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Produtividade do

trabalho e vantagem
comparativa

O modelo ricardiano
Custo de • Custo de oportunidade de dez milhões
de rosas, em termos de computador:
oportunidad
COR,C = 100 mil computadores
ee
• Diferenças internacionais de
vantagem tecnologia:
comparativa CO*R,C = 30 mil computadores

P.S. Variáveis com asterisco* denotam


referência ao país “estrangeiro” ou ao “resto
do mundo”, em oposição a país “local”.
Custo de • O comércio internacional como um
oportunidad jogo de soma positiva:
ee
vantagem
comparativa
Custo de • Definição:
oportunidad – um país possui uma vantagem
comparativa na produção de um bem se o
ee custo de oportunidade da produção desse
vantagem bem em relação aos demais é mais baixo
nesse país do que em outros.
comparativa • Conclusão:
– o comércio entre dois países pode
beneficiar a ambos, se cada qual exportar
os bens em que possui uma vantagem
comparativa.
• Questões relacionadas:
Custo de – O potencial para ganhos mútuos se tornará
oportunidad realidade?
– Os países produzem os bens nos quais possuem
ee vantagem comparativa?
– O comércio entre eles efetivamente deixará ambos
vantagem em melhor situação?
• Teoria do comércio internacional:
comparativa – O modelo ricardiano enfatiza diferenças
internacionais na produtividade do trabalho.
– O modelo Hecksher-Ohlin destaca o papel das
diferenças internacionais na dotação dos fatores.
– A “nova” economia internacional (Krugman, Venables,
Grossmann, Helpman) focaliza a interação entre
economias de escala e concorrência imperfeita.
• Hipóteses:
O modelo – Tecnologia de retornos constantes à
ricardiano escala com um só fator de produção
(trabalho);
– Livre-mobilidade do fator trabalho dentro
de cada país (entre setores de atividade);
– Informação perfeita e preferências bem
comportadas dos consumidores.
• Implicações:
O modelo – A tecnologia de cada país é plenamente
descrita com um único indicador: a
ricardiano produtividade do trabalho em cada setor,
expressa como necessidade unitária de
trabalho;
– Prevalece a concorrência perfeita nos
mercados de produtos (queijo e vinho) e
de fator (trabalho), com pleno-emprego
dos recursos.
• Descrição da economia pelo lado da
oferta – a fronteira das possibilidades de
produção:
O modelo – Os recursos totais da economia são definidos
ricardiano como (oferta de trabalho);
– A tecnologia é dada e representada pelas
necessidades unitárias de trabalho na
produção de queijo e vinho, e ;
– Operando em pleno-emprego com recursos
limitados e sem progresso tecnológico, para
produzir mais de determinado bem é
necessário sacrificar um pouco a produção do
outro.
• A restrição de oferta da economia é
representada pela desigualdade:
O modelo
• E, no limite da igualdade, a fronteira
ricardiano de possibilidades de produção mostra
a quantidade máxima de vinho que
pode ser produzida para cada dada
quantidade de queijo que esteja sendo
produzida, e vice-versa:
O modelo
ricardiano

A linha PF mostra o
montante máximo de queijo
que a economia consegue
produzir, dada a produção
de vinho, e vice-versa.
• Notem que o valor absoluto da
O modelo declividade da fronteira de
possibilidades de produção expressa o
ricardiano custo de oportunidade do queijo, em
termos de vinho, que nesse modelo é
constante e igual a ;
• Um quilo de queijo requer horas de
trabalho e cada hora de trabalho
produz litros de vinho.
• A determinação dos preços relativos no
O modelo equilíbrio geral com ausência de
ricardiano comércio internacional:
– A maximização do lucro em concorrência
perfeita ocorre quando os preços igualam
os custos marginais nos mercados dos
produtos, e quando os salários igualam a
produtividade marginal do trabalho no
mercado de trabalho
• Sejam PQ e PV os preços do queijo e do
vinho.
O modelo • Neste caso, as condições necessárias
ricardiano para o equilíbrio geral podem ser
expressas simplesmente como:

