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18.1 introdução
A possibilidade de descrever e representar o relevo de um terreno por meio de uma modelagem matemática foi um avanço
inestimável da Cartografia e, por conseguinte, da Geomática, que modificou substancialmente a maneira de se elaborar proje-
tos nas mais diversas áreas da Engenharia. Desde a sua criação na década de 1950, nos Estados Unidos, para servir de apoio à
automatização de projetos de vias de transporte, ela tem sido empregada nos mais variados ramos da Engenharia que necessi-
tam de informações altimétricas sobre o relevo do terreno. A lista de produtos derivados de tais modelos é extensa, incluindo:
traçado de curvas de nível, traçado de perfis e seções do terreno, cálculo de volumes, terraplenagem, projeto geométrico de
vias de transporte, linhas de transmissão de energia, mapas de declividades, vistas em perspectiva, apoio à retificação de ima-
gens fotogramétricas para geração de ortofotos, dentre muitas outras.
Modelar matematicamente a superfície de um terreno significa descrevê-la por meio da aplicação de uma ou mais funções
matemáticas, que descrevam a forma geométrica espacial dessa superfície, de acordo com métodos específicos de interpola-
ção, baseados em dados contínuos ou discretos da variável a ser modelada. As funções matemáticas empregadas são deno-
minadas funções de interpolação; a superfície representada é denominada superfície modelada e ao conjunto formado pelas
variáveis a serem modeladas, mais as funções de interpolação e mais os recursos de uso prático da superfície modelada, dá-se
o nome genérico de Sistema de Modelagem Matemática de Elevação.
Em função dos diferentes termos utilizados para os modelos matemáticos de elevação e para situar o leitor no assunto
específico a ser tratado neste capítulo é importante esclarecer as diferentes denominações utilizadas no meio cartográ-
fico para esses modelos. Tomando como referência a Norma da Especificação Técnica para Produtos de Conjuntos de
Dados Geoespaciais (ET-PCDG), primeiramente deve-se considerar a forma com a qual os dados de elevação estão
disponíveis. Se eles estiverem disponíveis na forma de uma imagem,1 ou seja, de forma contínua, a função matemática
a ser aplicada levará em consideração essa continuidade e o modelo gerado é denominado modelo digital de elevação.
Por outro lado, se os dados estiverem disponíveis na forma de pontos discretos, o modelo gerado é denominado modelo
numérico de elevação.
Considerando que para as aplicações correntes da Engenharia, na maioria dos casos, os dados de elevação a serem mode-
lados correspondem a pontos discretos da superfície de um terreno, neste capítulo serão tratados apenas os conceitos relativos
ao Modelo Numérico de Terreno (MNT).
O uso de um MNT se faz sempre por intermédio de um programa aplicativo de computador desenvolvido para tal
fim. Um programa desse tipo deve conter módulos para a captura dos dados, para a modelagem da superfície e para a
geração de produtos derivados. Além disso, para que possa ser considerado um MNT, ele deve ser capaz de considerar
os acidentes geográficos do relevo, tais como talvegues, espigões, divisores de água, taludes, muros de arrimo, zonas cons-
truídas e outros, os quais, em modelagem numérica de terreno, são denominados linhas notáveis ou linhas de quebra
(breaklines) do relevo. Caso contrário, trata-se apenas de um programa aplicativo de computador para a modelagem de
elevações. Outro aspecto que deve ser destacado sobre a modelagem numérica de terreno é o mau uso frequente que se
1 Também denominada formato raster.
e-2 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
faz do termo MNT. É comum encontrar referências ao termo para a descrição de conjuntos de pontos, principalmente
nos casos em que eles são gerados por escâneres laser. Nesses casos, se diz, erroneamente, que a nuvem de pontos é um
MNT, quando, na realidade, ela representa apenas um conjunto de pontos com coordenadas espaciais (X, Y, H) conheci-
das. Outro engano frequente é relacionar uma vista em perspectiva de um terreno como um MNT. Logicamente, não é!
Uma vista em perspectiva pode ter sido gerada por meio da superfície modelada e, nesse caso, ela representa uma vista
em perspectiva do modelo, mas não é o modelo. Outro engano comum é dizer que um MNT é um programa aplicativo
para o traçado de curvas de nível. Sim! Parcialmente, ele é; mas é muito mais do que isso. Traçar curvas de nível é apenas
um dos produtos gerados por meio de um MNT e nem é o mais importante.
De acordo com o exposto, o leitor deve notar que, ao se falar de um MNT, como o próprio termo indica, se está falando
da modelagem matemática do relevo do terreno, sem considerar os elementos geográficos e construtivos que se sobressaem
sobre ele, como vegetação, construções e outros da mesma natureza. Ao modelo que considera esses elementos dá-se o nome
de Modelo Numérico de Superfície (MNS), conforme ilustrados na Figura 18.1.
Da mesma forma, são utilizados os termos Modelo Digital de Terreno (MDT) e Modelo Digital de Superfície (MDS)2 para os
casos de os dados da superfície do terreno estarem disponíveis no formato raster.
2 Na literatura em inglês, em geral, utilizam-se os termos Digital Terrain Modeling (DTM) e Digital Surface Modeling (DSM).
Modelo numérico de terreno e-3
Dependendo da técnica de medição aplicada para a coleta de dados, obtém-se uma distribuição geométrica específica dos
dados. Em geral, os dados são distribuídos de duas maneiras, que são:
• distribuição regular de pontos (quadrada ou retangular);
• distribuição irregular de pontos.
A estruturação dos dados em malha regular tem como deficiência nem sempre se adequar à complexidade do relevo do
terreno, necessitando de refinamentos da malha para melhorar a acurácia do modelo final.
Passos:
1. Encontrar o vizinho mais próximo do ponto 1.
2. Criar um círculo com diâmetro igual à distância entre os pontos 1 e 2.
3. Expandir o círculo.
4. Verificar pontos que se encontrem no interior do círculo (3 e 4) e escolher aquele que forme o maior ângulo com a base (3).
5. Criar um círculo passando pelos pontos 1 e 3.
Repetir o processo para o ponto
2, e assim sucessivamente.
A Figura 18.9 exibe uma vista
em planta e em perspectiva com-
pleta da rede irregular (TIN) gerada
a partir do conjunto de pontos com
coordenadas (X, Y, H) conhecidas.
Cada vértice da malha corresponde
a um ponto medido sobre o terreno.
Após o estabelecimento da rede
de triângulos (TIN), ela deve ser ve-
rificada para possíveis edições e rea-
Figura 18.9 • Dados estruturados segundo uma malha irregular (TIN).
mostragem. Incluem-se, nesta etapa,
a inserção e/ou edição das linhas no-
táveis do modelo (breaklines, zonas mortas e bordas da malha) e a filtragem de valores considerados “suspeitos” para a represen-
tação da superfície. A inserção das linhas notáveis é feita indicando quais pontos pertencem a elas. Alguns programas de geração
da malha permitem que essa indicação seja feita durante a coleta de dados em campo, incluindo a indicação de “pertencente a
uma linha notável” como um atributo do ponto. Outros exigem que essa indicação seja manual. Seja qual for a maneira utilizada,
o resultado é a geração de uma malha irregular cujas linhas notáveis são incluídas como um lado da rede de triângulos, ou seja,
nenhum lado de triângulo deve cortá-la.
A Figura 18.10 ilustra um exemplo de edição de uma breakline a ser inserida na malha e a Figura 18.11 uma vista 3D de um
modelo numérico de terreno com suas breaklines.
A estruturação em malha triangular irregular (TIN) é mais complexa quando se opta pela inclusão de linhas notáveis.
Porém, quanto maior a quantidade dessas linhas, mais acurado será o modelo, pelo fato de ele representar melhor as irregu-
laridades do relevo.
Trata-se de um método simples de aplicar, porém, com a desvantagem de ser empírico e exigir a definição de uma vizi-
nhança para a interpolação.
Na maioria dos casos, utiliza-se a distância entre o ponto (i) e o ponto (P) como indicador do peso, ou seja, menor distân-
cia, maior peso. Assim, tem-se:
1
dx
wi n i (18.4)
1
i 1 di
x
em que:
di = distância entre o ponto (i) e o ponto (P);
x = coeficiente de ajuste dos pesos.
Solução:
Para a solução deste exemplo é necessário estabelecer os pesos a serem dados às altitudes dos vizinhos do ponto (P), os quais
são determinados em função das distâncias entre o ponto (P) e cada um deles. O resultado dos cálculos efetuados está indicado
na Tabela 18.2.
Tabela 18.1 • Coordenadas conhecidas Tabela 18.2 • Valores parciais para a determinação dos pesos
Ponto X [m] Y [m] H [m] Distância H 1
Alinhamento wi wi * H i
P 11.556,118 15.468,963 – [m] [m] d2
A 11.588,256 15.511,332 815,325 PA 53,179 815,325 0,0004 0,185 150,917
B 11.599,247 15.450,458 817,269 PB 46,931 817,269 0,0005 0,238 194,238
C 11.520,053 15.436,214 816,567 PC 48,716 816,567 0,0004 0,221 180,110
D 11.527,000 15.510,000 817,864 PD 50,318 817,864 0,0004 0,207 169,092
E 11.560,000 15.410,000 815,943 PE 59,091 815,943 0,0003 0,150 122,322
1
d 2
0, 0019
A partir dos resultados parciais apresentados na Tabela 18.2 e aplicando a equação (18.3), obtém-se a altitude do ponto (P)
conforme apresentado a seguir:
H P 150, 917 194, 238 180,110 169, 092 122, 322 816,679 m
em que:
ai, j = coeficientes do polinômio;
x, y = variáveis do polinômio;
n = grau do polinômio.
O problema na aplicação deste método de interpolação é que, à medida que o grau do polinômio aumenta, a superfície
interpolada torna-se rapidamente irreal, inviabilizando o uso do método para a modelagem numérica de terreno. Para evitar
tal ocorrência, sugere-se utilizar métodos de interpolação tridimensional regional local. Nesses casos, divide-se o domínio de
definição do modelo em vários subdomínios para, em seguida, descrever o comportamento de cada um deles, por meio
Modelo numérico de terreno e-9
de uma função de interpolação simplificada. Dessa forma, conforme apresentado na sequência, existem diferentes funções de
interpolação que podem ser aplicadas, dependendo da estruturação dos dados e da continuidade geométrica desejada para os
subdomínios. Apresentam-se na sequência as de uso comum em modelagem numérica de terreno.
H a0 a1 x a2 y (18.6)
com:
ai = coeficientes do polinômio;
x, y, H = coordenadas dos vértices do triângulo.
H1 1 x1 y1 a0
H 2 1 x2 y2 a1 (18.8)
H 3 1 x3 y3 a2
H = X * A (18.9)
e, assim,
A = X -1 H (18.10)
Obtêm-se, então, os valores dos coeficientes (a0, a1, a2) e, por conseguinte, o valor (HP) de qualquer ponto (P) de coorde-
nadas (XP , YP) conhecidas e situado no interior do triângulo, bastando, para isso, substituir as suas coordenadas (XP , YP) na
equação (18.6).
Os valores dos quatro coeficientes (ai) do polinômio são calculados em função das coordenadas (X, Y, H) conhecidas para
cada vértice do elemento da malha, ou seja, P1 (x1, y1, H1), P2 (x2, y2, H2), P3 (x3, y3, H3) e P4 (x4, y4, H4). Assim, tem-se:
1
a0 1 x1 y1 x1 y1 H1
a1 1 x2 y2 x2 y2 H2
a2 1 x3 y3 x3 y3 H3 (18.12)
a3 1 x4 y4 x 4 y 4 H 4
e-10 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
Obtêm-se, então, os valores dos coeficientes (a0, a1, a2, a3) e, por conseguinte, o valor (HP) de qualquer ponto (P) de coor-
denadas (XP ,YP) conhecidas e situado no interior do elemento da malha, bastando para isso substituir as suas coordenadas
(XP ,YP) na equação (18.11).
A aplicação de funções de interpolação linear ou bilinear,
conforme descrito anteriormente, apresenta, contudo, um pro-
blema de continuidade entre as superfícies dos subdomínios. Por
serem facetas planas elas não são contínuas, conforme indicado
na Figura 18.13. Para solucionar este problema, é necessário uti-
lizar polinômios de maior grau, por exemplo, polinômios com 8,
12 e até 16 termos, conforme indicado na sequência.
Para o caso da utilização de um polinômio de 8 termos, ado-
ta-se o polinômio de interpolação biquadrático, conforme des-
crito pela equação (18.13).
H a0 a1 x a2 y a3 xy a4 x 2 a5 y 2 a6 x 2 y a7 xy 2 (18.13)
Figura 18.13 • Descontinuidade das facetas planas de uma
Os termos (x3) e (y3) foram abandonados por conveniência rede triangular.
de cálculo.
Têm-se, assim, 8 coeficientes para serem calculados. A solução é utilizar uma malha regular com 8 pontos de referência,
ou seja, adicionando-se 4 novos pontos nos lados de cada elemento da malha, por meio, por exemplo, de uma interpolação
bidimensional cúbica.
Para a malha regular, pode-se também considerar o uso de um polinômio bicúbico com 16 termos, conforme indicado na
equação (18.14).
H a0 a1 x a2 y a3 xy a4 x 2 a5 y 2 a6 x 2 y a7 xy 2 a8 x 2 y 2
(18.14)
a9 x 3 a10 y 3 a11 x 3 y a12 xy 3 a13 x 2 y 3 a14 x 3 y 2 a15 x 3 y 3
Têm-se assim 16 coeficientes para serem calculados. A solução proposta para este caso é utilizar a primeira e a segunda
derivadas parciais da função como condições de continuidade para os subdomínios. Para os casos de malhas regulares, as
primeiras derivadas em (X) e em (Y) são consideradas iguais às tangentes das junções entre dois subdomínios adjacentes em
ambas as direções e a segunda derivada é igualada às tangentes diagonais.
A solução para o cálculo dos 16 coeficientes é alcançada considerando que quatro equações são formadas pelos valores de
(Hi) de cada vértice do elemento quadrangular e as 12 equações remanescente são formadas pelas 3 derivadas em cada vértice.
Obtêm-se, então, os valores dos coeficientes (ai) e, por conseguinte, o valor (HP) de qualquer ponto (P) de coordenadas (XP ,YP)
conhecidas e situado no interior do elemento da malha, bastando para isso substituir as suas coordenadas (XP ,YP) na equação (18.14).
Para os casos de redes triangulares, existem também soluções propostas com o uso de polinômios bicúbicos. A metodo-
logia aplicada, entretanto, exige cálculos matemáticos um pouco mais sofisticados do que os precedentes. Por esta razão, eles
não foram incluídos neste texto. O leitor interessado deverá consultar literatura especializada.
Além dos modelos de interpolação citados, o leitor poderá encontrar vários outros que podem ser aplicados para a modelagem
numérica de terreno. Entre eles, se destaca o Método de Interpolação Krigagem ou Krigeagem. Esse método parte do princípio
de que a superfície a ser gerada é baseada em uma estrutura de correlação espacial. Essa superfície apresenta três componentes:
um estrutural, associado a um valor médio constante ou a uma tendência (função determinística); um termo estocástico, que
varia localmente e depende espacialmente do componente estrutural; e um ruído aleatório não correlacionado, normalmente
distribuído. Vale ressaltar que essa interpolação só pode ser implementada caso os componentes supracitados sejam detectados.
Tal detecção é efetuada por meio de um gráfico, chamado variograma, obtido a partir dos pontos medidos. Embora disponível
em muitos programas aplicativos de modelagem numérica de terreno, este método não será discutido neste livro.
em que:
=
Se H P1 h=
ou H P2 h → a curva passa pelo vértice (P1) ou (P2)
A Figura 18.19 mostra um exemplo do traçado de um perfil do alinhamento (greide) AB definido sobre um MNT.
3 Ver Capítulo 23 – Curvas horizontais e verticais para mais detalhes sobre estaqueamento.
Modelo numérico de terreno e-15
19.1 introdução
Conforme destacado anteriormente neste livro, as cartas, os mapas e as plantas topográficas são representações planas da
superfície curva terrestre. Eles são obtidos por meio da aplicação de modelos matemáticos diversos, que variam em função
das dimensões da superfície terrestre a ser representada, como já discutido em capítulos precedentes. Entre os modelos dis-
poníveis, se destacam as projeções cartográficas, que tratam fundamentalmente do estabelecimento de relações matemáticas
e gráficas que permitem representar a superfície de referência elipsoidal terrestre global, ou parte dela, sobre uma superfície
plana com as menores deformações possíveis. A superfície de referência elipsoidal, neste caso, é representada por um sistema
de coordenadas geodésicas (φg, λg), enquanto a superfície plana é definida por um sistema de coordenadas plano específico,
que varia em função da projeção cartográfica adotada. Para a Engenharia, em geral, se prefere aquelas definidas sobre um
sistema de coordenadas planorretangular (X, Y), de forma que:
X f1 g , g
Y f2 ,
g g
(19.1)
As funções de mapeamento (f1) e (f2) podem possuir infinitas formas. O desafio é escolhê-las de maneira a minimizar
as deformações geométricas no modelo de representação plana. Sempre haverá deformações e elas crescem à medida que a
superfície representada aumenta. Porém, é possível preservar algumas características geométricas dos dados espaciais repre-
sentados, por exemplo, os ângulos, as áreas ou as distâncias. A escolha de qual característica será preservada dependerá da
finalidade para a qual o modelo da representação plana está sendo criado.
Existe na literatura uma infinidade de sistemas de projeções cartográficas e muitos livros dedicados exclusivamente ao
tema. Entre os sistemas de destaque, o Sistema de Projeção UTM, por ser o mais simples de usar e aquele que se adapta melhor
às necessidades da Engenharia, é o mais utilizado mundialmente e o recomendado para os mapeamentos no território brasi-
leiro. Por esta razão, este capítulo trata exclusivamente desse sistema, apresentando ao leitor os seus fundamentos matemáticos
e como utilizá-los convenientemente em seus projetos.
qualidade. As grandezas preservadas são excludentes. Assim, em função da grandeza geométrica preservada, as projeções
cartográficas podem ser classificadas como indicado a seguir:
• Projeção conforme,1 aquela que conserva os ângulos e, por conseguinte, a forma das figuras geométricas representadas. Este
é o tipo de projeção adotada para os projetos de Engenharia, uma vez que ela permite estabelecer uma relação direta entre
os ângulos medidos no terreno (superfície topográfica) e os seus valores na superfície plana (projeção cartográfica);
• Projeção equivalente, aquela que conserva as áreas, ou seja, uma área determinada sobre a projeção cartográfica é igual,
em escala, a sua correspondente no terreno. Este é o tipo de projeção usado para o estabelecimento de cartas em escalas
reduzidas como para um atlas geográfico, por exemplo;
• Projeção equidistante, aquela que conserva as distâncias, ou seja, uma distância determinada sobre a projeção cartográ-
fica é igual, em escala, a sua correspondente no terreno.
Além das projeções citadas existem outras, que fogem do escopo deste livro. Os leitores interessados deverão consultar
literatura especializada.
1 A Projeção Conforme foi desenvolvida pelo matemático e geodesista alemão Carl Friedrich Gauss (1777-1855). Ela passou a ser utilizada em
Geodésia a partir do desenvolvimento matemático de J. H. L. Krüger (1857-1923). Em homenagem a eles, a Projeção Conforme de Gauss e
suas coordenadas foram batizadas, na década de 1920, de Projeção e Coordenadas de Gauss-Krüger, na Alemanha e, mais tarde, nos demais
países da Europa.
e-18 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
2 A Projeção UTM mantém os ângulos e a forma das figuras para pequenas áreas, como aquelas utilizadas em projetos de Engenharia.
e-20 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
Existem assim três regiões de projeção: duas projetadas com fator de escala maior que 1 e uma com fator de escala menor
que 1. Os pontos situados sobre as linhas AB e CD são projetados sem deformações. Ao fator de escala da Projeção UTM
denomina-se, neste livro, de (kUTM).
Para que as deformações sejam controladas, a área de projeção da superfície elipsoidal sobre o cilindro é restrita a 6° de
amplitude, determinando várias parcelas de projeção sobre ele, denominadas fusos, que variam de posição em longitude, à
medida que o cilindro é girado horizontalmente. Cada fuso é representado por um número que o identifica ou pela longitude
do seu meridiano central,3 conforme indicado na Figura 19.9.
Conforme já destacado, a representação gráfica do Sistema de Projeção UTM é feita sobre um sistema de coordenadas planor-
retangular, denominado Sistema de Coordenadas UTM. Para identificá-lo, o eixo das abcissas é denominado Este e representado
pela letra (E) e o eixo das ordenadas é denominado Norte e representado pela letra (N). Simplificadamente, são denominadas
coordenadas UTM (N, E). A malha retangular desse sistema de coordenadas recobre cada fuso com as linhas das ordenadas pa-
ralelas ao meridiano central do fuso e as abscissas paralelas à linha do Equador, conforme ilustrado na Figura 19.10.
3 Dá-se o nome de meridiano central ao meridiano terrestre localizado no centro da área de uma projeção cartográfica. No caso da Projeção UTM,
ele corresponde ao meridiano situado no centro do fuso correspondente.
Projeção cartográfica e-21
Por se tratar de um sistema de projeção cartográfica universal, o Sistema de Projeção UTM possui uma série de carac-
terísticas geométricas que o define. São elas:
• Amplitude dos fusos: 6° com 3° para cada lado do meridiano central (MC).
• Numeração dos fusos: 1 a 60, a partir do antemeridiano de Greenwich, para o leste. Assim, o fuso 1 possui meridiano
central (MC) igual a 177° W e o fuso 60 possui meridiano central (MC) igual a 177° E (ver Fig. 19.10).
• Para restringir as deformações nos polos, a Projeção UTM está limitada entre as latitudes 84°N e 80°S.
• A linha do Equador e a linha do meridiano central de cada fuso são representadas por linhas retas na projeção. Os de-
mais meridianos são representados por linhas côncavas com relação ao meridiano central e os paralelos são representa-
dos por linhas côncavas com relação ao polo mais próximo (ver Fig. 19.9b).
• Os meridianos e os paralelos se interceptam em ângulos retos na projeção.
• O espaçamento entre os meridianos, na representação gráfica, aumenta à medida que eles se afastam do meridiano
central. Para manter a proporcionalidade da projeção conforme, a escala na direção Norte-Sul também é deformada,
acarretando, assim, a existência de uma escala diferente para cada ponto situado sobre o mesmo lado do meridiano.
• O cilindro de projeção secante à superfície de referência é disposto sobre ela de forma que as linhas de secância estejam
localizadas a 180 km do meridiano central. Tem-se, assim, um fator de escala no meridiano central (k0) igual a 0,9996.
Este é, portanto, o menor fator
de escala do Sistema de Proje-
ção UTM.
• O fator de escala máximo ocorre
na borda do fuso e para o elipsoi-
de GRS80 é igual a 1,000981060.
• A malha de coordenadas re-
tangulares está disposta sobre
o fuso de forma que o ponto
de cruzamento do meridiano
central com a linha do Equa-
dor possui coordenadas (N =
10.000.000 m, E = 500.000 m)
para o hemisfério sul e (N =
0,000 m, E = 500.000,000 m)
para o hemisfério norte.
