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72 Efeito das mudanças climáticas na agricultura

Agrometeorologia e otimização do uso


da água na irrigação
Reinaldo Lúcio Gomide'
Paulo Emílio Pereira de Albuquerque?

Resumo - Como medir, avaliar e utilizar os principais parâmetros agrometeorológicos


de superfície e também alguns relacionados com o contínuo solo-planta, que afetam
a demanda hidrica das culturas. Para tanto, torna-se necessário o uso de plataformas
automáticas de coleta de dados, de sensores, de alguns métodos para determinar a eva-
potranspiração de culturas (ETc) e de uma planilha eletrônica, que envolve a técnica
do balanço da água no solo. Busca-se estabelecer e definir estratégias de manejo ade-
quado de irrigação de algumas culturas anuais, ou seja, o momento correto de aplicar
a água na quantidade necessária à cultura, em cada aplicação, visando à otimização
do seu uso aos sistemas agrícolas, principalmente os irrigados. A nova proposta de
cálculos diários de ETo, com base na equação combinada de Penman-Monteith, é mais
eficiente e precisa na determinação da ETc com o uso de coeficientes de culturas (Kc)
apropriados.

Palavras-chave: Evapotranspiração. Plataforma automática. Coleta de dados climáti-


cos. Balanço de energia. Razão de Bowen. Planilha eletrônica. Balanço hidrico. Produ-
tividade de água.

INTRODUÇÃO casso, demandando estudos criteriosos do total cultivado, a área irrigada mundial
voltados para a sua produtividade e uso contribui com 42% da produção total.
A influência das condições meteo-
mais eficiente. No Brasil, a área irrigada corresponde
rológicas e climáticas sobre a produção
Do total de água usada no mundo, a cerca de 18% da área total cultivada,
agrícola é tratada por um dos ramos da
cerca de 70% destinam-se à agricultura contribuindo com 42% da produção total
meteorologia denominado Agrometeo-
irrigada, valor esse bem superior às quan- (CHR1STOFIDIS, 2002). Em 2000, a água
rologia, que enfatiza, principalmente, os
tidades demandadas por outros segmentos, utilizada na produção agrícola correspon-
parâmetros agroclimáticos de superfície.
tais como os setores industrial (21 %) e deu a um consumo médio específico de
Alguns destes diretamente responsáveis urbano (9%) (CHRISTOFIDIS, 2002). 9.436 mê/ha/ano. É importante destacar
pela força de demanda hídrica da atmos- Essa demanda refere-se a, aproximada- que, com a incorporação de tecnologias e
fera, que são importantes na determinação mente, 18% (275 milhões de hectares) da processos mais eficientes de gestão do uso
da necessidade hídrica ou requerimento área total cultivada no planeta (1,5 bilhão e manejo da água, esse consumo deverá
de água ou evapotranspiração de culturas de hectares) (SANTOS, 1998). Somente ser reduzido ao longo dos anos, sendo
(ETc). O crescimento, o desenvolvimento na América Latina, as áreas irrigadas to- que para 2025 é estimada uma queda para
e a produção das culturas são afetados talizam cerca de 16 milhões de hectares, 8.100 mê/ha/ano. Mesmo assim, em 2025,
pela taxa de ETc, que, por sua vez, está distribuídas principalmente no México, estima-se que três bilhões de pessoas
relacionada com a água, recurso natural Argentina, Brasil, Chile e Peru. Apesar serão afetadas pela escassez de água,
que está-se tomando cada vez mais es- de corresponder a uma pequena parcela cuja disponibilidade deverá ser inferior a

1Eng~AgI", Pós-Doe, Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico:
gomide@cnpms.embrapa.br
2Eng~Agrícola, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151. CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico:
emilio@cnpms.embrapa.br

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1.700 mvha/ano, devido, principalmente, os processos de transporte ocorrem intera- os sensores facilitam a aquisição de dados
ao aumento populacional (CHRISTOFI- tivamente. Neste contínuo, os parâmetros e os dataloggers o processamento auto-
DIS,2002). climáticos de superfície determinam a mático desses dados, por meio de uso de
Esse cenário indica que há uma tendên- força de demanda hídrica, atuando como microcomputadores portáteis e desoftwares,
cia natural de aumento do uso da água no "dreno", os de solo controlam a fonte de desenvolvidos para o gerenciamento e
futuro próximo, devido tanto ao aumento água e os ligados à planta exercem influ- controle de todo o processo. Aliado a isso,
populacional, o que vai demandar em ência direta sobre a transmissão de água da a utilização da técnica de balanço da água
maior necessidade por alimentos, como fonte para o dreno. Daí, toma-se evidente no solo, a partir de dados agroclimáticos
ao aumento de disponibilidade de áreas que para determinar a ETc, há necessidade diários, disponibilizada e programada
irrigadas. O grande problema é que não há de um sistema de monitoramento e regis- em planilha eletrônica (Microsoft Offíce
uma previsão de aumento da água a curto e tro, com base em medições, em tempo real, Excel), para fazer o manejo de irrigação
médio prazo na terra. Os dados indicam o de parâmetros ligados ao contínuo solo- de culturas anuais, pode contribuir na
contrário, os intermináveis desmatamentos planta-atmosfera. Com a determinação racionalização do uso da água de sistemas
e o uso inadequado do solo têm mantido da ETc, é possível estabelecer critérios e agrícolas irrigados. Tudo isso possibilita o
um elevado escoamento superficial com estratégias de manejo adequado de irriga- controle mais preciso de aplicação de quan-
uma baixa reposição contínua das fontes ção, visando otimizar a utilização da água tidades reais de água para as plantas e uma
hídricas superficiais e subterrâneas. Assim, e da energia na agricultura irrigada. maior eficiência de seu uso, o que assegura
em termos ambientais, é crucial que seja A quantidade de água a ser aplicada em a sustentabilidade da agricultura irrigada e
assegurada uma sustentabilidade para a cada irrigação e o momento de aplicação a preservação do meio ambiente.
agricultura irrigada por intermédio de dessa água são parâmetros governados Este trabalho tem como objetivos medir
uma gestão e um manejo eficiente no uso pelas condições climáticas locais, pelo tipo e avaliar os principais parâmetros agrome-
da água. de cultura e seu estádio de crescimento e teorológicos de superfície, os quais afetam
Infelizmente, ainda no Brasil, a grande desenvolvimento, pela profundidade efeti- a demanda hídrica das culturas. Para tanto,
maioria dos usuários da agricultura irrigada va do sistema radicular e pela umidade do serão utilizados sensores e métodos para
não utiliza qualquer tipo de estratégia de solo. Suprir a ETc, com a aplicação de água determinar a ETc e o momento correto de
uso e manejo eficiente (racional) da água de irrigação, faz-se necessário sempre que aplicar a água de irrigação e a quantidade
na irrigação. Como os sistemas agrícolas a água proveniente da precipitação efetiva necessária em cada irrigação, com base em
irrigados têm uma utilização mais intensiva não for suficiente para atender à demanda medições de variáveis relacionadas com o
das áreas, com dois ou mais cultivos por hídrica das plantas e a disponibilidade de contínuo solo-planta-atmosfera. Assim, é
ano, aumenta o risco de danos ambientais água do solo for esgotada em níveis que fundamental o uso de tecnologia da auto-
e de problemas na cultura, tais como, irão provocar redução significativa de mação e de uma planilha eletrônica para
incidência de pragas, doenças e plantas produtividade. adequar o manejo de irrigação de algumas
daninhas, desnutrição de plantas, etc. A As redes de estações agrorneteoro- culturas anuais, envolvendo a técnica do
aplicação da água de irrigação em exces- lógicas, principalmente aquelas com balanço da água no solo, a partir de dados
so pode levar à poluição de rios, lagos e monitoramento e registro automático de agroclimáticos diários de entrada, para a
lençol freático, por causa da lixiviação de parâmetros agroclimáticos de superfí- otimização do uso da água na irrigação.
elementos tóxicos e nutrientes. Por outro cie, são ainda incipientes nas diferentes
lado, a aplicação dessa água em quantidaderegiões do Brasil. Isto, em parte, dificulta a EVAPOTRANSPIRAÇÃO
insuficiente pode resultar em estresse hídri-
racionalização de uso da água na irrigação. DAS CULTURAS E EFEITO
co da cultura e afetar o crescimento normal
Este quadro pode ser revertido com o uso
DOS PRINCIPAIS FATORES
AGROMETEOROLÓGICOS
das plantas. Tudo isto pode comprometer de plataformas automáticas de coleta de
todo o sistema de produção agrícola e o dados climáticos de superfície, envolvendo A ETc é responsável pela taxa de
meio ambiente. técnicas de microprocessamento, emprego transferência de água, na forma de vapor,
Os sistemas agrícolas irrigados têm - da microeletrônica e utilização de sensores de urna superfície coberta com vegetação
como objetivo prevenir o estresse hídrico para registrar os principais parâmetros cli- para a atmosfera, considerando tanto a
das plantas por meio de aplicações de máticos, possibilitando o controle, a aqui- evaporação direta das superfícies do solo
quantidades adequadas de água às cultu- sição, a transferência e o armazenamento e das plantas (água de intercepção), como
ras, assegurando boas produções, tanto de dados digitais envolvidos nas medições a transpiração das plantas. A taxa de evapo-
em quantidade como em qualidade, onde em condições de campo. ração direta da água do solo depende de sua
o contínuo solo-água-planta-atmosfera O mais atrativo é que a automação é estrutura e textura (tipo de solo), conteúdo
deve ser considerado corno um sistema uma ferramenta de tomada de decisão da de umidade, condutividade hidráulica e
dinâmico, fisicamente integrado, em que programação das irrigações, uma vez que demanda evaporativa da atmosfera.

