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COMARCA DE FRANCA - SP
Nome, brasileiro, viú vo, analfabeto, aposentado, com 76 anos de idade, portador do RG:
00000-00e inscrito no CPF 000.000.000-00, residente e domiciliado à Endereçobairro Sã o
Luiz II, REPRESENTADO POR SUA IRMÃ E CURADORA PROVISÓ RIA, Nome, brasileira,
casada, aposentada, portadora do RG 00000-00e inscrita no CPF 000.000.000-00, residente
e domiciliada na Endereço, Jardim City Petró polis, nesta cidade, por suas advogadas infra-
assinadas, vem respeitosamente perante Vossa Excelência com fundamento nos artigos
166, 171, e seguintes do CC e art. 560 do CPC, propor a presente:
AÇÃ O DE ANULAÇÃ O/NULIDADE DE NEGÓ CIO JURÍDICO C/C DANOS MORAIS E
MATERIAIS E LIMINAR DE REINTEGRAÇÃ O/MANUTENÇÃ O DE POSSE
Em face de RENATA NomeGABRIEL IPÓ LITO , brasileira, casada, portadora do RG 00000-
00e inscrita no CPF sob nº 000.000.000-00, residente e domiciliada na EndereçoCEP
00000-000, pelos motivos de fato e de direito que passa a expor:
Prioridade de Tramitaçã o
O requerente possui nesta data 76 anos conforme identidade em anexo. Deste modo
preenche os requisitos para tramitaçã o prioritá ria do feito segundo artigo 71 do Estatuto
do Idoso, e o inciso I do artigo 1.048 do CPC.
Justiça Gratuita
Requer a concessã o dos benefícios da justiça gratuita ao autor, uma vez que nã o pode
suportar as custas e despesas processuais sem prejuízo de seu pró prio sustento.
DOS FATOS
No dia 06 de março de 2018 o autor fez uma doaçã o de nua propriedade com reserva de
usufruto vitalício, de seu ú nico imó vel registrado sob matricula nº 48.645, situado na
cidade de Franca na Endereçoº Tabeliã o de Notas e Protestos de Letras e Títulos de Franca,
para a donatá ria e requerida RENATA NomeGABRIEL IPÓ LITO conforme documento anexo.
Acontece que o fraudulento negó cio jurídico foi celebrado em desfavor de pessoa que nã o
estava em gozo de plenas faculdades mentais, além de ser induzido por pessoa que age com
má -fé, perpetrando ilícitos para obter vantagens econô micas, conforme adiante será
esclarecido.
Em fevereiro de 2018 a requerida Nomeaproximou-se do idoso, "ofertando-lhe ajuda", e
desde entã o passou a frequentar sua residência. Segundo a Sra. Nome(irmã do autor),
Nomeé pessoa desconhecida, nã o tem qualquer ligaçã o com o idoso e que apenas há muitos
anos atrá s foi vizinha deste, mas sequer mantinham relaçã o de amizade. A idosa, apó s
encontrá -la na residência do irmã o, pediu que ela se afastasse, mas a mesma se opô s
dizendo que estava ajudando o idoso por "caridade" e que continuaria se encontrando com
o mesmo.
Ocorre que a REQUERIDA aproveitou-se da condiçã o mental do Sr. Nomepara seduzi-lo e
enganá -lo, manejando uma doaçã o eivada de vícios de seu ú nico bem, além de apropriar-se
da sua aposentadoria, do aluguel recebido de seu inquilino, em prejuízo da pró pria
subsistência do autor.
A requerida Nomelevou o idoso na Instituiçã o Bancá ria onde este recebe a aposentadoria e
lá conseguiu a emissã o de novo cartã o magnético e nova senha, e realizou saques da conta
bancá ria e usou o cartã o de débito para gastos pessoais como abastecimento de veículo,
conforme extrato anexo.
Além dos valores acima, foi dado falta de um aparelho televisor, do telefone celular do
idoso e de uma correntinha de ouro usada por este, conforme descrito no Boletim de
Ocorrência de nº 512/2018, anexo aos autos.
Desde a aproximaçã o da requerida com o autor foi observado pelos vizinhos e pela família
que esta estava agindo de má -fé, pois dificultava o contato da irmã (Nome) com o pró prio
idoso; sendo que as fechaduras do imó vel foram trocadas porque a irmã do idoso tinha as
chaves. Em uma das tentativas de visitá -lo para levá - lo a uma consulta médica, a irmã teve
que solicitar o auxílio da Policia Militar, pois o autor estava trancado dentro do imó vel
sozinho.