A Figura 19.11 ilustra os princi-
pais detalhes geométricos do Siste- Figura 19.11 • Detalhes geométricos do Sistema de Projeção UTM.
ma de Projeção UTM. Fonte: adaptada de LETEC (2019).
e-22 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
Solução:
Aplicando a equação (19.4), obtém-se o valor do meridiano central com o seu respectivo sinal algébrico.
47 o 51 37, 2336 o o
MC 6 * arred 3 45
6
O valor do número do fuso é obtido por meio da equação (19.3).
45o 183o
Fuso abs 23
6
Conhecendo o valor do fuso, pode-se também calcular o valor do meridiano central aplicando a equação (19.2).
MC 6 * 23 183o 45o
19.4.1 Transformação de coordenadas geodésicas (φg, λg) para coordenadas UTM (N, E)
Pelo fato de na maioria das vezes os projetos de Engenharia se basearem em sistemas de coordenadas planorretangulares, a
transformação de coordenadas geodésicas para planorretangulares UTM é a mais comumente utilizada em Geomática. O mo-
delo matemático rigoroso comumente utilizado para essa transformação baseia-se nas equações indicadas na sequência, as quais
devem ser utilizadas com os sinais algébricos da latitude e da longitude, em função da posição do ponto no globo terrestre.
N I II * p2 III * p 4 A6 * p6 (19.5)
E IV * p V * p3 B5 * p5 (19.6)
em que:
ordenada N = N9 (para o hemisfério norte);
ordenada N = 10.000.000 + N9(para o hemisfério sul);
abscissa E = 500.000 + E9.
I k0 * S (19.7)
B C D E F
S a * 1 e 2 * A * g sen 2 g sen 4 g sen 6 g sen 8 g sen 10 g
2 4 6 8 10
(19.8)
N * sen g * cos g * 108 k0
II (19.15)
2 " 2
N * sen * cos3
III
g g
* 5 tg
2
9e2 * cos2 4e4 * cos 4 * 1016 k0 (19.16)
4 g g g
24
N * cos g * 104 k0
IV (19.17)
"
N * cos 3 g
V 3 * 1 tg
2
g e 2 * cos 2 g * 1012 k0 (19.18)
6 "
p 0, 0001 * (19.19)
g MC (19.20)
N * sen g * cos5 g
61 58tg 2 g tg 4 g
A6 6
* * 1024 k0 (19.21)
720 " 2
270e * cos 2
g
2
330e * sen 2
g
Dλ = λg – λMC = diferença entre a longitude do ponto e a longitude do meridiano central, considerando os sinais algébricos;
k0 = 0,9996;
N = raio de curvatura do primeiro vertical, conforme equação (3.8);
e, e9 = primeira e segunda excentricidades, conforme equações (3.3) e (3.5).
Para auxiliar o leitor em seus cálculos, apresentam-se na Tabela 19.1 os valores dos parâmetros fixos utilizados para a trans-
formação de coordenadas geodésicas para coordenadas UTM, considerando o elipsoide GRS80.
Tabela 19.1 • Parâmetros fixos para a transformação de coordenadas geodésicas para coordenadas UTM, considerando o elipsoide GRS80
a e e9 A B
6.378.137,000 m 0,081819191 0,082094438 1,005052502 0,005063109
C D E F
1,062759026*10–5 2,082037857*10–8 3,932371371*10–11 6,554547943*10–14
Solução:
Considerando os parâmetros indicados na Tabela 19.1 e sabendo que o ponto (E010) se encontra no hemisférico sul e a oeste do
meridiano de Greenwich, obtêm-se os valores parciais indicados na Tabela 19.3.
Tabela 19.3 • Valores parciais calculados para o ponto (E010)6
N = 6.381.143,1030 m Δλ = –10.297,233699 p = –1,02972336099 S = –2.437.261,5097 m (I) = –2.436.286,6051 m
(II) = –2.606,6090 m (III) = –2,1447 m (IV) = 286.661,6936 m (V) = 81,2534 m (A6) = –0,0016 m
(B5) = 0,0205 m N9 = –2.439.052,8844 m E9 = –295.270,9823 m
Em função dos valores parciais indicados na Tabela 19.3 obtêm-se as coordena- Tabela 19.4 • Coordenadas UTM calculadas
das UTM calculadas do ponto (E010) indicadas na Tabela 19.4. Ponto E [m] N [m]
Nota: os valores calculados na Tabela 19.4 serão utilizados no restante do capítulo
E010 204.729,0177 7.560.947,1156
com o arredondamento nas quatro casas decimais indicadas.
19.4.2 Transformação de coordenadas UTM (N, E) para coordenadas geodésicas (φg, λg)
A transformação de coordenadas UTM para geodésicas tem pouca aplicação em Engenharia. Mesmo assim, é importante que
o engenheiro tenha conhecimentos suficientes para realizá-la quando necessário. Dessa forma, apresentam-se na sequência as
equações matemáticas que podem ser aplicadas para esse fim.
em que:
φ0 = latitude inicial, em grau decimal;
5 O valor da altura elipsoidal está apresentado nesta tabela pelo fato de ele ser utilizado em cálculos posteriores ao longo do capítulo. Ele não
interfere nos cálculos da transformação de coordenadas geodésicas para UTM.
6 Notar os valores negativos das distâncias indicadas na tabela, que ocorrem pelo fato de se considerar os sinais algébricos das coordenadas geodésicas.
Alguns autores desconsideram esses sinais para que as distâncias sejam positivas, impactando no sinal algébrico dos cálculos das coordenadas (N, E).
Projeção cartográfica e-25
F * a * 1 e2
(19.30)
10
em que B, C, D, E, F são os parâmetros Tabela 19.5 • Parâmetros fixos para a transformação de coordenadas UTM para coordenadas geodésicas,
definidos na seção anterior. considerando o elipsoide GRS80
Para auxiliar o leitor em seus cál- a b g δ ε ζ
culos, apresentam-se na Tabela 19.5 os
6.367.449,1458 m 16.038,5087 m 16,8326 m 0,0220 m 3,1142*10 m 4,1526*10–8 m–5
valores dos parâmetros fixos utilizados
para a transformação de coordenadas
UTM para coordenadas geodésicas, considerando o elipsoide GRS80.
Para fins de projetos de Engenharia, a iteração da equação (19.25) deve ocorrer até que seja verificado a condição
φn = φi+1 – φi # 0,000199. Geralmente, esta condição é atendida após a quinta iteração.
Calculado o valor de (φn), dá-se prosseguimento aos cálculos para a obtenção da latitude final (φg) conforme indicado a seguir:
VIII * * (19.34)
24 N 4 3e 4 * cos 4 n 9e 4 * cos2 n * sen2 n k04
tg(n ) 61 90tg 2 n 45tg 4 n 107e 2 * cos 2 n 1036
D6 * * (19.35)
720N 6 162e * sen n 45e * tg n * sen n k06
2 2 2 2 2
sendo (N) o raio de curvatura do primeiro vertical calculado para o valor (φn), conforme equação (3.8).
sec(n ) 1018
X * 1 2 tg 2
( ) e 2
* cos 2
( ) * (19.38)
6N 3
n n
k03
sec(n ) 1030
E5 * 5 28 tg 2
( ) 24 tg 4
( ) 6e 2
* cos 2
( ) 8e 2
* sen 2
( ) * (19.39)
120N 5
n n n n
k05
em que:
N = raio do primeiro vertical calculado para o valor (φn), conforme equação (3.8);
e92 = segunda excentricidade quadrática, conforme equação (3.6);
ρ99 = 206.264,806299 (fator de conversão de radiano para segundo de arco).
No hemisfério sul, o valor de (γ) é positivo para os pontos situados a Oeste do meridiano central e negativo para os pontos
situados a Leste. Como se verá na sequência, as equações matemáticas utilizadas para o cálculo desse valor já produzem resul-
tados com os seus respectivos sinais.
Existem na literatura várias equações disponíveis para o cálculo do valor da convergência meridiana (γ). Apresentam-se
na sequência duas delas baseadas nas coordenadas geodésicas do ponto de interesse. Existem também outras equações
baseadas nas coordenadas UTM, porém, elas utilizam o valor da latitude (φg) do ponto que precisa ser calculado por um
método de transformação de coordenadas UTM para coordenadas geodésicas, o que adiciona pouca vantagem com rela-
ção ao modelo de cálculo da convergência meridiana baseada nas coordenadas geodésicas. Por esta razão, elas não foram
incluídas neste texto.
O interesse em se conhecer o valor da convergência meridiana para aplicações em Engenharia se dá pelo fato de, em
alguns casos, os levantamentos topográficos ou geodésicos terem o Norte Verdadeiro (NG) como única referência, por
exemplo, nos trabalhos subterrâneos, em que são usados giroteodolitos (teodolitos acoplados a um giroscópio). Pode-se
também citar o caso de instalações de painéis solares, em que se busca a direção do Norte Verdadeiro para maximizar a
eficiência da instalação.
g MC * sen g (19.40)
em que:
γ = convergência meridiana;
λg = longitude do ponto considerado;
λMC = longitude do meridiano central;
φg = latitude geodésica do ponto considerado.
sen g * cos 2 g 2 2
XIII * 1 3e * cos g 2e 4 * cos 4 g *1012 (19.43)
3 "2
sen g * cos 4 g * 2 tg
C5
15 " 4
2
* 10
g
20
(19.44)
em que:
γ = convergência meridiana, em segundos;
φg = latitude geodésica do ponto considerado;
ρ99 = 206.264,806299 (fator de conversão de radiano para segundo de arco);
p = dado pela equação (19.19);
e92 = segunda excentricidade quadrática, conforme equação (3.6).
Solução:
Cálculo aproximado da convergência meridiana em função das coordenadas geodésicas:
Aplicando a equação (19.40), tem-se:
47 o 51 37, 2336 45o * sen 22o 01 52, 5229 1o 0422, 6194
e-28 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
Tabela 19.8 • Parâmetros para o cálculo da convergência meridiana do ponto (E010) em função das coordenadas geodésicas
3.865, 4270
p = –1,0297233699 (XII) * p = 3.862,619499 (XIII) * p3 = 2,805499 (C5) * p5 = 0,002299
1o0425, 4270
EB EA N B N A
2 2
dUTM (19.45)
E EA o
AzQ AB arctg B 180 (19.46)
NB NA
Pelo fato de a geodésica ser representada por uma curva na Projeção
UTM e o alinhamento entre os pontos (A) e (B) ser considerado uma reta
Figura 19.13 • Ilustração da redução à corda.
(linha pontilhada da figura), existe uma diferença angular entre a reta e a
tangente a essa curva, denominada ângulo de redução à corda7 (δ), cujo valor
pode ser calculado por meio da equação (19.47) ou (19.48).
2E E
AB A 2 B * N B N A * (19.47)
6R0
E 2E
BA A 2 B * N A N B * (19.48)
6R0
em que:
δi, j = ângulo de redução à corda, em segundos;
Ei9 = E –500.000;
Ni, Nj = ordenadas UTM dos pontos extremos da semirreta (i, j);
R0 = raio médio local da Terra;
ρ99 = 206.264,806299 (fator de conversão de radiano para segundo de arco).
Geralmente, para as distâncias medidas nos trabalhos topográficos, a curvatura da geodésica é muito pequena e, por isso,
ela é desconsiderada, aceitando-se a corda que une os dois extremos da semirreta como a referência angular. Para uma dis-
tância de 2 km, por exemplo, o ângulo de redução à corda é da ordem de um segundo, ou seja, da ordem da precisão angular
de uma estação total de alta precisão.
7 Muitos autores preferem adotar a simbologia (t-T) para indicação do ângulo de redução à corda.
Projeção cartográfica e-29
Nos casos em que o ângulo de redução não pode ser desprezado, ele afetará os valores das direções medidas em campo,
alterando os valores dos ângulos determinados entre essas direções, conforme ilustrado na Figura 19.14.
A conversão angular entre o ângulo da tangente (at) e o ângulo da corda (ac), nestes casos, é dada pela equação (19.49),
onde o sinal positivo ou negativo deve ser empregado em função dos quadrantes das localizações dos alinhamentos.
t c AB AC (19.49)
Solução:
Para a solução deste exercício deve-se, primeiramente, calcular o raio médio local da Terra e os valores de (E9E010) e (E9E014). Assim,
tomando o ponto (E010) como referência, têm-se:
N E 010 6.381.143,103 m
M E010 6.344.401, 487 m R0 E 010 6.362.746 m
EE 010 204.729, 0177 500.000 295.270, 9823 m
EE 014 203.551, 8201 500.000 296.448,1799 m
Em seguida, obtém-se o valor do ângulo de redução à corda para o ponto (E010) aplicando a equação (19.47). Assim, tem-se:
2 * 295.270, 9823 296.448,1799 * 7.560.860, 4734 7.560.947,1156 * 206.264, 8062
E010 0, 0653
6 * 6.362.7462
De forma semelhante ao cálculo da convergência meridiana, existe na literatura várias equações disponíveis para o cálculo
do valor do fator de escala UTM (kUTM). Apresenta-se na sequência o cálculo aproximado em função das coordenadas UTM
e o cálculo rigoroso em função das coordenadas geodésicas.
k UTM k0 * 1 C2 * L2 * 1 C4 * L2 (19.51)
Sendo:
L g MC * cos g em radianos
� (19.52)
e 2 * cos2 g
2 (19.53)
1 e2
1 2 (19.54)
C2
2
5 4 * tg 2 g 2 * 9 24 * tg 2 g
C4 (19.55)
12
e2 = primeira excentricidade quadrática, conforme equação (3.4).
Conforme ilustrado na Figura 19.16, o valor do fator de escala UTM no meridiano central é igual a k 0 = 0,9996.
A partir daí, ele cresce tanto para Oeste quanto para Leste até atingir o valor kUTM = 1,000, nas vizinhanças dos valores
de E = 320.000 metros e E = 680.000 metros, continuando a crescer até o valor kUTM = 1,000981060, nas bordas dos fusos
(para o elipsoide GRS80).
Projeção cartográfica e-31
Pelo fato de o fator de escala UTM ser pontual, ele varia em função da localização do ponto na superfície de projeção. Por
esta razão, para aplicá-lo a uma distância entre dois pontos, alguns profissionais consideram adequado adotar o fator de escala
de qualquer um dos pontos extremos da semirreta para distâncias inferiores a 1 km; utilizar o fator de escala médio calculado
em função dos fatores de escala extremos para distâncias entre 1 e 4 km e, para distâncias maiores que 4 km, utilizar o fator
de escala calculado por uma média ponderada adotando o valor do fator de escala do ponto médio da semirreta com um peso
igual a 4 com relação aos pontos extremos. Assim, têm-se:
Para distâncias inferiores a 1 km:
As estratégias de ponderação do valor do fator de escala UTM indicadas são apenas sugestões. O leitor deverá avaliar o seu
uso segundo as características geométricas e da precisão exigida pelo seu projeto.
Notar que para áreas pequenas pode-se ainda adotar um fator de escala médio único para toda a área. O tamanho da área,
neste caso, deve ser avaliado em função da precisão das medições de distâncias considerada adequada para o projeto.
Com o valor do fator de escala UTM (kUTM) calculado, pode-se adotar duas estratégias de cálculo da distância plana UTM
(dUTM). A primeira delas consiste em calcular a distância elipsoidal (d0), multiplicando a distância horizontal topográfica (d)
e-32 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
pelo fator de escala altimétrico (kalt) e, em seguida, calcular a distância plana UTM (dUTM), multiplicando a distância elipsoidal
(d0) pelo fator de escala UTM. Assim, têm-se:
d0 kalt * d (19.59)
Para não realizar o cálculo em duas etapas, recomenda-se utilizar o fator de escala combinado (FC) ou fator de escala total
(kT), conforme indicado na equação (19.61).
Neste caso, multiplicando o fator de escala total (kT) pela distância horizontal topográfica (d), obtém-se diretamente a
distância plana (dUTM). Dividindo a distância plana (dUTM) pelo fator de escala total (kT), obtém-se a distância horizontal
topográfica (d). Assim, tem-se:
d UTM (19.62)
d UTM = kT * d ou d
kT
A influência do fator de escala altimétrico (kalt) no cálculo da distância plana ou a sua inversa é um elemento de cálculo
que deve ser observado com cuidado. Adotando o mesmo princípio de cálculo da variação do valor da distância elipsoidal em
função do raio médio local da Terra e da altitude, apresentado na Seção 6.2.5 – Distância elipsoidal, mostra-se que uma varia-
ção de 6 metros na altitude causa uma variação de 1 ppm na distância UTM (2 ppm para 12 metros e 3 ppm para 18 metros).
Estes valores podem indicar quando se deve ou não considerar a ondulação geoidal e/ou a variação de altitude do terreno para
o cálculo do valor do fator de escala altimétrico e, por conseguinte, do fator de escala total (kT).
Solução:
Para a solução deste exercício, inicialmente, deve-se calcular a distância horizontal (dE010) no nível de (E010), de acordo com a
equação (6.1). Assim, tem-se:
dE010 1.179, 788 * sen 90o 3055 1.179, 740 m
Notar que foi desconsiderado o efeito da curvatura da Terra e da refração atmosférica vertical.
Como a distância entre os pontos é da ordem de 1,2 km, neste exercício, para o cálculo do fator de escala altimétrico, serão
considerados a altitude média entre os dois pontos e o raio médio local da Terra na latitude do ponto (E010). Assim, têm-se:
6.362.746, 000
kalt m 0, 999864569
6.362.746, 000 861, 830
Projeção cartográfica e-33
Os valores dos fatores de escala e das distâncias UTM calculados para cada critério estão indicados na Tabela 19.12.
Tabela 19.12 • Fatores de escala e distâncias UTM obtidas para os diferentes critérios de cálculo
Critério de cálculo Ponto kUTM kUTMmédio kTmédio dUTM[m]
E010 1,000676531
Método simplificado por coordenadas UTM 1,000680832 1,000545309 1.180,384
E014 1,000685134
E010 1,000677393
Método rigoroso por coordenadas geodésicas 1,000681697 1,000546174 1.180,385
E040 1,000686002
Solução:
Para a solução deste exercício, inicialmente, deve-se calcular a distância UTM entre os pontos (E010) e (E014) em função de suas
coordenadas indicadas na Tabela 19.9. Assim, tem-se:
2 2
d UTM 204.729, 0177 203.551, 8201 7.560.947,1156 7.560.860, 4734 1.180,3817 m
De acordo com os resultados do Exemplo aplicativo 19.6, aplicando os valores dos fatores de escala total calculados,
obtêm-se os valores da distância horizontal topográfica para cada critério de cálculo indicada na seção anterior, conforme
indicado a seguir:
1.180, 3817
Método simplificado por coordenadas
= UTM: d = 1.179,7384m
1, 000545309
1.180, 3817
Método rigoroso por coordenadas geodésicas:
= d = 1.179,7374m
1, 000546174
E o
AzQ arctg 180 (19.63)
N
O azimute geodésico ou azimute verdadeiro (Azg) é o ângulo horário, na projeção, entre a tangente ao meridiano projetado
que passa pelo ponto inicial do alinhamento considerado e a tangente ao arco da projeção do alinhamento considerado, con-
forme ilustrado na Figura 19.17.
De acordo com a geometria da Figura 19.17, o azimute geodésico (Azg(AB)) e o azimute da quadrícula (AzQ(AB)) estão rela-
cionados entre si em função da convergência meridiana (γA) e do ângulo de redução à corda (δAB). A equação para relacionar
os dois azimutes depende do quadrante em que se encontra o alinhamento. Assim, para o hemisfério sul e considerando os
sinais algébricos de (γ) e (δ), tem-se:
Az g AzQ (19.64)
e-34 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
Figura 19.17 • Azimutes na Projeção UTM em função da convergência meridiana e do ângulo de redução à corda.
Solução:
Para a solução deste exercício é necessário conhecer os azimutes da quadrícula nas direções E010-E014 e E014-E010, as conver-
gências meridianas e os ângulos de redução à corda nos pontos (E010) e (E014).
Os azimutes da quadrícula são calculados de acordo com a equação (19.63). Assim, têm-se:
No Exemplo aplicativo 19.4, foi apresentada a solução para o cálculo da convergência meridiana para o ponto (E010). Apli-
cando a mesma sequência de cálculo, determina-se a convergência meridiana para o ponto (E014).
No Exemplo aplicativo 19.5, foi apresentada a solução para o cálculo da redução à corda para o alinhamento E010-E014.
Aplicando a mesma sequência de cálculo, determina-se a redução à corda para o alinhamento E014-E010.
Considerando que os alinhamentos se encontram no hemisfério sul, aplicando a equação (19.64), têm-se os seguintes valores
para os azimutes geodésicos:
Azg E 010 E 014 265o 4726,1537 1o 0425, 4270 0o 0000, 0653 266o 51 51, 6460
Az g E 014 E 010 85o 4726,1537 1o 0440, 9644 0o 0000, 0653 86o 527, 0528
Para as transformações de coordenadas e para as determinações dos valores dos elementos geométricos do Sistema de Pro-
jeção LTM, referir-se às equações utilizadas para o Sistema de Projeção UTM apresentadas nas seções anteriores, alterando,
evidentemente, o valor de (k0).
Solução:
Para a solução deste exercício, deve-se considerar os parâmetros indicados na Tabela 19.1 e os parâmetros do elipsoide GRS80.
Assim, considerando a Projeção LTM com meridiano central igual a –47°3090099 e fator de escala k0 = 0,999995, têm-se:
Tabela 19.13 • Parâmetros para o cálculo das coordenadas LTM dos pontos (E010) e (E014)
E010 S = –2.437.261,5097 m Δλ = –1.297,233699 p = –0,129723360 (I) = –2.437.249,3234 m
(II) = –2.607,6390 m (III) = –2,1455 m (IV) = 286.774,9703 m (V) = 81,2855 m
A6 = –0,0016 m B5 = 0,0205 m N´ = –2.437.293,2057 m E´= –37.201,5902 m
E014 S = –2.437.325,9888 m Δλ = –1.338,304599 p = –0,133830450 (I) = –2.437.313,8022 m
(II) = –2.607,6938 m (III) = –2,1455 m (IV) = 286.773,7976 m (V) = 81,2835 m
A6 = –0,0016 m B5 = 0,0205 m N9 = –2.437.360,5082 m E9= –38.379,2612 m
e-36 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
As coordenadas LTM calculadas para os pontos (E010) e (E014) estão apresen- Tabela 19.14 • Coordenadas calculadas LTM
tadas na Tabela 19.14. Ponto X [m] Y [m]
E010 162.798,410 2.562.706,794
E014 161.620,739 2.562.639,492
Solução:
O primeiro passo na solução deste exercício é calcular
o valor do raio médio da Terra para o local. Assim,
considerando as coordenadas geodésicas do ponto (P)
e aplicando as equações (3.7) a (3.9), têm-se os valo-
res indicados na Tabela 19.16.
Na sequência, deve-se calcular as coordenadas
provisórias dos vértices da poligonal, em função dos
valores medidos em campo, sem aplicar nenhuma
correção. Com as coordenadas provisórias pode-se
calcular os fatores de escala que permitirão converter
as distâncias horizontais topográficas em distâncias Figura 19.19 • Ilustração da poligonal levantada em campo.
UTM. Para tanto, foi considerada a altitude média
de todos os pontos da poligonal levantada. Todos os
valores calculados até esta etapa estão indicados nas Tabela 19.16 • Cálculo do raio médio local da Terra no ponto (P)
Tabelas 19.17 a 19.19. φP = –22°03953,566099 N = 6.381.151,833 m
Após as etapas indicadas, têm-se os dados neces- P
M = 6.344.427,527 m R0 ≅ 6.362.763 m
sários para proceder com o balanceamento da poligo-
nal, conforme a sequência de cálculo apresentada na
Seção 11.2.3.6 – Balanceamento de poligonal apoiada pelo Método de Similitude. Os valores intermediários dos cálculos não
estão indicados no texto.
