Você está na página 1de 20

ACIPOL

ACADEMIA DE CIÊNCIAS POLICIAIS

CURSO DE MESTRADO ACADÉMICO

VII EDIÇÃO

Tema: TÉCNICAS ESPECIAIS DE INVESTIGAÇÃO DO CRIME ORGANIZADO E


DO TERRORISMO

Módulo: Terrorismo e Crime Organizado Transnacional

Professor: PhD. João Moisés Essinalo

Mestrandos:

 Criliência Remane Manhique


 Samo Alberto Uamba
 Sérgio Alexandre António Vaz
 Stélio Arlindo Muthambe

Michafutene, Outubro de 2023


ACIPOL

ACADEMIA DE CIÊNCIAS POLICIAIS

CURSO DE MESTRADO ACADÉMICO

VII EDIÇÃO

TÉCNICAS ESPECIAIS DE INVESTIGAÇÃO DO CRIME ORGANIZADO E DO


TERRORISMO

Trabalho apresentado à
ACIPOL como parte dos
requisitos para a avaliação
no módulo de TCOT

Professor: PhD. João Moisés Essinalo

Mestrandos:

 Criliência Remane Manhique


 Samo Alberto Uamba
 Sérgio Alexandre António Vaz
 Stélio Arlindo Muthambe

Michafutene, Outubro de 2023


ÍNDICE

CAPITULO I: INTRODUÇÃO...................................................................................................................1
CAPITULO II: REVISÃO DA LITERATURA..........................................................................................3
2.1 TÉCNICAS ESPECIAIS DE INVESTIGAÇÃO DO CRIME ORGANIZADO E DO
TERRORISMO.......................................................................................................................................3
2.2 O QUE É UMA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL?.............................................................................7
2.3 CRIME ORGANIZADO...................................................................................................................8
2.4 TERRORISMO.................................................................................................................................9
2.5 LIMITES DA ACTUAÇÃO POLICIAL NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL................................10
2.6.DIREITOS HUMANOS E INVESTIGACAO CRIMINAL................................................................12
2.7.ÉTICA E INVESTIGAÇÃO CRIMINAL...........................................................................................14
CAPITULO III: CONCLUSÃO................................................................................................................16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................17
Legislação..............................................................................................................................................17
Instrumentos Internacionais de Direitos Humanos................................................................................17
CAPITULO I: INTRODUÇÃO

O presente trabalho subordinado ao tema Técnicas Especiais de Investigação do Crime


Organizado e do Terrorismo enquadra-se no âmbito do módulo de Terrorismo e Criminalidade
Organizada Transnacional (TCOT), do Curso de Mestrado Académico em Ciências Policiais na
ACIPOL e serve como requisito parcial de avaliação.

As técnicas especiais de investigação do crime organizado e do terrorismo desempenham um


papel fundamental na prevenção e na resposta a ameaças à segurança nacional e à ordem pública.
Essas técnicas englobam um conjunto de estratégias e métodos aplicados por agências de
aplicação da lei e serviços de inteligência para colectar informações, rastrear, monitorar e
desmantelar organizações criminosas e grupos terroristas. Essas tácticas muitas vezes envolvem
abordagens avançadas de vigilância, inteligência, infiltração e interceptação de comunicações e
são essenciais para combater a complexidade e a natureza clandestina dessas ameaças.

A utilização dessas técnicas é geralmente regida por leis e regulamentos específicos, visando
equilibrar a necessidade de segurança com a proteção dos direitos individuais e a privacidade.
Portanto, as técnicas especiais de investigação são uma parte crucial da estratégia de combate ao
crime organizado e ao terrorismo em muitas jurisdições ao redor do mundo.

O terrorismo e o crime organizado tornaram-se preocupação dominante na política de muitos


Estados, facto que leva a debates acesos na arena política e académica sobre os seus conceitos,
medidas de prevenção e repreensão. Segundo Dhurkheim crime é um facto social que sempre irá
ocorrer e as medidas para o seu combate devem estar em constante actualização.

Com o evoluir do tempo, novas técnicas foram aperfeiçoadas para combater estes fenómenos,
visto que quando a prevenção falha e o facto criminal ocorre, é chamada a investigação para
esclarecê-los, contudo, observando os limites previamente estabelecidos por lei. Daí surge a
nossa pergunta de partida: Quais são as Técnicas Especiais de Investigação do Crime
Organizado e do Terrorismo?

