Você está na página 1de 15

SMM0330 - Análise de Falhas em Componentes

Prof. Dr. José Benedito Marcomini

REVISÃO DA ANÁLISE DE FALHA POR FRATURA EM PARAFUSO ALLEN


INTEGRANTE DE UM COMPONENTE MECÂNICO DO SISTEMA DE BÁSCULA DE UM
FORNO

Arthur Max Cunha Salewski nº USP: 8954468


Arthur Pozzer Bueno de Souza nº USP: 10308590
Bryan Kin Cardoso Kubaiashi nº USP: 10308422
Hugo Muriel Nogueira dos Reis nº USP: 10308415
João Pedro Mendes Gerbi nº USP: 9050437
Mateus Pin Matteoni nº USP: 10308551

São Carlos, Novembro de 2020


Sumário

Introdução 2

Materiais e Métodos 3

Análise dos Resultados 7

Conclusão 12

REFERÊNCIAS 14
2

1. Introdução
No mundo corporativo, mais precisamente no setor industrial, é necessário adotar
estratégias para solucionar problemas, otimizar o desempenho e implementar ações que
melhorem os processos e que façam uma análise de falhas, tudo isso de modo que reduza as
quebras, defeitos nos equipamentos e nos produtos. A análise de falhas tem como objetivo
principal evitar erros relacionados ao projeto, como: problemas com manutenção, fabricação
ou mesmo de utilização de equipamentos. Desta forma, aumentando a confiabilidade dos
sistemas com a redução de custos e, consequentemente, prejuízos.

Sobrecarga, trincas pré-existentes, corrosão por agentes externos, impurezas no


material, tratamentos térmicos errados, são algumas das diversas maneiras existentes de um
material falhar, mesmo os mais rígidos controles de qualidade acabam não detectando
algumas peças defeituosas. Dada a quantidade de possíveis origens da falha, vários testes e
etapas são necessárias para se descobrir o que houve.

Neste trabalho foi analisada a falha por fratura de um parafuso allen que fazia parte de
um componente mecânico do sistema de báscula de um forno elétrico a arco (FEA). Um
Forno Elétrico a Arco é um forno que aquece e funde os aços por meio de um arco elétrico.

Entre as etapas citadas foi feita, primeiramente, uma análise do histórico e contexto da
peça, seguida de processos de análise não destrutivos, como análises visuais, ultrassom e
magnética, além das análises microestruturais, químicas e de dureza.

Figura 1: Ilustração do parafuso tipo Allen que sofreu a falha

Fonte: Extraido de Forseti soluções


(https://cdn.awsli.com.br/600x450/1183/1183338/produto/44576583/5719dfb9ba.jpg) pesquisa feita em 28 de
novembro de 2020
3

Com todas as análises e resultados avaliados foram feitos também métodos de


prevenção para que esta falha não volte a se repetir.

2. Materiais e Métodos

Foram fornecidas poucas informações em relação à peça analisada, a primeira vista a


era um dos parafusos que trabalhava como elemento acessório em um componente mecânico
do sistema de báscula de um FEA. Especificações técnicas, temperatura de trabalho de
máquina, posição do parafuso na máquina, tempo de uso, nenhuma dessas informações foi
fornecida, só se sabia que o diâmetro externo da cabeça cilíndrica era de 20,50 mm, além de
uma das poucas informações tiradas a primeira análise é de que é uma peça considerada
como “pouca frequência” de troca (6/7 anos).

As falhas que podem vir a ocorrer no parafuso do tipo allen podem ter origem por
diversos motivos, como: fadiga do metal (tirar e colocar a peça diversas vezes), degradação
química (condições externas desfavoráveis a aplicação do conjunto ou por meio de corrosão
galvânica decorrente do uso de materiais reativos), má instalação (seu aperto é feito por meio
da chave allen que, diferente de uma chave de boca comum, possui um formato em “L” que
facilita a inserção e o rosqueamento do parafuso, ou seja, tem aplicação em situações pouco
convencionais na qual necessita de uma geometria desfavorável para ferramentas comuns e
com um forte aperto), com isso, uma má instalação pode causar um desbalanceamento das
tensões aplicadas, concentrando-as em arestas ou superfícies despreparadas para tal carga,
ocasionando a fratura, além de dilatação térmica, choques externos, uso de ferramentas
incompatíveis com a dimensão do parafuso ( "escapando" às dimensões da cabeça
sextavada) , etc. Diante disso, com base na quantidade de possíveis origens de falhas, vários
testes e etapas são necessárias para se descobrir os motivos condizentes com as condições em
que a peça foi submetida.