Para auxiliar o leitor na conferência de seus cálculos, apresentam-se na Tabela 19.20 os erros de fechamento angular e linear
da poligonal, a precisão linear relativa e as coordenadas UTM finais dos vértices da poligonal.
Vale a pena destacar que se não fossem realizadas as conversões de distâncias topográficas para distâncias UTM, a precisão
do levantamento seria igual a 1/2.237.
Considere-se a situação em que se têm dois pontos (P) e (Q) de coordenadas planas UTM conhecidas no fuso (A). A partir
deles e por meio de medições de ângulos e distância reduzidos ao plano UTM pode-se lançar um novo ponto (R) de forma
que ele se situe sobre o fuso adjacente (fuso B). Tem-se, assim, o ponto (R) com coordenadas UTM conhecidas relativas ao
fuso (A), porém, localizado no fuso (B). A partir do ponto (R) pode-se lançar um novo ponto (S) também com coordenadas
relativas ao fuso (A) e situado sobre o fuso (B). Em seguida, as coordenadas UTM dos quatro pontos deverão ser transforma-
das em coordenadas geodésicas estendendo ambos os fusos para compreender os pontos do fuso anterior e posterior. Com
as coordenadas geodésicas conhecidas, calculam-se as coordenadas UTM de cada ponto em seu respectivo fuso e no fuso
adjacente. Agindo assim ter-se-ão os quatro pontos com coordenadas UTM conhecidas nos dois fusos, o que permitirá dar
prosseguimento ao caminhamento.
O leitor deve notar que essa transposição de fuso pode também ser realizada por meio do uso da tecnologia GNSS,
obtendo-se diretamente as coordenadas geodésicas dos pontos medidos. As demais transformações de coordenadas se
mantêm inalteradas.
Figura 19.20 • Ilustração da localização dos pontos (P005), (P006), (P007) e (P008) nos
fusos 22 e 23.
Solução:
1. Realizando os cálculos das coordenadas geodésicas dos pontos (P005), (P006), (P007) e (P008), em função de suas coordenadas
UTM no fuso 22, obtêm-se os valores de coordenadas geodésicas indicados a seguir:
2. Com os valores das coordenadas geodésicas conhecidos, pode-se calcular as coordenadas UTM de cada ponto no fuso 23
estendido. Assim, têm-se:
=
EP 005 189 .989, 694 m N P 005 7.572.034,7511 m
=
EP 006 190 .018, 937 m N P 006 7.572.150,108 m
=
EP 007 190 .330,984 m N P 007 7.571.937, 867 m
=
EP 008 190 .299,285 m N P 008 7.572.233,700 m
e-40 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
Por estas razões, existem modelos de transformações de coordenadas que permitem compatibilizar as coordenadas de am-
bos os sistemas, ou seja, permitem converter as coordenadas do plano UTM para um sistema de referência local e vice-versa.
Os modelos disponibilizados na literatura são diversos, sendo os mais expressivos apresentados a seguir:
• transformação de coordenadas UTM (N, E) para coordenadas no Plano Topográfico Local (PTL) (XL, YL) por meio da
aplicação da transformação de Helmert 2D;
• transformação de coordenadas espaciais geocêntricas (X, Y, Z) para coordenadas no PGL (XL, YL), segundo as equações
de transformação de coordenadas cartesianas geocêntricas para coordenadas cartesianas topocêntricas;
• transformação de coordenadas geodésicas para coordenadas planorretangulares no Sistema Geodésico Local (SGL),
segundo as equações disponibilizadas na NBR no 14166/1998;
• aplicação da Projeção TM de Baixa Distorção (PBD);
• transformação de coordenadas (UTM) para coordenadas no PTL (XL, YL) por meio de reduções cartográficas.
Na sequência, discutem-se as aplicações práticas de cada uma delas.
19.11.1 Transformação de coordenadas UTM (N, E) para coordenadas no PTL (XL, YL) por meio da
aplicação da transformação de Helmert 2D
Este tipo de transformação baseia-se exatamente no modelo de transformação ortogonal com redundância de pontos homólo-
gos descrito na Seção 4.9.1.2 – Transformação entre sistemas de coordenadas cartesianos planos. Conforme apresentado naque-
la seção, o modelo de transformação baseia-se na existência de pelo menos dois pontos homólogos no sistema de coordenadas
UTM e no sistema de coordenadas topográfico local. Obviamente, na prática, se utiliza muito mais de dois pontos e o cálculo
dos parâmetros de transformação pode ser realizado aplicando a sequência de equações indicadas na Seção 4.9.1.2.2 – Trans-
formação ortogonal com excesso de pontos homólogos ou por meio da aplicação de um método de ajustamento de observações
pelo Método dos Mínimos Quadrados.
Esse tipo de transformação é utilizado com frequência nas implantações de obras, cujo projeto esteja no plano topográ-
fico local e se deseja implantar pontos do projeto com instrumentos GNSS-RTK. Nesse caso, como os instrumentos GNSS
podem disponibilizar coordenadas UTM (ou TM), há a necessidade de se realizar uma transformação de coordenadas. Para
isso, o engenheiro deverá ter uma rede de pontos de apoio com coordenadas conhecidas no Plano Topográfico Local (PTL),
as quais serão selecionadas para rastreamento GNSS, formando, assim, o conjunto de pontos homólogos, com coordenadas
conhecidas em ambos os sistemas (UTM e Local). Com o conjunto de pontos assim definido, determinam-se os parâmetros
de transformação, os quais, depois de inseridos no coletor de dados do instrumento GNSS, permitirão trabalhar com ambos
os sistemas de coordenadas. É importante salientar que os pontos homólogos deverão estar uniformemente distribuídos na
área de projeto. A qualidade dos resultados dependerá da qualidade das coordenadas dos pontos de apoio determinadas em
ambos os sistemas.
Pelo fato de se tratar de uma transformação de coordenadas entre sistemas cartesianos planos, a prática tem mostrado que
as deformações geométricas, geradas pelo modelo, podem se tornar inaceitáveis para áreas maiores que 10 × 10 km, depen-
dendo se o projeto tem extensão predominante no sentido Norte-Sul ou Leste-Oeste. Se no sentido Leste-Oeste, as deforma-
ções são mais expressivas. Para áreas pequenas, no entanto, o método se mostra extremamente confiável, gerando resultados
melhores quando comparado com os demais para uma mesma área. Experiências realizadas por Morais (2019) em uma área
de 3,7 km × 12 km no sentido N-S produziram resultados médios da ordem de ±5 cm nos extremos da área.
na (NBR no 14166/1998) e vice-versa. Por esta razão, ele não será discutido aqui. Conforme apresentado naquela seção, por meio
deste método de transformação de coordenadas pode-se transformar coordenadas geodésicas de uma série de pontos conhecidos
para coordenadas planorretangulares no SGL e vice-versa. Da mesma forma que a seção precedente, esse tipo de transformação
utiliza apenas um ponto como origem, o qual pode ser conhecido no plano geodésico local ou adotado.
A Norma Brasileira (NBR no 14166/1998) indica que a extensão para a aplicação deste método de transformação de coor-
denadas pode ser da ordem de 100 × 100 km. Os autores consideram que essa afirmação deve ser vista com resguardo.
Os resultados podem variar sensivelmente dependendo do relevo do terreno. A mesma experiência citada anteriormente
também produziu resultados médios da ordem de ±9 cm para este modelo de transformação.
k0 s = k0 * kr (19.67)
em que:
kr = fator de redução de escala adicional;
l = extensão do projeto (maior dimensão);
R0 = raio médio local da Terra.
R0
i ksi * 1 (19.68)
R0 hi
em que:
R0
i ksi =* fator deescala
1 da projeção no ponto (i), conforme equação (19.50) ou (19.51);
R0 hi
hi = altura elipsoidal do ponto considerado.
Multiplicando o coeficiente (δi) pela distância entre os pontos, obtém-se a deformação na unidade de distância utilizada.
Notar que, multiplicando o coeficiente por 1.000.000, obtém-se a deformação em ppm.
Pelo fato de o processo de definição de uma PBD ser um problema de otimização, é necessário realizar avaliações repetidas.
O valor final é aquele considerado adequado para o projeto em questão.
A PBD aproxima a projeção LTM à superfície terrestre, tornando possível que o engenheiro elabore seus projetos e realize a
sua implantação em campo sem se preocupar com fatores de escala. Além disso, ele pode mesclar medições GNSS e medições
com estações totais sem se preocupar com a aplicação de um fator de escala combinado para cada ponto. Porém, é importante
salientar que se deve documentar e manter os parâmetros definidores da PBD como metadados do projeto, pois apesar das
vantagens apresentadas, ela somente poderá se relacionar como outros sistemas por meio de suas coordenadas geodésicas.
A mesma experiência citada anteriormente produziu resultados médios da ordem de ±10,5 cm para este modelo de trans-
formação no modo tangente.
19.11.5 Transformação de coordenadas planas (UTM) para coordenadas planas locais (XL, YL) por meio
de reduções cartográficas
Para alguns casos específicos em que não se necessita de uma precisão elevada, pode-se realizar a transformação das coor-
denadas planas UTM (N, E) para coordenadas planas locais (XL, YL) aplicando uma rotação, em função da convergência me-
ridiana e a adequação da distância topográfica, em função do valor do fator de escala total, calculado em função da altitude
média do local e das coordenadas UTM de um ponto tomado como referência.
Para a aplicação deste método, inicialmente, deve-se definir um ponto como sendo o ponto de origem (P0) com coordena-
das adotadas, vinculadas ao plano local. A sequência de cálculo, neste caso, é a seguinte:
1. Escolher um ponto da área de trabalho para origem do sistema local (P0).
2. Calcular a convergência meridiana e o fator de escala total (kT) nesse ponto.
3. Calcular os azimutes da quadrícula (AzQ) dos alinhamentos PoPi e corrigi-los com o valor da convergência meridiana
e a redução à corda.
4. Calcular as projeções (DXPoPi) e (DYPoPi) de cada alinhamento considerando o fator de escala total (kT).
5. Calcular as coordenadas transformadas para cada ponto (Pi).
As equações a serem aplicadas são as seguintes:
E
AzQ arctg 180 conforme equação (19.63)
N
XII * p XIII * p3 C5 * p5 conforme equação (19.41)
2E E
A 2 B
AB * N B N A * conforme equação (19.47)
6R0
dUTM P0 Pi
X P0 Pi * sen Az g P0 Pi (19.69)
kT
dUTM P0 Pi
YP0 Pi * cos Az g P0 Pi (19.70)
kT
XL Pi XL P0 X P0 Pi (19.71)
YL Pi YL P0 YP0 Pi (19.72)
e-44 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
A aplicação deste método deve ser realizada com resguardo, uma vez que se trata de um método aproximado sem con-
sistência algébrica com o modelo de projeção cartográfica adotado. Ele pode, entretanto, ser útil para casos em que a área de
projeto é pequena e possui muito pouca variação altimétrica.
A mesma experiência citada anteriormente produziu resultados médios da ordem de ±9,5 cm para esse modelo de trans-
formação.
Para auxiliar o leitor no entendimento da aplicação dos métodos de transformações de coordenadas apresentadas nas se-
ções precedentes, apresentam-se no Exemplo aplicativo 19.12 os cálculos referentes às transformações de coordenadas de uma
série de pontos de coordenadas conhecidas em diferentes sistemas de coordenadas.
Solução:
Para aplicação dos modelos matemáticos apresentados anteriormente, todos os cálculos serão realizados tomando o ponto (E010)
como referência. Assim, têm-se:
1. Os cálculos relativos à aplicação da transformação de Helmert 2D estão apresentados no Exemplo aplicativo 4.5. Para a de-
terminação dos parâmetros de transformação foram tomados como referência os pontos (E007), (E010), (E020) e (E031).
A partir deles foram obtidas as coordenadas dos pontos (E011) e (E014), cujos resultados estão transcritos na Tabela 19.27.
2. Os cálculos relativos à aplicação da transformação de coordenadas geocêntricas (X, Y, Z) para coordenadas topocêntri-
cas (XL, YL) estão apresentados no Exemplo aplicativo 4.13. Para os referidos cálculos tomou-se como referência o ponto
(E010), a partir do qual foram obtidas as coordenadas dos pontos (E011) e (E014), cujos resultados estão transcritos na
Tabela 19.27.
3. Os cálculos relativos à aplicação da transformação de coordenadas geodésicas para coordenadas planorretangulares no
Sistema Geodésico Local (SGL), segundo as equações disponibilizadas na (NBR no 14166/1998), estão apresentados no
Exemplo aplicativo 4.16. Para os referidos cálculos tomou-se como referência o ponto (E010), a partir do qual foram obti-
das as coordenadas dos pontos (E011) e (E014), cujos resultados estão transcritos na Tabela 19.27.
4. Os cálculos das coordenadas LTM aplicando o princípio da Projeção TM de Baixa Distorção (PBD) estão apresentados na
sequência. Para os referidos cálculos tomou-se como referência o ponto (E010), a partir do qual foram obtidas as coorde-
nadas dos pontos (E011) e (E014), cujos resultados estão apresentados na Tabela 19.27.
Projeção cartográfica e-45
O primeiro passo para a aplicação desta transformação de coordenadas é o cálculo da altitude média do local, que, se-
gundo a Tabela 19.23, é igual a 869,891 m. Aqui desconsiderou-se a ondulação geoidal para se manter em acordo com os
resultados dos exemplos anteriores. O raio médio local da Terra, calculado anteriormente para o local, é igual a 6.362.746 m.
O passo seguinte é calcular o fator de escala no meridiano central da LTM, aplicando as equações (19.65), (19.66) e
(19.67). Assim, considerando que a largura máxima do projeto é igual a 1.500 metros, têm-se:
Com a fator de escala calculado e adotando o ponto (E010) como ponto central da projeção cartográfica, pode-se
determinar as coordenadas dos pontos (E011) e (E014) aplicando as equações (19.5) a (19.22). Assim, considerando
que o meridiano central é o meridiano que passa no ponto (E010) e o valor do fator de escala no meridiano central é
igual ao valor calculado para (k0s), obtêm-se os valores indicados na Tabela 19.24. Para que seja possível comparar os
resultados das transformações de coordenadas apresentadas na Tabela 19.27, deve-se transladar a origem do sistema
de coordenadas da PBD para o ponto (E010). Este procedimento pode ser realizado calculando as coordenadas PBD do
ponto (E010) e utilizando o valor calculado como valor da translação no eixo (Y). Têm-se, assim, os valores indicados
na Tabela 19.25 para os parâmetros da transformação de coordenadas geodésicas para coordenadas no PBD dos pontos
(E010), (E011) e (E014). As coordenadas transformadas estão indicadas na Tabela 19.27.
Tabela 19.24 • Parâmetros para o cálculo das coordenadas PBD dos pontos (E010), (E011) e (E014)
E010 S = –2.437.261,5097 m Δλ = 099 p=0 (I) = –2.437.594,7062 m
(II) = –2.608,0085 m (III) = –2,1458 m (IV) = 286.815,6092 m (V) = 81,2970 m
A6 = –0,0016 m B5 = 0,0205 m N´ = –2.437.594,7062 m E9 = 0,0 m
E011 S = –2.437.233,6579 m Δλ = –6,444499 p = –0,000644440 (I) =–2.437.566,8506 m
(II) = –2.607,9848 m (III) = –2,1458 m (IV) = 286.815.816,1157 m (V) = 81,2978 m
A6 = –0,0016 m B5 = 0,0205 m N9 = –2.437.566,8516 m E9 = –184,8358 m
E014 S = –2.437.325,9888 m Δλ = –41,070999 p = –0,004107090 (I) = –2.437.659,1941 m
(II) = –2.608,0634 m (III) = –2,1458 m (IV) = 286.814,4364 m (V) = 81,2951 m
A6 = –0,0016 m B5 = 0,0205 m N9 = –2.437.659,2381 m E9 = –1.177,9727 m
5. Os cálculos da transformação de coordenadas UTM para coordenadas no Plano Topográfico Local (XL, YL) por meio de re-
duções cartográficas estão apresentados na sequência. Para os referidos cálculos tomou-se como referência o ponto (E010),
a partir do qual foram obtidas as coordenadas dos pontos (E011) e (E014).
Os resultados dos cálculos parciais para a transformação de coordenadas estão indicados nas Tabelas 19.25 e 19.26. Notar
que alguns valores relacionados aos pontos (E010) e (E014) são conhecidos de exemplos aplicativos anteriores. Os relacio-
nados com o ponto (E011) foram calculados para este exemplo. Os cálculos não estão indicados neste texto.
Para o cálculo do fator de escala altimétrico médio considerou-se a altitude média do local como igual a 869,891 m e o raio
médio da Terra no local como sendo igual a 6.362.746 m.
Apresenta-se na Tabela 19.27 um resumo comparativo das coordenadas topográficas calculadas para cada modelo de
transformação.
20.1 introdução
Conforme apresentado nos diversos capítulos deste livro, as determinações das coordenadas de um ponto no espaço, também
referido como posicionamentos,1 em geral, se baseiam em medições de direções horizontais, ângulos verticais e distâncias rea-
lizadas por meio de instrumentos topográficos instalados sobre a superfície terrestre e orientados sobre uma rede de pontos de
apoio provenientes de um sistema de referência geodésico ou topográfico local predeterminado. As exceções a estas prerroga-
tivas são as determinações de coordenadas por meio de técnicas aerofotogramétricas (Capítulo 22 – Aerofotogrametria), por
meio de escâneres aéreos (Capítulo 21 – Tecnologia de varredura laser) e as obtidas mediante rastreamentos de sinais emitidos
por satélites artificiais, conforme discutido neste capítulo.
Como o leitor terá oportunidade de verificar ao longo deste texto, o surgimento do posicionamento por meio de satélites
artificiais revolucionou inúmeras atividades do cotidiano humano, como as redes sociais, o deslocamento de pessoas e cargas,
a agricultura, a Engenharia e muitos outras. Embora desenvolvido, inicialmente, com objetivos militares, rapidamente ele se
tornou disponível para a comunidade civil e diversos sistemas de posicionamento baseados nele foram desenvolvidos por
diferentes países, estabelecendo o que se denomina Sistemas de Navegação Global por Satélite, cuja sigla em inglês é GNSS
(Global Navigation Satellite System). Tem-se assim, atualmente, um conjunto de sistemas de posicionamento espacial que
provê informações de posição e tempo 24 horas por dia, em qualquer lugar da Terra e sob quaisquer condições atmosféricas.
A discussão sobre os detalhes desses sistemas, os métodos de determinação de coordenadas (posicionamento) e os levanta-
mentos topográficos e geodésicos por meio dessa tecnologia, para fins de Engenharia, é o objetivo deste capítulo.
1 Posicionamento: o mesmo que determinar a posição com relação a um sistema de coordenadas. No caso dos sistemas GNSS, usualmente, o
sistema cartesiano geocêntrico.
2 Rastrear um sinal de satélite significa receber contínua e remotamente, por meio de uma antena receptora de sinais, informações emitidas por
um satélite artificial.
e-48 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
Paralelamente ao desenvolvimento do sistema GPS, em 1982, a ex-União Soviética iniciou testes com um novo siste-
ma de posicionamento por satélites, semelhante ao GPS, denominado Globalnaya Navigatsionnaya Sputnikovaya Systema
(GLONASS). O seu uso foi, inicialmente, restrito ao seu território e seus aliados, para fins militares e estratégicos, mas se
tornou também um sistema disponível para a comunidade civil mundial a partir dos anos 2000.
Em razão do sucesso desses sistemas e para diminuir a dependência com relação a eles, a Comunidade Europeia decidiu
também desenvolver um sistema de posicionamento global para os países integrantes daquela comunidade, denominado
Sistema GALILEO, que se tornou efetivo a partir de 2016 e está contando com uma constelação de 22 satélites ativos em maio
de 2022 (https://www.gsc-europa.eu/system-service-status/constellation-information, acesso em: 31 maio 2022).
Existem vários outros sistemas disponíveis para diferentes comunidades, entre os quais se destacam o sistema BeiDou,
desenvolvido pela China e disponibilizado para a comunidade civil mundial; o sistema japonês Quasi-Zenith Satellite System
(QZSS), disponibilizado para as regiões do Japão e da Oceania; o sistema IRNSS, em desenvolvimento pela Índia; e os sistemas
SLR e o DORIS, já citados no Capítulo 3 – Referências geodésicas e topográficas.
O termo GNSS engloba, portanto, uma gama de tecnologias de posicionamento espacial que permite determinar a posição
geográfica, distâncias, direções, velocidades e a hora local de uma antena receptora localizada em qualquer ponto da superfície
terrestre ou próximo a ela.
Conforme ilustrado na Figura 20.1, para que um sistema GNSS possa gerar dados geoespaciais condizentes com as necessi-
dades das Geociências, ele é composto por três segmentos, que, em conjunto, garantem a qualidade dos dados gerados. São eles:
Segmento espacial: composto pela cons-
telação de satélites artificiais que orbitam
em torno da Terra, segundo planos orbitais
predefinidos e com altitudes variadas, por
meio dos quais são determinadas as coorde-
nadas espaciais de cada satélite ao longo de
sua trajetória, com relação a um sistema de
referência específico, e que são disseminadas
pelas efemérides do satélite. Os satélites são
munidos de processadores de tempo, emisso-
res de ondas eletromagnéticas e de geradores
de códigos, entre outros sinais GNSS, que são
transmitidos por suas antenas para as ante-
nas receptoras do seguimento do usuário.
Segmento de controle: composto por esta-
ções terrestres (antenas de controle e estações
monitoras) que controlam continuamente a
qualidade dos sinais GNSS emitidos e as po- Figura 20.1 • Segmentos dos sistemas GNSS.
sições dos satélites ao longo de suas trajetó-
rias orbitais. Os dados coletados de cada satélite são enviados para uma Estação Master, a qual calcula as posições e as correções
dos parâmetros gerados para os satélites e as retransmitem por meio dos próprios satélites para o segmento do usuário.
Segmento do usuário: composto por qualquer usuário que seja capaz de captar, por meio de uma antena e de um processa-
dor de sinais, denominado receptor, os sinais emitidos pelos satélites GNSS e os utilize para aplicações diversas. Em princípio,
as antenas/receptores utilizados pelos usuários são entidades passivas que apenas recebem sinais emitidos pelos satélites. Eles
nunca transmitem sinais para os satélites. Existem situações, contudo, que os sinais recebidos podem ser retransmitidos para
outras antenas receptoras, como nos levantamentos com o método de posicionamento diferencial no modo RTK3 e nos casos
das estações ativas, por exemplo, as estações de referência de operação contínua (CORS, do inglês Continuously Operating
Reference Station), que são estações fixas de rastreamento de satélites e que disponibilizam os dados rastreados de forma con-
tínua para usuários autorizados.
11h57958,39 (tempo solar), a uma altitude aproximada de 20.200 km acima da superfície terrestre, divididos em seis planos
orbitais com inclinação igual a 55° com relação ao plano do Equador e cobrindo as latitudes entre 80°N e 80°S, conforme ilus-
trado na Figura 20.2. Essa configuração garante, a qualquer instante, a existência mínima de quatro satélites acima da linha do
horizonte de uma antena receptora localizada sobre a superfície terrestre.
