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CAPITAL DE GIRO E DESEMPENHO DE EMPRESAS

AGROINDUSTRIAIS
WORKING CAPITAL AND PERFORMANCE OF AGROINDUSTRY COMPANIES

Fabiana Ferreira da Silva Sérgio Silva Braga Júnior


Universidade Estadual Paulista – Brasil. Universidade Estadual Paulista – Brasil.
fabianaferreiraufv@gmail.com sergio.braga@unesp.br

Submissão: 28 Jun. 2019. Aceitação: 01/09/2019.


Edemar Ferrarezi Junior
Universidade Estadual Paulista – Brasil. Publicação: 30 Set. 2019. Sistema de avaliação: Double
edemar.junior@fatectq.edu.br
blind review. Universidade FUMEC / FACE, Belo Horizonte -
MG, Brasil. Editores: Prof. Dr. Mário Teixeira Reis Neto e Prof.
David Ferreira Lopes Santos Dr. Cid Gonçalves Filho.
Universidade Estadual Paulista – Brasil.
david.lopes@unesp.br

RESUMO

O objetivo deste estudo foi analisar a influência da gestão do capital de giro


no desempenho econômico e financeiro das empresas do agronegócio bra-
sileiro, a partir das variáveis do Modelo de Fleuriet e dos indicadores de
rentabilidade. De natureza descritiva e tendo como universo da pesquisa as
empresas listadas na bolsa de valores de São Paulo [B3], no período de 2011 a
2017, do segmento econômico do agronegócio. As principais constatações do
Modelo de Fleuriet foram de que a necessidade de capital de giro é positiva
para mais de 92% das empresas, mesmo comportamento apresentado pela
maioria das empresas brasileiras, onde 55% delas, apresentam uma estrutura
de financiamento do capital de giro inadequada. Além disso, somente 33%
apresentam liquidez e rentabilidade positiva, o que reforça a importância da
estratégia de financiamento do capital de giro adequada às características do
negócio e a extensão de seu ciclo financeiro.

PALAVRAS-CHAVE

Resultado financeiro. Capital de giro. Agronegócio. Modelo de Fleuriet. Liquidez.


FABIANA FERREIRA DA SILVA, EDEMAR FERRAREZI JUNIOR, DAVID FERREIRA LOPES SANTOS, SÉRGIO SILVA BRAGA JÚNIOR

ABSTRACT

This study aimed to analyze the influence of working capital management on the
economic and financial performance of Brazilian agribusiness companies based
on the variables of Fleuriet Model and profitability indicators. It is a descriptive
study concerning agribusiness companies listed in São Paulo Stock Exchange [B3]
between 2011 and 2017. With regards to Fleuriet Model, the main findings show
that the need for working capital by more than 92% of companies was positive;
most Brazilian companies presented this same behavior, with 55% of them showing
inadequate working capital financing structure. Besides, only 33% of the companies
presented positive liquidity and profitability, which reinforces the importance of
working capital financing strategy appropriate to the characteristics of the business
concerning the extension of its financial cycle.

KEYWORDS

Financial result.,Working capital. Agribusiness. Fleuriet model. Financial liquidity.

INTRODUÇÃO ta mais de 22% do Produto Interno Bruto


O agronegócio é o conjunto de ativida- (PIB) do Brasil e apresenta estimativas de
des relacionadas à cadeia produtiva da agro- alta para 2018; as perspectivas de aumento
pecuária (NAGAOKA et al., 2011; SOUZA giram em torno de 3,42%, sendo composto
et al., 2012). O termo agronegócio (agri- pelos segmentos de insumos para a agro-
business) surgiu nos EUA em 1957, tendo pecuária, produção agropecuária básica, ou
como autores John Davis e Ray Goldberg, primária, agroindústria e agrosserviços.
eles revelaram o agronegócio como uma Gerenciar as organizações que com-
atividade sistêmica congregando todos os põem o agronegócio é desafiador, pois as
processos de produção agrícola e/ou pecu- decisões a serem tomadas estão envoltas
ária até o consumidor final (NOVAES et al., a um ambiente de riscos e incertezas, em
2010; KATCHOVA; ENLOW, 2013). que o desenvolvimento e a adoção de tec-
O agronegócio possui importância sig- nologias inovadoras são essenciais para o
nificativa para a economia brasileira, pois sucesso financeiro do negócio e há a ne-
é responsável por abastecer a população cessidade de acompanhar as mudanças
interna, garantindo segurança alimentar ao estruturais e institucionais para se manter
país e se destaca pela geração de emprego no mercado (BOEHLJE; ROUCAN-KANE;
e renda, sendo responsável por empregar BRÖRING, 2011).
aproximadamente 16 milhões de brasilei- O negócio que envolve as atividades
ros (IBGE, 2018). da agricultura e pecuária é altamente in-
De acordo com o CEPEA (2018) o volu- constante, considerando tanto a produção,
me econômico do agronegócio represen- quanto o mercado (BOEHLJE; ROUCAN