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74 Efeito das mudanças climáticas na agricultura

A taxa de ETc é um processo físico do ar, o que resulta em uma maior Os elementos climáticos obtidos nas
difusivo, que envolve uma parte turbulenta demanda atmosférica; estações automáticas podem ser usados na
e outra molecular. A parte turbulenta é o c) umidade relativa do ar (UR): quan- determinação da ET a partir de métodos
mecanismo dominante, que depende da to maior o conteúdo de umidade desenvolvidos para obtenção da ET de
taxa de variação da velocidade do vento (vapor d'água) do ar, maior será o referência (ETo). A determinação da ET
com a altura, exceto na fina camada próxi- potencial hídrico da atmosfera. Isto da cultura (ETc) é obtida pela multiplica-
ma à superfície evaporante. É importante significa que a demanda atmosféri- ção do valor da ETo por um coeficiente
salientar que a evaporação é proporcional ca diminui com o aumento da UR; de cultura (Kc). Todo o processo pode
ao déficit de saturação da pressão de vapor d) vento: possui influência direta sobre ser automatizado, desde a aquisição dos
do ar, quando a temperatura da superficie a difusão de vapor d'água pelos dados meteoro lógicos até os cálculos de
evaporante é igual à temperatura do ar. estômatos, por meio da resistência ETc, sendo a informação disponível aos
Caso contrário (mais comum na prática, aerodinâmica (ra). A formação de usuários quase em tempo real (GOMIDE,
uma vez que é predominante a falta dessa turbulência do ar é iniciada em con- 1998). Com isso, estratégias de tomada de
igualdade), a evaporação será proporcional dições de aumento de velocidade do decisão de quando e quanto irrigar podem
ao gradiente de pressão de vapor entre a su- vento, resultando em remoção de ser estabelecidas. O problema maior é
perficie evaporante e o ar da atmosfera logo vapor d'água (umidade) bem próxi- com o desenvolvimento e ajuste do Kc
acima do dos sei (cerca de 1,5 m). Contudo, mo às folhas das plantas e aumento apropriado para cada área (região) e cul-
é impossível uma interpretação estritamente da diferença em potencial hídrico tura. Mais recentemente, existem alguns
física do processo de ETc, sem o necessário internamente e imediatamente do esforços na tentativa de usar informação
envolvimento e padronização do tipo de ve- lado de fora das aberturas estoma- de refíectância como um substituto para o
getação, tendo em vista a estrutura comple- tais, o que acarreta em um aumento tradicional Kc. Se esta idéia obtiver êxito,
xa dos processos turbulentos no interior e na da difusão de vapor d' água. é provável que haja um uso crescente de
parte acima do dos sei vegetativo, associado No Brasil, geralmente os maiores valo- métodos agrometeorológicos para a deter-
ao fenômeno da partição do saldo de energia res de demanda evaporativa da atmosfera minação de ETc.
radiante e a própria fisiologia das plantas. são verificados nos meses de outubro a A equação modificada de Penman,
Portanto, o processo deve ser considerado fevereiro, período em que são registrados conhecida como Penman-FAO, é usada
biofísico para um melhor entendimento da os maiores valores de radiação solar e para determinar a ETo, tendo a grama
evapotranspiração. temperaturas do ar. como cultura de referência. As principais
O efeito de fatores agrometeorológicos modificações envolveram a função devi-
ambientais sobre a ETc é chamado deman- do ao vento, o fator de ajustamento c e a
MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO
da atmosférica ou demanda evaporativa. hipótese de que o fluxo de calor no solo
DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO
Quanto maior a demanda atmosférica, mais (G) é igual a zero (períodos superiores a
rápida a água pode ser evaporada de uma A evapotranspiração (ET) pode ser 24 horas). A equação é da seguinte forma
superfície de água livre. Os principais fato- determinada por meio de equações, que (DOORENBOS; PRUITT, 1977):
res agrometeorológicos que influenciam a envolvem dados agroclimatológicos ou de
Equação 1
demanda atmosférica são os seguintes: medidas direta em lisímetros. As equações
podem ser classificadas, com base em seus
a) radiação solar (Rs): da radiação ETo = c[~(Rn- G)+-Y-2,7
termos, em radiação, evaporação, tempe- L1+Y L1+Y
solar absorvida pelas folhas das
ratura, umidade e múltipla correlação ou
plantas, de 1% a 5% são usados no (1 +0,864 U2)(ea-ed)]
combinação desses termos, podendo ter
processo de fotossíntese, e de 75%
base fisica, empírica ou então envolvendo
a 85% são utilizados no processo em que, ETo e Rn são em mm/d, L1 é a
base física aliada a fatores ou componentes
de aquecimento das folhas e do ar declividade da curva de pressão de vapor
empíricos (JENSEN, 1974). A escolha do
atmosférico logo acima do dossel da de saturação em KPa/°C, Y é a constante
método de determinação da ETc depende
cultura (fluxo de calor sensível) e, psicrométrica em KPa/°C, c é o fator de
de sua aplicação, precisão e principalmente
também, no processo de evapotrans- ajustamento, U2 é a velocidade média
da duração dos períodos envolvidos no
piração (fluxo de calor latente). Um estudo. Estimativas mensais ou até mesmo do vento em m/s e (ea - ed) é o déficit
aumento na Rs aumenta a demanda anuais de ETc são necessárias em estudos de pressão de vapor d'água em KPa. Os
atmosférica e a temperatura do ar; regionais de recursos hídricos. No entanto, valores de c são encontrados em tabela
b) temperatura do ar (Ta): o aumento períodos mais curtos (diários, semanais) (DOORENBOS; PRUITT, 1977) ou então
da temperatura do ar aumenta a são necessários para fins de uso e manejo obtidos da seguinte equação polinomial
capacidade de retenção de umidade de água de irrigação (TANNER, 1967). (ALLEN; PRUITT, 1991):

