................................................................................22

6.2. Controle Repressivo...............................................................................................24

7. Modelos de Controle. ................................................................................................. 27


8. Sistematizando os Momentos e os Modelos de Controle.......................................... 28
9. Controle Jurisdicional de Constitucionalidade............................................................29
9.1. Controle Difuso....................................................................................................... 31
9.2. Controle Concentrado............................................................................................42
9.3. Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI. . .......................................................... 48
9.4. Ação Declaratória de Constitucionalidade – ADC.....................................................71
9.5. Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão – ADO...................................... 74
9.6. Arguição por Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF..........................78
9.7. Ação Direta de Inconstitucionalidade Interventiva (ADI Interventiva) ou

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Representação Interventiva. ......................................................................................... 84


9.8. Controle Concentrado na Esfera Estadual............................................................. 88
9.9. Quadro Comparativo das Hipóteses de Cabimento das Ações de Controle
Concentrado..................................................................................................................97
9.10. Quadro Comparativo do Cabimento da Medida Cautelar (ou Liminar) nas Ações
de Controle Concentrado.............................................................................................. 99
10. Súmulas Vinculantes............................................................................................. 100
11. Reclamação............................................................................................................ 103

12. Tópico Especial: Súmulas Aplicáveis à Aula. . .......................................................... 107


Questões de Concurso................................................................................................. 109
Gabarito...................................................................................................................... 127
Questões Comentadas. ................................................................................................ 128

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
1. Considerações Iniciais
Muitos alunos têm calafrios só em ouvir falar sobre o tema desta aula. Sendo honesto com
você, o controle de constitucionalidade realmente é um assunto difícil e desafiador.
Mas, se você olhar bem, a maior parte das questões de prova gira em torno de um corte no
conteúdo. É claro que isso não quer dizer que a tarefa será uma moleza, mas o bicho é menos
feio do que parece...
Onde é que o calo aperta? Você verá corriqueiras questões tratando sobre legitimados
para quatro das ações do controle concentrado (ADI, ADO, ADC e ADPF), sobre as hipóteses de
cabimento da ADI, da ADPF.
Há também muitas questões indagando sobre súmulas vinculantes, sobre os momentos e
modelos de controle, além da simultaneidade de ações no âmbito do STF e do TJ.
Enfim, o volume de informações é considerável, mas tentarei tornar as coisas o mais simples
possível. Como você sabe, tem hora que não há outro jeito, pois terei de usar o “juridiquês”.
Antes, porém, farei algumas pontuações indispensáveis para você se sair bem nas provas, ok?
É isso! Vamos para cima, pois é hora de desvendar os mistérios do controle de constitucio-
nalidade e parar de ter tanto medo da matéria.

2. O Princípio da Supremacia da Constituição


Pelo princípio da supremacia da Constituição, todas as normas de um país devem se com-
patibilizar com a Constituição Federal, norma de maior estatura jurídica de um ordenamento.
Norberto Bobbio ensina que:

As normas de um ordenamento não estão todas no mesmo plano. Há normas superiores e normas
inferiores. As inferiores dependem das superiores. Subindo das normas inferiores àquelas que se
encontram mais acima, chega-se a uma norma suprema, que não depende de nenhuma outra supe-
rior e sobre a qual repousa a unidade do sistema.1

Sempre que trato desse assunto, eu me lembro da minha prova oral para o concurso do
TJDFT.

1
BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. Brasília: Editora UnB. 1982, pág. 49.

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Na ocasião, o examinador era um desembargador aposentado do Tribunal, profundo co-


nhecedor do Direito Constitucional. Ele me perguntou mais ou menos assim:
“Candidato, de onde uma norma extrai sua validade?”
Eu retruquei: “Da norma superior, Excelência.”
A partir daí seguiu um bate-bola em que ele ia perguntando degrau por degrau da Pirâmide
de Kelsen, até chegar aonde ele queria:
“E a Constituição, busca validade onde?”
A resposta para essa pergunta não é tão simples! É que alguns poderiam dizer que ela bus-
ca validade no Direito Natural, nas outras ciências etc.
Contudo, o idealizador da pirâmide do ordenamento é Hans Kelsen, nada menos do que “o Pai
do Positivismo”. Ou seja, ele não buscava a validade fora do “juridiquês”. Ao contrário, Kelsen afir-
ma que a Constituição busca validade nela mesma, por ser a norma hipotética fundamental.
Pois bem! Retomando, não há dúvidas de que, em virtude do princípio da supremacia da
Constituição, as normas constitucionais estão no topo da pirâmide do ordenamento jurídico.
E o que isso quer dizer? Significa que todas as normas devem ser compatíveis formal e mate-
rialmente com o que está na Constituição!
Mas essa pirâmide conta com outros substratos...
Vou partir para a ilustração e depois explicarei mais detidamente. Veja:

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 Obs.: *1: TIDH antes EC n. 45/2004 ou após, mas sem rito especial (dois turnos, três quintos
em cada Casa do Congresso Nacional).
 *2: leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, resolu-
ções e decretos legislativos, tratados internacionais (que não versam sobre direitos
humanos), decretos autônomos e resoluções do CNJ e do CNMP.
 *3: portarias, decretos regulamentares, instruções normativas.

Agora é hora de decodificar! Lá no topo da pirâmide não está apenas a Constituição. Ao


contrário, também estarão as emendas à Constituição (ECs) e os tratados internacionais sobre
direitos humanos (TIDH) aprovados sob o rito das ECs (dois turnos, três quintos de votos, em
cada Casa do Congresso Nacional).
Mas fique atento(a): as ECs são obra do Poder Constituinte Derivado Reformador. Logo, es-
tão sujeitas às limitações impostas pelo Constituinte Originário. Em consequência, caso elas
violem quaisquer das restrições, poderão ser declaradas inconstitucionais, tanto do ponto de
vista formal quanto material.
Olhando por outro ângulo, para fazer valer esse sistema hierarquizado – verdadeiro filtro
constitucional –, o Poder Constituinte Originário criou mecanismos por meio dos quais os
atos normativos são controlados. Com esses mecanismos, é feita uma análise para saber se
as normas estão – ou não – em compasso com a orientação constitucional.
Podemos dizer, grosseiramente, que, se a norma seguiu os mandamentos constitucionais, será
válida; caso contrário, ou seja, se ela for contra os preceitos constitucionais, será inconstitucional.
Note que o parâmetro de aferição, no controle de constitucionalidade, é sempre a Constitui-
ção vigente ao tempo da elaboração da norma. Daí se falar em princípio da parametricidade.
Olhando por outro ângulo:

Normas posteriores a 5/10/1988 Constitucionalidade Controle de constitucionalidade.


x Aprecia a compatibilidade material
Inconstitucionalidade e formal diante da CF.

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3. Bloco de Constitucionalidade

A primeira coisa que surge é a necessidade de definirmos o que seria o bloco de constitu-
cionalidade.
Nesse cenário, podemos afirmar que ele seria a junção entre as normas materialmente
constitucionais, que estão fora da CF, com o texto formal da Constituição.
Bernardo Gonçalves Fernandes cita que poderiam ser incluídos no conceito de bloco de
constitucionalidade as normas infraconstitucionais materialmente constitucionais, os costu-
mes jurídico-constitucionais e as jurisprudências constitucionais2.
Uadi Lammêgo Bulos cita que o bloco de constitucionalidade é o conjunto de normas e
princípios extraídos da Constituição, que serve de paradigma para o Poder Judiciário averi-
guar a constitucionalidade das leis. Também é conhecido como parâmetro constitucional–
daí o nome de princípio da parametricidade –, pois por seu intermédio as Cortes Supremas, a
exemplo do nosso STF, afeririam a parametricidade constitucional das leis e dos atos norma-
tivos perante a CF.3
Mas fique atento(a), porque o STF adota o conceito restrito do bloco de constitucionali-
dade, segundo o qual servem de parâmetro para a análise de compatibilidade de leis ou atos
normativos em relação à nossa Constituição o próprio texto e os tratados internacionais so-
bre direitos humanos aprovados no rito previsto pelo § 3º do artigo 5º da CF.

4. O que Acontece com as Normas Pré-constitucionais?

4.1. Situação das Normas Infraconstitucionais

A esta altura, já está claro que os atos normativos editados após a promulgação da Cons-
tituição se submetem a controle de constitucionalidade. Mas o que acontece com as normas
anteriores a ela?
Olhando para a realidade brasileira, as normas infraconstitucionais editadas antes de
5/10/1988 (data da promulgação da atual Constituição) passam por outro tipo de fiscalização.
2
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de direito constitucional. 10ª ed. Salvador: Jus Podivm. 2018, pág. 57.
3
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva. 2006, págs. 98 a 99.

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É que elas serão recepcionadas ou não recepcionadas (revogadas por ausência de recep-
ção), conforme sejam ou não compatíveis com a nova ordem constitucional.

Explicando por meio de exemplos, o Código Penal em vigor atualmente é datado de 1940. Ou
seja, ele foi editado bem antes da nossa Constituição em vigor. Logo, em 1988 ele passou por
um controle, chamado de juízo de recepção/revogação.

Aqui vai um importantíssimo alerta: as normas infraconstitucionais editadas antes da


Constituição que não se mostraram compatíveis com o novo texto são revogadas.
Não é correto falar que elas se tornaram inconstitucionais, na medida em que o Brasil não
admite a teoria da inconstitucionalidade superveniente (STF, ADI 7).
Em outras palavras, a norma nasce constitucional ou não (de acordo com a Constituição
que estava em vigor na época de sua edição). Quando nova Constituição é promulgada, ela
pode se manter compatível (daí será recepcionada) ou ser incompatível, ocasião em que será
revogada. Ela não se tornará inconstitucional.
Sistematizando:
• se a norma anterior é materialmente compatível com a nova Constituição, dizemos que
ela foi recebida (recepcionada) pela nova ordem constitucional;
• se a norma anterior não é materialmente compatível com o texto constitucional, temos
que ela não foi recepcionada (= revogada).

É importante pontuar exceções à realidade que falei anteriormente: o STF aceita que, por
meio de uma mutação constitucional ou de mudança no substrato fático da norma, possa se
chegar a uma inconstitucionalidade superveniente.
superveniente
Vou exemplificar:
1) lei nasceu de acordo com a Constituição de sua época. Porém, ela pode se tornar in-
constitucional com o tempo, na situação em que o parâmetro que dá validade a ela sofrer uma
mudança em seu sentido interpretativo (mudança na interpretação da norma sem alteração do
texto = mutação constitucional).
Pedro Lenza usa o exemplo da interpretação dada ao artigo 226, § 3º, da Constituição que,
num primeiro momento, só aceitava união estável entre pessoas de sexo opostos. Assim, se
uma lei proibia união homoafetiva, ela era válida. Porém, com a mudança interpretativa do STF,

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a união entre pessoas do mesmo sexo passou a ser aceita e, consequentemente, a norma
em questão se tornou incompatível com a Constituição, sendo inconstitucional. Veja que não
aconteceu nenhuma mudança no texto constitucional, e sim na interpretação.
2) O STF entendia ser válida a lei federal que permitia a utilização do amianto do tipo criso-
tila (asbesto branco), usado na fabricação de telhas e de caixas d’água. Porém, o avanço das
pesquisas científicas demonstrou que também esse tipo de amianto era cancerígeno, assim
como os demais.
O problema é que leis estaduais (de SP, por exemplo) impediam todas as formas de comer-
cialização do amianto.
Então, o STF acabou acolhendo o argumento científico, confirmando a validade da norma
estadual e, em consequência, declarando a inconstitucionalidade da lei federal.
Repare que nada mudou no tocante ao texto constitucional, especialmente no âmbito da
repartição de competências ou aos dispositivos ligados à proteção à saúde. A alteração se deu
foi no substrato fático, o avanço das pesquisas atestando o caráter cancerígeno do amianto
crisotila e, ao mesmo tempo, a possibilidade de substituição por outros materiais, tanto na
fabricação de telhas quanto de caixas d’água.
Em sua decisão, o Ministro Relator apontou a existência de: (a) materiais alternativos à
fibra de amianto; (b) consenso entre órgãos oficiais de saúde geral e de saúde do trabalhador
sobre a natureza altamente cancerígena do material; e (c) ausência de revisão geral da legis-
lação federal, mesmo após todo esse tempo – a Lei Federal é a n. 9.055/1995. Pesaram na
discussão os artigos 6º; 7º, XXII; e 196, todos da Constituição (STF, ADI n. 3.406).
Ah, esse julgamento do amianto é bem importante, pois foi nele que ocorreu a aceitação da
teoria da abstrativização/objetivação do controle difuso. Ou seja, dois pontos relevantes numa
tacada só.
Agora vou abrir um parêntese para explicar outro ponto relacionado ao controle de consti-
tucionalidade e direito intertemporal.
É o seguinte: quando ajuíza uma ADI, a parte deve indicar a norma que quer ver declarada
inconstitucional e também outras que, antes dela, contenham o mesmo problema.

Em outras palavras, suponha que eu entre com uma ADI para questionar a Lei n. 3, que revogou
a Lei n. 2, que revogou a Lei n. 1.

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Nesse caso, se em todas as três há o defeito que eu quero combater, de antemão eu já digo: olha,
mesmo que você tire a Lei n. 3 do ordenamento, ainda persistirá o problema, uma vez que a Lei n. 2
voltará a vigorar (por conta do efeito repristinatório). A mesma coisa acontece com a Lei n. 1.
Em outras palavras, tenho que dar um tiro e derrubar toda a cadeia de normas incompatíveis
com a Constituição, certo?
Até aqui, tudo bem.
Então, se as três leis (3, 2 e 1) tiverem sido editadas após a promulgação da Constituição em
vigor, eu pedirei a declaração de inconstitucionalidade de todas elas.
Por outro lado – e aqui que vem o pulo do gato –, suponhamos que as Leis n. 3 e 2 foram edi-
tadas na vigência da Constituição atual, mas a Lei n. 1 (que foi revogada pela Lei n. 2) tivesse
sido editada em 1985 (portanto, antes da Constituição atual).
Nesse cenário, caso o STF entenda que as Leis n. 3, 2 e 1 são incompatíveis com a Constituição
atual, de um lado o Tribunal vai declarar a inconstitucionalidade das Leis n. 3 e 2 (editadas na
vigência da Constituição atual) e, de outro lado, declarar a revogação, por ausência de recepção,
da Lei n. 1 (editada antes da Constituição atual). Foi o que decidiu o STF ao julgar a ADI n. 3.111.

Ufa! Espero que você tenha entendido. Fecho o parêntese.


Avançando, é importante dizer que no controle relacionado às normas infraconstitucio-
nais anteriores à Constituição (juízo de recepção/revogação) só se analisa a sua compati-
bilidade material com o novo texto. Assim, ainda que não haja a compatibilidade formal, a
norma pode ser recebida.
Para que você não tenha nenhuma dúvida, vou usar dois exemplos, fixando o conhecimento.

1º) A partir da Constituição de 1988, não existe mais a figura do decreto-lei. Em seu lugar, foram
criadas as medidas provisórias. O detalhe é que o Código Penal é o Decreto-lei n. 2.848/1940.

Contudo, considerando que ele é uma norma pré-constitucional (editado em 1940), a


análise de compatibilidade considera apenas aspecto material, ou seja, o conteúdo. Em ra-
zão disso, o CP continua regulando a maior parte dos crimes previstos atualmente em nosso
ordenamento.
É bom lembrar que se o Congresso Nacional quiser alterar o Código Penal na atualidade,
deverá utilizar uma lei ordinária, uma vez que não existe mais decreto-lei e que o uso de medida
provisória em Direito Penal é proibido pelo artigo 62, § 1º, da Constituição.

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2º) O Código Tributário Nacional é a Lei n. 5.172/1966. Note que o CTN foi produzido na forma
de lei ordinária e que o art. 146 da Constituição atual diz que caberá à lei complementar a ela-
boração de normas gerais sobre Direito Tributário.

E por qual motivo não há inconstitucionalidade? Mais uma vez, pelo fato de só averiguar-
mos a compatibilidade no sentido material.
Novamente eu alerto a você: se houver a necessidade de modificar o CTN atualmente, será
necessária a edição de uma lei complementar.
Sistematizando:

Normas anteriores a 5/10/1988 Recepção Juízo de recepção


recepção. Aprecia
x somente a compatibilidade material
Revogação de norma pré-constitucional diante
da nova CF.
O Brasil não admite a inconstitucionalidade superveniente. Assim, se a norma se tornou inconstitucional por
conta de uma nova Constituição ou de uma EC, ela será simplesmente revogada.
De igual modo, não é aceita a constitucionalidade superveniente. Isso significa que, se no momento de sua
edição a norma era inconstitucional, ela não se convalidará, mesmo que se torne compatível com a Constituição
(ou EC) posterior.

Mas pera aí...


Você viu que excepcionalmente eu posso falar em inconstitucionalidade superveniente
(por mutação constitucional ou por alteração no substrato fático da norma).
Será que é possível o movimento inverso, ou seja, chegar a uma constitucionalidade super-
veniente, afastando o vício de nascimento da norma?
veniente
A regra, por óbvio, é que não, pois a inconstitucionalidade nunca deveria ser sanada, pois
o filósofo Cumpadi Washington já ensinava em suas lições que pau que nasce torto nunca se
endireita.
Porém, o Brasil não é para amadores, lembra?
O STF entende que a constitucionalidade superveniente poderia acontecer numa situação
peculiar.

Explico e exemplifico: a EC n. 57/2008 foi editada no final de 2008, sendo responsável por con-
validar os municípios criados de forma irregular até 31/12/2006 (as leis locais desrespeitaram
o procedimento previsto no § 4º do artigo 18 da CF, sendo, portanto, inconstitucionais).

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Daí, houve uma estranha espécie de correção do defeito congênito na norma de criação
irregular dos municípios por meio de uma decisão política do parlamento – no caso, a promul-
gação da EC, o que manteve a validade das normas que criaram (de modo irregular, frise-se) os
municípios – STF, ADI n. 2.381.

Embora só se verifique a compatibilidade material da norma anterior com a nova Constituição,


em relação à Constituição vigente ao tempo em que a lei foi editada, será necessária a dupla
compatibilidade (formal e material).
Em consequência, mesmo na vigência da Constituição atual, é possível, por exemplo, a decla-
ração de inconstitucionalidade de lei editada em 1980, que tenha desrespeitado o processo
legislativo previsto na Constituição de 1967.

4.2. Constituição Anterior X Constituição Atual


Até aqui vimos que as normas editadas após a promulgação da Constituição devem passar
por um juízo de compatibilidade chamado de controle de constitucionalidade, enquanto as nor-
mas infraconstitucionais pré-constitucionais se submeterão a controle de recepção/revogação.
Agora é hora de vermos o que acontece com a Constituição anterior quando a nova en-
tra em cena.
Pois bem. Mantidas as condições normais de temperatura e pressão, a situação é bem mais
simples, uma vez que a Constituição anterior será revogada pela nova. Tem mais: não importa se
esse ou aquele trecho da Constituição anterior está de acordo com a Constituição atual, na medi-
da em que ocorre a ab-rogação (revogação total), e não derrogação (revogação parcial).
Ou seja, a solução é relativamente simples. Mas é claro que as coisas sempre podem
piorar, pois também aqui há exceções. É que, embora a regra seja a nova Constituição revogar
completamente a anterior, há duas hipóteses nas quais o texto antigo ainda continuará sendo
aplicado. É o que ocorre na desconstitucionalização e na recepção material.
Vou explicar a seguir cada um desses fenômenos.

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4.2.1. Desconstitucionalização

A desconstitucionalização acontece quando a nova Constituição, em vez de revogar a an-


terior, opta por recebê-la com status de lei (infraconstitucional).

Essa técnica já foi utilizada no estado de São Paulo, quando a CE/SP de 1967 trouxe a seguin-
te: “consideram-se vigentes, com o caráter de lei ordinária, os artigos da Constituição promul-
gada em 9 de julho de 1947 que não contrariarem esta Constituição”.

Lembro que, em regra, a desconstitucionalização não é admitida; para que ela exista, deve haver
uma ordem explícita na nova Constituição, o que não aconteceu com a Constituição de 1988.

4.2.2. Recepção Material

Diferentemente do que ocorre na desconstitucionalização, na recepção material, as dispo-


sições da Constituição anterior são recebidas com status de norma constitucional.
Preste muita atenção, pois esse mecanismo é bem mais explorado nas provas, porque foi
utilizado no art. 34 do ADCT, que trouxe a seguinte previsão:

Art. 34. O sistema tributário nacional entrará em vigor a partir do primeiro dia do quinto mês se-
guinte ao da promulgação da Constituição, mantido, até então, o da Constituição de 1967, com a
redação dada pela Emenda n. 1, de 1969, e pelas posteriores.
§ 1º Entrarão em vigor com a promulgação da Constituição os arts. 148, 149, 150, 154, I, 156, III, e
159, I, “c”, revogadas as disposições em contrário da Constituição de 1967 e das Emendas que a
modificaram, especialmente de seu art. 25, III.

Conforme adverte Pedro Lenza, “as referidas normas são recebidas por prazo certo, em
razão de seu caráter precário, características marcantes no fenômeno da recepção material
das normas constitucionais”.4
Assim como a desconstitucionalização, a recepção material só será possível caso haja a
previsão expressa na nova Constituição. Do contrário, volta-se para a regra da revogação total
(ab-rogação).

4
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008, pág. 169.

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Hora de sistematizar:

DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO RECEPÇÃO MATERIAL


Acontece quando nova Constituição recebe a anterior As regras da Constituição anterior são recebidas com
com status de lei (infraconstitucional). status constitucional, em caráter temporário e precário.
Ex.: Constituição do estado de SP de 1967. Ex.: artigo 34 do ADCT, que manteve as normas da
CF/1967 por cinco meses.
Tanto a desconstitucionalização quanto a recepção material só acontecem caso haja expressa previsão na
nova Constituição. Do contrário, haverá a revogação total.

4.2.3. Vacatio Constitucionis

Vacatio legis pode ser conceituado como período vago da lei. Para mim, seria o período
para você se acostumar com a nova norma. Seja como for, a Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro (LINDB, antiga LICC) diz que, salvo disposição em contrário, a lei entra em
vigor no Brasil quarenta e cinco dias após a publicação. No exterior, esse intervalo sobe para
três meses.
Será que podemos falar em vacatio constitucionis?
A resposta é sim, desde que conste previsão expressa na Constituição.

A título ilustrativo, a Constituição de 1967 e a EC n. 1/1969 – por muitos, considerada uma


nova Constituição – estabeleceram um momento posterior para a entrada em vigor de ambas.

O mestre José Afonso da Silva, inclusive, destaca que a norma infraconstitucional editada
no período de vacatio constitucionis deve ter sua constitucionalidade aferida de acordo com
a Constituição que vigorava à época (a quase-morta).5
Tem mais: se a lei editada no período de vacatio constitucionis for incompatível com a
nova Constituição, ela será revogada, por ausência de recepção.

5. Espécies de Inconstitucionalidade
Indo direto ao ponto, fala-se em inconstitucionalidade por ação e por omissão. Na primeira
(por ação), a norma existe e é inconstitucional, enquanto na segunda é exatamente na falta da
norma que reside a inconstitucionalidade.
5
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 3ª ed. São Paulo: Malheiros, 1998, pág. 54.

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5.1. Inconstitucionalidade por Omissão


A inconstitucionalidade por omissão decorre da inércia legislativa na regulamentação de
normas constitucionais de eficácia limitada.
Para corrigir esse vácuo normativo, são utilizadas duas ferramentas: a primeira é o manda-
do de injunção, remédio constitucional. Nesse caso, o controle de constitucionalidade é difuso,
podendo o julgamento caber ao STF, ao STJ ou mesmo à primeira instância. A determinação
da competência levará em consideração qual é a autoridade responsável pela elaboração da
norma, mas que se quedou inerte.
A outra ferramenta é a ADI por omissão. No âmbito federal, assim como acontece com a
ADI, a ADC, a ADPF e a ADI interventiva, ela só pode ser julgada pelo STF e tem nove legitima-
dos, previstos no artigo 103 da Constituição.
Veja algumas diferenças entre as duas ferramentas:

Diferenças entre Mandado de Injunção e Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão


Mandado de Injunção ADI por Omissão
Controle difuso de constitucionalidade (pode ser feito por
Controle concentrado de constitucionalidade.
qualquer juiz ou Tribunal).
A competência para julgamento dependerá da autoridade Para omissões na CF, a competência para jul-
que está sendo omissa. gamento será sempre do STF.

MI individual pode ser impetrado por qualquer pessoa, natu-


ral ou jurídica. Só pode ser ajuizada por entes previstos no
art. 103, incisos I a IX, da CF (mesmos da ADI).
MI coletivo pode ser impetrado pelos mesmos legitimados
do MS coletivo + Ministério Público e Defensoria Pública.

5.2. Inconstitucionalidade por Ação

A inconstitucionalidade por ação será verificada sempre que a norma for elaborada em
desrespeito à Constituição. O vício (defeito) pode ser de natureza formal (nomodinâmico) ou
material (nomoestático).
Vou detalhar cada um deles a seguir.

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5.2.1. Vício Formal

Também chamado de vício no procedimento ou vício nomodinâmico, ele pode ser de três
ordens: inconstitucionalidade formal orgânica, formal propriamente dita e por violação a pres-
supostos objetivos do ato.
Vejamos cada uma delas:

5.2.1.1. Inconstitucionalidade Formal Orgânica

É a que decorre da inobservância da competência legislativa para a elaboração do ato.


Lá na repartição de competências, você aprende que há uma delimitação da esfera de
competência de cada um dos entes federados.
Assim, caso o Estado invada a competência da União para legislar sobre determinado
tema, teremos a inconstitucionalidade formal orgânica, na medida em que o órgão responsá-
vel pela elaboração da norma (Assembleia Legislativa) não era o constitucionalmente previsto
(Congresso Nacional).
Aliás, é importante lembrar que teremos a inconstitucionalidade mesmo que o conteúdo
da norma seja excelente.
Está aí uma excelente casca de banana para os candidatos. As bancas colocam normas
com conteúdo bom para a população e logo em seguida perguntam se a norma é constitucio-
nal. O(A) candidato(a), muitas vezes, olha só para o conteúdo, “ficando cego(a)” para o aspecto
formal. Em outras palavras, ele(a) acaba se esquecendo de olhar para o órgão responsável
pela elaboração da norma.

Quer um exemplo? Legislar sobre trânsito e transporte é competência da União. Então, leis
estaduais, distritais ou municipais sobre esse tema serão inconstitucionais, mesmo quando
tragam conteúdo como a determinação de instalação de cinto de segurança em veículos de
transporte coletivo (STF, ADI 874).
Mais um exemplo: nossa sociedade vem sendo bombardeada com notícias sobre crimes prati-
cados por bandidos de dentro dos presídios, muitas vezes usando aparelhos de telefone celu-
lar. Em razão disso, alguns estados acabaram editando leis determinando a instalação de blo-
queadores de sinal junto aos estabelecimentos prisionais.

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Seria ótimo, desde que as Assembleias Legislativas pudessem tratar sobre “água, energia,
informática, telecomunicações e radiodifusão”, competência privativa da União (artigo 22, IV,
da Constituição).
Resultado: o STF declarou a inconstitucionalidade de tais normas, por invasão de competência
da União, ressaltando que lei nesse sentido tinha de ser editada pelo Congresso Nacional (STF,
ADI 5.356).

5.2.1.2. Inconstitucionalidade Formal Propriamente Dita

Na inconstitucionalidade formal propriamente dita, o vício decorre do processo legislativo,


podendo ser objetivo ou subjetivo.
a) Vício formal subjetivo: a palavra “subjetivo” já remete a sujeito, certo? Pois é, lembre-se
disso para memorizar que o vício está na fase de iniciativa. Nesse caso, quem propõe o projeto
de lei não é a pessoa certa.
Aqui, mais do que nunca, vale a máxima do “ema, ema, ema, cada um tem seu problema”.
Como assim? Ora, quem entende das necessidades do Judiciário? O próprio Judiciário.
Logo, projetos de lei que interessem a ele devem partir de dentro do Judiciário, seja na cria-
ção de cargos, seja mesmo na ampliação de despesas. Então, são inconstitucionais projetos
nascidos de iniciativa parlamentar sobre tais temas (STF, ADI n. 4.062).
O mesmo raciocínio se aplica ao Executivo, certo? Claro que sim! Mas muitas vezes o Le-
gislativo, em busca de agradar determinados setores (e garantir voto nas próximas eleições),
acaba apresentando projetos de lei que criem cargos efetivos ou que aumentem a remune-
ração para os órgãos e servidores do Executivo, em claro vício de iniciativa. Daí não há outro
jeito: a norma será declarada inconstitucional (STF, ADI n. 2.867).
b) Vício formal objetivo: o vício está nas demais fases do processo legislativo. Ou seja,
ocorre em um momento posterior à fase de iniciativa.

Novamente vou usar exemplo para facilitar a compreensão. A esta altura você já sabe que as
emendas à Constituição passam por rito especial, que é a necessidade de aprovação em dois
turnos de votação, por 3/5 de votos, de cada Casa do Congresso.

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Pois bem. Se em uma das votações na Câmara (ou no Senado) a PEC for aprovada pelo
quórum de maioria absoluta – ao invés da maioria qualificada de 3/5 –, inevitavelmente esta-
remos diante de inconstitucionalidade formal, por vício objetivo (STF, ADI n. 2.135).

5.2.1.3. Inconstitucionalidade Formal por Violação a Pressupostos Objetivos


do Ato Normativo

Aqui, o defeito acontece porque não se respeita um pressuposto determinado pela Cons-
tituição.

É o que ocorre, por exemplo, nas medidas provisórias quando são editadas sem que estejam
presentes os requisitos constitucionais de urgência e relevância (STF, ADI 4.048).

Em igual sentido, estão as leis estaduais que criam municípios sem respeitar as etapas
exigidas no artigo 18, § 4º, da Constituição (STF, ADI n. 2.240).

5.2.2. Vício Material

O vício material também recebe o nome de vício de conteúdo ou vício substancial ou vício
nomoestático. O que é analisado é o conteúdo, para saber se ele está ou não de acordo com
o texto constitucional. Aqui não se verifica o procedimento de elaboração do ato normativo.
Não tenho dúvida alguma em falar que a maioria esmagadora de hipóteses de inconstitu-
cionalidade se refere a vício formal, exatamente o mais difícil de ser detectado pelo candidato.

Vamos a um exemplo de vício material? Imagine a situação em que um deputado federal, após
grave delito noticiado pela imprensa, apresente proposta de emenda à Constituição (PEC), pre-
vendo pena de morte para crimes hediondos.
Suponha que essa PEC tramite regularmente, sendo aprovada em dois turnos de votação, em
cada Casa do Congresso Nacional, obtendo o quórum qualificado de 3/5 de votos. Em seguida,
ela é promulgada e publicada.
Pergunto: há algum problema com a nova EC promulgada? Sem dúvida, sim! É que uma das
limitações materiais ao poder de emenda (cláusulas pétreas) se refere aos direitos e às garan-
tias individuais.

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E, na visão do STF, a expressão “direitos e garantias individuais” engloba os artigos 5º


(direitos e deveres individuais e coletivos), 16 (princípio da anterioridade eleitoral) e 150 (limi-
tações ao poder de tributar).
Dentro desse cenário, não há dúvidas de que a proibição de pena de morte (salvo guerra
declarada, o que não era o caso) funciona como um obstáculo para a nova EC promulgada, por
estar inserida no artigo 5º da Constituição.
Em resumo, mais fácil de identificar e menos raro de acontecer, o vício material traz poucos
problemas para o candidato.

5.2.3. Vício de Decoro Parlamentar

Na doutrina6, fala-se em vício de decoro parlamentar. A esse respeito, o noticiário tem


destacado muitos escândalos de corrupção, que muitas vezes envolvem o pagamento de
propinas pelo chefe do Executivo aos parlamentares.
A razão maior para o pagamento de verbas espúrias (“mensalão”, “mensalinho”) seria a
busca por aprovação de projetos de lei de interesse do Executivo.
Pois bem, mas daí eu pergunto: tais projetos de lei possuem vício formal ou material? É
aí que mora o X da questão. Os projetos não apresentam nenhum vício formal, respeitando a
Casa Legislativa, a iniciativa adequada e os trâmites procedimentais prescritos na Constitui-
ção. Eles também não ofendem a Constituição com seu conteúdo.
Contudo, não existe dúvida de que há alguma coisa errada, que é a razão que levou o par-
lamentar a aprovar essa ou aquela proposta. Como visto, a motivação era o recebimento de
propina. Ora, é evidente que não se espera isso do parlamentar. Daí se falar em vício por (falta
de) decoro parlamentar.

 Obs.: O vício formal e o material são reconhecidos na jurisprudência e há várias decisões


indicando a inconstitucionalidade de diversas leis pela ocorrência deles.

Por sua vez, o vício de decoro parlamentar encontra guarida no campo doutrinário. Já hou-
ve citação na Ação Penal n. 470 (processo do Mensalão). Isso ocorreu em relação ao capítulo
VI da denúncia, pois se falou na “formação de base aliada ao governo federal”, por meio do
recebimento de propina.
6
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 19ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015, págs. 300-303.

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Mais recentemente (ADIs n. 4887, n. 4888 e n. 48889), houve menção a “vício na formação
da vontade no processo legislativo” e a “vício de corrupção da vontade do parlamentar”, sendo
reconhecida a possibilidade de o Judiciário verificar um vício que atingiria o processo legis-
lativo, tornando-o fraudulento, a ensejar a inconstitucionalidade da norma. No fim das contas,
mesmo com a eventual retirada dos votos dos parlamentares condenados pelo Mensalão, o
resultado da votação da PEC não seria alterado. Usando essa fundamentação, afastou-se a
alegação de inconstitucionalidade da EC n. 41/2003 (penúltima Reforma da Previdência).
Aguardemos as cenas dos próximos capítulos para ver se a tese será reconhecida pelo
Plenário e qual nome prevalecerá.

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Vamos resumir?

ESPÉCIE DE VÍCIO DETALHES


VÍCIO MATERIAL (nomoestático) O vício atinge o conteúdo da norma, que é contrário à
Constituição.
Exemplos:
1) PEC que viola cláusula pétrea ao prever pena de
morte para crimes hediondos.
2) Lei que viole separação de Poderes ao prever que
nome de PGJ deva ser submetido à aprovação da AL.
VÍCIO FORMAL (nomodinâmico) O vício está no procedimento, que se encontra em des-
compasso com as regras de processo legislativo ou de
repartição de competência. É bem mais comum que
vício material. Subdivide-se em:
a) inconstitucionalidade formal orgânica: o problema
está na repartição de competências. A Casa Legisla-
tiva que edita a norma usurpa a competência da que
seria a responsável pela edição.
Ex.: norma estadual sobre trânsito e transporte,
assunto de competência privativa da União.
b) Inconstitucionalidade formal propriamente dita:
o vício pode ser subjetivo ou objetivo. No primeiro
caso, ocorre quando quem deflagra o processo legis-
lativo não era competente. Ex.: lei que reajusta venci-
mentos dos servidores do Executivo apresentada por
parlamentar. O vício objetivo, por sua vez, ocorre nas
demais fases do processo legislativo. Ex.: EC aprovada
em um dos turnos sem passar pela aprovação de 3/5
de votos.
c) Inconstitucionalidade formal por falta de pressu-
postos objetivos do ato normativo: não se respeita
um pressuposto determinado pela Constituição. Ex.:
norma de criação de formação de novo município sem
observar as etapas descritas no artigo 18, § 4º.
Observação por conta do escândalo de corrupção conhecido como Mensalão, Pedro Lenza defendeu a existên-
Observação:
cia de uma nova espécie de vício, chamado de VÍCIO DE DECORO PARLAMENTAR. Ele atingiria não o conteúdo
ou o procedimento, e sim a razão que levou o parlamentar a votar naquele sentido (propina).
A tese foi apreciada pelo STF em 2020, foram apresentadas ADIs nas quais se apontava “vício na formação
da vontade no processo legislativo”. O STF entendeu ser possível reconhecer o vício que atingiria o processo
legislativo, tornando-o fraudulento. Contudo, manteve a validade da EC n. 41/2003 (Reforma da Previdência)
ao concluir que mesmo tirando os votos dos parlamentares do Mensalão o resultado da PEC não seria alterado.

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6. Momentos de Controle

Quanto aos momentos de controle, fala-se em controle preventivo ou repressivo.

6.1. Controle Preventivo

O controle preventivo é feito antes de o projeto entrar em vigor. Tratando-se de uma lei, por
exemplo, seria feito na fase de tramitação no Congresso ou ainda na deliberação executiva
(sanção/veto).
Ele visa impedir a inserção no ordenamento jurídico de uma norma inconstitucional e acon-
tece durante as fases do processo legislativo. No direito brasileiro, o controle preventivo é
exceção, pois a regra é o controle jurisdicional posterior/repressivo.
É bom você ter em mente que todos os Poderes fazem controle preventivo. Isso servirá
de alerta, mesmo que você não se lembre especificamente qual a forma em que esse con-
trole é materializado.
Começando pelo Legislativo, o controle preventivo é feito especialmente por meio da CCJ
(Comissão de Constituição e Justiça), uma das comissões mais importantes de cada Casa
Legislativa. Em algumas situações, o próprio Plenário da Casa também pode fazer esse filtro.
No Executivo, o controle preventivo cabe ao chefe do Executivo, por ocasião da fase de
sanção/veto – mais especificamente no veto. É que a manifestação de contrariedade do presi-
dente (ou governador ou prefeito) pode ser o veto político ou o veto jurídico.
O veto político acontece quando o chefe do Executivo entende que o projeto é contrário ao
interesse público. Note que não se fala em inconstitucionalidade. É no veto jurídico que ocorre
o controle de constitucionalidade, na forma preventiva, pois a manifestação recai sobre o pro-
jeto de lei, e não sobre a lei.
Agora vou pedir para você redobrar a atenção! É o seguinte: a maior polêmica no controle
preventivo volta-se à atuação do Judiciário. É nesse ponto que estão concentrados as contro-
vérsias judiciais e o maior número de questões de prova. Então, mãos à obra!
O controle preventivo jurisdicional é feito somente por meio do mandado de segurança a
ser impetrado por parlamentares, os únicos legitimados.

