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Revista de Administração FACES Journal

ISSN: 1517-8900
faces@fumec.br
Universidade FUMEC
Brasil

Cunha Calado, Aldo Leonardo; Reis Machado, Márcia; Cunha Callado, Antônio André; Veras
Machado, Márcio André; Araújo Almeida, Moisés
CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇOS NO AGRONEGÓCIO
Revista de Administração FACES Journal, vol. 6, núm. 1, enero-abril, 2007, pp. 52-61
Universidade FUMEC
Minas Gerais, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=194016881005

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇOS NO AGRONEGÓCIO


COSTS AND PRICE FORMATION IN THE AGRIBUSINESS

Aldo Leonardo Cunha Calado


Universidade Federal da Paraíba

Márcia Reis Machado


Universidade Federal da Paraíba

Antônio André Cunha Callado


Universidade Federal Rural de Pernambuco

Márcio André Veras Machado


Universidade Federal da Paraíba

Moisés Araújo Almeida


Universidade Federal da Paraíba

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo analisar a gestão de custos e o processo de formação de preços das
agroindústrias paraibanas. A pesquisa envolveu um estudo empírico com 20 empresas do setor da
agroindústria pertencentes a sete atividades distintas. Os dados foram obtidos através da aplicação de
um questionário. Observou-se que a maioria das empresas possui sistema de custos ou alguma forma de
estrutura de custos, sendo o gerente geral o responsável pelo registro dos custos do processo produtivo.
Quanto aos fatores limitantes para a implantação do sistema de custos, parte das empresas analisadas
alegou que a contabilidade gerencial fornece dados suficientes para a gestão dos seus negócios. Constatou-
se que o principal critério utilizado no processo de formação do preço de venda das empresas analisadas foi
o mark-up, aplicado sobre o custo de produção. Uma parcela das empresas pesquisadas utiliza o mark-up
sobre o valor da matéria-prima.

PALAVRAS-CHAVE
gestão de custos, formação de preços, agroindústrias.

ABSTRACT

This paper aims to analyse cost management and prices formation process of agribusiness organizations in
Paraíba. This research covered an empiric study with 20 agribusiness companies related to 7 distinct activities.
Data were collected by the application of a series of questions. It was observed that most of these companies
have cost systems or some kind of cost structuring process, and managers are generally responsible for the
recording of production costs. Several key factors provide difficulties over costs systems. Some companies
claimed that managerial accounting provides enough information for management activities. The most important
criteria used for prices formation was the mark-up methodology over production costs. Other companies apply
mark-up over supplies.

KEYWORDS
cost management, prices formation, agribusiness.
ALDO LEONARDO CALADO • MÁRCIA R. MACHADO • ANTÔNIO ANDRÉ CALLADO • MÁRCIO A. MACHADO • MOISÉS ARAÚJO ALMEIDA

