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AS TRANSFORMAÇÕES DAS DINÂMICAS SOCIAIS

DURANTE A COVID-19 E A CORRELAÇÃO COM


FRAGILIDADE PSÍQUICA

SOUSA, Queci de C. Vaine


Faculdade da Fundação Educacional de Araçatuba
vkessy@hotmail.com

SILVA, da Gabriela
Faculdade da Fundação Educacional de Araçatuba
gabidsilvaa@gmail.com

OLIVEIRA, de Ana Amélia


Faculdade da Fundação Educacional de Araçatuba
Anaamélia.filadelfia@outlook.com

FARRAJ, Bou Gamal


Faculdade da Fundação Educacional de Araçatuba
contato.gamalbou@gmail.com

CARVALHO, Mio de Felipe


Instituição de origem do autor
Fmiocarvalho@hotmail.com

EIXO: Ciências Humanas, Sociais e da Saúde

RESUMO
O Coronavírus, Covid-19, foi reconhecido no final do ano de 2019, o elevado grau de
contaminação levou a Organização Mundial da Saúde declarar estado de pandemia em março
de 2020. Houve mudanças no contexto social e do trabalho (OLIVEIRA et al., 2021).
Partindo das transformações ocorridas, esse trabalho objetiva levantar por meio de pesquisa
acadêmica de que forma as alterações ocorridas na dinâmica social no Estado de São Paulo se
tornaram produtoras de fragilidade psíquica. Serão abordados como as mudanças afetou a
população e quais consequências ocorreram. Para tanto, foram observadas as transformações
sociais e a relevância subjetiva, por meio de revisão bibliográfica específica acerca da perda,
ansiedade, depressão e luto sob a vertente psicanalítica. Esta é uma pesquisa qualitativa. Os
resultados constataram a fragilização social e psíquica durante a pandemia em virtude da
ocorrência de vários tipos de prejuízos e perdas. Conclui-se que houve mudanças na dinâmica
social; perdas reais e simbólicas; vivência de lutos; favorecendo o aumento dos índices de
fragilidades psíquicas como, depressão, ansiedade e sentimentos de luto.

Palavras-chave: dinâmicas sociais; Covid-19, fragilidade psíquica.


1 INTRODUÇÃO

Em dezembro de 2019 surgiu um vírus altamente contagioso que poderia resultar em


hospitalizações e morte, a infestação ficou conhecida como Covid-19 (Coronavírus disease
2019). (DANZMANN; SILVA; GUAZINA, 2020). Este vírus logo se espalhou pelo mundo,
após surgir em Wuhan, na China. O Estados Unidos da América foi o primeiro país do
continente americano a reportar uma pessoa que foi infectada, após retornar de uma viagem a
Wuhan, em 21 de janeiro de 2020, desta forma se iniciaram as contaminações.
A pandemia da afetou significativamente o mundo, impactando profundamente a vida
coletiva, o uso do espaço público, a organização do trabalho e, consequentemente, a vida
individual. Para combater o vírus, foram impostas algumas medidas de segurança, como
isolamento social e cuidados de proteção à população considerada grupo de risco. O
isolamento social atua de forma comportamental e reduz a possibilidade de propagação do
vírus via restrição de circulação (MOREIRA; OLIVEIRA; GONÇALVES, 2021).
Tal medida produz impactos sociais consideráveis, especialmente no desenvolvimento
do trabalho e das atividades socioculturais. A dinâmica social foi profundamente afetada, uma
vez que as restrições de circulação impactaram diretamente a vida das pessoas. A quarentena,
que é a imposição de ficar mais tempo em casa e se possível, acabou gerando perdas de
empregos e oportunidades profissionais. Tais perdas na esfera social também repercutem nas
subjetividades, em especial, por meio da vivência do medo (BROOKS et al., 2020)
Insere-se neste trabalho a obtenção de dados objetivos sobre a transformação social
ocorrida e, por fim, discutir como as perdas e o luto afetam o tecido psíquico, já que perda
está diretamente ligada a questões de ansiedade e depressão, seja a ansiedade uma
precipitação de que algo pode acontecer ou a depressão relacionada a algo que acontece e não
é reparável.
A partir do que de fato foi feito, foram avaliadas as perdas e danos decorrentes de tais
práticas em conjunto com os danos causados pelo próprio vírus. O problema de que esta
pesquisa se ocupa é, portanto, o compreender como a pandemia do coronavírus e as medidas
voltadas ao combate produziram transformações no tecido social e a partir daí analisar como
estas transformações respigam sobre a subjetividade. Objetiva-se levantar por meio de
pesquisa acadêmica a alteração da dinâmica social no Estado de São Paulo e as possíveis
correlações com a fragilidade psíquica dos paulistas durante a pandemia da Covid-19.
Conhecer o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no estado de São Paulo; identificar as
mudanças que ocorreram no cenário estadual na pandemia por meio dos decretos
sancionados; levantar dados dos índices de desemprego e violência doméstica; levantar dados
na área da saúde; levantar dados sobre o aumento da ansiedade e depressão na pandemia;
realizar reflexão, a partir das informações coletadas, para responder à hipótese levantada,
observando pelo viés da psicanálise os mecanismos biopsicosocioculturais presentes no
desencadeamento das fragilidades psíquicas.

