ELIMINAÇÃO DE DEFEITOS TIPO GÉIS/OLHO-DE-PEIXE

EM FILMES DE POLIETILENO OBTIDO POR EXTRUSÃO

PLANA

Humberto Luiz Garcez de Castro1*, Valdair Augusto de Souza1*, Otávio Pagliusi Jr2, Roselena Faez1

1
Faculdade de Engenharia Arquitetura e Urbanismo – Engenharia de Materiais, Universidade do Vale do Paraíba,
Av. Shishima Hifumi, 2911, Urbanova, 12244-000, São José dos Campos - SP, faez@univap.br, 2 Clopay do Brasil, Av.
Sebastião Henriques, 71, 02723-050, São Paulo, opjunior@clopay.com.br

Elimination of defects gels/fish-eye in polyethylene films produced by cast extrusion

This paper shows some defects in polyethylene films used in sanitary napkins and diapers manufacturing, mainly that
caused by gels/fish-eyes. Statistical methods were applied to evaluate the process, and characterization techniques for
the raw materials, trying to identify the defects’ cause in order to reduce either or eliminate them.

Introdução
Um dos artigos poliméricos mais fáceis de se encontrar
são os filmes, e na maior parte das vezes o polímero
empregado é o polietileno (PE)1. Apesar de toda a
tecnologia utilizada na fabricação, os filmes
poliméricos apresentam uma série de problemas
durante o seu processamento. Dos defeitos que podem
ser encontrados em filmes de PE, os géis e olhos-de-
peixe são extremamente prejudiciais, pois podem fazer
com que o filme apresente furos. Esses tipos de
defeitos, às vezes, são tratados distintamente, porém,
vários autores os abordam como sendo o mesmo tipo,
uma vez que suas origens e conseqüências são muito
parecidas. Os géis/olhos-de-peixe são protuberâncias
no filme, e se originam na maior parte das vezes de
materiais reticulados e/ou impurezas2.
O objetivo deste trabalho é analisar a produção de
filmes de PE utilizados para a fabricação de fraldas e
absorventes, verificando a incidência de furos causados
por géis/olho-de-peixe e propor soluções para eliminá-
los ou simplesmente reduzi-los.
Experimental
Material: Foi utilizado um filme de PE, conhecido
como “matte” filme3, que possui várias camadas de
diferentes tipos de PE além do pigmento que confere a
cor do filme.
Metodologia: O “matte” filme foi obtido pelo processo
de filme plano em uma extrusora mono-rosca
Battenfeld-Gloucester L/D 32. Os defeitos foram
A. Análise da máquina:
Os horários de coleta de amostras foram definidos
utilizando-se a norma ABNT 5426, considerando uma
amostra como 1m2 de filme4.
- 6:20h, 9:20h, 12:20h (Turno A – das 6 às 14h);
- 14:20h, 17:20h, 20:20h (Turno B – das 14 às 22h);
- 22:20h, 1:20h, 4:20h (Turno C – das 22 às 6h );
Fez-se uma análise da limpeza da boca da matriz, que
acontece a cada turno, além da troca do conjunto de
telas que ocorre a cada 50h.
B. Análise da matéria-prima:
Em algumas amostras que apresentaram defeito, foi
realizada microscopia óptica com luz polarizada
(MOLP) usando um microscópio Leica-DMLS,
aumento de 200x e uma placa de aquecimento
LINKAM com taxas de aquecimento e resfriamento
controladas com N2(g). Análise de DSC foi realizada
utilizando um Perkin Elmer Pyris I de 30ºC a 230º C a
20 ºC/min tanto para o aquecimento quanto para o
resfriamento em atmosfera de N2, comparando-se
amostra com e sem defeito. Análise de MEV/EDS foi
realizada num equipamento LEO STEREOSCAN 440,
com aumentos de 150x e 300x.
Resultados e Discussão
Influência da máquina na presença dos defeitos:
Carta C Cb=2,410 LSC=7,04
7,5
LSC
6,0
4,5

classificados da seguinte forma: graves, quando houver 3,0

a presença de furos no filme; médios, quando o filme Cb

apresentar grandes protuberâncias, causando dano 1,5

estético; e leves, pequenas protuberâncias quase 0,0

5 10 15 20 25
imperceptíveis que não causam dano algum.
Figura 1: Carta de controle tipo “C”