Empresas, com fim lucrativo ou não, artigo consiste em analisar a gestão de custos e o
enfrentam dificuldades para determinar o preço processo de formação de preços nas agroindústrias
de seus produtos ou serviços, visto que o preço paraibanas.
sofre grande influência do mercado, levando em
conta o poder aquisitivo da população, qualidade, REVISÃO DA LITERATURA
oferta e alternativas de escolha em função de suas
preferências. AGROINDÚSTRIA
O mercado requer que empresas ofereçam
produtos e serviços de qualidade com preços que As atuais dinâmicas dos mercados e
o consumidor esteja disposto a pagar. Os preços dos consumidores, no mundo globalizado, têm
devem ser suficientes para cobrir todos os custos e introduzido novos paradigmas e desafios para o
despesas, além de conter margem suficiente para ambiente dos negócios, indistintamente da natureza
retorno sobre o capital aplicado. O entendimento corporativa das empresas.
da política e formação de preços é fundamental Nesse ambiente, o gestor deve estar apto
para que as organizações conheçam seus limites a identificar eventuais ameaças e oportunidades
financeiros. em seu horizonte gerencial para subsidiar a
A definição de preços tem sido um assunto elaboração de um plano estratégico cada vez mais
bastante abordado em pesquisas, na busca da contextualizado, considerando as especificidades
eficiência empresarial. É um tema complexo, que de cada setor econômico, principalmente no
pode ser tratado com os conceitos da microeconomia, que se refere à dinâmica industrial de sua cadeia
administração financeira, contabilidade e marketing. produtiva.
Independentemente da abordagem, fica evidente A agroindústria, segundo Batalha (1997),
sua importância, pois é através dos resultados consiste na soma das operações de produção
obtidos pela venda de produtos e/ou serviços e distribuição de suprimentos agrícolas, das
que empresas asseguram a continuidade de suas operações de produção nas unidades agrícolas,
atividades no longo prazo. do armazenamento, processamento e distribuição
A aplicação de preços corretos é fundamental dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir
para que sejam atingidas as metas de vendas, deles. Esse é um conceito amplo, pois abrange as
mantidas ou ampliadas as participações da empresa diversas áreas da cadeia produtiva.
no mercado. Na visão de Pereira (1996), a empresa
A presente pesquisa busca abordar preços agroindustrial compreende a unidade produtiva
sob a ótica da contabilidade, enfatizando a gestão que transforma o produto agropecuário natural ou
de custos como meio de determinação de preços manufaturado para sua utilização intermediária ou
para a agroindústria. final. Esse conceito é mais restrito, uma vez que se
A contabilidade é uma das ferramentas menos limita à atividade de transformação e processamento
utilizadas pelas agroindústrias brasileiras, pois é dos produtos de origem animal ou vegetal. É sob
vista como uma técnica complexa em sua exceção e essa perspectiva que trataremos da agroindústria
que apresenta baixo retorno prático. Outra limitação no decorrer deste trabalho.
consistiria no fato de que a contabilidade de custos Vilela (2004) aponta que o agronegócio abriga
é quase sempre conhecida por suas finalidades a produção agropecuária, da mais tecnificada à
fiscais, não possuindo grande interesse por uma mais tradicional, da agricultura familiar à de grande
aplicação gerencial. porte, a indústria que produz insumos e processa
Sobre a precariedade da qualidade das alimentos, os serviços e comércio afins.
informações contábeis geradas em empresas Segundo dados do Banco do Brasil (2005),
rurais brasileiras, Crepaldi (1993) destaca que essa o agronegócio brasileiro é responsável por 34% do
característica não é atributo apenas de pequenas PIB e 32% dos empregos gerados. Sua importância
propriedades rurais, prevalecendo também entre para o país reside em proporcionar empregos,
as médias e grandes, com economia de mercado e renda, divisas e desenvolvimento. Devido ao saldo
elevados níveis de renda, comprometendo qualquer da balança comercial do agronegócio (US$ 25,8
meta de resultados financeiros diante do processo bilhões em 2003), o saldo total brasileiro foi positivo
de globalização dos mercados. em US$ 24,8 bilhões, podendo ampliar-se para US$
A presente pesquisa encontra-se vinculada a 28 bilhões em 2004.
um projeto financiado pelo CNPq. O objetivo deste
CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇOS NO AGRONEGÓCIO