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Mas por que o MS? É que os parlamentares possuem o direito líquido e certo ao devido
processo legislativo. Em outras palavras, eles têm que preservar a garantia de participarem de
um processo legislativo sem falhas, sem desrespeito à Constituição.
Outro ponto importante que você deve ter em mente é o que pode ser questionado nesse
MS. A importância dessa discussão é tamanha, que já foi objeto de provas discursivas. Então,
todo cuidado é pouco!
Sobre o tema, a jurisprudência do STF se consolidou no sentido de que o MS só pode ser
usado em duas situações:
a) para barrar a tramitação de PEC que viole cláusula pétrea: é que o artigo 60, § 4º,
da Constituição dispõe que determinadas matérias não podem ser objeto de proposta ten-
dente a aboli-las.
Ou seja, a proibição é maior do que permitir que uma matéria seja aprovada. O Constituin-
te, buscando “cortar o mal pela raiz”, determina que aqueles assuntos não podem ser sequer
deliberados, quanto mais aprovados.
b) Para frear a tramitação de projeto de lei por vício formal: aqui cabe ainda mais atenção.
Repare que eu sublinhei a palavra “formal”, exatamente para chamar sua atenção para esse ponto.
Mais uma vez, digo que a regra é o controle de constitucionalidade operar-se após a norma
entrar em vigor. O controle preventivo é excepcional, pois, em virtude da separação de Poderes,
a lógica é deixar o legislador trabalhar.
Pois bem, o STF entende que, em relação a projetos de lei, o controle preventivo jurisdicio-
nal só pode atuar se houver a comprovação de vício formal no procedimento. Isso significa que
não caberá MS para barrar a tramitação de projeto de lei por vício material (conteúdo).
No STF, a questão foi enfrentada em um julgado muito rumoroso: foi o MS impetrado pelo
então senador Rodrigo Rollemberg (do DF). Ele pedia para o Tribunal barrar a tramitação do
projeto de lei “Anti-Marina”.
Como assim? É que àquela altura, Marina Silva destacava-se nas pesquisas de opinião de
votos para as eleições presidenciais de 2014. Então, os partidos da base do governo Dilma (PT
e PMDB, especialmente), querendo desarticular o movimento de criação do partido político
Rede Sustentabilidade, apresentaram projeto de lei que sufocava as novas legendas.

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Na prática, ele permitia que os parlamentares insatisfeitos migrassem para o novo partido.
Contudo, eles não levariam consigo os recursos do fundo partidário ($$$) e o tempo de rádio
e TV de graça.
Em resumo, o partido nasceria pobre e praticamente sem aparecer nos meios de comunica-
ção. A ideia era deliberadamente desestimular o deslocamento de políticos para a nova legenda.
Quando impetrou o MS, o parlamentar alegava violação ao pluralismo político, fundamento
da República. O problema é que o vício sustentado era de natureza material, pois estava ligado
ao conteúdo da lei.
Resultado: embora reconhecessem informalmente a existência de vício material, os mi-
nistros do STF entenderam pelo não cabimento do MS, ao argumento de que se tratava de
tentativa de frear a tramitação de projeto de lei por vício material, o que não é admitido (STF,
MS n. 32.033).
Esse raciocínio foi renovado em fevereiro de 2021, quando se indeferiu liminar em MS im-
petrado por parlamentar para barrar a tramitação da chamada “PEC da Impunidade”, que visa
restringir a possibilidade de prisão de parlamentares. Prevaleceu a orientação de que eventual
vício deveria ser apreciado em controle posterior.

O controle preventivo jurisdicional só é cabível para barrar a tramitação de PEC que viole cláu-
sula pétrea ou quando o projeto de lei contiver vício formal. Ele não pode ser impetrado sob a
alegação de vício de conteúdo no projeto de lei.

6.2. Controle Repressivo


Vencido o controle preventivo, é hora de vermos o controle repressivo, que acontece quan-
do a norma já existe no mundo jurídico (foi promulgada e publicada). Ele pode ser feito pelo
Judiciário, pelo Executivo e pelo Legislativo.
Um questionamento: a norma em vacatio legis pode ser objeto de ADI?

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A resposta é sim, porque ela existe e é válida, ainda que lhe falte eficácia. Aliás, no Exame
nº XXXI da OAB, aplicado pela FGV, houve pergunta exatamente sobre esse ponto, tendo a ban-
ca indicado a possibilidade de ajuizamento de ADI.
Quer ver isso na prática?
O STF julgou duas ADIs (6.238 e 6.239) que foram ajuizadas contra a Lei do Abuso de Au-
toridade editada em 2019, com vacatio legis de 120 dias.
Caso se verifique a presença dos vícios formal ou material na norma, caberá aos órgãos
competentes pelo controle retirá-la do ordenamento.
Funciona assim: começando pelo mais importante, o controle repressivo jurisdicional é
feito pela via difusa ou concentrada – claro que o assunto será detalhado mais à frente.
De antemão, em respeito ao princípio da separação dos Poderes, quando não caracteriza-
do o desrespeito às normas constitucionais pertinentes ao processo legislativo, é vedado ao
Judiciário exercer o controle jurisdicional em relação à interpretação do sentido e do alcance
de normas meramente regimentais das Casas Legislativas. Isso porque as normas regimen-
tais, via de regra, tratam de matéria interna corporis (STF, RE n. 1.297.884).
Usando uma linguagem doutrinária (José Adércio Leite Sampaio), atos interna corporis
e a escolha própria da oportunidade e conveniência do administrador são conhecidos como
espaços vazios de jurisdição, ou seja, fora da esfera de atuação do Judiciário.
No âmbito do Executivo, poderia o presidente (ou governador ou prefeito) orientar os seus
subordinados para não aplicarem a norma que ele entende inconstitucional (STF, ADI n. 221).
Há polêmica nesse ponto, pois uma posição minoritária defende que essa possibilidade
não mais existiria após a Constituição de 1988. O raciocínio é o seguinte: antes de 1988, ape-
nas o PGR era legitimado para ingressar com uma ADI. Logo, como não podia ingressar com
ADI, permitia-se ao Chefe DO Executivo orientar a não aplicação da norma.
Contudo, atualmente essa corrente – minoritária, repito – defende que, se não concordar com
a lei, deve o presidente (ou os outros chefes de governo) recorrer ao Judiciário por meio da ADI.
Prevalece, todavia, a orientação de que se pode optar por um dos caminhos ou mesmo
segui-los concomitantemente, até mesmo porque costuma ser bastante demorado o tempo
de análise de uma ADI.

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Dentro do Legislativo, surgem três possibilidades de controle repressivo: a primeira está


no artigo 49, V, da Constituição. Ele prevê que o Congresso Nacional pode sustar os atos nor-
mativos editados pelo Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites da
delegação legislativa.
Abrindo um parêntese, a regra do artigo 49, V, deve ser seguida pelos estados sem amplia-
ção. Digo isso porque a Constituição do estado de Goiás atribuía à Assembleia Legislativa a
prerrogativa para sustar atos normativos do Poder Executivo ou dos Tribunais de Contas. A ex-
tensão da possibilidade de sustação para os atos dos Tribunais de Contas foi considerada in-
constitucional, por ser uma afronta aos princípios da simetria, da separação de poderes, além
de violação das garantias da independência, autonomia funcional, administrativa e financeira
das Cortes de Contas (STF, ADI n. 5.290). Fecho o parêntese.
A segunda é encontrada no artigo 52, X, da Constituição, oportunidade em que se atribui
ao Senado Federal a prerrogativa de suspender, no todo ou em parte, norma declarada incons-
titucional pelo STF, dentro do controle difuso de constitucionalidade.
Por fim, a terceira você vê no artigo 62, § 5º, da Constituição, que permite ao Congresso
rejeitar medida provisória quando não estiverem presentes os requisitos constitucionais de
urgência e relevância.
Abrindo um parêntese, a Súmula n. 347 do STF prevê a possibilidade de os Tribunais de
Contas, no exercício de suas atribuições, apreciarem a constitucionalidade das leis e dos atos
do poder público.
Ou seja, esse entendimento permitiria ao TC fazer controle de constitucionalidade, diante
do caso concreto.
Porém, a súmula foi editada em 1963 e há algum tempo vinha sendo questionada.
Daí, em abril de 2021, o Plenário do STF definiu que não cabe à Corte de Contas, por não ter
função jurisdicional, exercer o controle de constitucionalidade nos processos sob sua análise.
análise A
invocação da Súmula n. 347 estaria comprometida desde a promulgação da atual Constituição.
Na ocasião, pontuou-se que admitir a continuidade da possibilidade de o TC declarar inci-
dentalmente a inconstitucionalidade geraria desrespeito à função jurisdicional e à competên-
cia exclusiva do STF, além de afrontar as funções do Legislativo, responsável pela produção
das normas jurídicas.

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Assim, embora a Súmula n. 347 não tenha sido formalmente cancelada, o efeito prático
da decisão proferida pelo Plenário do STF é afastar a possibilidade de o TC fazer controle de
constitucionalidade dentro de sua atuação (STF, MS n. 35.410).
Vou analisar os modelos de controle e, em seguida, compilar nossos dados até aqui em
uma tabela para facilitar as coisas para você.

Executivo, Legislativo e Judiciário fazem controle preventivo e repressivo de constitucionalidade.

7. Modelos de Controle

Existem basicamente dois modelos de controle, a saber, o controle político – realizado


pelo Poderes Executivo e Legislativo – e o controle jurisdicional – feito pelo Poder Judiciário.
Como visto, não há mais a possibilidade de o TCU fazer controle (sempre repressivo) de
constitucionalidade dos atos.

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8. Sistematizando os Momentos e os Modelos de Controle


Para melhor sistematizar os momentos e modelos de controle, vou utilizar uma ilustração:

MOMENTOS E MODELOS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

MOMENTOS
PODER
PREVENTIVO REPRESSIVO
É realizado em três hipóteses:
a sustação de atos normativos editados pelo
presidente da República que exorbitem os limi-
tes de delegação legislativa – art. 49, V, da CF;
Apreciação de projetos,
b quando o Senado Federal suspender, no todo
feita pelas Comissões de
ou em parte, norma declarada inconstitucional
Legislativo Constituição e Justiça
pelo STF no controle difuso – artigo 52, X, da
(CCJs) e pelo Plenário das
CF;
Casas.
c no caso das medidas provisórias, quando o
Políticos Congresso entender que não estão presentes
os requisitos constitucionais de urgência e
relevância – artigo 62, § 5º, da Constituição.
Possibilidade dada ao chefe
do Executivo – presidente
da República, governado- Orientação dada pelo chefe do Executivo para
Executivo res e prefeitos – de vetar o seus subordinados deixarem de cumprir a
projeto caso o considerar norma, pois a considera inconstitucional.
MODELOS inconstitucional (veto jurí-
dico).
Quando se aprecia man- Feito por meio do controle difuso ou concen-
dado de segurança impe- trado de constitucionalidade. O primeiro é rea-
Jurisdicional Judiciário trado por parlamentar para lizado por qualquer juiz ou tribunal do país,
garantir devido processo enquanto o segundo somente cabe ao STF
legislativo. (violação à CF) e ao TJ (ofensa à CE).
Não faz controle de constitucionalidade.
Embora a Súmula n. 347 não tenha sido for-
Tribunais malmente cancelada, em abril de 2021, o Ple-
de Contas nário do STF afastou a possibilidade de o TC
fazer controle de constitucionalidade dentro
Administrativo de sua atuação (STF, MS n. 35.410).
Não faz controle de constitucionalidade.
Pode deixar de aplicar norma que entenda ser
CNJ inconstitucional, o que configura exercício de
controle da validade dos atos administrativos
do Poder Judiciário (STF, PET 4656/PB).

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Controle de Constitucionalidade
Aragonê Fernandes

9. Controle Jurisdicional de Constitucionalidade

Você já viu que no direito brasileiro os três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário)

fazem controle de constitucionalidade, tanto de forma preventiva quanto repressiva.

Eu também já adiantei que a regra é o controle repressivo. Sendo ainda mais específico, a

regra é o controle jurisdicional repressivo de constitucionalidade, uma vez que o controle polí-

tico, feito pelo Executivo e pelo Legislativo, é limitado a situações muito pontuais.

Avançando, o controle jurisdicional de constitucionalidade pode ser feito a partir de dois

sistemas, o difuso, originado nos Estados Unidos da América, e o concentrado, nascido no

continente europeu.

Para facilitar a visualização das características centrais de cada um desses sistemas –

também dos pontos que os diferenciam –, usarei o seguinte quadro esquemático:

QUADRO COMPARATIVO ENTRE O SISTEMA DIFUSO E CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE


CONTROLE DIFUSO CONTROLE CONCENTRADO
Modelo norte-americano. Modelo austríaco-alemão.
Surgido a partir do caso Marbury vs Madison. Idealizado por Hans Kelsen.
Controle incidental (incidenter tantum). Controle principal.
Via de exceção ou de defesa. Via de ação.
Inconstitucionalidade da norma é a razão de pedir, Inconstitucionalidade da norma é o pedido.
e não o pedido.
No Brasil, adotado desde a Constituição de 1891. No Brasil, adotado de forma mais robusta a partir da
EC n. 16/1965 – ADI, a ser proposta, perante o STF,
exclusivamente pelo PGR.
No entanto, na Constituição de 1934 já havia a previ-
são da ADI Interventiva.
A Constituição atual manteve a previsão de con- A CF/1988 trouxe as seguintes inovações:
trole difuso, introduzindo importantes ferramentas a) ampliação dos legitimados para a ADI (antes era só
como o MI, o manejo do MI e do MS coletivos, a o PGR);
delimitação do RE. b) criação do controle das omissões constitucionais (ADO);
Quanto ao RE, a EC n. 45/2004 previu a filtro da c) previsão da ADPF.
repercussão geral, trazendo racionalidade ao sis- * a ADC só foi introduzida pela EC n. 03/1993;
tema. ** a EC n. 45/2004 inseriu o governador do DF e a CLDF
como legitimados e equiparou os legitimados da ADI,
ADO, ADC e ADPF.

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A inconstitucionalidade pode ser arguida em qual- A inconstitucionalidade só pode ser arguida por meio
quer tipo de ação (ações ordinárias, trabalhistas, de cinco ferramentas (cabem nos dedos de minha
cíveis, penais, ações civis públicas), por meio de mão):
recursos ou remédios constitucionais (HC, MS, MI, a) ação direta de inconstitucionalidade – ADI;
HD e ação popular). b) ação declaratória de constitucionalidade – ADC;
c) ação direta de inconstitucionalidade por omissão –
ADO;
d) arguição por descumprimento a preceito fundamen-
tal – ADPF; e
e) representação interventiva – ADI Interventiva.
Pode ser utilizado por qualquer pessoa, no bojo do No plano federal, a ADI, ADO, ADC e ADPF somente
processo. podem ser ajuizadas por nove legitimados, previstos
no artigo 103 da Constituição: presidente da Repú-
blica; Mesas da Câmara dos Deputados ou do Senado;
PGR; governadores dos estados e do DF; Mesa das
Assembleias ou da Câmara Legislativa; partidos políti-
cos com representação no Congresso; Conselho Fede-
ral da OAB; e confederação sindical ou entidade de
classe de âmbito nacional.
No âmbito estadual, o artigo 125 da Constituição de
1988 previu a impossibilidade de existir somente um
legitimado, embora deixe para o Constituinte estadual
a tarefa de definir o rol.
Já a ADI Interventiva possui apenas um legitimado,
que é o PGR no cenário federal, e o PGJ perante o TJ.
Na origem, adoção da teoria da nulidade. Na origem, adota a teoria da anulabilidade.
No Brasil, ambos seguem a teoria da nulidade, com No Brasil, ambos seguem a teoria da nulidade, com
a declaração de inconstitucionalidade operando, a declaração de inconstitucionalidade operando, em
em regra, efeitos retroativos. regra, efeitos retroativos.
Pode ser feito por qualquer juízo ou Tribunal do Só pode ser feito pelo STF (guardião da CF) e pelos
País, inclusive o STF. TJs (guardião da CE ou da LODF).
Em regra, a decisão produz efeitos inter partes Decisão produz efeitos erga omnes (todo mundo).
(entre as partes).
Pela redação da Constituição (artigo 52, X), ao decla- Ao declarar a inconstitucionalidade, o STF não pre-
rar a inconstitucionalidade, o STF deveria comunicar cisa comunicar ao Senado, uma vez que a decisão já é
ao Senado, para possível suspensão, total ou parcial, dotada de efeitos erga omnes.
da execução da lei. No entanto, a orientação atual é
de mutação constitucional desse dispositivo, pas-
sando a decisão do Plenário do STF, mesmo em con-
trole difuso, a valer erga omnes. O papel do Senado
seria de dar publicidade à decisão.

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Ao proferir a decisão, o julgador pode fazer modu- Ao proferir decisão, o julgador pode fazer modulação
lação temporal de efeitos. temporal de efeitos.
Cabe a participação de amicus curiae. Cabe a participação de amicus curiae.
É possível a realização de audiências públicas. É possível a realização de audiências públicas.

9.1. Controle Difuso

Presente no ordenamento jurídico brasileiro desde a Constituição brasileira de 1891, o con-


trole difuso é também chamado de controle aberto, incidental, por via de exceção ou de defesa.
Pode ser realizado por qualquer juiz ou Tribunal do País, aí incluídos o STF e os TJs – eles
acumulam o controle difuso e o concentrado.
No controle difuso, há um caso concreto em estudo e dentro desse processo se apura,
incidentalmente, a inconstitucionalidade da norma.
Traduzindo o juridiquês, quando eu falo “incidentalmente”, quero dizer que a inconstitucio-
nalidade não é o pedido, mas sim a causa de pedir.
Em outras palavras, quando ingressa com uma ação, a parte não busca a declaração de
inconstitucionalidade. Ela quer, na verdade, a concessão do “bem da vida”.
No entanto, para chegar ao resultado pretendido, ela acaba fundamentando o seu pedido
em algumas alegações. É aí que entra a narrativa de que uma norma seria inconstitucional.
Sei que ainda está muito truncada a linguagem. Então, nada melhor do que usar exemplos.

Puxe aí em sua memória: no início do governo Collor, houve a edição de uma medida provisória,
determinando o bloqueio de valores depositados em agências bancárias. Buscando a libera-
ção dessas quantias, inúmeros correntistas recorreram à Justiça, alegando a inconstituciona-
lidade da medida provisória editada pelo governo.
Nesse cenário eu pergunto: o que os correntistas queriam? A inconstitucionalidade da norma
ou o seu dinheiro de volta? É certo que os cidadãos prejudicados pretendiam obter o seu
dinheiro de volta, não a declaração de inconstitucionalidade da norma. Eles apenas alegavam
o vício de inconstitucionalidade como fundamento de seu pedido.

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Mais um exemplo: José foi condenado por homicídio qualificado, a cumprir uma pena de doze
anos de reclusão. À época, foi determinado que a sanção fosse integralmente cumprida em
regime fechado, pois estava em vigor a Lei n. 8.072/1990 (Lei dos Crimes Hediondos) em sua
redação original.
Pois bem. José entrou com um HC pedindo para ter direito à progressão de regime prisional,
podendo passar para o regime semiaberto e depois para o aberto. Em sua petição, alegou ser
inconstitucional o dispositivo da Lei dos Crimes Hediondos que vedava a progressão. Susten-
tou violação ao princípio da individualização da pena.
Nova pergunta: o que José queria, ir para o regime semiaberto (e depois para o aberto) ou ver
a lei ser declarada inconstitucional?
Não há dúvida de que ele queria sair do regime fechado, sendo reinserido pouco a pouco ao
convívio social. Só que, para isso acontecer, havia um entrave, que era a lei. Então ele precisava
que a norma fosse declarada inconstitucional.

No controle difuso, a inconstitucionalidade é a causa de pedir, e não o pedido. Em razão disso,


ele é chamado de controle incidental.

9.1.1. Eficácia da Decisão no Controle Difuso

A decisão tomada no controle difuso é dada dentro de um processo e, em razão disso, em


regra, ela só vincula as partes – daí a chamada eficácia inter partes.
Repare bem que eu destaquei a expressão “em regra”, porque há algumas pontuais situa-
ções em que os efeitos da decisão no controle difuso serão muito próximos àqueles extraídos
das ferramentas do controle concentrado.
Logo mais à frente eu falarei sobre o controle de constitucionalidade feito em uma ação
civil pública. Lá ficará evidente que, quando relacionada a direitos difusos, a decisão surtirá
efeitos erga omnes.
Essa aí foi apenas uma situação, mas há outras! É o caso do recurso extraordinário (RE),
quando interposto contra decisão proferida pelo TJ dentro de uma ADI Estadual. Ora, se a

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decisão de origem – na ADI – havia sido tomada em controle concentrado, com eficácia erga
omnes, a decisão no RE daí decorrente também carregará as mesmas características.
Também no RE apreciado nos moldes da repercussão geral se falará em uma decisão
repercutindo sobre os demais processos relacionados à mesma matéria discutida no caso
paradigma.
Há, ainda, a situação prevista no artigo 52, X, da Constituição, que permite ao Senado es-
tender para todos decisão proferida pelo STF dentro do controle difuso de constitucionalidade.
Em outras palavras, expande erga omnes uma decisão que nasceu inter partes. Aliás, sobre o
artigo 52, X, conversaremos um pouco mais logo no próximo tópico.
Outra hipótese é verificada por meio da súmula vinculante, ferramenta introduzida pela
EC n. 45/2004. Ela vinculará toda a Administração Pública, de todas as esferas de governo, e
os demais órgãos do Judiciário. Ficaria de fora da vinculação apenas o próprio STF e o Legis-
lativo na sua função típica de legislar, tudo isso de modo a evitar o fenômeno da fossilização
da Constituição.
Todas essas situações foram esmiuçadas no julgamento da Reclamação n. 4.335/AC, es-
pecialmente no voto proferido pelo ministro Teori Zavascki.

9.1.2. O artigo 52, X, da Constituição

O assunto é bastante polêmico e, como se diz no popular, dá pano para mangas. Logo, a
melhor coisa é começar com o texto da Constituição, que é nosso ponto de partida (mas está
longe de ser o ponto de chegada).
Vamos lá!
Segundo o artigo 52, X, da Constituição, compete privativamente ao Senado Federal “sus-
pender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definiti-
va do Supremo Tribunal Federal”.
Tome muito cuidado com esse dispositivo, pois ele é de extrema relevância para as provas,
especialmente por envolver controle de constitucionalidade feito pelo Legislativo (controle
político) de forma repressiva (a norma já existe).

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É certo que o STF faz controle de constitucionalidade tanto difuso quanto concentrado.
As decisões proferidas no controle concentrado já são dotadas de eficácia vinculante erga
omnes (aspecto subjetivo: vinculam a todos). Em razão disso, não haveria como aplicar o arti-
go 52, X, ao controle concentrado, uma vez que não haveria norma a suspender – a declaração
de inconstitucionalidade já retiraria a norma do sistema para todos.
Assim, a suspensão de eficácia a que se refere o dispositivo vale apenas para o controle difuso.
Avançando, por conta do princípio da separação de Poderes, o Senado não é obrigado a
suspender a norma. Ou seja, o STF não pode determinar que ele adote essa providência.
Doutrinariamente, Gilmar Mendes defendia que esse dispositivo teria sofrido mutação cons-
titucional, servindo na atualidade apenas para dar publicidade à decisão da Suprema Corte.
Abrindo um parêntese, mutação constitucional é a mudança na interpretação da norma
sem alteração formal do texto. Ela também é conhecida como poder constituinte difuso ou
procedimento de mudança informal da Constituição.
Voltando ao objeto da discussão, na visão de Gilmar Mendes, em virtude de uma crescente
aproximação entre os controles difuso e concentrado, as decisões do STF no controle difuso
teriam sofrido uma abstrativização/objetivação.
Trocando em miúdos, isso significaria que também as decisões do Plenário do STF no
controle difuso teriam eficácia erga omnes, e não inter partes.
A questão saiu do campo doutrinário e veio a ser discutida no STF.
Num primeiro momento, após longos anos de tramitação, o Tribunal negou a tese da mu-
tação constitucional, entendendo que a decisão tomada no controle difuso, ainda que partisse
do Plenário, teria efeitos apenas sobre as partes do processo (inter partes). Isso aconteceu no
julgamento da Reclamação n. 2.176. Àquela altura, o placar foi de 8 x 2 contrariamente à tese.
Pois é, mas o tempo passa, o tempo voa e a questão foi parar novamente no Plenário do
STF em razão de outros processos.
Deixe-me explicar: ao julgar a proibição de comercialização de amianto em todas as suas
formas, inclusive a crisotila, o STF confirmou a constitucionalidade de leis estaduais – que
vedavam a comercialização –, em virtude de as substâncias serem cancerígenas.
Em consequência, incidentalmente (ou seja, de forma difusa), declarou a inconstitucionali-
dade da lei federal que autorizava a comercialização do amianto na forma crisotila (usada na
fabricação de telhas, por exemplo).

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Avançando, como se tratava de declaração incidental de inconstitucionalidade, pelo enten-


dimento clássico, seria necessária a comunicação ao Senado Federal para que a Casa Legis-
lativa, se quisesse, suspendesse a eficácia da norma, estendendo a decisão para todos – lem-
bro: a decisão no controle difuso (incidental) só atingia as partes.
Contudo, o Tribunal, acolhendo aquela tese da abstrativização/objetivação do controle di-
fuso, decidiu que o artigo 52, X, da Constituição sofreu verdadeira mutação constitucional.
No frigir dos ovos, o papel do Senado passou a ser de apenas dar publicidade à decisão
do Plenário do STF, que já seria dotada, tanto no controle concentrado quanto no difuso, de
eficácia vinculante contra todos.
A explicação para essa mudança na orientação seria de prestigiar a unidade do sistema,
evitando-se a fragmentação desnecessária.
Repetindo para que você não se confunda: as decisões declaratórias de inconstituciona-
lidade proferidas pelo Plenário do STF, mesmo em controle difuso de constitucionalidade,
repercutem contra todos, de forma vinculante. Aproximaram-se, assim, os controles difuso e
concentrado (STF, ADI 3.406 e 3.470).

Modificando o entendimento anterior, o STF passou a aceitar a teoria da abstrativização/


objetivação do controle difuso de constitucionalidade. Assim, as decisões proferidas pelo
Plenário do STF no controle difuso e no controle concentrado têm eficácia vinculante contra
todos (erga omnes).

9.1.3. Cláusula de Reserva de Plenário

Eu diria que a cláusula de reserva de plenário é, ao mesmo tempo, importantíssima para


quem se prepara para concursos públicos e pouco compreendida pelos candidatos!
Prevista no art. 97 da Constituição, é também chamada de full bench (banco cheio). Embo-
ra um juiz de primeira instância possa, isoladamente, declarar a inconstitucionalidade de uma
norma (controle difuso), nos Tribunais a regra é diferente. Isso porque se prevê que somente

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pelo voto da maioria absoluta de seus membros (Plenário) ou dos membros do órgão especial
poderão os Tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo poder público.
Vale lembrar que em matéria de controle de constitucionalidade, o ordenamento brasileiro
adota um sistema misto, abrangendo o controle difuso – de origem norte-americana – e o
controle concentrado, sistema adotado na Europa.
O controle difuso de constitucionalidade pode ser feito por qualquer juiz ou Tribunal do
País, enquanto o controle concentrado é realizado apenas pelo STF (guardião da Constituição
Federal) e pelo TJ (guardião da Constituição Estadual).
Quando o controle difuso é feito por um Tribunal (ex.: STJ, TJDFT, TST), incidirá a regra
segundo a qual a norma somente será declarada inconstitucional se houver decisão nesse
sentido de maioria absoluta dos membros do Tribunal ou de seu órgão especial – como visto
anteriormente, este substitui o Plenário do Tribunal.
Pensando no STJ para ilustrar, a inconstitucionalidade não poderá ser declarada por um
ministro, pela Turma ou por uma Seção, ficando reservada à Corte Especial, uma vez que lá há
o órgão especial.
A razão da existência da referida cláusula é a seguinte: é certo que uma decisão proferida
por um juiz de determinada Comarca é importante. No entanto, muito mais importante é uma
decisão proferida por um Tribunal da envergadura do STJ, pois, nesse último caso, todos os
Tribunais inferiores indicarão o julgamento a título de orientação e exemplo.
Vale dizer que as decisões dos Tribunais são mais importantes e, por isso, não podem ser
tomadas monocraticamente ou por um pequeno número de julgadores (órgão fracionário).
Esse tema, de difícil compreensão por grande parte dos estudantes, tem direta relação
com a Súmula Vinculante n. 10, que tem esta redação:

Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de
tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato nor-
mativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte.

Qual a razão de ser da Súmula Vinculante n. 10? É o seguinte: muitas vezes, para fugir da
exigência de submeter a questão relativa à inconstitucionalidade ao Plenário – ou órgão espe-

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cial –, os órgãos fracionários dos Tribunais (turmas, câmaras ou seções) dão “um jeitinho”: em
vez de dizer que a norma é inconstitucional, eles deixam de aplicá-la. No final das contas, só
deixaram de aplicá-la por entender que era inconstitucional...
Por fim, cabe alertar que somente será necessário submeter a questão ao Plenário – ou
ao órgão especial – quando se entender que a norma é inconstitucional, pois todas as normas
nascem com presunção (relativa) de constitucionalidade.
Ou seja, para se afirmar a constitucionalidade da norma, não há necessidade de uma Tur-
ma mandar o caso para o Plenário, pois estará confirmando a regra, “chovendo no molhado”.
Foi exatamente dentro dessa diferença que trabalhou o examinador de recente concurso
para a Magistratura no DF. Na ocasião, perguntou-se a diferença entre a Interpretação Confor-
me a Constituição e a Declaração de Inconstitucionalidade Parcial sem redução de texto.
Antes mesmo de dar a resposta, vou lembrá-lo(a) de uma dica:

Todas as vezes em que for indagada a diferença entre institu-


tos, você deve encontrar inicialmente a semelhança.

Isso porque as perguntas giram em torno de temas com vários pontos de interseção.

Exemplificando, não será perguntada a diferença entre caneta e relógio. A pergunta recairia
sobre a diferença entre tênis e sapato. Em casos assim, o candidato responderia: “embora
ambos sejam calçados, masculino e feminino (semelhança), o tênis é utilizado para ocasiões
mais casuais, enquanto o sapato para eventos formais” (diferença).

Pois bem. Voltando à questão feita no concurso do TJDFT, tanto a interpretação conforme
a Constituição quanto a declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução de texto são
técnicas de manipulação situadas entre os limites constitucionalidade/inconstitucionalidade
(elas estariam dentro do grande gênero “sentenças intermediárias”, na subdivisão “decisões
normativas interpretativas”). Além disso, as duas atuam em palavras plurissignificativas – até
aqui, vimos as semelhanças!
Avançando sobre a distinção, tem-se que na interpretação conforme a Constituição se faz
um juízo positivo de constitucionalidade. Em outras palavras, afirma-se a constitucionalidade,
o que conduz à desnecessidade de remeter o caso ao Plenário (ou órgão especial, se houver).

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Já na declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução de texto, o juízo é negati-


vo. Nesse caso, como se profere um juízo de inconstitucionalidade (negativo), será necessária
a observância da regra do artigo 97 da CF, ora em estudo.
Por fim, atenção! Não há necessidade de observância da cláusula de reserva de plená-
rio por juízes de primeira instância, por Turmas Recursais de Juizados Especiais (embora
colegiadas, são compostas por juízes de primeiro grau) e também pelas Turmas do STF
(STF, AI n. 607.616).
Outra coisa: é desnecessária a submissão do caso à regra da reserva de plenário na hipó-
tese em que a decisão judicial estiver fundada em jurisprudência do Plenário do STF ou em
súmula desse tribunal (STF, ARE n. 914.045).
Por outro lado, nas decisões do TCU (Súmula n. 347/STF)**, do CNJ e do CNMP,
CNMP para afas-
tar a aplicação da norma entendida como inconstitucional, deverá ser observada a cláusula de
reserva de plenário.
plenário
A título de exemplo, se o CNJ fizer o controle de validade dos atos (lembre-se de que ele
não faz controle de constitucionalidade), precisará observar a decisão de maioria absoluta do
colegiado, para dar mais segurança jurídica à decisão (STF, PET n. 4.656).
Ah, eu tenho certeza de que você reparou no asterisco** que coloquei aí em cima. É que,
embora a Súmula n. 347 não tenha sido formalmente cancelada, em abril de 2021, o Plenário
do STF afastou a possibilidade de o TC fazer controle de constitucionalidade dentro de sua
atuação (STF, MS n. 35.410).
Sistematizando:

Cláusula de Reserva de Plenário


QUEM precisa observar? QUEM não precisa observar?
- Turmas, câmaras e seções dos tribunais de 2º grau e - Turmas do STF.
de tribunais superiores. - Turmas recursais de juizados especiais.
- TCU, CNJ e CNMP. - Juízes de primeiro grau.
QUANDO não precisa ser observada QUANDO precisa ser observada
- Decisão de interpretação conforme à Constituição. - Afastamento, no todo ou em parte, de norma, mesmo
- Se já houver decisão do órgão especial ou plenário do sem declaração expressa de inconstitucionalidade.
Tribunal e do plenário do STF. - Declaração de inconstitucionalidade parcial sem
- No juízo de recepção/revogação de normas pré-cons- redução de texto.
titucionais.
- No juízo de recepção/revogação de normas pré-cons-
titucionais.

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9.1.4. A Declaração de Inconstitucionalidade em Ação Civil Pública (ACP)

Em minha prova oral para o concurso de Juiz do TJDFT, o examinador me perguntou mais
ou menos assim: “Candidato, pode ser feito controle de constitucionalidade em uma ação civil
pública?”
A minha reação foi quase que intuitiva (e soou até meio abusada, mesmo não tendo sido
a intenção): “Excelência, o controle de constitucionalidade pode ser feito em qualquer ação,
remédio ou recurso!”
É claro que a pergunta daquele examinador tinha uma razão especial: é que na ação civil
pública versando sobre direitos difusos, a decisão proferida terá eficácia erga omnes.
Ou seja, os efeitos da decisão serão equivalentes àqueles observados nas ferramentas do
controle concentrado de constitucionalidade (ADI, ADO, ADC, ADPF).
Então, há uma grande semelhança entre o alcance da decisão proferida na ADI e na ACP,
certo? Exato, pois em ambas pode se declarar a inconstitucionalidade e nas duas a decisão
gerará efeitos para todos.
Mas é óbvio que há diferenças entre elas. Vejamos: o primeiro ponto que você deve reparar
é que a ADI é ferramenta do controle concentrado, enquanto a ACP pertence ao controle difuso
– que, em regra, produz efeitos inter partes.
Outra diferença está na competência para julgamento das ações: a ACP, em regra, é julga-
da na primeira instância, enquanto a ADI será julgada pelo STF ou pelos TJs – respectivamen-
te, no caso de ofensa à CF e às CEs.
Avançando, eu falei antes que no controle difuso a inconstitucionalidade é a razão do pedi-
do (causa de pedir), nunca o pedido.
Talvez esteja aí o grande X da questão, uma vez que a ACP não pode ser usada para buscar
a declaração de inconstitucionalidade como pedido. Se isso acontecer, haverá a usurpação de
competência do STF.
Em resumo, na ACP pode ser discutida a inconstitucionalidade, desde que ela seja a ques-
tão incidental, a causa de pedir, nunca o pedido (STF, RE n. 424.993).

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Em ação civil pública sobre direitos difusos, pode haver a declaração de inconstitucionalidade
de lei, desde que ela (a inconstitucionalidade) seja a causa de pedir, não o pedido.

9.1.5. Repercussão Geral

A partir da EC n. 45/2004, foi criado um requisito de admissibilidade do recurso extraor-


dinário (apenas para ele, ok?): a parte recorrente precisa demonstrar a repercussão geral das
questões constitucionais discutidas no caso.
A demonstração de repercussão geral funciona como um filtro, evitando que o STF julgue
processos que não tenham importância (os famosos casos de briga de vizinhos por conta de
papagaio, entre outros...).
O instituto da repercussão geral foi regulamentado pela Lei n. 11.418/2006 e, em um pri-
meiro momento, foi inserido nos artigos 543-A e 543-B do Código de Processo Civil de 1973,
revogado no ano de 2015 pela Lei n. 13.105/2015 (“Novo CPC”).
No CPC atual, o instituto foi mais bem destrinchado em seu artigo 1.035, cabendo aqui
destacar que a parte deverá, na petição do RE, demonstrar que o seu recurso possui questões
relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico (para gravar mais fácil, eu
sempre associava à sigla JEPS).
Seguindo, o próprio CPC reconhece a existência de repercussão geral quando o recurso se
voltar contra acórdão (decisão colegiada) que contrariar súmula ou jurisprudência dominante
do STF ou ainda que tenha reconhecido a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal,
nos termos do artigo 97 da Constituição (cláusula de reserva de plenário) – artigo 1.035, § 3º.
No chamado plenário virtual, a repercussão geral é presumidamente aceita, somente podendo
ser recusada pelo voto de dois terços dos ministros do STF (artigo 102, § 3º, da Constituição).
Outra coisa: suponha que o STF tenha julgado recurso extraordinário (RE) sob a sistemática
da repercussão geral, firmando uma tese. Daí, na hora de aplicar a tese lançada pelo Tribunal, o
STJ se equivoca na interpretação. Com isso, de forma indevida, não admite a subida do RE.