Os sinais emitidos pelos satélites da constelação GPS incluem códigos pseudoaleatórios e informações sobre as efemérides trans-
mitidas (broadcast ephemeris) que contêm os elementos keplerianos que permitem calcular as posições dos satélites no momento da
emissão do sinal, os coeficientes de correções ionosféricas, os coeficientes de correções dos relógios do satélite e a condição de “saú-
de” do satélite, entre outros. Após a passagem do satélite, é possível ainda conhecer as suas coordenadas precisas em instantes predeter-
minados por meio do que se denomina efemérides precisas,4 que são disponibilizadas por instituições que compõem a rede do IGS
(International GNSS Service),
ou junto a agências autorizadas,
algumas horas ou dias após o
rastreamento dos satélites.
Uma característica impor-
tante do sistema GPS é que to-
dos os satélites da constelação
emitem sinais com a mesma
frequência e com as mesmas
informações básicas relativas
ao momento em que o sinal é
emitido pela antena do satélite.
A frequência fundamental
gerada pelos satélites do sis-
tema GPS se baseia em uma
onda eletromagnética deno-
minada Band L, com valor
igual a 10,23 MHz. Baseado
nessa frequência, um oscila-
dor gera outros componentes
dos sinais, conforme indica-
do na Figura 20.3, os quais
são utilizados para as medi-
ções de posicionamento com
o sistema GPS. Figura 20.3 • Estrutura básica dos sinais do sistema GPS.
4 Como o próprio nome sugere, as efemérides precisas são de melhor qualidade que as efemérides transmitidas pelos satélites no momento das
observações. Existem três tipos de efemérides precisas: (1) IGU – ultrarrápidas – são disponibilizadas com latência de 3 a 4 horas por dia pelo
IGS; (2) IGR – rápidas – são disponibilizadas com latência de 17 a 42 horas pelo IGS; (3) IGS – precisas – são disponibilizadas com latência de 12
a 18 dias pelo IGS. Elas podem ser obtidas, por exemplo, em https://cddis.nasa.gov/Data_and_Derived_Products/GNSS/orbit_products.html.
e-50 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
7
Banda de frequência L2 → f 2 k 1.246 k MHz (20.2)
16
As frequências transmitidas pelos satélites GPS e GLONASS são muito próximas e, por esta razão, é possível usar uma
antena combinada e um amplificador comum no mesmo equipamento, o que permite que o usuário possa utilizar um único
receptor para captar sinais de ambos os sistemas.
Igualmente ao sistema GPS, o código-C/A está disponível para os usuários civis, enquanto o código-P está disponível para
os usuários autorizados. Ambos os códigos são modulados na portadora (L1) e na portadora (L2) somente com o código-P. A
frequência fundamental emitida pelo sistema é igual a 0,511 MHz para o código-C/A e 5,11 MHz para o código-P.
O GLONASS oferece dois níveis de precisão: um sinal de alta precisão – o Channel of High Accuracy (CHA) – e um sinal
de precisão padrão – o Channel of Standard Accuracy (CSA). Tal como o GPS, o sinal de alta precisão (CHA) é prerrogativa
dos usuários militares, ao passo que o sinal padrão (CSA) é liberado para os usuários civis. Diferentemente do sistema GPS, o
sistema GLONASS nunca teve a degradação seletiva dos sinais.
O sistema de coordenadas das órbitas dos satélites GLONASS é ba- Tabela 20.1 • Parâmetros definidores do elipsoide PZ90
seado no Sistema Geodésico SGS85/SGS90, o qual utiliza como refe- Elipsoide Semieixo maior [m] Achatamento
rência geodésica o elipsoide PZ90 (ver Tab. 20.1).
PZ90 6.378.136 1/298,257
Para mais informações sobre o sistema GLONASS, o leitor pode
consultar o website https://www.glonass-iac.ru/en.
5A modulação, neste caso, significa sobrepor os códigos na onda portadora e transmiti-los juntamente com ela.
Sistemas de navegação global (GNSS) e-51
Após a solução do sistema de equações, obtêm-se as coordenadas da antena receptora referenciadas ao mesmo sistema de
coordenadas do sistema geodésico adotado como referência para o sistema GNSS utilizado.
Os detalhes sobre a determinação dessas coordenadas estão apresentados nas próximas seções.
c * t (20.3)
em que:
ρ = pseudodistância entre a antena do satélite e a antena do receptor, no tempo do sistema GNSS;
c = velocidade da luz;
Dt = intervalo de tempo decorrido entre a emissão da onda eletromagnética pela antena do satélite e a recepção pela antena
receptora, no tempo do sistema GNSS.
Tanto o relógio do satélite como do receptor possuem uma diferença de tempo com relação ao tempo GNSS (tGNSS). Os
satélites têm quatro relógios atômicos, com uma diferença de tempo (∆ts) de apenas alguns nanossegundos por dia. Essa dife-
rença de tempo, também denominada erro de relógio do satélite, é determinada a cada passagem do satélite sobre uma estação
de controle terrestre, e é retransmitida para o receptor, no solo, juntamente com as mensagens de navegação, cada vez que eles
se conectam. Dessa forma, se conhece com precisão o tempo (ts) em que houve a transmissão do sinal pelo satélite, na escala
de tempo do satélite (tGNSS). Assim, conhecendo o tempo (tr) de chegada do sinal no receptor, no tempo do receptor, e o erro
(∆tr) do relógio do receptor com relação ao tempo do satélite (tGNSS), têm-se:
(20.4)
s s
t t GNSS t (20.5)
7 No caso do bip.
Sistemas de navegação global (GNSS) e-55
De onde se deduz que o intervalo de tempo de propagação do sinal (Dtsr), no tempo GNSS, é dado pela equação (20.6).
t rs tr t s tr t s (20.6)
Pelo fato de o sinal emitido pelo satélite se deslocar no espaço é necessário considerar também outros fatores no cálculo da
pseudodistância, como a influência da refração atmosférica (ionosfera e troposfera), o multicaminhamento,8 os erros orbitais,
os erros de ruído no receptor, os erros de ruído nos satélites e outros. Assim, considerando as coordenadas cartesianas geo-
cêntricas (Xs, Ys, Zs) dos satélites no instante (i) e as coordenadas cartesianas geocêntricas (Xr, Yr, Zr) da antena receptora, que
se deseja calcular, tem-se a equação final da pseudodistância indicada a seguir:
2 2 2
s
r i Xis Xr Yi s Yr Zis Zr c t s tr I rs Trs mrs s
r r
s (20.8)
em que:
(r rs)i = pseudodistância medida no instante (i);
s
Ir = atraso em função da ionosfera;
s
T r = atraso em função da troposfera;
s
mr = efeito do multicaminhamento nas proximidades da antena do receptor;
s
er, er, es = erros orbitais e erros de ruídos nos satélites e nos receptores.
Os detalhes científicos e os efeitos dos atrasos e erros citados, embora importantes para a determinação das coordenadas
da antena receptora, não serão discutidos neste livro. Na etapa atual de desenvolvimento da tecnologia GNSS, os seus efeitos
são bem conhecidos e, portanto, corrigidos durante as medições e no processamento dos dados GNSS.
Considerando que os valores de (ts), (tr), (∆ts), o atraso da ionosfera, o atraso da troposfera, os ruídos do satélite e do re-
ceptor são conhecidos e que o multicaminhamento pode ser evitado, as incógnitas da equação (20.8) são as coordenadas (Xr,Yr, Zr)
da antena receptora e a correção do erro do relógio do receptor (∆tr) com relação ao tempo GNSS. Estas incógnitas podem
ser calculadas pela observação simultânea de pelo menos quatro satélites. As coordenadas cartesianas espaciais determinadas
são, em seguida, transformadas para coordenadas geodésicas (latitude, longitude e altura elipsoidal) e, se necessário, para
coordenadas no plano de projeção, conforme apresentado no Capítulo 19 – Projeção cartográfica.
8 Dá-se o nome de multicaminhamento GNSS ao efeito causado pela recepção de sinais GNSS na antena receptora que não advêm diretamente dos
satélites, ou seja, foram refletidos ou refratados por objetos da vizinhança da antena.
e-56 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
As ondas utilizadas para essa medição são as ondas portadoras citadas nas seções anteriores, que, no caso do sistema GPS,
são as ondas (L1), (L2) e (L5) ou uma combinação entre elas.
De acordo com a Figura 20.8, a distância entre a antena do satélite e a antena receptora é dada pela equação (20.9).
d
s
r i
N rs * rs *
i
(20.9)
em que:
s
(d r)i = distância entre o satélite (s) e a antena GNSS (r), no instante (i);
s
N r = ambiguidade entre o receptor (r) e o satélite (s);
s
(φr)i = diferença de fase medida entre a onda emitida pelo satélite (s) e a onda gerada internamente no receptor (r), no instante (i);
λ = comprimento da onda.
A equação (20.9) somente é verdadeira para o caso ideal da propagação da onda no vácuo e com os relógios do satélite e
do receptor perfeitamente sincronizados. Quando isso não ocorre, da mesma forma que a pseudodistância, haverá os atrasos
ionosférico e troposférico e os demais erros do sistema. Assim, o valor da diferença de fase medida no instante (i) é dada (de
forma resumida) conforme indicado a seguir:
1 2 2 2 c
s
r i
* Xis Xr Yi s Yr Zis Zr N rs * t s tr I rs Trs ruídos (20.10)
sendo as variáveis envolvidas na equação as mesmas indicadas na equação (20.8). Notar a consideração do atraso do sinal na
troposfera e a aceleração na ionosfera.
s
Notar que a equação (20.10) possui quatro incógnitas que são as coordenadas (Xr, Yr, Zr) e a ambiguidade (N r). A diferença
s
de fase (φr)i é medida e as demais são conhecidas, conforme citado na seção anterior.
s
O cálculo da ambiguidade, ou seja, do valor de (N r), é realizado por estratégias de cálculos específicos, que consideram o
tipo de receptor e restrições dos satélites. Por se tratar de um valor ambíguo, ele pode ser tratado como um valor inteiro na
primeira medição, Em seguida, se forem contados os ciclos inteiros entre as demais medições sucessivas, as diferenças de fase
entre as épocas não são ambíguas. Isso significa que a medição da fase não é uma medição de distância, como na pseudodis-
tância, mas uma medição da variação de distância em função do tempo.
s
Na realidade, o valor de (N r) não é um número inteiro e no seu cálculo ele deve ser considerado como um número real. O seu
valor é calculado por meio de ajustamentos sucessivos levando em conta a equação (20.10). Simplificadamente, apenas para que o
leitor possa entender o princípio do cálculo, ele pode ser entendido como se, no primeiro ajustamento, se obtivesse um valor real
s
para (N r) mais um desvio-padrão (σ). Dessa forma, definindo um intervalo de confiança para ele, por exemplo, (N rs 3 , N rs 3 ), se
s
o intervalo contiver um valor inteiro, adota-se esse valor como valor de (N r), ou seja, fixou-se a ambiguidade (resolveu a ambiguidade).
No cálculo do ajustamento citado, pode ocorrer de o intervalo de confiança não conter um valor inteiro ou conter vários.
Tem-se, neste caso, uma solução não fixa, denominada solução float. O resultado, neste caso, para tempos de observação rá-
pidas (dezenas de minutos) não é considerado adequado e deve ser evitado. Já para observações longas (horas), os resultados
com solução da ambiguidade ou float são praticamente iguais.
s
Na prática, os algoritmos utilizados para o cálculo do valor de (N r) são muito mais complicados do que o citado. Ao longo dos
anos foram desenvolvidos vários métodos e estratégias para calcular o valor da ambiguidade. Alguns amplamente conhecidos
pela comunidade científica e outros de propriedade reservada (patenteados) por produtores de equipamentos GNSS. Não cabe
no escopo deste livro discuti-los em detalhes e os leitores interessados são incentivados a consultarem literaturas especializadas.
Embora pouco relevante para os objetivos desta obra, é interessante citar que a medição da diferença de fase no receptor
não é realizada diretamente sobre as ondas portadoras. Como já mencionado, os satélites emitem os seus sinais por meio das
frequências das portadoras (L1) e (L2), as quais, quando recebidas no receptor, em razão do efeito Doppler, são ligeiramente
diferentes das portadoras nominais geradas no receptor. A combinação desses dois sinais produz uma nova onda, denomina-
da onda de batimento. É sobre essa onda que se mede a diferença de fase no receptor. Esta é a razão pela qual muitos autores
preferem utilizar o termo diferença de fase da onda de batimento para referir a medição da diferença de fase.
por uma rede de estações CORS, semelhante ao posicionamento NRTK, descrito na Seção 20.9.2.4 – Levantamentos de campo
por meio de estações de referência virtual (VRS). Por se tratar de um método de posicionamento ainda em fase experimental,
ele não será tratado neste livro. O leitor interessado deverá consultar bibliografias especializadas.
A vantagem do posicionamento relativo é que ele permite aumentar sensivelmente a precisão das coordenadas determinadas.
Este aumento de qualidade é obtido realizando o processamento das observações por meio de combinações lineares entre
os valores coletados pelas diferentes antenas receptoras envolvidas no processo de medição, de forma a eliminar certos erros
comuns a elas nas medições das distâncias entre os receptores e os satélites pela diferença de fase da portadora.
As combinações lineares utilizadas são denominadas simples diferença de fase, dupla diferença de fase, tripla diferença de
fase e combinações lineares entre as portadoras (L1) e (L2).
Apresentam-se a seguir os detalhes analíticos de cada uma delas.
s1
PQ i
s1
P i
s1
Q i (20.14)
10 Notar que a maioria dos métodos de posicionamento utilizado em Geomática é relativo, uma vez que se utiliza sempre uma estação base e um
ponto de referência, como apresentado nos capítulos anteriores deste livro.
Sistemas de navegação global (GNSS) e-59
(20.15)
1 c
s1
Q i
i i
* RQs1 N Qs1 * trQ t s1 I Qs1 TQs1
i
i
(20.16)
em que:
R X Y Z
2 2 2
s s s s
r i i Xr i Yr i Zr (20.17)
s1
PQ i
1
* RPQ
s1
i N PQs1 c * trPQ i I PQs1 i TPQs1 i Figura 20.11 • Técnica da diferenciação da simples diferença de fase no
posicionamento relativo.
(20.18)
Pela equação (20.18), nota-se que a simples diferença de fase elimina os erros dos relógios dos satélites e reduz os erros
das órbitas e de propagação da onda eletromagnética.
s1s 2
PQ i
s1
PQ i
s2
PQ i (20.19)
(20.20)
Pela equação (20.20), nota-se que os termos re- Figura 20.12 • Técnica da diferenciação da dupla diferença de fase no posicio-
lativos aos erros dos relógios dos receptores foram namento relativo.
também eliminados. Assim, como os erros pro-
venientes da ionosfera e troposfera podem ser estimados por meio de modelos matemáticos, os valores das ambiguidades
podem ser fixados em valores inteiros por meio de um ajustamento pelo Método dos Mínimos Quadrados, o que permite
obter valores dos componentes da linha de base com alta precisão. Por esta e outras razões, este é o procedimento comumente
aplicado nos programas aplicativos de processamento de dados GNSS comerciais.
s1s 2
PQ i
s1
PQ i
s2
PQ i (20.21)
s1s 2
PQ j
s1
PQ j
s2
PQ j
(20.22)
• Antena e pré-amplificador: a função da antena é detectar as ondas eletromagnéticas transmitidas pelos satélites, conver-
tê-las em corrente elétrica, amplificar o sinal e enviá-lo para o receptor. Entre as diferentes características que as antenas
GNSS devem ter, se destacam a sensibilidade para receber os sinais, a estabilidade do seu centro de fase e a proteção
contra multicaminhamentos. Há vários tipos de antenas GNSS, sendo a mais utilizada em instrumentos de medições
topográficas ou geodésicas as denominadas microstrip, por serem as mais robustas e mais fáceis de fabricar.
• Processador do sinal: a função deste componente é transformar os sinais recebidos para uma frequência mais baixa de
modo que o sinal possa ser processado por outros componentes do receptor.
• Oscilador: tem a função de gerar uma frequência padrão que será utilizada para sincronizar todos os circuitos essenciais
responsáveis pela decodificação dos sinais.
• Microprocessador: a função deste componente é controlar as operações do receptor (captar e processar o sinal e decodifi-
car a mensagem de navegação), calcular em tempo real a posição e a velocidade da antena com relação a uma antena de
referência, controlar a entrada e saída dos dados e controlar as correções diferenciais, entre outras.
• Memória: a função deste componente é armazenar os dados coletados. Trata-se de um dispositivo que pode ser interno
ou externo ao receptor, por exemplo, cartões de memória e pendrives. Os dados armazenados são posteriormente des-
carregados para um computador para visualização e pós-processamento.
• Suprimento de energia: a função deste componente é suprir energia para os demais componentes do instrumento. Em
geral, ele é composto por baterias de lítio-íon e, para casos específicos, são também utilizados conversores de tensão para
um nível apropriado para o dispositivo.
• Unidades de comando (ou interface de comunicação humana), cabos e display: as unidades de comando (controladoras)
são, geralmente, componentes externos que permitem aos usuários realizar as comunicações com o receptor por meio
de um teclado alfanumérico e tela VGA. As comunicações podem também ser realizadas por meio de computadores, no
escritório ou no campo, de modo que os receptores possam ser operados, em campo, sem a intervenção do operador.
A interligação entre a antena e o receptor e entre a unidade de comando e o receptor, em geral, é realizada por cabos de
diferentes tipos, podendo também ser realizada via conexões wireless.
A Figura 20.18 apresenta a configuração geral de um instrumento GNSS para instalação em tripé ou em um pilar de concreto
com dispositivo de centragem forçada. Esse tipo de configuração é utilizado para as estações de referência ou para as estações
remotas quando operando em modo relativo estático. No caso de operações em modo relativo cinemático ou diferencial DGPS/
RTK, em geral, os instrumentos são montados sobre um bastão, conforme ilustrado na Figura 20.19. Outras instalações comu-
mente utilizadas são as realizadas em tetos de veículos terrestres, máquinas de construção civil, veículos aéreos, entre outras.
O receptor e a antena do conjunto de instrumentos de medição GNSS podem estar separados, conforme ilustrado na Fi-
gura 20.18, ou estar combinados em um único dispositivo, como ilustrado na Figura 20.19. Em ambos os casos, eles podem
ser operados com ou sem a unidade de comando externa (controladora). Cada fabricante de instrumentos GNSS propõe a
solução de composição que considera mais adequada para as suas soluções de medições.
Figura 20.18 • Instalação de um instrumento GNSS em um tripé. Figura 20.19 • Instalação de um instrumento GNSS em um bastão.
Fonte: adaptada de Leica Geosystems. Fonte: adaptada de Leica Geosystems.
e-66 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
É importante salientar que, na maioria das aplicações da Geomática, o que se busca não é exatamente a posição da antena,
mas sim a posição do ponto sobre o qual ela está instalada ou referenciada, em geral, por meio de um tripé ou de um bastão.
Por esta razão é que se necessita sempre conhecer o off-set entre o centro de fase da antena e o ponto considerado, ao que se
denomina medir a altura da antena. Para esta finalidade, as antenas receptoras utilizadas em medições topográficas ou geodé-
sicas são instaladas no interior de um recipiente protetor, sobre o qual está indicada a referência geométrica, denominada ARP
(antena reference point), que permitirá determinar a sua altura com relação ao ponto de medição.15 Quando instaladas sobre
um tripé, elas se acoplam a ele por meio de uma base nivelante e um adaptador de acoplagem, conforme ilustrado na Figura
20.18, e a medição da sua altura é realizada por meio de uma trena. Quando instaladas sobre um bastão, o procedimento de
instalação e medição da altura é exatamente igual ao de um prisma refletor, conforme apresentado na Figura 20.19. Para essa
finalidade, as antenas contam com um sistema de acoplagem ao bastão ou ao adaptador da base nivelante semelhante ao de
um prisma refletor.
15 Notar que o ARP é o indicador geométrico por meio do qual o fabricante reduz as observáveis para o centro de fase calibrado da antena e, em
seguida, para o ponto sobre o qual foi medida a altura da antena.
Sistemas de navegação global (GNSS) e-67
No caso em que o posicionamento está sendo realizado no modo diferencial DGPS, os valores indicados pelo receptor po-
dem ser utilizados imediatamente após a exibição. O exemplo mais expressivo deste tipo de levantamento GNSS é o realizado
por meio dos sistemas SBAS, citados na Seção 20.3.7 – Sistemas SBAS. O usuário, neste caso, necessita de apenas um receptor/
antena com capacidade para receber as correções do sistema SBAS.
No caso de posicionamentos pelo método diferencial RTK, conforme já descrito, o operador deverá respeitar um tempo
de espera (estático ou em movimento) até que o sistema resolva a ambiguidade. Em geral, neste tipo de levantamento, são
utilizados receptores de dupla frequência (L1/L2) com capacidade para rastrear sinais GPS e GLONASS. Além disso, o usuário
deve ater-se ao tempo de latência da solução, principalmente para as medições cinemáticas.
Por se tratar de um levantamento baseado em posicionamento relativo diferencial, não há necessidade de pós-processa-
mento e as coordenadas são disponibilizadas na tela do coletor de dados e/ou gravadas na memória interna do sistema de
medição, em tempo real.
No caso de levantamentos por meio de posicionamentos relativos estáticos ou cinemáticos, a solução se baseia no conceito
de se produzir um arquivo RINEX virtual (VR), com informações interpoladas dos dados brutos de cada estação da rede
CORS, para uma posição hipotética de um ponto no interior da área de cobertura da rede. Os dados são iguais aos de um
arquivo RINEX convencional, com a vantagem de se referir a uma estação localizada próxima ao ponto remoto. O usuário
utiliza, então, as informações desse arquivo RINEX para o pós-processamento dos dados.
As vantagens de se usar este tipo de solução são enormes e, por esta razão, ele tem sido implementado em vários países e
regiões de grandes atividades de medições GNSS. No Brasil, conforme já citado, o IBGE/INCRA possui uma rede CORS com
algumas possibilidades de implantação de VRS, e no estado de São Paulo existe uma rede CORS privada que disponibiliza
informações para operações em modo NRTK, mediante pagamento por tempo de uso da rede. Mais informações sobre este
tipo de operação GNSS são facilmente obtidas em portais da Internet especializados.
• descrição de todo e qualquer acontecimento durante a sessão de observação julgados importantes para as análises dos
processamentos e ajustamentos dos dados;
• todos os arquivos gerados pela coleta de dados, processamento e ajustamento devem ser convenientemente armazena-
dos em mídias seguras para garantirem a integridade e a segurança dos dados;
• relatório final impresso para apresentação ao cliente.
Erros durante a propagação dos sinais: os sinais, ao serem emitidos pelos satélites e antes de atingirem a antena recepto-
ra, atravessam a atmosfera terrestre e, portanto, sofrem efeitos de “refração atmosférica”. A refração ocorre em todas as
camadas da atmosfera, sendo os efeitos mais relevantes os que ocorrem na troposfera e na ionosfera. No caso de uso de
receptores de múltiplas frequências, os efeitos da refração ionosférica podem ser removidos por modelos matemáticos,
enquanto no uso de receptores de uma frequência eles devem ser devidamente modelados. Estes erros não podem ser
ignorados em levantamentos que envolvam grandes distâncias entre os pontos, pois a atmosfera é variável entre eles. No
caso de levantamentos em pequenas distâncias, os erros de refração são removidos por diferenciação no processamento.