Nos últimos anos, o agronegócio brasileiro capital, elas trazem tecnologias modernas,
teve um crescimento expressivo no comércio que favorecem ainda mais o desenvolvimen-
internacional. Em 1993, as exportações do setor to do setor.
eram de US$ 15,94 bilhões, com um superávit de Segundo Vilela (2004), dentre as barreiras
US$ 11,7 bilhões. Em dez anos, o país dobrou o enfrentadas pelo agronegócio brasileiro, uma das
faturamento com as vendas externas de produtos mais importantes é o estabelecimento de preços
agropecuários e teve um crescimento superior a competitivos aos seus produtos.
100% no saldo comercial.
Representando uma das principais FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA
competências nacionais, o agronegócio é importante
para a economia do país sob diversos aspectos, A tomada de decisões no âmbito empresarial
entre os quais destacam-se: consiste na escolha de custos alternativos que
a) Participação no PIB: os fluxos financeiros melhor se ajustem a seus interesses. A identificação
entre os diversos agentes integrantes do e ponderação dos principais aspectos relacionados
agronegócio representavam cerca de 29% do a determinado contexto têm um importante papel
PIB brasileiro, ou R$ 424 bilhões, conforme no processo de tomada de decisões, agindo como
dados do Centro de Estudos Avançados referência coletora de dados relevantes sobre
em Economia Aplicada (Cepea/USP), custos, despesas, mercado e tecnologias.
(UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2003). Sardinha (1995) define preço como a
b) Desempenho da balança comercial: o quantidade de dinheiro que o consumidor desembolsa
agronegócio é o setor que mais tem contribuído para adquirir um produto e que a empresa recebe
para melhorar a balança comercial brasileira, em troca da cessão do produto. A partir dessa
sendo responsável por 42% das exportações definição, preço seria o valor monetário pago pelo
brasileiras. Em 2003, produziu um superávit consumidor ao fornecedor de bens e/ou serviços,
de US$ 25,8 bilhões, conforme o Ministério para satisfazer suas necessidades, enquanto este
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento visa a obter lucro ou retorno financeiro.
(BRASIL, 2004). Em 2004, a previsão é de Para Bernardi (1996) e Cogan (1999), o preço
atingir um superávit de US$ 30 bilhões. pode ser estabelecido a partir do mercado. Dessa
c) Participação dos produtos agrícolas no forma, lucro será representado em função do valor
mercado mundial: o Brasil é líder mundial nos relativo ao preço aceito menos os custos e despesas
seguintes produtos: [L = P – (C + D)].
- Laranja: detém 81,9% do mercado mundial De acordo com esse entendimento, as
do suco de laranja. empresas devem procurar diminuir seus custos
- Soja: detém 38,4% do mercado mundial. e despesas, para que a margem de contribuição,
- Café: vende 28,5% do café em grãos consu- preço menos custos e despesas variáveis, possa
mido no planeta e 43,6% do café solúvel. ser maior, bem como elaborar estudos sobre seus
- Açúcar: vende 29% do volume consumido no limites, não oferecendo produtos ou serviços com
mundo. preços inferiores aos custos e despesas ou com
- Carnes: assumiu em 2003 a liderança na margem insuficiente para o retorno do capital
produção de carne bovina, com 19% de aplicado.
participação no mercado. Primeiro em vendas Ressaltam Horngren, Datar e Foster (2004)
de carne de frango, com exportações de US$ que o preço de um produto ou serviço depende
1,9 bilhão. da oferta e da procura. As três influências que
- Fumo: vende 23,1% do tabaco consumido no incidem sobre oferta e procura são: os clientes, os
mundo. concorrentes e os custos.
d) Internacionalização do agronegócio: as van- Os clientes influenciam a formação dos
tagens competitivas do agronegócio brasilei- preços na medida em que analisam o valor cobrado
ro vêm atraindo investimentos internacionais, pelo bem ou serviço e os benefícios que terão se
seja pela aquisição de empresas do setor, os adquirir. Os consumidores consideram suas
seja pela implantação de novas unidades preferências em termos dos benefícios recebidos
produtivas no país. Hoje, todas as grandes pelo preço pago. Dessa forma, serviços e bens
empresas que operam com agronegócios no semelhantes tendem a ter preços semelhantes.
mundo estão presentes no Brasil. Além de
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Para Kotler (1993), no final das contas, é o Bruni e Famá (2003) destacam que o retorno