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A parte prejudicada, então, vai ao STF, por meio de uma reclamação. Minha pergunta: pode
isso, Arnaldo?
O STF entendeu que sim, dizendo que:

A erronia na observância de pronunciamento do Supremo formalizado, em recurso extra-


ordinário, sob o ângulo da repercussão geral, enseja, esgotada a jurisdição na origem
considerado o julgamento de agravo, o acesso ao Supremo mediante a reclamação (STF,
RCL n. 26.874).

Avançando, reconhecida a repercussão geral, ocorre a suspensão do processamento dos


feitos pendentes, individuais e coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território
nacional – § 5º do artigo 1.035 do CPC.
Ah, sabe a modulação temporal dos efeitos, nascida nas ações de controle concentrado,
mas que também pode ser aplicada ao controle difuso?
Pois é, quando o STF resolve fazer a modulação dos efeitos de decisão proferida em sede
de recurso extraordinário, mesmo aplicada a sistemática da repercussão geral, se não houver
declaração de inconstitucionalidade do ato normativo, só precisará ser respeitado o quórum
de maioria absoluta – e não de 2/3 (dois terços), como acontece na declaração de inconstitu-
cionalidade (STF, RE n. 638.115).
No âmbito do STJ, foi criado um procedimento semelhante para o seu “carro-chefe” em
matéria recursal. É que, para o recurso especial, está prevista a sistemática dos recursos repe-
titivos, segundo a qual, nos chamados “processos de massa”, o Tribunal escolhe um ou alguns
recursos representativos da controvérsia.
Com isso, os demais feitos ficam congelados na origem, aguardando a fixação da tese. Jul-
gados os recursos paradigmas, os Tribunais de origem devem adequar o entendimento àquele
firmado no STJ. A ideia é otimizar os trabalhos, evitando a multiplicação de processos idênticos.
O filtro do recurso repetitivo foi introduzido pela Lei n. 11.672/2006 e é tratado em diversos
dispositivos do Novo CPC, em especial, a partir do artigo 1.036.
Os demais detalhes da repercussão geral e do recurso repetitivo eu acredito que não de-
vam ser tratados neste momento, pois estão mais ligados ao Direito Processual Civil...

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9.2. Controle Concentrado


Idealizado por Hans Kelsen, o controle concentrado é o modelo europeu de controle. Ele
também é chamado de controle principal, abstrato ou por via de ação. Foi inserido no direito
brasileiro na Constituição de 1934, com a representação de intervenção – ADI interventiva.
A EC n. 16/1965 foi trazida para ação direta de inconstitucionalidade genérica – ADI. No
entanto, entre 1965 e 1988 a ação podia ser ajuizada apenas pelo PGR (ele também era o único
legitimado para a ADI Interventiva).
Com a promulgação da Constituição atual, houve uma reviravolta no controle concentra-
do. De um lado, como você já viu, houve a ampliação dos legitimados para o ajuizamento da
ADI. Se antes somente o PGR podia ajuizar, agora são nove os legitimados. De outro lado, foi
introduzido o controle das omissões constitucionais – ADI por omissão ou ADO – e também a
arguição por descumprimento de preceito fundamental (ADPF).
Mas somente com a EC n. 03/1993 ficou completo o “time” das ações do controle con-
centrado, com a introdução da ação declaratória de constitucionalidade (ADC). A ADC nasceu
podendo ser ajuizada por apenas quatro legitimados.
A EC n. 45/2004 cuidou de unificar os legitimados da ADI, ADO, ADC e da ADPF, com os
mesmos nove do artigo 103 da Constituição. Ainda há o patinho feio da história, que é a ADI
Interventiva, que conta apenas com o PGR.
Avançando, no âmbito federal, o controle concentrado é exercido somente pelo STF, guar-
dião da Constituição Federal. No plano estadual/distrital, cabe aos TJs o controle das normas
estaduais e municipais (ou distritais, no caso do DF) ante a Constituição Estadual/LODF. É que
o TJ funciona como guardião da Constituição Estadual (ou da LODF).
Aqui vai uma informação importantíssima, decorrente de uma modificação recente na ju-
risprudência. É o seguinte: o STF entendia não caber ao TJ fazer controle de constitucionali-
dade tendo como parâmetro a Constituição Federal. No entanto, flexibilizando essa regra, o
Tribunal passou a entender que o TJ pode fazer julgar ADI Estadual (controle concentrado)
usando como parâmetro norma da Constituição Federal se ela for de repetição obrigatória pelo
Estado-membro.
Em outras palavras, o TJ pode julgar ADI Estadual contra atos normativos municipais ou
estaduais que contrariem a Constituição Estadual (regra) ou a Constituição Federal (exceção),
desde que a norma da Constituição Federal seja de reprodução obrigatória (STF, RE 650.898).

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Por outro lado, para que não haja dúvidas, é bom lembrar que o município não possui Poder
Judiciário e que a Lei Orgânica Municipal não é obra do Poder Constituinte Derivado Decorren-
te (ao contrário da CE e da LODF). Em consequência, quando uma lei municipal contrariar a lei
orgânica municipal, estaremos diante de controle de legalidade, e não de constitucionalidade.
Por essa razão, o STF declarou a inconstitucionalidade de alguns dispositivos da CE-PE
que atribuíam ao TJ a tarefa de analisar a constitucionalidade de leis municipais quando con-
frontadas com a lei orgânica municipal (STF, ADI n. 5.548).
Você viu que o controle difuso é feito dentro de um caso concreto, de forma incidental. Eu
disse também que a inconstitucionalidade seria a causa de pedir, e nunca o pedido. Pois é, mas
o controle concentrado é também chamado de controle abstrato, pois a inconstitucionalidade
é decidida em tese, como pedido principal da ação.

Assim como fiz lá no controle difuso, vou apresentar dois exemplos para que você possa enten-
der melhor. O primeiro diz respeito à controvérsia das cotas para negros em concursos públi-
cos. A Lei n. 12.990/2014 trouxe a previsão segundo a qual 20% das vagas nos concursos do
Executivo Federal deveriam ser providas por candidatos pretos ou pardos.
O Conselho Federal da OAB questionou a constitucionalidade e o alcance da norma no STF,
tendo o Tribunal decidido que ela é válida. A Corte foi além e disse que a cota deve ser aplicada
em todo o Governo Federal, não se limitando ao Executivo (STF, ADC 41).
Desse modo, todos os concursos federais para o Executivo, Legislativo, Judiciário, MPU, TCU,
DPU devem reservar 20% das vagas nas cotas raciais. Fique de olho aberto, pois a lei não
incide nos estados, no DF e nos municípios, que podem editar norma própria.
Note que foi discutida a validade da lei em tese, não ligada a nenhum caso concreto, nenhum
candidato em nenhum concurso específico. Por isso se fala em controle abstrato.
Mais um exemplo: ADI ajuizada no STF discutia a validade de dispositivo constante na Cons-
tituição do estado do Acre, o qual previa a necessidade de autorização de 2/3 da Assembleia
Legislativa daquele estado para que fosse aberto processo contra o governador.
Na ocasião, o Tribunal entendeu que essa regra era inválida, pois somente em relação ao presi-
dente da República se impõe a autorização da Casa Legislativa – 2/3 da Câmara dos Deputa-
dos – para que o chefe do Executivo possa ser processado (STF, ADI 4.797).

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Veja que não se discutia a situação de nenhuma pessoa específica, seja o governador atual,
sejam os anteriores. A discussão era objetiva, não relacionada a ninguém individualmente. É
por essa razão que o controle concentrado também recebe o nome de controle objetivo, e não
subjetivo.

A primeira ferramenta do controle concentrado no direito brasileiro foi a ADI Interventiva, na


Constituição de 1934. A ADI genérica só entrou no ano de 1965, com a EC n. 16/1965.

9.2.1. Legitimados para Ajuizamento de Ações de Controle Concentrado

Como adiantei linhas atrás, a partir da EC n. 45/2004, houve uma unificação nos legitima-
dos para o ajuizamento de quatro das cinco ações de controle concentrado.
Desde então, tanto a ADI, quanto a ADO, a ADC e a ADPF podem ser ajuizadas pelos legiti-
mados do artigo 103 da Constituição. Veja o rol:

I – presidente da República;
II – Mesa do Senado Federal;
III – Mesa da Câmara dos Deputados;
IV – Procurador-Geral da República – PGR;
V – Governador de Estado ou do DF;
VI – Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do DF;
VII – Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VIII – Partido político com representação no Congresso Nacional; e
IX – Confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

Eu tenho certeza de que você notou que três dos nove legitimados foram propositalmen-
te colocados em cor diferente dos demais. Também não tenho dúvidas de que reparou no
destaque feito aos dois últimos, não é mesmo? Vamos às explicações e a algumas obser-
vações necessárias!
Os governadores dos estados e do DF, as Mesas das Assembleias Legislativas ou da CLDF
e as confederações sindicais e entidades de classe de âmbito nacional são chamadas de le-
gitimados especiais.

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Isso significa que, ao ajuizar uma ADI, eles precisam demonstrar o seu efetivo interesse na
declaração de inconstitucionalidade daquela norma. Esse interesse é chamado de pertinência
temática (STF, ADI 1.519).
Quer entender melhor? Vamos a dois exemplos:

Primeiro exemplo: o estado de Goiás concedeu aumento na remuneração dos policiais milita-
res daquela unidade federada. Contrariado, o governador do DF ingressa com ADI junto ao STF
questionando a lei editada pelo estado vizinho.
Pergunto: qual o interesse do governador do DF nessa ADI? Ainda que essa norma seja decla-
rada inconstitucional, o que ele ganharia com isso, considerando que é Goiás quem organiza e
mantém aquela corporação.
Perceba que, nesse caso, não foi demonstrada a pertinência temática.
Segundo exemplo: o estado de Goiás aprova uma lei prevendo que as mercadorias provenientes
de toda a região Centro-Oeste serão tributadas em 10% a título de ICMS. Nessa mesma norma
consta que apenas as mercadorias que venham do DF sofrerão tributação de 15% de ICMS.
Pergunto: há interesse do DF na declaração de inconstitucionalidade da lei goiana? Seria viável
o ajuizamento da ADI por parte do governador do DF?
Entendo que, nesse caso, está comprovada a pertinência temática, uma vez que o DF foi dire-
tamente atingido pela legislação goiana, sendo prejudicado.

Já os outros legitimados são chamados de universais ou neutros e podem ingressar com


as ações de controle concentrado sem a necessidade de demonstração de interesse, que no
caso é presumido.
Avançando, a maior parte dos legitimados anteriormente listados não precisam estar re-
presentados por advogados, pois eles possuem capacidade processual plena. A dispensa não
é aplicável aos partidos políticos e às confederações sindicais e entidades de classe (incisos
VIII e IX do rol do artigo 103), que deverão anexar o instrumento de procuração quando do
ajuizamento da ação. Aliás, a procuração deve conferir poderes específicos, detalhando qual
a lei a ser questionada e por qual motivo (STF, ADI 127).
Quanto aos partidos políticos, de um lado, lembro que a legenda não precisa possuir re-
presentantes na Câmara e no Senado, bastando que tenham em qualquer das Casas. De outro

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lado, mesmo que ele perca a representação no Congresso Nacional no curso da ADI, o proces-
so pode prosseguir, dada a natureza objetiva da ação. Em outras palavras, a perda supervenien-
te da representação não impede a continuidade do processo (STF, ADI n. 2.618).
E mais: quem possui legitimidade para ingressar com as ações do controle concentrado
perante o STF é o Diretório Nacional, o que não se estende aos Diretórios Regionais ou à Exe-
cutiva Regional (STF, ADI n. 1.528).
Em relação aos governadores, é importante frisar que o próprio estado ou o procurador-
-geral do estado não podem interpor recursos dentro do controle concentrado. A legitimidade
seria apenas do ocupante da chefia do Executivo (STF, ADI n. 2.130).
Tem mais: se o governador estiver afastado cautelarmente de suas funções, ele não terá
legitimidade para propor as ações de controle concentrado. Esse entendimento foi fixado
quando o ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, afastado por decisão do STJ, tentou
ajuizar ADI (STF, ADI n. 6.728).
Por outro lado, referente aos Conselhos de Fiscalização Profissional – exemplo: Conselho
Federal de Medicina, de Odontologia, de Arquitetura –, eles não se encaixam na expressão
“entidade de classe de âmbito nacional”, não possuindo legitimidade. Aliás, o único Conselho
Federal que tem legitimidade é o da OAB (STF, ADPF n. 264).
Ainda sobre o inciso IX do artigo 103 da Constituição, o STF decidiu que, no caso das en-
tidades de classe de âmbito nacional, a legitimidade deve observar três condicionantes proce-
dimentais: a) homogeneidade entre os membros integrantes da entidade; b) representatividade
da categoria em sua totalidade e comprovação do caráter nacional da entidade, pela presença
efetiva de associados em, pelo menos, nove estados-membros; e c) pertinência temática entre
os objetivos institucionais da entidade postulante e a norma objeto da impugnação.
Em consequência, se a entidade representar mero segmento da categoria funcional, ou se
não comprovar a representação da totalidade da categoria em, pelo menos, nove estados da
Federação, ela não terá legitimidade para propor ação de controle concentrado de constitucio-
nalidade (STF, ADI n. 6.112).
Agora fique atento a um detalhe: a ANAMAGES (Associação Nacional dos Magistrados
Estaduais) não é legitimada para ajuizar ações discutindo interesses de toda a magistratura,
na medida em que representa apenas fração da categoria. Porém, quando a ação discutir plei-
to relativo a magistrados de um estado da Federação, ela pode atuar, pois lhe é reconhecida
legitimidade (STF, ADI n. 4.484).

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Ponto recorrente nas provas, fazendo com que você fique mais atento(a): quanto às en-
tidades sindicais, as únicas legitimadas são as confederações sindicais, entes de 3º grau na
estrutura tradicional.
Desse modo, centrais sindicais (exemplo: CUT, Força Sindical), sindicatos e federações,
mesmo de abrangência nacional, não podem ajuizar as ações do controle concentrado peran-
te o STF (STF, ADI 4.224).
Prosseguindo, no tocante às “associações de associações”, o STF passou a reconhecer a
sua legitimidade para o ajuizamento das ações de controle concentrado (STF, ADI 3.153).
Um detalhe: a Mesa do Congresso Nacional não pode ajuizar as ações de controle con-
centrado, visto que essa legitimidade é conferida apenas às Mesas da Câmara e do Senado,
órgãos diversos.
Tem mais: a EC n. 45/2004 incluiu expressamente o governador e a Mesa da Câmara Le-
gislativa do DF como legitimados para o ingresso das ações de controle principal. Antes só
se falava em governadores dos estados e Mesa das Assembleias Legislativas. De todo modo,
mesmo antes dessa emenda, o STF já reconhecia a legitimidade de tais entes (STF, ADI 645).
Outra coisa: não é cabível a oposição de embargos de declaração por outra pessoa que não
aquela que tenha ajuizado a ação principal.

Exemplificando, suponha a situação na qual o PGR ingresse com uma ADI e que, contra a deci-
são, sejam opostos embargos de declaração pelo Conselho Federal da OAB. Nesse caso, o STF
tem negado o conhecimento do recurso (STF, ADI 1.105).

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Sistematizando:

Legitimados para ajuizamento de ADI, ADO, ADC e ADPF


3 pessoas 3 mesas 3 entidades
Presidente da República Mesa da CD Conselho Federal da OAB
PGR Mesa do SF Partido político com representa-
Governador de estado/DF Mesa da AL ou CLDF ção no CN**
Confederação sindical ou entidade
de classe de âmbito nacional**
Observações:
1) os legitimados que aparecem em vermelho são chamados de especiais, pois precisam demonstrar o inte-
resse no caso (pertinência temática). Os demais são chamados de universais.
2) Os legitimados que estão com asterisco verde precisam estar assistidos por advogado, com procuração
específica. Os demais possuem legitimidade ativa dada pela própria CF.
3) Para a ADI interventiva há somente um legitimado no STF (PGR) e um no TJ (PGJ).
4) Não se admite desistência nem o ajuizamento de ação rescisória nas ações de controle concentrado.

Pronto! Já esmiucei os pontos mais importantes sobre os legitimados para as ações do


controle concentrado. É hora de estudarmos cada uma delas, ok?

Quanto às entidades sindicais, o STF só reconhece legitimidade para as ações do controle


concentrado às confederações. Desse modo, ficam de fora as centrais sindicais, os sindicatos
e as federações, mesmo de abrangência nacional.

9.3. Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI


A ADI (ou ADI genérica) é a mais importante ferramenta do controle concentrado de cons-
titucionalidade. Aliás, você constata o que estou dizendo só de olhar o número de ADIs e com-
parando-o à quantidade de ADCs ou de ADPFs ajuizadas no STF.
Mas fique atento(a): a ADI não foi a primeira ação do controle concentrado a ser introdu-
zida no direito brasileiro. Ao contrário, esse papel coube à ADI Interventiva, na Constituição de
1934. Ou seja, além de vir depois do controle difuso (incorporado ao direito brasileiro na Cons-
tituição de 1891), o controle concentrado nasceu de modo muito tímido. Basta lembrar que a
ADI Interventiva até hoje quase não é usada.

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Voltando à ADI, ela foi inserida no Brasil apenas com a EC n. 16/1965 (na Constituição
de 1946). Naquela época, havia somente um legitimado para sua propositura, que era o PGR.
Como visto, a ampliação do rol de legitimados se deu na Constituição de 1988.
Ela é prevista no artigo 102, I, a, da Constituição, que prevê o cabimento da ADI no STF para
questionar lei ou ato normativo federal ou estadual ante a Constituição Federal. Pela leitura
do dispositivo constitucional, fica evidente que não cabe ao STF julgar ADI para questionar lei
municipal diante da Constituição Federal.
Isso, em um primeiro momento, pode angustiar o(a) candidato(a), mas logo adianto que
haverá outras ferramentas no ordenamento jurídico. Ou seja, há outros meios de retirar do sis-
tema uma lei municipal que esteja violando a Constituição.
Tema recorrente nas provas é o cabimento de ADI para leis distritais. Nesse ponto, é im-
portante você lembrar que o DF acumula as competências legislativas, administrativas e tri-
butárias dos estados e dos municípios. Em virtude disso, a CLDF elabora normas de natureza
estadual e municipal.
Considerando o não cabimento de ADI para questionar no STF normas municipais, o que
acontece é que somente as leis distritais de natureza estadual poderão ser questionadas no
STF por meio de ADI.
Não é por outra razão que o STF editou a Súmula n. 642, segundo a qual:

Não cabe ação direta de inconstitucionalidade de lei do Distrito Federal derivada da sua
competência legislativa municipal.

Delimitada a natureza das normas que podem ser objeto de questionamento, passo ao
ponto seguinte: qual a abrangência da expressão “lei ou ato”?
Certamente, estão incluídos dentro desse conceito todos os atos primários previstos no
art. 59 da Constituição. Em outras palavras, cabe ADI para questionar as emendas à Constitui-
ção, as leis complementares, ordinárias e delegadas, as medidas provisórias, as resoluções e
os decretos legislativos.
Ainda dentro dos atos normativos primários, podemos citar os regimentos internos, as de-
liberações administrativas e as resoluções administrativas dos Tribunais, desde que possuam
caráter normativo (STF, ADI 2.104). Também entram nesse rol as resoluções do CNJ e do CNMP

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(STF, ADC 12), os decretos autônomos e os tratados internacionais. Aliás, sobre a possibilidade
de questionamento de tratados internacionais, vale uma explicação mais detalhada.
É que um tratado internacional pode se inserir na Pirâmide de Kelsen em três situações
diferentes: se ele não versar sobre direitos humanos, terá hierarquia equivalente às leis, encai-
xando-se dentro dos atos normativos primários.
Ao contrário, tratando sobre direitos humanos, abrem-se duas possibilidades: na primeira,
ele passará pelo rito especial de aprovação (dois turnos, três quintos, em cada Casa do Con-
gresso Nacional), ocasião em que terá status de emenda à Constituição (que, embora seja ato
normativo primário, se insere no topo da pirâmide do ordenamento).
Na segunda, mesmo versando sobre direitos humanos, ele não passou pelo rito especial.
Nesse caso, terá status de norma supralegal, ou seja, se situará acima das leis, mas abaixo
da Constituição. Seja como for, repito: todos os tratados internacionais podem ser objeto de
ADI no STF.

Agora pense aí na seguinte situação: em determinado TJ, alguns servidores conseguiram, na via
administrativa ou na judicial, o direito a receber determinada gratificação. Então, outros dois for-
mulam requerimento administrativo ao Plenário do órgão para também serem beneficiados.
Ao julgar o pleito, o Tribunal não só atende como resolve estender o mesmo benefício para
todos os servidores (que não pediram) que estivessem em situação idêntica. Caberia ADI
contra esse ato administrativo do Tribunal (que estendeu a gratificação de forma geral e abs-
trata)? O STF entendeu que sim e cassou a decisão do TJ (STF, ADI 3.202).

Mas pera lá, pois nem todos os atos editados pelos Tribunais podem ser questionados via
ADI. É que os editais de concursos públicos são atos normativos secundários, atos de efeitos
concretos, não sendo cabível ADI. Isso porque eventual questionamento estaria dentro da se-
ara da legalidade, sendo eventual ofensa à Constituição indireta ou reflexa (STF, ADI n. 2.151).
Seguindo em frente, não vá cair em casca de banana: as súmulas, mesmo vinculantes, não
podem ser questionadas por meio da ADI. Isso acontece porque elas não têm grau de norma-
tividade necessário para ser objeto de controle concentrado de constitucionalidade.
Em regra, não caberá nenhuma ferramenta do controle concentrado para questionamento
das súmulas (STF, ADI 594). A exceção ocorrerá quando o enunciado tiver conteúdo norma-

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tivo, um preceito geral e abstrato. Em tal situação, poderá ser cabível a ADPF (STF, ADPF n.
501).
Embora a afirmação possa causar certa perplexidade, é importante você lembrar que, para
as súmulas vinculantes, a Constituição prevê um procedimento específico de questionamento,
que é o pedido de revisão ou de cancelamento. Ele pode ser feito pelos mesmos legitimados para
ingressar com as ações de controle concentrado. Em português bem claro: “dá no mesmo!”.
Sobre os decretos, cabe um alerta: caberá ADI para questionar os decretos legislativos
(editados exclusivamente pelo Congresso Nacional) e os decretos autônomos, que foram in-
seridos pela EC n. 32/2001 e estão previstos no artigo 84, VI, da Constituição (STF, ADI 2.950).
Já os decretos regulamentares (regulamentam as leis), por serem atos normativos secun-
dários, estarão sujeitos a controle de legalidade, e não de constitucionalidade (STF, ADI 264).
Deixe-me sistematizar para não haver nenhuma dúvida:

Decreto Autônomo Decreto Regulamentar


Natureza Jurídica Ato normativo primário Ato normativo secundário
Submissão Diretamente à Constituição Diretamente à lei e indiretamente à Constituição
Controle Realizado Controle de constitucionalidade Controle de legalidade
Cabimento de ADI Sim Não

Vou abrir um parêntese. Não se esqueça de um ponto: em razão da declaração de in-


constitucionalidade de uma lei, o decreto que a regulamenta pode ser atingido. É a chamada
inconstitucionalidade por arrastamento, por ricochete, reverberação, consequência ou decor-
rência (ainda tem um monte de nomes para complicar...). A propósito, a inconstitucionalidade
por arrastamento incide não apenas na relação lei x decreto regulamentar.

Exemplificando: o STF declarou a inconstitucionalidade da LC n. 78/1993, na parte em que o


Congresso Nacional delegou ao TSE a tarefa de determinar o número de cadeiras que cada
estado/DF teria direito na Câmara dos Deputados. Segundo a referida LC, caberia ao TSE editar
uma resolução dizendo a quantos deputados federais cada estado teria direito.
Ao julgar a ADI ajuizada contra a LC n. 78/1993, o STF acabou declarando a sua inconstitucio-
nalidade, por entender que não era devida a delegação, devendo a tarefa ficar a cargo do Con-
gresso Nacional. Em consequência, caiu também a resolução do TSE (STF, ADI 4.963). Fecho
o parêntese e volto ao cabimento (ou não) de ADI.

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Todas as normas constitucionais editadas pelo Poder Constituinte Derivado (PCD) estão
sujeitas a controle de constitucionalidade via ADI.

Como assim?

Ora, o Poder Constituinte Originário estipula limites às emendas à Constituição (PCD Re-
formador), às emendas de Revisão (PCD Revisor) e às Constituições Estaduais/LODF (PCD De-
corrente). Logo, se quaisquer das espécies do Constituinte Derivado afrontar a Constituição
Federal, poderá haver o ajuizamento de ADI (STF, ADI 939).
Porém, tratando-se de lei orgânica municipal, não caberá ADI no STF, pois, como você
viu, não cabe ADI para o STF a fim de questionar normas municipais. Falando nisso, quando
uma lei municipal viola a lei orgânica municipal, fala-se em controle de legalidade, e não de
constitucionalidade.
Por essa razão, o STF declarou a inconstitucionalidade de alguns dispositivos da CE-PE
que atribuíam ao TJ a tarefa de analisar a constitucionalidade de leis municipais quando con-
frontadas com a lei orgânica municipal (STF, ADI n. 5.548).
Retomando, você viu ser possível ajuizar ADI para questionar normas editadas pelo Cons-
tituinte Derivado, certo? Pois é, em sentido contrário, não se admite o ajuizamento de ADI para
verificar a constitucionalidade de normas originárias. Isto é, as normas que estão na Consti-
tuição desde a sua promulgação não podem ser questionadas, uma vez que o Brasil não ad-
mite a tese da inconstitucionalidade de normas originárias, defendida pelos professores Otto
Bachof7 e Jorge Miranda8 (STF, ADI 815).
Dentro da ideia de inexistência de hierarquia entre normas constitucionais, eventual cho-
que entre normas originárias (exemplo: liberdade de imprensa versus intimidade da vida pri-
vada) é resolvido caso a caso por meio da ponderação de interesses. Em nenhuma hipótese
haverá a declaração de inconstitucionalidade. O que ocorrerá é que uma das normas cederá
espaço para a outra.
Tem mais: não cabe ADI para questionar normas editadas antes da Constituição. Para o
direito pré-constitucional, a única ferramenta do controle concentrado é a ADPF. No entanto,

7
BACHOFF, Otto. Normas constitucionais inconstitucionais? Tradução de José Manuel M. Cardoso da Costa. Coimbra:
Atlântida,1977, págs. 52-64.
8
MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. 2ª edição. Coimbra: Coimbra editora, 1987, pág. 291.

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deve ser lembrado que ela – a ADPF – é de cabimento restrito, pois pressupõe violação a pre-
ceito fundamental.
De igual modo, não cabe ADI contra decisões judiciais. Novamente, o único instrumento do
controle concentrado seria a ADPF. Ainda assim, a ADPF não poderia ser ajuizada se a decisão
judicial transitou em julgado.
Quanto aos atos estatais de efeitos concretos, não será cabível ADI. Agora atente-se bem
para uma questão importantíssima: se o ato estatal de efeito concreto é viabilizado na forma
de lei (ou de MP), a ADI passa a ser cabível.
Trocando em miúdos, o STF entendeu pela possibilidade de fazer controle concentrado de
constitucionalidade de lei de efeito concreto (abertura de créditos extraordinários) por meio
de ADI (STF, ADI-MC 4.048).
Isso representou uma significativa mudança, na medida em que sempre se entendeu pelo
cabimento da ação apenas contra normas dotadas de generalidade e abstração.
Avançando, também não é cabível o ajuizamento da ADI para questionar leis já revogadas
ou normas com eficácia exaurida – mais uma vez, no controle concentrado, a única ferramenta
é a ADPF (STF, ADPF 77).
Mas o que acontece se a lei for revogada ou perder a sua vigência no curso da ADI? Em
regra, a ADI será julgada prejudicada, por perda do objeto (STF, ADI 2.010).
Olhando por outro ângulo, veja este trechinho:

A jurisprudência desta Suprema Corte é firme no sentido de que a revogação expressa ou


tácita da norma impugnada, bem como sua alteração substancial, após o ajuizamento
da ação direta de inconstitucionalidade, acarreta a perda superveniente do seu objeto,
independentemente da existência de efeitos residuais concretos dela decorrentes (STF,
ADI n. 2.049).

É, meu(minha) amigo(a)... nesse mundo dos concurseiros, quando se fala “em regra”, você
já fica logo de orelha em pé...
A exceção fica por conta da existência de fraude processual, pois, nesse caso, a ADI pode
continuar a ser julgada. Daí você me pergunta:

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O que se entende por fraude processual?

Vou explicar com um exemplo: o estado X editou uma norma mesmo sabendo de sua inconsti-
tucionalidade por invadir competência privativa da União. Então, um dos legitimados do artigo
103 da Constituição ajuíza ADI no STF. O estado, sabendo que sua norma seria declarada
inconstitucional, corre para revogá-la.
Mas onde estaria a fraude? É que para não sofrer os efeitos vinculantes e a eficácia erga
omnes da decisão, o estado preferiu revogar a lei. Certamente, após o arquivamento da ADI,
ele iria editar nova lei com conteúdo semelhante. E, havendo outra ADI, viria nova revogação...
meio que uma situação de gato e rato. É isso que se busca evitar, mantendo-se o julgamento
da ADI (STF, ADI 3.232).

Já em relação às medidas provisórias, será cabível o ajuizamento da ADI. Contudo, caso


elas sejam revogadas antes do julgamento (rejeição tácita ou expressa), a ADI será conside-
rada prejudicada.
De outro lado, havendo a conversão em lei durante o andamento da ação, bastaria ao autor
aditar a petição inicial, ajustando o pleito no sentido de ver declarada a lei, e não mais a MP.
Ainda sobre as MPs, o STF entende que, excepcionalmente, se a ausência for manifestada,
pode o Judiciário analisar a presença ou não dos requisitos constitucionais de urgência e rele-
vância (STF, 2.213).
Agora se ligue na seguinte situação: em 2010 foi editada a Lei da Ficha Limpa (LC n.
135/2010) e o STF confirmou a constitucionalidade da norma em ADC.
Porém, anos depois, chega ao tribunal uma ADI questionando a mesma lei. Será que a ADI
pode ser conhecida?
Analisando o caso, o STF entendeu que sim, mas somente seria possível o ajuizamento de
ADI se presente um dos três requisitos: a) alteração normativa, b) alteração fática ou c) muta-
ção constitucional.
Como na situação concreta não havia nenhum dos requisitos, a ADI não foi conhecida e a
suspensão dos direitos políticos continuou sendo de oito anos, contados depois do término da
pena (STF, ADI n. 6.630).

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Pronto! Você já viu quando cabe e quando não cabe a ADI. Agora é hora de vermos o pro-
cedimento e outros pormenores...

O STF não julga ADI para verificar a constitucionalidade de leis municipais ou distritais de na-
tureza municipal ante a Constituição Federal. No controle concentrado, no âmbito federal, tais
normas só poderão ser questionadas via ADPF.

9.3.1. Procedimento na ADI

A Constituição é bem econômica ao falar do procedimento da ADI, nos parágrafos 1º a 3º


do artigo 103. Regulamentando a norma constitucional, foi editada a Lei n. 9.868/1999, que
é a principal lei do controle concentrado e regula não só a ADI, mas também a ADC e a ADO.
Além disso, ela ainda é aplicada subsidiariamente à ADPF, que conta com regra própria – Lei
n. 9.882/1999.
Você já viu comigo quem são os legitimados para ingressar com a ação. Agora, vou espe-
cificar outros pontos igualmente importantes.
A petição inicial deverá indicar qual o dispositivo de lei ou qual o ato normativo que se en-
tende inconstitucional, e quais os fundamentos de tal pedido.
Lá na parte dos legitimados eu já adiantei, mas reforço agora: o STF entende que somente
os partidos políticos e as confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional
precisarão estar assistidas por advogado para a propositura da ADI.
Mais do que isso, a procuração deve conter poderes específicos para indicar a inconstitu-
cionalidade da norma. Os demais legitimados, por sua vez, já contam com capacidade postu-
latória extraída diretamente da Constituição (STF, ADI 127).
Se a petição inicial for inepta ou manifestamente improcedente, poderá ser indeferida pelo
próprio Relator. Havendo recurso dessa decisão (agravo interno), a questão será submetida
ao Plenário. Em seguida, havendo ou não informações, o processo segue para o AGU e para o
PGR, que se manifestarão no prazo de 15 dias cada um.

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Aqui, um ponto importantíssimo: o Advogado-geral da União, segundo o artigo 103, § 3º,


da Constituição, será citado e “defenderá o ato ou texto impugnado”. Ou seja, pela leitura do
texto, não haveria margem para o AGU deixar de fazer a defesa.
Pois bem, certamente você já ouviu a expressão “custos legis”, que se refere ao Ministério
Público. Ele atua como fiscal da lei, fiscal da Constituição ou mesmo fiscal da ordem jurídica.
Agora, quando se fala em defensor legis, ou curador da lei, estamos tratando da missão
atribuída ao AGU de, no controle concentrado, fazer a defesa da lei ou do ato normativo ques-
tionado junto ao STF.
Perceba que não se restringiu o papel do AGU às leis ou atos normativos federais. É dele
também a incumbência de defender as normas estaduais e as distritais de natureza estadual
que sejam atacadas via ADI.
Repare bem que o texto constitucional usa expressão afirmativa, quase peremptória, de-
terminando que o AGU faça a defesa da norma. A necessidade de defender a norma seria para
formar um contraditório, na medida em que, se a ADI foi ajuizada, é porque alguém está enten-
dendo que ela é inconstitucional – “estão batendo na lei”. É nessa toada que chegaria o AGU
para atuar no sentido contrário.
Entretanto, o STF entende que o AGU não estará obrigado a defender a norma questionada
em algumas hipóteses. Veja quais são:
a) se já houver manifestação anterior, proferida pelo STF, declarando a inconstitucionalida-
de da norma em controle concentrado de constitucionalidade – STF, ADI 1.616;
b) se ele assinar, juntamente com o presidente da República, a petição da ação direta de
inconstitucionalidade;

Cabe lembrar que o AGU não possui legitimidade para o ajuizamento da ADI. Porém, quan-
do o presidente da República for o autor da ação, é natural que a petição tenha sido redigida
pelo AGU. Então, nada impede que ele também assine o pedido de declaração de inconstitu-
cionalidade.
Em tal hipótese, não se poderia exigir um comportamento esdrúxulo, no sentido de primeiro
assinar a petição, dizendo que a norma é inconstitucional e, na sequência, passar a defendê-la.
c) Se a norma questionada contrariar o interesse da União – STF, ADI 3.916.

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Uma pergunta: deve o AGU exercer defesa de norma que contrarie os interesses da União?
A resposta tende a ser negativa, pois, como o nome do cargo por ele ocupado dá mostras, ele
advoga para a União. Em uma interpretação mais alargada, o STF considerou que a AGU teria
direito de manifestação, e não propriamente a obrigação de defender a norma questionada.

 Obs.: Por fim, vale uma observação: a jurisprudência do STF era no sentido de que na ação
direta de inconstitucionalidade por omissão – ADI por omissão – não se fazia neces-
sário ouvir o AGU (STF, ADI 480).

Esse raciocínio se justificava na medida em que, se o AGU deve fazer a defesa da norma e
a ação direta é ajuizada exatamente por conta do vácuo legislativo (ausência da norma), o que
lhe restaria defender?
No entanto, com a edição da Lei n. 12.063/2009, que deu novo tratamento à ADI por omis-
são, se a omissão for parcial, será necessária a manifestação do AGU. Aliás, a nova sistemá-
tica não passou despercebida, uma vez que a própria Lei n. 12.063/2009, em seu artigo 12-E,
§ 2º, diz que:

O relator poderá solicitar a manifestação do Advogado-Geral da União, que deverá ser encaminhada
no prazo de 15 (quinze) dias.

Avançando, colhidas as manifestações do AGU e do PGR, pode o Relator admitir a manifes-


tação do amicus curiae (sobre ele falarei mais detidamente daqui a pouquinho) ou a realização
de audiências públicas. Essas duas ferramentas vêm dentro da ampliação/pluralização do deba-
te, como forma de conferir mais legitimidade às decisões judiciais. Aliás, ambos os instrumentos
se inserem no conceito da “sociedade aberta de intérpretes”, defendido por Peter Häberle.
Ultrapassada essa fase, o Relator prepara seu voto e pede a inclusão do feito em pauta.
Para que haja a declaração de inconstitucionalidade (ou de constitucionalidade, dado o efeito
ambivalente, que será visto na ADC), é necessária a formação de maioria – seis ministros.
Cuidado para não confundir: a sessão de julgamento só pode ser iniciada com a presença
de no mínimo oito ministros. Esse é o quórum de instalação.

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Supondo que no dia do julgamento estivessem presentes apenas oito ministros e que a vota-
ção estivesse empatada em 4 x 4. Nessa situação, deverá a sessão ser suspensa, aguardan-
do-se o comparecimento de outros ministros, até se chegar ao placar de seis votos, em um ou
em outro sentido.

