1 Considerações Iniciais A carta topográfica é um poderoso instrumento de
representação da superfície terrestre, permitindo ao usuário realizar medições geométricas que tomariam um grande volume de tempo e de recursos se realizadas diretamente sobre a superfície física da Terra. Ainda assim, com todas as vantagens que as cartas topográficas propiciam, existem pequenos inconvenientes quanto a sua manipulação para a extração das informações nelas contidas. O mapeamento de uma região, por exemplo, dependendo da escala, pode necessitar de um número significativo de folhas para a sua representação. Esta grande quantidade de informações, por conseqüência, exigirá um espaço físico razoável não só para seu armazenamento, mas também para sua organização, o que também é de fundamental importância. Outro ponto a ser abordado é o conjunto de tarefas a serem realizadas desde a seleção da informação desejada, até a sua obtenção propriamente dita. Pode-se resumi-las da seguinte maneira: • verificação da folha que contém a informação a ser extraída; • seleção de um local adequado para uma correta manipulação da folha; • seleção dos instrumentos a serem utilizados na realização das medições; • correta manipulação destes instrumentos; • registro dos dados obtidos. Ferramentas que possibilitem a otimização destas tarefas visando facilitar e agilizar a extração das informações, uma vez que este processo pode ou não ser demorado, seriam de grande utilidade para os usuários de cartas topográficas. 12 1.2 Apresentação do Trabalho Este projeto de Iniciação à Pesquisa está inserido na linha de pesquisa de Modelagem e Representação Terrestres e tem como proposta, a otimização do processo de obtenção de informações geométricas em uma carta topográfica digitalizada matricialmente. Vale frisar que, dependendo da precisão desejada nos dados a serem obtidos, pode-se ao invés de trabalhar em meio analógico, trabalhar com arquivos de imagens digitais associados a ferramentas que possibilitem a manipulação das informações neles contidas. 1.3 Objetivo do Trabalho O objetivo a ser atingido ao fim do projeto, é a implementação de um programa de computador que possibilite a obtenção de informações geométricas, do espaço bidimensional de uma carta topográfica diretamente na tela de um monitor, sem que para isto necessite de qualquer outro programa comercial auxiliar. 1.4 Descrição do Trabalho O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma: no primeiro capítulo é apresentado o projeto e seu objetivo, juntamente com as justificativas para sua realização. No segundo capítulo são apresentados alguns conceitos que serão utilizados na realização das etapas que compõem o trabalho. O terceiro capítulo trata, justamente, da descrição destas etapas. O quarto capítulo apresenta uma análise dos resultados obtidos durante o projeto. O capítulo cinco trata das considerações finais acerca do trabalho. 13 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Cartometria A Cartometria foi definida pela Associação Cartográfica Internacional (ACI), em 1973, como “Medição e cálculo de valores numéricos sobre mapas...” MALING (1989, apud MELEGUETTE, 2001). Tratando-se de valores numéricos, cresce a importância de uma correta compreensão de como as informações se dispõem no documento cartográfico, sua confiabilidade e suas limitações, para que de posse deste conhecimento, aproveitese ao máximo estes dados, otimizando suas aplicações. 2.1.1 Técnicas Básicas de Cartometria De acordo com MALING (1989, apud MELEGUETTE, 2001), quatro tipos de medições podem ser consideradas como técnicas básicas de Cartometria: • Medição de Distâncias; • Medição de Áreas; • Medição de Direções; • Contagem de Número de Objetos Mostrados nos Mapas. Analisando-se a definição apresentada pela ACI, pode-se ainda acrescentar a obtenção de coordenadas, uma vez se tratar do cálculo de valores numéricos associados à projeção e escala do mapa. 14 2.1.1.1 Medição de Distâncias A medição de distância entre pontos possui várias aplicações práticas tanto na comunidade civil, quanto na militar. Um grande exemplo está na área de transportes, onde definindo com antecedência um ponto de partida e um ponto de chegada, pode-se determinar através de medições na carta, a distância real no terreno a ser percorrida. Com esta informação pode-se calcular, por exemplo, qual a velocidade necessária para que se conclua aquele percurso em um tempo previamente estabelecido; ou até mesmo, ciente das limitações de velocidade impostas pelo meio, ou via de transporte, calcular qual o tempo em que aquele percurso levará para ser concluído. No campo militar, além do exemplo já citado ser aplicável ao deslocamento de comboios motorizados e tropas a pé, o conhecimento da distância do alvo é condição necessária para a determinação de parâmetros para um tiro de Artilharia. 