consumidor que decidirá se o preço de um produto do capital dá-se por meio de lucros auferidos
é correto. Em todo caso, o melhor não é cobrar ao longo do tempo. Assim, somente por meio da
preços mais baixos, mas diferenciar o produto correta fixação e mensuração dos preços de venda é
ofertado, para que ele valha um preço mais alto. possível assegurar o correto retorno do investimento
Os custos e os preços dos concorrentes efetuado.
podem afetar os preços cobrados por uma Além dos consumidores, concorrentes e
empresa. Produtos alternativos ou similares podem custos, que influenciam na precificação, também
afetar a demanda e forçar uma empresa a baixar devem ser levadas em conta a conjuntura econômica,
seus preços. Por outro lado, uma empresa livre a recessão, inflação e taxas de juros, o governo e as
de concorrência pode elevar seus preços sem preocupações sociais.
grandes problemas. Para Santos (1991), estes são os métodos de
Os custos influenciam os preços na medida formação de preço:
em que afetam a oferta. Quanto menor for o custo - Método baseado no custo;
de um produto em relação ao seu preço, maior será - Método baseado nos concorrentes;
a capacidade de fornecimento pela empresa. No - Método baseado nas características do
outro extremo, a empresa que apresenta redução mercado;
de custos pode baixar seus preços, aumentando a - Método misto.
procura, ou em caso de aumento de custos elevar O método baseado nos custos é o mais
seus preços, diminuindo a procura. tradicional e o mais comum no mundo dos negócios.
A precificação também varia de acordo com Costuma empregar os seguintes fatores: custo
o mercado. Rossetti (2000) e Vasconcelos (2002) pleno, custo de transformação, custo marginal, taxa
reconhecem quatro tipos de mercado, cada um de retorno exigida sobre o capital aplicado e custo-
com dificuldades diferentes em relação ao preço. padrão.
Bruni e Famá (2003) propõem como principais Se a base usada for o custo total, deve ser
objetivos na formação de preços: proporcionar, aplicada uma margem de lucro desejada sobre os
em longo prazo, o maior lucro possível; permitir a custos totais dos produtos. Utilizando-se os custos e
maximização lucrativa da participação de mercado; despesas variáveis, a margem adicionada deve ser
maximizar as capacidades produtivas, evitando suficiente para cobrir os custos e despesas fixas,
ociosidade e desperdício operacional; e maximizar além dos lucros desejados.
o capital empregado para perpetuar os negócios de A margem de um produto, expressa como
modo auto-sustentado. percentual do custo, é a diferença entre o seu preço
Sardinha (1995) comenta que, no curto de venda e o seu custo. Esse processo de adicionar
prazo, o preço cobrado pela venda de um bem ou margem fixa a um custo-base é conhecido como
prestação de um serviço pode ser influenciado pelo mark-up. Segundo Garrison e Noreen (2000), duas
mercado, mas a sobrevivência de uma empresa perguntas são feitas quando se emprega mark-up:
no longo prazo depende de suas decisões sobre qual custo deve ser usado? Como se determinar a
políticas consistentes de preço. margem?
Não apenas o faturamento da empresa deve A segunda metodologia de formação de
ser aumentado, mas a lucratividade nas vendas, uma preços emprega a análise da concorrência. Sobre
vez que o aumento do faturamento, isoladamente, essa metodologia, Bruni e Famá (2003) afirmam que
pode proporcionar efeitos negativos, tais como as empresas prestam pouca atenção a seus custos
excesso de estoques, fluxo de caixa negativo, ou à sua demanda – a concorrência é que determina
sazonalidade, etc. os preços a praticar. Os preços podem ser de oferta
Os preços devem considerar a capacidade – quando a empresa cobra mais ou menos que os
produtiva da empresa, pois preços baixos tendem a concorrentes – ou de proposta – quando a empresa
aumentar as vendas, podendo ocasionar problemas determina seu preço segundo seu julgamento sobre
de qualidade do atendimento e prazo de entrega. como os concorrentes irão fixar seus preços.
Por outro lado, preços elevados podem reduzir Para o método baseado nas características
as vendas, acarretando a ociosidade da estrutura do mercado, o preço é estabelecido com base no
produtiva e de pessoal, ou seja, ociosidade e valor percebido do produto pelo mercado consu-
desperdício operacional. midor. Esse método exige conhecimento profundo
do mercado pela empresa. O conhecimento do
CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇOS NO AGRONEGÓCIO