Para responder esta pergunta de partida, foram elaborados os seguintes objectivos que abaixo se
indicam:

1
Como objectivo geral, pretende-se identificar as técnicas especiais de investigação do crime
organizado e do terrorismo enquanto que no que tange aos objectivos específicos, pretende-se
identificar o fundamento do emprego de técnicas especiais na investigação do crime organizado
e do terrorismo bem como os seus limites.

Metodologicamente o trabalho em apreço é de enfoque qualitativo, que de acordo com Gerhardt


e Silveira (2009) os pesquisadores que utilizam os métodos qualitativos buscando explicar o
porquê das coisas, exprimindo o que convêm ser feito mas não quantificam os valores e as trocas
simbólicas nem se submetem a prova dos factos, pois, os dados analisados são não estatísticos e
se valem de diferentes abordagens.

Para o alcance dos objectivos do presente trabalho, baseamo-nos na técnica de pesquisa


Bibliográfica, que permitiu a recolha de informações nos livros, artigos científicos, leis,
instrumentos internacionais e na internet, sobre as técnicas especiais de investigação do crime
organizado e do terrorismo.

Segundo Lakatos e Marconi (2003,p.44) a pesquisa bibliográfica “tem a finalidade de colocar o


pesquisador em contacto directo com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado assunto, com
o objectivo de permitir ao pesquisador o reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou
manipulação de suas informações”.

O presente trabalho encontra-se dividido em três capítulos, o primeiro da Introdução, onde


constam os objectivos e a metodologia, o segundo do desenvolvimento, onde se faz a revisão da
literatura e por último o terceiro, reservado as conclusões e as referências bibliográficas.

2
CAPITULO II: REVISÃO DA LITERATURA

2.1 TÉCNICAS ESPECIAIS DE INVESTIGAÇÃO DO CRIME ORGANIZADO E DO


TERRORISMO

Segundo Sintra (2010), o conceito de Técnicas Especiais de Investigação Criminal, engloba a


actividade policial dissimulada, de natureza confidencial, ou até secreta, que é desenvolvida com
a finalidade de obter fluxos de informação tratada respeitante a actividades de pessoas suspeitas
e/ou de recolher material probatório resultante da sua participação em práticas delituosas, a nível
individual e/ou no seio de grupos criminosos organizados, com destaque para as condutas que
integram as definições legais de terrorismo, criminalidade violenta, especialmente violenta e
altamente organizada, mediante recurso a adequados meios humanos e/ou técnicos.

Consideram-se técnicas especiais de investigação criminal, as seguintes:


- Acções encobertas;
- Gestão e controlo de colaboradores;
- Protecção de testemunhas;
- Entregas controladas;
- Seguimento e vigilância electrónica; e
- Intercepção de comunicações.

 As acções encobertas;
Nos termos do Artigo 226 do CPP, consideram-se acções encobertas, aquelas que são
desenvolvidas por funcionários de investigação criminal ou por terceiro actuando sob o controlo
do Serviço Nacional de Investigação Criminal para prevenção ou repressão dos crimes indicados
nesta lei, com ocultação da sua qualidade e identidade.

Segundo o disposto no Artigo 227 do CPP, as acções encobertas são admissíveis no âmbito da
prevenção e repressão de vários crimes, contudo, importa-nos destacar os crimes relacionados
com o crime organizado e o terrorismo, mormente os previstos nas seguintes alíneas:

c) Relactivos ao tráfico e viciação de veículos furtados ou roubados;


d) Escravidão, sequestro e rapto ou tomada de reféns;
e) Tráfico de pessoas e de órgãos humanos;

3
f) Organizações terroristas e financiamento ao terrorismo;
h) Executados com bombas, granadas, matérias ou engenhos explosivos, armas de fogo e
objectos armadilhados, armas nucleares, químicas ou radioactivas;
i) Roubo em instituições de crédito, repartições da Fazenda Pública e correios;
j) Associações criminosas;
k) Relativos ao tráfico de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas;
l) Branqueamento de capitais, outros bens ou produtos;
m) Corrupção, peculato e participação económica em negócio e tráfico de influências;
o) Infrações económico-financeiras cometidas de forma organizada ou com recurso à tecnologia
informática;
p) Infracções económico-financeiras de dimensão internacional ou transnacional;
q) Contrafacção de moeda, títulos de créditos, valores selados, selos e outros valores equiparados
ou a respectiva passagem.