2 METODOLOGIA

Esta pesquisa trata-se de uma revisão bibliográfica da literatura acerca da perda,


ansiedade, depressão e luto sob a vertente psicanalítica. A pesquisa qualitativa em literatura é
utilizada para analisar as mudanças do tecido social e como a população foi afetada, também
ajuda a compreender as relações entre os índices levantados com o aumento de transtornos
mentais. O desenvolvimento da pesquisa quantitativa fornece a compreensão do notável
aumento da fragilização social, assim explicando como tais prejuízos sociais podem repercutir
sobre a psique. A pesquisa foi realizada na primeira pessoa, devido ao envolvimento e a
compreensão que nós autores tivemos em relação ao trabalho.
Como material para a revisão bibliográfica, foram utilizados o total de 23 trabalhos
advindos das bases cientificas de dados eletrônicos, legislação e sites oficiais dos governos,
além de dicionários, livros, revistas e cartilhas, sendo: 9 artigos publicados em revistas; 1
artigo publicado em jornal; 4 artigos publicados no Scielo; 1 artigos publicados no Pepsic
(portal de Periódicos Eletrônicos de Psicologia; 1 lei federal; 1 artigo e reportagem de sites; 7
referências foram encontradas em livros.

3 DESENVOLVIMENTO
A globalização do mundo contemporâneo faz com que haja um grande e intenso fluxo
de pessoas e alimentos em todo o mundo. Esse fluxo é um importante determinante na
proliferação de contaminações por vírus e bactérias. A velocidade de circulação e a facilidade
de acesso ao transporte aéreo permitem e facilitam a transmissão de agentes causadores de
epidemias para diversas regiões do planeta. Uma pandemia se estabelece quando a infecção
ou doença ultrapassa o número de pessoas infectadas, atingindo vários países em diferentes
continentes (GASQUE et al., 2020).
A primeira notificação sobre uma possível nova pandemia foi recebida pela OMS no
dia 31 de dezembro de 2019, sendo informada da ocorrência de vários casos de pneumonia na
cidade de Wuhan, capital da província de Hubei na China. “pneumonia de rápida progressão”
foi observada, de origem indeterminada associada à exposição comum ao mercado de frutos
do mar (SOUZA; LEAL; SANTOS, 2020, p. 279). A Covid-19 espalhou-se rapidamente pela
China e outros países da Ásia. Especula-se que a China inicialmente reteve informações sobre
a nova doença, desperdiçando um tempo precioso para evitar a propagação do vírus ” (SILVA
et al., 2020, p. 1003). A OMS classificou os casos de COVID-19 classificados em crítico,
casos que necessitam de intervenção hospitalar, UTI , em muitos casos, auxílio de ventilação
artificial; severo, quando há falta de ar, mudança na frequência respiratória, saturação de
oxigênio no sangue, infiltração pulmonar e síndrome respiratória aguda ou leve, onde os
sintomas são semelhantes ao da gripe, estudos apresentam que “a letalidade da Covid-19 é
baixa, mas tem capacidade de transmissão muito alta o que eleva muito o número de óbitos”
(FARIAS, 2020, p. 245).
Houve mudanças significativas nas dinâmicas socioeconômica e comportamental da
população. Esta pesquisa debruçou-se sobre as mudanças ocorridas no Estado de São Paulo
no combate à pandemia da Covid-19, considerando seu perfil socioeconômico, demográfico e
as transformações ocorridas no tecido social, no entrelaçamento das estruturas forma as
tramas relacionais entre indivíduos e a sociedade, favorecendo ou não a fragilização psíquica
(OLIVEIRA et al., 2021). Compreende-se tecido social a inserção dos indivíduos em grupos
sociais, de estruturas socioeconômicas, socioculturais que se formam e transformam no
processo de interdependência (CABECINHAS, 2004).
Foram consideradas as características do estado de São Paulo. O Estado de São Paulo
está localizado na região Sudeste do país, possui o maior parque industrial do país, importante
fato para geração de empregos e a rotatividade comercial; conta ainda com agricultura (em
especial, a cana de açúcar) e além do maior porto do país, o de Santos. Está subdividido em
645 22 municípios, distribuídos em 42 regiões de governo, sendo 14 regiões administrativas e
três regiões metropolitanas. A capital do Estado é conhecida internacionalmente por ser a
maior e mais urbanizada cidade brasileira (SÃO PAULO, 2020). Apesar de o Estado de São
Paulo apresentar um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) considerado alto (PREARO;
MARACCINI; ROMEIRO, 2015, p. 136); (MOREIRA; OLIVEIRA; GONÇALVES, 2021).
Conforme Moreira, Oliveira e Gonçalves (2021) as fragilidades sociais já existentes se
acentuaram ainda mais com a pandemia da COVID-19.