2.1.1.2 Medição de Áreas Esta técnica está intimamente ligada com a determinação da distância entre pontos, uma vez que, em grande parte das vezes, pode-se definir uma área como um polígono fechado, onde os vértices são justamente estes pontos e as distâncias entre eles as arestas. A medição de área consiste em uma técnica da cartometria com uma série de aplicações, dentre as quais pode-se citar: • levantamento de áreas de propriedades rurais e urbanas; • levantamento de áreas de recursos vegetais, minerais e hídricos; • levantamento de áreas de degradação ambiental; • levantamento de vazios demográficos ou áreas de urbanização. Vale ressaltar que a obtenção destes dados, associados ao aspecto temporal, servem de subsídio para o estudo de como essas informações se alteram. Pode-se, 15 por exemplo, monitorar uma área florestal em épocas distintas, e observar o surgimento de queimadas ou áreas de desmatamento. 2.1.1.3. Medição de Direções A técnica de Medição de Direções abrange uma série de atividades, desde a elementar leitura de mapas em uma caminhada pelo campo, até métodos sofisticados de navegação MALING (1989, apud MELEGUETTE, 2001). Esta técnica tem grande aplicação na determinação de rotas de deslocamento e na orientação sobre as mesmas, uma vez que qualquer deslocamento envolve um ponto de partida, um ponto de chegada e um caminho a ser percorrido entre eles. Nos documentos cartográficos, a determinação de direções ou rotas é de grande importância e amplamente utilizada, sendo base dos sistemas de navegação marítima, aérea e terrestre. 2.1.1.4. Medição de Coordenadas A medição de coordenadas sobre documentos cartográficos permite a obtenção de informações posicionais sobre a região mapeada, com grau de confiabilidade previamente estipulado pelo próprio documento. Estas informações são de crucial importância, permitindo a identificação e a localização de um objeto representado no mapa, sobre a superfície terrestre. Existem diferentes tipos de sistemas de coordenadas, cada qual com suas particularidades. Logo, é importante que se conheça os parâmetros que definem o sistema no qual serão obtidas as coordenadas, para que erros de localização não sejam cometidos. A técnica de contagem do número de objetos não será alvo deste trabalho tendo em vista a utilização de um arquivo de imagem matricial, o que dificultaria o tratamento individual das feições cartográficas representadas. 16 Cabe ressaltar que as técnicas básicas de cartometria apresentadas por MALING são aplicadas tanto à cartas topográficas, fotografias aéreas, mapas temáticos e imagens orbitais entre outros documentos cartográficos existentes. 2.1.2 Aplicação das Técnicas Básicas de Cartometria Diante da necessidade da escolha de um tipo de documento cartográfico, para serem aplicadas as técnicas de cartometria já abordadas, optou-se pela carta topográfica, tendo em vista a mesma ser o documento mais amplamente difundido no meio cartográfico e ainda ser o documento fim da Diretoria de Serviço Geográfico (DSG). A seguir, serão abordadas algumas aplicações de técnicas básicas de cartometria em cartas topográficas. É importante salientar que essas aplicações não são as únicas, mas sim as necessárias para o entendimento do desenvolvimento do projeto e da implementação do programa. 2.1.2.1 Medição de Coordenadas em Cartas Topográficas As cartas topográficas são documentos georreferenciados, isto é, permitem a localização de um ponto qualquer nelas representado sobre a superfície terrestre, através de dois sistemas de coordenadas: o sistema UTM (Universal Transversa de Mercator) e o sistema Geodésico. 17 a) Sistema de Coordenadas UTM Características do sistema UTM: 1. A projeção utilizada é a cilíndrica conforme de Gauss, com o eixo do cilindro rotacionado de 90º (FIG.2.1). Isto faz com que o cilindro seja secante à Terra e que seu eixo esteja contido no plano do equador. 2. Adoção de um fator de redução de escala K0=0,9996 para o meridiano central, meridiano intermediário às duas linhas de secância, estando estas localizadas aproximadamente 1º 37’ a partir do meridiano central. 