O Artigo 228 do CPP prevê os Pressupostos das acções encobertas:

1. As acções encobertas devem ser adequadas aos fins de prevenção e repressão criminais
identificados em concreto, nomeadamente a descoberta de material probatório, e
proporcionais quer àquelas finalidades quer à gravidade do crime em investigação.

2. A realização de uma acção encoberta no âmbito da instrução depende de prévia


autorização do competente magistrado do Ministério Público, sendo obrigatoriamente
comunicada ao juiz de instrução e considerando-se a mesma validada se não for proferido
despacho de recusa nas 72 horas seguintes.

3. Se a acção referida no número 2 decorrer no âmbito da prevenção criminal, é competente


para autorização o juiz de instrução criminal, mediante proposta do Ministério Público.

4. O Serviço Nacional de Investigação Criminal fará o relato da intervenção do agente


encoberto à autoridade judiciária competente no prazo máximo de 48 horas após o termo
daquela.

O agente encoberto age com identidade fictícia nos termos do Artigo 230 do CPP.

4
1. Para o efeito do artigo 226, os agentes do Serviço Nacional de Investigação Criminal
podem actuar sob identidade fictícia.

2. A identidade fictícia é atribuída por despacho do Ministro do Interior, mediante


proposta do Director geral do Serviço Nacional de Investigação Criminal.

3. A identidade referida no número 2 é válida por um período de 6 meses prorrogáveis


por períodos de igual duração, ficando o agente de investigação criminal a quem a
mesma for atribuída autorizado a, durante aquele período, actuar sob a identidade
fictícia, quer no exercício da concreta investigação quer genericamente em todas as
circunstâncias do tráfico jurídico e social.

4. O despacho que atribui a identidade fictícia é classificado de secreto e deve incluir a


referência à verdadeira identidade do agente encoberto.

5. Compete ao Director geral do Serviço Nacional de Investigação Criminal gerir e


promover a actualização das identidades fictícias outorgadas nos termos dos números
anteriores.

O Artigo 231 do CPP é referente a Isenção de responsabilidade do agente encoberto.

1. Não é punível a conduta do agente encoberto que, no âmbito de uma acção encoberta,
consubstancie a prática de actos preparatórios ou de execução de uma infracção em
qualquer forma de comparticipação diversa da instigação e da autoria mediata,
sempre que guarde a devida proporcionalidade com a finalidade da mesma.

2. Se for instaurado procedimento criminal por acto ou actos praticados ao abrigo do


disposto na presente Lei, a autoridade judiciária competente deve, logo que tenha
conhecimento de tal facto, requerer informação à autoridade judiciária que emitiu a
autorização a que se refere o número 3 do artigo 228.

 A gestão e o controlo de colaboradores;


A técnica de Gestão e Controlo de Colaboradores envolve o uso de agentes infiltrados ou
informantes para obter informações privilegiadas ou testemunhas dentro de organizações

5
criminosas. Os colaboradores trabalham disfarçadamente para as autoridades a fim de coletar
informações, reunir provas e, em alguns casos, facilitar a prisão de criminosos.

 A protecção de testemunhas;
A proteção de testemunhas é fundamental para garantir que pessoas que testemunham em casos
criminais estejam seguras de represálias. Isso pode envolver o fornecimento de identidades
secretas, realocação para áreas seguras, alteração de aparência e outras medidas para garantir a
segurança dos colaboradores que testemunham contra criminosos. Veja se o disposto no n° 2 do
artigo 164 do CPP.

 As entregas controladas;
As entregas controladas são uma técnica na qual as autoridades permitem que um crime
aparentemente ocorra, mas sob estrito controle policial. Isso pode ser feito para rastrear o
movimento de drogas, dinheiro ou outros produtos ilegais, identificar cúmplices e coletar
evidências para acusar os criminosos envolvidos.

 O seguimento e a vigilância electrónica;


Seguimento e Vigilância Eletrônica é uma técnica que envolve o uso de tecnologia de vigilância
eletrônica, como câmeras de segurança, dispositivos de rastreamento GPS e escutas telefônicas
para monitorar as atividades de suspeitos. Isso ajuda a coletar informações e evidências sobre as
atividades criminosas.