3.1 Perdas e prejuízos relacionados à pandemia

O isolamento social é uma das medidas de proteção adotadas no combater a


pandemias, assim foi na pandemia da Covid-19. Segundo a OMS a medida se apresenta como
forma eficaz, pois inibe o contato com pessoas infectadas (SÃO PAULO, 2020). Porém, nem
toda a população consegue aderir ao distanciamento social da forma recomendada, a
vulnerabilidade social apresenta-se como uma impossibilidade de fazer o isolamento social
(MOREIRA; OLIVEIRA; GONÇALVES, 2021). A COVID-19 atingiu todas as classes
sociais, exacerbando as desigualdades sociais, aumentou a probabilidade da perda de renda e
sustento, o que fez grande parte da população não acatar às determinações para o isolamento
social, possibilitando que o vírus se espalhasse com rapidez (COUTO; COUTO; CRUZ,
2020); (MINAYO; FREIRE, 2020); (OLIVEIRA et al., 2021). Conforme Moreira, Oliveira e
Gonçalves (2021) o fechamento de empresas, igrejas, escolas, aumento do desemprego, perda
de espaço social, a invasão do trabalho em home office e das aulas remotas on-line, o número
de denúncias da violência doméstica aumentaram, assim como o número de casos de
transtornos depressivos e ansiosos.

Foram realizadas pesquisas à procura dados que enumerassem fragilidades nas


tramas sociais apontadas, no Estado de São Paulo, palco de nossas observações
iniciais, porém não foram encontrados artigos ou reportagens que retratassem as
problemáticas apresentadas especificamente deste território. A dificuldade na coleta
de no território estadual levou a pesquisa para observação destas problemáticas no
território nacional, desta maneira os dados recolhidos representam uma visão macro
dos prejuízos e perdas da pandemia. Os dados encontrados foram assim
apresentados por compreendermos que ressoam no território estadual (MOREIRA;
OLIVEIRA; GONÇALVES, 2021, p. 35)