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-KANE; BRÖRING, 2011; GILL et al., 2018). é uma área de menor dimensão teórica
Os processos que compõem a produção nas finanças corporativas, ainda que sua má
estão suscetíveis a pragas e doenças, além gestão seja a principal causa para a morta-
de variações climáticas, pluviométricas e de lidade de empresas (REIS; SANTOS, 2017).
temperatura, todas essas variáveis podem Nesta corrente, há um debate teórico en-
refletir na eficiência da produção, com re- tre os modelos de gestão de capital de giro
flexos na oferta de produtos e, com efeito, baseado nos indicadores estáticos de liqui-
na flutuação dos preços que impactam di- dez e os indicadores dinâmicos extraídos
retamente no fluxo de caixa dos agentes do Modelo Fleuriet para a gestão do capital
envolvidos (BOEHLJE; ROUCAN-KANE; de giro (MARQUES; BRAGA, 1995; MEDEI-
BRÖRING, 2011; LAKNER; BAKER, 2014). ROS; RODRIGUES, 2004; SILVA et al., 2012;
Concorre à volatilidade das atividades CAMARGOS; CAMARGOS; LEÃO, 2014).
agropecuárias, as dinâmicas de mercado Apesar de alguns estudos empíricos va-
que perpassam por diferenças de regula- lidarem a abordagem do Modelo Fleuriet
mentação e políticas públicas de subsídios para a gestão do capital de giro, o uso de in-
entre países, mudança no perfil do consu- dicadores desta abordagem dinâmica para
mo de alimentos, bebidas e demais produ- a gestão do capital de giro ainda é pouco
tos agropecuários, taxa de câmbio, disponi- explorada na literatura de finanças, bem
bilidade de crédito, legislação ambiental e como, no meio empresarial, em que os in-
trabalhista, inovações tecnológicas, o nível dicadores de liquidez (imediata, corrente,
de renda da população e a própria com- seca e geral) são proeminentes. Não obs-
petitividade entre empresas e produtores tante, Medeiros e Rodrigues (2004) ques-
(SCHOUCHANA; SILVA FILHO, 2009). tionam a eficácia do Modelo Fleuriet frente
Em se tratando da administração do aos indicadores tradicionais de liquidez.
capital de giro, o desafio para os gestores Portanto, este estudo se posiciona em
é maior nas empresas associadas ao agro- um gap teórico e prático não totalmente
negócio, pois além das incertezas produti- desenvolvido na área de finanças corpo-
vas e de mercado (AMBROZINI; MATIAS; rativas quanto a importância da gestão do
PIMENTA JÚNIOR, 2014); adiciona-se ca- capital de giro no desempenho econômi-
racterísticas específicas do setor como a co e financeiro das empresas. De maneira
perecibilidade dos produtos, a sazonalida- formal, define-se o objetivo deste estudo
de e a dependência logística para equilibrar como: Analisar a influência da gestão do capi-
volumes de produção concentrados com tal de giro no desempenho econômico e finan-
consumo pulverizado (MOORI; CALDEI- ceiro das empresas do agronegócio no Brasil.
RA; PROCÓPIO, 2013). A análise tem como referência as empre-
Pesquisas associadas à gestão do capital sas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo,
de giro para o setor ainda concentram- integrantes do segmento do agronegócio.
se em casos específicos (KATCHOVA; Para alcançar o objetivo desse estudo, o
ENLOW, 2013); de modo que não foram artigo foi estruturado em mais quatro se-
encontrados estudos de larga amplitude ções para além desta introdução. A próxi-
e longitude para o setor do agronegócio. ma seção aborda as bases teóricas que su-
Ressalva-se que a gestão do capital de giro portam as hipóteses do estudo. A terceira