mercado permite decidir se o produto será vendido TABELA 1


a um preço mais alto, atraindo as classes econo- Universo e amostra da pesquisa
micamente mais elevadas, ou a um preço popular, Subatividades das indústrias Universo Amostra
atendendo às camadas mais pobres. Abate e preparação de produtos de
A quarta e última metodologia, método misto, carne e pescado 10 5
é a combinação dos fatores custo, concorrência e Laticínios 37 5
mercado. Bruni e Famá (2003) destacam que a for- Processamento, preservação e
mação de preços deve ser capaz de considerar a prod. de conservas de frutas,
qualidade do produto em relação às necessidades legumes e outros 23 4
do consumidor, a existência de produtos substitutos Produção de álcool 7 2
a preços mais competitivos, a demanda esperada Torrefação e moagem de café 16 2
do produto, o mercado de atuação do produto, o Fabricação e refino de açúcar 5 1
controle de preços impostos pelo governo, os níveis Moagem e fabricação de produtos
de produção e vendas pretendidos ou que podem amiláceos e rações balanceadas p/
ser operados e os custos e despesas de fabricar, animais 20 1
administrar e comercializar o produto. Total 118 20
Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
METODOLOGIA
RESULTADOS OBTIDOS
A presente pesquisa, quanto aos fins, é clas-
sificada como exploratória e descritiva. Exploratória Em relação aos métodos de apuração dos
porque visa a ampliar o conhecimento sobre a for- custos de produção, 40% das agroindústrias pos-
mação de preço em agroindústrias, e descritiva por- suem um sistema de custos, 35% possuem alguma
que procurou descrever o grau de percepção dos forma de estruturação e 20% não apresentam ne-
gestores das agroindústrias quanto à formação do nhuma forma de estruturação, conforme Tabela 2.
preço e importância da gestão de custos para tal TABELA 2
fim. Métodos de apuração dos custos
Quanto aos meios, é uma pesquisa de cam-
Métodos de apuração Nº de empresas %
po, desenvolvida no âmbito das agroindústrias loca-
Sistema de custos 8 40%
lizadas na cidade de João Pessoa/PB, onde dados
foram coletados ao longo das atividades propostas Estruturação de custos 7 35%
para a pesquisa. Nenhuma estruturação 4 20%
O universo da pesquisa foi constituído pelas Outros 1 5%
agroindústrias sediadas no Estado da Paraíba, ca- Total 20 100%
dastradas na Federação das Indústrias do Estado Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
da Paraíba – Fiep-PB, em sua lista publicada em Entretanto, através de algumas anotações
2004. Essas empresas desenvolvem as seguintes espontâneas, pôde-se verificar o reconhecimento
atividades: abate e preparação de produtos de car- da importância da implantação de um sistema de
ne e de pescado; fabricação e refino de açúcar; lati- controle de custos, que estaria em fase de implanta-
cínios; moagem e fabricação de produtos amiláceos ção ou seria implantado num futuro próximo.
e rações balanceadas para animais; processamen- Os dados da Tabela 3 indicam que em 30%
to, preservação, produção de conservas de frutas, das empresas pesquisadas o gerente geral é que
legumes, etc.; produção de álcool; torrefação e mo-
agem de café, totalizando 118 empresas. TABELA 3
A composição da amostra foi determinada Profissional responsável pelo registro dos custos
pelo recebimento dos questionários (enviados para Profissional responsável Nº de empresas %
as 188 empresas cadastradas), distribuídas confor- Gerente geral 6 30%
me a Tabela 1. Foram recebidos 20 questionários Contador 5 25%
respondidos, representando 17% do universo. Técnico 3 15%
Para a tabulação e análise dos dados, utilizou- Chefe de produção 1 5%
se o pacote estatístico SPSS – Statistical Package for Outros 5 25%
the Social Sciences, a estatística descritiva e tabelas
Total 20 100,0%
de freqüência.
Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
ALDO LEONARDO CALADO • MÁRCIA R. MACHADO • ANTÔNIO ANDRÉ CALLADO • MÁRCIO A. MACHADO • MOISÉS ARAÚJO ALMEIDA