• Onde corresponde ao PMgLi


• Somente quando e, portanto, , todos
os bens são produzidos.
O modelo • Logo, temos a seguinte proposição:
ricardiano – “A economia vai se especializar na
produção de queijo se o preço relativo do
queijo exceder seu custo de oportunidade
(wQ > wV); ou na produção de vinho se o
preço relativo do queijo for menor do que
seu custo de oportunidade (wQ < wV)”
• Na ausência do comércio internacional,
O modelo a economia Local teria de produzir
ricardiano ambos os bens por si.
– Nesse caso, o preço relativo do queijo
deve ser exatamente igual a seu custo de
oportunidade, o qual corresponde à razão
entre as necessidades unitárias de
trabalho para o queijo e o vinho:
• Daí, temos a seguinte implicação:
O modelo – A determinação dos preços na ausência
ricardiano do comércio internacional pode ser
explicada como uma teoria simples do
valor trabalho;
– “Na ausência do comércio internacional,
os preços relativos dos bens são iguais às
suas necessidades de trabalho relativas.”
O comércio • Agora vamos supor a existência de um
internacional segundo país (“Estrangeiro”), com uma
tecnologia diferente do país local:
no modelo
ricardiano • Ou seja, o local tem vantagem
comparativa na produção de queijo,
pois o seu custo de oportunidade (em
termos de vinho) é menor que o do
estrangeiro.
O comércio
internacional • Notem que:
no modelo
ricardiano • Ou seja, a produtividade relativa do
trabalho na fabricação de queijo
(comparada à do vinho) é maior no
país local do que no estrangeiro.
O comércio • Esse constatação permite explicitar que
internacional o conceito de vantagem absoluta
(Adam Smith) é insuficiente para
no modelo explicar o comércio internacional.
ricardiano • O local possui vantagem absoluta na
produção de queijo se a produtividade
do trabalho dessa atividade nesse país
for maior que no estrangeiro:
O comércio • David Ricardo percebeu que o preço
internacional internacional (após o comércio) não
poderia coincidir simultaneamente
no modelo com os preços prevalecentes (por
ricardiano suposto, diferentes) em cada país antes
do comércio:

• Então, precisamos entender como o


preço internacional é determinado.
• Os preços dos bens comercializados
O comércio internacionalmente, assim como outros, são
determinados pela oferta e pela demanda.
internacional • Porém, quando discutimos vantagem
no modelo comparativa devemos aplicar a análise de
oferta e demanda com cuidado.
ricardiano • Em determinados contextos, é aceitável que
se enfoquem a oferta e a demanda em um
único mercado.
• Ao avaliar os efeitos das cotas de importação
de açúcar dos Estados Unidos, por exemplo, é
razoável utilizar a análise de equilíbrio parcial.
• Contudo, quando estudamos a vantagem
O comércio comparativa, é crucial ter em mente as relações
entre os mercados.
internacional • Nesse caso, é necessária uma análise de equilíbrio
geral que leve em conta as ligações entre os dois
no modelo mercados.
ricardiano • Uma forma simples de acompanhar dois mercados
simultaneamente é enfocar não apenas as
quantidades de queijo e vinho ofertadas e
demandadas, mas também a oferta e a demanda
relativas.
• Isto é, o número de quilos de queijo ofertados ou
demandados dividido pelo número de litros de
vinho ofertados ou demandados.
O comércio
internacional
no modelo
ricardiano

As curvas DR e DR’ mostram que


a demanda relativa por queijo em
relação a vinho é uma função
decrescente do seu preço
relativo, enquanto a oferta
relativa OR é uma função
crescente.
• A curva OR mostra que não há oferta de
O comércio queijo se o preço mundial estiver abaixo
internacional de , pois tanto a economia do país local
quanto a do estrangeiro estariam
no modelo especializadas na produção de vinho:
ricardiano
• A curva OR também mostra que, quando
, os trabalhadores do país local estariam
indiferentes entre produzir queijo ou
vinho, enquanto os do estrangeiro só
aceitariam produzir vinho.
• Ou seja: sem que o preço relativo
O comércio mude, as quantidades relativas
internacional ofertadas poderiam variar.
• Por este motivo, a curva OR aparece
no modelo como uma seção plana quando:
ricardiano
• Na sequência, as economias do país
local e do estrangeiro estariam
especializadas, respectivamente em
queijo e em vinho, quando:
O comércio • Nesta última situação, a economia
internacional local produziria quilos de queijo, e a
do estrangeiro, litros de vinho para
no modelo quaisquer preços entre e , produzindo
ricardiano a seção vertical da curva OR com a
quantidade relativa de queijo, em
termos de vinho, ofertada na
economia mundial igualada a:
O comércio • Por fim, quando , os trabalhadores do
internacional estrangeiro ficam indiferentes entre
produzir queijo ou vinho, enquanto os
no modelo do local só produzem queijo. Neste
ricardiano caso, temos a última seção horizontal
da curva OR.
• A declividade negativa da curva DR, por
sua vez, reflete o efeito-substituição da
mudança no preço relativo.
• Um modo de visualizar os ganhos mútuos
Os ganhos do do comércio é examinar como as
comércio no possibilidades de consumo são ampliadas
em cada país.
modelo • Na ausência de comércio, as possibilidades
ricardiano de consumo são iguais às de produção.
• Com o comércio, cada país se especializa
de acordo com seu padrão de vantagens
comparativas e consegue comprar mais do
produto importado em relação ao que
seria capaz de produzir por conta própria.
Os ganhos do
comércio no
modelo
ricardiano