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seção apresenta as fontes de informações valor em dinheiro que a empresa precisa para
empíricas utilizadas e os procedimentos honrar com seus compromissos dentro dos
adotados para extrair os resultados que prazos estabelecidos (REIS; SANTOS, 2017).
são elencados e discutidos na quarta seção. A ineficaz administração do capital de
As implicações deste estudo, bem como giro tem contribuído para o fechamento de
limitações e sugestões futuras estão nas micro e pequenas empresas brasileiras, por
considerações finais, a quinta seção. A lista- possuírem registros contábeis vulneráveis
gem das referências utilizadas encontra-se e inadequado controle gerencial (CARVA-
na bibliografia que encerra o artigo. LHO; SCHIOZER, 2012), ao contrário, a
gestão adequada do capital de giro, gestão
REVISÃO TEÓRICA do ativo e passivo circulante, influenciam
Esta seção apresenta as teorias que nor- diretamente na liquidez e rentabilidade das
teiam a gestão do capital de giro, o modelo empresas contribuindo para o sucesso da
de Fleuriet e a análise sobre o desempenho organização (BORGES JUNIOR et al., 2017).
econômico e financeiro. Para Masri e Abdulla (2018), o nível de
capital de giro é uma das principais decisões
Gestão do Capital de Giro financeiras que afetam o valor de uma em-
Administrar o capital de giro está intima- presa, a riqueza dos acionistas, a competitivi-
mente relacionado a decisões de compra dade, a liquidez e a lucratividade. Importante
e venda e também às atividades operacio- lembrar que o capital de giro necessita de
nais e financeiras de uma empresa (ASSAF acompanhamento permanente, pois continu-
NETO; LIMA, 2014). É necessário que haja amente sofre impactos das diversas mudan-
adequada gestão dos estoques, compra de ças enfrentadas pela empresa, podendo ser
materiais, produção, venda de produtos e internas ou externas (ZOUAIN, 2011).
prazo de recebimento, para garantir uma Para Herling et al. (2017) o gestor finan-
gestão do capital de giro eficiente (ASSAF ceiro da empresa poderá se deparar com
NETO; LIMA, 2014; HERLING et al., 2013). decisões de investimento, de financiamento
O capital de giro compreende os recursos e de operações; sabendo que o capital pode
aplicados no ativo circulante da empresa, que ser composto de recursos próprios, oriun-
por sua vez são necessários à manutenção de do dos próprios acionistas ou de terceiros,
todo ciclo operacional da organização. Dessa que geralmente são instituições financeiras
maneira, o ativo circulante, faz parte do gru- ou outros fornecedores de capital. Sendo
po de maior liquidez representado no ativo assim, cada fonte de captação terá um custo
da empresa, afetando e sendo afetado, signi- diferenciado, sendo este um grande desafio
ficativamente, pelas atividades operacionais do gestor, pois avaliar quais as fontes de fi-
(ASSAF NETO; LIMA, 2014). nanciamento ideais para empresa é um pon-
Faz-se importante saber que o entendi- to importante para a boa gestão financeira.
mento sobre capital de giro está relacionado Após a disponibilidade destes recursos,
diretamente à necessidade de dinheiro. Sen- o gestor financeiro encontra mais uma di-
do que essa necessidade indica o montante ficuldade, a necessidade de aplicá-lo. Elen-
de recursos, doravante, que a empresa pre- cando as decisões de investimento, avalian-
cisa para financiar suas operações, ou seja, o do se o emprego dos recursos superará

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seu custo de captação, e se irão gerar o dor francês Michel Fleuriet (MARQUES; BRA-
retorno esperado de acordo com o plane- GA, 1995; MEDEIROS; RODRIGUES, 2004;
jamento (HERLING et al., 2017). CAMARGOS; CAMARGOS; LEÃO, 2014).
Contudo, a não utilização de ferramen- O modelo de Fleuriet reclassifica as con-
tas gerenciais resultará em uma má gestão tas do ativo e passivo circulante do balan-
do capital de giro, poderá vir a resultar em ço patrimonial, com base na natureza dos
dificuldades financeiras, gerando fatores itens que o compõem, em operacionais ou
condicionantes à mortalidade da empresa cíclicas, diretamente relacionadas às ativi-
(NEITZKE et al., 2011). dades da empresa e financeiras ou erráti-
Dentro deste contexto, tem-se a contri- cas, não relacionadas ao ciclo operacional
buição do modelo Fleuriet para realização da empresa, com essa definição torna-se
da análise do investimento em capital de possível analisar o equilíbrio financeiro da
giro e sua gestão, gerando resultados que organização (ARAÚJO; COSTA; CAMAR-
permitam inferências na tomada de deci- GOS, 2013; CAMARGOS; CAMARGOS;
sões da organização. Lembrando que a cor- LEÃO, 2014; ZANOLLA; SILVA, 2017).
reta aplicação do modelo Fleuriet permite O Quadro 1 mostra a reclassificação das
identificar a necessidade de investimento contas do ativo e passivo circulantes, con-
no giro dos negócios e o volume necessário forme sugerido pelo modelo dinâmico.
de recursos de longo prazo que financiam o O modelo de Fleuriet possibilita uma
giro (NASCIMENTO et al., 2012). visão sistêmica da organização e econômi-
co-financeira de curto prazo, utilizando-se
Modelo Fleuriet de três variáveis: necessidade de capital de
O modelo de Fleuriet surgiu na década de giro (NCG), capital de giro (CDG) e saldo
1980, também conhecido por Análise Avança- de tesouraria (ST) (MODRO; FAMÁ; PE-
da ou ainda Análise Dinâmica do Capital de TROKAS, 2012; SILVEIRA; ZANOLLA; MA-
Giro, desenvolvido pelo professor e pesquisa- CHADO, 2015; ZANOLLA; SILVA, 2017).