Geralmente, os programas de processamentos disponibilizados pelos fabricantes de instrumentos GNSS disponibilizam
modelos matemáticos para a troposfera e a ionosfera. O engenheiro responsável pelo processamento de dados deverá de-
finir qual o melhor modelo a ser utilizado para a região em que é realizado o levantamento.
Erros resultantes de explosões solares: as ocorrências de explosões solares são danosas aos sinais que transitam no espaço
antes de atingirem as antenas receptoras. Portanto, o engenheiro, sempre que possível, deve consultar portais da Internet
relativos ao assunto para verificar a ocorrência de explosões solares durante a etapa de elaboração do projeto de levanta-
mento e, assim, evitar executar o levantamento durante esses períodos.
Erros decorrentes do multicaminhamento: este tipo de erro ocorre em face da reflexão dos sinais em superfícies refletivas
antes de alcançarem as antenas receptoras. Dependendo das condições locais, os efeitos do multicaminhamento podem se
tornar tão grandes e provocar a perda dos sinais pelo receptor e, em função desse fato, reduzir a precisão da coordenada
do ponto medido. Alguns fabricantes oferecem tipos especiais de antenas que possuem capacidade de filtragem de sinais
refletidos, mas isso não garante a total eliminação do efeito. A melhor forma para diminuí-lo é escolher locais que não
apresentem superfícies refletoras próximas da antena receptora.
Sistemas de navegação global (GNSS) e-73
Erros em função da perda de ciclos: este tipo de erro é detectado quando, por alguma razão, ocorre a interrupção do rece-
bimento do sinal de um ou mais satélites pela antena receptora. Assim, a perda de sinal acarreta a perda de contagem do
número inteiro de ciclos medidos no receptor, causando, assim, a “perda da ambiguidade”. Se a perda de ciclos for pequena
(poucas épocas de observação), estes erros podem ser corrigidos pelos programas de processamento por técnicas conheci-
das por cycle slip fixing (correção das perdas de ciclos). Se a perda de ciclos for grande (muitas épocas de observação), isto
pode comprometer a precisão final das coordenadas processadas, podendo até ser objeto de cancelamento do trabalho e
exigir o retorno ao campo para realizar novas observações para refazer o trabalho.
Erros em razão da relatividade: são erros que surgem como consequência do movimento de rotação dos satélites em torno
da Terra, o qual faz com que os relógios atômicos dos satélites sofram um “atraso” de acordo com a teoria da relatividade,
uma vez que os relógios dos receptores e dos satélites se encontram em campos gravitacionais diferentes e se deslocam com
velocidades diferentes. Essas correções são calculadas pela estação master17 e aplicadas nos relógios dos satélites.
Além dos erros citados, existem outros de menor influência, que não fazem parte do escopo deste livro. Os leitores interes-
sados em mais detalhes deverão consultar literaturas especializadas.
Esses valores são calculados a priori, em função das coordenadas aproximadas da zona de observações e da previsão da
passagem dos satélites dada pelos almanaques dos satélites.
Os valores das coordenadas obtidas em um levantamento GNSS são, evidentemente, resultantes da composição de todos
os erros citados. Notar que os valores das precisões indicadas em catálogos de fabricantes consideram apenas os erros
instrumentais e em boas condições atmosféricas para levantamentos GNSS. Além disso, eles indicam a precisão da linha
de base e não a precisão absoluta do ponto medido. Razão pela qual, se recomenda que os resultados obtidos sejam sempre
avaliados quanto a sua confiabilidade. O leitor deve lembrar que o processamento GNSS se baseia em avaliações estatísticas,
podendo, portanto, gerar resultados diferentes em condições diferentes.
Os resultados mais confiáveis são sempre aqueles obtidos por levantamentos em rede, que, em virtude da redundância de
dados, permitem determinar as precisões absolutas e as relativas, em função de um intervalo de confiança.
No caso de resultados obtidos por meio de apenas uma linha de base, a única indicação da qualidade obtida é a indica-
ção da precisão interna do processamento, a qual é sempre muito otimista tendo em vista a alta correlação entre os valores
medidos. Em geral, as precisões obtidas são de ordem milimétrica, o que, evidentemente, não condizem com os valores das
exatidões para os pontos medidos. Como não é possível determinar a exatidão do ponto medido, uma regra empírica utilizada
pelos usuários da tecnologia GNSS é considerar a exatidão como 10 vezes o valor da precisão obtida no processamento.
Notar que se o pós-processamento puder incluir as efemérides precisas, os resultados das coordenadas processadas podem
ser de melhor qualidade.
Como resumo dos valores de qualidade de um levantamento GNSS, apresentam-se no Quadro 20.1 os valores típicos dos
intervalos das acurácias obtidas em um levantamento GNSS em função do método de posicionamento empregado.
21.1 introdução
A tecnologia de varredura1 laser tornou-se, em um curto espaço de tempo,2 uma das principais inovações da área de Geomá-
tica para coleta de dados geoespaciais. Baseando-se na tecnologia LiDAR (Ligth Detection and Ranging), que permite medir a
distância precisa entre um sensor e um objeto de medição, por meio de varredura espacial e a uma velocidade de medição de
milhares de pontos por segundo, ela estabeleceu um novo procedimento de coleta de dados geoespaciais baseado na vetoriza-
ção ou na modelagem espacial de um conjunto de pontos com coordenadas espaciais (X, Y, Z).
Diferentemente de uma estação total, que mede pontos bem
determinados no espaço, os instrumentos de varredura laser de-
terminam coordenadas 3D de pontos regularmente distribuídos
no espaço, ao que se denomina nuvem de pontos (ver Fig. 21.1).
Pela sua característica de varredura espacial da cena, os instru-
mentos de varredura laser são também denominados escâneres
laser ou laser scanner.
Pelo fato de os pontos medidos com esta tecnologia estarem
distribuídos no espaço, para o seu uso em Geomática, eles pre-
cisam ser tratados geometricamente para definirem um dado
geoespacial, ou seja, de forma semelhante à Fotogrametria, a
varredura laser deve ser vista como um sistema composto por
hardware, para a coleta da nuvem de pontos, e software, para o
tratamento dos dados. A diferença é que a fotogrametria, por ser
um sistema passivo de aquisição de dados, gera imagens com os Figura 21.1 • Nuvem de pontos coletada por varredura laser.
atributos da cena, as quais precisam ser tratadas algebricamente
para gerarem a nuvem de pontos e a varredura laser, por ser um sistema ativo de aquisição de dados, gera diretamente uma
nuvem de pontos com coordenadas (X, Y, Z) determinadas com relação a um sistema de coordenadas cartesiano espacial pre-
definido. Notar que o terno (X, Y, Z), nesse caso, refere-se a um sistema de coordenadas cartesiano espacial genérico.
Para o seu estudo, as tecnologias de medição por varredura laser são classificadas em função da tecnologia de medição
utilizada ou em função da plataforma sobre a qual o instrumento está instalado. Com relação a esta última, elas podem ser:
• varredura laser aérea (Airborne LiDAR);
• varredura laser terrestre (TLS, do inglês terrestrial laser scanning).
Diz-se que a tecnologia de varredura laser é aérea quando a plataforma sobre a qual o instrumento de medição está ins-
talado é uma aeronave (tripulada ou não). Diz-se que ela é terrestre quando o instrumento de medição se localiza sobre a
superfície terrestre. As terrestres podem ainda ser classificadas em estáticas e dinâmicas, sendo dinâmicas aquelas em que o
instrumento é transportado durante o processo de medição. A Figura 21.2 exibe um quadro resumo das classificações citadas.
1 Emprega-se também o termo varrimento.
2 As primeiras experiências com o uso da tecnologia de varredura laser iniciaram-se em meados dos anos 1990.
e-76 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
Dependendo da tecnologia de medição e do tipo de instrumento utilizado, as distâncias de medição podem variar de al-
guns metros a quilômetros, tornando possível aplicar a tecnologia de varredura laser em áreas tão diversas como a modelagem
3D de peças industriais e monumentos históricos como as modelagens numéricas de terrenos e superfícies. Para a Engenharia
Civil, ela tem sido empregada, prioritariamente, nas seguintes aplicações:
Aéreo: modelagem numérica de terrenos, modelagem numérica de superfícies, mapeamento de corredores (gasodutos,
oleodutos, vias de transportes etc.), mapeamentos geotécnicos e geológicos, gestão ambiental e outros.
Terrestre estático: modelagem 3D de edificações, modelagem 3D industriais, modelagem 3D de superfícies topográficas
restritas, as-built, documentação histórica de monumentos, arqueologia, monitoramento geodésico de estruturas, cálculo
de volumes, investigações forenses e outros.
Terrestre dinâmico veicular: mapeamentos de rodovias, ferrovias, túneis e áreas urbanas, entre outros.
Terrestre dinâmico portátil: mapeamentos de pequenas áreas de difícil acesso, em áreas internas de edificações, cânions
urbanos e outros.
Em face da extensão do assunto e do escopo deste livro, este capítulo trata apenas dos aspectos mais relevantes da tecno-
logia de varredura laser terrestre estático. O objetivo do capítulo é apresentar a tecnologia e orientar o leitor nas tomadas de
decisões com relação ao seu uso racional.
Conforme ilustrado na Figura 21.3a, os componentes de um instrumento de varredura laser terrestre são similares aos de
uma estação total, com a diferença da não existência da luneta. A medição da distância, portanto, é realizada por um espelho
refletor, que se move por meio de um motor acoplado a ele, e que deflete a onda eletromagnética para diferentes direções no
espaço, conforme ilustrado na Figura 21.3b. Em alguns instrumentos, o espelho realiza um giro vertical de 360°, em outros ele
apenas oscila verticalmente. O giro horizontal é realizado pelo movimento rotatório horizontal do instrumento, que completa a
varredura espacial.
Assim como uma estação total robótica, o escâner laser é composto, basicamente, pela alidade (corpo), no interior da qual
estão localizados os componentes eletrônicos de operação do instrumento; pelos três eixos; pelos dispositivos de leitura angular;
e pelos dispositivos de medição de distância.
A estabilidade do instrumento durante a medição é pre-
ponderante para que se determinem as posições dos pontos
medidos, com acurácia. Por esta razão, muitos dos escâne-
res disponíveis no mercado são equipados com compensa-
dores eletrônicos, que armazenam informações da direção
da gravidade antes de cada medição e ajustam os valores
medidos pelo escâner em função das inclinações indicadas
pelos compensadores.
As características dos compensadores utilizados nos di-
ferentes instrumentos variam de acordo com o fabricante.
O leitor interessado em mais detalhes deverá consultar as
informações técnicas dos instrumentos.
Para a sua operação em campo, os instrumentos de var-
redura laser terrestre estáticos são posicionados sobre um
tripé e operados a partir de um computador externo ou por
meio de uma tela VGA acoplada ao instrumento, conforme
ilustrado na Figura 21.4. Figura 21.4 • Instrumento de varredura laser terrestre estático em
Apresentam-se a seguir os detalhes técnicos dos prin- operação.
cipais componentes de um instrumento de varredura laser Fonte: Disponível em: https://www.professionistiuniti.it/i-laser-scanner/.
Acesso em: 20 jan. 2021.
terrestre estático.
Pelo fato de os instrumentos de varredura laser operarem por meio de feixes laser, existem alguns parâmetros relacionados
com os pontos laser e com as superfícies de incidência que devem ser considerados na caracterização da qualidade da medi-
ção, conforme descrito a seguir.
Figura 21.5 • Divergência do feixe laser. Figura 21.6 • Efeito do tamanho do feixe laser.
Imagem adaptada do Manual do Usuário Leica TPS1100 Professional Series.
Fonte: Leica Geosystems: Manual do usuário Leica TPS1100 Professional Series.
No caso do método de medição por pulso, por exemplo, o sistema de medição precisa esperar o retorno do sinal antes de en-
viar outro sinal. Assim, quanto maior a distância, maior o tempo de espera e menor a taxa de varredura. No caso do método de
medição por diferença de fase, o sistema não precisa esperar o retorno do sinal para enviar o próximo, o que permite alcançar
taxas de varredura maiores (ver Tab. 21.1).
Figura 21.10 • Classificação dos instrumentos de varredura laser segundo o tipo de deflexão e o campo de visão.
x d * sen z * sen Az
y d * sen z * cos Az (21.1)
z
d * cos Az
arctg x
Az y
z arccos z (21.2)
d Figura 21.11 • georreferenciamento de pontos levantados por varredura laser.
d 2 2 2
x y z
A nuvem de pontos com coordenadas cartesianas espaciais definidas pelo usuário em função de uma única posição do ins-
trumento, conforme descrito, somente é adequada para o uso em aplicações especiais em que a referência da nuvem de pontos
não altera os atributos do produto gerado. Nos demais casos é necessário que se tenha um sistema de coordenadas cartesiano
espacial predefinido, sobre o qual se fará o georreferenciamento da nuvem de pontos. Existem, para tanto, dois métodos de
georreferenciamento que podem ser aplicados. São eles:
• georreferenciamento direto;
• georreferenciamento indireto.
Apresentam-se na sequência os detalhes geométricos relevantes de cada um deles.
Os alvos utilizados para a determinação dos pontos de controle ou dos pontos de ligação pré-sinalizados, em geral, são pla-
cas planas ou alvos esféricos, conforme ilustrado na Figura 21.17. Na maioria dos casos, se prefere os esféricos pela facilidade
de se determinar o centro do alvo em qualquer ângulo de varredura, o que pode ser um problema nos casos de placas planas.
O leitor deve notar que o centro do alvo é determinado pelo centroide da varredura dele, uma vez que o feixe laser não
pode ser dirigido diretamente para ele.
Figura 21.19 • Ilustração de uma imagem vetorizada a partir de uma nuvem de pontos.
A modelagem 3D da nuvem de pontos consiste na determinação matemática da forma espacial dos objetos escaneados, os
quais podem ser elementos geométricos tridimensionais individuais ou toda a geometria da cena. Modelar, nesse caso, deve
ser entendido como o processo de desenvolvimento de uma representação matemática georreferenciada de superfícies em três
dimensões, por meio de um programa aplicativo desenvolvido para esse fim. Por se tratar de uma representação matemática,
o modelo espacial gerado pode ser visualizado, editado, modificado, plotado e girado no espaço por intermédio de recursos
computacionais adequados.
Existem duas maneiras de se realizar a modelagem matemática da nuvem de pontos oriunda de uma mediação por varredura
laser. A primeira delas é a aplicação de um algoritmo de modelagem numérica de superfícies (MNS), conforme descrito no Capí-
tulo 18 – Modelo numérico de terreno. Os passos a serem seguidos, nesse caso, são exatamente aqueles descritos no referido capí-
tulo. O modelo assim gerado é visualmente composto por elementos triangulares que formam a figura da superfície modelada, a
qual pode ser tratada por recursos da computação gráfica para diferentes propósitos gráficos. A Figura 21.20 ilustra um exemplo
da modelagem espacial de uma nuvem de pontos por meio de recursos da modelagem numérica de superfícies.
21.6.1.4 Erros lineares relacionados com o sistema de medição da distância entre o escâner e o objeto
Novamente, os erros relacionados com a medição da distância entre o instrumento e o objeto de medição em um instrumento
de varredura laser são, basicamente, os mesmos descritos para os erros de EDM apresentados na Seção 9.2.3 – Erros sistemá-
ticos de medição de distâncias. Existem, contudo, algumas peculiaridades dos escâneres que devem ser ressaltadas, como os
erros nas medições de distâncias em decorrência da divergência do feixe laser e do ângulo de incidência na superfície refletora,
conforme descritos nas seções anteriores.
para o sensor. Notar que o excesso de refletividade pode também afetar a qualidade da medição ou até mesmo impedi-la.
Os efeitos, contudo, variam para diferentes instrumentos com diferentes comprimentos de onda do feixe laser.
Além da refletividade, a energia do feixe laser pode também penetrar em alguns tipos de materiais, como madeira, isopor,
mármore e outros. O sinal, neste caso, é refratado e refletido no próprio material, introduzindo uma nova constante de adição
na distância medida.
As características físicas da superfície refletora que geralmente induzem a erros nas medições de distâncias com um instru-
mento de varredura laser são as seguintes:
• cor;
• rugosidade;
• temperatura da superfície;
• umidade da superfície;
• composição física do material.
22.1 Introdução
As medições topográficas para a determinação dos valores de um dado geoespacial, como visto nos capítulos precedentes,
são realizadas, na maioria das vezes, por meio de instrumentos topográficos e em contato direto com o objeto de medição.
Dependendo das dimensões e da quantidade de objetos a serem medidos, esse tipo de medição, contudo, pode ser laborioso
e custoso e, em alguns casos, até inviável com a tecnologia disponível atualmente. Incluem-se nesta situação, por exemplo,
os levantamentos cadastrais de grandes áreas, os mapeamentos cartográficos, os mapeamentos de corredores para projetos
lineares de Engenharia, o mapeamento de áreas de difícil acesso, a coleta de dados para a geração de modelos numéricos de
terreno de grandes superfícies e muitos outros.
Em face da dificuldade em se aplicar técnicas convencionais de medições topográficas na coleta de dados para esses tipos
de projetos, empregam-se técnicas de medições remotas e com capacidade de gerar grandes quantidades de dados, como
as técnicas de medições por meio de escâneres laser aéreos e terrestres, apresentadas no capítulo anterior, e as técnicas de
medições por meio da fotogrametria, discutidas neste capítulo.
Para os leitores menos habituados com o termo fotogrametria, ele deve ser entendido como a denominação genérica dada
à metodologia de modelagem matemática do espaço 3D por intermédio de imagens 2D geradas por sensores de captura de
imagem. Para a Geomática, isso envolve, predominantemente, informações geométricas (dimensões e formas), semânticas
(interpretativas) e físicas (propriedades da energia eletromagnética) dos elementos do espaço modelado.1
Para atender aos objetivos citados, no âmbito da Geomática, a fotogrametria é considerada uma ciência, uma técnica, que,
além de seus conceitos próprios, abrange conceitos de diferentes disciplinas, entre as quais se destacam a Geodésia, a Geome-
tria, o tratamento de imagens e a visão computacional, entre outras.
Neste contexto, o objetivo deste capítulo é discutir os conceitos básicos do que se denomina fotogrametria digital. Priori-
za-se aqui o estudo dos conceitos técnicos relacionados com a coleta de informações geométricas de dados geoespaciais por
meio de sensores aerotransportados, ou seja, por meio da aerofotogrametria. Não serão tratados os aspectos interpretativos
das imagens – ao que se denomina fotointerpretação e tampouco os conceitos relacionados com a fotogrametria terrestre. Por
se tratar de um capítulo de livro, serão discutidos apenas os aspectos relevantes da aerofotogrametria digital com o objetivo de
instruir os profissionais de Engenharia, no uso racional dessa tecnologia.
são denominados, genericamente, restituidores fotogramétricos digitais ou, ainda, sistemas fotogramétricos digitais, os quais
operam por meio de programas ou bibliotecas de aplicativos específicas destinadas a solucionar os diversos problemas foto-
gramétricos. As empresas que atuam nessa categoria profissional são denominadas empresas de aerofotogrametria e os profis-
sionais que nela trabalham, fotogrametristas.
Para a racionalização do estudo da fotogrametria digital aplicada à Engenharia, ela pode ser categorizada segundo a loca-
lização da plataforma de aquisição de dados, conforme apresentado a seguir:
• fotogrametria terrestre: aquela em que a plataforma de aquisição de dados está localizada na superfície da Terra;
• aerofotogrametria ou fotogrametria aérea: aquela em que a plataforma de aquisição de dados é uma aeronave. No caso
de uma aeronave tripulada, ela é denominada aerofotogrametria convencional e, no caso de uma aeronave não tripulada,
fotogrametria por meio de VANT (ou RPA).
As aplicações em Engenharia variam entre as categorias. Para o caso específico da aerofotogrametria convencional, desta-
cam-se, entre outras, as seguintes:
• extração de informações tridimensionais para a atualização de bases de dados espaciais em formatos numéricos, alfanu-
méricos, gráficos e digitais (imagem);
• obtenção de informações geométricas e semânticas tridimensionais para aplicações em mapeamentos, Engenharia Civil,
Engenharia Mecânica, Engenharia Aeronáutica, Engenharia Ambiental, Engenharia Florestal, Arquitetura e Urbanismo,
cadastro rural e urbano, registro de patrimônio histórico-cultural, análise forense, relatórios de perícias técnicas, robó-
tica, sistemas de assistência à navegação veicular, aplicações médicas e outros;
• geração de modelos tridimensionais para o estudo em diferentes fases do ciclo de vida de um projeto de Engenharia,
como aplicações da tecnologia BIM, estudos do meio ambiente, geotecnia, modelagem hidrológicas, monitoramento de
estruturas e realidade virtual;
• mapeamentos e controles da produção na agricultura;
• mapeamentos para planejamento regional e urbano;
• controle de tráfego e acidentes em rodovias urbanas e rurais;
• inteligência militar.
As aplicações relacionadas com a fotogrametria por meio de VANT estão descritas na Seção 22.16 – Coleta de dados por
meio de sistemas VANT.
Figura 22.1 • Ilustração de uma imagem digital com sua matriz numérica de tons de cinza.
Além do atributo relacionado com o tom de cinza ou os canais de cores do objeto imageado, cada pixel possui uma dimen-
são (∆r, ∆c) e uma posição na imagem, correspondente a linha (r) e a coluna (c) em que ele se encontra na matriz de sensores.2
Essa relação geométrica entre o tamanho do pixel e sua posição na imagem permite estabelecer um sistema de coordenadas
bidimensional,3 denominado coordenadas pixel (r, c),4 expresso em pixels. Trata-se de um sistema de coordenadas levogiro
com origem no centro do pixel localizado no canto superior esquerdo da imagem, conforme indicado na Figura 22.2.
As equações matemáticas da fotogrametria, por outro lado, estão baseadas em um sistema de coordenadas cartesiano plano (x, y)
dextrogiro, com origem no centro da imagem, cuja localização, em geral, coincide com o centro da matriz de sensores, denominado
sistema de coordenadas imagem. A relação geométrica entre os dois sistemas de coordenadas está ilustrada na Figura 22.2.
Figura 22.2 • Representação do sistema de coordenadas pixel (r, c) e do sistema de coordenadas imagem (x, y).
Fonte: adaptada de EESC/USP.
Para o imageamento, os fotodiodos são fixados sobre um substrato cerâmico formando uma matriz de sensores, sendo
os mais comuns os baseados na tecnologia CCD e CMOS, já descritos em capítulos anteriores. Para as aplicações fotogra-
métricas, eles possuem dimensões variadas, alcançando, atualmente, resoluções da ordem de 450 megapixels,5 com pixels de
dimensões da ordem de 4,0 µm.