As linhas TF e F*T*
expandem para além da
fronteira de produção
após o comércio.
Os ganhos do • Outra forma de demonstrar a
comércio no possibilidade dos ganhos de comércio
modelo é tratar o comércio como um método
indireto de produção.
ricardiano • O método indireto se revela mais
eficiente que a produção direta nos
dois países:
Um exemplo
numérico

Suponha que, no
equilíbrio do comércio
na economia
internacional,
• Para converter os resultados do nosso exemplo
numérico em dólares, vamos supor que = = $12.
Salários • Nesse caso, a hora trabalhada no Local produz
um quilo de queijo e será remunerada em = $12.
relativos • A hora trabalhada no Estrangeiro produz um
terço de litro de vinho e será remunerada em =
$4.
• O salário relativo dos trabalhadores do Local será
igual a três vezes o do Estrangeiro.
• O salário relativo não depende do preço absoluto
do queijo ou do vinho, mas apenas do preço
relativo.
• Para converter os resultados do nosso exemplo
numérico em dólares, vamos supor que = = $12.
Salários • Nesse caso, a hora trabalhada no Local produz
um quilo de queijo e será remunerada em = $12.
relativos • A hora trabalhada no Estrangeiro produz um
terço de litro de vinho e será remunerada em =
$4.
• O salário relativo dos trabalhadores do Local será
igual a três vezes o do Estrangeiro.
• O salário relativo não depende do preço absoluto
do queijo ou do vinho, mas apenas do preço
relativo.
Salários e
produtividade
do trabalho
• Suponha agora que cada país consuma
e produza um grande número de bens,
Modelo com N diferentes bens.
• Atribuímos a cada um desses bens um
N bens índice, de 1 a N.
• Para qualquer bem, podemos calcular
a razão entre as necessidades unitárias
de trabalho de cada setor do Local e do
Estrangeiro, , e ordenamos:
• O produto indexado com o número 1 é
aquele com maior produtividade relativa do
trabalho no país local, em relação ao
Modelo com estrangeiro.
N bens • Será mais barato produzir no país local
quando . Seja:

• Então, os primeiros produtos serão


produzidos localmente e os demais no
estrangeiro.
Modelo com
N bens
• Uma unidade de tâmara, no exemplo, requer 12
horas de trabalho no Estrangeiro, que podem ser
adquiridas com quatro horas de trabalho local.
• No Estrangeiro, o custo da maçã importada será
Exemplo numério: equivalente a três horas do seu próprio trabalho,
suponha contra dez horas que seriam consumidas por
unidade produzida diretamente.
• Ao fazer esses cálculos, simplesmente
supusemos que o salário relativo fosse igual
a três. Mas, como se determina esse salário
Modelo com relativo?
N bens • Nesse caso, é necessário examinar a
demanda relativa por trabalho que resulta
da demanda direta dos consumidores pelos
bens que são produzidos com o de trabalho
de cada país.
• A demanda derivada relativa pelo trabalho
do Local diminui quando o salário relativo
do Local aumenta, por dois motivos.
• Primeiro, conforme o trabalho do Local se
torna mais caro em relação ao do Estrangeiro,
os bens lá produzidos se tornam relativamente
Modelo com mais caros, e a demanda mundial por eles cai.
N bens • Se o salário do Local aumentasse para 3,99
vezes o do Estrangeiro, o padrão de
especialização não mudaria, mas a demanda
relativa pelos bens produzidos no Local
diminuiria à medida que se tornassem
relativamente mais caros.
• Segundo, à medida que os salários do Local
aumentam, menos bens são produzidos nesse
país.
• Suponha que o salário aumente para
4,01: a produção de caviar agora seria
Modelo com mais barata no Estrangeiro, provocando
uma queda abrupta da demanda relativa
N bens por trabalho no Local.
• Se o salário relativo do Local continuasse
a aumentar, a demanda relativa pelo seu
trabalho declinaria gradualmente até cair
novamente de maneira abrupta no valor
de oito, em que a produção de bananas
também mudaria para o Estrangeiro.
Modelo com
N bens