QUADRO 1 – Reclassificação das contas do balanço patrimonial modelo de Fleuriet


ATIVO PASSIVO
CIRCULANTE CIRCULANTE
Contas Financeiras Contas Financeiras
Caixa Empréstimos de curto prazo
Bancos Dividendos
Aplicações financeiras IR a recolher
Contas Operacionais Contas Operacionais
Contas a receber Fornecedores
Estoques Salários a pagar
Despesas antecipadas etc. Impostos sobre operações etc.
NÃO CIRCULANTE NÃO CIRCULANTE
Contas Não Operacionais Contas Não Operacionais
Realizável a longo prazo Exigível a longo prazo
Permanente Resultados de exercícios futuros
  Patrimônio Líquido
Fonte: Elaborado pelos autores (2018)

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A necessidade de capital de giro (NCG) O CDG é uma fonte de recursos finan-


é calculada a partir da diferença entre o ceiros permanentes, representa os recur-
ativo circulante operacional (ACO) e o sos que são demandados para financiar as
passivo circulante operacional (PCO), atividades operacionais da empresa, que
composto pelas contas do ativo e passi- vai desde a compra da matéria-prima, até a
vo circulante, relacionadas com as ope- venda do produto acabado (CAVALCAN-
rações da empresa (MEDEIROS; RODRI- TI; LONGHIN, 2016).
GUES, 2004); o capital de giro (CDG) é a O ST representa o nível de utilização
diferença entre o ativo circulante (AC) e de recursos de terceiros de curto prazo,
o passivo circulante (PC), itens que circu- ou seja, passivos onerosos utilizados para
lam várias vezes em um período específi- financiar a NCG (CAMARGOS; CAMAR-
co (ASSAF NETO e LIMA, 2014); o saldo GOS; LEÃO, 2014), o ideal é que o AC-
de tesouraria (ST) é obtido pela diferença F>PCF, assim a empresa não irá demandar
entre o ativo circulante financeiro (ACF) recursos onerosos de curto prazo para o
e o passivo circulante financeiro (PCF), o financiamento de suas operações, sobran-
saldo resultante desse cálculo está asso- do recursos de curto prazo para serem
ciado ao equilíbrio financeiro da empresa aplicados (CAMARGOS; CAMARGOS;
(MEDEIROS; RODRIGUES, 2004). LEÃO, 2014), o ST positivo significa dis-
O Quadro 2, mostra como são calculadas ponibilidade de recursos que garantem
as variáveis do modelo de Fleuriet a partir liquidez de curto prazo, ou seja, existem
dos subgrupos do balanço patrimonial. recursos excedentes para serem utiliza-
Utilizada com a finalidade de análise ge- dos nas operações correntes da empresa,
rencial, a NCG surge quando as saídas de o ST negativo representa endividamento,
caixa ocorrem antes mesmo das entradas recursos financeiros de terceiros estão fi-
de caixa, sendo necessária a aplicação de nanciando a atividade (AMBROZINI; MA-
fundos operacionais para que o ciclo finan- TIAS; PIMENTA JÚNIOR, 2014).
ceiro seja positivo; a variável é sensível às Analisando de forma conjunta os três
alterações do ambiente econômico, e de- indicadores do modelo dinâmico a partir
pendendo da operação pode ser negativa. da estrutura do balanço patrimonial, o mo-
O desejável é que a NCG seja composta delo de Fleuriet, propõe perfis financeiros
pelo ACO<PCO, pois assim a empresa irá que permitem a análise de empresas, con-
financiar suas operações com recursos de forme Quadro 3 (CAMARGOS; CAMAR-
curto prazo, e a sobra de recursos inves- GOS; LEÃO, 2014).
tida em aplicações financeiras (CAMAR- O perfil tipo I, a situação financeira é
GOS; CAMARGOS; LEÃO, 2014). excelente, alto nível de liquidez, uma vez

