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AULA 01

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA

DISCUSSÕES SOBRE A IMPORTÂNCIA DE COMPREENDER O


CONTEXTO HISTÓRICO, POLÍTICO E SOCIAL DO SISTEMA
EDUCATIVO

Esperamos que suas leituras colaborem para um


aprofundamento de seus conhecimentos e um resgate de suas
experiências. Gostaríamos que, nessa primeira leitura, você possa:

* Aguçar seu olhar de pesquisador/pesquisadora sobre a


estrutura e a dinâmica escolar.
* Identificar componentes da complexa estrutura escolar e
relacioná-los ao contexto social.
* Refletir sobre o seu papel na estrutura escolar, no sistema
educacional e na dinâmica social.

O QUE O ESPAÇO ESCOLAR NOS REVELA?

Quando falamos sobre escola, você provavelmente se lembrará da época em que você cursou
o Ensino Fundamental e Médio. Ao pensar sobre esta época, poderá reconhecer uma série de
atitudes, protocolos e procedimentos comuns àquela época.
Talvez se lembre de como as carteiras eram arrumadas na sala, de
como era o espaço do refeitório, de quais eram suas brincadeiras
favoritas. Durante seu percurso universitário, você provavelmente
revisitou o espaço escolar com uma nova perspectiva, para
cumprir as tarefas do curso - que incluem os Estágios
Supervisionados e outras observações do espaço escolar. Nestas
observações talvez tenha experimentado uma outra escola,
diferente da escola da sua memória. Há diferentes razões para
esse estranhamento/reconhecimento:
1° - ao revisitar a escola, pode perceber que ela passou por
transformações (sutis, ou não) ao longo do tempo;
2° - ao revisitar a escola como professor em formação, sua
perspectiva de observação não é mais como a de um estudante
somente. Há lembranças de quando estudava, mas há também
reflexões sobre o seu papel como professor na queke espaço;
3° - ao revisitar a escola, foi conduzido a relacionar uma
série de saberes pedagógicos,históricos, científicos com suas
observações;
Em resumo,ao revisitar a escola, você percebeu que você,
a escola e seu papel nela se transformaram com o tempo.

A ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA

O espaço escolar é um espaço regido por uma série de


forças. A escolha dos materiais, do mobiliário e de sua
disposição, dos horários, da rotina tem uma intencionalidade.
Nada está ali ou acontece ali por acaso. O espaço escolar é ao
mesmo tempo particular - pois cada escola encerra em si mesmo
suas particularidades, e também é parte de uma trama maior,
parte de um contexto, parte de um Sistema Educativo (Sobre a
ideia de Sistema Educativo leia a caixa de texto ao lado).
Pedimos que reflita sobre como a escola está organizada.
Quando as aulas começam e terminam?
Quantas horas por dia as crianças e jovens estudam?
Que conteúdos precisam estudar?
Como são as salas de aulas? Como estão arrumadas?
Que materiais há na escola?
Que espaços, além da sala de aula, existem na escola?
Como são determinadas tais regras de organização?

A DINÂMICA DA ESCOLA

A forma como a escola está organizada está intimamente relacionado com o que acontece no
cotidiano escolar. Os espaços, as rotinas e os horários são pensados para atender a comunidade
escolar. Professores, funcionários, estudantes, familiares e gestores se relacionam neste cenário
tentando se adequar às regras de organização e, ao mesmo tempo, imprimindo na escola suas
próprias características. Assim cada escola, mesmo sendo organizada dentro do mesmo Sistema
Educativo, pode diferir de outra nas relações diárias. As escolas são lugares de movimento, de
escolhas, de pessoas.
Sugerimos que pense agora nas seguintes questões:
Quem entra na escola?
Quem sai da escola?
Quem abandona a escola?
Quem trabalha na escola?
Que rotinas existem na escola?

REFLETINDO SOBRE A ORGANIZAÇÃO E A DINÂMICA DAS ESCOLAS

Nosso roteiro de estudo será constituído pelos seguintes temas:

- Discussões sobre a trajetória histórica da escola: alguns períodos significativos para a


formação da escola tal como a conhecemos serão visitados.
- Reflexões sobre a organização da escola: as bases legais que fundamentam a atual
organização escolar, compreendendo a estruturação formal da escola na atualidade.
- A escola e a sociedade na atualidade: como a escola tem se transformado, o impacto das
novas tecnologias, as relações estabelecidas na escola e o papel do docente frente à sociedade.

O PAPEL E O LUGAR DA ESCOLA

O autor Antonio Nóvoa nos convida a refletir sobre o papel da escola na atualidade. Para quê
e para quem a escola existe? Que anseios temos em relação à escola? Têm sido atendidos?
Leia com atenção o trecho abaixo.