O salário relativo de
equilíbrio com comércio
internacional é
determinado pela
interseção entre DR e OR.
• Os custos de transporte não alteram o
princípio fundamental da vantagem
Custos de comparativa e sua implicação para a análise
transporte e dos ganhos do comércio.
bens não • Todavia, impõem obstáculos ao movimento
comercializáveis dos bens e serviços.
• No exemplo da seção anterior, concluímos que
ao salário relativo , o Local produziria maçãs,
bananas e caviar, e o Estrangeiro tâmaras e
enchiladas.
• Na ausência de custos de transporte, o Local
exportaria os três primeiros bens e importaria
os dois últimos.
• Por exemplo, com um custo de transporte de
100%, a tâmara importada custaria 24 horas
Custos de estrangeiras ou oito horas locais, e seu comércio
transporte e deixaria de existir.
• Cada país produziria o bem para si mesmo, e este
bens não se tornaria um bem não comercializável (non-
comercializáveis tradable).
• De modo análogo, o Estrangeiro deixaria de
importar caviar. Uma unidade de caviar requer 12
horas no Estrangeiro ou três horas locais, que
equivalem a nove horas no Estrangeiro.
• Com o custo do transporte, o caviar local custaria o
equivalente a 18 horas no Estrangeiro, e seria mais
vantajoso produzi-lo no próprio país.
• Nesse exemplo, supusemos que os custos de
Custos de transporte são a mesma fração do valor de
produção de todos os bens, mas na prática
transporte e existe uma ampla gama de custos, sendo que
bens não em alguns casos o comércio é praticamente
comercializáveis impossível (cortes de cabelo, por exemplo).
• Bens com elevada razão peso/valor, como o
cimento, são pouco frequentes no comércio
internacional.
• O ponto relevante é que os países gastam
uma grande fração da sua renda com bens
não comercializáveis.
• O modelo ricardiano é uma ferramenta muito
útil para pensarmos nos motivos pelos quais o
comércio pode ocorrer, e nos efeitos do
Evidências comércio internacional sobre o bem-estar
empíricas nacional.
• Também é um modelo que se ajusta bem aos
dados do mundo real, e permite fazer
previsões precisas sobre os fluxos efetivos de
comércio internacional.
• Entretanto, também faz projeções
equivocadas em vários aspectos, e se tomado
fora de contexto pode induzir recomendações
inadequadas de política econômica.
• O modelo ricardiano simples prevê um
grau extremo de especialização que
Evidências não observamos no mundo real.
• Supõe que não haja efeitos sobre a
empíricas distribuição de renda dentro de cada
país e que, portanto, todos poderiam
ganhar com a adoção do livre-comércio.
• Ignora o papel das economias de escala,
das externalidades e do aprendizado
tecnológico através da experiência para
o desenvolvimento econômico.
• Apesar dessas falhas, a previsão básica do
modelo – de que os países tendem a exportar
os bens com produtividade interna acima da
Evidências média local – tem sido confirmada
empíricas exaustivamente ao longo dos anos.
• O estudo clássico de MacDougall é uma
referência na literatura, e compara
produtividade e comércio entre a Inglaterra e
os Estados Unidos.
• No período ao qual os dados se referem, a
indústria norte-americana tinha uma
produtividade cerca de duas vezes maior do
que a britânica.
• Em 12 setores, entretanto, a Grã-
Bretanha teve exportações maiores
Evidências que os Estados Unidos.
empíricas • As exportações norte-americanas
foram maiores que as inglesas apenas
nos setores em que a produtividade
dos Estados Unidos era mais do que o
dobro da britânica.
• Esse era o nível em que se situava a
diferença salarial entre os dois países.
Evidências
empíricas
• A demonstração recente mais evidente da
validade da teoria das vantagens
Evidências comparativas ricardianas foi o surgimento
da China como uma potência exportadora.
empíricas • De modo geral, a produtividade do
trabalho na manufatura chinesa, embora
crescente, permanece abaixo dos padrões
norte-americanos ou europeus.
• Em alguns setores, entretanto, essa
desvantagem não é impedimento para a
competitividade da manufatura chinesa.
• À época, a produtividade chinesa representava em média
somente 5% da alemã, e a produção total da manufatura
chinesa correspondia a 70% do total alemão.
Evidências • No setor de vestuário, porém, a produtividade chinesa
chegava a cerca de 20% da observada na Alemanha.
empíricas • Conforme previsto pelo modelo ricardiano, a produção
total de confecções da China era oito vezes maior que a
alemã.

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