faz os registros dos custos do processo produtivo. TABELA 5


Mas outros profissionais também efetuam esses Critérios de formação do preço de venda
registros, dentre os quais o contador em 25% dos Critério utilizado Nº de empresas %
casos, o técnico em 15%, e o chefe de produção Utiliza-se um índice sobre o
em apenas 5%. custo de fabricação 14 70%
Quanto aos fatores limitantes para a implan- Negocia-se o preço caso a
tação de alguma forma de estruturação de custos, a caso 4 20%
Tabela 4 mostra que 25% dos gestores das agroin- Aplica-se um índice sobre o
dústrias respondentes consideraram que os dados valor da matéria-prima 1 5%
da contabilidade geral são suficientes, 20% consi- Outros 1 5%
deraram que a produção é pequena e não necessi- Total 20 100%
tam de um sistema de custos, 5% alegaram que as
Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
informações de custos não interferem nas decisões
gerenciais, outros 5% informaram que não possuem A Tabela 6 mostra que 45% das empresas
orientação técnica, mas contratarão alguém qualifi- pesquisadas negociam não somente os preços,
cado para essa função ainda este ano. mas também os prazos, 40% vendem pelos mes-
Além desses fatores, 45% consideram a falta mos preços das vendas à vista e 15% acrescentam
de um sistema de controle dos custos, a atuação encargos financeiros em relação aos preços de ven-
do proprietário da empresa ou ainda nenhum fator das à vista.
como forma de inibir a estruturação dos custos. Isso TABELA 6
demonstra, de modo geral, a pouca preocupação Critérios utilizados para definir o preço das
dos gestores para o acompanhamento e o controle vendas a prazo
dos custos de produção, uma vez que, em face das
dificuldades e necessidades enfrentadas, ainda não Nº de
Critérios utilizados %
dispõem de um sistema de controle eficaz. empresas

TABELA 4 Negociados caso a caso sobre


Fatores limitantes da estruturação dos custos valores e prazos 9 45%
Mesmos preços das vendas à
Nº de
Motivo % vista 8 40%
empresas
Há acréscimos de encargos
Os dados da contabilidade
financeiros 3 15%
geral são suficientes 5 25%
Total 20 100%
A produção é pequena e não há
necessidade 4 20% Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
Os custos são irrelevantes para
o gerenciamento 1 5% Os questionários sugerem os motivos de se
Por falta de orientação técnica 1 5% efetuarem as vendas a prazo pelo mesmo valor das
Outros 9 45%
vendas à vista, tipo de operação feito para os clien-
tes que compram freqüentemente e em quantida-
Total 20 100%
des satisfatórias. Com isso objetivavam manter a
Fonte: Pesquisa de campo, 2005. fidelização do cliente.
Pela Tabela 7, 65% das agroindústrias res-
Nenhuma empresa alegou, como fator limi- pondentes possuem e utilizam formulários específi-
tante na estruturação dos custos, a falta de recursos cos para controle dos custos de produção. Nenhu-
financeiros para contratar uma pessoa para fazer o ma empresa que possui esses formulários deixa de
controle de custos corretamente. utilizá-los.
Pela Tabela 5, todos os entrevistados utilizam
TABELA 7
algum critério para a formação do preço de venda.
Utilização de meios formais de apuração e
O mais relevante é um índice sobre o custo de pro- controle dos custos
dução, representando 70%, seguido da negociação
caso a caso, feita em 20% das agroindústrias. Em Formulários específicos Nº de empresas %
5% aplica-se um índice sobre o valor da matéria- Possui e utiliza 13 65%
prima e em outros 5% o preço de venda é definido Não possui 7 35%
após cálculos que levam em consideração muitas Total 20 100%
variáveis não especificadas. Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇOS NO AGRONEGÓCIO