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Equação 2

c = 0.68 + 0.0028 URmax + 0.018 Rs - 0.068 Ud + 0.0l3 Ud /Un + 0.0097 Ud (Ud /Un) + 0.430 x 10 - 4 URmax Rs Ud /Un

em que, URmax é umidade relativa combinado de Penrnan-Monteith tem for- portáteis (notebooks), e são utilizadas para
máxima diária em porcentagem, Rs é a necido melhores resultados de estimativa medir e registrar os parâmetros climáticos,
radiação solar global em mm/d, Ud/Un da ETo para o caso dessa cultura hipotética em nível de superficie, de forma precisa e
é a razão entre a velocidade do vento do de referência, atendendo tanto a definição acurada, em intervalo de tempo progra-
período diurno e noturno e Ud é a veloci- original de ET potencial de Penman, mável. Atualmente, para alimentá-Ias, a
dade do vento do período diurno (7 h às quanto o conceito de ETo da FAO. Para fonte de energia é proveniente de painéis
19 h) em m/s. A Equação 1, quando usada fins de padronização dos procedimentos solares e baterias.
com o fator c, resulta o método conhecido de cálculos da nova proposta da ETo, para Quando em funcionamento, as plata-
como "Penman-FAO corrigido". Para o estimativas de 24 horas, a seguinte equação formas automáticas são programadas para
caso do fator c = 1, o método é denomi- foi proposta (SMITH, 1991): fazer leituras nos sensores a intervalos de
nado apenas Penman-FAO. Conforme 1 segundo a 1 minuto e calcular as médias
Equação 3
pode ser observado, na determinação do dos parâmetros registrados para armazena-
fator c requer também medições de dados Ll 1 Y
ETo =-- (Rn-G)-+-- * mento nas áreas de memória a cada inter-
meteoro lógicos. Ll +y* À Ll +y*
valo de 0,5 a 1 hora. Apenas as médias dos
Uma revisão sobre a tendência de supe- dados são armazenadas no datalogger, para
_9_00_ U2 (ea- ed)
restimativa da ETo, pelo método Penrnan- futura transferência, na forma de arquivo
T+275
FAO, tendo a grama como referência, é de dados por meio de interface direta com
apresentada por Sediyama (1995). Resulta- em que, ETo é a evapotranspiração de notebooks ou transmissão a distância com
dos de trabalhos indicam superestimativas referência da cultura hipotética em mmld, sistemas de telemetria, fazendo uso de
da ordem de 8% a 35%, dependendo do 2
ondas de freqüência de rádio. Os intervalos
Rn é dado em MJ/m /d, G é o fluxo de calor
clima da região. Esse mesmo autor realça
no solo em MJ/m~/d, T é a temperatura do ar de varredura dos sensores e os cálculos de
a complexidade do uso do fator c e salienta
em °C, U2 é a velocidade do vento a 2 m de médias dos parâmetros climáticos podem
a importância desse método, utilizado por
altura em m/s, (ea - ed) é o déficit de pres- ser alterados nos dataloggers, por meio de
muitos como padrão internacional, espe-
são de vapor em K.Pa, Ll é a declividade da programação adequada, de acordo com a
cialmente no Brasil.
curva de pressão de vapor de saturação em necessidade dos usuários.
Sediyama (1995) fornece uma criterio-
K.Pa;oC, À é o calor latente de evaporação Para fins de uso e manejo da água na
sa análise dos conceitos e procedimentos
em MJ/kg, y' é a constante psicrométrica irrigação, a configuração típica das plata-
metodológicos de cálculos da ETo, res-
modificada em K.Pa/°C (=1 + 0,33 U2) e o formas automáticas agrometeorológicas
saltando as dificuldades de utilização dos
número 900 é um fator de conversão para envolve medições dos seguintes parâme-
lisímetros, dos métodos de balanço de
as umidades kg KIkJ. tros climáticos de superficie: temperatura
energia e aerodinâmicos ou combinados
e umidade relativa do ar, irradiância solar
e da equação de Penrnan-FAO, dando um PLATAFORMAS AUTOMÁTICAS global (mais comum) e saldo de radiação,
enfoque de estabelecer um critério e uma AGROMETEOROLÓGICAS velocidade e direção do vento, precipitação,
metodologia para atender a uma nova defi-
As plataformas automáticas agrome- evaporação da água do tanque Classe A,
nição de cultura de referência e a estimativa
teorológicas baseiam-se em dispositivos albedo e temperatura do solo (Fig. 1).
de ETo, com base nos procedimentos para
eletrônicos e, geralmente, são compostas Instruções e detalhes de características
revisão do Boletim FAO-24, de acordo com
de: sensores para prover sinais eletrônicos de operação, funcionamento, resolução,
Smith (1991). A nova ETo é conceituada
dos parâmetros agrometeorológicos de precisão, sensitividade, estabilidade, tipo
como sendo a taxa de ET de uma cultura
superficie, amplificadores e conversores de sinal gerado e endereços de distribuido-
hipotética, com uma altura uniforme de
0,12 m, resistência do dossel da cultura de de sinais para ampliar e converter os sinais res e fabricantes de vários sensores usados
70 sim e albedo de 0,23. Esse conceito de analógicos para valores digitais e áreas de nas plataformas automáticas podem ser
ETo assemelha-se, bem de perto, à ET de memória para armazenamento dos dados encontrados em Tanner (1990).
uma superficie extensa coberta com grama coletados localmente. Estas plataformas A temperatura (0C) e a umidade relativa
de altura uniforme, em crescimento ativo apresentam sistemas de aquisição de da- do ar (%) devem ser registradas a uma altu-
e cobrindo completamente a superficie do dos totalmente integrados, que envolvem ra de 1,5 a 2,0 m. Esses sensores devem ser
solo e sem restrição de umidade. O método dataloggers, sensores e computadores instalados dentro de abrigo meteoro lógico

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76 Efeito das mudanças climáticas na agricultura