Um ponto muito importante nas provas é saber a partir de qual momento a decisão pro-
ferida no controle concentrado passa a valer. Contrariando a lógica geral (sempre presente
nas questões de múltipla escolha), a decisão não começa a valer a partir da publicação do
acórdão de julgamento.
Ao contrário, a decisão proferida nos processos de controle concentrado começa a valer
com a publicação da ata da sessão de julgamento, o que acontece muito antes do acórdão
(STF, ADI 711).
Veja que a regra vale para todas as ações do controle concentrado, não se limitando à ADI.
Além disso, lembro que é também a partir da publicação da ata da sessão de julgamento que
se autoriza o ajuizamento de eventual reclamação.
Há outros detalhes normalmente cobrados pelos examinadores: por exemplo, não há pos-
sibilidade de desistência da ação nos processos de controle concentrado. Ademais, é vedada
a intervenção de terceiros, exceto a figura do amicus curiae. De igual modo, não se fala em
prazo prescricional ou decadencial para a propositura da ação (STF, ADI 1.247).
Pegadinha frequente nas provas é sobre a possibilidade de recurso nas decisões do con-
trole concentrado. A esse respeito, o artigo 26 da Lei n. 9.868/1999 diz não caber recurso
contra a decisão que declara a inconstitucionalidade ou a constitucionalidade em uma ADI ou
ADC, salvo quanto à oposição de embargos de declaração.
Mas fique atento(a): embora a lei só preveja o cabimento de embargos de declaração, há outro
recurso. Aliás, eu já até te falei dele anteriormente... é que cabe agravo contra a decisão do Relator
que indeferir a petição inicial por entendê-la inepta ou manifestamente improcedente.
Avançando, não cabe ação rescisória contra decisão proferida em controle concentrado.

Agora pense na seguinte situação: o partido político Beta ingressa com ADI alegando que a Lei
X possui vício formal de iniciativa, sendo inconstitucional por esse motivo. Nesse caso, pode
o STF afastar a alegação, mas declarar a inconstitucionalidade da norma por outro motivo

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não constante na petição inicial? A resposta é sim! Isso porque o Tribunal não fica vincula-
do à causa de pedir (em bom juridiquês, causa petendi). A vinculação é ao pedido do autor.
Logo, pode declarar a inconstitucionalidade por vício material, mesmo tendo sido alegado vício
formal, por exemplo.

Tem mais: a declaração de inconstitucionalidade pode abranger toda a norma questionada


ou apenas uma parcela dela. Surge, então, o princípio da parcelaridade.
parcelaridade
A bem da verdade, o Judiciário, ao declarar a inconstitucionalidade, pode nulificar toda a
lei, o artigo, o parágrafo, o inciso ou a alínea. Pode mais: declarar a inconstitucionalidade sem
a pronúncia de nulidade, além de poder retirar uma palavra ou expressão de dentro da frase.
Quer um exemplo? O Estatuto da OAB, em seu artigo 7º, § 2º, dizia o seguinte:

§ 2º O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou desacato puní-
veis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem
prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer.

Acontece que houve o ajuizamento de ADI contra esse dispositivo, tendo o STF declarado
a inconstitucionalidade da expressão “ou desacato”, mantendo a imunidade do advogado em
relação aos atos caracterizadores de injúria e de difamação (STF, ADI n. 1.127).
É importante frisar essa particularidade, na medida em que o chefe do Executivo, ao optar
pelo veto, não pode retirar uma palavra ou expressão de dentro da frase. Caso não concorde
com o trecho, ele precisaria vetar por completo (vetaria todo o inciso ou o artigo, por exemplo).

As decisões proferidas em controle concentrado valem a partir da data da publicação da ata


de julgamento, e não do acórdão.

9.3.2. Efeitos da Decisão

Ajuizar uma ADI (ou uma ADC) pode ser uma faca de dois gumes. É que o Tribunal pode
acolher ou não seu pedido. Em caso de improcedência, o resultado dará efeitos vinculantes
diretamente contrários aos seus interesses.

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Vou explicar melhor: as normas nascem com presunção relativa de constitucionalidade.


Se você ajuizar uma ADI e ela for julgada improcedente, isso significa que o STF confirmou a
constitucionalidade, transformando aquela presunção em absoluta.
Por outro lado, quando o legitimado ingressa com uma ADC, o seu objetivo é ver transfor-
mada em absoluta a presunção de constitucionalidade da norma. O problema é que pode dar
ruim, como se diz popularmente.
Como assim? Ora, se o STF julgar a ADC improcedente, isso significará a declaração de
inconstitucionalidade daquela norma.
Avançando, a decisão produzirá efeitos retroativos (ex tunc), retirando a norma do ordena-
mento como se ela nunca tivesse existido. Contudo, essa regra pode ser relativizada diante da
modulação temporal de efeitos (sobre ela conversaremos mais tarde).
Quando se fala em efeitos retroativos, é como se eu estivesse no filme De volta para o fu-
turo e pudesse voltar no tempo, fazendo com que a decisão de inconstitucionalidade tivesse o
poder de desaparecer com a norma desde a origem.
Se isso acontecer, ou seja, se não houver a modulação temporal de efeitos – que é a exce-
ção –, a decisão do STF gerará o efeito repristinatório da legislação que vigorava antes de a
norma declarada inconstitucional surgir no sistema.

Repare só uma situação hipotética: a Lei X revogou a Lei Y. Acontece que, tempos depois, o
STF declara a inconstitucionalidade da Lei X, por vício formal. Não houve modulação temporal.
Então, a Lei X é retirada do ordenamento como se nunca tivesse existido.
Uai, se a Lei X nunca existiu, ninguém revogou a Lei Y, certo? Exatamente! É por tal razão que
a decisão provocará o efeito repristinatório, “ressuscitando” a finada Lei Y.

Agora vou abrir um parêntese para explicar outro ponto relacionado ao controle de consti-
tucionalidade e o juízo de recepção/revogação de normas pré-constitucionais.
É o seguinte: quando ajuíza uma ADI, a parte deve indicar a norma que quer ver declarada
inconstitucional e também outras que, antes dela, contenham o mesmo problema.
Em outras palavras, suponha que eu entre com uma ADI para questionar a Lei n. 3, que re-
vogou a Lei n. 2, que revogou a Lei n. 1.

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Nesse caso, se em todas as três há o defeito que eu quero combater, de antemão eu já


digo: olha, mesmo que você tire a Lei n. 3 do ordenamento, ainda persistirá o problema, uma
vez que a Lei n. 2 voltará a vigorar (por conta do efeito repristinatório). A mesma coisa aconte-
ce com a Lei n. 1.
Em outras palavras, tenho que dar um tiro e derrubar toda a cadeia de normas incompatí-
veis com a Constituição, certo?
Até aqui, tudo bem.
Então, se as três leis (3, 2 e 1) tiverem sido editadas após a promulgação da Constituição
em vigor, eu pedirei a declaração de inconstitucionalidade de todas elas.
Por outro lado – e aqui que vem o pulo do gato –, suponhamos que as Leis n. 3 e 2 foram
editadas na vigência da Constituição atual, mas a Lei n. 1 (que foi revogada pela Lei n. 2) tives-
se sido editada em 1985 (portanto, antes da Constituição atual).
Nesse cenário, caso o STF entenda que as Leis n. 3, 2 e 1 são incompatíveis com a Consti-
tuição atual, de um lado o Tribunal vai declarar a inconstitucionalidade das Leis n. 3 e 2 (edita-
das na vigência da Constituição atual) e, de outro lado, declarar a revogação, por ausência de
recepção, da Lei n. 1 (editada antes da Constituição atual). Foi o que decidiu o STF ao julgar a
ADI n. 3.111.
Ufa! Espero que você tenha entendido. Fecho o parêntese.
Minha preocupação agora é outra: não quero que você troque as bolas, confundindo efeito
repristinatório com repristinação.
Para falar bem a verdade, nos tempos da “facul”, eu tinha uma dificuldade danada de en-
tender a diferença. Até que um dia o professor chegou e disse: na repristinação são três leis,
enquanto no efeito repristinatório são duas leis + uma decisão judicial.
Pronto! O tempo se abriu...
Espero que você entenda com tranquilidade também! Vamos lá!
A repristinação – que significa ressurreição –, em regra, não é admitida em nosso ordena-
mento. A exceção fica por conta de quando houver previsão expressa disposição nesse sentido.
Segundo o § 3º do artigo 2º da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro (LIN-
DB), “salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora
perdido a vigência”.

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Exemplificando, a Lei n. 100 foi revogada pela Lei n. 200. Depois, a Lei n. 200 foi revogada pela
Lei n. 300. Pergunto: quem “matou” a Lei n. 100 foi a Lei n. 200, certo? Com a morte da Lei
n. 200 (“assassinada pela Lei n. 300”), a Lei n. 100 volta a viver? A resposta é negativa, salvo
determinação expressa.

Agora, o efeito repristinatório!

Partindo do mesmo exemplo aí de cima, a Lei n. 100 foi revogada pela Lei n. 200. Depois, a Lei
n. 200 foi declarada inconstitucional pelo STF ao julgar a ADI n. 5.000. A decisão não sofreu
modulação de efeitos, retroagindo à data da edição da Lei n. 200.
Pergunto: quem “matou” a Lei n. 100 foi a Lei n. 200, certo? Acontece que agora voltaram no
tempo e sumiram com a Lei n. 200, como se ela nunca tivesse existido, não é mesmo? Ora, se
ela nunca existiu, alguém matou a Lei n. 100? Claro que não. Logo, a Lei n. 100 volta a valer,
por ter sofrido o efeito repristinatório.

Visto por outro ângulo, se foi reconhecida a nulidade da Lei n. 200 (por conta da inconstitu-
cionalidade), ela nunca teve eficácia; se ela nunca teve eficácia, nunca poderia ter revogado lei
nenhuma. Em consequência, a lei que havia sido revogada voltará a valer.
Hora de seguir em frente!
A decisão também terá eficácia contra todos (erga omnes) e efeito vinculante. Por falar
em efeito vinculante, o § 2º do artigo 103 da Constituição diz que as decisões definitivas de
mérito, proferidas pelo STF em ADI ou em ADC, produzirão efeito vinculante relativamente aos
demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública Direta e Indireta, nas esferas
federal, estadual e municipal.
Tanto nas decisões de controle concentrado quanto nas súmulas vinculantes, a regra é
clara! Vejamos.
Quanto ao Poder Judiciário, note que o texto constitucional fala em “demais órgãos”, o que
exclui da vinculação o próprio STF. Também pudera, porque nada impede que o Tribunal reveja
seu entendimento mais à frente, em outro contexto.

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Em relação ao Poder Executivo, a vinculação é, como se diz lá na Paraíba, “de cabo a rabo”.
Em outras palavras, alcança todas as esferas de governo (federal, estadual, distrital e munici-
pal), sem distinção entre Administração Direta ou Indireta.
É no Poder Legislativo que sua atenção deve ser redobrada... isso porque, quanto a ele, não
há vinculação!
Com efeito, se a atividade legislativa ficasse vinculada, haveria uma fragilização no siste-
ma dos freios e contrapesos. Então, nada impede que o legislador atue dentro de sua missão
constitucional, podendo, inclusive, editar normas contrárias à decisão do STF em uma das
ações do controle concentrado.
Seguindo, a ideia de não vinculação do Legislativo e do próprio STF busca evitar o fenôme-
no da fossilização da Constituição.
Mas uma indagação deve ser feita: o que vincula? A fundamentação, o dispositivo ou tam-
bém o obiter dictum?
Obiter dictum (coisas ditas de passagem) certamente não geram vinculação. São comen-
tários, coisas do tipo “pensando alto”.
A dúvida que existe é se a vinculação atingiria somente o dispositivo da decisão ou se tam-
bém abarcaria os motivos invocados na decisão, ou seja, a fundamentação.
Sobre o tema, prevalece no STF a teoria restritiva, de modo que apenas o dispositivo da
decisão produziria o efeito vinculante contra todos.
Por sua vez, a fundamentação da decisão não gera o mesmo efeito vinculante. Assim,
para as provas, vale o entendimento de que o STF não aceita a teoria da transcendência dos
motivos determinantes (STF, RCL n. 8.168).
Outra coisa: suponha que a sentença tenha sido julgada procedente e confirmada pelo
Tribunal de Justiça em sede de apelação. Após o trânsito em julgado, o Plenário do STF de-
clarou a inconstitucionalidade de lei que teria sido usada para fundamentar a sentença.
Nessa situação, o que acontece?
Não haverá a rescisão automática da sentença. Ao contrário! Em RE julgado sob a siste-
mática da repercussão geral, o STF fixou a seguinte tese:

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Decisão do Supremo Tribunal Federal que declarar a constitucionalidade ou inconstitu-


cionalidade de norma não produz a automática reforma ou rescisão de decisões anterio-
res transitadas em julgado.

Ou seja, a parte precisará se valer da ferramenta necessária para a rescisão do julgado –


ex: ação rescisória (STF, RE n. 730.462).

Embora se diga que as decisões do controle concentrado possuem eficácia vinculante con-
tra todos, ficam de fora da vinculação o próprio STF e o Legislativo para evitar a fossilização
da Constituição.

9.3.3. Modulação Temporal dos Efeitos

Não há dúvidas de que, em regra, as decisões proferidas no controle concentrado produ-


zirão efeitos retroativos, retirando a norma do sistema como se ela não houvesse existido. O
problema é que fazer isso acarretaria efeitos ainda mais graves.

Exemplificando, há alguns anos, o STF declarou a inconstitucionalidade de uma lei estadual que
tinha permitido a contratação de vários médicos sem a necessária realização de concurso públi-
co. Aplicada a regra geral, o Tribunal deveria retirar a norma (de contratação) de forma retroativa
à data da edição. No entanto, à época, o País estava passando por um surto de gripe H1N1.
Em outras palavras, mesmo com os profissionais contratados sem o concurso público, a situ-
ação já estava difícil. Imagine então se, de uma hora para outra, fossem retirados dos quadros
das Secretarias de Saúde inúmeros médicos.
Pensando nisso, o STF aplicou a técnica da modulação temporal de efeitos, mantendo os
profissionais trabalhando pelo prazo de 90 (noventa) dias, tempo suficiente para fazer novo
concurso e garantir a continuidade do serviço prestado à população.

Agora que já mostrei a você como a modulação pode ser aplicada na prática, vamos à teoria.

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O artigo 27 da Lei n. 9.868/1999 dispõe o seguinte:

Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de se-
gurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria
de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só te-
nha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.

O dispositivo que eu transcrevi é o que regulamenta a modulação temporal de efeitos, tam-


bém chamada de decisão de calibragem.
Esse mecanismo permite o afastamento da regra geral, que seria a decisão com efeitos
retroativos (ex tunc), podendo o STF fixar outro momento a partir do qual a declaração de in-
constitucionalidade produzirá os efeitos.
Para que isso aconteça, é necessária a presença dos requisitos da segurança jurídica ou
do excepcional interesse social. Aplicada a modulação, a eficácia da decisão pode se operar
dali em diante (eficácia prospectiva ou ex nunc) ou mesmo a partir de um momento futuro
(eficácia para o futuro).
Enquanto para a declaração de inconstitucionalidade é necessário o quórum de maioria
absoluta – seis ministros –, para se fazer a modulação, exige-se o voto de oito ministros do
Tribunal, o que equivale a dois terços dos membros.
Ah, embora tenha nascido na Lei da ADI, a modulação pode ser feita em quaisquer das
ações do controle concentrado. Ou seja, ela também é cabível na ADPF, por exemplo – ela é
regida por outra norma, a Lei n. 9.882/1999.
Tem mais: mesmo fora do controle concentrado, ela tem seu lugar. É que o STF vem apli-
cando a técnica também no controle difuso de constitucionalidade (STF, RE 553.223). Aliás,
nada impede que outros Tribunais ou juízes de todo o País usem a ferramenta.
Abro parêntese.
Como você deve saber, além de professor para cursos preparatórios, eu sou juiz de direito
aqui no TJDFT e já tive a oportunidade de usar a modulação de efeitos em uma sentença de 1º
grau. Isso, é claro, dentro de uma situação excepcional.
Vou contar um pedacinho do caso para contextualizar melhor e facilitar sua compreen-
são: em uma ação civil pública, estava em jogo a maior licitação da história do DF, relaciona-
da à concessão do sistema de transporte coletivo urbano – valor da causa em mais de dez
bilhões de reais.

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Ao anular parte da licitação – os lotes vencidos por três das cinco empresas –, estipulei
que a decisão só valeria depois de 180 dias, contados do trânsito em julgado da sentença. Eu
assim agi para que a população não ficasse sem ônibus da noite para o dia (excepcional inte-
resse social).
Fecho parêntese.
Nesse assunto, a gente mais parece propaganda das Organizações Tabajara e toda hora
fala “não é só”; “tem mais”; “ainda não acabou”. É que a modulação temporal pode ser feita
igualmente no juízo de recepção/revogação das normas anteriores à Constituição. Explico.
Quando a nova Constituição entra em vigor, as leis que já existiam à época passam por um
controle de compatibilidade chamado de juízo de recepção/revogação. Se elas forem compa-
tíveis com a nova ordem constitucional, serão recepcionadas; do contrário, serão revogadas
por ausência de recepção.
E, quando se diz que a lei editada antes da Constituição não foi recepcionada (= revoga-
ção), tal decisão deveria retroagir à data em que a nova Constituição foi promulgada – no caso
brasileiro, 5 de outubro de 1988. Ocorre que também aí o resultado pode ser desastroso. Vou
ilustrar com um caso e você vai compreender mais facilmente!

A Lei n. 6.880/1980 é o Estatuto dos Militares. Nela se fala que o limite de idade para
ingresso nas fileiras militares será fixado em regulamento da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica (artigo 10).
O problema é que, com a Constituição atual, a matéria exigiria a edição de lei em sentido formal
– o artigo 142, § 3º, inciso X, prevê o seguinte: “a lei disporá sobre o ingresso nas Forças
Armadas, os limites de idade...”.
Apreciando a questão, o STF entendeu que, nesse ponto específico (limite de idade por meio
de regulamento, e não lei), o Estatuto dos Militares não foi recepcionado pela Constituição. Em
outras palavras, ele teria sido revogado.
Ora, como você viu há pouco, a decisão de revogação (ausência de recepção) retroagiria a 5 de
outubro de 1988, certo?

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Mas tem um probleminha... a decisão do STF foi no ano de 2011, ou seja, mais de vinte anos
depois da entrada em vigor da Constituição. Nesse grande intervalo, dezenas de concursos
foram realizados. Se brincar, quem entrou lá na época da promulgação da Constituição já está
se aposentando, uma vez que eles contam com aposentadoria especial. Então, para prestigiar a
segurança jurídica, o STF modulou os efeitos da decisão, “salvando” os concursos que tinham
sido realizados, e ainda estendeu o prazo até o final de 2011. Após, ao acolher embargos de
declaração opostos pela União, ainda deu mais um ano de sobrevida à norma (STF, RE 600.885).

Só mais uma coisinha antes de terminar: se a parte não pediu a modulação em sua petição
inicial, ainda assim o Tribunal pode aplicar a modulação (quem pode o mais, pode o menos).

Chegou ao STF um caso em que o PGR não pediu a modulação, e o STF declarou a inconsti-
tucionalidade sem modular (seguiu a regra). Depois, em embargos de declaração, o PGR veio
pedindo a modulação. Pode isso, Arnaldo? Pode, sim, e esse julgado de vez em quando apare-
ce em provas (STF, ADI 2.797).

Nascida no controle concentrado, a modulação temporal de efeitos pode ser aplicada no con-
trole difuso e no juízo de recepção/revogação de normas anteriores à Constituição.

9.3.4. Pedido de Medida Cautelar na ADI

Já adianto para você que caberá medida cautelar em todas as ações do controle concen-
trado. Obviamente, em cada uma delas haverá especificidades a serem observadas.
Quando ajuíza uma ADI, o autor busca que a norma seja retirada do ordenamento como se
nunca tivesse existido, certo? Pois é, a cautelar que funciona como um adiantamento. Nela, o
pedido é no sentido de que seja suspensa a aplicação da norma.
A matéria é regulada no artigo 10 da Lei n. 9.868/1999, o qual prevê que a cautelar pode
ser concedida por decisão de maioria absoluta dos membros do Tribunal – seis ministros
(mesmo quórum para se declarar a inconstitucionalidade, na decisão final). Se o Relator julgar
necessário, ele poderá ouvir o AGU e o PGR, no prazo de três dias.

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Enquanto a decisão de mérito, em regra, produz efeitos retroativos (ex tunc), na cautelar a
decisão se opera dali em diante (efeitos ex nunc, não retroativos).
Na prática, é como se a norma ficasse congelada. Com isso, eventual norma anterior volta
a valer.
Cuidado com um ponto: a decisão que concede a cautelar terá eficácia contra todos (erga
omnes) e efeito ex nunc. Excepcionalmente, pode o Tribunal conferir eficácia retroativa (ex tunc).
Por outro lado, a decisão que indefere a medida cautelar não terá a eficácia contra todos,
na medida em que não significa a confirmação da constitucionalidade da norma.
Qual a consequência prática disso? Ora, não havendo efeito vinculante contra todos, po-
dem os juízes e Tribunais do País, em controle difuso, declarar a inconstitucionalidade da nor-
ma. Mais: contra essa decisão, não caberá reclamação para o STF (STF, RCL 3.424).
Por fim, o artigo 12 da Lei n. 9.868/1999 permite que, em vez de apreciar a cautelar para
depois julgar o mérito, o Relator poderá, após ouvir o AGU e o PGR (prazo sucessivo de cinco
dias), submeter o processo diretamente ao Tribunal, para julgamento de mérito. É um proce-
dimento abreviado, justificado na “relevância da matéria e de seu especial significado para a
ordem social e a segurança jurídica”.

Cabe medida cautelar/liminar em todas as ações do controle concentrado de constitucionalidade.

9.3.5. Amicus Curiae (Amigo da Corte)

Meu(minha) amigo(a), se você estiver cansado(a), pare e dê uma esticada nas pernas, vá lá
colocar mais água em sua garrafinha e visitar o “pipi room”. É que eu quero que você esteja 100%
atento(a) para o amicus curiae, tema cada vez mais recorrente nas provas de concursos.
Já voltou? Então vamos começar!
Logo de cara, anote aí: será cabível a intervenção do amicus curiae em todas as ações do
controle concentrado.
A figura do amicus curiae – amigo da Corte, em tradução literal – foi introduzida em nosso
ordenamento pela Lei n. 9.868/1999, a mesma que regula a ADI, a ADO e a ADC. Em seu artigo

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7º, a lei prevê, de um lado, a proibição da intervenção de terceiros nessas ações; de outro lado,
o § 2º desse mesmo dispositivo aponta a possibilidade de o relator admitir a manifestação de
outros órgãos ou entidades, levando em conta a relevância da matéria e a representatividade dos
postulantes. Em termos não muito claros, está aí a regulamentação da figura do amicus curiae.
Vou destrinchar o que diz a jurisprudência do STF, até porque a lei é muito econômica sobre
o tema. A primeira coisa a destacar é que cabe ao Relator admitir ou não o ingresso do amicus
curiae.
Sabe aquela história do tira casaco, bota casaco?
Pois é, o STF ficou entre idas e vindas em relação à possibilidade de recurso contra a deci-
são do relator que admite ou inadmite a participação do amicus curiae.
Num primeiro momento, prevalecia a orientação no sentido de que, se o relator negasse o
ingresso do amicus nos autos, nada impedia que ele recorresse ao Plenário por meio de recur-
so de agravo interno (CPC, artigo 1.021), buscando reverter essa decisão.
Depois, passou-se a dizer que era irrecorrível a decisão do relator, seja admitindo, seja
inadmitindo a participação do amicus (STF, RE n. 602.854).
Mas a novela ganhou novo capítulo em agosto de 2020: agora, o entendimento que você
deve levar para a prova é no sentido de que será cabível a interposição de recurso se a decisão
for de inadmitir o ingresso do amicus.
Ou seja, se for admitida a participação, não caberá recurso. Por outro lado, se o ingresso for
negado, o amicus poderá recorrer ao plenário, por meio de agravo (STF, ADI n. 3.396).
Ah, o placar foi apertado (6 x 5), de modo que nada impede novas reviravoltas. Fique atento(a)!
Avançando, o amicus curiae pode pedir para ingressar no processo até a data em que o
Relator liberar o processo para a pauta. Em outras palavras, quando o caso pede dia para jul-
gamento, dizendo que o caso já está maduro (STF, ADI 4.071).
Ainda, o STF tem entendido que o requisito da pertinência temática entre os objetivos esta-
tutários da entidade requerente e o conteúdo material da norma questionada é indispensável
para se admitir o amicus curiae (STF, ADI 3.931).
Quanto aos poderes de que dispõe, a orientação é no sentido de que ele pode fazer sus-
tentação oral, mas não tem o direito de formular pedido ou mesmo de aditar (acrescentar) o
pedido constante na inicial escrita pelo autor da ação.

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Já no comecinho de nossa conversa, eu disse que o amicus curiae seria cabível em todas
as ações do controle concentrado, certo? Pois é, mas vou avançar agora para dizer que o ami-
cus pode ser admitido também em outras ações e recursos, fora do controle concentrado,
como acontece na repercussão geral e nas súmulas vinculantes.
Aliás, o novo CPC trouxe uma importante previsão: é que, em regra, o amicus curiae não
pode interpor recurso. Contudo, o artigo 138 do CPC atual prevê a possibilidade de ele recor-
rer da decisão que julga o incidente de resolução de demandas repetitivas – IRDR.
Outra inovação importante do novo CPC é no sentido de permitir expressamente que pes-
soa natural ou jurídica seja amicus – artigo 138. Com isso, ficaria superada a orientação do
STF em sentido contrário, não admitindo pessoas físicas (STF, ADI n. 4.178).
Mas atenção: a possibilidade de a pessoa natural ser amicus curiae está no CPC, que é
regra geral, e não se estende às ações de controle concentrado.
Para o controle concentrado, valerá a regra especial, ditada pelo artigo 7º, § 2º, da Lei
n. 9.868/1999, segundo a qual apenas entidades podem ingressar como amicus curiae em
ações, já que representam os interesses de um grupo específico, enquanto uma pessoa luta
apenas por interesse individual (STF, ADI n. 3.396).
Tem mais, quanto à natureza jurídica, alguns entendem como “mero colaborador informal
da Corte”, enquanto outros falam em “modalidade sui generis de intervenção de terceiros”. A
última orientação é a que tem prevalecido.
Ah, mas saiba que o coronavírus também vai aparecer na sua prova de controle de consti-
tucionalidade... Armaria, Nãm!
Deixe-me explicar melhor: na ADPF n. 347 o STF reconheceu, no ano de 2015, o Estado de
Coisas Inconstitucional e determinou algumas medidas, como a proibição de contingencia-
mento de verbas do fundo penitenciário e a instalação de audiência de custódia.
Em 2020, no meio da pandemia do coronavírus, o Instituto de Defesa do Direito de Defesa
– IDDD –, que era um dos amici curiae no julgamento da citada ADPF, resolveu atravessar uma
cautelar pedindo várias providências, para retirar pessoas vulneráveis do sistema prisional.
Após o deferimento da cautelar pelo ministro relator, Marco Aurélio, o Plenário se reuniu
para decidir se manteria – ou não – a decisão monocrática.

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Foi então que prevaleceu a decisão no sentido de afastar a legitimidade do terceiro inte-
ressado, não referendando a liminar.
Prevaleceu a orientação no sentido de que o amicus curiae, por não ter legitimidade para
propositura de ação direta, também não tem para pleitear medida cautelar.
Mais que isso, o Tribunal também compreendeu que houve, de ofício, ampliação do pedido
presente na ADPF. Foi explicado que, no controle abstrato de constitucionalidade, a causa de
pedir é aberta, mas o pedido é específico. Isso porque, no julgamento realizado em 2015, todos
os pedidos formulados na petição inicial tinham sido analisados e que as questões discutidas na
cautelar proposta pelo amicus curiae não estariam relacionadas com aqueles pedidos.
Assim, diante da impossibilidade de ampliação do pedido cautelar já apreciado anteriormen-
te, o STF estaria limitado ao pedido, sendo que aceitar a ampliação equivaleria a agir de ofício,
sem observar a legitimidade constitucional para propositura da ação (STF, ADPF n. 347).
Por falar na causa de pedir aberta das ações de controle concentrado, ela torna desneces-
sário o ajuizamento de nova ADI para a impugnação de norma cuja constitucionalidade já é
discutida em outra ADI em trâmite perante o STF, proposta pela mesma parte processual (STF,
ADI n. 5.749).

9.4. Ação Declaratória de Constitucionalidade – ADC


A ADC foi a última ferramenta do controle concentrado a ingressar no ordenamento jurídi-
co brasileiro. Ela é também a menos usada, o que se constata pela sua numeração, mais baixa
se comparada às demais.
A frase que vem agora vai resumir boa parte do assunto. Então, fique de olhos bem abertos...
É que a ADI e a ADC são ações dúplices, de efeito ambivalente ou de sinal trocado. Em
outras palavras, uma é o contrário da outra.

Como assim?

Pense comigo: se alguém ajuíza uma ADI, é porque quer ver uma norma ser declarada in-
constitucional. Se ele ganhar, declarou-se a inconstitucionalidade; se perder, foi confirmada a
constitucionalidade da norma.

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Agora vamos para uma ADC: eu sei que as normas nascem com presunção de constitucio-
nalidade. Ela (a presunção) é relativa, tanto que cabe o ajuizamento de ADI.
Exatamente para transformar em absoluta a presunção de constitucionalidade é que serve
a ADC. Logo, se eu ajuizar a ação e ganhar, confirmou-se a constitucionalidade; do contrário,
perdendo, a norma foi declarada inconstitucional.
Viu só como são ações de sinal trocado? Mas há diferença entre elas...
Quando a ADC foi introduzida, ela contava com apenas quatro legitimados para o ajuiza-
mento: presidente, Mesas da Câmara e do Senado e o PGR. Mais tarde, com a EC n. 45/2004,
houve uma padronização, de modo que os mesmos legitimados para a ADI também podem
ingressar com ADC, ADO e ADPF. O “patinho feio” da turma é a ADI Interventiva, a qual continua
com apenas o PGR como legitimado.
Então, uma das diferenças caiu por terra. Mas sobrou uma, que é bastante cobrada pelos
examinadores: enquanto a ADI pode ser usada para confrontar lei ou ato normativo federal e
estadual (além do distrital de natureza estadual), a ADC só se presta ao questionamento de
lei ou ato normativo federal x Constituição Federal.
Ou seja, na ADC não serão analisadas normas estaduais, distritais ou municipais. Vê-se,
pois, que o alcance da ADC é menos amplo se comparado à ADI.
Outro ponto importante: o cabimento da ADC depende da comprovação de controvérsia
judicial acerca da constitucionalidade da norma. Do contrário, o STF seria transformado em
órgão de consulta.
Em outras palavras, se não há divergência nos Tribunais sobre a constitucionalidade da
norma, não haveria razão para o ajuizamento da ADC (STF, ADC 8). Aliás, a utilidade da ADC
está relacionada à busca para se afastar de nosso ordenamento jurídico um cenário de insegu-
rança, de dúvidas sobre a validade daquela norma.
Fique atento(a) para um detalhe: a controvérsia tem de ser judicial. Isso porque são co-
muns questões de prova falando na “necessidade de demonstração de controvérsia doutriná-
ria ou judicial”.
Ora, na doutrina, dificilmente um tema escapa sem críticas de algum autor. Mas, como
você viu, a controvérsia doutrinária não é suficiente para se falar em ADC.

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Não cabe ADC para questionar normas estaduais, distritais e municipais ante a Constituição
Federal.

9.4.1. Procedimento e Medida Cautelar na ADC

Também em decorrência de serem consideradas ações de sinais trocado ou de efeito


ambivalente, o procedimento na ADC é bem similar ao adotado na ADI. Como você viu ainda
agora, a petição inicial exigirá a comprovação da controvérsia judicial. Sem isso, será inde-
ferida liminarmente.
Eu já avisei lá atrás que caberia medida cautelar em todas as ações do controle concen-
trado, certo?
Pois é, mas pense comigo: na ADI a cautelar buscava suspender a eficácia da norma, cuja
constitucionalidade estava sendo questionada. Na ADC, não haveria sentido um pedido se-
melhante, pois a pretensão do autor é exatamente confirmar a constitucionalidade.
Então, como fica o pedido na medida cautelar em ADC? Fica assim: o pedido será para
suspender o julgamento dos processos que envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo
que está em discussão na ADC.
Ah, mas um ponto chama bastante atenção, especialmente quando se comparado à ADO
– próxima ferramenta do controle concentrado a ser analisada: a suspensão dos processos
durará o prazo máximo de 180 dias da publicação da parte dispositiva do acórdão em ADC
(na medida cautelar em ADO, não haverá prazo para a suspensão dos processos). Após esse
prazo, se não houver julgamento de mérito do STF, os Tribunais podem voltar a julgar os pro-
cessos que tinham ficado congelados.
Quanto ao mais, praticamente tudo o que se viu na ADI é aqui replicado. Sendo ainda mais
claro, também na ADC:
a) caberão amicus curiae e as audiências públicas;
b) o julgamento também deverá ser por maioria absoluta (presentes ao menos oito ministros);

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c) embora a regra seja a decisão ter eficácia ex tunc, poderá ser possível a modulação
temporal de efeitos; e
d) os efeitos vinculantes recaem sobre os demais órgãos do Judiciário, além de toda a
Administração Pública Direta e Indireta de todas as esferas de governo, ficando de fora
da vinculação o próprio STF e o Poder Legislativo.

9.5. Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão – ADO


Um alerta inicial: se você fizer uma pesquisa no site do STF, notará que até bem pouco tempo
sequer existia a classe processual “ADO”. As ações por omissão eram tratadas como ADI.

Exemplificando, a ADI n. 3.682 é uma ADO, enquanto a ADI n. 3.683 é uma ADI “verdadeira”. Ainda
bem que houve a divisão, porque isso facilita a identificação por parte do operador do direito.

Isso acontecia porque, na verdade, toda ADO é uma ADI. É que a inconstitucionalidade
pode ser por ação (a norma existe e é inconstitucional) ou por omissão (a falta da norma é o
que gera a inconstitucionalidade).
Foi somente a partir de 1988 que o Constituinte se preocupou em criar mecanismos de
combater a síndrome da inefetividade das normas constitucionais. Dentro desse contexto,
surgiram duas ferramentas: o Mandado de Injunção (remédio constitucional) e a ADI por Omis-
são, uma das ações do controle concentrado de constitucionalidade.
Tanto o MI quanto a ADO estão ligados às normas constitucionais de eficácia limitada –
lembra que as normas podem ser de eficácia plena, contida, limitada ou programática?
Relembrando a Teoria da Constituição, na parte de “Eficácia e Aplicabilidade das Normas
Constitucionais”, as normas limitadas, para produzirem todos os seus efeitos, precisam de um
complemento que deve ser feito pelo legislador infraconstitucional.
Na falta dessa norma, haverá um defeito, uma doença. Por isso se usa o nome de “síndro-
me da inefetividade”. Ou seja, aquelas normas que só existem no papel.
Avançando, o § 2º do artigo 103 fala que:

Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucio-
nal, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se
tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta dias.

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O combate às omissões constitucionais ganhou força não só com a introdução das duas
ferramentas, mas também com o próprio fortalecimento delas. É que a regulamentação da
ADO e do MI significa um grande avanço.
Veja: a ADO era tratada meio que “no pacote” da ADI, até que houve a regulamentação es-
pecífica em um capítulo da Lei n. 9.869/1999, a mesma que já cuidava da ADI e da ADC.
Agora, a ADO conta com um capítulo específico (Capítulo II-A), introduzido pela Lei n.
12.063/2009. Por outro lado, a regulamentação do MI é ainda mais recente. A Lei n. 13.300/2016
cuidou de especificar vários pormenores do MI individual e do coletivo.
Aliás, você verá que em vários momentos eu ficarei falando no MI, mesmo o nosso assunto
aqui sendo a ADO. É que elas devem ser entendidas como um todo, chamando a atenção para
as diferenças.
De cara, vou chamar sua atenção para a diferença mais marcante entre as duas ações: o
MI faz parte do controle difuso de constitucionalidade, podendo, portanto, ser julgado pelo
STF e por diversos órgãos do Judiciário (STJ, TSE, TJ, Juiz de 1º grau), enquanto a ADO inte-
gra o conjunto de ações do controle concentrado, sendo julgada apenas pelo STF.
Vou seguir em frente para falar sobre as espécies de omissão: ela pode ser total (ausência
de norma) ou parcial (a norma existe, mas não regula suficientemente a matéria).
Eu falei lá no começo que toda ADO é uma ADI, certo? Pois é, mas há algumas especifici-
dades que você precisa conhecer para não ser pego(a) em nenhuma casca de banana.
É dentro desse contexto que nasce uma importantíssima distinção entre a ADI e a ADO: a
ADI se presta para o questionamento de atos normativos primários ante a Constituição.

Desse modo, tomando como exemplo os decretos regulamentares e as instruções normativas,


por serem atos normativos secundários, não podem ser objeto de ADI.

Em contrapartida, tendo em vista que o § 2º do artigo 103 fala na necessidade em “omis-


são de medida para tornar efetiva norma constitucional”, tem-se que a abrangência da ADO
seria bem mais ampla. Ela – a omissão – englobaria atos normativos (e não apenas legislati-
vos) do Legislativo, do Executivo e do Judiciário.
Doutrinariamente, o ministro do STF Luís Roberto Barroso diz que podem ser objeto de
ADO quaisquer dos atos normativos primários suscetíveis de impugnação via ADI, mas tam-

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bém nos atos normativos secundários, como regulamentos ou instruções, de competência do


Executivo, e até mesmo, eventualmente, de atos próprios dos órgãos judiciários.9

Ao contrário da ADI, que só pode ser usada para questionar atos normativos primários ante a
CF, na ADO a omissão pode envolver atos normativos secundários, como é o caso de regula-
mentos e instruções normativas.

9.5.1. Procedimento e Medida Cautelar na ADO

Em linhas gerais, o procedimento da ADI e da ADO serão comuns.

Exemplificando, são os mesmos legitimados (artigo 103 da Constituição), mesma competên-


cia para julgamento (STF), também caberá a intervenção do amicus curiae, a modulação tem-
poral dos efeitos, a vinculação da decisão na mesma extensão etc.