A Requerida também solicitou ao Inquilino de uma residência localizada nos fundos do
terreno do imó vel em questã o, que os pagamentos dos aluguéis (no valor de R$ 00.000,00)
fossem feitos somente para ela. Posto isto, os aluguéis referentes aos meses de março em
diante foram recebidos por Nomee nã o foram repassados ao idoso até a presente data.
Cumpre ressaltar, que se trata de pessoa idosa em situaçã o de vulnerabilidade, que desde a
morte de sua esposa há 8 anos reside sozinho; o mesmo nã o constitui filhos, tendo como
parente mais pró ximo somente sua irmã de 77 anos, a Sra. Nome.
Importante ressaltar que o autor é analfabeto, possui surdez considerá vel, além de fazer
tratamento para depressã o e doença degenerativa (Parkinson) desde 2014, conforme
prontuá rio clínico em anexo.
O AUTOR é acompanhado pelo CRAS com uma assistente social, que o aconselhou a morar
com a irmã Nome, mas o mesmo se recusou.
Relata a irmã do idoso que devido à idade avançada e os problemas neuroló gicos, que este
nã o possui total discernimento para os atos civis até mesmo para atos corriqueiros, como
fazer o pagamento de contas, ir ao banco e ao supermercado. Relata ainda, que a mesma o
acompanha nas consultas médicas e o auxilia na rotina da casa, mas devido a distâ ncia que
moram um do outro e pela razã o da Sra. Nometambém ser pessoa idosa, é difícil o
acompanhamento diá rio.
O idoso apresenta picos de lucidez, e relatou a irmã que se arrependeu da doaçã o e está se
sentindo enganado, pois Nomefez promessas de manter relaçõ es sexuais com ele . Diante
do arrependimento, a família o levou até o cartó rio para revogar a doaçã o, mas foram
informados da necessidade de consentimento da donatá ria Nomeou que a revogaçã o fosse
feita mediante Açã o Judicial.
Desta forma, no dia 09/04/18 o caso foi representado diretamente no Ministério Pú blico,
onde foi instaurado processo sob nº 2076/2018, representaçã o que pleiteava entre outros
pedidos, a determinaçã o de medidas protetivas ao autor em analogia a Lei Nomeda Penha,
nos seguintes termos:
1 - para o afastamento da requerida da residência do autor;
2 - a proibição da requerida em manter contato com testemunhas (vizinhos) e com a família do idoso;
3- a proibição de contato e aproximação do idoso de no mínimo 100 metros.
Acontece que a situaçã o se agravou, uma vez que a integridade física do autor estava em
risco, pois este faz uso de medicamentos controlados, e nã o se sabia se estavam sendo
ministrados corretamente. O mesmo já fora encontrado aparentemente dopado e
"babando" e em outra ocasiã o já se encontrava cada vez mais debilitado e alimentando-se
por sonda nasal.
O autor se opunha em deixar a residência justificando que "estava com medo de perder a
casa", isso tudo porque Nome, aproveitando-se de sua falta de discernimento, exerceu forte
influência sobre ele de forma a amedrontá -lo, dizendo "que se um dia deixa-se a residência
para morar com sua irmã , nunca mais seria possível a sua volta" . Tanto é, que nas
tentativas da irmã em buscá -lo, a Nomeestava sempre presente e impedia a sua saída
repetindo por vá rias vezes o que fora citado acima.
Diante da demora na concessã o das medidas protetivas para afastamento da
requerida/Nome e do grave risco que o idoso estava sofrendo, pois sua residência estava
sendo frequentada por estranhos, foi ajuizada açã o para interdiçã o civil do mesmo, sendo
concedida a curatela provisó ria a sua irmã conforme processo de nº 1008077-
48.2018.8.26.0196 e despacho em anexo.
Apó s a interdiçã o, no dia 04/06/2018 a irmã do autor foi até sua residência para buscá -lo.
Acontece que Nomeestava no local e tentou impedir que o autor fosse levado, mesmo ciente
da interdiçã o civil. Além do mais, Nomeem determinado momento foi em direçã o a Sra.
Nome, aparentando que iria empurrá -la, mas que foi contida pela nora desta. Neste
momento Nomefez ameaças dizendo: "Nã o vou fazer nada com você nã o, mas vou mandar
uns moleques na sua casa, rachar você no meio!"(sic) e "Vou te pegar" conforme Boletim de
Ocorrência anexo.