QUADRO 2 – Variáveis modelo dinâmico e sua composição


VARIÁVEL COMPOSIÇÃO

Necessidade de Capital de Giro (NCG) Ativo Circulante Operacional (ACO) - Passivo Circulante Operacional (PCO)

Capital de Giro (CDG) Ativo Circulante (AC) – Passivo Circulante (PC)


Saldo de Tesouraria (ST) Ativo Circulante Financeiro (ACF) – Passivo Circulante Financeiro (PCF)
Fonte: Elaborado pelos autores (2018)

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QUADRO 3 – Perfis financeiros de análise do modelo de Fleuriet


TIPO PERFIL FINANCEIRO CDG NCG ST
I Excelente + - +
II Sólido + + +
III Insatisfatório + + -
IV Alto Risco - - +
V Muito Ruim - - -
VI Péssimo - + -
Fonte: Elaborado pelos autores, a partir da revisão da literatura (2018)

que o ST positivo representa reserva de essa análise ocorra primeiramente define-


caixa. O perfil tipo II, perfil sólido, apre- se o objeto a ser mensurado (AZEREDO;
senta NCG positiva, o que a diferencia SOUZA; MACHADO, 2009).
do perfil I, mesmo assim, o CDG conse- A análise de desempenho econômico-fi-
gue financiar a NCG, ou seja, é suficien- nanceiro é processo que permite à empresa
te, e ainda há sobra de recursos. O per- uma autoavaliação, comparando os resulta-
fil tipo III, situação insatisfatória, o CDG dos planejados com os obtidos. Ainda para
financia apenas parte da NCG, CDG < Azeredo, Souza e Machado (2009), a análise
NCG, a diferença precisa ser financiada de desempenho empresarial apresenta várias
por recursos de curto prazo. O perfil abordagens e metodologias que auxiliam os
tipo IV, de alto risco, pois o CDG esta- usuários no processo de tomada de decisão.
ria aplicando recursos no curto prazo e Para Bueren, Starosky Filho e Krespi
ainda assim não se mostra rentável. O (2014), o desempenho financeiro de uma
perfil tipo V, muito ruim, financia seus ati- empresa é o resultado que se obtém da di-
vos não circulantes com empréstimos de visão do valor do Lucro Líquido pelo valor
curto prazo e NCG negativas. O perfil do Patrimônio Líquido, gerando um valor,
tipo VI, situação financeira péssima, re- chamado de ROE (Retorno sobre o Patri-
laciona-se à dificuldade de cumprir com mônio). O ROE mensura a rentabilidade de
as obrigações, pois os recursos de curto uma empresa ao revelar o quanto de lucro
prazo financiam a NCG e o ativo perma- a companhia gera com o dinheiro investido
nente (REIS; SANTOS, 2017; SOUZA et pelos acionistas.
al., 2017). Para Assaf Neto e Lima (2014), a análi-
se de demonstrações financeiras visa fun-
Análise de Desempenho damentalmente o estudo do desempenho
Econômico-Financeiro econômico e financeiro em um determina-
A análise de desempenho econômico- do período passado, para diagnosticar sua
financeiro cria condições para avaliar se o posição atual produzindo resultados que
planejamento previamente realizado foi al- sirvam de base para previsão de tendên-
cançado ou não, permitindo se necessário cias futuras.
um realinhamento estratégico da corpora- Contudo, o que se pretende avaliar são
ção. Através da realização de uma “análise as reflexões que as decisões financeiras to-
comparativa entre os resultados planeja- madas por uma determinada empresa de-
dos e os resultados efetivos” e, para que terminam sobre sua liquidez, estrutura pa-

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trimonial e rentabilidade (ASSAF NETO; lizadas as variáveis dinâmicas do modelo de