Então, vamos direto às diferenças para não ficar chovendo no molhado!


Na petição inicial da ADO, o autor deverá demonstrar a existência da omissão constitucio-
nal (total ou parcial).

 Obs.: Uma importante observação: a jurisprudência era no sentido de que na ADO não se
fazia necessário ouvir o AGU (STF, ADI 480). Esse raciocínio se justificava na medida
em que, se o AGU deve fazer a defesa da norma e a ADO foi ajuizada exatamente por
conta da omissão legislativa, o que lhe restaria defender?

No entanto, a própria Lei n. 12.063/2009, no § 2º do art. 12-E, prevê que:

O relator poderá solicitar a manifestação do Advogado-Geral da União, que deverá ser encaminhada
no prazo de 15 (quinze) dias.

Isso se justifica principalmente diante da constatação de que a omissão pode ser total ou
parcial.

9
BARROSO, Luís Roberto. Controle de constitucionalidade no direito brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, pág. 229-230.

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Foi também a Lei n. 12.063/2009 a responsável por prever expressamente o cabimento de


medida cautelar em ADO. Diga-se de passagem, a decisão proferida na cautelar em ADO vai
além daquela estudada para a ADI e para a ADC.
Vamos relembrar: na ADI, a cautelar era para suspender a norma; na ADC, a finalidade era
suspender o andamento de ações relacionadas à norma questionada, certo?
A cautelar na ADO, mais ampla de todas até aqui, fala em três possibilidades:
a) suspender a aplicação da lei ou ato normativo – obviamente, só se aplica à omissão
parcial, pois na omissão total não haveria norma a ser suspensa;
b) suspender o andamento dos processos judiciais ou de procedimentos administrativos
– note que não há o prazo, como acontecia com a ADC; e
c) outra providência a ser fixada pelo Tribunal – aqui, sem dúvida, abre-se espaço para
um papel mais ativo do STF, em harmonia com a adoção da teoria concretista no MI.

Ah, é possível a aplicação do princípio da fungibilidade entre a ADO e a ADI (STF, ADI
2.727). Isso significa que, na prática, se a parte ajuizar uma ADO, seu pedido pode ser conhe-
cido como se fosse uma ADI. A medida ganha mais importância principalmente depois que
passou a existir a classe própria da ADO.

9.5.2. Quadro Comparativo entre ADO e MI

Hora de deixar claras algumas diferenças centrais entre o Mandado de Injunção e a ADI por
Omissão:

Diferenças entre Mandado de Injunção e Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão


Mandado de injunção ADI por omissão
Controle difuso de constitucionalidade (pode Controle concentrado de constitucionalidade.
ser feito por qualquer juiz ou Tribunal).
A competência para julgamento dependerá Para omissões na CF, a competência para julga-
da autoridade que está sendo omissa. mento será sempre do STF.
MI individual pode ser impetrado por qual- Só pode ser ajuizada por entes previstos no art.
quer pessoa, natural ou jurídica 103, incisos I a IX, da CF (mesmos da ADI).

MI coletivo pode ser impetrado pelos


mesmos legitimados do MS coletivo + Minis-
tério Público e Defensoria Pública.

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Tanto a ADO quanto o MI combatem as omissões constitucionais, mas um pertence ao contro-


le concentrado (ADO), enquanto outro integra o controle difuso (MI).

9.6. Arguição por Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF


O nosso negócio é passar em provas, certo? Então, fique de olhos bem abertos, pois a
ADPF é a queridinha dos examinadores. E isso não importa qual é a banca, viu?!
Primeira coisa: a ADPF foi introduzida no direito brasileiro com a Constituição atual, sendo
tratada no artigo 102, § 1º.
Ademais, ela é regida por norma própria, a Lei n. 9.882/1999, e não pela Lei n. 9.868/1999,
como a ADI, a ADC e a ADO. Porém, não se engane: a Lei das ADIs terá grande influência, apli-
cando-se subsidiariamente.
Vou tentar ser o mais prático possível, pois há algumas discussões teóricas que são pouco
cobradas em provas. Logo, estas não importam neste momento.
Vamos lá: partindo do texto constitucional – muito econômico, para variar –, diz o § 1º do
artigo 102 que a arguição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente da Consti-
tuição, será apreciada pelo STF, na forma da lei (dispositivo de eficácia limitada).
A começar pelo nome, a ADPF é toda “diferentona” se comparada às ações até aqui estu-
dadas. Para começar, o que se entende por preceito fundamental? O que entraria dentro desse
conceito abstrato?
Brincando com o jargão das Organizações Tabajara (Programa humorístico Casseta & Pla-
neta), seus problemas começaram!
Nem a Constituição, nem a lei se preocuparam em delimitar o conceito de “preceito funda-
mental”. Na verdade, ele vem sendo moldado ao longo do tempo pela jurisprudência do STF.

Por exemplo, o Tribunal já disse ser preceito fundamental o direito à vida (aborto de anencéfalo);
o direito de reunião (“Marcha da Maconha”); o meio ambiente (importação de pneus usados); e a

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autonomia da Defensoria Pública (julgamento envolvendo ato de governador de estado que inde-
vidamente colocou a instituição dentro da estrutura da Secretaria de Justiça, além de promover
cortes no orçamento, mesmo tendo sido encaminhado dentro dos limites da LDO).

Por outro lado, o STF excluiu do conceito de ato do poder público possível de ser analisado
em uma ADPF o veto presidencial, que seria um ato político (STF, ADPF 1).
Voltando à Lei n. 9.882/1999, ela previu duas espécies de ADPF, chamadas doutrinaria-
mente de autônoma (principal) e incidental. A autônoma consta no caput do artigo 1º da lei e
teria por objeto “evitar (preventivo) ou reparar (posterior) lesão a preceito fundamental, resul-
tante de ato do poder público”.
Já a incidental vem no parágrafo único do artigo 1º, cabendo:

quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo fede-
ral, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição.

Como você pode notar pela simples leitura da lei, a ADPF é bem mais ampla do que as
outras ferramentas do controle concentrado, pois pode ser usada para questionar atos nor-
mativos municipais e distritais de natureza municipal, o que não acontecia com a ADI (atos
normativos federais e estaduais), nem com a ADC (somente atos normativos federais).
Ela também pode verificar a compatibilidade dos atos normativos pré-constitucionais –
ou seja, editados antes de 5/10/1988 – com a Constituição atual. Todas as outras ferramentas
do controle concentrado só podem ser usadas para apreciar a compatibilidade de normas edi-
tadas a partir de 5/10/1988. Isso tem bastante repercussão prática!
Repare que o Código Penal é de 1940. Nele há a tipificação do delito de aborto, existindo
duas hipóteses nas quais não se falaria em crime: perigo de morte para a mãe (aborto terapêu-
tico) ou gravidez decorrente de estupro (aborto sentimental).
Pois é, mas você sabe que o STF permitiu a interrupção da gestação quando se tratar de
fetos anencefálicos, não é mesmo? Ou seja, criou-se mais uma descriminante, por meio de
decisão judicial, a partir de uma leitura da Constituição atual, especialmente a dignidade da
pessoa humana.
Ora, se o CP é de 1940 – bem antes, portanto, da Constituição em vigor –, a decisão judi-
cial só pode ter sido tomada em uma ADPF. Isso, é claro, tratando-se de controle concentrado,
pois no difuso as normas pré-constitucionais também podem ser controladas.

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Aliás, é importante chamar sua atenção para algo para lá de relevante: a ADPF pode apre-
ciar normas anteriores à Constituição, desde que essa análise seja feita diante da Constituição
atual. Em outras palavras, a análise de norma anterior diante de uma Constituição anterior só
seria viável por meio do controle difuso, não havendo nenhuma ferramenta adequada no con-
trole concentrado.
Seguindo em frente, cabe ADPF contra decisões judiciais, salvo se elas tiverem transitado
em julgado. Elas igualmente podem se voltar contra atos normativos secundários (portarias,
decretos regulamentares, instruções normativas etc.), o que não acontecia com as ADIs.
Ah, ela também é instrumento eficaz para o controle de inconstitucionalidade por omissão.
Em outras palavras, se a omissão, total ou parcial, normativa ou não normativa, ferir um precei-
to fundamental, caberá a ADPF (STF, ADPF n. 272).

Certa vez, eu estava em sala de aula e um aluno me interrompeu quando eu explicava as hipó-
teses de cabimento da ADPF. Ele me perguntou assim: “Professor, se a ADPF tem hipóteses
de cabimento bem mais amplas, para que existem as outras ações do controle concentrado?”
A pergunta dele fazia todo sentido! Afinal, a ADPF parecia resolver todos os seus problemas! É
aqui que entra o § 1º do artigo 4º, segundo o qual não se admitirá ADPF quando houver qual-
quer outro meio eficaz de sanar a lesividade. Está aí o princípio da subsidiariedade.

Porém, não se engane: no ordenamento jurídico, sempre haverá algum meio capaz de sa-
nar a lesão. Pode ser, por exemplo, um mandado de segurança ou um recurso extraordinário.
Então, se você levar o princípio da subsidiariedade ao extremo, a ADPF irá para o brejo.
Atento a isso, o STF entende que o cabimento da ADPF fica restrito àquelas hipóteses em
que não houver, no controle concentrado, outro meio capaz de sanar a lesão ao preceito fun-
damental (STF, ADPF n. 77).
Sendo ainda mais claro: para se ajuizar uma ADPF, não pode ser cabível ADI, ADO ou ADC.
Mas será que é só na ausência de outra ação do controle concentrado que será possível o
ajuizamento da ADPF?
Para deixar a sua compreensão mais fácil, vou transcrever aqui um trechinho de um julga-
do no qual o ministro Luiz Fux resumiu o alcance do princípio da subsidiariedade, ok?

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A subsidiariedade da arguição é condicionada pelo meio eficaz de sanar a lesão, compre-


endido no contexto da ordem constitucional global como aquele apto a solver a contro-
vérsia constitucional relevante de forma ampla, geral e imediata.
O cabimento da arguição de descumprimento de preceito fundamental deve ser aferido,
via de regra, em face das demais ações de controle abstrato.
A mera inexistência de ação constitucional não se mostra suficiente para afastar a cláu-
sula de subsidiariedade, contanto esteja presente outro meio eficaz de solver a controvér-
sia constitucional relevante de forma ampla, geral e imediata.
A interposição de recurso extraordinário em face de acórdão proferido em ação objetiva,
ajuizada no âmbito estadual, quando coincidem os parâmetros de constitucionalidade da
ação direta de inconstitucionalidade estadual e do controle concentrado realizado pelo
Supremo Tribunal Federal, confere eficácia geral à declaração de inconstitucionalidade,
de modo que se revela como meio eficaz de solver a controvérsia constitucional rele-
vante de forma ampla, geral e imediata (STF, ADPF 554).

Avançando, pensando nas possíveis confusões, o STF aceita a aplicação do princípio da


fungibilidade entre ADPF e ADI. Traduzindo, se a parte ajuizar uma ADPF, a sua petição pode
ser recebida como ADI se o Tribunal entender que esta (a ADI) era cabível.

Foi o que aconteceu, por exemplo, com a ADI n. 4.277, que tratou do reconhecimento das
uniões homoafetivas – ela foi ajuizada como ADPF, recebendo o número 178.

Duas ponderações sobre a fungibilidade: 1ª) ela não pode ser usada se houver erro gros-
seiro (ex.: claramente era cabível ADI, mas a parte entrou com uma ADPF); 2ª) ela é aceita de
cá para lá e de lá para cá. Em outras palavras, uma ADI pode ser recebida como ADPF e uma
ADPF pode ser recebida como ADI. É a chamada fungibilidade de mão dupla.
Fique de olho, pois as bancas adoram explorar as hipóteses em que a ADPF não pode ser
ajuizada – algumas delas eu já adiantei anteriormente:
a) contra vetos presidenciais (STF, ADPF 1);
b) contra decisões judiciais transitadas em julgado – cabe contra decisões judiciais, mas
não se cobertas pelo manto da coisa julgada (STF, ADPF 134);

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c) em substituição aos embargos em execução (STF, ADPF 83);


d) para questionar norma anterior a 5/10/1988 ante a Constituição da época – só cabe se
for em relação à Constituição atual;
e) contra normas originárias;
f) contra discursos, pronunciamentos e comportamentos, ativos ou omissivos, atribu-
ídos ao Presidente da República, ministros de Estado ou outros integrantes do alto
escalão do Executivo (STF, ADPF 686);
g) contra súmulas vinculantes (STF, ADPF 177).

Não tenho dúvida alguma de que a última hipótese é a mais cobrada nas provas! Em regra,
contra as súmulas, vinculantes ou não, não cabe ADPF ou quaisquer outras ações do controle
concentrado.
Especificamente quanto às súmulas vinculantes, o não cabimento é explicado pela exis-
tência de procedimento próprio, qual seja, o pedido de revisão e de cancelamento da súmula.
Essa constatação se explica ainda mais facilmente quando se vê que os legitimados para
o ajuizamento da ADPF são os mesmos que também podem entrar com uma ADI ou propor a
edição, revisão ou cancelamento de súmulas vinculantes.
Ah, mas repare que eu falei que, em regra, não caberia ADPF contra súmulas... Opa, onde
está a exceção?
É que o Plenário do STF, em setembro de 2020, fixou a compreensão de caber ADPF contra
súmula quando o enunciado tiver conteúdo normativo, um preceito geral e abstrato.
O caso concreto julgado pelo Tribunal dizia respeito ao enunciado da Súmula n. 450 do TST,
o qual prevê que o trabalhador receberá as férias em dobro em caso de atraso no pagamento.
O preenchimento da cláusula de subsidiariedade derivaria do fato de não haver instrumento
processual capaz de impugnar ações e recursos impedidos de subirem por conta do entendi-
mento sumulado (STF, ADPF n. 501).

A ADPF é a única ferramenta do controle concentrado que permite ao STF apreciar normas
municipais, distritais de natureza municipal e até mesmo as anteriores à Constituição Federal.

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9.6.1. Procedimento e Medida Liminar

Você já viu o princípio da subsidiariedade, de extrema importância na ADPF. Ele funciona


como um pressuposto negativo de admissibilidade. Traduzindo, se houver outro meio eficaz
(ADI, ADO e ADC), será incabível a ADPF.
Já viu também que os legitimados para a propositura da ADPF são os mesmos da ADI, da
ADO e da ADC. Em outras palavras, são os nove que aparecem no artigo 103 da Constituição.
Diga-se de passagem, a Lei n. 9.882/1999 previa que a ADPF poderia ser ajuizada por
qualquer pessoa que fosse lesada ou ameaçada por ato do poder público. No entanto, esse
dispositivo foi vetado pelo presidente da República.
Avançando, a petição inicial deve indicar qual preceito fundamental se entende por viola-
do, bem como qual o ato questionado e, se for o caso, também a comprovação da existência
de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação do preceito que se entende violado (ADPF
contra decisões judiciais).
Também aqui, se houver o indeferimento da inicial pelo Relator, caberá agravo interno
para o Plenário.
Outras considerações faladas na ADI, na ADO e na ADC são replicadas na ADPF. É que não
se admitirá desistência, não caberá ação rescisória, não se admite intervenção de terceiros
(salvo o amicus curiae, usando-se a analogia com a Lei n. 9.868/1999).
As audiências públicas são possíveis e, diga-se de passagem, frequentemente são usadas,
como ocorreu, por exemplo, na discussão sobre a interrupção da gravidez de fetos anencéfalos.
Um ponto importante: embora a Lei n. 9.882/1999 diga que não caberá recurso contra a
decisão de mérito, o STF admite a oposição de embargos de declaração, fazendo uma interpre-
tação sistemática com a Lei da ADI.
A eficácia da decisão é erga omnes, com a mesma extensão dos efeitos vinculantes já
vista anteriormente (ficam de fora da vinculação o próprio STF e o Poder Legislativo).
A decisão final produzirá efeitos retroativos (ex tunc). No entanto, é igualmente possível
a modulação temporal de efeitos, pelo quórum mínimo de 2/3 (oito ministros). Lembro que a
decisão de mérito exige apenas o voto de maioria absoluta – seis ministros. Só a modulação
que dependerá da maioria qualificada.

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Quanto à liminar (cautelar), ela também partirá do voto de maioria absoluta dos ministros.
Agora preste atenção para a particularidade: havendo extrema urgência ou perigo de lesão
grave, bem como durante o recesso, poderá o Relator conceder a liminar, a ser posteriormente
referendada pelo Pleno.
Para você não esquecer, isso aconteceu na ADPF sobre a interrupção da gravidez em fetos
anencefálicos, quando o ministro Marco Aurélio efetivamente autorizou a providência (irrever-
sível, por questão lógica) monocraticamente.
A decisão na liminar pode determinar que os juízes e Tribunais do País suspendam o
andamento de processos ou os efeitos de decisões judiciais que apresentem relação com o
tema discutido na ADPF. Essa determinação, no entanto, não alcança as decisões transita-
das em julgado.
Por fim, é importante lembrar que a constitucionalidade da ADPF incidental foi questio-
nada perante o STF. A matéria ainda está em aberto, mas vários precedentes de lá para cá
sinalizam que a alegação de inconstitucionalidade não será acolhida (STF, ADI 2.231).

Em razão do princípio da subsidiariedade, a ADPF só pode ser utilizada se não houver, no con-
trole concentrado, outro meio eficaz para sanar a lesão a preceito fundamental.

9.7. Ação Direta de Inconstitucionalidade Interventiva (ADI


Interventiva) ou Representação Interventiva
Eu sempre digo que dá para contar as ações do controle concentrado nos dedos de minha
mão. Afinal, nós temos cinco ferramentas: ADI, ADC, ADO, ADPF e ADI Interventiva.
As primeiras quatro ações você já viu. Viu também que elas podem ser ajuizadas por nove
legitimados, listados no artigo 103 da Constituição.
Ainda, você pôde notar que o controle concentrado vinha sendo tratado como sinônimo de
controle abstrato, enquanto o controle difuso era chamado de controle concreto. Pois é, mas
agora é hora de estudar uma ação um pouco diferente.

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Para começar, a ADI Interventiva também pode ser chamada de representação interventiva.
Ela foi a primeira ferramenta do controle concentrado no direito brasileiro, sendo prevista na
Constituição de 1934 – para se ter uma ideia, a ADI genérica só entrou com a EC n. 16/1965.
De lá para cá, ficou de fora da Constituição de 1937, voltando na de 1946, na de 1967 e na
EC n. 01/1969.
A Constituição atual manteve um ponto importantíssimo, que é a existência de apenas
um legitimado para ajuizá-la perante o STF: ao contrário das demais ferramentas do controle
concentrado, somente o PGR pode propor ação.
Marcelo Novelino aponta que a ADI Interventiva é um mecanismo de controle concentra-
do, mas não abstrato, e sim concreto. Isso porque ela é apresentada em um processo cons-
titucional subjetivo10.
Esse processo tem a finalidade de resolver conflitos de natureza subjetiva, formados entre
a União e o estado/DF (âmbito federal) e entre estado e município (âmbito estadual).
Ao estudar a intervenção federal, você aprende que ela é uma medida excepcional de su-
pressão temporária da autonomia de determinado ente federativo, que visa à unidade e preser-
vação da soberania do Estado Federal. Como o Brasil adotou a forma federativa de Estado, a
regra é a autonomia dos entes federativos (União, estados, DF e municípios).
A intervenção federal, que é ato privativo do chefe do Executivo, pode ser motivada, dentre
outras situações, para assegurar a observância dos princípios constitucionais sensíveis ou
quando ficar caracterizada a recusa à execução de lei federal.
O artigo 34 lista as hipóteses de cabimento da intervenção federal. Veja quais são, mas
preste especial atenção nas apresentadas nos incisos VI e VII:

Art. 34. A União somente intervirá nos Estados ou no Distrito Federal se presente ao menos uma
dessas hipóteses:
I – manter a integridade nacional;
II – repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;
III – pôr termo a (acabar com) grave comprometimento da ordem pública;
IV – garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas Unidades da Federação;
V – reorganizar as finanças da Unidade da Federação que:
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de
força maior;
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas na CF, dentro dos prazos estabele-
cidos em lei. Ex.: deixar de repassar 50% do IPVA para o Município em que o carro está licenciado.

10
NOVELINO, Marcelo. Curso de direito constitucional. 12ª edição. Salvador: Juspodivm. 2017, pág. 243

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VI – prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;


VII – assegurar a observância dos seguintes princípios (sensíveis):
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta;
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, na manutenção e de-
senvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.

Pois bem. Configurada a hipótese de ofensa aos princípios constitucionais sensíveis (artigo
34, VII) ou caracterizada a recusa à execução de lei federal (artigo 34, VI), a intervenção será so-
licitada pelo PGR, que ajuizará uma Representação Interventiva junto ao STF. Caso esse Tribunal
acolha o pedido formulado, requisitará que o presidente da República decrete a intervenção.
Dois pontos de destaque: o primeiro, no sentido de que o Judiciário não decreta a interven-
ção, pois o ato é privativo do chefe do Executivo; o segundo, que o presidente ficará vinculado
à decisão do STF, não se tratando de ato discricionário.
Em outras palavras, o presidente é obrigado a cumprir a decisão do STF. Isso é importante
porque há hipóteses de intervenção nas quais o presidente atua de forma discricionária, en-
quanto em outras ele fica vinculado.
Avançando, Pedro Lenza diferencia os procedimentos entre intervenção branda e interpre-
tação efetiva11. Na intervenção branda, o chefe do Executivo se limita a expedir decreto sus-
pendendo a execução do ato impugnado. Se essa medida se mostrar suficiente, fim de papo.
Do contrário, passa-se à intervenção efetiva, na qual haverá efetivamente a decretação da
intervenção, devendo o presidente especificar a amplitude, o prazo de duração e as condições
de execução. Sendo o caso, ainda nomeará um interventor.
O objeto da ADI Interventiva é bem amplo. Isso porque ela poderá se voltar contra leis ou
atos normativos, atos governamentais, atos administrativos, atos concretos ou mesmo omis-
sões de autoridades locais, tudo isso relacionado aos princípios sensíveis.
Para se ter uma ideia da amplitude das hipóteses de cabimento, quando se fala em “atos
governamentais”, eu lembro que foi ajuizado pedido de intervenção federal pelo PGR em de-
corrência de escândalo de corrupção envolvendo o Distrito Federal, que ganhou visibilidade
nacional, chamado de Operação Caixa de Pandora (STF, IF 5.179).
11
LENZA, Pedro. Direito constitucional descomplicado. 19ª Edição. São Paulo: Saraiva. 2015, pág. 459.

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Aliás, estou falando toda hora em princípios constitucionais sensíveis e não sei se você
lembra bem a razão desse nome. É que, se eles forem violados, poderá haver a intervenção,
que, como você viu, é uma medida extrema em uma Federação.
Vamos em frente!

9.7.1. Procedimento e Medida Liminar

A representação interventiva foi regulada pela Lei n. 12.562/2011 – note que ela é exclu-
siva para a ADI Interventiva, pois a ADI, a ADO e a ADC são tratadas pela Lei n. 9.868/1999 e a
ADPF é disciplinada pela Lei n. 9.882/1999. Ela prevê procedimento semelhante ao das demais
ferramentas do controle concentrado.
A petição inicial deve indicar o princípio sensível violado ou a situação de recusa à apli-
cação de lei federal, bem como o ato (normativo, administrativo, concreto) ou a omissão, que
estão sendo questionados.
Se o Relator indeferir liminarmente o pedido, caberá agravo interno para o Plenário. Ao
receber a petição, caberá ao Relator tentar dirimir administrativamente o conflito. Não sendo
possível resolver administrativamente, o Relator pedirá informações às autoridades respon-
sáveis pelo ato e depois ouvirá o AGU e o PGR.
A decisão de mérito também deve partir de maioria absoluta (seis ministros), estando pre-
sentes ao menos oito. Sendo procedente o pedido, o presidente da República será notificado
para dar cumprimento à decisão no prazo improrrogável de 15 dias.
Como você viu, há uma “escadinha”, na qual o presidente primeiro decreta a intervenção
branda e, somente se ela não resolver, passará para a intervenção efetiva, inclusive com a no-
meação de interventor.
A decisão de mérito é irrecorrível e não caberá o ajuizamento de ação rescisória.
A Lei n. 12.562/2011 previu a possibilidade de deferimento de liminar pela maioria absoluta
do STF (não pode o Relator nem o presidente do Tribunal). A decisão, nesse caso, consistiria na
suspensão do andamento de processo ou dos efeitos de decisões judiciais ou administrativas.

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Ao contrário das demais ações de controle concentrado, na ADI Interventiva há apenas um


legitimado para o ajuizamento, que é o PGR.

9.7.2. Representação Interventiva no Âmbito Estadual

Também é cabível a ADI Interventiva (ou representação interventiva) no âmbito estadual,


seja para proteger os princípios constitucionais sensíveis previstos na Constituição Estadual,
seja para prover a execução de lei (artigo 35, IV).
Em linhas gerais, deve ser adotada a ideia de simetria. Assim, o julgamento caberia ao
Tribunal de Justiça, que é o guardião da Constituição Estadual. Se no modelo federal o único
legitimado é o PGR, na esfera estadual apenas o PGJ pode ajuizar a ação (STF, Súmula n. 614).
Sobre a intervenção no âmbito estadual, fique esperto para um ponto bastante cobrado
nas provas: é que não caberá recurso extraordinário para o STF contra acórdão de Tribunal de
Justiça que defere pedido de intervenção estadual em município (STF, Súmula 637).

9.8. Controle Concentrado na Esfera Estadual


Em sala de aula, geralmente quando eu pergunto quem pode fazer o controle concentrado
de constitucionalidade, ouço a resposta: “apenas o STF”. Cuidado com essa afirmação, pois
ela é apenas parcialmente verdadeira. Deixe-me explicar melhor...
É que no âmbito federal, realmente a missão de fazer o controle concentrado cabe somen-
te ao STF, guardião da Constituição Federal. Para isso, o Tribunal se vale de cinco ferramentas:
ADI, ADO, ADC, ADPF e ADI Interventiva.
Contudo, o artigo 125 da Constituição autoriza que os estados também façam controle
concentrado. Lá se fala em representação de inconstitucionalidade. Cá para nós, é melhor
usar a expressão “ADI Estadual”.
Avançando, no controle concentrado estadual, será analisada apenas a compatibilidade
de atos normativos municipais e estaduais perante a Constituição Estadual.

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Dentro da expressão “atos normativos” leiam-se emendas à CE, lei orgânica municipal, leis
ordinárias, complementares e delegadas, medidas provisórias editadas pelo governador ou
por prefeitos, decretos legislativos e resoluções da Assembleia ou das Câmaras Municipais,
resoluções do TJ etc.
Repare que na ADI Estadual, o TJ não fará o controle da legislação federal ante a Consti-
tuição Estadual. Fique atento(a), pois nessa situação (atos normativos federais x Constituição
Estadual) só caberá discussão judicial por meio do controle difuso.
De igual modo, não caberá ao TJ julgar ADI quando se falar em lei municipal violando a
Lei Orgânica Municipal, pois nessa situação estaremos diante de controle de legalidade, e
não de constitucionalidade.
Por essa razão, o STF declarou a inconstitucionalidade de alguns dispositivos da CE-PE
que atribuíam ao TJ a tarefa de analisar a constitucionalidade de leis municipais quando con-
frontadas com a lei orgânica municipal (STF, ADI n. 5.548).
Agora, arregale bem os olhos e preste atenção numa importantíssima mudança na orienta-
ção do STF, ocorrida em fevereiro de 2017...
Tradicionalmente, o STF entendia (passado) que o TJ não podia usar a ADI Estadual para
fazer controle de leis ou atos normativos em face da Constituição Federal. A explicação era
simples: somente o STF é o guardião da Constituição Federal.
Pois bem. No entanto, dentro da nova orientação, o TJ pode julgar ADI Estadual tendo
como parâmetro a Constituição Federal, desde que o dispositivo da Constituição Federal se
trate de norma de reprodução obrigatória.
Em outras palavras, atualmente o STF permite que o TJ julgue a ADI Estadual mesmo
quando a norma supostamente violada esteja na Constituição Federal, desde que se trate de
norma de reprodução obrigatória (STF, RE 650.898).
Abrindo um parêntese, o que são normas de reprodução obrigatória? São aquelas normas
que estão na Constituição Federal e que obrigatoriamente devem estar na Constituição Esta-
dual. Alguns exemplos seriam o artigo 37 (administração pública), os artigos 59 a 69 (proces-
so legislativo) e os artigos 165 a 169 (normas orçamentárias).
Fecho o parêntese e volto para o julgamento de ADI pelo TJ envolvendo as normas de re-
petição obrigatória.
É ainda importante lembrar que, no STF, a ADI poderá ser julgada para questionar atos nor-
mativos federais e estaduais (bem como distritais de natureza estadual), mas não os editados
pelos municípios (nem pelo DF dentro de sua competência municipal).

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Então, temos a situação em que, se uma lei municipal violar a Constituição Estadual, ca-
berá ADI para o TJ; se ela violar a Constituição Federal, não caberá ADI para o STF. Contudo,
tratando-se o dispositivo de norma de repetição obrigatória, poderá a ADI envolvendo lei muni-
cipal x Constituição Federal ser julgada pelo TJ.
A partir daí, seria possível à parte interpor recurso extraordinário (RE) diretamente ao STF.
Aliás, embora a decisão no RE, em regra, produza eficácia inter partes – por ser controle difuso
–, a decisão nesse RE específico será dotada de eficácia para todos, vinculante e com efeitos
retroativos (ex tunc), pois nascida no controle concentrado (STF, RE 187.142).

O controle concentrado no âmbito estadual, em regra, é feito perante a Constituição Estadu-


al. Excepcionalmente, pode ser usada a Constituição Federal como parâmetro de verificação,
quando o dispositivo for de repetição obrigatória.

9.8.1. Legitimados para o Ajuizamento das Ações de Controle Concentrado


na Esfera Estadual

No âmbito federal, você viu que há nove legitimados para o ajuizamento de quatro das
cinco ações do controle concentrado – a ADI Interventiva é o patinho feio, com somente um
legitimado, o PGR.
Segundo o artigo 103 da Constituição, ADI, ADO, ADC e ADPF podem ser propostas pelos
seguintes legitimados: a) presidente da República; b) Mesa do Senado Federal; c) Mesa da
Câmara dos Deputados; d) Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do DF; e)
governador de estado ou do DF; f) Procurador-geral da República (PGR); g) Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); h) partido político com representação no Congresso; e
i) confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.
Já no âmbito estadual, a Constituição Federal não definiu quem são os legitimados, atri-
buindo essa tarefa ao Constituinte Estadual. Mas ela fez uma ressalva: não poderia haver so-
mente um legitimado.

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Então, as Constituições Estaduais começaram a reproduzir o rol de legitimados do artigo


103, adaptado à realidade local.

Exemplificando, onde havia “Conselho Federal da OAB”, passou a constar “Seccional da OAB”;
trocou-se “confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional” por “federação
sindical ou entidade de classe de âmbito estadual”.
Depois, elas passaram a colocar legitimados que não encontravam simetria no modelo federal.
Quando foram questionadas, o STF entendeu que o rol de legitimados na Constituição Estadu-
al não precisa se limitar à aplicação do modelo federal em simetria.

Desse modo, é possível que o Constituinte Estadual aponte outros legitimados, como, por
exemplo, um deputado estadual (STF, ADI 558) ou mesmo partido político sem representação
na Assembleia Legislativa (STF, RE 412.921).
Uma ressalva: o STF firmou a compreensão segundo a qual é do prefeito do município, e
não do próprio município ou de seu Procurador-geral, a legitimidade para fazer propor a ADI
Estadual perante o TJ e, se for o caso, o recurso extraordinário (RE) contra a decisão daí advin-
da (STF, RE 831.936).
Outra coisa: uma coisa é a legitimidade para ajuizar a ADI estadual e outra bem diferente
é a legitimação para interpor recurso contra a decisão eventualmente proferida nessa ação.
Não entendeu? Deixe-me explicar melhor.
Imagine a situação em que o governador de determinado estado ajuizou ADI perante o TJ
sustentando a violação a dispositivos da Constituição Estadual.
Daí, após o julgamento pelo TJ, surge o interesse de interpor recurso extraordinário (RE)
para levar a questão ao STF. Nessa situação, quem seria o legitimado para interpor o RE?
Ao julgar a questão, o Tribunal decidiu que, por ser uma decisão política, somente os legiti-
mados no art. 103 da Constituição Federal, ou, por simetria, os que previstos em constituição
estadual, podem propor ações diretas de inconstitucionalidade.
No entanto, os atos de natureza técnica, subsequentes ao ajuizamento da ação, devem ser
praticados pelos procuradores da parte legitimada. Em outras palavras, firmou-se a compreen-
são no sentido de que recursos em ADI podem até vir assinados pelo legitimado conjuntamente
com o procurador, mas que seria essencial a presença de advogado (STF, RE n. 1.126.828).

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Outra coisa: você viu que há liberdade para o legislador estadual na definição dos legiti-
mados para o controle concentrado. Porém, o STF entendeu que é inconstitucional dispositi-
vo de Constituição Estadual que retire do chefe do Ministério Público – PGJ – a legitimidade
ativa para a propositura de ADI perante o TJ. Pesou o papel de destaque do Ministério Público
na defesa da integridade do ordenamento jurídico brasileiro (STF, ADI n. 5.693).

9.8.2. Simultaneidade de Ações (ou Simultaneus Processus)

Um alerta inicial: preste muita atenção, pois este tema é exaustivamente cobrado pelas bancas!
Antes de qualquer coisa, eu vou separar a análise em dois grandes grupos: no primeiro,
uma lei estadual violará a CF e a CE, concomitantemente; no segundo, será a vez de essas
Constituições serem violadas por uma lei municipal.
Fique atento(a) para os detalhes, pois eles serão perguntados.
Situação 1: lei estadual que viola dispositivo da Constituição Estadual e da Constituição
Federal ao mesmo tempo – tratava-se de norma de repetição obrigatória.
Nesse caso, caberá ADI para o STF (a ADI no âmbito federal questiona normas federais e
estaduais perante a CF, certo?).
Contudo, também caberá ADI para o TJ, uma vez que na esfera estadual a ADI analisa a
compatibilidade de atos normativos estaduais e municipais ante a CE.
Então, estamos diante da possibilidade de ajuizamento simultâneo de duas ADIs dire-
cionadas a Tribunais diversos: a primeira para o STF, em relação à CF, e a segunda para o
TJ, quanto à CE.
Se isso acontecer, ou seja, se houver o ajuizamento de duas ADIs de forma concomitante
(em latim, simultaneus processus), a ADI Estadual ficará suspensa aguardando a decisão final
do STF (STF, ADI 3.046).
Caso o STF declare a inconstitucionalidade da norma estadual, a ADI Estadual será extin-
ta por perda do objeto. Afinal, a norma foi retirada do ordenamento jurídico – grave bem essa
explicação para não errar daqui a pouquinho (STF, PET 2.701).
Do contrário, se o STF confirmar a constitucionalidade, a norma continua no sistema. En-
tão, a ADI Estadual deve prosseguir, inclusive, podendo o TJ declarar a inconstitucionalidade

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da norma diante da CE, desde que por outro fundamento – aquele fundamento usado pelo STF
tem força vinculante, impedindo que o TJ o contrarie.
Se você entendeu até aqui, já matará boa parte das questões de prova. Porém, eu quero
avançar um pouco mais e garantir que você acerte todas as questões.
Agora imagine a situação em que, embora fosse viável o ajuizamento simultâneo, ele não
ocorreu.
No primeiro exemplo, só se ajuizou ADI no STF contra a lei estadual por violação à CF. Aqui
as coisas ficam simples, pois a declaração de inconstitucionalidade do STF retira a norma do
sistema. Logo, não caberia posteriormente entrar com ADI no TJ (a norma não existe mais!).
Em sentido contrário, se o STF confirma a constitucionalidade, posteriormente ainda se
pode ajuizar a ADI Estadual, uma vez que a norma continua no sistema. Entretanto, a funda-
mentação usada não pode ser aquela já afastada pelo STF na ADI Federal, por conta da força
vinculante para todos.
É agora que mais se erra...
No segundo exemplo, apenas a ADI Estadual foi ajuizada, por violação à CE. Se o Tribunal
confirmar a constitucionalidade, a norma continuará no sistema e depois poderá ser questio-
nada em ADI Federal, sendo que o STF ficaria livre para adotar qualquer decisão, sem se falar
em vinculação.
Por outro lado, se ao julgar a ADI Estadual o TJ declarar a inconstitucionalidade da lei es-
tadual, não será cabível nova ADI para o STF por uma razão simples: a norma não existe mais,
foi retirada do sistema.
Daí você está com comichão e fala:

Então, o STF não pode fazer nada?

Ora, nessa situação, contra a decisão do TJ na ADI Estadual, seja lá qual for o resultado
(constitucionalidade ou inconstitucionalidade), será possível a interposição de RE para levar a
discussão ao STF, uma vez que se trata de norma de repetição obrigatória.
Até aqui estava indo tudo bem, sendo necessário o TJ suspender o andamento da ADI lá
ajuizada quando houver simultaneidade de ações, certo?
Pois é, acontece que chegou ao STF uma situação bem diferentona. Foi o seguinte: em vez
de suspender o andamento do feito e aguardar o desfecho da ADI já ajuizada no STF, o TJ foi
lá e “queimou a largada”, julgando a ação direta que tinha sido ajuizada no âmbito estadual.