Foram utilizadas técnicas de caracterização por inspeção visual, teste com um imã,
microscopia óptica (MO), a microscopia eletrônica de varredura (MEV) e ensaios de
microdureza Vickers (HV).

A técnica de microscopia óptica foi realizada após o polimento das amostras e


passaram por um ataque químico para revelar as estruturas cristalinas da superfície polida.
4

Assim, para a posterior análise de imagem foi necessário utilizar uma solução que revelasse
os cristais, a fim de aumentar o contraste com a matriz amorfa que não sofre alteração com a
ação do agente químico e facilitar a análise. Uma amostra retirada de região próxima a
superfície fraturada foi submetida à preparação metalográfica que seguiu a rotina de
lixamento em sequência com lixas metalográficas com numeração granulométrica 150, 220,
400, 600, 800 e 1200, seguido de polimento com alumina 1μm e pasta de diamante 1 e 1/4
μm, respectivamente. O ataque químico foi realizado com 45 ml de glicerina, 15 ml de HNO 3
e 30 ml de HCl e permanência do ataque por imersão pelo tempo de 120 segundos em local
com sistema para exaustão de gases tóxicos, e provavelmente sendo limpa com algodão em
água corrente, aplicado-se álcool isopropílico e secagem com um soprador de ar quente.

Para análise microestrutural do material e captura das imagens micrográficas foi


utilizado um microscópio óptico Zeiss, modelo Imager.M1, equipado com câmera digital
integrada ao computador para obtenção de imagens, no qual foi possível registrar
fotomicrografias com diferentes níveis de aumento de diferentes regiões da amostra, a fim de
evidenciar a análise microestrutural da região próxima à fratura.

Figura 2: Exemplo didático de um Microscópio óptico Zeiss modelo Imager M1.

Fonte: Dotmed (2020).

Outra técnica utilizada foi a microscopia eletrônica de varredura (MEV) que,


basicamente, é um tipo de microscopia em que um feixe de elétrons focalizado varre a
5

superfície da amostra, que interage com a matéria, gerando diferentes tipos de sinais que
podem oferecer informações sobre a morfologia e composição química do material. No
presente trabalho foi utilizado para a observação da superfície fraturada e obtenção de
fractografias, com a função de encontrar algumas irregularidades, como a presença de
impurezas, bolhas, trincas, superfícies irregulares, que podem ser indicativos de falhas. No
caso específico de falhas, permitem que se determine o tipo de fratura sofrida pela amostra,
diferenciando fraturas dúcteis e frágeis, além de enumerar diversos fatores que podem ter
causado a falha do material.

Foi utilizado um MEV de bancada HITACHI, modelo TM 3000, operando a 15


kVolts com sistema acoplado para análise química semi-quantitativa por EDS, com software
para análise line scan (análise química ao longo de uma linha dentro de uma região
selecionada), operando sempre no modo elétrons retroespalhados.

Figura 3: Exemplo didático de um Microscópio eletrônica de varredura Hitachi modelo TM 3000.

Fonte: Redstar (2020).


6

Por fim, foi realizado o ensaio de microdureza Vickers (HV) para verificar se os
valores de dureza encontrados correspondem ao material utilizado em sua fabricação.
Qualquer evidência fora do normal, poderia concluir qualquer alteração da composição
química e, consequentemente, seria um motivo causador de falhas por conta de mudanças da
propriedade de dureza, sendo irregular a sua utilização no sistema mecânico de báscula.

As medidas de microdureza foram realizadas em 06 pontos radiais em regiões


diferentes da amostra a ser analisada, sendo duas medidas bem próximas ao centro do
parafuso, duas medidas a meio raio e duas medidas em extremidades diametralmente opostas.

Foi utilizado um microdurômetro HXD-1000 TM Pantec. As medidas foram efetuadas


com força de 0,9807N e tempo de 10 segundos de aplicação de carga, segundo a norma
ABNT NBR NM ISO 6507-1.

Figura 4: Exemplo didático de um microdurómetro HXD-1000 ™ Pantec.

Fonte: Hansenic, (2020).