LIMA, 2014). Fleuriet, com dados oriundos do balanço
patrimonial (FLEURIET; ZEIDAN, 2015),
METODOLOGIA além dos indicadores do Quadro 2 e os
O estudo em questão é de natureza dois principais indicadores de rentabilida-
descritiva, tendo por objetivo analisar a de reportados na literatura (ASSAF NETO;
influência da gestão do capital de giro no LIMA, 2014), conforme as equações 1 a 4:
desempenho econômico e financeiro das
empresas do agronegócio no Brasil. (01)
A dimensão temporal utilizada possui
característica longitudinal, que de acordo
com Cooper e Schindler (2003), permite (02)
acompanhar mudanças por um período
longo do tempo, o que remete ao proposto (03)
para esta análise, ou seja, período posterior
à crise no Brasil, que findou em meados de (04)
2009 (NASCIMENTO et al., 2012). Os indicadores de Equilíbrio Financeiro
O universo da pesquisa são as empresas (EF) e Coeficiente de Efeito Tesoura (CET)
listadas na B3; como não existe um setor são desdobramento do modelo dinâmico
específico que congregue as empresas com utilizados para efeitos de comparação da
atuação no agronegócio, em razão da trans- estrutura de liquidez “dinâmica” das em-
versalidade desta atividade, foram selecio- presas, bem como, direcionar para o pro-
nados os seguintes segmentos econômicos, cesso de tomada de decisão da dimensão
com base na North American Industry Classifi- da folga financeira em CDG ou ST frente à
cation System (NAICS): Agricultura, pecuária receita (REIS; SANTOS, 2017).
e silvicultura; indústria de alimentos; indús- Quanto à abordagem a pesquisa é quan-
tria de bebidas e fumo; indústria de fios e titativa, por meio da análise de estatística
tecidos; indústria de artigos de madeira; in- descritiva das medidas de posição e dis-
dústria de papel; indústria de fertilizantes e persão, bem como os cálculos financeiros
pesticidas e indústria de máquinas agrícolas, e sua organização gráfica para análise, a
de construção e mineração partir das informações descritivas.
Inicialmente 35 (trinta e cinco) empresas
foram identificadas, contudo, somente 27 ANÁLISE DOS RESULTADOS
(vinte e sete) foram selecionadas em razão Com o objetivo de analisar a influência
da disponibilidade completa dos dados finan- da gestão do capital de giro no desempe-
ceiros no período analisado (2011-2017) e nho econômico e financeiro das empresas
por não incluir na amostra, as empresas em do agronegócio no Brasil, serão apresenta-
processo de recuperação judicial. Os dados dos os resultados das estatísticas descriti-
financeiros foram levantados junto ao Siste- vas conforme Tabela 1.
ma Economatica® trimestralmente o que ga- A média da variável de rentabilidade ROI
rantiu uma série temporal com 27 empresas. foi de 6,09% positivo, ou seja, considerando o
Para a realização das análises, foram uti- valor médio, houve ganho, os retornos supe-

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raram os custos, podendo o investimento ser que compõem o Euro Stoxx 50 apresentam
considerado lucrativo no período analisado. NCG negativa.
Já a variável de rentabilidade ROE, apre- Utilizando-se dos tipos de perfil finan-
sentou média de -0,04% negativo, ou seja, os ceiro para essa análise, com ST+ e NCG+,
recursos aplicados nas empresas pelos pro- fica evidente que as empresas do agrone-
prietários não estão auferindo lucro, o re- gócio analisadas, apresentam uma situação
sultado médio encontrado não foi bom, pois financeira sólida.
esse índice quanto maior melhor, a capaci- A Figura 1 representa a situação finan-
dade da gestão das empresas de obter lucro ceira das empresas do agronegócio, com
para cada unidade de capital é negativa, ou base nos perfis de análise do modelo de
seja, em média as empresas do agronegócio Fleuriet conforme Quadro 3. Estão ran-
não geraram retorno para os investidores. queadas nos quadrantes pelos tipos de
A variável ROE apresentou desvio-pa- perfis financeiros, e elencadas da mais ren-
drão muito próximo de zero, os dados das tável para a menos rentável considerando
empresas analisadas encontram-se todos a variável ROI.
muito próximos da média, resultando em Considerando as 27 empresas analisadas,
pouca dispersão, o que confirma um resul- 37,04% estão no Tipo II, classificado como
tado desfavorável para os investidores. sólido, CDG+, NCG+ e ST+, 40,74,% encon-
O ST apresentou média positiva, as em- tram-se no Tipo III, insatisfatório, CDG+,
presas do agronegócio objeto desse estu- NCG+ e ST-, 3,7% encontram-se no perfil
do, possuem recursos suficientes para lidar financeiro Tipo IV, classificado como alto ris-
com as obrigações financeiras, possuem va- co, CDG-, NCG- e ST+, 3,7% no Tipo V, muito
lores em caixa e aplicações financeiras su- ruim, com CDG-, NCG- e ST- e 14,81% no
periores aos empréstimos e financiamen- Tipo VI, péssimo, CDG-, NCG+ e ST-.
tos de curto prazo. O ST positivo mostra O modelo de Fleuriet não considera a
que existem fundos de curto prazo que variável rentabilidade em suas análises, a
poderão ser aplicados em títulos de liqui- rentabilidade das empresas do agronegócio
dez imediata, mesmo o comportamento analisadas nesse estudo, demonstram que a
mediano sendo negativo. empresa pode ter sido considerada de alto
Apenas um terço das maiores empresas risco para o modelo de Fleuriet, e apresentar
brasileiras, apresentam NCG negativa, re- uma alta rentabilidade, ser lucrativa no perío-
cebem antes de desembolsarem, já na Eu- do analisado e gerar retorno significativo para
ropa, 50% dos maiores grupos industriais os investidores, como é o caso da Ambev.
TABELA 1 – Resultados estatísticas descritivas
Variável Média Mediana Desv. Padrão C.V.
ROI 6,09% 4,75% 8,69% 142,88%
ROE -0,04% 0,00% 0,86% 2242,30%
ST R$ 475.250,00 -R$ 12.935,00 R$ 1.828.700,00 R$ 3,85
NCG R$ 709.890,00 R$ 163.130,00 R$ 2.695.400,00 R$ 3,80
EF 24,11% 28,09% 337,82% 1401,30%
CET -21,25% -5,40% 274,97% 1294,10%
Fonte: Elaborado pelos autores (2018)