"O lugar da Escola vem sendo discutido com ardor e


entusiasmo. Após um século de enormes progressos,
surgem sinais claros de insatisfação e de mal-estar. É
verdade que a Escola cumpriu algumas das suas
promessas, em particular o compromisso de acolher
todas as crianças. Mas quantas continuam ainda por
realizar? Há cada vez mais alunos que abandonam a
escola privados de tudo: sem um mínimo de
conhecimentos e de cultura, sem o domínio das regras
básicas da comunicação e da ciência, sem qualquer
qualificação profissional. Contrariamente às suas
intenções igualitaristas, a Escola continua, tantas vezes,
a deixar os frágeis ainda mais frágeis e os pobres ainda
mais pobres. Não espanta, por isso, que o século XXI se
inicie no registo da polêmica e da controvérsia. Podem
anunciar-se novas sociedades “educativas” ou “do
conhecimento”, mas serão apenas palavras se se
mantiver a distância entre “os que sabem” e “os que
não sabem”, entre “os que podem” e “os que não
podem”. Os sistemas de ensino – e os seus responsáveis
– parecem bloqueados, incapazes de romper com as
“inércias” e os “interesses”. Resignam-se ao “jogo das
reformas”, na sua agitação vazia, no seu linguarejar
sem sentido e sem ideias. Falta um pensamento novo,
uma filosofia que ajude a imaginar outras lógicas,
outros modelos e outras formas de organização dos
espaços educativos". (NÓVOA, 2006)

Este trecho nos convida a refletir sobre que papel as instituições escolares têm frente a
sociedade atual. Como o próprio autor afirmou, é sabido que há um avanço, principalmente quanto
ao acesso dos estudantes às escolas. Mas isso não é tudo, não é mesmo? Cada vez mais existe uma
preocupação com a qualidade da educação, com políticas de fortalecimento da escola, com a
necessidade da valorização do profissional docente. No nosso país, estas preocupações aparecem
aliadas a inúmeras questões sociais - necessidades sociais - de crescimento, conscientização e
participação efetiva dos cidadãos nos diversos âmbitos da sociedade.
Ao falar especificamente sobre a educação na América Latina, os autores Danilo Streck,
Telmo Adans e Chenon Moretti (2010) destacam a importância de se reconhecer que a nossa
formação histórica, social e cultural influencia diretamente nas dinâmicas e organizações das
estruturas educativas.

"Entendemos que, por ser herdeira de uma determinada


formação histórica e cultural, forjou-se nesta parte do
mundo um pensamento com algumas características
próprias, em princípio, nem melhor nem pior que o
pensamento em outros lugares. Mas é um pensamento
que, em meio à fugacidade das ideias de fora que, como
ondas, se sucedem em modas, busca encontrar raízes
por onde continua subindo a seiva que, mesmo
imperceptível, continua alimentando práticas e
esperanças.
O labirinto, uma imagem forte na literatura latino-
americana, é também uma metáfora muito apropriada
para a nossa educação. Quando finalmente a maioria
das crianças vão para a escola, surge a pergunta sobre
como mantê-las numa instituição alheia ao seu mundo;
quando os jovens e os adultos são introduzidos ao
mundo letrado, este já não parece ser mais o mundo que
conta e novas habilidades são exigidas pela sociedade e
pelo mercado; quando os negros são incluídos,
constatamos que ainda se trata de uma inclusão
paliativa que pode estar perpetuando desigualdades.
O labirinto significa espera. Diz Jorge Luis Borges
(1971, p. 14): "Oxalá fosse este o último dia de espera".
Paulo Freire (2000, p. 5) completa: "Não te esperarei
na pura espera/ porque o meu tempo de espera é
um/tempo de quefazer". Talvez o labirinto seja a
expressão das revoluções inacabadas que Orlando Fals
Borda (1979) identifica na história da América Latina.
Mas é também sempre a espwerança de novas
possibilidades, como apontado por Gabriel Garcia
Márquez no texto da epígrafe"

(STRECK et alli. 2010, 20)

Os autores do segundo texto abordam – de forma contundente – algumas questões pertinentes


à educação da América Latina. Pensar a escola envolve considerar o contexto histórico, social e
cultural na qual está inserida. E o apontam é que, apesar do avanço, a educação está em conflito... É
necessário um aprofundamento para resolver as questões recorrentes no cotidiano da escola.

LEITURAS - AULA 1Arquivo

Para dar continuidade a seus estudos, leia o primeiro texto na íntegra: a Entrevista Pela
Educação, concedida pelo educador português António Nóvoa a Henrique Manuel S.
Pereira e Maria Cristina Vieira, disponível em:
http://sinop.unemat.br/site_antigo/prof/foto_p_downloads/fot_4819entuevista_nu_pd
f.pdf
Leia também o texto do mesmo autor (clique em "leituras - aula 1" para ter acesso ao
arquivo), onde destaca a importância de se compreender a História da educação como
importante área de conhecimento para o docente da atualidade.

Apresentamos aqui algumas questões que poderão colaborar para um aprofundamento do


que foi discutido. Procure lê-las atentamente. Leia também os trechos de textos que
acompanham as questões.

Como pode ser compreendido um Sistema Educativo?


Um conjunto de ações intencionais, pensadas e elaboradas para resolver uma situação: neste
caso - a Educação. Estas ações incluem normatizações para um alinhamento das ações em
determinado espaço geográfico e em determinado tempo. Compreenderemos que para conhecer o
Sistema Educacional, precisaremos, não só conhecer tais normatizações, mas também vê-las como
são aplicadas na prática e refletir sobre as ações que decorrem delas.