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Após 3 meses de coleta de dados, estes foram
analisados estatisticamente com a ajuda do software
WINCEP Plus 3.01 e, a partir deste, gerada uma carta
de controle do tipo “C”5, fig. 1. De acordo com a carta,
pode-se dizer que o processo é estável, pois nenhum
ponto ultrapassa o limite superior, e não há tendência
de pontos consecutivos.
Com relação à limpeza da máquina, fig. 2, verifica-se
que não há relação alguma do intervalo de limpeza
com a incidência de defeitos como poderia ser
esperado.
Figura 2: Gráfico da limpeza da boca da matriz .
Influência da matéria-prima na presença dos defeitos :
As análises de MEV, fig. 3, demonstraram que o
defeito possui uma interface bem definida com relação
ao filme e, mesmo sem o auxílio do microscópio, uma
maior espessura dos defeitos é perceptível.
Figura 3: MEV do defeito em filme de coloração rosa. 300x.
Com auxílio do EDS foi possível identificar os
elementos carbono (C) e o oxigênio (O), não sendo
detectados elementos inorgânicos, confirmando que os
defeitos não são provenientes do pigmento, pois esses
geralmente apresentam elementos inorgânicos em sua
composição.
A microscopia óptica foi realizada para analisar o
comportamento do defeito durante o aquecimento até o
ponto de fusão do PE e, logo em seguida, o seu
resfriamento. Nesta análise dois tipos de defeitos foram
identificados, figs. 4 e 5.
(a) (b)
Figura 4: MOLP mostrando a evolução durante o aquecimento de
um filme de coloração azul (defeito tipo ponto preto): (a) 65 e (b)
1700C.
O primeiro, um ponto preto que não apresentou
alterações com a variação da temperatura e, o segundo,
um ponto não solidificado que após o resfriamento
apresentava maior cristalização, confirmado por DSC.
(a) (b)
Figura 5: MOLP mostrando a evolução durante o resfriamento de
um filme de coloração branca (defeito tipo ponto mais denso): (a)
164 e (b) 1070C.
Com estes dados, verifica-se que há, pelo menos, dois
principais tipos de defeitos graves, ou seja, na forma de
um ponto preto atribuído ao material degradado e um
ponto mais denso, atribuído ao material não fundido.
A explicação para o aparecimento destes dois tipos de
defeitos pode estar relacionado com a variação da
massa molar do polímero em um determinado lote.
Apesar de ser difícil quantificar a quantidade de
polímero com maior ou menor massa molar é possível
inferir que àquele defeito onde há o aparecimento do
ponto preto está relacionado com um polímero de
menor massa molar, que se degrada durante o processo.
Para o defeito com um ponto mais denso, trata-se de
um material com maior massa molar onde não houve
tempo suficiente para fundir durante o processo.
Conclusões
Com o tratamento estatístico do processo foi possível
concluir que os defeitos tipo “géis”/“olho-de-peixe”
são inerentes ao processo de fabricação de filmes de
PE, sendo difícil eliminá-los por completo. Com
relação à influência da matéria-prima verificou-se que
o problema está relacionado com a distribuição da
massa molar. Por esse motivo a investigação mais
aprofundada das causas é extremamente difícil, pois
não há como realizar mais de uma análise em uma
mesma amostra, pois esta é pequena demais e,
geralmente, as análises são destrutivas.
Agradecimentos
À Clopay do Brasil, à Divisão de Materiais- IAE- CTA
e a Politeno pelas análises de MOLP e MEV.
Referências Bibliográficas
1 - American Plastic Council Inc., “Understanding
plastic film: Its uses, benefits and waste management
options”, 1997;
2 - Rauwendaal, Chris, “What’s causing your gels?”,
Plastics Technology – Online Article,
http://www.plasticstechnology.com, 19/08/2002 9:45h;
3 - http://www.isofilme.com.br, 24/09/2002 14:30h;
4 - Associação Brasileira de Normas Técnicas,
“Planos de amostragens e procedimentos na inspeção
por atributos”, NBR 5426, 1985;
5 - VTB Consultoria e treinamento, “CEP I – Controle
estatístico do processo básico”, São Paulo, 2001.
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