3. O fator de escala cresce para as extremidades de modo que assume o valor K=1 nas linhas de secância e K=1,00096 nas bordas do fuso, situadas a 3º a partir do meridiano central (FIG.2.2). FIG.2.1 – Cilindro Transverso (Fonte: Esteio S.A., 2002) 18 3º 3º FIG.2.2 – Deformação Linear do Fuso 4. Adoção de um Sistema Geodésico de referência. No Brasil, o mais utilizado e prescrito na legislação em vigor é o SAD-69 (South America Datum, 1969). 5. Para o mapeamento de toda a região do globo, foram utilizados 60 (sessenta) cilindros transversos dando origem ao mesmo número de fusos com 6º cada (3º para cada lado do meridiano central do fuso). Os fusos são numerados de 1 a 60 contados a partir do antimeridiano de Greenwich e limitados ao norte pela latitude 84º e ao sul pela latitude – 80º (FIG.2.3). Isto se deve ao fato de que fora do limite destes valores, as deformações são muito acentuadas. 19 FIG.2.3 – Fusos Planificados Para a definição de um sistema de coordenadas, são necessários 03(três) parâmetros a priori: a origem do sistema, a orientação dos eixos e a escala dos eixos. A origem do sistema de coordenadas de cada fuso se dá no encontro do meridiano central do fuso com o equador. Isto faz com que haja 60 sistemas de coordenadas (um para cada fuso de 6º), sendo necessária para o posicionamento de um ponto a referência ao fuso a que ele pertence. As coordenadas crescem no sentido norte (designada pela letra N de North) e no sentido leste (designada pela letra E de East). Com o objetivo de se obter somente coordenadas positivas, as coordenadas da origem foram convencionadas para ambos os hemisférios da seguinte forma: Norte (500.000m ; 0m) e Sul (500.000m ; 10.000.000m) (FIG.2.4). A unidade do sistema de coordenadas é a métrica. Isto indica, por exemplo, que um ponto de abscissa E= 568.000 está localizado sessenta e oito mil metros à leste do meridiano central do fuso ao qual pertence. 20 FIG.2.4 – Sistema de Coordenadas do Fuso (Fonte: Esteio S.A., 2002) b) Sistema de Coordenadas Geodésicas Pode-se ainda obter informações posicionais de qualquer ponto sobre a superfície da Terra através de duas coordenadas: latitude e longitude geodésicas (FIG.2.5). 21 P Latitude Geodésica Longitude Geodésica FiG.2.5 - Coordenadas Geodésicas Latitude geodésica (φ) – ângulo formado pela normal ao elipsóide em um determinado ponto e o plano do equador. Varia de 0º a 90ºN (0º a +90º) no hemisfério norte e de 0º a 90ºS (0º a -90º) no hemisfério sul. Longitude geodésica (λ) – ângulo diedro formado pelo plano meridiano do lugar e o plano meridiano tomado como origem (Greenwich). Varia de 0º a 180ºW (0º a - 180º) no hemisfério oeste e de 0º a 180ºE (0º a 180º) no hemisfério leste. Nas cartas topográficas, as indicações tanto das coordenadas UTM, quanto das coordenadas geodésicas, estão localizadas ao redor da área da superfície representada (FIG.2.6). Coordenadas UTM Coordenadas Geodésicas FIG.2.6 – Localização das Coordenadas na Carta Topográfica 22 2.1.2.2 Medição de Distâncias em Cartas Topográficas medição da distância entre dois pontos quaisquer, situados na carta top • da escala numérica da carta; cas dos pontos. A escala pode ser entendida pela relação entre a medida de representação de um as, são ele dem ser observadas no rodapé da carta. A ográfica, pode ser feita pelo menos através de três formas: • da escala gráfica da carta; • das coordenadas planimétri objeto ou uma região na carta e sua medida real na superfície da Terra. A escala numérica, escala gráfica e o sistema de coordenadas planimétric mentos obrigatórios de uma carta topográfica de acordo com a Lei nº89.817, de vinte de junho de 1984, que dispõe sobre as Leis Reguladoras das Normas Técnicas da Cartografia Nacional. As escalas (FIG.2.7) po Escala numérica Escala gráfica FIG.2.7 – Escala Gráfica e Numérica de uma Carta 1:25000 O cálculo realizado para a escala gráfica compreende três etapas: medir a distância na carta, transportar esta distância para a escala gráfica e finalmente ler o resultado. 23 Na escala numérica, basta a execução de um simples cálculo: nde: D – distância real no terreno; carta. O cálculo da distância através das coordenadas é feito da seguinte maneira: Onde: 2.1.2.3 Medição de Direções em Cartas Topográficas uando se trata de medição angular de uma direção, é necessário inicialmente a def • Norte Verdadeiro ou de Gauss (NV) – direção tangente ao meridiano • ampo D = O d – distância medida na carta; N – denominador da escala da d x N (EQ. 2.1) (EQ. 2.2) ( ) ( ) = −1 2 + 1− 2 2 2 d E E N N ( ) ( ) − − 1 1 2 2 , 1 , 2 E N coordenadas do ponto E N coordenadas do ponto Q inição de uma direção base, isto é, a direção zero a partir da qual o ângulo será medido. No caso das cartas topográficas, existem três direções base: geodésico, passando pelo ponto e apontando para o Pólo Norte. Norte Magnético (NM) – direção tangente a linha de força do c magnético, passando pelo ponto e apontando para o Pólo Norte Magnético. 