As perdas advindas da pandemia somaram-se as dificuldades enfrentadas no sistema


de saúde. A assistência à saúde no Brasil é direito de todo cidadão, brasileiro ou estrangeiro,
no território nacional, conforme estabelece o artigo 5º da Constituição de 1988. A assistência
é prestada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) instituído pela Lei 808.090 (BRASIL, 1990).
O SUS é considerado um sistema eficaz e eficiente, porém apresenta algumas fragilidades. A
saúde pública brasileira já vinha sofrendo com as resoluções da Emenda Constitucional (CE)
95 de 2016, que congelou por 20 anos os gastos com as despesas primárias da União. Nem o
sistema de saúde nem as políticas públicas e económicas poderiam medir uma emergência de
saúde pública, como a pandemia, seria devastador. Conforme Santos e Funcia (2019) a
eminência de colapso no sistema de saúde é algo que precipitadamente seria inevitável .
O setor da saúde foi a área mais prejudicada e sobrecarregada na pandemia. Segundo
Silva et al. (2020) a já frágil sistema de saúde sucumbe à Covid-19, com leitos hospitalares
esgotados e profissionais de saúde insuficientes, assim tanto o sistema de saúde pública
quanto o particular, tiveram que ser contornados e foi enfrentado ainda “o esgotamento
psicológico e físico dos trabalhadores da área de saúde” (p. 1005).
Minayo e Freire (2020), constatou uma disparidade entre o número de leitos e o
número de respiradores disponíveis na rede pública e privada de saúde no país, a
contaminação dos profissionais, em decorrência da escassez e subdimensionamento de
Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), a falta de testes agrava a situação dos
profissionais da linha de frente. Segundo Teixeira et al. (2020) a eminência de contágio com o
coronavírus pelos profissionais da saúde, tem levado muitos profissionais ao afastamento do
trabalho, o sofrimento psíquico destes profissionais tem sido expresso em “transtorno de
ansiedade generalizada, distúrbios do sono, medo de adoecer e de contaminar colegas e
familiares” (p. 10).
As dinâmicas que a pandemia da COVID-19 estabeleceu no tecido social levaram toda
a população à instabilidade psíquica. Apesar do grande aumento na incidência de depressão, a
ansiedade foi a que apresentou maior índice, tornando os transtornos de ansiedade e depressão
uma preocupação de políticas de saúde pública pela alta prevalência e impacto psicossocial.
(MOREIRA; OLIVEIRA; GONÇALVES, 2021).
O advento da pandemia estabeleceu uma realidade muito distante da fantasia
idealizada de ambiente minimamente satisfatório. Segundo pensamos a identidade
condicionada ao mundo social e ao espaço ocupado na trama social sucumbe; o isolamento
físico fragiliza a identidade construída na sociedade pré-pandêmica. A ameaça da perda, que é
real, opera no nível da identidade e do desejo. A identidade pode padecer frente ao próprio
movimento do desejo, que é de voltar sempre à um estado anterior (FREUD, 2010). A
pandemia se apresenta como um acontecimento dramático por si só, “provocou uma crise
econômica e social de amplitude invulgar” segundo Sobral (2020, p. 476), favorecendo o
aumento da fragilização psíquica e o estabelecimento do aumento da ansiedade, depressão e
sentimentos de luto.
Identificou-se que um possível zeitgeist advindo da pandemia é inevitável perda e
consequente estado de luto. Desta forma o luto surge como advento inevitável das perdas reais
e simbólicas deste novo tempo, transpõe as barreiras do tempo e espaço, se faz presente
mesmo que não esteja ali de fato. O vazio gerado pelo sentimento de perda, seja das relações
habituais, atualmente deixadas de lado pelo isolamento social, ou pelas perdas reais da
pandemia, estabelece o luto coletivo e individual. Por isso é preciso falar de luto, procurar
compreender a repercussão das perdas e as consequentes vivências de luto segundo as
concepções psicanalíticas, qual o impacto na vida da população e do indivíduo (MOREIRA;
OLIVEIRA; GONÇALVES, 2021)
Em análise da repercussão das perdas segundo as concepções psicanalíticas, constata-
se que sejam elas reais ou simbólicas, levam a vivência do luto. O luto é um processo difícil e
lento, suscita inevitáveis e dolorosos sentimentos de abandono e desistência; que todos
experimentam ao longo da vida (PEREIRA; PIRES, 2018). A condição da perda é um
processo adaptativo, a ausência do objeto perdido acaba afetando todos os aspectos, gera
mudança na vida do indivíduo, no qual sente o pesar, como resposta emocional para a
vivência da perda. (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Freud (2010) observou que o sofrimento psíquico só estabelece quando o objeto
perdido tem significado para o ego, a perda se dá não só pelo objeto em si, mas a perda dos
laços significantes simbólicos que o objeto traz atrelado a si. Hammem (1985 apud
GABBARD, 2016) elucida que apenas a ocorrência de um evento negativo na vida não é
suficiente para a desorganização psíquica, porém a maneira que o indivíduo lida com os
significados do evento e lhe atribui importância é que interferem na fragilização psíquica.
Dado o contexto pandêmico, podemos dizer que a desorganização parte da privação de
aceso aos objetos do ideal, assim como privações culturais, o acesso restrito ao objeto do
desejo implica na castração, impedindo acender ao gozo (LACAN, 1995). Em Freud (2010)
observamos que aquilo que se deseja carrega uma característica pulsional, privar internamente
tal conteúdo produziria efeitos sintomáticos e a característica dessa privação dado o contexto
teria efeitos sintomáticos semelhantes, assim como impedimentos culturais para realização de
um desejo; as várias perdas ocorridas acabam por colocar o indivíduo em contato com a
castração. Como uma forma de evitar o abandono, a perda, a castração, Freud (2014) aponta o
desenvolvimento da angústia sinal. Dentro desta seara da angústia e castração, Dunker (2015)
discute o sofrimento correlacionado ao desejo que as coisas aconteçam de forma diferente,
assim “o mal-estar tem sua gênese na perda de experiência de uma forma de vida ainda não
reconhecida” (p. 3).
Zimermam (2007) reconhece que em qualquer tipo de perda é comum que esteja
presente a ansiedade depressiva, está se expressa no “sentimento de que ‘não sou mais o
mesmo...’ (grifo do autor)”, afirma ainda que a “situação mais frequente de perdas do ego é a
que resulta de um jogo de intensas identificações projetivas que o indivíduo faz de seus
aspectos positivos em outras pessoas por ele idealizadas, enquanto o seu próprio ego fica
esvaziado e empobrecido” (p. 220). Em qualquer que seja o tempo e o contexto da perda
compreende-se que esta impõe o convívio com sentimento de culpa, este se apresenta em
vários graus e tipos (DUNKER, 2015). Zimerman (2007, p. 110) reverbera que vivemos o
imaginário de ego ideal, temos a ilusão de sermos onipotentes e esperarmos o máximo de nós
mesmos, o que diante das frustrações faz emergir o sentimento de frustração e até
humilhação, assim os mecanismos de defesa da negação da onipotência, deixando
narcisicamente herança para o ego ideal, projeta suas aspirações e expectativas; o superego
por sua vez faz com que frustrações estabeleçam sentimento de culpa pelo fracasso, como se
punisse o ego por não ter alcançado o ideal.
Visto que no contexto da pandemia da Covid-19, o elevado número de perdas e os
diversos contextos que estas aconteceram, levam o indivíduo culpar-se por aquilo que acha
que devia ter feito, ou ainda por aquilo que poderia ter evitado; este sentimento se apresenta
desde a perda do emprego, no contexto da violência doméstica, das mortes que poderiam ter
sido evitadas, da contaminação e perda do estado de saúde; assim a relação perda-culpa-luto
está amalgamada, o que torna a elaboração do luto um processo dinâmico permeado por
sentimentos, sensações físicas, mudanças cognitivas e comportamentais. Compreende-se que
as mudanças na dinâmica social produzem fragilizações psíquicas nos indivíduos e estas
influenciam diretamente na ocorrência de transtornos mentais, assim o grande número de
perdas advindas das mudanças provenientes da pandemia pode ser correlacionado ao aumento
dos transtornos mentais (MOREIRA; OLIVEIRA; GONÇALVES, 2021).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sendo o desenvolvimento humano uma das áreas de interesse da psicologia, esta