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A empresa Excelsior, está classificada no quanto o ROI são positivos, ou seja, ao


perfil sólido, conforme modelo de Fleu- mesmo tempo essas empresas estão sen-
riet, e considerando o sentido da palavra, a do rentáveis, os ganhos estão superando
empresa apresenta retornos consistentes, os custos e o faturamento está sendo
tanto sobre o investimento quanto sobre suficiente para cobrir todas as despesas
o patrimônio líquido. fixas e variáveis resultantes das suas ati-
No Gráfico 1, 70,37% das empresas do vidades, e em alguns casos ainda gerando
agronegócio encontram-se em uma situ- receitas excedentes.
ação favorável, estão concentradas no O Gráfico 1 correlaciona as variáveis
primeiro quadrante em que tanto o EF, equilíbrio financeiro e a rentabilidade do in-

ST

Excelsior
Minerva
M Dias Branco
ALTO RISCO

Klabin

SÓLIDO
BRF
Ambev Marfrig
São Martinho
Fibria
Suzano Papel
Brasilagro

NCG

Fer Heringer (CDG-)


Oderich INSATISFATÓRIO/PÉSSIMO
JBS
Eucatex (CDG-)
Encorpar Josapar
MUITO RUIM

Pettenati
Santanense
Celul Irani
SLC Agrícola
Melhor
Biosev (CDG-)
Ind Cataguas
Cedro
Bardella
Nutriplan (CDG-)
FIGURA 1 – Plano cartesiano perfis financeiros empresas do agronegócio analisadas
Fonte: Elaborado pelos autores (2018)

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CAPITAL DE GIRO E DESEMPENHO DE EMPRESAS AGROINDUSTRIAIS

vestimento de todas as empresas do agro- della, Biosev, Cedro, Heringer e Nutriplan


