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Edirores Associados
Caetano Ernesto Plastíno (USP) , Marcus Vinicius Cunha (Unesp, Araraquara),
Pedro Pagni (Unesp, Marília), Sílvio Oallo (Unicarnp), Raquel Moraes (UnB), H istória da Educação
Tarso Bonilha Mazorti (UFRJ), Sofia Stcin(UFGO), Srclla Aecorinti (Argentina)
Revisdo de provas
Daniel Seidl Eliane Marta Teixeira topes
Projero gráfico e diagramação
Maria Gabriela Delgado Ana Maria de Oliveira Galvão
Capa e gerência de produção
Rodrigo Murtinho
CIP-BRASIL.Catalogaçâo-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
851h
Lopcs, Eliane Marta Teixeira
História da Educação / Elíane Marta Teixcira Lopes, Ana Maria de Oliveira
Galvão. - Rio de janeíro: DP&A, 2001 .
. - (O que você precisa saber sobre)
14 x 21 em
120p.
Inclui bibliografia
ISBN: 85-7490-095-8
I. Educação - História. l. Galvão, Ana Maria de Oliveira. 11.Tüulo II I. Série.
C00370.9 ~
COU 37(091) DP&A
edit:c>ra.
Introdução
possibilitar, por similitude e diferença, uma maior compreensão a pedagogia, a didática, o trabalho cotidiano da sala de aula,
de si próprio e de sua cultura. O contato com o "outro" pode da escola exigem respostas ... rápidas, diretas ... Podemos
nos mostrar o quanto somos universais e, ao mesmo tempo, argumentar, entretanto, que tantas vezes mudaram os currículos,
particulares. Podemos acrescentar à história e às viagens muitas mudaram os professores, mudaram as leis... e muito do que se
outras coisas (o cinema, o teatro, a literatura, a conversa com foi permanece. A história nos permite ver que, em outros lugares,
pessoas e grupos diferentes de nós - em idade, classe, raça/etnía, culturas e em outras épocas, ou aqui perto de nós, a educação,
gênero). No encontro com personagens e paisagens que não são de modo geral, e a escola, em particular, têm mudado,
aquelas em que estamos imer os cotidianamente, deparamo- mas parecem manter alguns elementos intocados que,
nos com um mundo diferente, original e, ao mesmo tempo, com surpreendentemente, são os mesmos, aqui, em 2001, lá, em 1915.
o familiar, com o universal. Cabe-nos a sensibilidade, a disposição A História, dessa forma, ajuda-nos a olhar nossa realidade com
e a disponibilidade para, comparando, analisando, interpretando, paciência: afinal, as coisas demoram muito a mudar ... Às vezes
descobrir os quês e os porquês de outras épocas, de outros lugares, é preciso esperar duas ou três gerações para que uma inovação
que, a um só tempo, parecem tão próximos e tão distantes educacional se estabeleça.
daquilo com que lidamos a cada dia.
As práticas escolares repetem-se ao longo dos tempos e dos
A disposição para se fazer história, ou para se ler o mundo espaços, com diferenças que sugerem as "variações-sobre-um-
como um dispositivo historiador, parte, antes de mais nada, tema", como fizeram alguns compositores. Tal como se
de uma disposição radical para ler, ver, ouvir e contar ... o outro. folheássemos um livro de figuras: o pedagogo que leva o menino
Imersos em um presente que faz indagações, impõe questões, a algum lugar, mãos dadas, olhos nos olhos, ensina. Vemos um
sugere temáticas, os pesquisadores atentos formulam clérigo e meninos com tabuinhas apoiadas no colo, assentados
problemáticas para a história: o que se fazia, por que se fazia, em um banquinho, onde não há quadro-negro, nem verde; jovens
quem fazia, como se fazia alguma coisa em determinada época e rapazes lotam um anfiteatro e acenam lenços e chapéus para o
em uma sociedade específica?
mestre posto em uma cátedra brandindo um livro e a palavra;
Por outro lado, a História, em princípio, é um saber inútil, meninas uniformizadas em fila, saias compridas, blusas brancas
do ponto de vista pragmático. Há quase um século, tem deixado, engomadas e ornadas de fitas e cruzes sob o comando da
paulatinamente, de julgar o passado e tentar dele extrair lições professora-freira em longos e severos trajes negros. A sala não
para o presente e para o futuro. No limite, tem contribuído para tem mais do que o piso de terra, os caixotes servem de apoio aos
qu ntendamos um pouco mais, juntamente com outras formas papéis, a variação das idades é mostrada pela diferença de altura,
de xplicação da realidade, o que o presente insistentemente à frente uma professora que podia ter a idade de qualquer um
nos coloca como problema: um gesto, um modo de pensar, uma deles; vinte computadores, vinte crianças limpas, empolgadas
maneira de raciocinar, uma forma de agir... com as imagens e um professor que tenta encantá-Ias - injusta
Talvez por isso muitas vezes alunos, alunas, professores e competição.