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Para piorar, não houve a interposição de recurso contra a decisão do TJ, que acabou tran-
sitando em julgado.
Ou seja, mesmo havendo a tramitação simultânea das duas ADI’s, o TJ desrespeitou a
orientação jurisprudencial no sentido de aguardar o julgamento pelo STF.
Daí, o STF ficou numa posição delicada, porque, se a decisão do TJ for pela inconstitucio-
nalidade da norma – e a decisão transitou em julgado –, como faz com a ADI ajuizada perante
o STF? A pergunta é válida, porque a declaração de inconstitucionalidade feita pelo TJ retira a
norma do ordenamento, inviabilizando (teoricamente) pronunciamento do STF – a ADI pressu-
põe norma em vigor...
Ao desenrolar esse novelo, o Tribunal compreendeu que, se a ação que tramita perante o
Tribunal de Justiça local não for sobrestada (como deveria ter sido), a decisão por ele proferida
somente prejudicará a que está em curso perante o STF se for pela procedência e desde que a
inconstitucionalidade seja por incompatibilidade com dispositivo constitucional estadual sem
similar na Constituição Federal.
Por outro lado, havendo declaração de inconstitucionalidade de preceito normativo esta-
dual pelo Tribunal de Justiça com base em norma constitucional estadual que constitua re-
produção (obrigatória ou não) de dispositivo da Constituição Federal, subsiste a jurisdição do
STF para o controle abstrato tendo por parâmetro de confronto o dispositivo da Constituição
Federal reproduzido.
Dito de outro modo, quem dá a palavra final é o STF, sempre que houver possível violação
a norma da CF, seja ou não de reprodução obrigatória. Fazer prevalecer a orientação do TJ que
agiu “apressadinho” seria subverter a ordem do sistema, com um TJ prevalecendo sobre o STF,
guardião da CF (STF, ADI n. 3.659).

Se uma lei estadual violar ao mesmo tempo a Constituição Estadual e a Federal, caberá o
ajuizamento simultâneo de ADI para o TJ e para o STF. Nessa situação, a ADI Estadual ficará
suspensa, aguardando o desfecho do julgamento no STF.

Situação 2: lei municipal que viola dispositivo da Constituição Estadual e da Constituição


Federal ao mesmo tempo – tratava-se de norma de repetição obrigatória.

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Agora há uma significativa diferença: caberá ADI para o TJ (lei municipal x CE), mas não
será possível o ajuizamento de ADI para o STF.
Nosso trabalho agora ficou mais fácil, pois o TJ pode julgar a ADI para um lado ou para ou-
tro, sem existir a possibilidade de uma ADI no STF barrar a tramitação. Ou seja, pode declarar
a norma constitucional ou inconstitucional.
Contra a decisão do TJ, seja lá qual for o resultado (constitucionalidade ou inconstitucio-
nalidade), será possível a interposição de RE para levar a discussão ao STF, uma vez que se
trata de norma de repetição obrigatória (STF, PET 2.788).
Lembro novamente que, embora a decisão no RE, em regra, produza eficácia inter partes – por
ser controle difuso –, a decisão nesse RE específico será dotada de eficácia para todos, vinculan-
te e com efeitos retroativos (ex tunc), pois nascida no controle concentrado (STF, RE 187.142).
Pegadinha comum nas provas: há alguma forma de submeter a questão diretamente ao
STF por meio do controle concentrado?
Em resposta, eu lembro que não caberia ADI, ADO ou ADC, pois estamos diante de lei muni-
cipal x CF. A única ferramenta do controle concentrado possível será o ajuizamento de ADPF,
caso se comprove a existência de preceito fundamental violado.
Que tal esquematizarmos as hipóteses pelas quais uma lei municipal pode ser questiona-
da perante o TJ e o STF, dentro do controle difuso e do concentrado?
Vamos lá:

Sistema de
Controle realizado pelo TJ Controle realizado pelo STF
controle
Será possível pelas vias
Lei municipal Lei municipal É possível via recurso extra-
ordinárias. Ex.: ação de
x CF x CF ordinário (RE).
conhecimento.
Controle Pode ser feito contra decisão
difuso Será possível pelas vias proferida em ADI Estadual,
Lei municipal Lei municipal
ordinárias. Ex.: ação de desde que a norma da CE
x CE x CE
conhecimento. seja repetição de texto pre-
visto na CF.
Cabe ADI Estadual,
Lei municipal desde que se trate de Lei municipal Só é possível por meio da
Controle x CF norma de repetição obri- x CF ADPF, nunca da ADI.
concentrado gatória.
Lei municipal Lei municipal
Cabe ADI Estadual. ------
x CE x CE

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Dentro do controle concentrado, as normas municipais podem ser questionadas no TJ, seja
diante da CE, seja perante a CF (apenas normas de repetição obrigatória). Contra essa decisão
caberá RE para o STF.

9.8.3. Existência de outras Ações do Controle Concentrado na Esfera Estadual

Se você reparou bem, a todo momento eu citei apenas a ADI quando falei da represen-
tação de inconstitucionalidade. Contudo, a doutrina defende que as outras ferramentas do
controle concentrado (ADO, ADC e ADPF) poderiam ser usadas, recorrendo-se ao princípio
da simetria.12
A propósito, o próprio STF admitiu a figura da ADO na esfera estadual (STF, RE 148.283).
Quanto à ADC, por ela possuir a mesma natureza da ADI (em razão do caráter dúplice ou do
efeito ambivalente), não haveria nenhum empecilho.
É quanto à ADPF que surgem algumas polêmicas, especialmente por conta da impossibi-
lidade de os estados legislarem sobre direito processual. Ainda assim, algumas Constituições
Estaduais – exemplos: Alagoas (artigo 133) e Rio Grande do Norte (artigo 71) – preveem ex-
pressamente a competência do TJ para julgar ADPF.

9.8.4. Controle Concentrado de Constitucionalidade na Esfera Distrital

Tudo o que você viu até aqui quanto à Constituição Estadual pode ser aproveitado, com as
adaptações necessárias, à realidade do Distrito Federal. É que a Lei Orgânica do DF é conside-
rada verdadeira “Constituição Distrital” (STF, ADI 980).
Dentro desse cenário, o TJDFT surge como guardião da LODF, podendo fazer controle con-
centrado de constitucionalidade dos atos normativos distritais. Obviamente, não haverá o con-
fronto entre lei municipal x LODF, pois o DF não é dividido em municípios.
E mais: tratando-se de norma distrital de natureza estadual, será também possível o ajui-
zamento de ADI para o STF. Por outro lado, se a norma distrital possuir natureza municipal,
não será cabível o ajuizamento da ADI para o STF (STF, Súmula n. 642).
12
PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional Descomplicado. 3ª ed. São Paulo: Método. 2008, pág. 329.

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Nesse caso, haveria dois caminhos à parte: no primeiro, ela ajuíza uma ADI no TJDFT
alegando violação à LODF. Contra a decisão do TJ, caberia RE para o STF se a norma distrital
fosse de repetição obrigatória.
O segundo caminho é o ajuizamento, diretamente no STF, de ADPF, dependendo, nessa
hipótese, da comprovação de violação a preceito fundamental.

O confronto entre lei municipal e Lei Orgânica Municipal é feito por meio de controle de legali-
dade, e não de constitucionalidade.

9.9. Quadro Comparativo das Hipóteses de Cabimento das Ações de

Controle Concentrado

Costumo ver bons alunos errarem questões por ficarem angustiados, dizendo:

Não cabe ADI para o Supremo, e como ficará? A Constituição continuará sendo violada?

Ora, se não couber ADI, talvez seja hipótese de outra ferramenta do controle concentrado.
Além disso, nunca se esqueça de que, além do controle concentrado, existe o difuso. Então,
ainda que não seja cabível nenhuma ação do controle concentrado para uma situação especí-
fica (ex.: lei federal x Constituição Estadual), o prejudicado poderá se valer do controle difuso.
Avançando, veja as hipóteses de cabimento das ações do controle concentrado, tanto no
STF quanto no TJ. Redobre a atenção nas observações que aparecem na parte de baixo do
quadro para não escorregar em casca de banana.

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Vamos lá:

HIPÓTESES DE CABIMENTO DO CONTROLE CONCENTRADO


Ato
normativo ADI ADC ADO ADPF ADI no TJ
questionado
Lei ou ato
Cabe Cabe Cabe Cabe ----
Federal x CF
Lei ou ato
Cabe ---- Cabe Cabe ----
Estadual x CF
Lei ou ato
---- ---- ---- Cabe Cabe*4
Municipal x CF
Lei ou ato
Cabe*1 ---- Cabe*1 Cabe ----
Distrital x CF
Norma anterior à CF ---- ---- ---- Cabe ----
Lei ou ato
---- ---- ---- ---- ----
Federal x CE
Lei ou ato
---- ---- ---- ---- Cabe*2
Estadual x CE
Lei ou ato
---- ---- ---- ---- Cabe*3
Estadual x CE
Lei Distrital x LODF ---- ---- ---- ---- Cabe*2
Lei Municipal x LOM É controle de legalidade, e não de constitucionalidade.
Obs1: se a norma distrital possuir natureza estadual, caberá ADI para o STF; ao contrário, se ela
possuir natureza municipal, a ação não será cabível, devendo ser ajuizada ADI para o TJDFT
(Súmula n. 642 do STF).
Obs2: se a norma da CF for de repetição obrigatória, caberá ao mesmo tempo ADI para o TJ (LE
x CE) e para o STF (LE x CF). Nesse caso, havendo o ajuizamento simultâneo das duas ações, a
ADI Estadual ficará suspensa, aguardando o julgamento pelo STF.
Obs3: se a norma da CF for de repetição obrigatória, caberá ADI para o TJ (LM x CE), mas não ADI
para o STF (LM x CF). Contra essa decisão, seja lá qual for (constitucionalidade x inconstitucio-
nalidade), caberá RE para o STF.
Obs4: é a única hipótese em que o TJ pode fazer controle concentrado tendo como parâmetro a
CF. A norma da CF deve ser repetição obrigatória. Contra a decisão do TJ na ADI, seja lá qual for
(constitucionalidade x inconstitucionalidade), caberá RE para o STF.

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9.10. Quadro Comparativo do Cabimento da Medida Cautelar (ou


Liminar) nas Ações de Controle Concentrado

Medida cautelar nas ações de controle concentrado


Ação Efeito produzido Quem defere Efeitos
Suspender, no todo ou em
parte, a aplicação da norma
Maioria absoluta dos Erga omnes e vin-
questionada, tornando aplicável
ADI membros do STF ou o culante, em caso de
a legislação anterior, caso exis-
presidente (nas férias). deferimento.
tente, salvo manifestação con-
trária do STF.
Suspender o julgamento de
Maioria absoluta dos Erga omnes e vin-
processos que envolvam a
ADC membros do STF ou o culante, em caso de
norma questionada (prazo de
presidente (no recesso). deferimento.
180 dias).
Três possíveis efeitos:
a) suspender a aplicação da lei
ou do ato normativo questio-
nado, no caso de omissão par-
cial – mas sem a limitação do Maioria absoluta dos Erga omnes e vin-
ADO prazo de 180 dias; membros do STF ou o culante, em caso de
b) suspender os processos presidente (nas férias). deferimento.
judiciais ou de procedimentos
administrativos;
c) outra providência a ser fixada
pelo Tribunal.
Suspender o julgamento de pro-
cessos, de efeitos de decisões Maioria absoluta dos
Erga omnes e vin-
judiciais ou de qualquer outra membros do STF ou
ADPF culante, em caso de
medida relacionada à maté- o Relator (em caso de
deferimento.
ria discutida na ADPF, salvo se extrema urgência).
houver coisa julgada.
Suspender andamento de pro-
cesso ou os efeitos de decisões
Erga omnes e vin-
judiciais e administrativas, ou Maioria absoluta dos
ADI Interventiva culante, em caso de
qualquer outra medida relacio- membros do STF.
deferimento.
nada à matéria objeto da repre-
sentação interventiva.

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10. Súmulas Vinculantes

As súmulas são orientações que os Tribunais emitem a respeito do que entendem sobre
determinadas matérias. Elas podem ser emitidas por todos os Tribunais. Nas provas, as mais
importantes são as editadas pelo STF e pelo STJ.
Se o concurso também cobrar Direito do Trabalho e Processual do Trabalho, as súmulas
do TST e as Orientações Jurisprudenciais (OJs) emitidas por esse Tribunal também serão de
especial importância para a sua prova!
Pois bem. A EC n. 45/2004 introduziu no ordenamento jurídico brasileiro a figura da
súmula vinculante. Ela se assemelha ao instituto do “stare decisis”, originário do direito
norte-americano.
Na Constituição, a matéria é tratada no artigo 103-A. Ela também foi regulamentada pelo
legislador, com a edição da Lei n. 11.417/2006.
Seguindo, o STF poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de 2/3 (dois ter-
ços) de seus membros, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá
efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública
direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.
Vou decompor as informações que estão no parágrafo anterior, ok?
Primeira coisa: a súmula pode ser proposta, revista ou cancelada, tanto pelo próprio STF
(agindo de ofício), quanto pelos legitimados para o ajuizamento da ação direta de inconstitu-
cionalidade (ADI) – artigo 103 da Constituição.
O rol de legitimados definido na Constituição foi ampliado pela Lei n. 11.417/2006, que
introduziu, por exemplo, os Tribunais Superiores e os de 2ª instância.

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Vamos fazer um bate bola entre a legitimação da Constituição e a da lei:

Legitimação para proposta de edição, revisão e cancelamento de súmulas vinculantes


Artigo 103, da CF Artigo 3º, da Lei n. 11.417/2006
I – o Presidente da República; I – o Presidente da República;
II – a Mesa do Senado Federal; II – a Mesa do Senado Federal;
III – a Mesa da Câmara dos Deputados; III – a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV – a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara IV – o Procurador-Geral da República;
Legislativa do Distrito Federal; V – o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
V – o Governador de Estado ou do Distrito Federal; Brasil;
VI – o Procurador-Geral da República; VI – o Defensor Público-Geral da União;
VII – o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do VII – partido político com representação no Congresso
Brasil; Nacional;
VIII – partido político com representação no Congresso VIII – confederação sindical ou entidade de classe de
Nacional; âmbito nacional;
IX – confederação sindical ou entidade de classe de IX – a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara
âmbito nacional. Legislativa do Distrito Federal;
X – o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
XI – os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justiça
de Estados ou do Distrito Federal e Territórios, os Tri-
bunais Regionais Federais, os Tribunais Regionais do
Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais e os Tribu-
nais Militares.
§ 1º O Município poderá propor, incidentalmente ao
curso de processo em que seja parte, a edição, a revi-
são ou o cancelamento de enunciado de súmula vin-
culante, o que não autoriza a suspensão do processo.

Fique atento(a) para um ponto muitíssimo importante para as provas: caso não concorde
com o teor da súmula vinculante, o legitimado deverá se valer do instrumento próprio, cha-
mado de pedido de revisão ou de cancelamento, não sendo cabível o ajuizamento de ação
direta de inconstitucionalidade ou de qualquer outra ferramenta do controle concentrado (nem
mesmo a arguição por descumprimento a preceito fundamental – STF, ADPF 147), tampouco
o recurso extraordinário (STF, PET 4.556).
Ah, para que seu pedido (de revisão ou de cancelamento) seja admitido, o autor deverá
demonstrar que houve: a) mudança na legislação; b) alteração na jurisprudência do STF; ou c)
alguma modificação concreta no panorama que evidencie a necessidade do pedido.
Em outras palavras, o mero inconformismo com o teor da súmula vinculante não autoriza
o acolhimento da proposta.

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Exemplificando, a Confederação Brasileira dos Trabalhadores Policiais Civis (COBRAPOL)


ingressou com pedido de revisão/cancelamento da Súmula Vinculante n. 11, que trata do uso
de algemas. Contudo, o STF não conheceu do pedido, porque não foi demonstrada nenhuma
das três hipóteses supracitadas (STF, PSV 13).

Avançando, é bom dizer que o quórum de 2/3 dos votos equivale a oito ministros, sendo
exigido tanto para a edição quanto para a revisão e o cancelamento da súmula.
Outra coisa é a necessidade de delimitar quem será atingido pela súmula, ficando a
ela vinculado.
Quanto ao Poder Judiciário, note que o texto constitucional fala em “demais órgãos”, o
que exclui da vinculação o próprio STF. Também pudera, porque o Tribunal é o responsável por
rever ou cancelar a súmula, lembra?!
No Poder Executivo, a vinculação é, como se diz lá na Paraíba, “de cabo a rabo”. Em outras
palavras, alcança todas as esferas de governo (federal, estadual, distrital e municipal), sem
distinção entre Administração Direta ou Indireta.
É no Poder Legislativo que sua atenção deve ser redobrada... isso porque na função típica
de legislar, não há vinculação!
Com efeito, se a atividade legislativa ficasse vinculada, haveria uma fragilização no siste-
ma dos freios e contrapesos. Então, nada impede que o legislador atue dentro de sua missão
constitucional, podendo, inclusive, editar normas contrárias ao texto da súmula vinculante.
Mas atenção! Nas funções atípicas o Legislativo deverá respeitar o comando da súmula,
ficando a ele vinculado. Quer um exemplo para você não esquecer?

Pois bem. A Súmula Vinculante n. 13, que trata da proibição da prática popularmente chamada
de nepotismo, vale também para o Legislativo. Isso se deve ao fato de a contratação de pesso-
al estar inserida dentro da atividade de administrar, atípica para o Legislativo.

Aliás, essa ideia – de não vinculação do Legislativo na função típica de legislar – também
vale para as decisões no controle concentrado.
Ou seja, as decisões do STF em ADI, ADC, ADO e ADPF, embora sejam dotadas de efeito
vinculante, não impedirão a edição de norma em sentido contrário. A eventual vinculação con-
duziria ao fenômeno da fossilização da Constituição.

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Ah, a súmula começa a valer a partir da data de sua publicação na imprensa oficial.

Outra coisa: suponhamos que uma súmula vinculante deixe de ser aplicada quando deveria ou
ainda seja aplicada quando não deveria. O que fazer nesse caso? Nessa hipótese, abre-se a
possibilidade de a parte usar a reclamação.

Mas, como você viu lá em meus comentários sobre a competência originária do STF (espe-
cificamente quanto à reclamação), o STF entende que a reclamação só é cabível quando a par-
te tiver esgotado todos os recursos ordinários na causa em que proferido o ato supostamente
contrário à autoridade da súmula vinculante.
A orientação é para evitar que haja uma inversão na pirâmide do organograma do Judiciá-
rio, com o STF chamando para si assuntos que seriam de competência de outras instâncias e
dos Tribunais Superiores (STF, RCL 14.343).
Tem mais: a reclamação não pode ser usada quando se alegar desrespeito à súmula do
STF que não seja vinculante (STF, RCL 3.284).

Ficam de fora da força vinculante das SV o próprio STF e o Legislativo em sua função típica de
legislar.

11. Reclamação
Muita atenção com o instituto da reclamação, devido à sua alta incidência nas provas. A
primeira coisa a saber é qual a sua natureza jurídica. Em outras palavras, o que ela é para o
direito?
Essa talvez seja uma das tarefas mais difíceis do mundo jurídico. Para ficar somente nas
duas teses mais utilizadas, Pontes de Miranda e Gilmar Mendes13 citam constituir uma ação
propriamente dita – ou ação constitucional. Essa orientação foi seguida pelo STF na RCL n.
25.160.

13
Curso de Direito Constitucional, 2020, pág. 1.537.

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Por outro lado, no STF há outros julgados (STF, ADI n. 2.212 e 2.480) apontando que a re-
clamação teria natureza jurídica de direito de petição (artigo 5º, XXXIV). É a orientação de Ada
Pelegrini Grinover, de Pedro Lenza 14 e de Bernardo Gonçalves Fernandes15. Parece ser essa a
orientação dominante nas provas objetivas. Nas subjetivas, é importante expor as duas cor-
rentes.
A reclamação tem ganhado cada vez mais importância atualmente, especialmente dentro
do controle concentrado e nas súmulas vinculantes.

Você viu, por exemplo, que as decisões do controle concentrado produzem efeito vinculante e
eficácia contra todos (erga omnes).
Então, suponha que o STF, ao julgar improcedente uma ADI, confirme a constitucionalidade de
determinada lei. A partir daí, tal orientação deve ser seguida pelos demais órgãos do Judiciário.
Contudo, se um juiz ou Tribunal, em um caso concreto, declarar a inconstitucionalidade daque-
le mesmo dispositivo, usando os mesmos fundamentos, estará descumprindo a decisão do
STF, que tem caráter vinculante.

Logo, a parte prejudicada, além de usar as ferramentas tradicionalmente disponíveis – um


recurso de apelação, por exemplo –, poderá também ir reclamar diretamente no STF, queixan-
do-se do descumprimento da decisão firmada em ADI.
Avançando, nas súmulas vinculantes você também verá a aplicação de idêntico raciocínio.
Ora, como o próprio nome anuncia, a súmula vinculou – na mesma extensão das decisões
do controle concentrado – os demais órgãos do Judiciário e a Administração Pública.

Desse modo, se um juiz da Vara de Execuções Penais, no caso concreto, nega a progressão de
regime prisional para condenado por crime hediondo, a parte prejudicada pode tanto ir pelos
caminhos ordinários (agravo em execução perante o TJ) quanto se dirigir diretamente ao STF,
alegando a inobservância da SV n. 25 – que firmou entendimento da possibilidade da progres-
são para tais delitos.

14
Direito Constitucional Esquematizado, 2021, pág. 414.
15
Curso de Direito Constitucional, 2018, pág. 1.610.

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Ah, sabe aquela máxima segundo a qual “quem pode o mais, pode o menos”? Pois é, é ela
que orienta o cabimento da reclamação quando uma decisão não está sendo cumprida por um
juiz de primeiro grau ou por Tribunal inferior àquele que proferiu a decisão.
Eu digo isso porque, embora a reclamação seja prevista expressamente apenas para o STF,
o STJ e o TST, ela pode ser usada por qualquer Tribunal, dentro da teoria dos poderes implícitos.
A reclamação será igualmente cabível quando um Tribunal usurpar a competência de outro.

Exemplificando, o STF acolheu uma reclamação proposta contra determinado TRE. No caso, o
TRE determinou a quebra dos sigilos de um deputado federal por crime eleitoral.

Acontece que compete originariamente ao STF julgar membros do Congresso Nacional em


crimes comuns. Em consequência, o TRE estava usurpando essa competência ao se substituir
ao Tribunal responsável pelo julgamento (STF, RCL 511).
Vamos, então, sistematizar as hipóteses de cabimento da reclamação:
a) garantir a correta aplicação de uma súmula vinculante;
b) preservar a autoridade das decisões de um Tribunal; e
c) para preservar a competência de um Tribunal.
Mas cuidado com uma coisa: o STF tem entendido que a reclamação só é cabível quando
a parte tiver esgotado todos os recursos ordinários na causa em que proferido o ato suposta-
mente contrário à autoridade de sua decisão.

Exemplificando, em uma situação em que o STF julgue recurso extraordinário (RE) com reper-
cussão geral, a decisão daí decorrente vincularia as demais esferas do Judiciário.
Porém, caso um Tribunal de Justiça deixe de seguir a orientação como deveria, teoricamente
caberia a reclamação (eu disse teoricamente, pois, como você viu, o Tribunal entende que a
parte deveria seguir primeiramente os caminhos ordinários – passando pelos Tribunais abaixo
dele primeiro).

A orientação é para evitar que haja uma inversão na pirâmide do organograma do Judiciá-
rio, com o STF chamando para si assuntos que seriam de competência de outras instâncias e
dos Tribunais Superiores (STF, RCL 24.686).

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Sendo mais explícito, confira um trechinho de julgado do STF:

A jurisprudência desta Suprema Corte assentou o caráter excepcional da via reclamatória


e estabeleceu diversas condicionantes para sua utilização, de sorte a evitar o desvirtua-
mento do referido instrumento processual. Disso resulta: i) a impossibilidade de utilizar per
saltum a reclamação, suprimindo graus de jurisdição; ii) a impossibilidade de se proceder a
um elastério hermenêutico da competência desta Corte, por estar definida em rol numerus
clausus; iii) a observância da estrita aderência da controvérsia contida no ato reclamado e
o conteúdo dos acórdãos desta Suprema Corte apontados como paradigma, etc.

Indo além, o Tribunal pontuou que, sendo a reclamação instrumento processual destinado
a preservar a competência do Supremo Tribunal Federal, sua utilização só terá lugar quando
houver correspondência perfeita entre a hipótese fática, modelo do paradigma invocado, e a
hipótese subjacente à decisão reclamada, além de divergência na aplicação do direito (STF,
RCL n. 28.355).
Outra coisa: suponha que o STF tenha julgado recurso extraordinário (RE) sob a sistemática
da repercussão geral, firmando uma tese. Daí, na hora de aplicar a tese lançada pelo Tribunal, o
STJ se equivoca na interpretação. Com isso, de forma indevida, não admite a subida do RE.
A parte prejudicada, então, vai ao STF, por meio de uma reclamação. Minha pergunta: pode
isso, Arnaldo?
O STF entendeu que sim, dizendo que:

A erronia na observância de pronunciamento do Supremo formalizado, em recurso extra-


ordinário, sob o ângulo da repercussão geral, enseja, esgotada a jurisdição na origem
considerado o julgamento de agravo, o acesso ao Supremo mediante a reclamação (STF,
RCL n. 26.874).

Agora preste atenção a um detalhe: o julgamento que eu citei aí em cima do STF foi no dia
12/11/2019.
Por que enfatizei a data?

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Para mostrar a você que pouco depois, em 5/2/2020, a Corte Especial do STJ foi no sen-
tido contrário, dizendo, em relação ao recurso especial (RESP), que a reclamação não é via
adequada para controle de aplicação de tese de recurso repetitivo.
Na ocasião, a relatora da reclamação, ministra Nancy Andrighi, pontuou que, caso fosse
permitido o processamento desse tipo de ação nas hipóteses de suposto erro ou aplicação
indevida de precedente repetitivo,

para além de definir a tese jurídica, também incumbiria a este STJ o controle da sua apli-
cação individualizada em cada caso concreto, em franco descompasso com a função
constitucional do tribunal e com sério risco de comprometimento da celeridade e da qua-
lidade da prestação jurisdicional que aqui se outorga (STJ, RCL n. 36.476).

Para finalizar: o STF entende que não apenas o Conselho Federal, mas também os conse-
lhos seccionais da OAB possuem legitimidade para ingressar com reclamação diretamente no
tribunal em defesa dos interesses concretos e das prerrogativas de seus associados, nos ter-
mos da expressa previsão legal. E ao julgar a reclamação nada impediria inclusive a concessão
de habeas corpus de ofício, caso o tribunal vislumbre alguma ilegalidade (STF, RCL n. 43.479).

A reclamação tem natureza jurídica de direito de petição.

12. Tópico Especial: Súmulas Aplicáveis à Aula


Súmulas Vinculantes – STF

Súmula Vinculante n. 10
Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribu-
nal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do
poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte.

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Súmulas STF – não Vinculantes

Súmula n. 642
Não cabe ação direta de inconstitucionalidade de lei do Distrito Federal derivada da sua
competência legislativa municipal.
Súmula n. 637
Não cabe recurso extraordinário contra acórdão de tribunal de justiça que defere pedido de
intervenção estadual em município.
Súmula n. 347
O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade
das leis e dos atos do Poder Público. Embora a Súmula n. 347 não tenha sido formalmente
cancelada, em abril de 2021, o Plenário do STF afastou a possibilidade de o TC fazer controle
de constitucionalidade dentro de sua atuação (STF, MS n. 35.410).

Súmulas STJ

Súmula n. 501
É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência
das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da
Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis.

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QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1 (SEFIN-RO/AUDITOR/2018) O Tribunal de Justiça do Estado Alfa foi instado a


realizar o controle concentrado de constitucionalidade de lei do Município Beta.
O autor da ação argumentava que teriam sido violados:
I – o Art. 10 da Constituição Estadual, que reproduzia literalmente preceito da Constitui-
ção da República; e
II – o Art. 39 da Constituição da República, pois é considerada norma de reprodução obri-
gatória, e a Constituição Estadual sujeitou os servidores às “normas constitucionais
que lhes sejam aplicáveis”.

Considerando o paradigma de confronto passível de ser utilizado pelo Tribunal de Justiça no


controle concentrado de constitucionalidade, assinale a afirmativa correta.
a) A ação não pode ser conhecida em relação a ambos os fundamentos, pois ao Tribunal de
Justiça não compete analisar a compatibilidade da lei municipal com normas da Constituição
da República.
b) A ação pode ser conhecida em relação a ambos os fundamentos, pois o Tribunal de Justiça
pode utilizar como parâmetro as normas da Constituição Estadual e as da Constituição da
República de reprodução obrigatória.
c) A ação não pode ser conhecida apenas em relação ao fundamento (II), pois o Tribunal de
Justiça não pode analisar a adequação da lei municipal às normas da Constituição da Repú-
blica não reproduzidas na Constituição Estadual.
d) A ação não pode ser conhecida apenas em relação ao fundamento (I), pois o Tribunal de
Justiça não pode analisar a adequação da lei municipal à norma que reproduz a Constituição
da República.
e) A ação não pode ser conhecida apenas em relação ao fundamento (II), pois a Constituição
da República somente pode ser utilizada como paradigma de confronto caso haja remissão
específica a um de seus preceitos.

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Letra b.
No âmbito federal, o controle concentrado é exercido somente pelo STF, guardião da Consti-
tuição Federal.
No plano estadual/distrital, cabe aos TJs o controle das normas estaduais e municipais (ou
distritais, no caso do DF) frente a Constituição estadual/LODF. É que o TJ funciona como
guardião da Constituição estadual (ou da LODF).
Aqui vai uma informação importantíssima, decorrente de uma modificação recente na juris-
prudência. É o seguinte: o STF entendia não caber ao TJ fazer controle de constitucionalidade
tendo como parâmetro a Constituição Federal.
No entanto, flexibilizando essa regra, o tribunal passou a entender que o TJ pode fazer julgar
ADI estadual (controle concentrado) usando como parâmetro norma da Constituição Federal
se ela for de repetição obrigatória pelo estado-membro.
Em outras palavras, o TJ pode julgar ADI estadual contra atos normativos municipais ou esta-
duais que contrariem a Constituição estadual (regra) ou a Constituição Federal (exceção), des-
de que a norma da Constituição Federal seja de reprodução obrigatória (RE n. 650.898, STF).
Voltando à questão, veja a importância de estarmos sempre atualizados. É que, datada do

início de 2018, versa sobre questão decidida no âmbito do STF em 2017.

Questão 2 (SEFIN-RO/AUDITOR/2018) Um grupo de deputados estaduais, sensível à rei-


vindicação dos servidores públicos, apresentou projeto de lei integrado por três artigos:
O Art. 1º, contendo inúmeros parágrafos e alíneas, estabeleceu regras detalhadas sobre o
regime disciplinar dos servidores públicos, tipificando infrações administrativas e cominando
sanções;
O Art. 2º vedou a realização de contratações de pessoal por todos os entes públicos, nas cir-
cunstâncias que descreveu, as quais caracterizavam a prática de nepotismo; e
O Art. 3º estatuiu que a remuneração dos servidores públicos estaduais deve ser revista,
a cada ano, conforme a variação da inflação do período.
A proposta foi aprovada e sancionada pelo Chefe do Poder Executivo, daí resultando a pro-
mulgação da Lei Estadual 123.

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À luz da sistemática estabelecida pela Constituição da República, é correto afirmar que o vício
de inconstitucionalidade recai
a) sobre todos os artigos.
b) apenas sobre os artigos 1º e 2º.
c) apenas sobre os artigos 1º e 3º.
d) apenas sobre o Art. 3º.
e) apenas sobre o Art. 2º.

Letra c.
Melhor analisar cada artigo separadamente.
O art. 1º é inconstitucional, por tratar de tema de iniciativa privativa do chefe do Executivo.
Nascendo o projeto de lei das mãos de parlamentares, o vício não é suprido pela sanção do
governador, que era o legitimado para deflagrar o processo legislativo.
Quanto ao art. 2º, não se verifica inconstitucionalidade. Ao contrário, a matéria se insere na
iniciativa geral, podendo qualquer parlamentar a apresentar. Ressalto que o tema já foi en-
frentado pelo STF, que inclusive editou a Súmula Vinculante n. 13, exatamente por considerar
que a prática de nepotismo viola princípios constitucionais, como é o caso da moralidade e
da impessoalidade.
Por fim, o STF proíbe que haja vinculação entre o reajuste da remuneração de servidores atre-
lado à variação da inflação. Logo, o art. 3º é inconstitucional.

Questão 3 (PREFEITURA DE SALVADOR/NÍVEL SUPERIOR/2017) Alice e Roberto, estudan-


tes de Direito, travaram intensos debates a respeito das características da Súmula Vinculante.
Alice defendia que qualquer litigante tinha legitimidade para propor a sua edição, acrescendo
que o seu surgimento exigia decisão tomada pela maioria absoluta dos membros do tribunal
competente. Roberto, por sua vez, sustentava que a súmula vinculante deveria ser seguida
pelos órgãos de todos os Poderes e a sua inobservância poderia ensejar o ajuizamento de
reclamação, endereçada diretamente ao tribunal competente.
Sobre a posição dos dois estudantes, à luz da sistemática constitucional, assinale a afirma-
tiva correta.

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Controle de Constitucionalidade
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a) Alice está totalmente correta e Roberto parcialmente correto.


b) Alice está totalmente incorreta e Roberto parcialmente correto.
c) Alice e Roberto estão totalmente incorretos.
d) Alice está parcialmente correta e Roberto totalmente incorreto.
e) Alice está parcialmente correta e Roberto totalmente correto.

Letra b.
A EC n. 45/2004 introduziu no ordenamento jurídico brasileiro a figura da súmula vinculante.
Ela se assemelha ao instituto do stare decisis, originário do Direito norte-americano.
Na Constituição, a matéria é tratada no art. 103-A. Também foi regulamentada pelo legislador,
com a edição da Lei n. 11.417/2006.
Seguindo, o STF poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de 2/3 de seus mem-
bros, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante
em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta,
nas esferas federal, estadual e municipal.
Vou decompor as informações que estão no parágrafo aí cima, ok?
Primeira coisa: a súmula pode ser proposta, revista ou cancelada, tanto pelo próprio STF
(agindo de ofício) quanto pelos legitimados para o ajuizamento da ação direta de inconstitu-
cionalidade (ADI), art. 103 da Constituição.
O rol de legitimados definido na Constituição foi ampliado pela Lei n. 11.417/2006, que intro-
duziu, por exemplo, os tribunais superiores e os de 2ª instância.
Outra coisa é a necessidade de delimitar quem será atingido pela súmula, ficando a ela vin-
culado.
Quanto ao Poder Judiciário, note que o texto constitucional fala em “demais órgãos”, o que
exclui da vinculação o próprio STF. Também pudera, porque o tribunal é o responsável por
rever ou cancelar a súmula, lembra?!
No Poder Executivo, a vinculação é, como se diz lá na Paraíba, de cabo a rabo. Em outras
palavras, alcança todas as esferas de governo (federal, estadual, distrital e municipal), sem
distinção entre administração direta ou indireta.
É no Poder Legislativo que sua atenção deve ser redobrada. Isso porque na função típica de
legislar não há vinculação!

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Com efeito, se a atividade legislativa ficasse vinculada haveria uma fragilização no sistema
dos freios e contrapesos. Então, nada impede que o legislador atue dentro de sua missão
constitucional, podendo, inclusive, editar normas contrárias ao texto da súmula vinculante.
Mas, atenção! Nas funções atípicas, o Legislativo deverá respeitar o comando da súmula, fi-
cando a ele vinculado. Quem um exemplo para você não se esquecer?
Pois bem. A Súmula Vinculante n. 13, que trata da proibição da prática popularmente chama-
da de nepotismo, vale também para o Legislativo. Isso se deve ao fato de a contratação de
pessoal estar inserida dentro da atividade de administrar, atípica para o Legislativo.
Aliás, essa ideia – de não vinculação do Legislativo na função típica de legislar – também vale
para as decisões no controle concentrado.
Outra coisa: suponhamos que uma súmula vinculante deixe de ser aplicada quando deveria
ou ainda seja aplicada quando não deveria. O que fazer nesse caso?
Nessa hipótese, abre-se a possibilidade de a parte usar a reclamação.
Mas, como você viu lá em meus comentários sobre a competência originária do STF (especi-
ficamente quanto à reclamação), o STF entende que a reclamação só é cabível quando a parte
tiver esgotado todos os recursos ordinários na causa em que proferido o ato supostamente
contrário à autoridade da súmula vinculante.
A orientação é para evitar que haja uma inversão na pirâmide do organograma do Judiciário,
com o STF chamando para si assuntos que seriam de competência de outras instâncias e dos
tribunais superiores (RCL n. 14.343, STF).
Tem mais: a reclamação não pode ser usada quando se alegar desrespeito a súmula do STF
que não seja vinculante (RCL n. 3.284, STF).
Voltando à questão, Alice está totalmente errada. Já Roberto está correto ao mencionar o
cabimento de reclamação. Quanto à extensão da vinculação, você viu que ele errou ao incluir
todos os Poderes, de modo indiscriminado.

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Questão 4 (TRT-12ª REGIÃO/TÉCNICO JUDICIÁRIO/2017) Décio, inconformado com deci-


são proferida, em instância recursal, pelo Tribunal Superior do Trabalho, a qual, no seu enten-
der, além de injusta, afrontava diretamente a ordem constitucional, solicitou ao seu advogado
que interpusesse o recurso cabível. O seu desejo era que a causa fosse examinada em outra
instância do Poder Judiciário.
O único recurso que poderia ajustar-se à narrativa acima, caso preenchidos os demais requi-
sitos exigidos pela ordem jurídica, é:
a) recurso extraordinário endereçado ao Supremo Tribunal Federal;
b) recurso especial endereçado ao Superior Tribunal de Justiça;
c) recurso ordinário endereçado ao Supremo Tribunal Federal;
d) recurso de revista endereçado ao Superior Tribunal de Justiça;
e) reclamação constitucional endereçada ao Conselho Nacional de Justiça.