Os valores gravados na imagem digital correspondem à quantidade de fótons6 capturados em cada fotodiodo em determi-
nado intervalo de tempo, denominados intensidade do pixel. Geralmente, eles estão relacionados com a média das energias
geradas pela área coberta pelo pixel. Em meio digital, os valores de intensidade são gravados na forma binária, ou seja, com
valores 0 ou 1. Mais comumente, no formato de 8 bits (equivalente a 1 byte), que corresponde a valores inteiros compreendi-
dos entre 0 e 255, que estão bem acima da capacidade humana de distinguir tons de cinza. Os arranjos de bits são variados,
existindo imagens de 8, 11, 14, 16 bits e outros. A quantidade de bits de uma imagem é denominada resolução radiométrica
da imagem. As imagens coloridas, geralmente, são formadas por três matrizes de valores de intensidades (ou valores de
ND) de 8 bits, correspondentes às regiões do R (vermelho), G (verde) e B (azul) do espectro eletromagnético. As imagens são
assim classificadas em multiespectrais, quando consistem em apenas algumas bandas espectrais, em geral, entre 4 e 20; supe-
respectrais, quando possuem 36 bandas; e hiperespectrais, quando possuem 100 ou mais bandas espectrais.
A aquisição da imagem se dá por meio do uso de uma câmera fotográfica digital, também denominada simplesmente câme-
ra digital ou sensor digital, no qual o anteparo de formação da imagem é a matriz de sensores CCD (ou CMOS). A Figura 22.3
mostra a geometria da formação da imagem, que depende tanto de aspectos geométricos da câmera quanto da altura de voo.
Os principais elementos geométricos da câmera digital a serem considerados para a fotogrametria são: a distância focal (f),
o tamanho do pixel e a quantidade de pixels. Assim, simplificadamente, pode-se considerar que, por semelhança de triângulos,
existe uma relação linear entre o tamanho do pixel (pixel), a distância focal (f) da câmera e a altura do voo (hv). Um dos elementos
físicos de destaque, neste caso, é o centro da objetiva, também denominado centro óptico ou centro perspectivo (ver Fig. 22.3).
3 Notar que, no caso de imagens com múltiplas bandas, como as imagens coloridas, ele passa a ser definido como um sistema multidimensional.
4 Alguns autores preferem o termo coordenadas imagem. Neste texto, o termo coordenadas imagem será usado para o sistema de coordenadas
relacionado com o centro da matriz de sensores.
5 A área de desenvolvimento de sensores CCD e CMOS é extremamente dinâmica. O valor indicado é apenas informativo para a época atual.
Sempre que necessitar de informações a este respeito, o leitor deve consultar materiais especializados e atualizados.
6 Partículas elementares que constituem a luz, correspondente à quantidade de energia do respectivo espectro luminoso.
e-92 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
O tamanho do pixel pode ser calculado em função das dimensões da matriz de sensores CCD (ou CMOS) utilizado na
obtenção das imagens. Assim, tem-se:
dimensão do sensor
pixel = (22.3)
número de fotodiodos
A resolução radiométrica indica a menor variação de intensidade que pode ser detectada em uma imagem e a resolução
espacial indica a menor área do terreno que pode ser representada na imagem.
Notar que, quanto menor o valor do GSD, maior a resolução da imagem e melhor a identificação dos objetos no terreno.
Deve-se, contudo, considerar que a capacidade de detecção, reconhecimento e identificação de um objeto em uma imagem
digital pelo cérebro humano depende da quantidade de pixels que a representa e de seu entorno. Essa quantidade não é con-
sistentemente definida. Em geral, se aceita que a detecção ocorre quando se tem pelo menos 2 pixels representando o objeto;
o reconhecimento quando se tem entre 4 e 6 pixels; e a identificação quando se tem entre 8 e 12 pixels.8 Isso significa que com
um GSD de 4 cm só será possível identificar objetos de 32 a 48 cm, aproximadamente. Esses valores dependem do formato
do objeto e do contraste com os objetos vizinhos. Um exemplo típico da relação entre o GSD e o tamanho do objeto pode ser
verificado na ilustração da Figura 22.4.
7 Utiliza-se a letra (f) para a distância focal como um termo genérico. Para os casos em que a distância focal é um valor calibrado, em geral, se adota
a letra (c).
8 De acordo com Sandau, R. (ed.) et al. Digital Airborne Camera – introduction and technology. Heidelberg, Germany: Springer Verlag, 2010.
Aerofotogrametria e-93
Figura 22.5 • Deformações da imagem fotográfica aérea em função do relevo e da inclinação da câmera.
Solução:
Aplicando as equações (22.3) e (22.1), têm-se:
23, 5 15, 6
pixel 0,0039 mm = 3,9m
6.000 4.000
250 * 3 * 10 6
GSD 0,029 m = 2,9 cm
0, 034
Notar que o pixel, neste caso, possui formato quadrangular. Esse não é sempre o caso. Ele pode também possuir um formato
retangular.
e-94 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
Figura 22.7 • Ilustração da formação de uma imagem digital com Figura 22.8 • Ilustração da geometria das imagens geradas com sen-
sensor de quadros. Cortesia de Leica Geosystems. sor de quadros. Cortesia de Leica Geosystems.
A maioria das câmeras baseadas em sensores de quadro atuais possui formato retangular, com a maior dimensão transver-
sal à linha de voo para minimizar a quantidade de faixas de voo. A resolução da matriz de sensores é definida em quantidade
de pixels na imagem, por exemplo, 26.460 × 17.004 pixels. Assim, conhecendo o tamanho de cada fotodiodo, pode-se deter-
minar a dimensão do quadro.
As imagens geradas com este tipo de sensor são disponibilizadas em faixas contínuas (ver Fig. 22.10), que podem ser re-
cortadas segundo as necessidades dos usuários. Os diferentes posicionamentos das faixas conferem o efeito da estereoscopia
necessário para a restituição fotogramétrica, conforme apresentado na Seção 22.6 – Estereoscopia.
Além dos sensores de imagem, os sistemas de captura de imagens digitais aéreas possuem vários outros componentes necessá-
rios para a geração de imagens com qualidade espacial adequada para a fotogrametria. Entre os mais importantes, pode-se citar:
• berço giro estabilizado (Gimbal): consiste em um suporte do sensor, cuja finalidade é minimizar os seus movimentos
com relação aos movimentos da aeronave;
• dispositivo para compensação do deslocamento da aeronave (TDI, do inglês time delay integrator): tem a função de evi-
tar o efeito do arrastre da imagem, compensando o efeito do deslocamento do terreno, na imagem, durante o tempo de
abertura do obturador. O resultado desta correção é a obtenção de uma imagem com nitidez superior àquela obtida sem
uso do TDI. É importante ressaltar que muitas câmeras aéreas digitais modernas (CMOS) possuem tempo de gravação
da imagem suficientemente baixo (1:1.000 a 1:2.500) para dispensar o uso deste dispositivo;
• sistemas de posicionamento (GNSS) e inercial (IMU): auxiliam na determinação da posição e das rotações do sensor no
espaço, conforme apresentado na Seção 22.10.2 – Determinação direta dos parâmetros de orientação por meio de georre-
ferenciamento GNSS e sistema inercial (IMU);
• dispositivos de controle do voo e de captura das imagens: aqueles relacionados com o controle da trajetória da aeronave
e o controle do funcionamento do sistema de captura das imagens.
As Figuras 22.11 e 22.12 apresentam exemplos de câmeras aéreas atualmente disponíveis no mercado instaladas sobre ber-
ço giro estabilizado. Na Figura 22.12, o conjunto câmera/berço é mostrado no interior da aeronave.
FIgura 22.11 • Câmera aérea digital sobre berço FIgura 22.12 • Câmera aérea digital instalada no interior de uma aeronave.
giro estabilizado. Cortesia de PHaSEONE Industrial. Cortesia de Vexcel Imaging.
e-96 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
Figura 22.14 • Exemplo de um par estereoscópico formado pela sobreposição das imagens durante o voo
fotogramétrico.
12 Estes valores variam em função do relevo do terreno e do objetivo do levantamento. Notar, entretanto, que quanto maior o recobrimento, maior
a quantidade de imagens.
Aerofotogrametria e-97
Solução:
Para que as áreas sejam as mesmas, as dimensões do GSD em cada voo
devem ser as mesmas, ou seja:
264.600 170.000
GSD 10 cm
26.460 17.004
Assim, aplicando a equação (22.1), têm-se:
Solução:
Com os dados do problema e aplicando a equação (22.1), têm-se:
1.500 * 26.460 * 4 * 10 6
Lado 1 do retângulo 1,59 km
0,1
1.500 * 17.004 * 4 * 10 6
Lado 2 do retângulo 1,02 km
0,1
Tem-se, assim, a área do terreno recoberta por uma foto dada por:
áreafoto 1, 59 * 1, 02 1,62 km 2
Considerando um recobrimento longitudinal de 60 %, a área coberta por um par estereoscópico é dada por:
áreapar 0, 6 * 1, 59 * 1, 02 0,97 km 2
22.6 Estereoscopia
Dá-se o nome de estereoscopia ao efeito visual que permite ao ser humano reconstruir virtualmente, em seu cérebro, o espaço
3D de uma cena por intermédio de vistas bidimensionais de um par de imagens conjugadas do mesmo objeto obtidas a partir
de pontos de vista diferentes. Diz-se, neste caso, que se tem um modelo estereoscópico. O princípio físico da ocorrência do efei-
to da estereoscopia se baseia, entre outros, na capacidade do ser humano em detectar alterações nos ângulos paraláticos de sua
visão e, assim, determinar diferenças de profundidade em uma cena, conforme ilustrado esquematicamente na Figura 22.17.
No caso de duas imagens planas conjugadas da mesma cena, tomadas de pontos de vista diferentes, o observador somente
reconstruirá o espaço 3D virtual (modelo estereoscópico), se cada olho visualizar as imagens respectivas simultaneamente,
como indicado na Figura 22.18. Para que isto seja possível, existem diversos dispositivos construídos especificamente para
este fim, conforme indicado na sequência do texto.
O desenvolvimento de um modelo fotogramétrico se baseia no estabelecimento das condições ópticas e geométricas para
que se possa recriar as projeções das imagens no espaço, orientá-las adequadamente umas com relação às outras para que se
obtenha um modelo estereoscópico fiel do espaço objeto e, finalmente, georreferenciar o modelo estereoscópico com relação
a um sistema de coordenadas predefinido. A esse processo de formação do modelo dá-se o nome de orientação fotogramétrica.
A etapa de formação das imagens é denominada orientação interior. A etapa de formação do modelo estereoscópico e o seu
georreferenciamento com relação ao sistema de coordenadas do espaço objeto é denominado orientação exterior. Em visão
computacional, os parâmetros da orientação interior são denominados intrínsecos e os relacionados com a orientação exterior,
extrínsecos. Apresenta-se a seguir uma breve discussão sobre cada uma dessas etapas.
x r 0 r rc (22.4)
*
y 0 c c cc
em que:
x, y = coordenadas de um ponto com relação ao referencial com origem no centro da imagem (espaço imagem);
∆r, ∆c = tamanho do pixel;
r, c = coordenadas (linha, coluna) do pixel;
rc , cc = coordenada (linha, coluna) do centro da imagem.
Considerando que o número de linhas e colunas da imagem sejam H e W, respectivamente, as coordenadas (rc, cc) serão
dadas por:
rc H 1 2 (22.5)
cc W 1 2 (22.6)
xr x x0 * k1 * r 2 k2 * r 4 k3 * r 6 (22.7)
yr y y0 * k1 * r 2 k2 * r 4 k3 * r 6 (22.8)
2
r 2 x x0 2 y y0 (22.9)
em que:
Dxr, Dyr = componente da distorção radial simétrica em (x, y);
x, y = coordenadas imagem com relação ao referencial com origem no centro da imagem;
x0, y0 = coordenadas do ponto principal (explicado na Seção 22.9 – Equações fundamentais da fotogrametria digital);
ki = parâmetros da distorção radial simétrica;
r = distância radial com relação ao ponto principal.
A distorção descentrada ocorre em virtude da não centragem dos elementos das lentes ao longo do eixo óptico da câmera,
que causa distorções radiais (não simétricas) e tangenciais. Ela é modelada de acordo com as equações (22.10) e (22.11).
2
xd p1 * r 2 2 x xo 2 p2 * x xo * y yo (22.10)
2
yd p2 * r 2 2 y y0 2 p1 * x x0 * y y0 (22.11)
em que:
Dxd , Dyd = componente da distorção descentrada em (x, y);
x, y = coordenadas imagem com relação ao referencial com origem no centro da imagem;
x0, y0 = coordenadas do ponto principal;
pi = parâmetros da distorção descentrada;
r = distância radial com relação ao ponto principal.
Em geral, a distorção descentrada pouco influencia o resultado das coordenadas medidas sobre as imagens quando compa-
rada com a distorção radial simétrica. Por esta razão, em alguns casos, ela é desprezada nos modelos fotogramétricos.
relacionadas com o sistema de coordenadas cartesiano espacial quanto com um sistema de projeção cartográfica ou plano lo-
cal, mais a altitude ortométrica. As coordenadas (x, y, z) do espaço imagem referem-se ao sistema de coordenadas cartesiano
3D com origem no centro óptico (O) da objetiva da câmera. Os ângulos (κ, ϕ, ω) são os ângulos de rotação da câmera aérea no
espaço, conforme detalhado na Seção 22.10 – Determinação dos parâmetros de orientação exterior do modelo fotogramétrico.
Notar que as coordenadas imagem (x, y) do plano da imagem estão relacionadas com as coordenadas (x, y ,z) do espaço
imagem estendendo o eixo (z), que é perpendicular ao plano da imagem, mantendo a orientação dextrogiro do sistema.
O ponto (O) possui coordenadas (X0, Y0, Z0). O parâmetro (c) corresponde ao valor da distância focal e é dado pelo cer-
tificado de calibração da câmera. O ponto (P) é o ponto objeto no terreno e possui coordenadas (XP , YP , ZP). O ponto (p9) é
o ponto imagem com coordenadas imagem (xP ,yP). O ponto (N9) é o ponto de interseção da vertical do lugar, que passa pelo
centro óptico da objetiva, com o plano da imagem. O ponto (PP), denominado ponto principal, representa a localização do
ponto de interseção da linha vertical entre o centro óptico (O) e o plano da imagem. Por construção da câmera, ele não coinci-
de necessariamente com o pixel central da imagem, possuindo as coordenadas (x0, y0) com relação a esse centro, denominadas
coordenadas do ponto principal. Esses valores também são determinados durante a calibração da câmera.
A relação geométrica entre os parâmetros citados é dada por intermédio de um modelo matemático baseado em um con-
junto de equações denominadas equações projetivas, conforme apresentado a seguir.
Para a determinação das equações de colinearidade é preciso, primeiramente, tornar o sistema (x,y,z), do espaço imagem,
paralelo ao sistema (X, Y, Z), do objeto. Para tanto, basta aplicar, inicialmente, as rotações (κ, ϕ, ω) ao sistema (X, Y, Z) para
torná-lo paralelo ao sistema (x, y, z). Assim, tem-se:
x X
y R , , * Y
z Z (22.14)
Para fazer com que o sistema (X, Y, Z) coincida com o sistema (x, y, z) com referência no centro da imagem é necessário
ainda transladá-lo com as distâncias (X0, Y0, Z0) e aplicar um fator de escala (k). Assim, tem-se:
x x0 X X0
y y 0 k * R , , Y Y0
* (22.15)
c Z Z0
Considerando a matriz de rotação dada pela equação (4.104), obtém-se,
x x0 r11 r12 r13 X X0
y y0 k * r21 r22 r23 * Y Y0
(22.16)
c r31 r32 r33 Z Z0
Aerofotogrametria e-103
Em seguida, dividindo as duas primeiras equações pela terceira equação e adicionando os fatores de correção (∆x e ∆y)
dos valores das coordenadas imagem relacionados com suas deformações, obtêm-se as clássicas Equações de Colinearidade
indicadas na sequência. Notar que o fator de escala desaparece no sistema de equações assim gerado.
Assumindo que os parâmetros de orientação interior (ou intrínsecos) sejam conhecidos, o sistema de equações anterior
possui seis parâmetros de transformação, que são os três ângulos de rotação (κ, ϕ, ω) e as três coordenadas (X0, Y0, Z0) do cen-
tro perspectivo. São necessários, portanto, três pontos homólogos para a determinação destes parâmetros, uma vez que cada
ponto possibilita escrever duas equações [correspondentes às equações (22.20) e (22.21)]. Essas equações permitem calcular
as coordenadas do ponto imagem em função das coordenadas do ponto objeto. Para calcular as coordenadas do ponto objeto
em função das coordenadas do ponto imagem, deve-se considerar que a matriz de rotação é uma matriz ortogonal, a partir
do que se sabe que:
X X0 x x0
Y Y0 k * RT
, , y y 0
* (22.22)
Z Z0 c
o que permite obter as equações indicadas a seguir,
Com os parâmetros de transformação conhecidos, basta igualar as duas equações da coordenada (X) para calcular a
coordenada (Z), a qual pode, em seguida, ser substituída nas equações da coordenada (Y). Obtêm-se, assim, os valores
das coordenadas (X, Y, Z) de cada ponto objeto, cujas coordenadas (x, y) foram medidas nas imagens.
Quando se tem mais de três pontos homólogos de coordenadas conhecidas, o que ocorre com frequência, a solução
do sistema de equações se dá por intermédio do uso de um ajustamento de observações pelo Método dos Mínimos
Quadrados.
Solução:
Para a imagem (1), considerando a equação (4.104), tem-se a matriz de rotação indicada a seguir:
Neste ponto da solução do problema é necessário igualar as duas equações da coordenada (X) ou (Y) para se obter a coorde-
nada (Z), de onde se obtém:
Ressalta-se que a melhor solução para este tipo de problema é utilizar mais de três pontos homólogos e, para tanto, será neces-
sário a aplicação de conceitos de ajustamento das observações pelo Método dos Mínimos Quadrados. O leitor interessado neste
tipo de solução deverá consultar literatura específica sobre o assunto.
22.10.1 Determinação indireta dos parâmetros de orientação por meio de pontos de controle
Um ponto de controle para a Aerofotogrametria é um ponto sinalizado sobre o terreno, cujas coordenadas são conhecidas
com relação a um sistema de coordenadas do espaço objeto previamente escolhido. Isso significa que elas foram determinadas
por meio de medições com a tecnologia GNSS ou por meio de estações totais. Conforme já citado, elas podem ser coordena-
das cartesianas geocêntricas, planas UTM ou topográficas locais com altitudes ortométricas. Em geral, um ponto de controle
é simplificadamente denominado por sua sigla em inglês GCP (Ground Control Point).
Um ponto de controle pode ser planimétrico, altimétrico ou planialtimétrico. Para a determinação dos parâmetros de
orientação das imagens conjugadas de um par estereoscópico é necessário ter, pelo menos, dois pontos com coordenadas
(X, Y, Z) conhecidas e um ponto com coordenada (Z). Obviamente, para que se tenha maior acurácia, e para que se possa
conhecer os valores das precisões dos valores calculados, recomenda-se sempre utilizar mais de três pontos de controle.
Existem dois tipos de pontos de controle utilizados em aerofotogrametria. São eles:
e-106 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
Figura 22.23 • Ponto de controle natural em Figura 22.24 • Ponto de controle pré-
uma faixa de pedestres. sinalizado.
22.10.2 Determinação direta dos parâmetros de orientação por meio de georreferenciamento GNSS e
sistema inercial (IMU)
O uso da tecnologia GNSS e de um sis-
tema inercial acoplados à câmera foto-
gramétrica, conforme ilustrado na Figura
22.25, permitem determinar os valores
das coordenadas (X0,Y0, Z0) do centro
perspectivo e os valores das rotações (ω,
ϕ, κ) do sensor, em cada posição de to-
mada da foto. Diz-se, nesse caso, que se
realiza um georreferenciamento direto do
modelo fotogramétrico.
O posicionamento GNSS é obtido apli-
cando diferentes técnicas de levantamento,
que variam em função da qualidade deseja-
da. Em geral, tem-se utilizado o método de
levantamento no modo relativo cinemático
(PPK) e no modo diferencial RTK, confor-
me apresentado no Capítulo 20 – Sistemas
de navegação global (GNSS). Figura 22.25 • Voo aerofotogramétrico com suporte GNSS e IMU.
Aerofotogrametria e-107
A unidade de medição inercial (IMU) utilizada em aerofotogrametria é composta por três giroscópios, três acelerômetros,
uma plataforma de montagem desses sensores (estabilizada ou não) e uma placa de computador com um algoritmo apropriado
para transformar as medições inerciais em informações de navegação. Os dados dos acelerômetros e dos giroscópios estão
relacionados com os incrementos de velocidade e as variações angulares, disponibilizadas a uma frequência da ordem de 200
Hz. Essa montagem, contudo, não garante a estabilidade do sistema e, dependendo da qualidade dos sensores inerciais, ocor-
rem desvios de posição e de atitude que variam ao longo do tempo.
Um sistema inercial de qualidade média, por exemplo, pode variar a sua posição entre 3 e 10 cm por segundo de tempo. Já
a atitude pode variar entre 0,1 e 0,2 segundo de arco por segundo de tempo. É importante, contudo, considerar que, em função
dos avanços tecnológicos que ocorrem nesta área, não vale a pena deter-se a dados específicos. Sempre que necessário, o leitor
interessado deverá consultar referências especializadas recentes e catálogos de fabricantes.
Para solucionar o problema da insta-
bilidade dos sistemas inerciais, se realiza
uma integração dos dados inerciais com
os dados GNSS. Em resumo, isso significa
corrigir o desvio da trajetória determinada
pela unidade de medida inercial por meio
da integração com o posicionamento GNSS.
Considerando que os sistemas inerciais pro-
duzem valores de posições relativas e de ati-
tudes precisos a uma frequência da ordem
de 200 Hz, se for aplicada, por exemplo,
uma correção GNSS a cada segundo, se ob-
tém a orientação da aeronave no espaço em Figura 22.26 • Ilustração da correção da trajetória pela integração GNSS-IMU.
distâncias adequadas para a aerofotograme-
tria, conforme ilustrado na Figura 22.26.
O sistema inercial é rigidamente conectado ao corpo da câmera de forma que os sistemas de coordenadas de ambos este-
jam aproximadamente alinhados. Ao desvio angular existente entre os dois sistemas dá-se o nome de ângulos de boresigth.
A antena do sistema GNSS, por sua vez, é rigidamente montada no corpo da aeronave de modo que se possam conhecer os
valores dos off-sets entre o centro da antena e o centro perspectivo da câmera. Os valores desses desvios são, muitas vezes,
indicados pelos fabricantes das câmeras ou medidos com o uso de instrumentos topográficos. Mesmo assim, eles precisam ser
determinados por calibrações de campo.
Outro aspecto importante a ser considerado na integração dos sistemas GNSS-IMU no posicionamento da câmera aérea
é a escolha do sistema de coordenadas do projeto. Em geral, se utiliza um sistema de projeção cartográfica relacionado
com o sistema de referência geodésico nacional, como a projeção UTM e altitude ortométrica, por exemplo (ver Capítulo
19 – Projeção cartográfica). O modelo fotogramétrico, contudo, se baseia no sistema de coordenadas cartesiano espacial.
Torna-se necessário, portanto, realizar transformações de coordenadas para que se possa combinar os dois sistemas.
Além disso, é preciso também considerar o fato de que as altitudes utilizadas nos projetos de Engenharia são as altitudes
ortométricas ou as altitudes normais, conforme descrito na Seção 3.5.1 – Ondulação geoidal, e as geradas pelo sistema
GNSS são as elipsoidais, o que torna imprescindível considerar a ondulação geoidal e o desvio da vertical no produto
final de mapeamento.