Pela Tabela 8, uma parcela de 805 empresas Em relação ao método de custeio empregado
atesta que todos os registros são feitos corretamen- para apropriação dos custos ao produto, a Tabela 11
te, 15% não efetuam qualquer tipo de registro e 5% mostra que o custeio direto é o mais utilizado (50%),
registram, mas de maneira incorreta. seguido do custeio por absorção (45%). Apenas uma
empresa não identificou o método de custeio que uti-
TABELA 8 liza para apropriação dos custos de produção.
Processo de registro dos custos de produção
Forma de registro Nº de empresas % TABELA 11
Registrados corretamente 16 80% Método de apropriação dos custos de produção
Não são registrados 3 15% Método de custeio Nº de empresas %
Registrados incorretamente 1 5% Direto 10 50%
Total 20 100% Absorção 9 45%
Fonte: Pesquisa de campo, 2005. Não responderam 1 5%
Total 20 100%
Quanto à forma de organização do registro Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
dos custos de produção, a Tabela 9 mostra que, em
75% dos casos, os dados são agrupados em contas O período mais utilizado como base para ela-
e em 25% não há nenhuma forma de agrupamento boração dos relatórios de custos é o mensal, repre-
em contas. sentado por 65% do total de empresas, seguido do
TABELA 9 trimestral, com 10%. Os relatórios de custos tam-
Forma de organização do registro dos bém são elaborados semanal e semestralmente, só
custos de produção que de forma menos significativa (5% para cada um
desses períodos). Há aqueles que possuem siste-
Forma de organização dos
Nº de empresas % mas de custos e conseguem elaborar os relatórios
registros
diariamente ou no momento de aquisição da maté-
São agrupados em contas 15 75%
ria-prima (15%), conforme a Tabela 12.
Não são agrupados 5 25%
Total 20 100% TABELA 12
Fonte: Pesquisa de campo, 2005. Periodicidade de elaboração dos
relatórios de custos
Encontram-se na Tabela 10 as bases de va- Periodicidade de elaboração Nº de empresas %
lorização dos insumos utilizadas pelas empresas Mensais 13 65%
agroindustriais. A base de valor mais utilizada é o Trimestrais 2 10%
custo de reposição dos insumos, correspondendo Semanais 1 5%
a 45% do total, seguido do custo corrente com 30%, Semestrais 1 5%
do custo corrente corrigido, perfazendo 15%, e do
Outro 3 15%
custo histórico corrigido em 5%.
Total 20 100%
TABELA 10 Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
Base de valorização dos insumos
A Tabela 13 aponta dificuldades relativas ao
Base de valor Nº de empresas %
correto controle dos custos de produção, pois não
Reposição 9 45%
há certeza quanto à existência de lucros: 35% dos
Corrente 6 30%
entrevistados identificam a existência de lucros atra-
Corrente corrigido 3 15% vés das sobras de caixa ao final do período, 20%
Histórico corrigido 1 5% não têm certeza sobre a existência de lucros e ou-
Não responderam 1 5% tros 20% têm conhecimento da existência de lucros,
Total 20 100% porém não os identifica por produto.
Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
ALDO LEONARDO CALADO • MÁRCIA R. MACHADO • ANTÔNIO ANDRÉ CALLADO • MÁRCIO A. MACHADO • MOISÉS ARAÚJO ALMEIDA

TABELA 13 TABELA 15
Critérios utilizados no processo de Forma de registro dos custos de produção
definição dos lucros Nº de
Registro dos custos %
Critério utilizado Nº de empresas % empresas
Registrados em formulários
Sobras de caixa ao final do próprios 13 65%
7 35%
período Registrados de maneira
Não tem certeza da improvisada, mas regular 5 25%
4 20%
existência de lucros
Registrados de maneira irregular 2 10%
Conhecimento de sua
Total 20 100%
existência sem identificar por 4 20%
produto Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
Outro 5 25% Os custos de produção são registrados em
Total 20 100% formulários próprios em 65% das empresas, 25%
Fonte: Pesquisa de campo, 2005. registram os custos regularmente, mas de maneira
improvisada, e 10% reconhecem que registram de
Uma parcela de 25% dos gestores não forma totalmente irregular (Tabela 15).
utiliza nenhum dos três critérios apontados
para a identificação do lucro; a maior parte dos CONCLUSÕES
entrevistados não esclareceu quais critérios utiliza
e outros informaram que o lucro é acompanhado Esta pesquisa exploratória e descritiva teve
diariamente através de um sistema gerencial ou por objetivo analisar a gestão de custos e processo
têm conhecimento de sua existência através da de formação de preços das agroindústrias parai-
identificação por produto. banas. Envolveu um estudo empírico com 20 em-
presas do setor agroindustrial, pertencentes a sete
TABELA 14 subatividades industriais.
Periodicidade de atualização dos relatórios de custos Uma parcela significativa das empresas re-
Nº de spondentes possui sistema de custos ou alguma
Periodicidade de atualização % forma de estrutura de custos, registrados pelo ge-
empresas
Possuem atualização periódica 8 40% rente geral.
Possuem atualização constante 8 40% Quanto aos fatores limitantes para a implan-
Não possuem atualização regular 4 20%
tação do sistema de custos, parte das empresas
alegou que a contabilidade gerencial fornecia da-
Total 20 100%
dos suficientes para a gestão dos seus negócios.
Fonte: Pesquisa de campo, 2005.
Outras consideraram que a produção era pequena,
não necessitando de um sistema de custos. Grande
Os relatórios de custos são atualizados parte considerou a falta de um sistema para contro-
periodicamente em 40% das empresas entrevistadas, le dos custos, a forma de atuação do proprietário da
outros 40% sofrem atualização constante e em 20% empresa ou ainda nenhum fator como inibidores da
essa atualização não é feita de maneira regular, estruturação dos custos.
conforme Tabela 14. O principal critério utilizado no processo de
formação do preço de venda das empresas ana-
lisadas foi o mark-up, aplicado sobre o custo de
produção. Algumas empresas utilizavam o mark-up
sobre o valor da matéria-prima.
Em relação aos preços das vendas a prazo,
grande parte das empresas negocia não somente
os preços, mas também os prazos, vende pelos
mesmos preços das vendas à vista e apenas uma
pequena parte acrescenta encargos financeiros aos
preços de vendas à vista. >
CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇOS NO AGRONEGÓCIO