 A Intercepção de comunicações
A interceptação de comunicações envolve a obtenção de autorização legal para monitorar
conversas telefônicas, mensagens de texto, e-mails e outras formas de comunicação eletrônica de
suspeitos. Isso é geralmente feito mediante ordem judicial e é altamente regulamentado para
proteger os direitos à privacidade. A interceptação de comunicações é usada para coletar
evidências que podem ser usadas em processos criminais.
A Intercepção de comunicações são um dos meios especiais de prova veja se o disposto no artigo
222 e sgts do CPP.

Todas essas técnicas são poderosas, mas também precisam ser usadas com cautela e dentro dos
limites da lei para garantir que os direitos civis sejam respeitados. Elas desempenham um papel
importante na luta contra o crime e na busca da justiça, mas também podem ser controversas

6
devido ao potencial de abuso. Portanto, geralmente estão sujeitas a regulamentações rigorosas e
supervisão judicial para garantir que sejam usadas de maneira ética e legal.

Essencialmente, tais técnicas são aplicadas como instrumento de suporte em acções de


investigação policial de forma pró-activa ou seja, com iniciativa antecipada, dirigidas à
criminalidade organizada grupal, por norma caracterizada pela repetição ou sucessão de crimes,
sem prejuízo do seu uso noutras acções de investigação reactiva ou cujos alvos sejam autores
isolados. Inevitavelmente, a informação privilegiada que resulta da aplicação das técnicas
especiais de investigação criminal favorece a previsão da ilicitude, determina a emanação e/ou
origem de provas convincentes e permite reforçar a observância dos comandos legais.

Desde tempos ancestrais até à idade hodierna, tem sido comummente aceite que a informação
radicada no conhecimento de vulnerabilidades e fragilidades do adversário constitui pressuposto
de qualquer tipo de estratégia, incluindo as que são aplicadas à investigação criminal. Para
reforçar esta ideia, invocamos um dos maiores estrategas da história da humanidade, o general
chinês Sun Tzu (500 a.C.), que defende o seguinte: “Conhece o teu inimigo e conhece-te a ti
próprio; numa centena de batalhas nunca estarás em perigo”.

Na mesma senda, Luís Vaz de Camões, autor da grande epopeia portuguesa, dispôs “Adivinhar
perigos é evitá-los”.

2.2 O QUE É UMA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL?

Uma investigação criminal é um processo legalizado usado para reunir informações e provas
relativas a um crime. O objetivo é determinar se um suspeito cometeu realmente o crime e se eles
podem ser responsabilizados legalmente.

A investigação criminal pode ser conduzida por polícia, detetives, promotores, investigadores
forenses e outros profissionais de segurança. E, deve observar os limites da atuação policial na
investigação criminal.

O processo pode incluir entrevistas, testemunhos, exames de laboratório, inspeções de locais,


buscas e apreensões, investigações financeiras, vigilância e outros meios para obter informações.
Os resultados obtidos no inquérito policial são colocados em um relatório, o qual é encaminhado

7
para o Ministério Público para que este decida se houve ou não o cometimento de algum delito e
qual a melhor forma de proceder.
2.3 CRIME ORGANIZADO

O conceito de crime organizado é difuso, não existindo clareza na sua definição, por isso que é
mais fácil caracterizá-lo do que defini-lo.

Crime organizado envolve um grupo de duas ou mais pessoas, cada uma com uma tarefa
específica para desempenhar, e que faz uso de estruturas ligadas a empresas, bem como da
violência ou de outros meios de intimidação, e exerce influência sobre políticos, a mídia, o
governo, as autoridades da justiça criminal ou sobre a economia. [...]/ qualquer empresa ou grupo
de pessoas engajadas em atividade ilegal continuada que tem como seu propósito primeiro a
geração de lucros, independente das fronteiras nacionais. [...] Empresa ou grupo de pessoas
inclui qualquer associação de criminosos, seja trabalhando em organizações, tais como grandes
corporações com regras internas e hierarquias estabelecidas, ou operando juntos em torno de um
propósito comum (INTERPOL cit. In Schabbach, 2013).

“Crime organizado é o empreendimento criminoso desenvolvido de forma racional e continuada,


objectivando o ganho ilícito através do fornecimento de bens ou serviços com grande demanda, e
se mantendo com o uso da força física e da ameaça, buscando assim o controle e o monopólio da
actividade ilícita, utilizando-se também da corrupção de funcionários públicos” (Albanese,
2007).