Letra a.
O recurso principal do STF, em dúvidas, é o extraordinário (RE). Também por isso é muito mais
citado nas provas.
Segundo o art. 102, III, da Constituição, caberá ao STF julgar, em recurso extraordinário (RE),
as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida:
• contrariar dispositivo da Constituição Federal;
• declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
• julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição Federal;
• julgar válida lei local contestada em face de lei federal.
Os incisos I a III não geram muitas controvérsias, pois ou se fala na Constituição Federal (I
e III) ou se fala em declaração de inconstitucionalidade. Em outras palavras, você mataria a
questão com mais facilidade, até porque sabe que o STF é o guardião da Constituição e que
constantemente declara inconstitucionalidade das normas.
O problema maior está no inciso IV. Deixe-me explicar: até a EC n. 45/2004, cabia ao STJ, por
meio de recurso especial (RESP), julgar a validade de lei local contestada contra lei federal.

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E por qual razão a competência passou para o STF?


É que se uma lei estadual está em confronto com uma lei federal, a briga, na verdade, gira em
torno da repartição de competências, tema tratado a partir do art. 21 da Constituição (aquele
tema que você adora, sqn!).
Então, no fundo, uma das normas será declarada inconstitucional, por invadir competência
própria da outra.
Se isso não pareceu fácil para você, lembre-se de que o próprio Constituinte de 1988 errou,
colocando para o STJ julgar o recurso.
Ah, o STF entendeu que, com a promulgação da EC n. 45/2004, os processos em curso deve-
riam ser, desde logo, remetidos ao novo órgão competente.
Em razão disso, os recursos especiais que tratavam de lei local x lei federal passaram a ser
julgados pelo STF dentro do RE. Em contrapartida, as homologações de sentença estrangeira
e a concessão do exequatur (que saíram do STF e passaram a ser da competência do STJ)
foram encaminhadas do STF para o STJ.
Tem mais umas coisinhas... Na verdade, ao menos duas súmulas do STF que precisam ser
explicadas.
A regra é de que o RE deve ser interposto no prazo de 15 dias úteis, segundo o Código de
Processo Civil (CPC). Contudo, será de apenas três dias o prazo quando o RE se voltar contra
decisão do TSE, sendo que a contagem se inicia a partir da publicação do acórdão, na própria
sessão de julgamento (Súmula n. 728, STF).
Se o TJ deferir, por meio de acórdão (decisão colegiada), a intervenção do estado em um mu-
nicípio, a referida decisão não poderá ser questionada por meio de RE (Súmula n. 637, STF).
Isso em razão da autonomia do ente federado.
Voltando à questão, a resposta esperada está na letra a, pois o recurso se voltaria contra de-
cisão de Tribunal Superior que afrontou a Constituição Federal (art. 102, III, a).

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Questão 5 (TRT-12ª REGIÃO/ANALISTA JUDICIÁRIO/2017) Após regular processamento,


determinada Turma de Tribunal Regional do Trabalho, ao apreciar o recurso interposto pela
parte vencida, não visualizou vício de inconstitucionalidade na norma que embasava o pedido
do trabalhador, mantendo, com isso, a condenação imposta pela Vara do Trabalho justamente
com base na referida norma. Insatisfeito com o acórdão, o empregador sustentou a existência
de equívoco procedimental, já que não observada a regra do art. 97 da Constituição Federal de
1988 e a interpretação que lhe vem sendo dispensada pelo Supremo Tribunal Federal.
À luz da sistemática constitucional, é correto afirmar que o proceder da Turma, no que diz
respeito à análise da constitucionalidade da norma, está:
a) correto, pois o controle difuso de constitucionalidade é realizado por qualquer órgão juris-
dicional, que pode deixar de aplicar a norma inconstitucional;
b) incorreto, pois o controle difuso de constitucionalidade somente poderia ser realizado pe-
los juízes singulares, não pela Turma, que realiza o controle concentrado;
c) correto, pois a Turma não reconheceu o vício de inconstitucionalidade da norma, limitan-
do-se a aplicá-la ao caso concreto;
d) incorreto, pois a Turma, em respeito à reserva de plenário, não poderia realizar o controle
difuso de constitucionalidade, devendo submeter a matéria ao pleno;
e) correto, desde que o acórdão prolatado pela Turma tenha contado com o voto favorável de
dois terços dos respectivos membros.

Letra c.
Eu diria que a cláusula de reserva de plenário é, ao mesmo tempo, importantíssima para quem
se prepara para concursos públicos e pouco compreendida pelos candidatos!
Prevista no art. 97 da Constituição, é também chamada full bench (banco cheio).
Embora um juiz de primeira instância possa, isoladamente, declarar a inconstitucionalidade
de uma norma (controle difuso), nos tribunais a regra é diferente. Isso porque se prevê que
somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros (Plenário) ou dos membros do órgão

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especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo poder


público.
Vale lembrar que, em matéria de controle de constitucionalidade, o ordenamento brasileiro
adota um sistema misto, abrangendo o controle difuso – de origem norte-americana – e o
controle concentrado, sistema adotado na Europa.
O controle difuso de constitucionalidade pode ser feito por qualquer juiz ou tribunal do país,
enquanto o controle concentrado é realizado apenas pelo STF (guardião da Constituição Fe-
deral) e pelo TJ (guardião da Constituição estadual).
Quando o controle difuso é feito por um tribunal – ex.: STJ, TJ-DFT, TST – incidirá a regra
segundo a qual a norma somente será declarada inconstitucional se houver decisão nesse
sentido de maioria absoluta dos membros do tribunal ou de seu órgão especial, como visto
acima, este substitui o Plenário do tribunal.
Pensando no STJ para ilustrar, a inconstitucionalidade não poderá ser declarada por um mi-
nistro, pela Turma ou por uma Seção, ficando reservada à Corte Especial, uma vez que lá há o
órgão especial.
A razão da existência da referida cláusula é a seguinte: é certo que uma decisão proferida
por um juiz de determinada comarca é importante. No entanto, muito mais importante é uma
decisão proferida por um tribunal da envergadura do STJ, pois nesse último caso, todos os
tribunais inferiores indicarão o julgamento a título de orientação e exemplo.
Vale dizer, as decisões dos tribunais são mais importantes e, por isso, não podem ser toma-
das monocraticamente ou por um pequeno número de julgadores (órgão fracionário).
Esse tema, de difícil compreensão por grande parte dos estudantes, tem direta relação com a
Súmula Vinculante n. 10, que tem esta redação:

viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de
tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte.

Qual a razão de ser da Súmula Vinculante n. 10, professor?

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É o seguinte: muitas vezes, para fugir da exigência de submeter a questão relativa à inconsti-
tucionalidade ao Plenário – ou órgão especial –, os órgãos fracionários dos tribunais (turmas,
câmaras ou seções) dão um jeitinho: em vez de dizer que a norma é inconstitucional, deixam
de aplicá-la. No final das contas, só deixaram de aplicá-la por entender que era inconstitucio-
nal...
Por fim, cabe alertar que somente será necessário submeter a questão ao Plenário, ou ao
órgão especial, quando se entender que a norma é inconstitucional, pois todas as normas
nascem com presunção (relativa) de constitucionalidade.
Para se afirmar a constitucionalidade da norma não há necessidade de uma Turma mandar o
caso para o Plenário, pois estará confirmando a regra, “chovendo no molhado”.
Voltando à questão, repare que a Turma do tribunal “não visualizou vício de inconstituciona-
lidade na norma que embasava o pedido do trabalhador”.
Então, incide o finalzinho de minha explicação, sendo desnecessária a observância da cláu-
sula de reserva de plenário.

Questão 6 (TRT-12ª REGIÃO/ANALISTA JUDICIÁRIO/2017) Antônio, servidor público fede-


ral, após anos atuando em laboratório federal direcionado ao desenvolvimento de vacinas
contra doenças infectocontagiosas, requereu, à autoridade competente, a concessão de apo-
sentadoria especial por ter exercido sua atividade em condições que prejudicam a saúde.
O pedido de Antônio não foi sequer analisado, sendo indeferido de plano. O argumento utiliza-
do para embasar a decisão é o de que o art. 40, § 4º, III, da Constituição Federal de 1988, exige
que os requisitos e os critérios diferenciados para a concessão desse tipo de aposentadoria
devem ser definidos em lei complementar, que ainda não foi editada, informação esta que é
correta.
À luz da sistemática constitucional e da interpretação que lhe vem sendo dispensada pelo
Supremo Tribunal Federal, deve-se reconhecer que:
a) o entendimento da Administração Pública está correto, nada podendo ser feito por Antônio;
b) apesar de o entendimento da Administração Pública estar correto, Antônio pode ter o seu
pedido analisado impetrando mandado de injunção perante o Supremo Tribunal Federal;

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c) apesar de o entendimento da Administração Pública estar correto, Antônio pode ter o seu
pedido analisado impetrando mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal;
d) o entendimento da Administração Pública está incorreto, de modo que Antônio deve impe-
trar um habeas data perante o Supremo Tribunal Federal;
e) o entendimento da Administração Pública está incorreto, de modo que Antônio deve ajuizar
uma reclamação constitucional perante o Supremo Tribunal Federal.

Letra e.
Para responder bem à questão, o(a) candidato(a) precisava conhecer a Súmula Vinculante n.
33, que diz o seguinte:
Aplicam-se ao servidor público, no que couber, as regras do regime geral da previdência social
sobre aposentadoria especial de que trata o artigo 40, § 4º, inciso III da Constituição Federal,
até a edição de lei complementar específica.
Avançando, embora realmente não tenha sido editada a lei complementar determinada pelo
§ 4º do art. 40 da Constituição, o STF garantiu a aposentadoria especial aos servidores.
Assim, enquanto não vier a lei complementar específica aos servidores, podem usar as regras
da iniciativa privada. Logo, o direito pode ser usufruído.
Voltando à questão, como houve a negativa a um direito assegurado por meio de súmula vin-
culante, abre-se a possibilidade do uso da reclamação diretamente no STF. Em consequência.

Questão 7 (PREFEITURA DE CUIABÁ/AUDITOR-FISCAL/2016) Com o objetivo de assegurar


a plena execução de lei que veiculava matéria de natureza tributária, o Presidente da Repúbli-
ca expediu o respectivo regulamento.
Ocorre que esse ato normativo foi considerado pelo Congresso Nacional como exorbitante do
poder regulamentar, o que o levou a sustá-lo.
O Chefe do Poder Executivo, irresignado com o ocorrido, determinou que fossem adotadas
as providências necessárias à submissão do decreto legislativo, que sustou o regulamento,
ao controle concentrado de constitucionalidade exercido pelo Supremo Tribunal.
À luz dessa narrativa e da sistemática constitucional, é correto afirmar que esse decreto le-
gislativo

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a) não pode ser submetido ao referido controle, pois, ao aferir a compatibilidade do regula-
mento com a lei, sua essência enquadra-se no plano legal, não no constitucional.
b) pode ser submetido ao referido controle, a exemplo do que ocorre com todos os atos nor-
mativos, de natureza legal ou infralegal.
c) não pode ser submetido ao referido controle, pois não apresenta os atributos da generali-
dade e da abstração.
d) pode ser submetido ao referido controle, pois aufere o seu fundamento de validade na
Constituição e sua força normativa é negativa.
e) não pode ser submetido ao referido controle, pois somente os atos normativos estão su-
jeitos a ele.

Letra d.
O decreto legislativo mencionado no comando da questão foi expedido com base no art. 49,
V, que trata das competências exclusivas do Congresso Nacional.
Repare que a banca fala no uso do controle concentrado de constitucionalidade perante o
STF, o que atrai uma das seguintes ações: ADI, ADO, ADC, ADPF e ADI interventiva.
A principal delas, cabível na hipótese, é a ADI, ação direta de inconstitucionalidade. Vou falar
um pouquinho sobre ela.
A ação direta de inconstitucionalidade está prevista no art. 102, I, a, da Constituição, que prevê
o cabimento da ADI no STF para questionar lei ou ato normativo federal ou estadual frente a
Constituição Federal.
Pela leitura do dispositivo constitucional fica evidente que não cabe ao STF julgar ADI para
questionar lei municipal frente a Constituição Federal.
Isso num primeiro momento pode angustiar o(a) candidato(a), mas logo adianto que haverá
outras ferramentas no ordenamento jurídico. Há outros meios de retirar do sistema uma lei
municipal que esteja violando a Constituição.
Tema recorrente nas provas é o cabimento de ADI para leis distritais. Nesse ponto, é impor-
tante você se lembrar de que o DF acumula as competências legislativas, administrativas e
tributárias dos estados e dos municípios.
Em virtude disso, a CLDF elabora normas de natureza estadual e municipal.

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Considerando o não cabimento de ADI para questionar no STF normas municipais, o que
acontece é que somente as leis distritais de natureza estadual poderão ser questionadas no
STF por meio de ADI.
Não é por outra razão que o STF editou a Súmula n. 642, segundo a qual:

não cabe ação direta de inconstitucionalidade de lei do Distrito Federal derivada da sua
competência legislativa municipal.

Delimitada a natureza das normas que podem ser objeto de questionamento, passo ao ponto
seguinte: qual a abrangência da expressão “lei ou ato”?
Certamente, estão incluídos dentro desse conceito todos os atos primários previstos no art. 59
da Constituição. Em outras palavras, cabe ADI para questionar as emendas à Constituição,
as leis complementares, ordinárias e delegadas, as medidas provisórias, as resoluções e os
decretos legislativos.
Ainda dentro dos atos normativos primários, podemos citar os regimentos internos, as deli-
berações administrativas e as resoluções administrativas dos tribunais, desde que possuam
caráter normativo (STF, ADI 2.104). Também entram nesse rol as resoluções do CNJ e do
CNMP (ADC n. 12, STF), os decretos autônomos e os tratados internacionais.
Aliás, sobre a possibilidade de questionamento de tratados internacionais vale uma explica-
ção mais detalhada.
É que um tratado internacional pode se inserir na pirâmide de Kelsen em três situações dife-
rentes: se não versar sobre direitos humanos, terá hierarquia equivalente às leis, encaixando-
-se dentro dos atos normativos primários.
Ao contrário, tratando sobre direitos humanos, abrem-se duas possibilidades: na primeira,
passará pelo rito especial de aprovação (dois turnos, três quintos em cada Casa do Congres-
so Nacional), ocasião em que terá status de emenda à Constituição (que, embora seja ato
normativo primário, se insere no topo da pirâmide do ordenamento).
Na segunda, mesmo versando sobre direitos humanos, não passou pelo rito especial. Nes-
se caso, terá status de norma supralegal, ou seja, se situará acima das leis, mas abaixo da
Constituição.
Seja como for, repito: todos os tratados internacionais podem ser objeto de ADI no STF.

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Agora pense aí na seguinte situação: em determinado TJ, alguns servidores conseguiram, na


via administrativa ou na judicial, o direito a receber determinada gratificação. Então, outros
dois formulam requerimento administrativo ao Plenário do órgão, para também serem bene-
ficiados.
Ao julgar o pleito, o tribunal não só atende como resolve estender o mesmo benefício para
todos os servidores (que não pediram) que estivessem em situação idêntica.
Caberia ADI contra esse ato administrativo do tribunal (que estendeu a gratificação de forma
geral e abstrata)?
O STF entendeu que sim e cassou a decisão do TJ (ADI n. 3.202, STF).
Seguindo em frente, não vá cair em casca de banana: as súmulas, mesmo vinculantes, não
podem ser questionadas por meio da ADI.
Isso acontece porque não têm grau de normatividade necessário para ser objeto de controle
concentrado de constitucionalidade.
Em verdade, não caberá nenhuma ferramenta do controle concentrado para questionamento
das súmulas (ADI n. 594, STF).
Embora a afirmação possa causar certa perplexidade, é importante você se lembrar de que,
para as súmulas vinculantes, a Constituição prevê um procedimento específico de questio-
namento, que é o pedido de revisão ou de cancelamento. Pode ser feito pelos mesmos legi-
timados para ingressar com as ações de controle concentrado. Em português bem claro: “dá
no mesmo!”.
Sobre os decretos, cabe um alerta: caberá ADI para questionar os decretos legislativos (edita-
dos exclusivamente pelo Congresso Nacional) e os decretos autônomos, que foram inseridos
pela EC n. 32/2001 e estão previstos no art. 84, VI, da Constituição (ADI n. 2.950, STF).
Já os decretos regulamentares (regulamentam as leis), por serem atos normativos secundá-
rios, estarão sujeitos a controle de legalidade, e não de constitucionalidade (ADI n. 264, STF).
Voltando à questão, considerando que os decretos legislativos são atos normativos primários,
será cabível o uso da ADI no STF para questionar a sua constitucionalidade.

Questão 8 (TRT-12ª REGIÃO/ANALISTA JUDICIÁRIO/2017) Após ser cientificado do ajuiza-


mento de diversas ações judiciais em que se discutia a compatibilidade, com a Constituição
Federal de 1988, da Lei Municipal X, de 1987, o Prefeito Municipal solicitou que sua assessoria

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analisasse a possibilidade de algum legitimado vir a submetê-la ao controle concentrado de


constitucionalidade.
À luz da narrativa acima e da sistemática constitucional, uma vez preenchidos os demais re-
quisitos exigidos pela ordem jurídica, seria correta a utilização da:
a) arguição de descumprimento de preceito fundamental perante o Supremo Tribunal Federal;
b) suspensão de segurança perante o Tribunal de Justiça;
c) ação direta de inconstitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal;
d) declaração de não recepção perante o Tribunal de Justiça;
e) reclamação constitucional perante o Supremo Tribunal Federal.

Letra a.
Dentro do controle concentrado, há cinco ferramentas: a ADI, a ADO, a ADC, a ADPF e a ADI
interventiva.
Repare que o comando da questão falou que a prefeitura gostaria de submeter a questão,
por meio de algum legitimado, prefeito não está no rol de legitimados, no âmbito do controle
concentrado. Logo, só poderia ser usada uma das cinco ações aí de cima.
Prosseguindo, entre as cinco, a única que pode ser utilizada o questionamento de normas
editadas antes da Constituição em vigor é a ADPF, arguição de descumprimento de preceito
fundamental.
A explicação dada até aqui já é suficiente para indicar que a resposta esperada está na letra a.
Mas vou além, explicando um pouquinho da ADPF...
Primeira coisa: a ADPF foi introduzida no Direito brasileiro com a Constituição atual, sendo
tratada no art. 102, § 1º.
Mais: é regida por norma própria, a Lei n. 9.882/1999, e não pela Lei n. 9.868/1999, como a
ADI, a ADC e a ADO. Porém, não se engane: a Lei das ADIs terá grande influência, aplicando-se
subsidiariamente.
Vou tentar ser o mais prático possível, pois há algumas discussões teóricas que são pouco
cobradas em provas. Logo, não importam neste momento.
Vamos lá: partindo do texto constitucional, muito econômico, para variar, dispõe o § 1º do
art. 102 que a arguição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente da Constitui-
ção, será apreciada pelo STF, na forma da lei (dispositivo de eficácia limitada).

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Controle de Constitucionalidade
Aragonê Fernandes

A começar pelo nome, a ADPF é toda diferentona se comparada às ações até aqui estudadas.
Para começar, o que se entende por preceito fundamental? O que entraria dentro desse con-
ceito abstrato?
Brincando com o jargão das Organizações Tabajara (programa humorístico Casseta & Plane-
ta), seus problemas começaram!
Nem a Constituição nem a lei se preocuparam em delimitar o conceito de “preceito funda-
mental”. Na verdade, vem sendo moldado ao longo do tempo pela jurisprudência do STF.
Por exemplo, o tribunal já disse ser preceito fundamental o direito à vida (aborto de anen-
céfalo); o direito de reunião (Marcha da Maconha); o meio ambiente (importação de pneus
usados); e a autonomia da Defensoria Pública (julgamento envolvendo ato de governador de
Estado que indevidamente colocou a instituição dentro da estrutura da Secretaria de Justiça,
além de promover cortes no orçamento, mesmo tendo sido encaminhado dentro dos limites
da LDO).
Por outro lado, o STF excluiu do conceito de ato do poder público possível de ser analisado em
uma ADPF o veto presidencial, que seria um ato político (ADPF n. 1, STF).
Voltando à Lei n. 9.882/1999, ela previu duas espécies de ADPF, chamadas doutrinariamente
de autônoma (principal) e incidental.
A autônoma consta no caput do art. 1º da lei, e teria por objeto “evitar (preventivo) ou reparar
(posterior) lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público”.
Já a incidental vem no parágrafo único do art. 1º, cabendo “quando for relevante o fundamen-
to da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal,
incluídos os anteriores à Constituição”.
Como você pode notar pela simples leitura da lei, a ADPF é bem mais ampla do que as outras
ferramentas do controle concentrado, pois pode ser usada para questionar atos normativos
municipais e distritais de natureza municipal, o que não acontecia com a ADI (atos normati-
vos federais e estaduais) nem com a ADC (somente atos normativos federais).
Também pode verificar a compatibilidade dos atos normativos pré-constitucionais – ou seja,
editados antes de 5/10/1988 – com a Constituição atual. Todas as outras ferramentas do
controle concentrado só podem ser usadas para apreciar a compatibilidade de normas edita-
das a partir de 05/10/1988.
Isso tem bastante repercussão prática!

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Controle de Constitucionalidade
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Repare que o Código Penal é de 1940. Nele, há a tipificação do delito de aborto, existindo duas
hipóteses nas quais não se falaria em crime: perigo de morte para a mãe (aborto terapêutico)
ou gravidez decorrente de estupro (aborto sentimental).
Pois é, mas você sabe que o STF permitiu a interrupção da gestação quando se tratar de fetos
anencefálicos, não é mesmo? Criou-se mais uma descriminante, por meio de decisão judicial,
a partir de uma leitura da Constituição atual, especialmente a dignidade da pessoa humana.
Ora, se o CP é de 1940 – bem antes, portanto, da Constituição em vigor –, a decisão judicial só
pode ter sido tomada em uma ADPF. Isso, é claro, tratando-se de controle concentrado, pois
no difuso as normas pré-constitucionais também podem ser controladas.
Aliás, é importante chamar sua atenção para algo para lá de relevante: a ADPF pode apreciar
normas anteriores à Constituição, desde que essa análise seja feita frente a Constituição atu-
al.
Em outras palavras, a análise de norma anterior frente a uma Constituição anterior só seria
viável por meio do controle difuso, não havendo nenhuma ferramenta adequada no controle
concentrado.
Seguindo em frente, cabe ADPF contra decisões judiciais, salvo se elas tiverem transitado em
julgado.
Igualmente podem ser voltar contra atos normativos secundários (portarias, decretos regula-
mentares, instruções normativas etc.), o que não acontecia com as ADIs.
Certa vez eu estava em sala de aula e um ano me interrompeu quando eu explicava as hipó-
teses de cabimento da ADPF. Ele me perguntou assim: “professor, se a ADPF tem hipóteses
de cabimento bem mais amplas, para que existem as outras ações do controle concentrado?”
A pergunta dele fazia todo sentido! Afinal, a ADPF parecia resolver todos os seus problemas!
É aqui que entra o § 1º do art. 4º, segundo o qual não se admitirá ADPF quando houver qual-
quer outro meio eficaz de sanar a lesividade. Está aí o princípio da subsidiariedade.
Porém, não se engane: no ordenamento jurídico, sempre haverá algum meio capaz de sanar a
lesão. Pode ser, por exemplo, um mandado de segurança ou um recurso extraordinário. Então,
se você levar o princípio da subsidiariedade ao extremo, a ADPF iria para o brejo.

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Atento a isso, o STF entende que o cabimento da ADPF fica restrito àquelas hipóteses em que
não houver, no controle concentrado, outro meio capaz de sanar a lesão ao preceito funda-
mental (ADPF n. 77, STF).
Sendo ainda mais claro: para se ajuizar uma ADPF, não pode ser cabível ADI, ADO ou ADC.
Pensando nas possíveis confusões, o STF aceita a aplicação do princípio da fungibilidade
entre ADPF e ADI.
Traduzindo, se a parte ajuizar uma ADPF, a sua petição pode ser recebida como ADI se o
tribunal entender que esta (a ADI) era cabível. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a ADI
n. 4.277, que tratou do reconhecimento das uniões homoafetivas; foi ajuizada como ADPF,
recebendo o número 178.
Duas ponderações sobre a fungibilidade:
• não pode ser usada se houver erro grosseiro (ex.: claramente era cabível ADI, mas a
parte entrou com uma ADPF);
• é aceita de cá para lá e de lá para cá. Em outras palavras, uma ADI pode ser recebida
como ADPF e uma ADPF pode ser recebida como ADI.
Fique de olho, pois as bancas adoram explorar as hipóteses em que a ADPF não pode ser
ajuizada – algumas delas eu já adiantei aí em cima:
• contra vetos presidenciais (ADPF n. 1, STF);
• contra decisões judiciais transitadas em julgado – cabe contra decisões judiciais, mas
não se cobertas pelo manto da coisa julgada (ADPF n. 134, STF);
• em substituição aos embargos em execução (ADPF n. 83, STF);
• para questionar norma anterior a 05/10/1988 frente a Constituição da época, só cabe
se for frente a Constituição atual;
• contra normas originárias; e
• contra súmulas vinculantes (ADPF n. 177, STF).
Não tenho dúvida alguma de que a última hipótese é a mais cobrada nas provas! Contra as
súmulas, vinculantes ou não, não cabe ADPF ou quaisquer outras ações do controle concen-
trado.

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Especificamente quanto às súmulas vinculantes, o não cabimento é explicado pela existência


de procedimento próprio, qual seja, o pedido de revisão e de cancelamento da súmula.

Questão 9 (ALERJ/PROCURADOR/2017) Ednaldo, servidor da Assembleia Legislativa, im-


petrou mandado de segurança contra ato intitulado de ilegal e abusivo praticado pelo res-
pectivo Presidente. A 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça, competente para o caso, por
ocasião do julgamento, negou-se expressamente a aplicar a lei federal que daria respaldo ao
ato praticado, entendendo que a sua aplicação ao caso concreto ensejaria a prolação de uma
decisão injusta. Com base nesse entendimento, declarou a nulidade do ato.
Ao tomar ciência do respectivo acórdão, o Procurador da Assembleia Legislativa realizou am-
pla pesquisa sobre os distintos aspectos jurídicos envolvidos e alcançou, dentre as conclu-
sões que idealizara, a única que se mostrava adequada ao caso.
Nesse sentido, é correto afirmar que o acórdão proferido pode vir a ser cassado em sede de:
a) recurso ordinário endereçado ao Superior Tribunal de Justiça;
b) mandado de segurança impetrado perante o Superior Tribunal de Justiça;
c) procedimento de controle instaurado no âmbito do Tribunal de Justiça;
d) recurso extraordinário endereçado ao Supremo Tribunal Federal;
e) reclamação endereçada ao Supremo Tribunal Federal.

Letra e.
O assunto é chatinho e a questão é bem difícil, mas espero que você compreenda.
Vamos lá! Está em jogo uma violação à Súmula Vinculante n. 10, que dispõe o seguinte:

viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de
tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte.

Qual a razão de ser da Súmula Vinculante n. 10?

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É o seguinte: no controle difuso de constitucionalidade, todos os juízes e tribunais do país


podem declarar a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo.
O problema é que nos tribunais (repare que a questão remete a um TJ) a inconstitucionalidade
só pode ser proferida pelo Plenário ou por um órgão especial, se houver. Em outras palavras,
os órgãos fracionários – turmas, câmaras ou seções – não podem fazer isso.
O correto seria o órgão fracionário submeter a questão relativa à inconstitucionalidade ao
Plenário do Tribunal (ou ao órgão especial, se houver). O detalhe é que esse procedimento é
um pouco lento e trabalhoso.
É daí que surgem as tentativas de fugir da chamada cláusula de reserva de plenário, prevista
no art. 97 da Constituição.
Funciona assim: para escapar da exigência de submeter a questão relativa à inconstitucio-
nalidade ao Plenário – ou órgão especial –, os órgãos fracionários dos tribunais (turmas,
câmaras ou seções) dão um jeitinho: em vez de dizer que a norma é inconstitucional, eles
deixam de aplicá-la. No final das contas, só deixaram de aplicá-la por entender que era in-
constitucional...
Entra em cena, então, a Súmula Vinculante n. 10, para dizer que viola a cláusula de reserva de
plenário a decisão de órgão fracionário que, sem declarar a inconstitucionalidade da norma,
afasta a sua aplicação no caso concreto.
Sendo descumprida uma súmula vinculante, a parte pode se dirigir diretamente ao STF, valen-
do-se da ferramenta chamada reclamação. A ideia dessa reclamação é exatamente preservar
a competência e a autoridade das decisões do STF.

Questão 10 (ALERJ/PROCURADOR/2017) O Presidente da Assembleia Legislativa foi insta-


do a apresentar informações em representação por inconstitucionalidade, ajuizada perante o
Tribunal de Justiça, na qual um dos legitimados ao controle concentrado de constitucionali-
dade pedia a declaração de inconstitucionalidade do inteiro teor da Lei Estadual Y, promulga-
da no dia anterior.
O Procurador da Assembleia Legislativa foi consultado sobre o caso e, após a leitura da pe-
tição inicial, constatou que foram utilizados, como paradigmas de confronto, três normas
da respectiva Constituição Estadual: o art. 10 era repetição literal de artigo secundário da

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Constituição da República, que todos entendiam não ser norma de reprodução obrigatória
pelas Constituições Estaduais; o art. 11 dispunha que “devem ser observadas as normas da
Constituição da República” a respeito da temática nele versada; e o art. 12 era repetição literal
de norma de reprodução obrigatória da Constituição da República.
À luz da sistemática vigente, é correto afirmar, em relação às normas da Constituição Esta-
dual, que:
a) todas poderiam ser utilizadas como paradigma de confronto;
b) somente o art. 10 poderia ser utilizado como paradigma de confronto;
c) somente os arts. 11 e 12 poderiam ser utilizados como paradigma de confronto;
d) somente os arts. 10 e 12 poderiam ser utilizados como paradigma de confronto;
e) nenhuma delas poderia ser utilizada como paradigma de confronto.

Letra a.
Repare que se questiona perante o TJ lei estadual, utilizando-se da representação de incons-
titucionalidade.
Está em discussão o controle de constitucionalidade formulado pelo Tribunal de Justiça, ten-
do como fundamento possível violação da Constituição estadual.
Sobre o tema, é importante fazer algumas ponderações. Vamos a elas.
Em sala de aula, geralmente quando pergunto quem pode fazer o controle concentrado de
constitucionalidade, ouço a resposta: “apenas o STF”.
Cuidado com essa afirmação, pois é apenas parcialmente verdadeira. Deixe-me explicar me-
lhor...
É que no âmbito federal, realmente a missão de fazer o controle concentrado cabe somente ao
STF, guardião da Constituição Federal. Para isso, o tribunal se vale de cinco ferramentas: ADI,
ADO, ADC, ADPF e ADI interventiva.
Contudo, o art. 125 da Constituição autoriza que os estados também façam controle con-
centrado. Lá se fala em representação de inconstitucionalidade. Cá para nós, melhor usar a
expressão “ADI estadual”.
Avançando, no controle concentrado estadual será analisada apenas a compatibilidade de
atos normativos municipais e estaduais perante a Constituição estadual.

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Dentro da expressão “atos normativos” leiam-se emendas à CE, lei orgânica municipal, leis
ordinárias, complementares e delegadas, medidas provisórias editadas pelo governador ou
por prefeitos, decretos legislativos e resoluções da Assembleia ou das Câmaras Municipais,
resoluções do TJ etc.
Repare que na ADI estadual, o TJ não fará o controle da legislação federal frente a Constitui-
ção estadual. Fique atento(a), pois nessa situação (atos normativos federais x Constituição
estadual) só caberá discussão judicial por meio do controle difuso.
De igual modo, não caberá ao TJ julgar ADI quando se falar em lei municipal violando a Lei
Orgânica Municipal, pois, nessa situação, estaremos diante de controle de legalidade, e não
de constitucionalidade.
Voltando à questão, repare que a lei estadual teria violado três artigos da Constituição esta-
dual.
Em consequência, seria plenamente cabível o uso da ADI estadual.
As informações adicionais colocadas, dizendo se os dispositivos da CE seriam, ou não, nor-
mas de reprodução obrigatória na CF somente seriam importantes para nós discutirmos o
fenômeno da simultaneidade de ações, tema para ser comentado em outra questão.

Questão 11 (TRT-12ª REGIÃO/ANALISTA JUDICIÁRIO/2017) O Ministro do Trabalho e Em-


prego, no exercício de competência que lhe foi delegada, fez publicar no Diário Oficial da União
portaria nomeando sua filha para exercer o cargo em comissão de chefe de gabinete do Mi-
nistério de que é titular.
Para combater o ato ilegal praticado, cabe ao legitimado ajuizar:
a) ação civil pública por ato de improbidade administrativa originariamente no Supremo Tri-
bunal Federal, por violação ao princípio da moralidade;
b) mandado de segurança no Tribunal Superior do Trabalho, porque o ato de nepotismo viola
princípios da Administração Pública;
c) mandado de injunção na Justiça Federal de primeiro grau, por ofensa à verbete de súmula
do Supremo Tribunal Federal que veda o nepotismo;
d) ação popular originariamente no Superior Tribunal de Justiça, por violação ao princípio da
impessoalidade;

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e) reclamação no Supremo Tribunal Federal, por violação à súmula vinculante que veda o
nepotismo.

Letra e.
Novamente seria necessário conhecer as súmulas vinculantes (leitura obrigatória) para res-
ponder à questão.
É que a nomeação feita pelo ministro do Trabalho caracteriza a prática de nepotismo, conduta
proibida pelo STF. A orientação do tribunal aparece na Súmula Vinculante n. 13. Veja:

A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afini-


dade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma
pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercí-
cio de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na adminis-
tração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Dis-
trito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas,
viola a Constituição Federal.

Logo, para combater o ato de nomeação deve ser utilizada a reclamação junto ao STF, alegan-
do-se o descumprimento à orientação prevista em SV.

Questão 12 (ALERJ/PROCURADOR/2017) Projeto de lei de iniciativa do Legislativo estadual


pretende instituir programa de bolsa de estudos para alunos carentes da rede estadual de
ensino de segundo grau. O governador o vetou, mas a Assembleia Legislativa derrubou o veto
e promulgou a lei. A Representação de Inconstitucionalidade que o governador pretende sub-
meter ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça estadual deverá:
a) arguir vício material, porque a aplicação da lei gerará aumento de despesa;
b) suscitar ser a lei inoportuna em face da crise financeira do Estado;
c) apontar vício material, porque a aplicação da lei demandará reforma na estrutura adminis-
trativa do Estado;
d) cumular vício formal, por se tratar de matéria da iniciativa privativa do Poder Executivo,
com vício material, consistente no deslocamento de equipamentos escolares;

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e) limitar-se a arguir o vício formal de usurpação da competência privativa do Poder Execu-


tivo.

Letra e.
Repare que a lei estadual nasceu de iniciativa do “Legislativo estadual”, ou seja, foi proposta
por algum deputado estadual. Versava sobre bolsas de estudos para alunos da rede estadual
de ensino.
Nesses casos, o correto seria a norma ter partido da iniciativa do Poder Executivo, pois reper-
cute em tema sujeito ao “guarda-chuvas” da Secretaria de Educação, subordinada ao Execu-
tivo.
Assim, por melhores que sejam as intenções, haveria vício de iniciativa, não suprível por meio
da sanção ou pela derrubada de veto.
Usando outro exemplo (caso concreto, já julgado), o STF declarou a inconstitucionalidade de
lei estadual, de iniciativa parlamentar, que determinava à Secretaria de Educação o forneci-
mento, aos estudantes, de jornais e revistas três vezes por semana.
Repare que a ação era nobre, pois visava que os estudantes crescessem mais cientes dos
acontecimentos, formando-se cidadãos melhores. Contudo, havia vício incontornável de ini-
ciativa também nesse caso.

Questão 13 (TJ-PI/ANALISTA JUDICIÁRIO/2015) A respeito do modo como o sistema brasi-


leiro disciplina as espécies de controle de constitucionalidade, mais especificamente em suas
feições difusa ou concreta, é correto afirmar que as leis anteriores à Constituição:
a) podem ser impugnadas via arguição de descumprimento de preceito fundamental;
b) não estão sujeitas ao controle concentrado de constitucionalidade;
c) somente podem ser impugnadas por meio do controle difuso de constitucionalidade;
d) não podem ser submetidas ao controle difuso de constitucionalidade;
e) podem ser objeto de ação declaratória de constitucionalidade.

Letra a.

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O controle jurisdicional de constitucionalidade pode ser feito a partir de dois sistemas, o di-
fuso, originado nos Estados Unidos da América, e o concentrado, nascido no continente eu-
ropeu.
Para facilitar a visualização das características centrais de cada um desses sistemas e dos
pontos que os diferencia, utilizarei o seguinte quadro esquemático:

QUADRO COMPARATIVO ENTRE SISTEMA DIFUSO E CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE


CONTROLE DIFUSO CONTROLE CONCENTRADO
Modelo norte-americano. Modelo austríaco-alemão.
Surgido a partir do caso Marbury vs Madison. Idealizado por Hans Kelsen.
Controle incidental (incidenter tantum). Controle principal.
Via de exceção ou de defesa. Via de ação.
Inconstitucionalidade da norma é a razão de pedir,
Inconstitucionalidade da norma é o pedido.
e não o pedido.
No Brasil, adotado de forma mais robusta a partir da
EC n. 16/1965 – ADI, a ser proposta, perante o STF,
No Brasil, adotado desde a Constituição de 1891. exclusivamente pelo PGR.
No entanto, na Constituição de 1934 já havia a previ-
são da ADI Interventiva.
A CF/1988 especificou as seguintes inovações:
– ampliação dos legitimados para a ADI (antes era
só o PGR);
– criação do controle das omissões constitucionais
A Constituição atual manteve a previsão de controle (ADO);
difuso. – previsão da ADPF.
A ADC só foi introduzida pela EC n. 3/1993.
A EC n. 45/2004 inseriu o governador do DF e a CLDF
como legitimados e equiparou os legitimados da ADI,
ADO, ADC e ADPF.