A partir desta data o autor passou a residir com sua irmã , e novo cartã o para recebimento
da aposentadoria foi retirado por esta. Ocorre que no dia 07/06/18 a requerida
acompanhada de um terceiro, esteve na porta da residência da Sra. Nome, com o intuito de
buscar o autor e de aterrorizar a Sra. Nome. Houve interferência policial que solicitou que
Nomese retirasse do local.
Cumpre ainda esclarecer que foi informado por esta promotoria, que já existe um P. A.
(5218/2015) contra Nome, na qual se requereu a anulaçã o do casamento com outro idoso
(Joã o Ipó lito) com a justificativa que esta também o teria induzido e enganado. Há também
uma açã o judicial neste sentido, que esta em segredo de justiça, conforme processo nº
1021495-24.2016.8.26.0196.
Além disso, conforme relato da pró pria promotoria, a requerida é pessoa inidô nea, que
mantém casa (bar) frequentado por prostitutas (conforme notícia anexada aos autos),
cujos antecedentes evidenciam a má -fé da aproximaçã o com o autor.
Contudo, a requerida Nomeresiste em ficar na residência mesmo apó s a saída do autor.
Resiste ainda, em devolver os documentos pessoais do autor (RG, CPF e outros) além de
dificultar que a irmã busque os pertences pessoais do deste que ainda guarnecem a
residência.
DO DIREITO
1. DA FALTA DE DISCERNIMENTO
Compreende-se como alienaçã o mental qualquer distú rbio que possa afetar a vida civil do
indivíduo, gerando uma incapacidade em razã o do seu estado psíquico. Deste modo, uma
vez constatada uma anomalia mental, o individuo pode ser considerado incapaz para os
atos da vida civil, ainda que por motivo transitó rio.
No caso em tela, a senilidade vem acompanhada de um estado mental patoló gico. Isto se
deve ao uso controlado do medicamento SERTRALINA e DIAZEPAM para o tratamento de
depressã o em conjunto do medicamento AMANTADINA para o tratamento do Parkinson
como também pela idade avançada.
Segundo os médicos, a demência se desenvolve no curso da doença de Parkinson quando já
esta estabelecida em seus estados mais graves. Conforme site oficial da Anvisa 1 , o
medicamento AMANTADINA apresenta os seguintes efeitos colaterais que afetam o estado
psíquico do paciente:
"(...) náuseas, tontura, insônias, episódios depressivos, irritabilidade, alucinações, confusão, (...) nervosismo,
alterações dos sonhos, agitação, diarreia e fadiga. (...) Outras reações adversas já relatadas incluem: Sistema
Nervoso Central: coma, estupor, delírios, diminuição dos movimentos, contratura de músculo, comportamento
agressivo, mania de perseguição, euforia, movimentos involuntários anormais, anormalidades da marcha,
formigamentos, tremores e alterações no eletroencefalograma. A interrupção abrupta do tratamento pode
desencadear alguns desses sintomas."
In casu, é evidente que a donatá ria se beneficiou da condiçã o mental do autor para
conseguir a casa em doaçã o, além de usufruir de valores de sua aposentadoria e alugueres,
indispensá veis para sua sobrevivência. Na ocasiã o, aproveitou-se de forma oportunistas de
todas as possibilidades de enriquecer-se ilicitamente o que deflagra a nulidade do ato
jurídico em questã o.
2 Disponível em:
2 DA ANULAÇÃ O/NULIDADE DO NEGÓ CIO JURÍDICO
O idoso, analfabeto e que a época estava com 75 anos, nã o apresentava saú de mental que
lhe permitisse discernir os atos que estava praticando e suas consequências. Tanto é que o
idoso em certos momentos relata que "é o dono do imó vel" e nã o entende que passou a
propriedade do imó vel à requerida e em outros momentos, diz que se arrependeu da
doaçã o e que quer o imó vel novamente.
Conforme artigo 166 do CC, poderá ser decretada a nulidade do negocio jurídico no caso de
pessoa absolutamente incapaz:
"Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;"
Além disso, pode ser considerado anulá vel o negó cio, conforme as seguintes hipó teses
demonstradas 3 :
• Serã o anulá veis os negó cios se:
a) praticados por pessoa relativamente incapaz ( CC, art. 4º) sem a devida assistência de seus legítimos
representantes legais ( CC, art. 1.634, V);
b) viciados por erro (RT, 555:86, 804:214), dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores ( CC,
arts. 138 a 165);
c) a lei assim o declarar, tendo em vista a situação particular em que se encontra determinada pessoa ( CC, art.