negócio objeto de estudo deste trabalho. estejam caminhando para uma situação de
Nota-se empresas em situação crítica, incapacidade de financiamento adequado de
em que as vendas são insuficientes para co- seus investimentos em giro.
brir os desembolsos relacionados às des- Ao analisar os dois indicadores corre-
pesas fixas e variáveis e com ROI negativo, lacionados ET e ROE, do Gráfico 2, no se-
é o caso da Nutriplan. gundo, terceiro e quarto quadrantes, a par-
A relação entre as variáveis efeito te- tir da percepção de uma investidor, deve
soura e ROE, pode ser visualizada através ser dada uma atenção a estas empresas
do Gráfico 2, o efeito tesoura é resultante antes que seja realizado qualquer investi-
da má administração do capital de giro, e mento, deve ser analisado todo o contexto
poder ocorrer quando a empresa não con- em que estão inseridas, associado a outras
segue aumentar o CDG na mesma propor- variáveis além das apresentadas, pois com
ção de aumento da NCG, essa desarmonia os resultados encontrados, investidores
contribui para o crescimento do ST, oca- devem optar por desinvestir.
sionando o efeito tesoura; o ROE, é uma O estudo realizado evidencia que as em-
variável de desempenho que indica o quão presas do agronegócio apresentaram retor-
eficiente está sendo a gestão dos recursos nos variados, em sua maioria os valores de
investidos pelos acionistas. ROI e ROE foram positivos, com algumas
O Gráfico 2 evidencia que 33,33% das ressalvas, em que ROI e ROE foram negati-
empresas do agronegócio em estudo, se vos no período analisado, para as empresas
enquadram na melhor situação possível, Bardella, Cedro, Encorpar e Nutriplan, e ape-
com ET+ e ROE+, ou seja, das vinte e sete nas ROE negativo para as empresas Biosev,
empresas analisadas, nove tem seus indica- Fertilizantes Heringer, Marfrig e Minerva.
dores positivos, estando estas localizadas Associados aos indicadores do modelo
no primeiro quadrante. de Fleuriet, os indicadores de rentabilida-
Ao analisar o ST a partir dos perfis de de permitem a todos os interessados ter
análise de Fleuriet, Figura 2, 59,25% das em- uma visão ampla de toda a organização,
presas encontram-se com ST-, o que signifi- de como está sendo a gestão do capital de
ca que elas possuem dívidas com vencimen- giro e a sua rentabilidade.
to no curto prazo, que possivelmente foram
contraídas para financiar o CDG, dessas CONSIDERAÇÕES FINAIS
empresas, 5 (cinco) estão localizadas no ter- O objetivo principal deste estudo foi o de
ceiro quadrante do Gráfico 3, com ET-, uma analisar a importância da gestão do capital de
suspeita muito forte seria dizer que todas giro no desempenho econômico e financeiro
elas estariam sofrendo com o efeito tesou- das empresas do agronegócio no Brasil, para
ra, ou seja, ST negativo, crescente e contí- isso utilizamos das variáveis do modelo de
nuo, e NCG crescente, evidenciando depen- Fleuriet e indicadores de rentabilidade.
dência cada vez mais acentuada de recursos As empresas do agronegócio apresen-
de curto prazo, seria necessário uma análise taram um satisfatório equilíbrio financeiro,
mais profunda de cada uma delas, mas o ET-, sendo que em 70,37% o faturamento está
é um forte indício de que as empresas Bar- sendo suficiente para cobrir todas as des-

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GRÁFICO 1 – Equilíbrio Financeiro vs. Rentabilidade do Investimento


Nota Explicativa1: Rótulo do eixo horizontal refere-se ao equilíbrio financeiro e rótulo do eixo vertical refere-se ao ROI.
Fonte: Elaborado pelos autores (2018)

GRÁFICO 2 – Coeficiente de Efeito Tesoura vs. Rentabilidade sobre o Patrimônio Líquido


Nota Explicativa2: Rótulo do eixo horizontal refere-se ao efeito tesoura e rótulo do eixo vertical refere-se ao ROE.
Fonte: Elaborado pelos autores (2018)

pesas fixas e variáveis resultantes das suas lo de Fleuriet foram de que a maioria das
atividades, e em alguns casos ainda gerando empresas analisadas necessita de capital
receitas excedentes. de giro, 92,59%, mesmo comportamento
As principais constatações do mode- apresentado pela maioria das empresas

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CAPITAL DE GIRO E DESEMPENHO DE EMPRESAS AGROINDUSTRIAIS

brasileiras, e evidenciado no trabalho de com as organizações do segmento, visto que


Ambrozini, Matias e Pimenta Júnior (2014). evidenciam o perfil da gestão do capital de
Dificilmente as empresas irão conseguir giro das empresas em associação ao seu ní-
receber antes de desembolsar, precisam de vel de rentabilidade, direcionando assim, para
um modelo de negócio diferenciado, força políticas de gestão de capital de giro alinha-
da empresa frente aos clientes e fornece- das às estratégias de cada empresa. Os indi-
dores, receberem pagamentos adiantados cadores do Modelo Dinâmico mostraram-se
por bem de produção. mais assertivos quanto a gestão do capital de
O ST de 55,56% das empresas analisadas giro aos índices clássicos de liquidez.
apresentou-se negativo, o capital de giro está Novos estudos empíricos por meio de
sendo insuficiente para financiar a necessidade modelagem estatística multivariada ou não
de capital de giro, com isso não sobram recur- paramétrica podem ser explorados nessa
sos para serem aplicados, ao contrário, preci- base com o objetivo de estabelecer parâ-
sam buscar empréstimos de curto prazo. metros objetivos quanto a influência dessas
O estudo realizado, poderá contribuir variáveis no desempenho das empresas.

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