O termo "crime organizado" refere-se a grupos criminosos altamente estruturados que se


envolvem em atividades ilegais de maneira coordenada e sistemática. Esses grupos geralmente
têm uma hierarquia de liderança, regras internas, divisão de tarefas e estratégias bem definidas
para realizar uma variedade de atividades criminosas.

O crime organizado pode abranger uma ampla gama de atividades ilícitas, incluindo tráfico de
drogas, tráfico de pessoas, extorsão, contrabando, lavagem de dinheiro, corrupção, jogo ilegal,
entre outras.

Características comuns do crime organizado incluem:


1. Hierarquia e Estrutura:
Grupos criminosos organizados frequentemente têm uma estrutura hierárquica com líderes,
capangas e membros de níveis inferiores. As decisões são tomadas centralmente pela liderança.
8
2. Atividades Ilegais Diversificadas:
Esses grupos se envolvem em diversas atividades criminosas para obter lucro, muitas vezes se
adaptando às mudanças no ambiente legal e econômico.

3. Violência e Coerção:
O uso da violência e intimidação é comum para proteger os interesses do grupo, eliminar
concorrentes e impor conformidade dentro da organização.

4. Corrupção:
Grupos criminosos muitas vezes tentam corromper funcionários públicos, policiais e outras
autoridades para evitar a aplicação da lei e garantir sua proteção.

5. Globalização:
Muitos grupos de crime organizado operam internacionalmente, aproveitando as fronteiras e a
facilidade de transporte para expandir suas atividades.

6. Lavagem de Dinheiro:
A lavagem de dinheiro é uma parte importante do crime organizado, pois permite que os lucros
ilícitos sejam legitimados através de negócios legais.

O crime organizado representa uma ameaça significativa para a segurança pública e a


estabilidade social, bem como para a economia global. Os esforços para combater o crime
organizado geralmente envolvem a aplicação da lei em níveis nacionais e internacionais, com
cooperação entre diferentes agências e países. Medidas incluem a elaboração de leis mais
rigorosas, a investigação e o desmantelamento de grupos criminosos, a proteção de testemunhas
e a promoção de esforços internacionais de combate ao crime organizado.

2.4 TERRORISMO

A definição do terrorismo não é consensual entre os diversos autores, tal como o crime
organizado, Galitos citando Schmid considera aceitável o modelo por este proposto. Schmid
analisou as 165 definições de terrorismo que existiam até 2004 e construi uma base de dados
com diferentes explicações académicas do fenómeno para descobrir a frequência com que certas
palavras surgiam como elementos definidores e alistou os resultados apurados em percentagens

9
numa tabela. Estes resultados apurados são referentes a 10 factores mais relevantes de cada
investigação.

Na referida tabela, é possível verificar que as variáveis mais frequentes nas definições de
terrorismo são:

- A coerção / Violência / Força, as questões políticas, o medo e a ameaça. Estes factores são
seguidos de outros tais como os efeitos psicológicos negativos e as questões mais estritamente
relacionadas com as tácticas, estratégias e o planeamento.

Não obstante, o conceito de terrorismo não ser consensual entre os diversos autores, o glossário
da Lei nº. 11/2022, de 07 de Julho (Lei de Prevenção e Combate ao Branqueamento de Capitais e
Financiamento do Terrorismo), define o terrorismo como sendo o uso de ameaça ou uso de
violência física ou psicológica com intuito de criar insegurança social, terror ou pânico na
população ou de pressionar o Estado ou alguma organização de carácter económico, social ou
político a realizar ou abster-se de realizar certa ou certas actividades.

2.5 LIMITES DA ACTUAÇÃO POLICIAL NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

A atuação policial deve estar em estrita observância aos comandos legais relacionados aos
direitos inerentes a pessoa humana.

A atuação policial na investigação criminal está limitada ao que determina a legislação vigente,
que regula principalmente a coleta de provas nos termos do artigo 206 e sgts do CPP, a prisão
nos termos do artigo 64 da CRM e 243 do CPP, o interrogatório segundo o disposto no artigo
175 e sgts do CPP, a busca e apreensão nos termos do artigo 213 e sgts do CPP, entre outros.