Assim como esta técnica, o realizado por ímã também teve como objetivo analisar as
propriedades magnéticas do material para averiguar se o motivo das falhas era por conta de
alguma alteração em sua composição química, por exemplo.
7

Todas essas técnicas foram utilizadas com o objetivo de serem auxiliares na


identificação precisa de evidências de onde poderia ter causado as falhas, desta forma,
contribuindo para que futuros erros não ocorram e que erros sejam sanados.

3. Análise dos Resultados

Foi observada uma fratura superficial em análise macroscópica, onde percebeu-se


uma grande deformação plástica na extremidade inferior esquerda, onde deduz que foi
iniciada a trinca, como podem ser observadas na imagens a seguir.

Figura 5: Imagem da superfície fraturada do parafuso. Aumento de 6,7X.

Fonte: Análise de falha por fratura em parafuso allen integrante de um componente mecânico do sistema de
báscula de um forno, p. 5..

Figura 6: Aspecto microestrutural da região do parafuso próxima à fratura. Aumento 1000X,

Fonte: Análise de falha por fratura em parafuso allen integrante de um componente mecânico do sistema de
báscula de um forno, p. 5.
8

Nota-se da figura 5 que na extremidade esquerda inferior temos marcas radiais que e
indícios de uma deformação plástica, o que pode ser um indício do começo da falha.

Já na figura 6 temos a região próxima à fratura aumentada de 1000x após sofrer um


ataque químico de ácido clorídrico, glicerina e ácido nitrico (HCl, C3H8O3 e HNO3
respectivamente). Nota-se que os grãos de austenita apresentam pontos escuros, o que indica
a presença de inclusões.

Além disso, foi feita uma análise fractográfica tanto da região central, como da região
mais próxima a trinca. Tais análises permitiram concluir que trata-se de um mecanismo de
fratura dúctil, uma vez que foi registrada presença de marcas esféricas provocadas pelo
coalescimento de vazios estruturais causados por esforços mecânicos no componente. Foi
também observada a presença de alongados, indicando a região de maior atuação cisalhante
no processo de fratura dúctil, e apontando a região onde iniciou a fratura, como indicadas na
figura a seguir.

Figura 7: Imagens dos aspectos fractográficos obtidas pelo MEV da região inferior esquerda da figura
5.

a) Região central da parte mais deformada da b) Região periférica da parte mais deformada da
superfície de fratura do parafuso. Dimples esféricos. superfície de fratura do parafuso. Dimples alongados.
MEV, modo BSE, 1200X. MEV, modo BSE, 3000X.
9

Região também periférica da parte mais deformada da superfície de fratura do parafuso. Dimples alongados.
MEV, modo BSE, 2500x.
Fonte: Análise de falha por fratura em parafuso allen integrante de um componente mecânico do sistema de
báscula de um forno, p. 6.

Também foi observada a região da extremidade inferior esquerda da superfície


fraturada, mostrando a presença de micro-trincas nessa região, como pode ser visto na figura
8. Ao analisarem outras imagens de regiões próximas do filete, os autores perceberam que
ocorria uma situação semelhante. Mostra-se importante, assim, a análise completa da região
fraturada, assim como seus arredores.

Figura 8 - Região próxima do filete de rosca do parafuso e próxima à fratura. MEV, modo BSE, 300X.

Fonte: Análise de falha por fratura em parafuso allen integrante de um componente mecânico do sistema de
báscula de um forno, p. 6.
10

Através da análise química por EDS, mostrou-se significativa a presença de ferro,


cromo, níquel e silício, em ordem decrescente. A região analisada pelo EDS pode ser vista na
figura 9, sendo esta uma região semelhante à região do filete da rosca do parafuso. O espectro
gerado pode ser encontrado na figura 10, enquanto os resultados da análise química podem
ser encontrados na figura 11. A determinação da composição química do material é de
extrema importância, visto que uma variação na quantidade dos componentes provoca uma
diferença nas propriedades dos materiais, podendo levar estes a falharem.

Figura 9 - Região analisada pelo EDS.

Fonte: Análise de falha por fratura em parafuso allen integrante de um componente mecânico do sistema de
báscula de um forno, p. 6.

Figura 10 - Espectro gerado pelo EDS.

Fonte: Análise de falha por fratura em parafuso allen integrante de um componente mecânico do sistema de
báscula de um forno, p. 6.
11

Como mostrado na figura 10, observa-se a presença de picos característicos de


elementos como silício, cromo, ferro e níquel. A seguir observa-se os resultados gerados pelo
EDS.