pesquisa possui relevância social e acadêmica. Buscamos compreender como a dinâmica
social pode influenciar na construção social do indivíduo, como as mudanças no estilo de
vida, condição financeira e de convivência com o outro, pode influenciar para psiquismo
saudável ou patológico. Esta pesquisa é importante na compreensão de como o tecido social já
fragilizado pode sucumbir aos mandos e desmandos políticos; levando a população a
mudanças sociais, a vivência de perdas e lutos reais e simbólicos e como estas dinâmicas se
correlacionaram com o aumento da incidência da fragilização psíquica.
Diante dos dados coletados, conclui-se que as dinâmicas sociais estão afirmativamente
correlacionadas a fragilização psíquicas, estas dinâmicas envolvem perdas reais e concretas.
Conclui-se ainda que, como são feitas as elaborações das perdas depende de como foram se
desenvolvendo as relações objetais, o desenvolvimento da personalidade de cada indivíduo, o
contexto ambiental em que ocorreram as perdas e principalmente qual o significado simbólico
do que foi perdido, qual o vínculo estava estabelecido com o objeto perdido. As elaborações
das perdas também estão diretamente relacionadas com a forma que ocorreram as perdas,
determinando como se dão as elaborações de luto destas perdas.

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ZIMERMAN, D. E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica: uma abordagem


didática. Porto Alegre: Artmed, 2007.

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