Os limites da atuação policial na investigação criminal devem seguir os princípios da legalidade


(n°3 do art. 1 CRM e art. 1 CP), da proporcionalidade, da necessidade, da razoabilidade, da
honestidade e da igualdade.

A Polícia e/ou investigador deve sempre respeitar os direitos e garantias fundamentais dos
cidadãos, como a liberdade individual, a presunção de inocência, a inviolabilidade de domicílio e
a privacidade da vida privada.

10
Os agentes da polícia e/ou investigador têm o direito de usar força, desde que de forma razoável
para prender suspeitos ou proteger a si mesmos ou a outros. No entanto, eles não têm o direito de
usar excessiva ou desnecessária a força para fazer isso.

Os limites da atuação policial na investigação criminal determinam que os agentes da polícia


e/ou investigador não têm o direito de violar as leis de busca e apreensão ou de investigação
criminal. Isso significa que eles não podem realizar buscas e apreensões sem um mandado ou
usar métodos ilegais para obter provas.

Outra área onde os limites da atuação policial na investigação criminal são muito importantes é
na detenção de suspeitos. Os agentes da polícia não têm o direito de detê-los sem fundamento
legal ou usar estratégias ilegais para obter confissões.

De forma geral, os agentes da polícia e/ou investigadores devem seguir os princípios


fundamentais de direitos humanos ao realizar qualquer investigação. Isso significa que eles
devem tratar os suspeitos de forma justa, além de respeitar sua privacidade e direitos civis.

Os limites da atuação policial na investigação criminal estão baseados no cumprimento das leis e
dos direitos humanos. Os agentes da polícia não podem usar métodos ilegais ou desumanos para
obter informações ou concluir suas investigações.

Além disso, a lei exige que os agentes da polícia e/ou investigadores sigam os procedimentos
legais estabelecidos na legislação aplicável ao caso. Eles também não podem aplicar pressão
ilegal ou usar força excessiva contra as pessoas investigadas.
Os limites da atuação policial na investigação criminal devem ser observados, tendo em vista que
a polícia é responsável pela primeira etapa de investigação, que inclui a identificação de
suspeitos, o recolhimento de evidências e a realização de entrevistas.

O trabalho da polícia é crucial para obter informações que ajudem a desvendar o crime e levar o
suspeito à justiça. Durante a investigação criminal, a polícia executa ações como a realização de
buscas, apreensão de documentos, armas e outros artecfatos relacionados ao crime.

Observados os limites da atuação policial na investigação criminal, ela também interroga


testemunhas e acusados, além de procurar por outras informações que possam ser relevantes para
o caso.

11
Além disso, a polícia também cumpre ordens judiciais, realizando prisões, conduzindo
investigações e fazendo cumprir sentenças judiciais. Portanto, observar os limites da atuação
policial na investigação criminal é fundamental para que a justiça possa ser feita.

Abordar os limites das técnicas especiais de investigação criminal no combate ao crime


organizado e terrorismo implica necessariamente cingir-se na ética e direitos humanos constantes
na declaração universal dos direitos humanos e no pacto internacional dos direitos civis e
políticos.

2.6. DIREITOS HUMANOS E INVESTIGACAO CRIMINAL

Observar os Direitos Humanos na investigação criminal é crucial para garantir que as


autoridades apliquem a lei de maneira justa, equitativa e respeitando os direitos fundamentais de
todas as pessoas envolvidas. Abaixo descreve-se algumas diretrizes e práticas importantes para
garantir o respeito aos Direitos Humanos durante a investigação criminal, a luz da Declaração
Universal dos Direitos Humanos e demais Legislação Nacional:

1. Legalidade e devido processo legal: Artigo 9º (DUDH) - Ninguém será arbitrariamente


preso, detido ou exilado. É importante certificar-se de que todas as investigações sejam
conduzidas de acordo com as leis nacionais e os tratados internacionais de direitos
humanos. Isso inclui a necessidade de mandados de busca, prisões legais e o direito a um
julgamento justo. Artigo 15 (PIDCP) - 1. Ninguém poderá ser condenado por atos ou
omissões que não constituam delito de acordo com o direito nacional ou internacional, no
momento em que foram cometidos. Tampouco poder-se-á impor pena mais grave do que
a aplicável no momento da ocorrência do delito. Se, depois de perpetrado o delito, a lei
estipular a imposição de pena mais leve, o delinqüente deverá dela beneficiar-se. 2.
Nenhuma disposição do presente Pacto impedirá o julgamento ou a condenação de
qualquer indivíduo por atos ou omissões que, no momento em que foram cometidos,
eram considerados delituosos de acordo com os princípios gerais de direito reconhecidos
pela comunidade das nações.