22.11 Aerotriangulação
Conforme descrito na Seção 22.9.1 – Equações projetivas (equações de colinearidade), a determinação indireta dos parâme-
tros de orientação das imagens de um par estereoscópico exige a existência de pelo menos três pontos de controle distribuí-
dos na área de superposição das duas imagens do modelo estereoscópico. Dessa forma, considerando que um levantamento
aerofotogramétrico, em praticamente todos os casos, recobre áreas extensas do terreno gerando um grande número de
pares estereoscópicos, o uso de três pontos de controle por par de imagens torna-se impraticável. Para solucionar esse pro-
blema adota-se a prática de processar simultaneamente a geometria de todo o bloco de imagens, baseando-se em pontos de
ligação13 (tie points) entre as imagens adjacentes, o que reduz sensivelmente a quantidade de pontos de controle necessária
para a determinação dos parâmetros de orientação das imagens do bloco. A esse processo de orientação conjunta do bloco
de imagens dá-se o nome genérico de fototriangulação, ou no caso aéreo, Aerotriangulação.
Ponto de verificação:14 aquele utilizado para verificar a qualidade do ajustamento da aerotriangulação. Trata-se, na realida-
de, de um ponto de controle não utilizado no ajustamento do bloco aerofotogramétrico. O seu uso se dá pela comparação de
suas coordenadas, conhecidas no terreno, com aquelas geradas pelos modelos fotogramétricos ajustados. As diferenças entre
as duas permitem determinar a acurácia do ajustamento realizado.
Existem na literatura diversos métodos de fototriangulação que foram desenvolvidos ao longo do tempo. O mais flexível
e acurado entre eles e que se encontra disponível em praticamente todos os programas aplicativos de fotogrametria utiliza
o método denominado ajustamento por feixes perspectivos (bundle block adjustment), que pode ser entendido como um
modelo matemático que relaciona de uma só vez as coordenadas do espaço imagem de todo o bloco com os parâmetros
do sensor e as coordenadas do espaço objeto. Em suma, significa a aplicação simultânea das equações de colinearidades
para todos os modelos do bloco de imagens. Os valores dos parâmetros de orientação, neste caso, são determinados por
intermédio da aplicação de um ajustamento de observações pelo Método dos Mínimos Quadrados, conforme ilustrado no
exemplo apresentado na sequência.
Considere-se como exemplo o bloco composto por duas faixas de voo com quatro imagens cada, conforme ilustrado na
Figura 22.29.
Figura 22.29 • Bloco de imagens com seus respectivos pontos de ligação e de controle.
Pela Figura 22.29, nota-se que o bloco de imagens possui as seguintes características:
O número de incógnitas do sistema é igual às coordenadas (X, Y, Z) de cada ponto, mais os parâmetros (ω, ϕ, κ, X0, Y0, Z0)
de cada foto, ou seja, 3*25+8*6 = 123 incógnitas.
A quantidade de equações de colinearidade é igual a 2*74 = 148 por serem duas equações para cada ponto imagem.
Como se tem 148 equações e 123 incógnitas, a solução pode ser obtida a partir do ajustamento de observações pelo
Método dos Mínimos Quadrados. Como resultado ter-se-á os parâmetros de orientação (ω, ϕ, κ, X0, Y0, Z0) de cada foto
mais as três coordenadas (X, Y, Z) ajustadas para cada ponto medido. Os detalhes sobre o emprego de um ajustamento
desse tipo excedem os objetivos deste livro. O leitor interessado deverá consultar bibliografias especializadas. Deve-se
ressaltar que, dependendo do tamanho do bloco de imagens, a quantidade de equações é grande, exigindo modelos de
processamento aprimorados.
Com relação à quantidade de pontos de controle, alguns autores recomendam o uso de pelo menos um ponto a cada 4 ou 6
pares de imagens, distribuindo-os nos cantos e nas áreas de recobrimento longitudinal e lateral dos modelos. Adicionalmente,
pode-se também incluir pontos de controle verticais (pontos de altitude conhecidas) nas áreas de recobrimento lateral a cada
4 modelos.
Com relação aos pontos de ligação, a quantidade indicada varia entre 9 e 15 pontos por imagem, nos procedimentos ma-
nuais. Nos casos da determinação automática dos pontos de ligação, recomenda-se utilizar uma quantidade da ordem de 100
pontos por imagem. Esse valor, obviamente, não é fixo e pode variar caso a caso.
A precisão do resultado do ajustamento é realizada pelo exame da matriz de variância-covariância dos parâmetros do ajus-
tamento, que indica o valor do desvio-padrão com que cada parâmetro foi determinado. A acurácia, por sua, vez, é determina-
da por intermédio dos pontos de verificação. A raiz quadrada da soma das diferenças, ao quadrado e dividido pelo número de
observações, entre os valores das coordenadas medidos no modelo aerofotogramétrico ajustado e os valores das coordenadas
conhecidas dos pontos de verificação, indica a acurácia do ajustamento, ou seja, quanto o bloco de imagens assim estabelecido
se ajusta ao modelo físico. É importante ressaltar que os pontos de controle que já foram utilizados no ajustamento do bloco
aerofotogramétrico não podem ser utilizados como pontos de verificação.
Sobre o valor da acurácia esperada na verificação do bloco aerofotogramétrico ajustado existem poucas indicações
na literatura. Alguns autores indicam que, para o caso de um ajustamento com pontos de controle pré-sinalizados, assu-
mindo que não existam erros grosseiros, pode-se esperar valores da ordem de 0,5 a 1 pixel, em planimetria, e da ordem
de 1,0 a 2 pixels em altimetria.15 Estes valores devem ser vistos com resguardo e tomados apenas como indicadores com-
parativos, uma vez que a aceitação ou não do levantamento aerofotogramétrico ajustado dependerá do objetivo para o
qual ele foi realizado.
15 Estes valores são baseados em discussões técnicas dos autores com fabricantes, pesquisadores e empresas de aerofotogrametria.
e-110 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
GNSS e do sistema inercial (IMU), com relação ao centro perspectivo da câmera, e os ângulos de desalinhamento entre os siste-
mas de referência do IMU e da câmera, conforme descritos na Seção 22.10.2 – Determinação direta dos parâmetros de orientação
por meio de georreferenciamento GNSS e sistema inercial (IMU).
Os valores dos parâmetros calibrados e suas precisões devem ser apresentados em um certificado de calibração com indi-
cações tabulares e gráficas dos resultados obtidos. Os parâmetros a serem calibrados e o formato do certificado de calibração
variam em função do tipo de câmera, principalmente para as de pequeno formato. A frequência com que se deve realizar a
calibração depende do tipo de câmera e de regulamentações de órgãos governamentais. Em geral, para as câmeras de grande
e médio formato, recomenda-se calibrá-las ao menos uma vez cada dois anos.
Os procedimentos para a calibração de uma câmera fotogramétrica fundamentam-se em três técnicas clássicas de calibra-
ção, que são: laboratorial, calibração terrestre (in situ) e autocalibração. Apresenta-se a seguir uma breve descrição sobre cada
uma delas e a calibração do ângulo de boresight e dos off-sets da antena GNSS e do sensor IMU (lever arms).
22.13.3 Autocalibração
Esta técnica de calibração é semelhante à anterior, com a diferença de que as observações são realizadas sobre os pontos de con-
trole de um campo de prova, conforme descrito na Seção 22.11 – Aerotriangulação. Para garantia da qualidade dos resultados, na
maioria das vezes, se utilizam pontos de controle pré-sinalizados, embora se possa utilizar também pontos de controle naturais.
Após a calibração, se considera que os parâmetros intrínsecos da câmera se manterão estáveis por um período de tempo.
Na realidade, nenhuma câmera é estável. Por isso, nos casos do uso de câmeras não métricas, se recomenda verificar os parâ-
metros de calibração antes e depois do projeto para estar seguro de que não houve mudanças significativas durante a aquisição
das imagens.
Os parâmetros geométricos da câmera são mais bem determinados quando realizados por meio de calibrações em labo-
ratório, onde todas as medições são efetuadas em condições ambientais controladas. Esse procedimento requer, contudo,
que a câmera seja enviada para um laboratório certificado, de acordo com as exigências do fabricante. A calibração in situ é
utilizada quase que exclusivamente para câmeras de pequeno formato, métricas ou não métricas, e a autocalibração é utilizada
para todos os tipos de câmeras. Em alguns casos, mesmo as câmeras calibradas em laboratório, são autocalibradas durante os
projetos aerofotogramétricos para verificar a estabilidade dos parâmetros. Os programas fotogramétricos, em geral, possuem
ferramentas para a determinação dos parâmetros de calibração das câmeras aéreas.
Aerofotogrametria e-113
22.13.4 Calibração do ângulo de boresight e dos off-sets da antena GNSS e do sensor IMU (lever arms)
A calibração dos ângulos de boresight e dos off-sets da antena GNSS e do sensor IMU é semelhante à autocalibração, apre-
sentada anteriormente. Nesse caso, se realiza um voo aerofotogramétrico sobre um terreno plano com pontos de controle
bem distribuídos e determinados com alta precisão. Em seguida, se realiza um processo de aerotriangulação e se determina
a posição do centro óptico da câmera e a respectiva matriz de rotação do modelo com relação a um sistema de coordenadas
predefinido. Por intermédio da antena GNSS e do processador do sistema IMU, se obtém a posição medida do centro óptico e
a matriz de rotação para cada posição do IMU. Comparando as duas posições e as matrizes de rotação, se obtêm os valores dos
off-sets e os ângulos de boresight. Finalmente, calculando a média para todo o bloco de imagens, se obtém os valores ajustados
e a matriz de variância-covariância relacionada. O processo é mais bem controlado e os resultados mais confiáveis se já houver
informações a priori desses parâmetros, que, em geral, são indicados pelos fabricantes.
O modelo matemático utilizado para esta calibração consiste em adicionar os parâmetros de calibração diretamente nas
equações de colinearidade e realizar o ajustamento por blocos de imagens, conforme já citado.
as marcas flutuantes, o que significa movê-la para cima e para baixo no modelo estereoscópico, permitindo colocá-la sobre o
terreno. Para facilidade de uso, o 3D-mouse possui botões configuráveis, que permitem realizar funções como eliminação da
paralaxe, aplicação de zoom nas imagens, constituição de figuras geométricas em ambiente CAD, entre outros.
Os equipamentos da estação fotogramétrica são gerenciados por um programa de computador denominado, genericamen-
te, programa fotogramétrico. É por meio dele que a estação fotogramétrica se comunica com o operador. Fundamentalmente, a
sua função é aplicar todas as rotinas de captura de imagem, armazenamento das imagens, edição e armazenamento de pontos
de controle, realização dos procedimentos de orientação interior da câmera e exterior do bloco de imagens, gestão e exibição
dos modelos estereoscópicos e geração de produtos cartográficos por meio da coleta dos dados espaciais de interesse, repre-
sentados nas imagens. A coleta dos dados, neste caso, é realizada por meio da medição das coordenadas dos pontos homólo-
gos que representam os objetos a serem medidos. O programa fotogramétrico mede as coordenadas dos pontos homólogos
indicados pelo operador, as transforma em coordenadas objeto, conforme citado nas seções anteriores, e apresenta o ponto na
tela do monitor gráfico por meio de um programa CAD integrado na estação fotogramétrica. A geração do produto cartográ-
fico ocorre, em seguida, pela combinação gráfica dos pontos medidos. Para tanto, o programa fotogramétrico possui módulos
dedicados para a geração de produtos diversos, os quais estão descritos em mais detalhes nas próximas seções.
meio de linhas, polilinhas e outros. Para que isso seja possível, os programas fotogramétricos dispõem de um aplicativo CAD
integrado, que permite realizar as funções de vetorização desejadas. O elemento geométrico primário plotado no espaço do
desenho CAD é o ponto com coordenadas (X, Y, Z) definidas pela marca flutuante. O desenho das figuras geométricas é rea-
lizado pelas funções CAD disponíveis no aplicativo.
Outro tipo de restituição fotogramétrica de destaque em fotogrametria é a geração de curvas de nível por meio do modelo es-
tereoscópico. Embora cada vez mais esse processo seja realizado por meio de modelos numéricos de terreno, o desenho delas di-
retamente sobre o modelo estereoscópico ainda tem
sido usado com certa regularidade nos projetos de
mapeamentos digital. O procedimento de geração
das curvas de nível, neste caso, se baseia no posicio-
namento da marca flutuante na altitude desejada,
700 metros, por exemplo, e no deslocamento dessa
marca sobre a superfície do terreno, representada
no modelo estereoscópico, mantendo a altitude da
marca fixa durante o deslocamento. Conforme o
operador desloca a marca flutuante sobre o modelo,
o programa fotogramétrico cria pontos em interva-
los predeterminados e o aplicativo CAD desenha Figura 22.37 • Exemplo de curvas de nível desenhadas manualmente sobre o
uma polilinha conectando-os de modo a gerar uma modelo estereoscópico.
curva de nível, conforme ilustrado na Figura 22.37.
22.15.3 Ortofoto
Uma ortofoto é uma imagem digital representada em projeção ortogonal, semelhante a um mapa convencional, ou seja,
ela possui as características geométricas de um mapa e as qualidades gráficas de uma foto. Isso significa que em uma
ortofoto as distâncias, áreas e ângulos medidos correspondem aos seus valores no terreno, corrigidos pela escala e pelas
distorções relativas a projeção cartográfica, se for o caso. Para que isso seja possível, ela deve passar por um processamento
e-116 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
Figura 22.42 • Exemplo de ortofoto verdadeira com reconstituição da área recoberta pela imagem do edifício inclinado
da imagem original (à esquerda). Fonte: Fugro Earthdata.
Com relação às aplicações das ortofotos em Engenharia, deve-se considerar que, pelo fato de elas poderem ser consideradas
geometricamente equivalentes a um mapa, elas podem ser utilizadas para as mesmas finalidades, com a vantagem de serem
mais detalhadas. Além disso, se necessário, elas podem ser complementadas com sobreposição dos elementos geométricos da
restituição fotogramétrica, conforme ilustrado na Figura 22.43.
Por fim, uma ortofoto é mais barata de ser produzida, é mais fácil de ser atualizada do que um mapa digital e pode ser
utilizada por usuários não técnicos.
Em casos de grandes áreas de projeto, as ortofotos individuais consecutivas são conectas entre si formando um bloco de
imagens ortorretificadas, ao que se denomina mosaico de ortofotos.
20 O solo, neste caso, deve ser entendido como o terreno ou qualquer outro tipo de plataforma controlável próxima a ele.
Aerofotogrametria e-123
Apresentam-se a seguir alguns detalhes relevantes de cada uma das etapas do fluxo operacional indicadas na Figura 22.50.
Figura 22.50 • Fluxo operacional para a coleta e o processamento de dados com a tecnologia VANT.
• prever redundância, com altas taxas de sobreposição entre as imagens, por exemplo, longitudinal de 80 % e entre faixas
de 60 a 70 %, e voos cruzados;
• para terrenos planos pode-se realizar voos com padrão regular (80 % longitudinal e 60 % lateral) com apenas uma altura
de voo, desde que se tenha pontos de controle, sistema de controle de voo de boa qualidade e câmera com parâmetros de
orientação interna conhecidos;
• para terrenos acidentados ou áreas urbanas, recomenda-se realizar voos cruzados em diferentes altitudes. Atenção espe-
cial deve ser dada para garantir a uniformidade do GSD. Alguns programas de planejamento de voo permitem utilizar
modelos numéricos de superfície para auxílio de voo;
• para voos em corredores, recomenda-se realizar, no mínimo, três a quatro faixas de voo ao longo do corredor, com pon-
tos de controle distribuídos ao longo das faixas para evitar deformações elevadas do modelo e garantir qualidade nos
casos de autocalibração da câmera;
• para o desenvolvimento de modelos 3D, o voo com ângulo oblíquo de até 45° em padrão cruzado ajuda a superar os
efeitos de sombreamento;
• no caso de modelos 3D com fachadas, recomenda-se adicionar imagens perpendiculares ao objeto;
e-124 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
• em todos os casos, a velocidade do vento deve ser inferior a 12 m/s. Como diretriz geral, para ventos com velocidade
inferior a 6 m/s, pode-se voar tanto na direção do vento como transversal a ela. Para ventos com velocidade entre 7 e
12 m/s, recomenda-se voar na direção perpendicular ao vento;
• definir adequadamente as áreas de pouso e decolagem;
• em geral, se trabalha com GSD variando entre 1 e 30 cm e altura de voo entre 50 e 800 metros. Para voos acima de 120
metros, em geral, se exige autorizações especiais dos órgãos reguladores;
• voos baixos sobre áreas com árvores ou prédios altos, ou com grande variação de altura, são difíceis de processar. Uma
regra da aerofotogrametria convencional que pode ser aplicada é que as alturas dos objetos tenham no máximo 20 % da
altura do voo;
• garantir duração do voo conforme autonomia do veículo. Com a tecnologia atual, entre 20 e 50 minutos.
A autocalibração e o ajustamento do bloco de imagens dos algoritmos de SfM são realizados por meio do uso dos pontos
de controle e pela geração automática, por meio de algoritmos de correlação de imagens, dos pontos de ligação (tie points),
os quais são denominados nos programas de processamento da tecnologia VANT como keypoints. É importante considerar
que os métodos de correlação de imagens utilizados nos programas de processamento fotogramétrico por meio de VANT se
baseiam na existência de um recobrimento alto entre as imagens. Razão pela qual os resultados podem ser desastrosos se essa
condição não for atendida.
A quantidade de keypoints é determinada pelo programa aplicativo exigindo pouca interação do usuário. Mesmo assim,
recomenda-se verificar se a distribuição está coerente com as faixas de voo realizadas.
A quantidade de pontos de controle necessários para a aerotriangulação depende de vários fatores, entre os quais se
destacam:
• a configuração da área de voo: retangular, corredor ou objeto 3D;
• a qualidade da câmera: métrica ou não métrica;
• o tipo de relevo do terreno: plano, montanhoso, construído, outros;
• a textura da superfície: facilidade para a correlação de imagens.
De forma semelhante ao processamento da aerofotogrametria convencional, quando o projeto exigir a inclusão de pontos
de apoio (GCP), eles devem ser posicionados na zona de ligação entre as faixas e de modo que apareçam em pelo menos três
imagens. A configuração mínima é de quatro pontos nos cantos do bloco. Algumas empresas de produção de programas fotogra-
métricos, contudo, recomendam o mínimo de 10 pontos. De qualquer forma, os GCP devem garantir a acurácia em planimetria
e altimetria em todo o bloco e devem ser usados pontos de verificação para conferir se a acurácia desejada foi alcançada.
e-126 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
Os sistemas VANT de alta qualidade são munidos de módulos GNSS e IMU com capacidade para realizarem o georreferen-
ciamento direto das imagens, conforme descrito na Seção 22.10.2 – Determinação direta dos parâmetros de orientação por meio
de georreferenciamento GNSS e sistema inercial (IMU). Nesse caso, da mesma forma que os módulos empregados nos sistemas
de georreferenciamento das câmeras de grande porte, eles precisam ser calibrados com relação aos off-sets da antena GNSS e
do IMU e com relação aos ângulos de boresight.
23.1 introdução
Em Engenharia, muitos projetos são elabo-
rados tendo como base geométrica o deli-
neamento de linhas sobre o terreno, como
nos casos de projetos de vias de transpor-
te, arruamentos, túneis, canais, traçados de
gasodutos, oleodutos, linhas de alta tensão
e vários outros. As linhas, nestes casos,
com exceção das linhas de alta tensão, são
compostas por segmentos de retas e curvas
dispostas no espaço de forma a se acomo-
darem à superfície do terreno, conforme
ilustrado na Figura 23.1. Os elementos li-
neares encadeados, conforme indicado na Figura 23.1 • Exemplo da composição espacial de um projeto de Engenharia de con-
figura, determinam o traçado geométrico formação linear.
do projeto e, por consequência, a diretriz do
projeto, o qual é composto por trechos re-
tos, denominados tangentes e rampas, e por
trechos curvos, compostos por curvas hori-
zontais e curvas verticais.
Pelo fato de serem estruturas espaciais,
os projetos e as representações gráficas das
tangentes e das curvas horizontais são reali-
zados em planta, e das rampas e das curvas
verticais são realizados em perfil, conforme
ilustrado na Figura 23.2. Razão pela qual,
neste capítulo, o estudo das curvas utiliza-
das em Engenharia está dividido em curvas
horizontais e curvas verticais, como se verá
na sequência deste capítulo.
Ressalta-se, ainda, que este capítulo não
tem como objetivo discutir as aplicações
das curvas nos projetos de Engenharia.
Trata-se apenas do estudo de seus detalhes Figura 23.2 • Composição em planta e em perfil de um projeto com alinhamento
analíticos e geométricos com vistas às suas geométrico espacial.
e-128 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
aplicações em tais projetos. O leitor interessado em mais detalhes sobre a utilização das curvas em projetos de Engenharia
deverá consultar literatura especializada.
Dessa forma, apresentam-se, neste capítulo, os detalhes geométricos e as equações fundamentais dos três tipos de curvas
utilizados em projetos de Engenharia, que são:
• curvas horizontais circulares;
• curvas horizontais com transição;
• curvas verticais.
De acordo com a Figura 23.3, a curva horizontal circular simples possui os seguintes elementos geométricos:
PI = ponto de interseção das tangentes (T1) e (T2);
PC = ponto de curvatura = ponto de início da curva;
PT = ponto de tangência = ponto final da curva;
PM = ponto médio da curva;
c = corda da curva;
M = ordenada média;
S = ponto médio da corda;
P = ponto qualquer da curva;
E = distância externa à curva ou afastamento;
AC = deflexão entre as tangentes (T1) e (T2) = ângulo central da curva;
gP = ângulo central do ponto (P);
R = raio da curva;
Curvas horizontais e verticais e-129
AC
E T * tg (23.3)
4
Ordenada média (M): distância entre os pontos (PM) e (S), dada pela equação (23.4) ou (23.5).
AC RRM
AC M AC
AC
cos
cos RR → M RR ** 11co
M coss (23.4)
22 22
AC
M E * cos (23.5)
2
Corda (c): segmento de reta entre os pontos (PC) e (PT), cujo comprimento é dado pela equação (23.6) ou (23.7).