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QUADRO COMPARATIVO ENTRE SISTEMA DIFUSO E CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE


CONTROLE DIFUSO CONTROLE CONCENTRADO
A inconstitucionalidade só pode ser arguida por
meio de cinco ferramentas (cabem nos dedos de
minha mão):
A inconstitucionalidade pode ser arguida em qualquer
– ação direta de inconstitucionalidade (ADI);
tipo de ação (ações ordinárias, trabalhistas, cíveis,
– ação declaratória de constitucionalidade (ADC);
penais, ações civis públicas), por meio de recursos
– ação direta de inconstitucionalidade por omissão
ou remédios constitucionais (HC, MS, MI, HD e ação
(ADO);
popular).
– arguição por descumprimento a preceito funda-
mental (ADPF); e
– representação interventiva (ADI interventiva).
No plano federal, a ADI, ADO, ADC e ADPF somente
podem ser ajuizadas por nove legitimados, previstos
no art. 103 da Constituição: presidente da República;
Mesas da Câmara dos Deputados ou do Senado;
PGR; governadores dos Estados e do DF; Mesa das
Pode ser utilizado por qualquer pessoa, no bojo do
Assembleias ou da Câmara Legislativa; partidos polí-
processo.
ticos com representação no Congresso; Conselho
Federal da OAB; e confederação sindical ou entidade
de classe de âmbito nacional.
Já a ADI interventiva possui apenas um legitimado,
que é o PGR.
Na origem, adoção da teoria da nulidade. Na origem, adota a teoria da anulabilidade.
No Brasil, ambos seguem a teoria da nulidade, com No Brasil, ambos seguem a teoria da nulidade, com
a declaração de inconstitucionalidade operando, em a declaração de inconstitucionalidade operando, em
regra, efeitos retroativos. regra, efeitos retroativos.
Pode ser feito por qualquer juízo ou Tribunal do país, Só pode ser feito pelo STF (guardião da CF) e pelos
inclusive o STF. TJs (guardião da CE ou da LODF).
Em regra, a decisão produz efeitos inter partes (entre
Decisão produz efeitos erga omnes (todo mundo).
as partes).
Ao declarar a inconstitucionalidade, o Plenário STF
deve comunicar ao Senado, para dar publicidade à
Ao declarar a inconstitucionalidade, o STF não pre-
decisão do tribunal, que, mesmo sendo tomada em
cisa comunicar ao Senado, uma vez que a decisão já
controle difuso, terá eficácia vinculante contra todos,
é dotada de efeitos erga omnes.
como adiante se verá (art. 52, X, da Constituição,
após mutação constitucional).
Ao proferir a decisão, o julgador pode fazer modula- Ao proferir decisão, julgador pode fazer modulação
ção temporal de efeitos. temporal de efeitos.
Cabe a participação de amicus curiae. Cabe a participação de amicus curiae.

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QUADRO COMPARATIVO ENTRE SISTEMA DIFUSO E CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE


CONTROLE DIFUSO CONTROLE CONCENTRADO
É possível a realização de audiências públicas. É possível a realização de audiências públicas.

Repare que se falou na análise de leis anteriores à Constituição. Logo, dentro do controle con-
centrado de constitucionalidade, a única ferramenta adequada é a ADPF. Isso torna correta a
letra a.
De todo modo, vamos apontar o erro das demais alternativas.
O erro das letras b, c e d é que as leis anteriores podem ser submetidas a controle tanto em
controle concentrado (apenas via ADPF) quanto em controle difuso.
Por outro lado, a ADC, a ADI e a ADO só se prestam para o questionamento de normas edita-
das após a Constituição de 1988.

Questão 14 (ALERJ/PROCURADOR/2017) A Associação dos Delegados de Polícia do Brasil


propôs ação direta de inconstitucionalidade ao Supremo Tribunal Federal, com o fim de arguir
a inconstitucionalidade de uma lei estadual que autorizava a aplicação da penalidade de sus-
pensão preventiva a servidores da polícia civil, assim que recebida a denúncia pelo Ministério
Público pela prática de crimes, ao argumento principal de que tal suspensão viola as garan-
tias constitucionais do direito à ampla defesa e ao contraditório, cuja preservação também
incumbe à Associação.
Em defesa da constitucionalidade da aludida lei, foi suscitada a ilegitimidade ativa da Asso-
ciação, preliminar que o STF:
a) recusou, porque há pertinência temática entre o objeto da causa e as finalidades da Asso-
ciação;
b) acolheu, porque a aplicação de penas criminais é matéria alheia aos objetivos associativos;
c) acolheu, porque a legitimidade ativa não se caracteriza se inexiste correlação entre o pedi-
do declaratório e os interesses sociais, culturais e econômicos da entidade associativa;
d) recusou, porque o pleito de revisão de penalidades administrativas consta dos estatutos
da Associação;

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e) acolheu, porque os estatutos da Associação não distinguem entre penalidade administra-


tiva e sanção penal.

Letra a.
A partir da EC n. 45/2004, houve uma unificação nos legitimados para o ajuizamento de qua-
tro das cinco ações de controle concentrado.
Desde então, tanto a ADI, quanto a ADO, a ADC e a ADPF podem ser ajuizadas pelos legitima-
dos do art. 103 da Constituição. Veja o rol:

I – Presidente da República;
II – Mesa do Senado Federal;
III – Mesa da Câmara dos Deputados;
IV – Procurador-Geral da República – PGR;
V – Governador de Estado ou do DF;
VI – Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do DF;
VII – Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VIII – Partido político com representação no Congresso Nacional; e
IX – Confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

Eu tenho certeza de que você notou que três dos nove legitimados foram propositalmente
colocados em cor diferente dos demais. Também não tenho dúvidas de que reparou no des-
taque feito aos dois últimos, não é mesmo?
Vamos às explicações e a algumas observações necessárias!
Os governadores dos estados/DF, as mesas das Assembleias Legislativas ou da CLDF e as
confederações sindicais e entidades de classe de âmbito nacional são chamadas de legiti-
mados especiais.
Isso significa que ao ajuizar uma ADI eles precisam demonstrar o seu efetivo interesse na
declaração de inconstitucionalidade daquela norma. Esse interesse é chamado de pertinência
temática (ADI n. 1.519, STF).
Quer entender melhor? Vamos a dois exemplos.

Primeiro exemplo: o estado de Goiás concedeu aumento na remuneração dos policiais mili-
tares daquela unidade federada. Contrariado, o governador do DF ingressa com ADI junto ao
STF questionando a lei editada pelo estado vizinho.

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Pergunto: qual o interesse do governador do DF nessa ADI? Ainda que essa norma seja decla-
rada inconstitucional, o que ele ganharia com isso, considerando que é Goiás quem organiza
e mantém aquela corporação.
Perceba que nesse caso não foi demonstrada a pertinência temática.

Segundo exemplo: o estado de Goiás aprova uma lei prevendo que as mercadorias provenien-
tes de toda a região Centro-Oeste serão tributadas em 10% a título de ICMS. Nessa mesma
norma consta que apenas as mercadorias que venham do DF sofrerão tributação de 15%
de ICMS.
Pergunto: há interesse do DF na declaração de inconstitucionalidade da lei goiana? Seria viá-
vel o ajuizamento da ADI por parte do governador do DF?
Entendo que, nesse caso, está comprovada a pertinência temática, uma vez que o DF foi dire-
tamente atingido pela legislação goiana, sendo prejudicado.
Já os outros legitimados são chamados de universais ou neutros e podem ingressar com
as ações de controle concentrado sem a necessidade de demonstração de interesse, que no
caso é presumido.
Avançando, a maior parte dos legitimados acima listados não precisa estar representada por
advogados, pois eles possuem capacidade processual plena.
A dispensa não é aplicável aos partidos políticos e às confederações sindicais e entidades de
classe (incisos VIII e IX do rol do art. 103), que deverão anexar o instrumento de procuração
quando do ajuizamento da ação. Aliás, a procuração deve conferir poderes específicos, deta-
lhando qual a lei a ser questionada e por qual motivo (ADI n. 127, STF).
Quanto aos partidos políticos, de um lado, lembro que a legenda não precisa possuir repre-
sentantes na Câmara e no Senado, bastando que tenham em qualquer das Casas.
De outro lado, mesmo que perca a representação no Congresso Nacional no curso da ADI
o processo pode prosseguir, dada a natureza objetiva da ação. Em outras palavras, a perda
superveniente da representação não impede a continuidade do processo (ADI n. 2.618, STF).
E mais: quem possui legitimidade para ingressar com as ações do controle concentrado pe-
rante o STF é o Diretório Nacional, o que não se estende aos Diretórios Regionais ou a Execu-
tiva Regional (ADI n. 1.528, STF).

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Em relação aos governadores, é importante frisar que o próprio Estado ou o procurador-geral


do Estado não podem interpor recursos dentro do controle concentrado. A legitimidade seria
apenas do ocupante da Chefia do Executivo (ADI n. 2.130, STF).
Por outro lado, referente aos Conselhos de Fiscalização Profissional (ex.: Conselho Federal de
Medicina, de Odontologia, de Arquitetura), eles não se encaixam na expressão “entidade de
classe de âmbito nacional”, não possuindo legitimidade. Aliás, o único Conselho Federal que
tem legitimidade é o da OAB (ADPF n. 264, STF).
Ponto recorrente nas provas, fazendo com que você fique mais atento(a): quanto às entidades
sindicais, as únicas legitimadas são as confederações sindicais, entes de 3º grau na estrutura
tradicional.
Desse modo, centrais sindicais (ex.: CUT, Força Sindical), sindicatos e federações, mesmo de
abrangência nacional, não podem ajuizar as ações do controle concentrado perante o STF
(ADI n. 4.224, STF).
Prosseguindo, no tocante às “associações de associações”, o STF passou a reconhecer a sua
legitimidade para o ajuizamento das ações de controle concentrado (ADI n. 3.153, STF).
Um detalhe: a Mesa do Congresso Nacional não pode ajuizar as ações de controle concentra-
do, visto que essa legitimidade é conferida apenas às mesas da Câmara e do Senado, órgãos
diversos.
Tem mais: a EC n. 45/2004 incluiu expressamente o governador e a Mesa da Câmara Legislati-
va do DF como legitimados para o ingresso das ações de controle principal. Antes só se falava
em governadores dos Estados e Mesa das Assembleias Legislativas. De todo modo, mesmo
antes dessa emenda o STF já reconhecia a legitimidade de tais entes (ADI n. 645, STF).
Outra coisa: não é cabível a oposição de embargos de declaração por outra pessoa que não
aquela que tenha ajuizado a ação principal.
Exemplificando, suponha a situação na qual o PGR ingresse com uma ADI e que, contra a
decisão, sejam opostos embargos de declaração pelo Conselho Federal da OAB. Nesse caso,
o STF tem negado o conhecimento do recurso (ADI n. 1.105, STF).
Pronto! Já esmiucei os pontos mais importantes sobre os legitimados para as ações do con-
trole concentrado.
É hora de voltarmos para a questão, ok?

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Note que se falou na Associação dos Delegados de Polícia do Brasil, que se enquadra dentro
do conceito “associação de associações”, sendo legitimada.
Avançando, trata-se de legitimado especial, que precisa demonstrar seu interesse no caso
(pertinência temática).
Analisando-se a lei que se buscava questionar, não há dúvidas de que existe o interesse,
o que indica que a preliminar deve ser rejeitada.

Questão 15 (ALERJ/PROCURADOR/2017) Determinado Município não vinha cumprindo as


decisões proferidas pela Justiça Estadual, daí resultando grande insatisfação dos titulares
dos direitos aviltados. Em razão desses fatos, um dos interessados solicitou ao Tribunal de
Justiça que desse provimento à representação para assegurar a execução de decisão judicial.
Essa representação foi provida, tendo o interessado interposto recurso extraordinário para
que o Supremo Tribunal Federal reapreciasse o caso.
À luz dessa narrativa e da sistemática constitucional, é correto afirmar que:
a) somente o Ministério Público poderia ingressar com a representação, não um dos interes-
sados no cumprimento da decisão judicial;
b) não seria cabível a interposição de recurso extraordinário, dado o caráter político-adminis-
trativo do processo de intervenção instaurado perante o Poder Judiciário;
c) o Tribunal de Justiça não tem imparcialidade para apreciar o descumprimento de suas pró-
prias decisões, o que atrairia a competência do Supremo Tribunal Federal;
d) a interposição de recurso extraordinário exigiria o prequestionamento explícito de matéria
constitucional na representação interventiva;
e) para que um interessado ajuizasse representação interventiva, seria necessária a autori-
zação expressa dos demais titulares dos direitos, o que não é exigido do Ministério Público.

Letra b.
Sobre a intervenção no âmbito estadual, fique esperto(a) para um ponto bastante cobrado
nas provas: é que não caberá recurso extraordinário para o STF contra acórdão de Tribunal de
Justiça que defere pedido de intervenção estadual em município (Súmula n. 637, STF).
Isso acontece porque a decisão do TJ possui natureza político-administrativa, e não pura-
mente jurisdicional.

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Contudo, a orientação da Súmula n. 637, vista logo aí em cima, não se aplica quando a inter-
venção decorre do provimento de ADI interventiva.
Em outras palavras, a intervenção pode ser gerada por vários motivos, sendo de decretação
espontânea ou provocada. Quando decorrer do provimento de ADI interventiva, o TJ requisi-
tará ao governador (Executivo deve atender) a decretação da intervenção. Nesse cenário, será
cabível o RE.
Voltando ao comando da questão, repare que não se falou em ADI interventiva, certo? Logo,
aplica-se a regra geral, prevista na Súmula n. 637 do STF. Assim, não será cabível a interpo-
sição do RE.

Questão 16 (COMPESA/ADVOGADO/2016) Determinada Constituição Estadual veiculou três


disposições a respeito da Administração Pública Indireta, com o propósito declarado de au-
mentar o controle a respeito da aptidão dos respectivos dirigentes e das atividades desenvol-
vidas em prol do interesse público.
O Art. 101 dispôs que os presidentes de todos os entes da Administração Pública Indireta,
a serem nomeados pelo Chefe do Poder Executivo, deveriam ser aprovados pela Assembleia
Legislativa.
O Art. 102 dispôs que referidos presidentes poderiam ser convocados, pelas comissões par-
lamentares, a prestar esclarecimentos a respeito das atividades desenvolvidas pelo respec-
tivo ente.
Por fim, o Art. 103 previu que o Governador do Estado poderia ser convocado a prestar escla-
recimentos, perante o plenário da Assembleia Legislativa, a respeito dos entes da Administra-
ção Pública Indireta incumbidos da prestação de serviços públicos.
À luz da sistemática estabelecida pela Constituição da República Federativa do Brasil, é cor-
reto afirmar que
a) somente o Art. 102 é constitucional.
b) todos os artigos são inconstitucionais.
c) somente os artigos 101 e 102 são inconstitucionais.
d) todos os artigos são constitucionais.
e) somente o Art. 103 é inconstitucional.

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Letra a.
O art. 101 é inconstitucional, por violar a separação de Poderes e a simetria com o modelo
federal.
Isso porque cabe ao chefe do Executivo indicar os dirigentes das entidades da administração
indireta na esfera estadual, não sendo necessária a sabatina do Legislativo.
A exceção fica por conta dos dirigentes das autarquias, pois, nesse caso, a Constituição Fe-
deral prevê a sabatina do Senado Federal em relação aos dirigentes do Banco Central ou das
agências reguladoras.
Também por violação à separação dos Poderes, não pode uma CPI convocar os chefes do
Executivo ou magistrados, com a finalidade de darem explicações sobre o conteúdo de suas
decisões. Assim, inconstitucional o art. 103.
Avançando, nada impede que haja a convocação dos secretários de Estado os dos dirigentes
das entidades da administração indireta, o que indica a constitucionalidade do art. 102.

Questão 17 (COMPESA/ADVOGADO/2016) Determinado administrador público solicitou à


sua assessoria que elaborasse um edital para a realização de concurso público com o obje-
tivo de prover os cargos que estavam vagos. Ao receber a minuta do edital, o administrador
teve dúvidas em relação ao teor de três cláusulas que não estavam previstas em lei.
De acordo com a primeira, somente os candidatos aprovados no exame psicotécnico pode-
riam ser nomeados para os cargos; a segunda fixou um limite máximo de idade para o acesso
aos cargos, o qual se mostrava nitidamente razoável; e a terceira dispôs que os cargos não
providos por intermédio do concurso seriam oferecidos a servidores de outras carreiras da
Administração Pública e providos por meio de transposição funcional.
À luz da sistemática estabelecida pela Constituição da República Federativa do Brasil e da
interpretação que lhe vem sendo dispensada pelo Supremo Tribunal Federal, é correto afir-
mar que

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a) as três cláusulas são constitucionais.


b) somente a primeira e a segunda cláusulas são constitucionais.
c) as três cláusulas são inconstitucionais.
d) somente a terceira cláusula é constitucional.
e) somente a segunda cláusula é inconstitucional.

Letra c.
Vou analisar as cláusulas em separado, ok? De antemão, destaco a necessidade de os candi-
datos atentarem para as súmulas, especialmente vinculantes.
Vamos lá!
A 1ª cláusula é inconstitucional. Isso porque a Súmula Vinculante n. 44 define que só por lei
se pode exigir a realização do exame psicotécnico. Assim, não bastaria a previsão em edital.
Pelas mesmas razões, a 2ª cláusula é inconstitucional. A Súmula n. 683 do STF permite que
haja a limitação de idade em um concurso público, se a restrição for justificada na natureza
do cargo. É o que acontece, por exemplo, nas carreiras militares. O problema é que essa exi-
gência precisa estar prevista em lei, inexistente no caso.
Por sua vez, a Súmula Vinculante n. 43 prevê ser inconstitucional toda modalidade de provi-
mento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público desti-
nado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido.
Também inconstitucional a 3ª cláusula.
Dito isso, volto à questão. A resposta esperada está na letra c, pois todas as cláusulas são
inconstitucionais.

Questão 18 (TCM-SP/DIREITO/2015) Determinado Prefeito Municipal foi cientificado de que


a Câmara dos Vereadores aprovou reforma da lei orgânica municipal que, no seu entender, era
inconstitucional. Ato contínuo, procurou sua assessoria jurídica e solicitou a elaboração de
estudo sobre o controle concentrado de constitucionalidade das leis municipais utilizando-se
como paradigma de confronto a Constituição Estadual.
A esse respeito, é correto afirmar que:

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a) os legitimados à deflagração do controle de constitucionalidade, perante o Tribunal de


Justiça, devem ser os mesmos previstos para realizar esse tipo de controle perante o Supre-
mo Tribunal Federal;
b) as normas de reprodução obrigatória, que só reproduzem comandos da Constituição da
República, não podem ser utilizadas como paradigma de confronto no controle de constitu-
cionalidade realizado pelo Tribunal de Justiça;
c) o controle concentrado de constitucionalidade, realizado pelo Tribunal de Justiça, não im-
pede que a matéria seja rediscutida, pelo Supremo Tribunal Federal, em sede de controle di-
fuso de constitucionalidade;
d) o controle de constitucionalidade realizado pelo Tribunal de Justiça somente pode utilizar,
como paradigma de confronto, as normas que reproduzam comandos da Constituição da
República;
e) a Constituição da República deve ser igualmente utilizada como paradigma, pelo Tribunal
de Justiça, ao realizar o controle concentrado de constitucionalidade.

Letra c.
a) Errada. No âmbito federal, você viu que há nove legitimados para o ajuizamento de quatro
das cinco ações do controle concentrado, a ADI interventiva é o patinho feio, com somente
um legitimado, o PGR.
Segundo o art. 103 da Constituição, ADI, ADO, ADC e ADPF podem ser propostas pelos seguin-
tes legitimados:
• presidente da República;
• Mesa do Senado Federal;
• Mesa da Câmara dos Deputados;
• Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do DF;
• governador de Estado ou do DF;
• procurador-geral da República (PGR);
• Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB);
• partido político com representação no Congresso; e
• confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

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Já no âmbito estadual, a Constituição Federal não definiu quem são os legitimados, atribuin-
do essa tarefa ao constituinte estadual. Mas fez uma ressalva: não poderia haver somente um
legitimado.
Então, as constituições estaduais começaram a reproduzir o rol de legitimados do art. 103,
adaptado à realidade local.

Exemplificando, onde havia “Conselho Federal da OAB”, passou a constar “Seccional da OAB”;
trocou-se “confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional” por “federação
sindical ou entidade de classe de âmbito estadual”.
Depois, passaram a colocar legitimados que não encontravam simetria no modelo federal.
Quando foram questionadas, o STF entendeu que o rol de legitimados na Constituição esta-
dual não precisa se limitar à aplicação do modelo federal em simetria.
Desse modo, é possível que o constituinte estadual aponte outros legitimados, como, por
exemplo, um deputado estadual (ADI n. 558, STF) ou mesmo partido político sem representa-
ção na Assembleia Legislativa (RE n. 412.921, STF).
Uma ressalva: o STF firmou a compreensão segundo a qual é do prefeito do município, e não
do próprio município ou de seu procurador-geral, a legitimidade para fazer propor a ADI esta-
dual perante o TJ e, se for o caso, o recurso extraordinário (RE) contra a decisão daí advinda
(RE n. 831.936, STF).
b) Errada. O erro está no fato de que, tratando-se de normas de repetição obrigatória, o parâ-
metro para a declaração de inconstitucionalidade pode ser a Constituição estadual ou mesmo
a Federal.
d) Errada. O erro está no fato de que o controle feito pelo TJ em controle concentrado, em
regra, usa como parâmetro a Constituição estadual, ainda que o dispositivo não seja de repe-
tição obrigatória.
e) Errada. Apresenta uma particularidade: atualmente, se a norma da Constituição Federal for
de repetição obrigatória, pode ser usada pelo TJ no controle estadual. Nos demais casos, apli-
ca-se a regra geral, que determina a necessidade de usar a Constituição estadual como parâ-
metro.
Sobra como correta a letra c, resposta esperada pela banca.

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A esse respeito, é importante mencionar a simultaneidade de ações. A explicação é um pouco


longa, mas vale a pena acompanhar.
Antes de qualquer coisa, separarei a análise em dois grandes grupos: no primeiro, uma lei es-
tadual violará a CF e a CE, concomitantemente; no segundo, será a vez de essas constituições
serem violadas por uma lei municipal.
Fique atento(a) para os detalhes, pois eles serão perguntados.
Situação 1: LEI ESTADUAL que viola dispositivo da Constituição estadual e da Constituição
Federal ao mesmo tempo, tratava-se de norma de repetição obrigatória.
Nesse caso, caberá ADI para o STF (a ADI no âmbito federal questiona normas federais e es-
taduais perante a CF, certo?).
Contudo, também caberá ADI para o TJ, uma vez que na esfera estadual a ADI analisa a com-
patibilidade de atos normativos estaduais e municipais frente a CE.
Estamos diante da possibilidade de ajuizamento simultâneo de duas ADIs direcionadas a
tribunais diversos: a primeira para o STF, em relação à CF e a segunda para o TJ, quanto à CE.
Se isso acontecer, ou seja, se houver o ajuizamento de duas ADIs de forma concomitante (em
latim, simultaneus processus), a ADI estadual ficará suspensa aguardando a decisão final do
STF (ADI n. 3.046, STF).
Caso o STF declare a inconstitucionalidade da norma estadual, a ADI estadual será extinta por
perda do objeto. Afinal, a norma foi retirada do ordenamento jurídico. Grave bem essa explica-
ção para não errar daqui a pouquinho (PET n. 2.701, STF).
Do contrário, se o STF confirmar a constitucionalidade, a norma continua no sistema. Então,
a ADI estadual deve prosseguir, inclusive, podendo o TJ declarar a inconstitucionalidade da
norma frente a CE, desde que por outro fundamento, aquele fundamento usado pelo STF tem
força vinculante, impedindo que o TJ o contrarie.
Se você entendeu até aqui já matará boa parte das questões de prova. Porém, eu quero avan-
çar um pouco mais e garantir que você acerte todas as questões.
Agora imagine a situação em que, embora fosse viável o ajuizamento simultâneo, ele não
ocorreu.

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No primeiro exemplo, só se ajuizou ADI no STF contra a lei estadual, por violação à CF. Aqui
as coisas ficam simples, pois a declaração de inconstitucionalidade do STF retira a norma do
sistema. Logo, não caberia posteriormente entrar com ADI no TJ (a norma não existe mais!).
Em sentido contrário, se o STF confirma a constitucionalidade, posteriormente ainda se pode
ajuizar a ADI estadual, uma vez que a norma continua no sistema. Entretanto, a fundamenta-
ção usada não pode ser aquela já afastada pelo STF na ADI federal, por conta da força vincu-
lante para todos.
É agora que você mais erra...
No segundo exemplo, apenas a ADI estadual foi ajuizada, por violação à CE. Se o tribunal con-
firmar a constitucionalidade, a norma continuará no sistema e depois poderá ser questionada
em ADI federal, sendo que o STF ficaria livre para adotar qualquer decisão, sem se falar em
vinculação.
Por outro lado, se ao julgar a ADI estadual o TJ declarar a inconstitucionalidade da lei esta-
dual, não será cabível nova ADI para o STF por uma razão simples: a norma não existe mais,
foi retirada do sistema.

O STF não pode fazer nada, professor?

Ora, nessa situação, contra a decisão do TJ na ADI estadual, seja lá qual for o resultado (cons-
titucionalidade ou inconstitucionalidade), será possível a interposição de RE para levar a dis-
cussão ao STF, uma vez que se trata de norma de repetição obrigatória.
Situação 2: LEI MUNICIPAL que viola dispositivo da Constituição Estadual e da Constituição
Federal ao mesmo tempo, tratava-se de norma de repetição obrigatória.
Agora, há uma significativa diferença: caberá ADI para o TJ (lei municipal x CE), mas não será
possível o ajuizamento de ADI para o STF.
Nosso trabalho agora ficou mais fácil, pois o TJ pode julgar a ADI para um lado ou para outro,
sem existir a possibilidade de uma ADI no STF barrar a tramitação. Pode declarar a norma
constitucional ou inconstitucional.
Contra a decisão do TJ, seja lá qual for o resultado (constitucionalidade ou inconstitucionali-
dade), será possível a interposição de RE para levar a discussão ao STF, uma vez que se trata
de norma de repetição obrigatória (PET n. 2.788, STF).

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Lembro novamente que, embora a decisão no RE, em regra, produza eficácia inter partes –
por ser controle difuso –, a decisão nesse RE específico será dotada de eficácia para todos,
vinculante e com efeitos retroativos (ex tunc), pois nascida no controle concentrado (RE n.
187.142, STF).
Pegadinha comum nas provas: há alguma forma de submeter a questão diretamente ao STF
por meio do controle concentrado?
Em resposta, lembro que não caberia ADI, ADO ou ADC, pois estamos diante de lei municipal
x CF. A única ferramenta do controle concentrado possível será o ajuizamento de ADPF, caso
se comprove a existência de preceito fundamental violado.
Que tal esquematizarmos as hipóteses pelas quais uma lei municipal pode ser questionada
perante o TJ e o STF, dentro do controle difuso e do concentrado?

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Vamos lá:

Sistema de
Controle realizado pelo TJ Controle realizado pelo STF
controle
Será possível pelas vias É possível, via
Lei municipal x CF ordinárias. Ex.: ação de Lei municipal x CF recurso extraordi-
conhecimento. nário (RE).
Pode ser feito
contra decisão pro-
Controle difuso
Será possível pelas vias ferida em ADI esta-
Lei municipal x CE ordinárias. Ex.: ação de Lei municipal x CE dual, desde que a
conhecimento. norma da CE seja
repetição de texto
previsto na CF.
Cabe ADI estadual,
Só é possível por
desde que se trate de
Controle Lei municipal x CF Lei municipal x CF meio da ADPF,
norma de repetição
concentrado nunca da ADI.
obrigatória.
Lei municipal x CE Cabe ADI estadual Lei municipal x CE ------

Questão 19 (TCE-RJ/AUDITOR/2015) A Câmara de Vereadores de determinado município


aprovou projeto de lei e o encaminhou ao Chefe do Poder Executivo, que vetou uma parte do
projeto e sancionou a outra, terminando por promulgar a lei municipal. Em suas razões de
veto, que ainda pendem de apreciação pela Câmara de Vereadores, argumentou o Chefe do
Poder Executivo que a parte do projeto por ele vetada é inconstitucional.
À luz desse quadro, um renomado advogado elaborou parecer defendendo que o veto parcial
ao projeto foi equivocado, pois, nessa parte, o projeto mostrava-se constitucional. Acresceu,
ainda, que o vício de inconstitucionalidade recaía justamente sobre a parte sancionada.
Considerando o sistema brasileiro de controle de constitucionalidade, é correto afirmar que:
a) o veto parcial ao referido projeto de lei poderia ser impugnado via arguição de descumpri-
mento de preceito fundamental;
b) caso a Câmara de Vereadores mantenha o veto, será possível a submissão, dessa parte do
projeto, ao controle concentrado de constitucionalidade perante o Tribunal de Justiça;
c) a proposta de emenda à constituição, ainda que seja tida como dissonante de cláusulas
pétreas, não pode ser impugnada via arguição de descumprimento de preceito fundamental;

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d) as leis municipais de natureza pré-constitucional não podem ser impugnadas via arguição
de descumprimento de preceito fundamental;
e) a arguição de descumprimento de preceito fundamental e a ação direta de inconstitucio-
nalidade são fungíveis, com a única distinção de que a primeira alcança os atos normativos
pré-constitucionais.

Letra c.
Embora tenha hipóteses de cabimento bem mais amplas do que as outras ferramentas do
controle concentrado, a ADPF não será viável em algumas hipóteses. Confira:
• contra vetos presidenciais (ADPF n. 1, STF);
• contra decisões judiciais transitadas em julgado – cabe contra decisões judiciais, mas
não se cobertas pelo manto da coisa julgada (ADPF n. 134, STF);
• em substituição aos embargos em execução (ADPF n. 83, STF);
• para questionar norma anterior a 05/10/1988 frente a Constituição da época, só cabe
se for frente a Constituição atual;
• contra normas originárias; e
• contra súmulas vinculantes (ADPF n. 177, STF).
Logo, errada a letra a.
O erro da letra b está no fato de não caber controle concentrado de dispositivos que sequer
entraram em vigor. É o que acontece na parte que foi vetada e teve o veto mantido pela Câ-
mara dos Vereadores.
A letra d está errada, porque a ADPF pode questionar normas federais, estaduais, distritais e
municipais, editados antes ou depois da Constituição em vigor.
Errada também a letra e, na medida em que embora se aplique o princípio da fungibilidade
entre a ADI e a ADPF, há outras distinções além daquela indicada pela banca. É o caso do
questionamento de leis municipais, cabível apenas via ADPF.
Fica correta a letra c. Isso porque o controle preventivo jurisdicional é excepcional, cabível
apenas por meio de mandado de segurança impetrado por parlamentar, para assegurar o
devido processo legislativo.
Aliás, mesmo já tendo respondido à questão, vou trabalhar com um quadro esquemático,
apresentando os modelos e momentos de controle de constitucionalidade.

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Veja:
MOMENTOS E MODELOS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
MOMENTOS E MODELOS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

MOMENTOS
PODER
PREVENTIVO REPRESSIVO

É realizado em três hipóteses:


a) sustação de atos normativos edi-
tados pelo Presidente da República
que exorbitem os limites de delegação
legislativa – art. 49, V, da CF/1988;
Apreciação de projetos, feita pelas b) quando o Senado Federal suspender,
Comissões de Constituição e Jus- no todo ou em parte, norma declarada
Legislativo
tiça (CCJs) e pelo Plenário das inconstitucional pelo STF no controle
Casas. difuso – artigo 52, X, da CF;

Político c) no caso das medidas provisórias,


quando o Congresso entender que não
estão presentes os requisitos consti-
tucionais de urgência e relevância –
artigo 62, § 5º da Constituição.

Possibilidade dada ao Chefe do


Orientação dada pelo Chefe do Exe-
Executivo – Presidente da Repú-
cutivo para que seus subordinados
Modelos Executivo blica, governadores e prefeitos –
deixem de cumprir a norma, pois a con-
de vetar o projeto caso o considere
sidera inconstitucional.
inconstitucional (veto jurídico).

Feito por meio do controle difuso ou


Quando se aprecia mandado de concentrado de constitucionalidade. O
segurança impetrado por parla- primeiro é realizado por qualquer juiz
Jurisdicional Judiciário
mentar para garantir devido pro- ou tribunal do país, enquanto o segundo
cesso legislativo. somente cabe ao STF (violação à CF) e
ao TJ (ofensa à CE).

Pode apreciar a constitucionalidade


Tribunais de
das leis e dos atos do Poder Público –
Contas
Súmula 347/STF.

Pode deixar de aplicar norma que


Administrativo
entenda ser inconstitucional, o que con-
CNJ figura exercício de controle da validade
dos atos administrativos do Poder Judi-
ciário (STF, PET 4656/PB).

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Questão 20 (DPE-RO/ANALISTA JURÍDICO/2015) À luz da competência originária do Supre-


mo Tribunal Federal para processar e julgar “a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou
ato normativo federal ou estadual”, conforme dispõe o art. 102, I, a, da Constituição da Repú-
blica, pode-se afirmar que:
a) cabe ação direta de inconstitucionalidade de lei do Distrito Federal derivada da sua compe-
tência legislativa municipal;
b) o princípio da segurança jurídica impede que ação direta de inconstitucionalidade seja
ajuizada quando a longa vigência da lei gerou a estabilização das relações jurídicas;
c) nenhuma lei do Distrito Federal pode ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade;
d) somente os atos normativos que possuam os atributos da imperatividade, da generalidade
e da abstração podem ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade;
e) quando houver uma controvérsia constitucional em abstrato, a lei, independente de sua
natureza genérica ou abstrata, pode ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade.

Letra e.
Primeira coisa: veja as hipóteses de cabimento das ações do controle concentrado, tanto no
STF quanto no TJ. Redobre a atenção nas observações que aparecem na parte de baixo do
quadro, para não escorregar em casca de banana.
Vamos lá:

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HIPÓTESES DE CABIMENTO DO CONTROLE CONCENTRADO


Ato normativo
ADI ADC ADO ADPF ADI no TJ
questionado
Lei ou ato federal x
Cabe Cabe Cabe Cabe ----
CF
Lei ou ato esta-
Cabe ---- Cabe Cabe ----
dual x CF
Lei ou ato munici-
---- ---- ---- Cabe Cabe*4
pal x CF
Lei ou ato distri-
Cabe*1 ---- Cabe*1 Cabe ----
tal x CF
Norma anterior à
---- ---- ---- Cabe ----
CF
Lei ou ato federal x
---- ---- ---- ---- ----
CE
Lei ou ato esta-
---- ---- ---- ---- Cabe*2
dual x CE
Lei ou ato munici-
---- ---- ---- ---- Cabe*3
pal x CE
Lei distrital x LODF ---- ---- ---- ---- Cabe*2
Lei municipal x
É controle de legalidade, e não de constitucionalidade.
LOM
Obs1: se a norma distrital possuir natureza estadual, caberá ADI para o STF; ao contrário, se possuir natureza
municipal, a ação não será cabível, devendo ser ajuizada ADI para o TJDFT (Súmula n. 642, STF).
Obs2: se a norma da CF/1988 for de repetição obrigatória, caberá ao mesmo tempo ADI para o TJ (LE x CE) e
para o STF (LE x CF). Nesse caso, havendo o ajuizamento simultâneo das duas ações, a ADI estadual ficará
suspensa, aguardando o julgamento pelo STF.
Obs3: se a norma da CF/1988 for de repetição obrigatória, caberá ADI para o TJ (LM x CE), mas não ADI para
o STF (LM x CF). Contra essa decisão, seja lá qual for (constitucionalidade x inconstitucionalidade), caberá
RE para o STF.
Obs4: é a única hipótese em que o TJ pode fazer controle concentrado tendo como parâmetro a CF/1988.
A norma da CF/1988 deve ser repetição obrigatória. Contra a decisão do TJ na ADI, seja lá qual for (constitu-
cionalidade x inconstitucionalidade), caberá RE para o STF.

Fica mais fácil perceber que estão erradas as letras a e c, pois é possível ADI no STF para
questionar normas distritais, somente se editadas dentro da competência estadual (Súmula
n. 642, STF).

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Errada a letra b, pois o mero passar do tempo não é hábil para convalidar normas inconstitu-
cionais.
Quanto aos atos estatais de efeitos concretos, não será cabível ADI. Agora, atente-se bem
para uma questão importantíssima: se o ato estatal de efeito concreto é viabilizado na forma
de lei (ou de MP), a ADI passa a ser cabível.
Trocando em miúdos, o STF entendeu pela possibilidade de fazer controle concentrado de
constitucionalidade de lei de efeito concreto (abertura de créditos extraordinários) por meio
de ADI (ADI-MC n. 4.048, STF).
Isso significa uma significativa mudança, na medida em que sempre se entendeu pelo cabi-
mento da ação apenas contra normas dotadas de generalidade e abstração.

Aragonê Fernandes
Atualmente, atua como Juiz de Direito do TJDFT. Contudo, em seu qualificado percurso profissional, já
se dedicou a ser Promotor de Justiça do MPDFT; Assessor de Ministros do STJ; Analista do STF; além
de ter sido aprovado em vários concursos públicos. Leciona Direito Constitucional em variados cursos
preparatórios para concursos.

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