1.650).
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente; II - por vício resultante de erro, dolo, coaçã o,
estado de perigo, lesã o ou fraude contra credores.
Neste sentido, já decidiu o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Sã o Paulo:
"Ação de anulação de ato jurídico cumulada com pedido de antecipação de tutela - Alegação de que o casal de
doadores não tinha capacidade para a prática do ato - Casal que estava sendo atendido pelo Creas quase um ano
antes da doação - Relatórios atestando as precárias condições em que o casal vivia indicando pouca capacidade de
discernimento - Casal que mantinha grande soma de dinheiro em conta bancária e desconhecia o poder de compra
daqueles valores - Relatório demonstrando que o casal não tinha ciência da doação mesmo após a realização do
ato - Ação de interdição ajuizada antes da doação - Realização do ato por escritura pública que não afasta a
possibilidade de avaliação da capacidade de discernimento dos doadores - Capacidade afastada - Doação
declarada nula - Sentença de procedência confirmada - Recurso não provido.
(TJ-SP 00064636320148260358 SP 0006463- 63.2014.8.26.0358, Relator: Marcia Dalla Déa Barone, Data de
Julgamento: 13/03/2018, 3a Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 13/03/2018)
Ocorre que no caso em tela, o doador e autor da presente açã o, apesar de a época do
negó cio jurídico nã o estar interditado, é nítido que estava incapacitado para prá tica dos
atos civis, uma vez que desde 2014 já apresentava a doença de Parkinson, bem como já
fazia tratamento para depressã o e utilizava medicamentos controlados (Amantadina,
Diazepam e Sertralina) . Já decidiu o STJ em caso semelhante pela retroatividade dos efeitos
da interdiçã o para anular os negó cios jurídicos realizados antes mesmo da sentença de
interdiçã o, conforme jurisprudência a seguir:
"Negócio jurídico Doação de bem imóvel - Ato realizado por idoso, octogenário, analfabeto, com surdez
importante e portador de transtornos depressivos. Posterior decreto de interdição do doador por incapacidade
absoluta . Laudo pericial que estimou o período de surgimento da doença. Causa da incapacidade já existente
quando da celebração do ato - Nulidade do negócio jurídico reconhecida por afronta a regra de ordem pública.
Decisão reformada. Recurso provido para julgar a ação procedente. Não é a interdição que retira da pessoa o
discernimento, nem é ela, portanto, que o faz incapaz. A interdição declara o que já existe, ou seja, o déficit mental
da pessoa. A nulidade dos atos praticados por pessoa incapaz pode ser decretada, esteja ou não declarada
judicialmente a interdição, desde que praticados quando já existente a causa da incapacidade civil. (Agravo de
Instrumento nº 0025137-10.2002.8.26.0003.Orgão julgador: 3º Câmara de Direito Privado. Data do julgamento:
27/09/2011.Fonte: STJ)"
O efeito ex tunc já foi reconhecido para nulidade de Escritura Pú blica de Doaçã o, de pessoa
idosa acometida de doença degenerativa, em perfeita sintonia com a hipó tese dos autos,
conforme jurisprudência a seguir:
EMENTA: DUPLO RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ATO JURÍDICO
(ESCRITURAS PÚBLICAS) C/C REINTEGRAÇÃO DE POSSE COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA .
INCAPACIDADE ABSOLUTA DO AUTOR. DOENÇA MENTAL DEGENERATIVA INCURÁVEL (MAL DE ALZHEIMER).
CONTEXTO PROBATÓRIO. PROVA DA INCAPACIDADE ANTERIOR À SENTENÇA DE INTERDIÇÃO.
CONTEMPORANEIDADE DOS ATOS JURÍDICOS E A INCAPACIDADE ABSOLUTA . EFEITO EX TUNC. NULIDADE
PARCIALMENTE RECONHECIDA DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS. PRESERVAÇÃO DO INTERESSE DE TERCEIROS À ÉPOCA
MAIS REMOTA. PRINCÍPIOS DA BOA FÉ E DA SEGURANÇA JURÍDICA. AUSÊNCIA DE PROVA INEQUÍVOCA, ROBUSTA
E CONVINCENTE DA INCAPACIDADE DO INTERDITADO. SIMULAÇÃO NÃO COMPROVADA. RECURSOS CONHECIDOS
E DESPROVIDOS. SENTENÇA INTACTA.