conectados a um potenciômetro de preci-


são (Climatronics CS800-L) (Fig. 1).
A precipitação é monitorada geralmente
com um pluviômetro de caçamba oscilante,
em mmlh, que deve ser instalado a uma al-
tura de 1,5 m (TE525) (Fig. I). A unidade é
construída em alumínio anodizado e é com-
posta de um funil, base e caçamba. A seção
de captação do pluviômetro apresenta um
diâmetro de 158,8 mm. O sensor é calibra-
do para registrar a precipitação com uma
Q) resolução de 0,25 mm por meio da geração
-u
'E de um pulso magnético (GOMIDE, 1998).
o
~ A temperatura do solo pode ser registrada
'u
:3 por termistores e termopares em profundi-
o
-u
dades que variam de 0,02 a 0,15 m.
"~
c
Manuais de instruções acompanham
Figura 1 - Configuração típica de uma plataforma automática agrometeorológica com os sensores que constituem as plataformas
os sensores mais utilizados para fins de uso e manejo da água na irrigação
automáticas, onde se tem orientações
detalhadas de instalação, operação, ma-
.-
para evitar a incidência direta de radiação sor possui uma base nivelável de alumínio, nutenção, conecção de fios e configuração
solar durante o dia e serem protegidos do com aparato mecânico complementar em da aquisição dos dados. A maioria das
resfriamento decorrente das ondas longas aço inoxidável para sua instalação. O sinal plataformas já vem acompanhada com
durante a noite. Um elemento sensor muito de saída desse sensor é de 0.2 kW/m /mV 2 software, sendo que algumas para rodar
usado para medir a temperatura do ar é o (GOMIDE, 1998). O saldo de radiação em ambiente Windows, que permite ao
termômetro de resistência de platina (TRP, (Rn) é medido por meio de um sensor técnico especialista editar o programa de
1000 Q), encapsulado em cerâmica, com formado por 60 junções de termopilhas, coleta de dados, monitorar os dados das
características de estabilidade, confiabi- com baixa resistência elétrica (4 Q). Esse estações remotas em tempo real, descar-
lidade e resposta extremamente rápida, sensor, instalado a 1,5 m do solo, registra regar os bancos de dados armazenados e
assegurando uma transdução precisa da a soma algébrica do balanço de todas as executar o pré-processamento dos dados
magnitude da temperatura do ar. Para a ondas de radiação que chegam e saem da para posterior exportação aos diversos
umidade relativa do ar, é comum a utiliza- superfície, isto é, os componentes referen- softwares de análise de dados (Microsoft
ção de um sensor capacitivo. Ambos con- tes às ondas curtas e longas (GOMIDE, Excel, etc.).
dicionam sinais de saída de O a 1.000 mV 1998). O sensor integra todas essas radia- Alguns resultados de variação do
e são montados em uma única sonda ções e o sinal enviado para o datalogger microc1ima, no período de dezembro de
(Vaisala, HMP 35C) (Fig. 1). Além desses, já é a Rn disponível em nível de superfície 2005 a maio de 2006, com base em dados
2
também são utilizados para medir a tem- (geralmente em W/m ). registrados na plataforma automática
peratura do ar os termistores e termopares Os sensores de velocidade e direção do agrometeorológica, localizada na Embrapa
(TP), que mudam as suas resistências com vento são construídos em alumínio para ter Milho e Sorgo, em Sete Lagoas, MG, são
a temperatura e já vêm calibrados de fá- baixo peso e alta resistência à corrosão. apresentados a seguir. O Gráfico I mostra
brica. A umidade relativa do ar é uma das Ambos devem ser instalados a 2,0 m de a variação diária da temperatura do ar
variáveis mais difíceis de ser medida com altura do solo. A velocidade do vento, em mínima (Tmin), média (Tmed) e máxima
precisão (GOMIDE, 1998). m/s, é medida com um anemômetro de (Tmax), em OCoVerifica-se que a amplitude
A Rs global é registrada, geralmente, três conchas, que produz um sinal, cuja térmica no período (diferença entre Tmax
em W/m2, a uma altura de 1,5 a 2 m do freqüência é detectada por meio de um e Tmin) variou de 5°C a 14°C. Os valores
solo, com um sensor que mede a radiação interruptor de luz light chopper. A direção registrados de temperatura do ar mínima,
global incidente por meio de um detector do vento é medida em graus, tendo como média e máxima variaram de, aproximada-
fotovoltaico de silício, acondicionado em referência o norte verdadeiro e contado no mente, 11°C a 21°C; 19°C a 26°C e 22°C a
uma peça maciça (LICOR) (Fig. 1). O sen- sentido horário, com um leme e contrapeso 34°C, respectivamente. Os dias 22 de abril

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e 5 de maio de 2006 apresentaram as mais


baixas temperaturas do ar, II,soC e 13°C, -0- Tmin (0C) -0- Tmax (0C) -'V- Tmed (0C)
36
respectivamente. As maiores temperaturas o
34
máximas estão na faixa de 30°C a 34°C e
32
ocorreram nos meses de janeiro e fevereiro
30
(verão).
O Gráfico 2 mostra a variação diária da Ô 28
~
Rs, em Ml/rrr'/dia, e Tmed, em -c. Pode- ro 26
o
se constatar a existência de uma relação
""C 24
.a~ 22
praticamente direta de variação desses dois ~
parâmetros microc1imáticos. A radiação
Q)
a. 20
E
solar diária varia desde um mínimo de 8,5 ~ 18
até um máximo de 30,5 Ml/m-/dia. As os- 16
cilações abruptas dos valores diários de Rs 14
podem ser explicadas principalmente pela 12 o
ocorrência de nuvens (tempo nublado), que 10
l!l l!l l!l l!l <O <O <O <O <O <O <O <O <O <O <O <O <O
afetam diretamente a incidência direta e o o o o o o o o o o o o o o o o o
o o o o o o o o o o o o o o o o o
~ N N N
~
~ ~
~ ~
~
N ~ N~ ~ N N ~ N ~
difusa dos raios solares.
- - - -
N N N N
as i2~ t:
N i2 t: ~ ~ l!l
~ ~ ~ ~ 23 23 23 ~ ~ -e-- ~ o o ~ 23
A variação diária da umidade relativa ~ ~
~ ~ ~ N (V) ~ N (V) N (V) ~
N (V)

do ar mínima (URmin), média (URmed) e Gráfico 1 - Variação diária da temperatura do ar mínima (Tmin), média (Tmed)e máxi-
máxima (URmax), em %, é apresentada no ma (Tmax), em °C .
Gráfico 3. Observa-se a ocorrência de dias FONTE: Gomide et 01. (2006).
mais secos com valores de URmin do ar NOTA: Plataforma automática agrometeorológica da Embrapa Milho e Sorgo, em Sete
abaixo de 35%. Isso, associado às elevadas Lagoas, MG - dezembro de 2005 a maio de 2006.

temperaturas do ar, propicia condições de


alta demanda evaporativa da atmosfera. Os
valores de URmed do ar variaram em 68% 1- 0- Rs (MJ/m'/dia) -0- Tmed (0C) 1
a 100%, sendo o último valor decorrente 32
de um dia com chuva.
O Gráfico 4 mostra a variação diária 28
da precipitação (P), em mm. A estação
chuvosa (dezembro de 2005 e janeiro a ""C
~ 24
março de 2006) compreende período dos f-
Q)
dados em que foram registrados os maiores ro
valores diários de P (de 50 a 118 mm). A :fi 20
E
precipitação acumulada mensal foi de 396, ::,

126, 108, e 414 mm para os meses de de-


5 16
sn
o:::
zembro de 2005 e janeiro a março de 2006,
respectivamente. As variações diárias da 12
ETo, em mm/dia, determinada pelo método o o
de Penman-Monteith, e velocidade média
8
do vento (VV med), em m/s, encontram-se l!l
o
l!l
o
l!l
o
l!l
o
<O
o
<O
o
<O
o
<O
o
<O
o
<O
o
<O
o
<O
o
<O
o
<O
o
<O
o
<O
o
<O
o
o o o o o o o o o o o o o o o o o
no Gráfico 5. Os maiores valores diários de N ~ N N
~ ~ ~ ~ ~ N ~ N N
~ ~ N
;n
~ ~ i2
ETo (demanda hídrica da cultura) foram - -- -
N
~
~
N
~
~
N
~
~
N
~
~ 23 23
N
23
(V)
~
(J) as i2~
N t:
~
~
i2~
N
~
(V)
~
o
-e--'
~
o
N
~
o
(V)
23
~
~ N (V)

na faixa de 4,8 a 6,6 mm/dia e os menores


Gráfico 2 - Variação diária da radiação solar (Rs),em MJ/m2/dia, e temperatura do ar
valores diários foram da ordem de 1,2 a 2,8 média (Tmed), em °C
mm/dia. A variação diária da velocidade FONTE: Gomide et 01. (2006).
média do vento (VV med), em m/s, ficou NOTA: Plataforma automática agrometeorológica da Embrapa Milho e Sorgo, em Sete
na faixa de 0,6 a 2,4 m/s. Lagoas, MG - dezembro de 2005 a maio de 2006.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.29, n.246, p.72-85, set.lout. 2008


78 Efeito das mudanças climáticas na agricultura

TANQUE CLASSE A

I -0- URmin (%) -0- URmax (%) -6,- URmed (%) o tanque Classe A é um reservatório
cilíndrico de 0,254 m de profundidade e
100
1,206 m de diâmetro, construído com uma
90 chapa de metal não corrosiva e instalado
;,R. sobre um estrado de madeira de 0,15 m de
o
•... 80 altura. O nível da água no interior do tanque
til
o deve ser mantido dentro da faixa de 0,174
"O
til
70
> a 0,204 m de profundidade (Fig. 2).
~
~ 60 A variação de nível da água do tanque
Q)
"O
til
Classe A pode ser medida com um ele-
"O 50
·E mento sensor que fornece um sinal elétrico
::::>
40 proporcional ao nível da água do tanque.
A unidade é constituída de um flutuador,
30 o um contrapeso, uma corrente e uma roda
dentada presa a um potenciômetro de pre-
20
L{) L{) L{) L{) <D <D <D <D <D <D <D <D <D <D <D <D <D cisão de 1k Q (NOVALYNX SYSTEMS,
o o o o o o o o o o o o o o o o o
o o o o o o o o o o o o o o o o o
~ 1997). O conjunto fica instalado no interior
~ N
~ ..-~ ~
..- ~
..- ~ ~ ~ N
i:2
~ N
i:2
~ N
~ N