Figura 11 - Valores percentuais relativos (análise semi-quantitativa) obtidos para ferro (iron), cromo
(chromium), níquel (nickel) e silício (silicon) na região analisada

Fonte: Análise de falha por fratura em parafuso allen integrante de um componente mecânico do sistema de
báscula de um forno, p. 7.

Os resultados das medidas de microdureza Vickers encontraram-se de acordo com os


valores esperados para um aço austenítico, podendo ser encontrados na Tabela 1.

Tabela 1 - Valores obtidos de microdureza Vickers.

* Medidas diametralmente opostas


Fonte: Análise de falha por fratura em parafuso allen integrante de um componente mecânico do sistema de
báscula de um forno, p. 7.

4. Conclusão
Com toda a análise vista no trabalho pode-se entender melhor como esse tipo de
estudo é importante não só no setor industrial mas em quase todos maquinários que envolvem
nossas vidas.
12

A análise de falhas em componentes consiste em contextualizar uma falha local por


diversos fatores que podem tê-la causado. Isso faz com que consiga-se reduzir riscos, custos,
tempo de manutenção, entre outros fatores negativos.

No caso descrito no artigo, percebe-se como um parafuso (elemento pequeno de


fixação) pode ser fundamental no funcionamento de um maquinário muito maior e isso se
repete em diversos outros sistemas (em automóveis estamos seguros por parafusos também).
Assim, busca-se reduzir ao máximo falhas em componentes como este. E o melhor caminho é
aprender com os erros!

Para aprender com as falhas dos componentes deve-se entender primeiramente qual o
histórico de fabricação e funcionamento da peça em questão (no caso analisado é um
parafuso allen que fazia parte de um componente mecânico do sistema de báscula de um
forno elétrico a arco). E então, com isso em mãos, analisa-se resultados experimentais (como
análises visuais, ultrassom e magnética, além das análises microestruturais, químicas e de
dureza) que servem como “pistas” para chegar à conclusão de todo o processo: qual o motivo
da falha e como preveni-lo.

Levando em consideração os resultados obtidos, trata-se de um componente em aço


austenítico inoxidável e os valores de dureza estão mais próximos ao limite superior
especificado. Isso pode ser atribuído ao processamento na confecção do parafuso.

Agora tendo o cenário histórico do parafuso allen analisado e as análises


experimentais realizadas, conclui-se que a provável causa da fratura tenha sido a propagação
de microtrincas que já existiam nos filetes da rosca, conforme vemos na Figura 8. Essas
regiões se comportam como concentradores de tensão e acabam por ser o início de trincas
que se propagam e ocasionam a falha do componente. Para uma análise mais precisa, os
autores poderiam ter solicitado o fornecimento de alguns parafusos não fraturados para que
fossem realizados ensaios de torção, determinando o torque máximo que estes aguentam
normalmente.

Conclui-se que para reduzir a ocorrência dessa falha nesse componente e nessa
situação específica, deve-se limitar o torque máximo no aperto desses parafusos para que não
gere trincas durante o processo de aperto na montagem do forno. Outro processo importante é
atentar-se à qualidade dos processos do fabricante do parafuso para que reduza-se a chance de
ser um defeito de fabricação.
13

REFERÊNCIAS
● SANTOS, AC de A.; DINIZ, M. G.; PIMENTA, A. R. ANÁLISE DE FALHA POR
FRATURA EM PARAFUSO ALLEN INTEGRANTE DE UM COMPONENTE
MECÂNICO DO SISTEMA DE BÁSCULA DE UM FORNO.

● Conheça o Parafuso Allen. Disponível em:


<http://www.crvindustrial.com/blog/conheca-o-parafuso-allen>. Acesso em: 01 dez
2020.
14

● MEV: Entenda o que faz a Microscopia Eletrônica de Varredura? Disponível em:


https://afinkopolimeros.com.br/o-que-e-microscopia-eletronica-mev/. Acesso em: 01
dez 2020.
● MARCOMINI, J. B. SMM0330 - Princípios de Análise de Falhas em
Componentes - Notas de Aula.

● Análise de falhas: o que é e qual a importância na indústria? Disponível em:


<https://www.foccoerp.com.br/gestao-industrial/analise-de-falhas/>. Acesso em: 01
dez 2020.

Você também pode gostar