24 • Norte de Quadrícula (NQ) – direção paralela ao eixo N (coincidente com o meridiano central do fuso) do sistema de coordenadas UTM no ponto considerado e apontando para o sentido positivo de N. Duas medidas angulares tomadas a partir das direções base e largamente utilizadas são: • Azimute – medido a partir da direção norte até a direção desejada e variando de 0º a 360º. • Rumo – é o menor ângulo que uma direção faz com a direção norte-sul e varia de 0º a 90º. Dependendo da direção base a que estão referenciados, estes ângulos recebem denominações específicas (TAB.2.1). TAB.2.1 – Denominação dos Azimutes e Rumos Azimute Rumo Direção base Verdadeiro ou Geográfico Verdadeiro Norte Verdadeiro de Quadrícula de Quadrícula Norte de Quadrícula Magnético Magnético Norte Magnético Entre as direções base ainda existem duas relações angulares de grande importância: • Declinação Magnética – ângulo formado entre a direção do Norte Verdadeiro e o Norte Magnético, associado a um ponto. • Convergência Meridiana Plana – ângulo formado entre a direção do Norte Verdadeiro e o Norte de Quadrícula, associado a um ponto. 25 Os ângulos relativos entre as direções base (FIG.2.8) são indicadas no rodapé da carta topográfica, juntamente com uma correção a ser introduzida, devido à variação na posição que sofre anualmente o Pólo Norte Magnético. Esta representação é conhecida pelos usuários de cartografia como “Pé-de-galinha”. FIG.2.8 – Posição Relativa entre as Direções Base. Na prática, medições angulares nas cartas topográficas são realizadas com o auxílio de instrumento de desenho geométrico, como por exemplo um transferidor (FIG.2.9), ou até mesmo uma bússola. FIG.2.9 – Medição Angular com Transferidor 26 2.1.2.4 Medição de Áreas em Cartas Topográficas Para o cálculo de áreas regulares que possam ser subdivididas e representadas por polígonos (FIG.2.10), utilizam-se formulações matemáticas. O problema ocorre quando a área que se deseja medir não é regular (FIG.2.11). Neste caso, o usuário deve se valer de instrumentos específicos (FIG.2.12) para o seu cálculo. FIG.2.10 – Áreas Regulares FIG.2.11 – Áreas Irregulares FIG.2.12 – Planímetro Mecânico 27 2.2 Cartometria Digital 2.2.1 Considerações Iniciais A Cartometria Digital difere basicamente da cartometria “clássica” no que se refere à fonte de dados, uma vez que o documento onde são efetuadas as medições não é mais analógico e sim digital. As técnicas utilizadas na cartometria digital são as mesmas, mudando somente a forma modo como o usuário interage com o documento, para a obtenção das informações desejadas. Agora, ao invés de instrumentos de desenho geométrico (régua, escalímetro, curvímetro, transferidor, etc.), utilizam-se as ferramentas disponibilizadas pelo próprio computador (mouse, teclado, monitor, entre outras). Uma peculiaridade observada na cartografia digital é a dificuldade de se trabalhar com escala. Quando o documento é exibido na tela do computador, o que existe é uma “escala de visualização”, que relaciona a quantidade de unidades de tela (pixels) utilizados para a representação do documento. Não estarão aí dimensionados, os resíduos inseridos nas informações, durante o processo de digitalização. A escala depende agora de outros parâmetros que não, simplesmente, o valor contido no rodapé da carta. Depende, por exemplo, da resolução de digitalização do documento, da resolução gráfica do monitor no qual ela será exibida e da resolução da placa de vídeo do computador. Diante destas dificuldades, cresce a importância da obtenção de coordenadas na cartometria digital. Estas, além de proporcionar o georreferenciamento do documento, ainda possibilitam, através de métodos computacionais, a aplicação de todas as demais técnicas básicas de cartometria. Inicialmente, para que isto ocorra, se faz necessária uma transformação entre os sistemas de coordenadas da carta analógica (Sistema de Referência em metros) e o sistema da carta digital (Sistema de Tela em pixels). A transformação entre sistemas de coordenadas tem por finalidade a manutenção do caráter posicional da informação, modelando as possíveis falhas que possam ter ocorrido durante o processo de digitalização da carta. 2