-..- -..-..-..- ..-..- ..-..- o..- o o
N ~ ~ ~ ~ ::t ~ ::t
N
-e--'
N N

N (V)
O) O)
-e--
..- ..-
..- ..-
N
..-
(V)
o o
N
o
(V)
o de uma coluna de 20,3 em de diâmetro e
N (V)
66,0 em de altura, com base nivelável, que
Gráfico 3 - Variação diária da umidade relativo do ar mínima (URmin), média (URmed) funciona como poço tranquilizador para o
e máxima (URmax), em % . '
flutuador, a fim de evitar rápidas flutuações
FONTE: Gomide et aI. (2006). -7
de nível da água durante as medições.
NOTA: Plataforma automática agrometeorológica da Embrapa Milho e Sorgo, em Sete
Essa coluna é conectada, lateralmente, ao
Lagoas, MG - dezembro de 2005 a maio de 2006.
tanque por um tubo de PVC de 12,7 mm
de diâmetro e 2 m de comprimento, for-
mando um sistema de vasos comunicantes
(Fig. 1 e 2). Dessa forma, uma mudança
120
I -o-P(mm) I o no nível da água no interior do tanque
o
110 o corresponderá a uma mesma mudança
100 de nível no interior da coluna. Como a
90 corrente está presa nas extremidades pelo
80 flutuador e contrapeso e encaixada na roda
Ê
.s 70
dentada, a oscilação de nível é detectada
o o
pelo f1.utuador e transmitida ao potenciô-
ItIl
o- 60
2l metro que registra a variação de resistência
.15. 50 o
·0 o (GOMIDE, 1998). O sistema é calibrado
~ 40
o, para fornecer a leitura do nível da água do
30 tanque em mm. O registro pode ser obtido

litLli"",,,.,,,,.,,,lu~~
20 a intervalos que variam de 0,5 a 1 hora.
10
O
lml",,,,,~b.m,,,,.,,,,,,, As medições da evaporação
do tanque Classe A (Et) são usadas para
da água

L{) L{) L{) L{) <D <D <D <D <D <D <D <D <D <D <D <D <D
determinar a ETo por meio da seguinte
o o o o o o o o o o o o o o o o o
o o o o o o o o o o o o o o o o o equação:
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~
..-..- N..-..- N..-..- N..- o..- o..- ..-o
N N N N N N N N
i:2 i:2 i:2 lõ
----
N
..- N
-e--'
(V)
N (V)
~
O)
~
O) -e-- ..-
-e--'
~
..-
N
..-
(V)
::t
o
::t
o
N
::t
o
(V)
o..- Equação 4

Gráfico 4 - Variação diária da precipitação (P), em mm ETo = Kt Et


FONTE: Gomide et aI. (2006).
NOTA: Plataforma automática agrometeorológica da Embrapa Milho e Sorgo, em Sete em que, Kt é um coeficiente de correção
Lagoas, MG - dezembro de 2005 a maio de 2006. da Et. Uma tabela que descreve a variação

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.29, n.246, p.72-85, set./oul. 2008


Efeito das mudanças climáticas na agricultura 79

de Kt em função das condições de tamanho


e da natureza da área de bordadura, da

7
1-0- ETo(mm/dia) -0- Wmed (m/s) 1 velocidade do vento e da umidade relativa
do ar é apresentada por Doorenbos e Pruitt
(1977). Essa tabela foi obtida de dados ex-
6
perimentais de diversas regiões do mundo,
Vl
g portanto, sob diferentes condições climá-
"O 5 ticas, considerando-se as diferenças de
Q)
E albedo, rugosidade e resistência estomática
S
Q)
4 das superficies água e vegetação (grama).
til Mais tarde, Snyder (1992) desenvolveu a
32
seguinte equação para permitir interpola-
.sE 3 ção dos valores tabelados de Kt e também
o
W facilitar o uso em sistemas automatizados
de obtenção de dados:

Equação 5

L() L() L() L() <O <O <O <O <O <O <O <O <O <O <O <O <O
Kt = 0,482 + 0,024 Ln(Db) - 0,000376 U +
o o o o o o o o o o o o o o o o o
o o o o o o o o o o o o o o o o o
~ ~ ~ ~ 0,0045 UR
- ~ N ~ N N N N ~ N
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ N ~ ~~ t2 ~~ t2 ~ ~ ~ LO
-...
"I""""
-...
"I""""
-...
T'"" "I""""
õ Õ Õ Õi O) ~
~ ~ o o o Õ
N r0 N r0 ~ N r0 ~
"I"""" "I"""" "I""""

N
"I""""

r0 em que Db é a distância (tamanho) da


área de bordadura, em m, U é a velocidade
Gráfico 5 - Variação diária da evapotranspiração de referência (ETo), em mm/dia, e do vento em km/d e UR é a umidade re-
velocidade média do vento (W med), em m/s lativa média do dia em %. Snyder (1992)
FONTE: Gomide et aI. (2006). salienta que essa equação só deve ser usada
NOTA: Plataforma automática agrometeorológica da Embrapa Milho e Sorgo, em Sete dentro dos limites de Db, U e UR da tabela
Lagoas, MG - dezembro de 2005 a maio de 2006. original.
O método do tanque Classe A é re-
comendado pela FAO (DOORENBOS;
PRUITT, 1977) e é bastante usado no uso
e manejo da água na irrigação para deter-
minar a ETc a partir da ETo e dos Kc.

BALANÇO DE ENERGIA/RAZÃO
DE BOWEN
O balanço de energia é um método em
que são realizadas medições automáticas
do transporte vertical de entidades em
uma camada de escoamento atmosférico
turbulento acima de uma superfície natu-
ral rugosa (vegetação), situada a poucos
metros da superfície do solo. Em geral,
o transporte atmosférico de fluxos de
calor latente (Le) e de calor sensível (H)
é realizado por meio de turbilhões que se
deslocam aleatoriamente acima de uma
superfície natural rugosa, numa tendência
de homogeneização de Le e H com a altura
(z). Daí faz sentido supor que tanto Le
como H sejam igualmente transportados
Figura 2 - Tanque Classe A para medição automática da evaporação da água pelo mesmo turbilhão. Nessa condição es-

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.29, n.246, p.72-85, set./out. 2008


80 Efeito das mudanças climáticas na agricultura

pecífica de mesmo escoamento atmosférico em que, Rn é o saldo de radiação para A plataforma automática usada no
turbulento, os coeficientes Kv e Kh podem a superfIcie e G é o fluxo de calor no solo. balanço de energia! razão de Bowen (BE/
ser considerados iguais (GOMIDE, 1998). Geralmente, a convenção de sinal utilizada RB), nas medições de Rn, G, T e "e", a
Na prática, gradientes finitos são medidos é Rn positiva do ar para a superficie e G, duas alturas acima da superficie evapo-
e um coeficiente efetivo de transporte tur- H, e Le positivos da superficie para o ar. rante (vegetação), para a determinação
bulento (eddy diffusivity) é considerado na Substituindo Le ~ por H na Equação 9 e dos fluxos Le e H, encontra-se descrita
determinação do gradiente vertical: solucionando para Le resulta: com detalhes em Gomide (1998), sendo