AC c c
AC AC
AC
2 2R
sensen → c c 2R2*Rsen
* sen
2 (23.6)
2 2R 2
AC
c 2T * cos (23.7)
2
Desenvolvimento (comprimento) da curva (D): dado pelo comprimento do arco de círculo entre os pontos (PC) e (PT), cujo
valor pode ser calculado pelas equações (23.9), (23.10) ou (23.11). Assim, sabendo que:
D AC
(23.8)
2 R 360o
Têm-se:
* R * AC o
D para AC em graus (23.9)
180o
D = AC * R para AC em radianos (23.10)
G 10 10
Para o caso ferroviário, tem-se: sen G 2arcsen (23.13)
2 R R
23.2.2 Curva horizontal circular composta
Uma curva horizontal circular composta é aquela formada por duas ou mais curvas horizontais circulares simples consecuti-
vas com raios de curvatura diferentes, conforme indicado na Figura 23.4.
e-130 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
Estaca do (PT): calculada a partir da posição da estaca do (PC) e pelo comprimento da curva (D). Assim, tem-se:
Solução:
Aplicando as equações indicadas nas seções anteriores, têm-se:
1
E 800 * o
1 2 ou *
cos 32 10 22
2
o
800 * 1 co 32 10 22 31 324 ou 32 600 * cos 31, 324 m
2
o o
c 2 * 800 * sen 32 10 22 443, 338 m ou c 2 * 230, 702 * cos 32 10 22 443, 338 m
2 2
* 800 * 32o10 22
D 449, 217 m
180o
20 * 360o
G 1o 25 56, 6
2 * * 800
estaca do PC 65 12, 498 11 10, 702 54 1, 796
estaca do PT 54 1, 796 22 9, 217 76 11, 012
R * L = K (23.16)
em que:
R = raio da curva em um ponto qualquer (P) da clotoide;
L = comprimento percorrido até o ponto (P);
K = constante relacionada ao comprimento da transição e ao raio do trecho circular. Este parâmetro é também denominado
parâmetro da clotoide. Diferentes valores de (K) implicam diferentes tipos de clotoide.
e-132 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
R * L (23.17)
L * L (23.18)
K
Integrando a equação (23.18), tem-se:
L2 L
rad (23.19)
2K 2R
dy L * sen (23.21)
3 5 7
y L* (23.23)
3 42 1.320 75.600
Curvas horizontais e vertiCais e-133
AC = deflexão da curva
TT = tangente total
TL = tangente longa
TC = tangente curta
p = afastamento
E = distância externa
δc = ângulo central circular
Dc = desenvolvimento circular
θs = ângulo central da espiral
θP = ângulo até o ponto genérico (P)
SC = ponto de passagem da clotoide
para o trecho circular
CS = ponto de passagem do trecho
circular para a clotoide
TS = ponto de passagem da primeira
tangente para a clotoide Figura 23.7 • Parâmetros de uma curva horizontal com transição.
ST = ponto final da clotoide do segun
do trecho
xs = abscissa do (SC) e do (CS)
ys = ordenada do (SC) e do (CS)
Q = abscissa do centro (O9)
O9 = centro da circunferência deslocada
Rc = raio da curva circular
x, y = coordenadas de um ponto genérico (P)
Considerando que no ponto (SC) as relações geométricas R = Rc e L = LS são válidas para a clotoide e para a curva horizontal
simples, de acordo com a equação (23.19), tem-se:
LS
S rad (23.24)
2Rc
Os demais parâmetros geométricos da Figura 23.7 são calculados de acordo com as equações indicadas a seguir:
2 4 6 S8
x S LS * 1 S S S (23.25)
10 216 9.360 685.440
3 5 S7
y S LS * S S S (23.26)
3 42 1.320 75.600
Q x S Rc * sen S (23.27)
AC
TT Q Rc p * tg (23.29)
2
Dc AC 2 S * Rc (23.30)
R p
E c Rc (23.31)
Ac
cos 2
e-134 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
TL x S y S * cotg S (23.32)
yS
TC (23.33)
sen S
2
L
P P * S rad
LS (23.34)
2 4 6 P8
x P LP * 1 P P P (23.35)
10 216 9.360 685.440
3 5 P7
y P LP * P P P (23.36)
3 42 1.320 75.600
2
L y
P P * S arctg P (23.37)
LS 3 xP
O valor de (TT) posiciona os pontos (TS) e (ST) com relação ao (PI). O valor de (Q), abscissa do centro, posiciona o centro
(O9) com relação ao TS ou ST. O valor de (p) mede o afastamento da curva circular com relação às tangentes.
Solução:
Os cálculos dos elementos geométricos da clotoide podem ser calculados aplicando as equações (23.24) a (23.33). Assim, têm-se:
500 0, 675
Dc 0, 616304848 2 * 0, 0900 * 500 218,152m E 500 25,425 m
35o18 42
cos
2
2, 698
TL 89, 927 2, 698 * cotg 5o 09 23,8 60, 025 m TC o
30, 023 m
sen 5 09 23, 8326
y ax 2 bx c (23.39)
e, portanto,
i
y * x 2 i1 * x (23.42)
2LV
i2 * LV
altitude do (PTV) = altitude do (PIV) + (23.44)
2
LV
estaca do (PCV) = estaca do (PIV) − (23.45)
2
LV
estaca do (PTV) = estaca do (PIV) + (23.46)
2
y i i * L0 i1 * LV
* x i1 0 i1 0 L0 (23.47)
x LV LV i
De onde se deduz que a ordenada do ponto de máximo ou de mínimo é dada por pela equação (23.48).
i12 * LV
y0 (23.48)
2 i
i
f * x2 (23.49) Figura 23.10 • Pontos singulares de uma curva vertical convexa parabólica.
2LV
Curvas horizontais e verticais e-137
LV
No ponto (PIV), em que x = , tem-se:
2
i
F * LV (23.50)
8
As coordenadas dos demais pontos singulares da vertical podem ser calculadas de acordo com as equações indicadas na
Tabela 23.1.
De forma análoga à Figura 23.10, a Figura 23.11 ilustra o posicionamento dos elementos geométricos a serem considerados
para as curvas verticais côncavas.
Solução:
A partir dos valores indicados na Figura 23.12, têm-se:
F
0, 03 0, 04 * 210 1, 838 m
8
e-138 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
A Tabela 23.2 apresenta um resumo dos valores calculados para Tabela 23.2 • Coordenadas locais dos pontos singulares da curva vertical
os elementos singulares da curva. Coordenadas locais
Os cálculos das coordenadas locais do ponto (P) estão indicados Pontos
x [m] y [m] H [m]
na sequência.
PCV 0,000 0,000 811,036
xP [32 3, 475] [27 9, 873] 643, 475 549, 873 93, 602 m PIV 105,000 4,200 815,236
0, 07 PTV 210,000 1,050 812,086
yP * 93, 6022 0, 04 * 93, 602 2, 284 m
2 * 210 M 105,000 2,363 813,399
V 120,000 1,350 813,436
P 93,602 2,284 813,320
Dependendo do tipo de projeto, pode também ser necessário implantar uma rede de pontos de RN ao longo do trecho, a qual
será utilizada para o nivelamento dos elementos geométricos do projeto. Com frequência, a rede de nivelamento é muito mais
densa que a rede de pontos de apoio horizontal, os quais, em geral, são também incluídos como vértices da rede de nivelamento.
Em alguns tipos de obras, as altitudes dos pontos podem ser determinadas por nivelamento trigonométrico ou por nivela-
mento com a tecnologia GNSS; em outros, se exige a aplicação de nivelamentos geométricos. A escolha do método de nivela-
mento mais adequado é feita em função do nível de precisão exigido para o posicionamento vertical dos elementos da obra.
Atenção especial deve ser dada ao sistema de referência e ao datum vertical adotados para o projeto e para a implantação
da obra. As medições de campo para o levantamento topográfico de detalhes e para a implantação da obra dependerão
dessa escolha.
Figura 23.15 • Implantação de uma curva horizontal circular simples pelo método das coordenadas totais.
e-140 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
Dados:
XP1 X PC cPCP1 *sen Az PCP1 conforme equação (10.5)
1. Este cálculo também se baseia no conhecimento do azimute (AzPCPI) do alinhamento PCPI, calculado em função das
coordenadas dos pontos (PC) e (PI), conforme indicado no caso anterior.
2. Com o azimute (AzPCPI) conhecido e sabendo que o centro (O) da curva se encontra no alinhamento perpendicular a
tangente PCPI pode-se calcular o azimute do alinhamento PC-O, conforme indicado a seguir, considerando o sentido da
curva com relação ao ponto (PC).
Az PC O Az PC PI 90o (23.54)
3. Têm-se, assim, os valores das coordenadas do centro da curva aplicando as equações (10.5) e (10.6), conforme indicado
a seguir:
Notar que, muitas vezes, os valores das coordenadas do centro da curva já são conhecidos, não havendo, portanto,
necessidade de aplicar o passo 3.
4. Em seguida, calcular o valor do ângulo central do trecho da curva correspondente, em função do valor do comprimento
do arco (D1) e do raio (R), conforme a equação (23.51).
D1 180o
1 rad ou 1 * D1 graus conforme equação (23.51)
R *R
5. Calcular o azimute (AzO-P1) do alinhamento O-P1 somando o azimute (Az PC O 180o ) ao valor calculado do ângulo central,
considerando o sentido da curva com relação ao ponto (PC). Assim, tem-se:
6. Finalmente as coordenadas do ponto (P1) podem ser calculada aplicando as equações (10.5) e (10.6). Assim, têm-se:
X P1 XO R * sen AzO P1 conforme equação (10.5)
YP1 YO R * cos AzO P1 conforme equação (10.6)
O mesmo raciocínio pode ser aplicado para o cálculo das coordenadas do ponto (P2) e demais pontos da curva.
As coordenadas totais do ponto (P1), por meio das coordenadas do centro da curva, são obtidas aplicando a sequência de
cálculos apresentada a seguir:
50
1 0,100 rad 5o 4346, 5
500
Az OP1 134 o 3557, 8 5o 4346, 5 180o 320o1944, 3
X P1 5.528, 040 500 * sen 320o1944, 3 5.208, 850 m
YP1 10.169, 887 500 * cos 320 1944, 3 10.554, 748m
o
e-142 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
23.5.2.2 Implantação de curva horizontal circular simples pelo método das deflexões e comprimento da corda
Conforme visto no método precedente, os valores dos
ângulos de deflexão e das cordas são elementos impor-
tantes para se implantar uma curva horizontal, haven-
do por isto um método de implantação baseado neles e
na posição das tangentes, conforme ilustrado na Figura
23.17. A sua aplicação, geralmente, é realizada com o uso
de uma estação total, embora possa também ser realizada
com o uso de um teodolito e uma trena.
Na aplicação desse método de implantação de curvas
horizontais, de acordo com a Figura 23.17, o estaqueamen-
to se inicia pelo primeiro ponto de estaca com valor inteiro
depois do (PC), que, no caso desta figura, é o ponto (P1), lo-
calizado a uma distância (D1) a partir do (PC) sobre a curva.
Considerando a tangente que passa pelo ponto (PC)
como referência, a posição do ponto (P1) pode ser esta-
queada por meio de um ângulo de deflexão e do compri-
mento de sua corda. Assim, de acordo com as relações geo- Figura 23.17 • Implantação de uma curva simples pelo método das de-
métricas ilustradas em detalhes na Figura 23.17, têm-se: flexões.
1 D1 90o * D1
rad ou 1 graus conforme equação (23.51)
2 2R 2 *R
c1 2R * sen 1 conforme equação (23.53)
2
Após a implantação da primeira estaca com valor inteiro, todas as demais serão também estacas com valores inteiros, que
no caso da Figura 23.17 são as estacas (P2) e (P3).
Por serem estacas com valores inteiros, todas elas possuem o mesmo ângulo de deflexão com relação à direção da corda
anterior. Assim, se todas as estacas de implantação da curva forem visíveis a partir do ponto (PC), a implantação segue de
forma regular até a estaca anterior ao ponto (PT), a partir da qual verifica-se a posição do ponto (PT) com o ângulo (aPT/2) e
a corda (cPT) (ver Fig. 23.17). Essa verificação é um indicador da qualidade da implantação realizada. Assim, para as estacas
inteiras sucessivas, tem-se o seguinte valor para a deflexão em um estaqueamento de 20 m:
i G 20 * 180o
(23.56)
2 2 2 * R
A corda acumulada para cada ponto da curva é calculada por meio da soma das deflexões acumuladas até o ponto de in-
teresse, aplicando a seguinte equação:
c1 2R * sen 1 conforme equação (23.53)
2
Para o caso de a implantação ser realizada com o uso de uma estação total, as operações de campo podem seguir os passos
indicados a seguir:
1. Verificar em campo se a implantação de todas as estacas da curva pode ser realizada a partir da estaca do (PC).
2. Preparar uma tabela de valores de ângulos e distâncias para a implantação. Algumas estações totais possuem aplicativos
que permitem inserir essa tabela na memória do instrumento e utilizá-la durante a implantação.
3. Instalar a estação total sobre o ponto (PC).
4. Orientar o instrumento em uma das estacas de ré ou de vante da tangente. Zerar o instrumento nessa direção.
5. Iniciar a implantação com as indicações dos ângulos e dos comprimentos das cordas para cada novo ponto.
6. Na última estaca, verificar a posição da estaca do (PT).
Solução:
Para a preparação da tabela de locação é necessário, inicialmente, calcular os elementos da curva indicados a seguir:
128, 512
R 150, 001m
tg 81o1034 2 Tabela 23.5 • Planilha de locação de uma curva circular simples pelo método
o
20 * 180 das deflexões e das cordas
G 7 o 3821, 8
* 150, 001 Arco Corda Deflexão
Estaca acumulada
* 150, 001 * 81o1034 [m] [m]
D 212, 520m
180o PC = [340 + 3,000] 0,000 0,000 00°0090099
Estaca PT 340 3, 000 212, 520 [341] 17,000 16,991 3°1494899
350 15, 520 [342] 20,000+17,000 36,906 7°0395999
est 341
90 * 17, 000 oo [343] 57 56,658 10°5391099
3 1448, 3
2 * 150, 001 [344] 77 76,157 14°4292199
PT 90o * 15, 520 o [345] 97 95,319 18°3193299
2 5750, 5
2 * 150, 001 [346] 117 114,057 22°2094399
[347] 137 132,288 26°0995499
Os valores para a locação da curva a partir do (PC) estão indi-
cados na Tabela 23.5. [348] 157 149,931 29°5990599
Notar que para a tabela de locação os valores angulares das [349] 177 166,908 33°4891699
deflexões acumuladas foram arredondados para o segundo. [350] 197 183,144 37°3792799
Para auxiliar o leitor em seus cálculos, apresentam-se a seguir
PT = [350 + 15,520] 212,520 195,186 40°3591799
os cálculos realizados para a estaca [341] e [342].
Solução:
Apresentam-se na Tabela 23.6 os valores de locação Tabela 23.6 • Planilha de locação de uma curva circular simples pelo método das
considerando que a estação total foi instalada na deflexões e das cordas a partir da estaca [345]
estaca [345] e orientada no (PC) da curva. A mes- Arco Corda Deflexão
ma tabela repete os valores já calculados no exem- Estaca acumulada
[m] [m]
plo aplicativo anterior até a estaca [345], a partir do PC = [340 + 3,000] 0 0 00°0090099
(PC) da curva.
[341] 17 16,991 3°1494899
Para auxiliar o leitor em seus cálculos, apresentam-se
a seguir os cálculos realizados para a estaca [346]. [342] 37 36,906 7°0395999
[343] 57 56,658 10°5391099
Deflexão acumulada 180o 18o 31 31, 9 3o 49 10, 9 [344] 77 76,157 14°4292199
202o 20 42, 8 [345] 97 95,319 18°3193299
Notar que para a tabela de locação os valores an- [346] 20 19,985 202°2094399
gulares das deflexões acumuladas foram arredondados [347] 40 39,882 206°0995499
para o segundo. [348] 60 59,601 209°5990599
[349] 80 79,055 213°4891699
[350] 100 98,158 217°3792799
PT = [350 + 15,520] 115,520 112,686 220°3591799
(23.57)
x Pi ci * cos i
2
As ordenadas e abscissas podem também ser calculadas considerando o valor do raio (R), conforme apresentado a seguir:
x Pi R * sen i (23.59)
Solução:
Apresenta-se na Tabela 23.7 a planilha de lo- Tabela 23.7 • Planilha de locação da curva circular simples pelo método das abscissas e ordenadas,
cação da curva aplicando as equações (23.57) considerando o valor da corda
e (23.58). Corda Deflexão
Estaca Arco [m] x [m] y [m]
Apresenta-se a seguir o exemplo de cálculo [m] acumulada
para a estaca [341]. PC = [340 + 3,000] 0,000 0,000 00°0090099
[341] 17,000 16,991 3°1494899 16,964 –0,962
3o1448, 3
xest 341 16, 991 * cos 16, 964 m [342] 20,000+17,000 36,906 7°0395999 36,626 –4,540
2
[343] 57 56,658 10°5391099 55,638 –10,700
3 1448, 3
o
yest 341 16, 991 * sen 0, 962 m [344] 77 76,157 14°4292199 73,663 –19,333
2 [345] 97 95,319 18°3193299 90,379 –30,285
[346] 117 114,057 22°2094399 105,492 –43,363
Os mesmos resultados podem ser obti-
dos se forem aplicadas as equações (23.59) [347] 137 132,288 26°0995499 118,732 –58,333
e (23.60). Segue exemplo de cálculo para a [348] 157 149,931 29°5990599 129,864 –74,931
estaca [341]. [349] 177 166,908 33°4891699 138,691 –92,861
x Pi 150 * sen 6 2936, 6 16, 964 m
o
[350] 197 183,144 37°3792799 145,056 –111,805
PT = [350 + 15,520] 212,520 195,186 40°3591799 148,226 –126,991
y Pi 150 * 1 cos 6o 2936, 6 0, 962 m
2
4 6 8
x P LP * 1 P
... conforme equação (23.22)
P P P
b) Implantação pelo método das deflexões e comprimento da corda: neste caso, o valor do ângulo de deflexão é dado pela equa-
ção (23.37) e a corda pela equação (23.61).
2
L y
P P * S arctg P conforme equação (23.37)
L
S 3 xP
corda P x P2 y P2 (23.61)
c) Implantação pelo método das coordenadas totais: neste caso, deve-se proceder da mesma maneira indicada para a implan-
tação de uma curva horizontal circular simples.
e-146 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
p 2,132 500 * 1 cos 4 o 3501, 2 0, 533 m
35o1247
TT 39, 991 500 0, 533 * tg 198, 833 m
2
Estaca do TS = [92 +12,560] – 198,833 = [82 +13,727] Tabela 23.9 • Elementos de implantação da curva horizontal com transição
pelo método das abscissas e ordenadas sobre a tangente
Apresenta-se na Tabela 23.9 a planilha de locação das es- Estacas L [m] θ[rad] x [m] y [m]
tacas da primeira espiral, ou seja, do ponto (TS) ao (SC), pelo TS = 82 + 13,727 0,000 0,00000000 0,000 0,000
método das abscissas e ordenadas sobre a tangente. Para auxi-
83 6,273 0,00049184 6,273 0,001
liar o leitor em seus cálculos, apresentam-se a seguir os cálculos
realizados para as estacas [83]. 84 26,273 0,00862820 26,273 0,076
85 46,273 0,02676456 46,269 0,413
Lest 83 20 13, 727 6, 273 m 86 66,273 0,05490092 66,253 1,213
2
6, 273 SC = 86 + 13,727 80,000 0,07999945 79,949 2,132
est 83 * 0, 080 0, 00049184 rad
80
0, 0004918822 0, 000491882 4 0, 0004918826 0, 0004918828
xest 83 6, 273 * 1 6, 273m
10 216 9.360 685.440
0, 000491882 0, 0004918823 0, 0004918825 0, 0004918827
yest 83 6, 273 * 0, 001m
3 42 1.320 75.600
A Tabela 23.10 apresenta a planilha de locação das estacas da primei- Tabela 23.10 • Elementos de implantação da curva horizontal com
ra espiral, ou seja, do ponto (TS) ao (SC), pelo método das deflexões e do transição pelo método das deflexões e do comprimento da corda
comprimento das cordas usando as equações (23.35) a (23.37). Corda
Para auxiliar o leitor em seus cálculos, apresentam-se a seguir os Estacas x [m] y [m] Deflexões
[m]
cálculos realizados para a estaca [83].
TS = 82 + 13,727 0,000 0,000 0°0090099 0,000
Deflexão da estaca [83]:
83 6,273 0,001 0°0093499 6,273
0, 001 o 84 26,273 0,076 0°0995399 26,273
est 83
arctg 0, 000163946 rad 0 00 34
6, 273 85 46,269 0,413 0°3094099 46,271
Corda da estaca [83]: 86 66,253 1,213 1°0295599 66,264
SC = 86 + 13,727 79,949 2,132 1°3194099 79,977
Lest 83 6, 2732 0, 0012 6, 273m
Curvas horizontais e verticais e-147
A Tabela 23.11 apresenta a planilha de Tabela 23.11 • Elementos de implantação da curva horizontal com transição pelo método das
locação das estacas da primeira espiral, ou deflexões e do comprimento da corda
seja, do ponto (TS) ao (SC), pelo método Estacas Deflexões Azimutes Corda [m] X [m] Y [m]
das coordenadas totais. A aplicação des- TS = 82 + 13,727 0°0090099 23°4591899 0,000 5.791,164 11.404,340
te método exige que sejam calculados os
83 0°0093499 23°4595299 6,273 5.793,692 11.410,081
azimutes das direções dos pontos a serem
implantados bem como os valores das cor- 84 0°0995399 23°5591199 26,273 5.801,816 11.428,356
das de cada ponto. 85 0°3094099 24°1595899 46,271 5.810,180 11.446,523
Para auxiliar o leitor em seus cálculos, 86 1°0295599 24°4891399 66,264 5.818,962 11.464,491
apresentam-se a seguir os cálculos realizados
SC = 86 + 13,727 1°3194099 25°1695899 79,977 5.825,321 11.476,656
para a estaca [83].
Xest 83 5.791,164 6, 273 * sen 23o 4552 5.793, 692 m
Yest 83 11.404, 340 6, 273 * cos 23o 4552 11.410, 081 m
Figura 23.21 • Indicação dos valores de altitudes e estacas de uma curva vertical.
As altitudes dos pontos da curva são calculadas por meio da equação (23.42), tomando a altitude da estaca do (PCV) como
referência.
Em seguida, é necessário calcular a altitude em que se encontra cada estaca, por meio de um nivelamento topográfico, e
indicar o valor da altitude de projeto e a diferença com a altitude da estaca no terreno.
Para facilitar o trabalho do maquinista, é comum colocar uma marca (pintada ou com algum outro tipo de destaque) sobre
a própria estaca, ou sobre uma estaca auxiliar,1 indicando o nível do ponto nivelado da curva vertical.
Os valores a serem nivelados são calculados em escritório e entregues aos operadores de campo como uma planilha de
“Ordem de serviço”. Nela estão indicados todos os valores a serem implantados em um determinado trecho da via.
1 No Brasil, em geral, se utiliza uma vara de bambu como estaca auxiliar fixada ao lado da estaca da curva horizontal.
e-148 TOPOGRAFIA PARA ENGENHARIA
A Tabela 23.12 apresenta os valores de corte e aterro a se- Tabela 23.12 • Valores de altitudes para implantação de uma curva vertical
rem empregados na locação da curva vertical da Figura 23.21. Diferenças de pontos
É importante salientar que os trabalhos de implanta- Hterreno Hprojeto nivelados (ΔH)
Estacas
ção tanto dos alinhamentos horizontais como dos verticais [m] [m]
Corte [m] Aterro [m]
exigem o acompanhamento de profissionais experientes e
PCV = [76] 542,325 546,480 4,155
de uma equipe de campo bem treinada. Em face das cons-
77 542,489 546,780 4,291
tantes movimentações de pessoas e máquinas no local e a
constante movimentação de terra, as estacas, muitas vezes, 78 543,014 546,880 3,866
precisam ser reimplantadas reiteradamente, devendo, por 79 543,873 546,780 2,907
isso, haver uma sintonia constante entre os operadores das PIV = [80] 544,118 546,480 2,362
máquinas e o engenheiro responsável pelas implantações. 81 544,981 545,980 0,999
Outro fator importante a ser considerado na implanta-
82 546,257 545,280 0,977
ção de obras viárias é o crescente uso de sistemas de con-
trole de máquinas, aos quais os profissionais de Geomática 83 547,148 544,380 2,768
devem estar atentos. PTV = [84] 548,053 543,280 4,773