1. Os negócios jurídicos celebrados por pessoa absolutamente incapaz são nulos, ainda que não decretada
judicialmente sua interdição. Como a incapacidade preexiste, possível intentar ação anulatória dos atos praticados
anteriormente à sentença, devendo-se, no entanto, provar a incapacidade àquela época. Extrai-se do contexto
probatório, provas contundentes que o interditado, desde então, não detinha condições cognitivas plenas de gerir
seus bens e sua pessoa, corroborado por laudo médico atestando o comprometimento de seu juízo crítico. 2. Das
provas documentais coligidas, de fato, o Autor era absolutamente incapaz, à época em que celebrou os negócios
jurídicos em questão, porquanto estes foram realizados à época da constatação de sua debilidade psíquica e
decretação de interdição. Tem, portanto, eficácia ex tunc. 3. Há necessidade de se resguardar o direito de terceiros
de boa-fé, atento ao princípio da segurança jurídica, frente à negativa de reconhecimento de nulidade dos demais
negócios jurídicos, praticados à época mais remota à sentença de interdição, o que in casu, reclama prova
inequívoca, robusta e convincente da incapacidade do interditado, estas, ausentes nos autos. Precedentes do STF e
STJ. RECURSOS CONHECIDOS E DESPROVIDOS. APELAÇÃO CÍVEL Nº 3092-88.2010.8.09.0040 (201090030924)
3 - DA REINTEGRAÇÃO DE POSSE
Como se nã o bastasse, a requerida se recusa a sair do imó vel, impedindo que o autor possa
viver nele livremente, e ainda recebe os alugueis do inquilino prejudicando a subsistência
do autor.
O Có digo Civil assegura a todo aquele que tiver sido privado de sua posse, injustamente,
por violência, clandestinidade ou precariedade, o direito de nela ser restituído, isto posto,
vejamos:
"Art. 1196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes
inerentes à propriedade".
"Art. 1210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e
segurado de violência iminente, se tiver justo receito de ser molestado".
Cumpre salientar, que os pertences do autor permanecem no imó vel, o que justifica a posse
direta do imó vel por este, nos termos do artigo 1.209 do CC"A posse do imó vel faz
presumir, até prova contrá ria, a das coisas mó veis que nele estiverem".
A posse do imó vel acerca do qual se funda a demanda está devidamente comprovada
também pela certidã o anexa, expedida pelo cartó rio de registro de imó veis de Franca/SP,
atestando a regularidade do registro do imó vel em nome do autor da presente açã o
(matrícula do imó vel - nº. 48.645), documento que, segundo a jurisprudência, é bastante
para tal finalidade:
"(...) IMÓVEL. PROPRIEDADE. REGISTRO (...) A propriedade de bem imóvel se dá através da certidão do cartório de
registro de imóveis do respectivo imóvel"(TJMG, proc. 1.0024.10.184017, Rel. Des. Antônio Bispo, DJ de
07/07/2014).
O Có digo de Processo Civil, por sua vez, confirma a vontade do legislador conferindo ao
possuidor esbulhado o direito de ser reintegrado na posse perdida injustamente, in verbis:
"Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e reintegrado no de esbulho".
"Art. 561 - Incumbe ao autor provar: I - a sua posse; II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; III - a data da
turbação ou do esbulho; IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção a perda da posse
na ação de reintegração."
O esbulho sofrido está devidamente caracterizado pelos fatos acima narrados, que poderã o
ser comprovados pelas testemunhas durante a instruçã o processual.
A saída do autor de sua residência se deu devido a curatela, a necessidade de cuidados e
diante da ameaça a sua integridade física. O que nã o dá o direito a donatá ria e requerida
que frequente, se instale no imó vel, e passe a usufruir dos pertences que o guarnecem, nem
mesmo dos frutos percebidos dos aluguéis. Neste sentido, o E. Tribunal de Minas Gerais
entende que:
AÇÃO POSSESSÓRIA. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. ABANDONO DO IMÓVEL. LIMINAR. PRESENÇA DOS REQUISITOS. A
simples ausência dos possuidores do imóvel, mesmo que prolongada, não caracteriza o seu abandono. Presentes
os requisitos do artigo 927 do CPC, quais sejam, a sua posse, o esbulho praticado pelo
Agravante, bem como a data da perda da posse, concomitantemente com os requisitos da fumaça do bom direito
e do perigo da demora, é de se confirmar a liminar de reintegração. Agravo não provido. (AGRAVO Nº
1.0687.00000-00/001, 10a Câmara Cível, Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Relator: Des. Cabral da Silva, Data do
Julgamento 19/02/2008)
O periculum in mora se evidência diante da má -fé da requerida, que desde o inicio de sua
aproximaçã o prejudicou o autor e na iminência de outros atos que possam vir a prejudicá -
lo, de forma irrepará vel, se esta continuar frequentado o imó vel.