Equação 10 basicamente composta de dois braços, onde


Equação 6
são montados os sensores de temperatura
Rn-G e pressão de vapor do ar, um abrigo de
Le= ÀpEKv (el-e2) Le=---
1+~ proteção do datalogger, uma bateria, um
p (zl-z2)
sistema automático controlador do fluxo de
A densidade de fluxo de calor latente,
Equação 7 ar, um sensor de medição da concentração
Le, é a parte da energia utilizada na ETc,
de vapor do ar e um painel solar. Todos
(TI-T2) ou seja, é um método de medição da eva-
H =pcp. Kh são montados em apenas um tripé (Fig. 3).
potranspiração real ou atual da cultura
(zl-z2) Um braço transversal com os sensores para
(ETr ou ETa). Portanto, o método requer
medir a velocidade e a direção do vento
em que, e 1 e e2 são medidas da pressão medições de Rn, G, T e "e" a duas alturas
também é montado no topo desse tripé.
de vapor atual do ar nas posições zl e z2, acima da superficie evaporante para a de-
Com relação às alturas (z), acima da
respectivamente; TI e T2 são medidas da terminação dos fluxos Le e H (GOMIDE,
superficie evaporante (vegetação), para a
temperatura do ar nas posições zl e z2, 1998). A pressão atmosférica (P), também,
determinação dos fluxos de calor latente
respectivamente; zl e z2 são as alturas é necessária, mas raramente varia muito
(Le) e sensível (H), é comum realizar as
verticais de tomadas das medidas "e" e deve ser calculada de acordo com a
elevação local, assumindo uma atmosfera medições, uma posição logo acima do
e "T"; Kv e Kh são os coeficientes de
padrão. dossel da cultura (em tomo de 0,1 m) e
transporte turbulento (eddy diftusivities)
outra distanciada verticalmente de cerca
A sensitividade de ~ é diretamente
de calor latente e de calor sensível, res- de 1,0 a 1,5 m da primeira (Fig. 3). Um
relacionada com os gradientes de tem-
pectivamente; p é a densidade do ar seco; datalogger é usado para armazenar os dados
peratura e de pressão de vapor medidos
cp é o calor específico do ar seco; À é o de todos os sensores e controlar a abertura
(Equação 8). Isso significa que um erro de
calor latente de vaporização da água; p é e o fechamento das chaves eletrônicas das
1% nas medições resulta em 1% de erro em
a pressão atmosférica e Eé a razão do peso válvulas reguladoras de fluxo de ar por meio
~. Os fluxos (H e Le) calculados aproxi-
molecular da água para o peso molecular do cooled mirror.
mam do valor infinito, quando o valor de ~
do ar seco. O Gráfico 6 ilustra a variação diurna
aproxima de -1. Essa situação geralmente
A razão de H para Le pode ser usada na de alguns termos do balanço de energia: os
ocorre somente à noite, quando há pouca
partição da energia disponível na superficie fluxos de saldo radiação (Rn), calor latente
energia disponível (Rn - G). Na prática,
em fluxo de calor sensível e latente, a partir (Le = ETcRB) e calor sensível (H), da eva-
quando o valor de ~ está muito próximo
das Equações 6 e 7, e é conhecida como potranspiração da cultura determinada pela
de -1 (-1,25 < ~ < -0,75), os valores de H
razão de BowenIb) (BOWEN, 1926): e Le são considerados negligíveis e não equação de Penman-Monteith (ETcPM),
Equação 8 são calculados. da velocidade do vento e da razão das re-
As condições hídricas da superfície sistências climática e aerodinâmica (rilra)
~ = ~ = pcp (TI- T2) evaporante é que vão definir os valores de obtidos aos 41 dias após a semeadura com
Le ÀE (el-e2) ~. Após uma aplicação de água, irrigação a cultura do feijoeiro (KOBAYASHI et
ou chuva, essa superficie vai estar bem al., 2002). Os resultados relativos à ETc
em que, pcp é a constante psicométri- umedeci da e uma maior parte de Rn vai ser mostram que os valores calculados pela
ca (y). ÀE equação de Penman-Monteith (ETcPM)
usada em Le, resultando em valores baixos
O balanço de energia da superficie é de ~. Caso contrário, em uma condição de foram subestimados, quando comparados
dado pela seguinte equação: estresse hídrico, essa superficie vai apre- com os valores medidos de ETc pela razão
sentar restrição hídrica e uma maior parte de Bowen (ETcRB). Verifica-se também
Equação 9
de Rn vai ser utilizada no aquecimento do que, em vários horários de medição, o fluxo
Rn=G+H+Le ar (H), fornecendo valores elevados de ~ de calor latente medido pelo sistema RB
(GOMIDE, 1998). (Le = ETcRB) ultrapassou o valor do saldo

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.29, n.246, p.72·85, set./out. 2008


Efeito das mudanças climáticas na agricultura 81

de radiação, indicando a possibilidade de


ter ocorrido efeito de advecção. Pelo fato
de a contribuição da energia advectiva não
ter sido medida diretamente, foi utilizada
a razão entre a resistência climática (ri) e
a resistência aerodinâmica, para indicar o
efeito de contribuição de energia advectiva
de áreas adjacentes à área experimental,
conforme proposto por Thom (1975 apud
TODD et al., 2000), que salienta que essa
razão aumenta caso aumente a contribuição
de fluxo de ar seco de áreas adjacentes sobre
a vegetação da área monitorada, denominado
efeito oásis. Observa-se que o fluxo de calor
sensível (H) apresenta valores negativos
no período da tarde, os quais se tomaram
mais evidentes com o aumento de ri/ra,
reforçando a hipótese de contribuição de
energia de áreas adjacentes (KOBAYASHI
et al., 2002).

PROGRAMAÇÃO DA ÁGUA DE
Figura 3 - Plataforma automática usada no balanço de energia/razão de Bowen nas IRRIGAÇÃO
medições de saldo radiação (Rn), fluxo de calor do solo (G), temperatura
Para fins de uso e manejo da água de
do ar (T), pressão de vapor do ar (e), a duas alturas (z) acima da superfície
evaporante (vegetação), para a determinação dos fluxos de calor latente (Le) irrigação, o conceito do processo de ETc
e sensível (H), instalada na cultura de milho é considerado unidimensional, particular-

700 30

600 27

24

.;::
500 Q)

21 .!!!.
l 400
18 o
.s
~ 300 c
ro 15 Q)
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-200+-~-+~--~4-~-4--~+-~-+-4--~+-~-+~--+-4-~-4--b-+-~-+~--+-4--+-4--b-+--+ O
4 7 10 13 16 19 22 25 28 31

1----- ETcRB -+-- ETcPM --e-- H -----fs-- rilra ----*<-- Vento 1

Gráfico 6 - Variação diurna de alguns termos do balanço de energia [fluxos de saldo radiação (Rn), calor latente (Le = ETcRB)e calor
sensível (H)], da evapotranspiração da cultura determinada pela equação de Penman-Monteith (ETcPM)e da razão das
resistências climática e aerodinâmica (ri/ra), obtidos aos 41 dias após a semeadura com a cultura do feijoeiro
FONTE: Kobayashi et aI. (2002).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.29, n.246, p.72-85, set./out. 2008