Aldo Leonardo Cunha Calado Márcio André Veras Machado


Universidade Federal da Paraíba Professor Assistente
Professor Assistente Universidade Federal da Paraíba
Endereço: Campus Universitário I – jardim Cidade Endereço: Campus Universitário I – jardim Cidade
Universitária Universitária
João Pessoa-PB. CEP: 58.051-900 João Pessoa-PB. CEP: 58.051-900
Fone: 083 - 32167459 Fone: 083 - 32167459
aldocallado@yahoo.com.br marciomachado@yd.com.br

Márcia Reis Machado Moisés Araújo Almeida


Universidade Federal da Paraíba Bolsista de Iniciação Científica
Professora Assistente Universidade Federal da Paraíba
Endereço: Campus Universitário I – jardim Cidade Endereço: Campus Universitário I – jardim Cidade
Universitária Universitária
João Pessoa-PB. CEP: 58.051-900 João Pessoa-PB. CEP: 58.051-900
Fone: 083 - 32167459 Fone: 083 - 32167459
marciareis@yd.com.br moaral@ig.com.br

Antônio André Cunha Callado


Professor Adjunto
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Av D. Manoel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos
Recife-PE CEP. 52.071-030
Fone: 081 - 33206460
andrecallado@yahoo.com.br

Referências

BANCO DO BRASIL. Relatórios Agricultura Familiar. Disponível HORNGREN, C. T.; DATRA, S.


gerenciais e prestação de contas em: http://mda.gov.br. Acesso em M.; FOSTER, G. Contabilidade
de safras: 1995-2005. Brasília, 20 out. 2004. de custos: uma abordagem
1995-2005. gerencial. São Paulo: Prentice
BRUNI, A. L.; FAMÁ, R. Gestão de Hall, 2004.
BATALHA, M. O. (Coord.). Gestão custo e formação de preço: com
agroindustrial. São Paulo: Atlas, aplicação na calculadora HP12C KOTLER, P.; ARMSTRONG, G.
1997. e Excel. São Paulo: Atlas, 2003. Princípios de marketing. Rio de
Janeiro: Prentice Hall do Brasil,
BERNARDI, L. A. Política COGAN, S. Custos e preços: 1993.
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abordagem competitiva, Pioneira, 1999. PEREIRA, E. Controladoria,
sistêmica e integrada. São Paulo: gestão empresarial e indicador
Atlas, 1966. CREPALDI, S. A. Contabilidade de eficiência em agribusiness. In:
rural. São Paulo: Atlas, 1993. MARION, José Carlos (Coord.).
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Pecuária e Abastecimento. GARRISON, R. H.; NOREEN, E. agribusiness. São Paulo: Atlas,
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preço: a arte do negócio. São esalq.usp.br/. Acesso em 20 ago. agronegócio: capital e
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Agrícola, n. 2, 2004, p. 87-88.

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