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Resumo – Português | Beatriz Dias 12ºDP-AE

De facto, a sustentabilidade tem como intuito lutar contra problemas ambientais,


económicos e sociais a que a área da arquitetura e construção faz sujeitar, como por exemplo
o consumo de energia e matérias-primas e a produção de resíduos. É importante ter em conta
procurar soluções construtivas mais eficientes, não rejeitando os condicionalismos que cada
local de construção apresenta, como é o caso do clima, geologia, economia e cultura. Sendo
assim, a arquitetura vernácula surge como solução para os problemas designados
anteriormente, tendo como principal propósito estabelecer uma relação harmoniosa com o
meio envolvente, que, neste caso, é a natureza.

Este tipo de arquitetura, que é pouco abrasiva para o ambiente e, por isso, é
pertinente utilizá-la em contextos atuais, caracteriza-se pela sua simplicidade, funcionamento
passivo e a fácil adaptação ao meio a que foi inserida. Um projeto de construção só pode ser
considerado como sustentável quando o mesmo respeita todas as dimensões da
sustentabilidade, isto é, as ambientais, económicas, culturais e sociais.

Visto isto, é pertinente observar as estratégias que a arquitetura vernácula portuguesa


adota, no que toca à sustentabilidade. Dentro da arquitetura popular de Portugal encontram-
se aspetos como a utilização de materiais naturais da região onde irá ser feita a construção,
sistemas construtivos artesanais, adaptação às condições climáticas, económicas e costumes
das comunidades. Devido à carência de tecnologia, são adotadas soluções passivas de
ventilação e climatização, dando o exemplo da utilização de estratégias solares para reduzir o
desperdício e o consumo energético. Tendo em consideração a arquitetura contemporânea,
dever-se-á relacionar o moderno com o tradicional, procurando sempre incorporar materiais
inteligentes com materiais tradicionais.

É notável que cada localidade portuguesa tem uma identidade arquitetónica única, isto
é, aspetos topográficos, geológicos e climáticos diferem de região para região. Por esse mesmo
motivo, dá-se origem a diferentes estratégias construtivas utilizadas de acordo com o local em
que a edificação vai estar situada. É essencial ter em conta princípios como a gestão territorial
e utilização do solo, as estratégias passivas de climatização, o uso de materiais e sistemas
construtivos tradicionais, o uso de energias renováveis e a recolha e aproveitamento de águas
pluviais.

Em primeiro lugar, é essencial gerir o território da forma mais organizada possível,


devido à ocupação que a edificação irá ter, isto é, em termos de uso do solo e para melhor
praticar atividades económicas, como por exemplo a agricultura. No Minho, região de baixa
altitude, a construção de habitações é feita em encostas de declive mais acentuado, onde se
encontram solos de má qualidade e era difícil transportar água. Neste sentido, os solos mais
férteis, que não são muito abundantes nesta região, eram poupados para o cultivo de milho. Já
em Trás-os-Montes, região de elevada altitude de climas rigorosos, as aldeias situam-se ao
redor de terrenos de pastagem solos pobres, isto é, pedregosos, devido ao cultivo de centeio.
É também tido em conta as influências climáticas a que as regiões estão sujeitas, como é o
caso da aldeia de Montes, onde as edificações situavam-se em vales, na meia encosta
orientada a sul, onde havia muito proveito solar.

Em segundo lugar, é crucial que todas as edificações tenham uma boa orientação solar,
já que este tipo de energia influencia o desempenho e conforto térmico. Em regiões de clima
frio, deverá ser aproveitada a energia solar, podendo isto ser feito, como por exemplo, através
da construção de encostas viradas para o sul e da utilização de varandas de vidro, também
mais conhecidas por varandas beirãs, que permitem um melhor armazenamento solar. Em
climas quentes, os edifícios necessitam de reduzir as emissões de calor, sendo isto feito
através da utilização da moldura dos vãos como solução de sombreamento, com a utilização
de caiação e de taipa, devido à sua elevada inércia térmica e higroscópica, o uso de trepadeiras
e plantas aplicadas em pérgulas e latadas, a utilização de superfícies exteriores claras, pátios e
alpendres.

Em terceiro lugar, são usados materiais de cariz tradicionais e, principalmente,


característicos da região em que a edificação vai ser implementada, para evitar elevados
custos construtivos, como é o caso do transporte de matéria-prima. Visto isto, outras
vantagens que a utilização deste tipo de materiais traz é o baixo gasto de energia, redução de
emissões de dióxido de carbono, um longo ciclo de vida e uma baixa manutenção.
Exemplificando, o granito e o xisto podem ser encontrados em zonas montanhosas, onde os
materiais pétreos existem com mais abundância. No caso dos materiais referidos
anteriormente, o granito é aplicado nas vergas e cunhais e o xisto nas paredes.

Em quarto lugar, dever-se-ão aproveitar energias renováveis, como é o caso do vento,


dos rios e das marés. Executados tanto em alvenaria de pedra como em madeira, os moinhos
de maré, que são mais comuns nos arquipélagos da Madeira e Açores, funcionam em função
da força da água, que irá parar ao mar. A utilização deste elemento, tanto de vento como de
água e maré, ajuda no aproveitamento energético existente em locais onde se predomina
bastantes recursos hídricos.

Por último, poderá ser feita a recolha e aproveitamento de águas pluviais, que tanto
pode ser usada para consumo doméstico como para a área da agricultura. Em regiões onde
existe escassez de recursos hídricos, são utilizados sistemas que captam e armazenam água,
como é o caso da cisterna, das caleiras construídas sob beirados ou inseridas em paredes e do
eirado.

Concluindo, a arquitetura vernácula portuguesa ainda tem um papel fundamental nos


dias de hoje, já que este tipo de construção tem as soluções para atingir uma arquitetura mais
sustentável. Tendo em conta os princípios de sustentabilidade construtivos, será possível
enfrentar os desafios que os problemas ambientais trazem.

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