82 Efeito das mudanças climáticas na agricultura

mente em relação aos processos da evapo- condução do dia-a-dia da sua cultura, são data escolhida, dentro de sua capacidade
ração e de trocas de energia, significando obtidas pelo manejo de irrigação, que é o operacional. Porém, o adiamento do dia
que todos os fluxos de vapor d'água são ajustamento da duração e/ou freqüência de irrigar implica um aumento do fator de
uniformes e verticais ao longo da superficie de irrigação em função da lâmina d' água risco à cultura, porque esta pode ser subme-
horizontal coberta com a vegetação, que requerida para determinada fase ou perío- tida a déficit hídrico. Dependendo do grau
deve ser representativa de plantio de gran- do do ciclo da cultura (VERMEIREN; de exatidão que se deseja, estimativas, me-
de escala para evitar o efeito de bordadura JOBLIN,1997). dições ou inclusões de variáveis poderão
de energia advectiva de áreas adjacentes ou De modo geral, a água necessária a ser efetuadas. Assim, utiliza-se a planilha
efeito oásis. uma determinada cultura é equivalente à para fazer a programação da irrigação, as
O uso e o manejo racional da água evapotranspiração (evaporação de água características físico-hídricas do solo, a
de irrigação, na agricultura irrigada, en- do solo + transpiração das plantas) de uma ETo (por qualquer método, inclusive pelo
volvem tanto a sua reposição no perfil cultura livre de doenças que se desenvol- do tanque de evaporação Classe A) e a
do solo (irrigação), quanto a remoção de ve em um local em condições ótimas de precipitação pluvial.
seu excesso (drenagem). Sua reposição solo e clima. A condição ótima de solo O balanço de água no solo é um método
pode ocorrer artificialmente por meio de consiste em nível de fertilidade e umidade usado para prever a variação do conteúdo
um sistema de irrigação (aspersão con- suficientes para a cultura alcançar a sua de água no volume de solo que engloba
vencional, pivô central, barra lateral com produção potencial no meio considerado. o sistema radicular da cultura. Esse mé-
difusores móveis, gotejamento, etc.) ou, Daí, a necessidade hídrica de uma cultura todo considera uma condição de água no
naturalmente, pela distribuição de preci- baseia-se em sua evapotranspiração (ETc) solo que não causa déficit ou excesso ao
pitações pluviométricas. Na programação e é expressa, normalmente, em milímetros sistema radicular da planta, contribuindo,
da irrigação, tanto na fase de elaboração por dia (mmldia). portanto, para que ela obtenha o mais alto
do projeto como na operação e manejo do Podem ser obtidos os dados necessários rendimento técnico. Por isso, o turno e as
sistema, a água disponível no solo para as à demanda hídrica da cultura por meio de lâminas de irrigação assim obtidos podem
plantas, é usualmente calculada com base medições realizadas diretamente no cam- variar continuamente ao longo do ciclo
no balanço hídrico da região. Este tem na po. Entretanto, os procedimentos de medi- da cultura.
ETo e precipitação efetiva seus principais das diretas são demorados e trabalhosos, Desse modo, o balanço baseia-se na
componentes (RITCHIE, 1985; HEER- sendo esses mais utilizados em condições equação de conservação de massa:
MANN, 1985; MIZYED et aI., 1991). de pesquisa. Dessa forma, os métodos Equação 11
estimativos são os mais utilizados.
REQUERIMENTO DE ÁGUA A precisão na determinação das neces- /).'(CAD x Z) = água que entra - água que sai
DAS CULTURAS
sidades hídricas das culturas depende mui-
Um dos primeiros passos para elabo- to da natureza dos dados climáticos dispo- em que, 1'1' representa variação, CAD
ração do projeto e dimensionamento de níveis e da precisão do método selecionado é o conteúdo de água disponível e Z a
qualquer sistema de irrigação é determinar para estimar a evapotranspiração. profundidade do sistema radicular.
as necessidades hídricas das culturas que O CAD é uma fração do conteúdo da
serão implantadas. Geralmente, esses PLANILHA ELETRÔNICA PARA A água total disponível (CTAD) para as plan-
cálculos são realizados para as condições PROGRAMAÇÃO DA IRRIGAÇÃO tas, sendo o CTAD definido pelo conteúdo
críticas que poderão ocorrer com a cultura DE CULTURAS ANUAIS COM de água no solo, que está entre a capacidade
BASE NO BALANÇO DE ÁGUA
em função do solo, do clima, da fase dessa de campo (CC) e o ponto de murcha per-
DO SOLO
cultura e da época do ano. Por isso, deve- manente (PMP) (HILLEL, 1980).
se definir com clareza a diferença entre as Planilhas eletrônicas que permitem É muito importante conhecer o CAD
necessidades máximas de irrigações que se programar a irrigação de culturas anuais, no dia do plantio, por estimativas ou me-
utilizam para o cálculo do diâmetro das tu- mostradas em Albuquerque e Andrade dições, para fazer o balanço durante o ciclo
bulações, do dimensionamento do conjunto (2001), Albuquerque (2003, 2007) e Albu- de desenvolvimento da cultura (ITIER et
motobomba etc., e as necessidades normais querque e Maeno (2007) empregam como a!., 1996). Atualmente, tem-se recomenda-
de irrigação que controlam o funcionamen- técnica para o manejo da irrigação a do do irrigar no dia do plantio, de modo que o
to do sistema. Portanto, o que importa para balanço de água no solo. As versões mais CAD atinja o CTAD numa profundidade de
o projetista são as necessidades máximas, recentes têm a vantagem da flexibilidade da pelo menos o dobro daquela de semeadura,
que permitem calcular a hidráulica das tomada de decisão, de modo que, apesar de ou seja, se a semeadura foi feita a 5 em de
instalações. As necessidades normais, ser indicada uma data para irrigar, o usuá- profundidade, o valor de Z para efeito de
que são do interesse do irrigante durante a rio tem a liberdade de irrigar em qualquer irrigação fica sendo de 10 em pelo menos.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.29, n.246, p.72-85, set.Jout. 2008


Efeito das mudanças climáticas na agricultura 83

No presente caso, o Z considerado para a Na condição mais comum da ocorrên- contribui para suprir a cultura.
irrigação do plantio foi o seu valor máximo cia de um lençol freático mais profundo, o Para que não haja efeito sobre o de-
(Zmax), além de que o perfil do solo pode termo AC é desprezado, pois não há a sua senvolvimento normal da cultura, a ETc
ser dividido em até cinco camadas para contribuição para aumentar o conteúdo de não pode sofrer redução em virtude da
obtenção do CTAD por camada. água para a zona radicular. diminuição da umidade do solo a tal ponto
Na superfície do solo, as variáveis A lâmina de irrigação (I), calculada que possa dificultar a extração de água pelas
que entram (+) e que saem (-) do balan- sem excesso e aplicada a uma taxa dentro raízes (DOORENBOS; PRUITT, 1977).
ço podem ser a chuva (+P), a irrigação da velocidade de infiltração básica (VIB) Uma irrigação que não prevê déficit hídrico
(+1), o escoamento superficial (± ES) e do solo, não causa drenagem profunda nem para a cultura deve levar em conta um fator
a evapotranspiração real (-ETc). Abaixo escoamento superficial; portanto, tanto D de depleção (t) da água no solo. O f define
da superficie do solo, têm-se a ascensão quanto ES também podem ser desprezados. a água facilmente disponível (CAFD), que
capilar (+A C) e a drenagem profunda (-D). Entretanto, na ocorrência de P com valores é a fração da CTAD (O < f:s 1) que não
A Figura 4 ilustra, de modo geral, como mais elevados, haverá a ocorrência de D, causará efeito negativo sobre o desenvol-
se processa o ciclo da água no sistema assim como pode haver também ES, de- vimento da cultura. Desse modo, CAFD =
solo-água-planta-atmosfera, evidenciando pendendo da intensidade de P. Para despre- f x CTAD. O termo f é também chamado
a interferência desse ciclo no balanço da zar De ES, deve-se estimar a precipitação coeficiente de disponibilidade. O valor de
água no solo. efetiva (Pef), ou seja, aquela que realmente f depende, basicamente, da cultura, do seu
estádio de desenvolvimento e das condições
do clima.
Levando em conta diversos aspectos,
.•. --- .. considera-se a seguinte equação para o

.,, .... ,.. ---


,"\.
..•..•..•
.•...
balanço de água no solo:

,, '
' "" ! I"" "\ .....•......'\. Equação 12
,
, r
\ .... ~
.-
. : :