2. Proibição da tortura e tratamento desumano: Artigo 5º (DUDH) - Ninguém será


submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. É
fundamental que todas as formas de tortura e tratamento desumano sejam estritamente
proibidas. Os suspeitos devem ser tratados com dignidade e respeito.

12
Consta ainda do Artigo 7º PIDCP - Ninguém poderá ser submetido a tortura, nem a
penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Será proibido, sobretudo,
submeter uma pessoa, sem seu livre consentimento, a experiências médicas ou científicas.

3. Presunção de inocência: Artigo 11º (DUDH) - Toda pessoa acusada de um acto


delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido
provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas
todas as garantias necessárias à sua defesa. Os suspeitos são presumidos inocentes até que
se prove sua culpa em um tribunal. Evite qualquer forma de julgamento ou tratamento
discriminatório com base em suposições ou acusações não comprovadas.

4. Acesso a um advogado: Todos os suspeitos devem ter acesso a um advogado para


garantir que seus direitos sejam protegidos durante a investigação e os procedimentos
judiciais.

5. Notificação de direitos: Informe imediatamente os suspeitos sobre seus direitos,


incluindo o direito de permanecer em silêncio e o direito de não se autoincriminar.

6. Prova legal e coleta de evidências: Garanta que todas as evidências sejam coletadas de
maneira legal, respeitando a privacidade e os direitos das pessoas envolvidas. Não utilize
provas obtidas por meios ilegais.

7. Limitação de prisão preventiva: Evite a prisão preventiva arbitrária e assegure que as


medidas de detenção provisória sejam usadas somente quando necessário e de acordo
com a lei. Artigo 9º (PIDCP)- 1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança
pessoais. Ninguém poderá ser preso ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá ser
privado de sua liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei e em conformidade com os
procedimentos nela estabelecidos. 2. Qualquer pessoa, ao ser presa, deverá ser informada
das razões da prisão e notificada, sem demora, das acusações formuladas contra ela. 3.
Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá ser conduzida,
sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a exercer
funções judiciais e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em
liberdade. A prisão preventiva de pessoas que aguardam julgamento não deverá constituir
a regra geral, mas a soltura poderá estar condicionada a garantias que assegurem o
comparecimento da pessoa em questão à audiência e a todos os atos do processo, se
necessário for, para a execução da sentença. 4. Qualquer pessoa que seja privada de sua
13
liberdade, por prisão ou encarceramento, terá o direito de recorrer a um tribunal para que
este decida sobre a legalidade de seu encarceramento e ordene a soltura, caso a prisão
tenha sido ilegal. 5. Qualquer pessoa vítima de prisão ou encarceramento ilegal terá
direito à reparação.

8. Igualdade perante a lei: Garanta que todas as pessoas sejam tratadas com igualdade
perante a lei, independentemente de raça, gênero, religião, orientação sexual, origem
étnica ou outras características pessoais.

9. Garantias judiciais: Assegure que os acusados tenham o direito a um julgamento justo,


incluindo o direito a um julgamento público, justo e imparcial por um tribunal
independente.

10. Transparência e responsabilidade: Promova a transparência nas investigações e


garanta que as autoridades sejam responsabilizadas por qualquer violação dos direitos
humanos.

11. Direitos das vítimas: Reconheça os direitos das vítimas de crimes e promova seu acesso
à justiça e a medidas de proteção, conforme apropriado.

O respeito aos Direitos Humanos na investigação criminal não é apenas uma questão de
ética, mas também de legalidade e justiça. Garantir que as práticas de aplicação da lei estejam em
conformidade com os princípios de Direitos Humanos é fundamental para manter a confiança do
público no sistema de justiça e para proteger a dignidade e os direitos de todos os envolvidos.