professoras têm dificuldades em responder "para que serve a Um professor, uma professora, atrás de uma mesa, lê um livro
História" e, particularmente, a História da Educação. Afinal, e os olhares das crianças parecem vaguear; um aluno boceja,
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INTRODUÇÃO 19
de estética, inclusive pedagógicas, e nessas escolas e tarão religiosos e a Igreja Católica é obrigada a admitir o protesto.
presentes. A preocupação com a educação na Idade Média pode O século XVII não será apenas palco de grandes feitos políticos;
ser percebida na fachada e no interior das catedrais. Tanto as será religioso, implementando proposições teológicas advindas
esculturas e os vitrais quanto a organização revelam a da Reforma e da Contra-Reforma, com profundas conseqüências
preocupação em ensinar aquilo que para a Igreja Católica e para a extensão da leitura e da escrita a um crescente número
para as monarquias que a apoiavam era importante: a vida de pessoas, e para a escola, seus métodos, seu corpo docente e
S de santos e santas, de homens e (poucas) mulheres sábias, discente e suas normas e regras de conduta e bem viver. Admite
ri o nascimento, paixão e morte de Cristo, modelos de vida e de um novo lugar para homens e mulheres no mundo e no universo,
comportamento. através de uma nova concepção de ciência e de Razão. Olhando
~
v
alguns encargos em relação à instrução. As chamadas "aulas o século XX traz novos debates acerca da educação
régias", classes avulsas de matérias que compunham o que mais (auxiliada por ciências novas como a Psicologia e a Sociologia)
tarde seria identificado como ensino secundário, buscaram e, com muita força, a escola passa a ser questionada por dentro:
preencher o vácuo deixado pela ausência da Companhia de a Escola Nova, em suas várias vertentes, chama a atenção para
Jesus. o papel do aluno como sujeito da aprendizagem e o papel de
mediador do professor. o Brasil, o Manifesto dos Pioneiros da
A partir da Revolução Francesa e da definitiva inserção do
Educação Nova, de 1932, é um marco desse movimento: ao
terceiro Estado na ordem econômica, em alguns lugares mais
mesmo tempo em que questionava os métodos tradicionais de
cedo, em outros mais tarde, serão criados sistemas públicos de
ensino, buscava afirmar, em uma sociedade ainda pouco
ensino. Inspirados nos princípios liberais de regulação do
escolarizada, princípios como a obrigatoriedade, a gratuidade,
mundo, suas palavras de ordem dirão que a educação deverá
a laicidade e a co-educação. Aqui, o século XX é propriamente
ser pública, leiga, universal, gratuita e obrigatória. Dever do
o momento da publicização da educação: principalmente a
Estado, direito do cidadão. No caso brasileiro, o século XIX
partir de 1930, em meio aos processos de industrialização e
será marcado pela progressiva institucionalização da escola e
urbanização, diversas foram as leis que buscaram dar
da lenta afirmação do lugar do Estado como principal provedor
organicidade à educação primária, secundária e superior. Aos
da educação. Já com o estabelecimento da família real no
poucos, as camadas populares começaram a ingressar, embora
Brasil, fugitiva das tropas de Napoleão, em 1808, novos ares
nem sempre conseguissem neles permanecer, nos processos
culturais e educativos começam a se respirar na colônia: cursos
formais de escolarização. Nesse período, vivemos duas ditaduras:
superiores são criados, assim como a Biblioteca e o Museu
a do Estado Novo, de 1937 a 1945, e a militar, de 1964 a 1985.
nacionais, o Jardim Botânico etc. Com a independência, uma
Em ambas, a educação é vista como um elemento importante
série de legislações, nacionais e provinciais, começaram a ser
na formação das novas gerações e na sua inserção em uma ordem
estabelecidas, e questões antes não pensadas, como a inserção
política e econômica que se quer inconteste.
das meninas e dos negros nos processos de educação formal,
tornaram-se freqüentes no debate político. As escolas normais O final do século XX e o início do século XXI, na esteira
são criadas e progressivamente a mulher, principalmente a partir dos progressos científicos do século XIX, está instituindo uma
do final daquele século, passa a ocupar a maior parte dos escola em que os meios de ensino são diferentes. A máquina
lugares no magistério primário. A República anuncia novas não está instalada apenas na indústria, mas na sala de aula,
preocupações em relação à educação e ao papel do Estado em desde projetores de slides ou gravadores e retroprojetores, hoje
relação à sua promoção. A escola, aos poucos, ganha materiais, considerados modestos, até televisões e computadores ligados à
espaços (consubstanciados principalmente nos grupos Internet. A escola não goza mais da prerrogativa de ser o lugar
escolares), profissionais próprios para ela, e passa a ser vista, privilegiado da produção e difusão de conhecimentos. Instalada
a partir de então, como a principal instância de transmissão nas sociedades, a cultura midiática invade as instituições. Tal
do saber, em detrimento de outras que existiam ou que como o advento da imprensa provocou uma redução do tamanho
poderiam vir a existir. do mundo e a idéia de que a comunicação entre povos e lugares
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
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