O direito a indenizaçã o é assegurado pelo artigo 5º, inciso X da Constituiçã o Federal, bem
como o Có digo Civil nos artigos 186 e 927 estabelecem que aquele que violar direito e
causar um dano patrimonial, bem como moral comete ato ilícito. Sendo assim, será
obrigado a repará -los.
A obrigaçã o da requerida Nomese estende além dos danos morais, ao pagamento dos danos
materiais. Os valores apropriados ilicitamente do Sr. Nomecompreendem o montante de R$
00.000,00sendo os seguintes valores:
- Saque da aposentadoria dos meses de março a junho no valor total de R$ 00.000,00;
- Aluguel recebido referente aos meses de março até junho, sendo o valor de total R$
00.000,00;
- Valor de R$ 00.000,00referentes à Certidã o da Escritura Pú blica de Doaçã o que a irmã
teve que despender para o ajuizamento da presente açã o;
- Valor de R$ 00.000,00referentes à Certidã o atualizada da matrícula do imó vel.
DOS PEDIDOS
Diante o exposto, requer:
1 - A concessã o de prioridade na tramitaçã o do feito conforme artigo
71 do Estatuto do Idoso;
2 - Seja deferida justiça gratuita ao autor conforme autoriza a
Constituiçã o Federal, e nos termos da lei a Lei nº 1060/50;
3 - A concessã o, inaudita altera pars, da tutela de urgência nos
termos do art. 300 e seguintes do CPC, para:
3.1 - Determinar a prénotaçã o na matrícula do imó vel nº 48.645, o bloqueio proveniente de
ordem judicial, evitando-se que a requerida Nomefaça a averbaçã o da doaçã o e para que se
evite a alienaçã o do imó vel em discussã o, a fim também de resguardar terceiro de boa-fé,
nos termos do artigo 615-A do CPC;
3.2 - que seja o autor reintegrado/mantido na posse do imó vel situado à EndereçoCEP
00000-000, pois como demonstrado é de sua propriedade e o requerente jamais deixou de
zelar por ele, com ordem para desocupaçã o do imó vel por parte da REQUERIDA;
4 - A citaçã o da REQUERIDA por Oficial de Justiça, para que,
querendo, apresente a defesa que entender cabível, no prazo de 15 dias sob pena de
revelia;
5 - A intimaçã o o Ministério Pú blico para que intervenha em todas
as fases desta demanda, em cumprimento do artigo 178, Inc II CPC;
6 - Seja julgado procedente a presente açã o, declarando a nulidade
da doaçã o efetivada através da escritura pú blica lavrada no dia 06/03/2018 no 2º Tabeliã o
de Notas e de Protestos de Letras e Títulos de Franca, no livro de nº 1443 à s fls. 309,
referente a matrícula imobiliá ria nº 48.645;
7 - Requer a condenaçã o de Nomeà indenizaçã o dos danos
morais por eles suportados, em quantia a ser estipulada pelo juiz, com base em todo o
exposto, bem como aos danos matérias no valor de R$ 00.000,00;
8 - A condenaçã o da requerida no pagamento das custas e despesas
processuais, e honorá rios de sucumbência;
9 - Requer ainda, o julgamento antecipado da lide, nos termos artigo
355 do CPC, por se tratar de questã o preponderante de direito, cujo os fatos e documentos
juntados aos autos sã o satisfató rios para prestaçã o jurisdicional em face das circunstancias
do caso.
Protesta provar por todos os meios de prova admitidos.
Dá -se a causa o valor de R$ 00.000,00- considerando o valor venal de R$ 00.000,00do
imó vel e valor dos danos morais).
Termos em que,
Pede deferimento. Franca, 06 de julho de 2018.
Nome
00.000 OAB/UF
Nome
00.000 OAB/UF