2.7. ÉTICA E INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

Constituem princípios gerais éticos na investigação criminal os seguintes:


Responsabilidade: Responsabilidade em relação ao impacto da investigação: nos/as
participantes, respeitando a autodeterminação e tomando medidas para minimizar quaisquer
riscos para a saúde e bem-estar físico e/ou psicológico; na sociedade, privilegiando atividades
com elevado potencial de relevância social e científica; e no ambiente, minimizando impactos
nocivos e promovendo a gestão sustentável dos recursos disponíveis.

Honestidade: Honestidade em relação ao processo de investigação, assegurando a transparência


e veracidade dos procedimentos, dos dados, dos resultados, das interpretações e de eventuais
implicações, reconhecendo os contributos de terceiros, e não utilizando nem ocultando más
práticas de investigação.

14
Fiabilidade e rigor: Fiabilidade e rigor ao realizar atividades de investigação, agindo de forma
meticulosa, cuidadosa e com atenção aos detalhes; e na comunicação de resultados, reportando-
os de forma correta, integral e imparcial.

Objetividade: Objetividade nas interpretações e conclusões, ancorando-as em dados e


evidências disponibilizáveis e comprováveis, obtidas através de procedimentos replicáveis.

Integridade: Integridade na identificação e manifestação de conflitos de interesse, reais e/ou


potenciais, e no cumprimento de todos os requisitos éticos e legais em relação à respetiva área de
investigação. O policial e/ou pesquisador deverá prever procedimentos que assegurem a
confidencialidade e a privacidade, a proteção da imagem e a não estigmatização, garantindo a
não utilização das informações em prejuízo das pessoas e/ou das comunidades, inclusive em
termos de auto-estima, de prestígio e/ou econômico financeiro.

15
CAPITULO III: CONCLUSÃO

Após debruçarmo-nos sobre o tema em alusão, chegamos a seguinte conclusão.

A atuação policial e/ou dos investigadores na investigação criminal deve ser guiada pela lei e
pelo respeito aos direitos humanos. Estes agentes não podem invadir a privacidade dos cidadãos
ou usar técnicas coercitivas ou abusivas para obter informações.

Os limites da atuação dos agentes na investigação criminal incluem o uso proibido de tortura ou
maus tratos, prisões arbitrárias, detenções ilegais, buscas e apreensões ilegais e execuções
sumárias.

O abuso de autoridade da polícia também é proibido. As leis devem ser cumpridas rigorosamente
para garantir que os direitos dos indivíduos sejam protegidos e que as investigações sejam
realizadas de forma justa, imparcial e adequada.

Os agentes em causa devem seguir as normas estabelecidas pelas autoridades locais, bem como
as leis e regulamentações internacionais de direitos humanos.

É nesta senda que em resposta ao objectivo geral, identificamos diversas técnicas especiais de
investigação do crime organizado e do terrorismo e destacamos as seguintes: Acções encobertas;
Gestão e controlo de colaboradores; Protecção de testemunhas; Entregas controladas;
Seguimento e vigilância electrónica; e Intercepção de comunicações.

No que tange aos objectivos específicos, procuramos esclarecer que o fundamento do emprego
das técnicas especiais na investigação do crime organizado e do terrorismo basearam-se numa
descrição detalhada e fundamentada em relação as técnicas especiais, a investigação criminal, o
crime organizado e o terrorismo e por último, não menos importante, por forma a atingir os
limites da investigação criminal, o grupo encontrou o seu fundamento nos Direitos Humanos e
na Ética.

16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Durkheim, E. (1987). As Regras do Método Sociológico. 13.ed. São Paulo: Nacional, (Texto
originalmente publicado em 1985).

Sintra, A. (2010) Técnicas Especiais de Investigação Criminal: Factor de Segurança. Lusíadas.

Tzu, S. (1974). A Arte da Guerra. Tradução de Pedro Cardoso, Editora Futura. Lisboa.

Camões, L. V. (1981). Lusíadas, Canto VIII, 89, I Volume, 6.ª Edição, Círculo de Leitores.
Lisboa.

https://www.galvaoesilva.com/os-limites-da-atuacao-policial-na-investigacao-criminal/

Legislação

Código de Processo Penal (Lei nº. 25/2019, de 26 de Dezembro).

Lei de Prevenção e Combate ao Branqueamento de Capitais e Financiamento ao Terrorismo (Lei


nº. 11/2022, de 07 de Julho).

Instrumentos Internacionais de Direitos Humanos

Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH).


Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP).

17

Você também pode gostar