';ç;ircdlação:~eral/
' I -,

:
'dá atmosfera.:' !l' (CTAD x fx Z) = 1 + Pef - ETc
Radiação solar

Chuva irrigação
em que, !l' representa variação; CTAD
é o conteúdo de água total disponível no
Vento
solo (em mm de água/em de solo); f é o
Vapor d'agua
coeficiente de disponibilidade (O < f:s 1);
Z é a profundidade do sistema radicular
(em cm); 1é a lâmina de irrigação (em mm);
Pef a precipitação efetiva (em mm) e ETc a
evapotranspiração da cultura (em mm).
O lado esquerdo da Equação 12 [!l'
(CTAD x f x Z)] representa o armazena-
mento de água que o solo comporta, até
um valor mínimo admissível (f) dentro do
volume de controle considerado, que, nesse
caso, é o volume de solo que está limitado
pela profundidade do sistema radicular.
Essa expressão é que vai definir o turno
ou a freqüência de irrigação, isto é, quanto
menor o seu valor maior é a freqüência e
vice-versa.
Armazenamento
pelo solo O lado direito da Equação 12 vai definir
e a lâmina de irrigação (I) em função do dia
<J

determinado para irrigar. Desse modo, ao&


o
observar a capacidade do solo em armaze-E

LF-ig-u-ra-4---0-ci-c-lo-d-a-á-g-u-a-n-o-si-st-e-m-a-so-I-o--p-I-a-n-ta---a-tm-o-sf-e-ra-,-e-n-f-o-ca-n-d-o-ta-m-b-ém-o-b-a---'-:!?
nar água, a lâmina líquida de irrigação (I)
lanço da água no solo com as suas variáveis no dia determinado é dada por:

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.29, n.246, p.72-85, set.lout. 2008


84 Efeito das mudanças climáticas na agricultura

Equação 13 conseqüentemente, permite estabelecer es- No Brasil, a eficiência média do uso


tratégias de manejo de irrigação e otimizar da água dos sistemas de irrigação está
1= ETc-Pef o uso da água necessário aos sistemas agrí- estimada em 60%, significando que, para
colas, principalmente os irrigados, além cada 10 mil litros de água necessários às
Para a estimativa da Pef é considerada de possibilitar melhor dimensionamento plantas por hectare (1 mm), são precisos
na planilha, que toda precipitação pluvial é de projetos de irrigação em perímetros 16.667 litros de água (LIMA et a!., 1999).
infiltrada no solo e que o excesso de água, irrigados (sistemas de irrigação, bombea- É importante destacar que desse volume
que ultrapassa a sua capacidade de reten- mento, distribuição e armazenamento de total, as plantas transpiram 97%; portanto,
ção, a partir da umidade real do solo no dia água, etc.). um retomo de mais de 9.700 litros para
em questão, é drenado além da zona radi- A nova proposta de cálculos diários de a atmosfera, na forma de vapor d'água,
cular. Então, Pef é estimada apenas pela ETo, com base na equação combinada de ou seja, água pura. Os outros 6.667 litros
lâmina que efetivamente pode contribuir Penrnan-Monteith, padronizada de acordo tendem a evaporar da superficie do solo ou
para o consumo de água da cultura. com os procedimentos de Smith (1991) percolar e preencher os lençóis subterrâneos,
Na planilha, os valores do coeficiente e ALLEN et a!. (1998), é mais eficiente que podem retomar ou não ao mesmo curso
de cultura (Kc) podem ser gerados auto- e precisa na determinação da ETc com d' água de onde foi retirada. Vale ressaltar que
o uso de coeficientes de culturas (Kc) a elevação dessa eficiência em apenas 5%
maticamente, segundo quatro classes de
apropriados. representaria um volume de 1.282 litros que
demanda evaporativa (que é função da
O novo conceito de ETo baseia-se na deixariam de ser retirados da fonte d' água
ETo), a saber:
taxa de ET de uma cultura hipotética, com por milímetro demandado pela cultura por
a) 1 - baixa: ETo:S 2,5 mm/dia; hectare irrigado (LIMA et aI., 1999). Daí
uma altura uniforme de 0,12 m, resistência
b) 2 - moderada: 2,5 < ETo:S 5,0 mm/dia; conclui-se que somente com o aumento da
do dossel da cultura de 70 sim e albedo
c) 3 - alta: 5,0 < ETo:S 7,5 mm/dia; eficiência do uso da água na irrigação, pode-
de 0,23. Esse conceito assemelha-se, bem
d) 4 - muito alta: ETo> 7,5 mm/dia. se reduzir a retirada de água das fontes para
de perto, à ET de uma superficie extensa
a agricultura irrigada.
Com o valor de 1 a 4 selecionado, de coberta com grama de altura uniforme,
acordo com a demanda predominante e a em crescimento ativo, cobrindo comple-
REFERÊNCIAS
teoria descrita em Allen et a!. (1998), para tamente a superfície e sem restrição de
umidade no solo. O método combinado de ALBUQUERQUE, P.E.P.Planilha eletrônica
estimar os valores de Kc, geram-se os
para a programação de irrigação em pi-
valores de Kcl (ou Kc inicial), Kc3 (ou Penman-Monteith tem fornecido melhores
võs centrais. Sete Lagoas: Embrapa Milho
Kc na fase intermediária) e Kc4 (ou Kc resultados de estimativa da ETo para o
e Sorgo. 2003. 9p. (Embrapa Milho e Sorgo,
caso dessa cultura hipotética de referência, Circular Técnica, 25).
na fase final). Entretanto, cada um desses
atendendo tanto à definição original de ET
valores de Kc pode ser previamente conhe- ___ oPlanilha eletrônica para progra-
potencial de Penrnan, quanto ao conceito mação da irrigação em sistemas de asper-
cido e prioritariamente utilizado no lugar
de ETo da FAO (SMITH, 1991; ALLEN são convencional, pivô central e sulcos.
daqueles estimados em função da demanda
et a!., 1998). Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2007.
evaporativa. 18p. (Embrapa Milho e Sorgo. Circular Téc-
O uso de uma planilha eletrônica, para
nica, 97).
fazer o manejo adequado de irrigação de
OBTENÇÃO DE PLANILHAS
; ANDRADE, C. de 1.T. Planilha ele-
DE MANEJO DE IRRIGAÇÃO algumas culturas anuais, possibilita a en-
trônica para a programação da irrigação
trada de dados diários agroclimáticos (tem-
Planilhas para o manejo de irrigação de culturas anuais. Sete Lagoas: Embrapa
peratura do ar, precipitação, velocidade Milho e Sorgo, 2001. 14p. (Embrapa Milho
podem ser obtidas no portal da Embrapa
do vento, radiação solar) para determinar e Sorgo. Circular Técnica, 10).
Milho e Sorgo (www.cnpms.embrapa.br)
a ETc e também fazer o uso da técnica do ___ ; MAENO, P. Requerimento de água
na seção de "Publicações online", como a
balanço da água no solo para ter o con- das culturas para fins de dimensionamen-
Circular Técnica nº 97 (ALBUQUERQUE, to e manejo de sistemas de irrigação locali-
trole do momento correto de aplicação da
2007) e Documentos nº 65 (ALBUQUER- zada. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo.
água de irrigação e da quantidade de água
QUE; MAENO, 2007). 2007. 76p. (Embrapa Milho e Sorgo, Docu-
necessária em cada irrigação, com base
mentos, 65).
no acompanhamento diário de variáveis
CONSIDERAÇÕES FINAIS ALLEN, R.G.; PEREIRA, 1.S.; RAES,D.;
relacionadas com o solo (conteúdo de
SMITH, M. Crop evapotranspiration:
A automação de medições dos prin- água), planta (estádio do ciclo fenológico) guidelines for computing crop water re-
cipais fatores agrometeorológicos, em e atmosfera (dados climáticos), permitindo quirements. Rome: FAO, 1998. 300p. (FAO.
tempo real, facilita a obtenção da ETc e, a otimização do uso da água na irrigação. Irrigation and Drainage Paper, 56).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.29, n.246, p.72-85, set.lout. 2008


Efeito das mudanças climáticas na agricultura 85

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MUDAS DE OLIVEIRA
Garantia de procedência, mudas padronizadas,
qualidade comprovada e variedade identificada

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