Algumas das questões que o autor (Antônio Nóvoa) coloca sobre a escola, no trecho a
seguir, são também frequentemente colocadas por nós. Em sua opinião, quais dessas ideias
estão sendo priorizadas na escola que você conhece?

“O que é que queremos da Escola? História ou educação para a cidadania?


Literatura ou educação para a saúde? Ciência ou prevenção da toxicodependência?
Matemática ou educação sexual? Artes ou prevenção rodoviária? Filosofia ou educação
ambiental? Geografia ou educação para os valores? E que dizer do desenvolvimento das
competências comunicacionais e tecnológicas? E da preparação para a vida profissional?
E da promoção do espírito de criatividade, de inovação e de empreendedorismo? E da
formação moral? E a prevenção da delinquência? E do ensino das regras e
comportamentos sociais? E da capacidade para enfrentar dificuldades e resolver
problemas? Tudo isto?” (p 114).
De que “transbordamento” está falando Nóvoa no trecho a seguir?

“Resumindo de maneira excessivamente simplista a história da Escola no decurso


do último século, podemos dizer que ela se foi desenvolvendo por acumulação de missões
e de conteúdos, numa espécie de constante “transbordamento”, que a levou a assumir
uma infinidade de tarefas. Hoje, o currículo escolar mais parece um saco no qual, década
após década, tudo foi colocado e de onde nada foi retirado. A Escola está esmagada por
um excesso de missões e pela impossibilidade de as cumprir. Impõe-se, por isso, definir
prioridades e dizer, com clareza, aquilo que queremos da Escola”. (p.115)

Observe que essa é uma situação que precisa ser igualmente enfrentada no Brasil.
Temos escolas para todos, mas todos não permanecem ou usufruem adequadamente da escola.
Os autores Danilo Streck, Telmo Adans e Chenon Moretti destacam isso em seu texto ao dizer
que a presença na escola nem sempre tem significado iguais condições de educação para todos.
Como podemos lidar com as diferenças aqui assinaladas?

(...) “Durante muito tempo, a Escola foi apenas para alguns. Hoje ela tem de
integrar todos os alunos. No entanto, continuamos a trabalhar pedagogicamente quase do
mesmo modo como trabalhávamos quando a Escola era apenas para alguns, quando a
Escola se dirigia a alunos que já tinham sido socializados em casa, que partilhavam os
mesmos valores e as mesmas culturas.
A incapacidade para construir novos modos de trabalho pedagógico, para lidar
com a diferença e a heterogeneidade, promovendo ao mesmo tempo uma cultura comum e
partilhada, é uma das nossas principais dificuldades. Não se trata, claro está, de aceitar
tudo e de ser tolerante em relação a tudo. Mas tudo deve ser compreendido e a Escola
deve trabalhar com a diferença para construir uma cultura comum. A Escola não serve
para “separar”, serve para “unir”, serve para criar as bases de uma vida em comum.”.
(p. 122)

Para encerrar e fazermos uma ponte com as leituras da próxima semana leia o trecho
abaixo:

“São muitos os desafios da Escola no mundo contemporâneo. Assinalo apenas


dois, procurando responder à sua questão. Em primeiro lugar, a necessidade de
construir um outro “modelo de Escola”. Continuamosfechados num modelo de Escola
inventado no final do século XIX e que já não serve para enfrentar os desafios do
mundo contemporâneo: escolas voltadas para dentro dos quatro muros, currículos
rígidos, professores fechados no interior das salas de aula, horários escolares
desajustados, organização tradicional das turmas e dos ciclos de ensino, etc. etc. Defendo,
por isso, que é necessário repensar os modos de organização do trabalho escolar, desde a
estrutura física das escolas até à lógica curricular das disciplinas e dos programas, desde
as formas de agrupamento e de acompanhamento dos alunos até às modalidades de
recrutamento e de contratação dos professores. Temos de reinventar a Escola se
quisermos que ela cumpra um papel relevante nas sociedades do século XXI. Em
segundo lugar, a importância de nunca renunciar ao conhecimento e à cultura. Quando se
fala de “educação permanente” (e, pior ainda, de “educação e formação ao longo da
vida”), há, por vezes, uma tendência para valorizar certas competências técnicas ou
instrumentais em detrimento do conhecimento, da ciência e da cultura. Fala-se do
“aprender a aprender”, das capacidades de actualização e de procura autónoma do
saber, das competências informáticas e outras. Tudo isto é verdade e deve ser tido em
conta. Mas estas aprendizagens não se fazem no “vazio”. Por isso, não nos devemos
vergar às modas instrumentais e temos de manter uma grande atenção aos conhecimentos
e às disciplinas que formam os nossos alunos” (p. 113).

Como podemos ‘reinventar’ a escola?Se faz necessário compreender os processos históricos e


sociais que constituem os espaços escolares, refletindo sobre como a organização da escola pode
favorecer (ou não) a produção e o compartilhamento do conhecimento. Portanto, nas próximas
semanas faremos leituras mais atentas sobre a História da Educação.

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