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FIAÇÃO
VOLUME 01
SÉRIE TÊXTIL
FIAÇÃO
VOLUME 1
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI
FIAÇÃO
VOLUME 1
©2016. SENAI – Departamento Nacional
A reprodução total ou parcial desta publicação por quaisquer meios, seja eletrônico, mecâ-
nico, fotocópia, de gravação ou outros, somente será permitida com prévia autorização, por
escrito, do SENAI.
Esta publicação foi elaborada pela equipe do SENAI CETIQT, com a coordenação do SENAI
Departamento Nacional, para ser utilizada por todos os Departamentos Regionais do SENAI
nos cursos presenciais e a distância.
FICHA CATALOGRÁFICA
S491f
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Departamento Nacional.
Fiação volume 1 / Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.
Departamento Nacional, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.
Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil. Brasília: SENAI/DN,
2016.
v.1 : il. (Série Têxtil)
ISBN 9788550501185
CDU: 677.022
SENAI Sede
2 Fibras Têxteis....................................................................................................................................................................21
2.1 Principais propriedades das fibras.........................................................................................................22
2.2 Estudo das principais fibras naturais.....................................................................................................24
2.2.1 Algodão.........................................................................................................................................24
2.2.2 Linho...............................................................................................................................................29
2.2.3 Lã......................................................................................................................................................32
2.2.4 Seda................................................................................................................................................37
2.2.5 Amianto.........................................................................................................................................40
2.3 Estudo das principais fibras artificiais...................................................................................................42
2.3.1 Viscose............................................................................................................................................42
2.3.2 Triacetato e acetato de celulose...........................................................................................45
2.4 Estudo das fibras sintéticas.......................................................................................................................49
2.4.1 Obtenção dos polímeros.........................................................................................................50
2.4.2 Poliamida......................................................................................................................................51
2.4.3 Poliéster.........................................................................................................................................54
3 Fiação Química................................................................................................................................................................59
3.1 Técnicas de fiação química........................................................................................................................60
VOLUME 1
4 Mistura de Fibras.............................................................................................................................................................69
4.1 A classificação do algodão em pluma no brasil................................................................................70
4.2 Cuidados com a matéria prima...............................................................................................................75
4.3 Procedimentos para classificação do algodão...................................................................................80
4.4 Os padrões físicos universais americanos.........................................................................................80
4.5 A classificação visual e manual do algodão em pluma..................................................................82
4.6 Os procedimentos operacionais para classificação.........................................................................84
4.7 Grau de cor (color grade – cg).................................................................................................................85
4.8 Grau de folha (leaf gread - l.G.)................................................................................................................88
4.9 O comprimento da fibra........................................................................................................................ 105
5 Fios Têxteis........................................................................................................................................................................99
5.1 Definição do fio têxtil............................................................................................................................... 100
5.2 Classificação do fio têxtil........................................................................................................................ 100
5.2.1 Fiação convencional.............................................................................................................. 101
5.2.2 Fio cardado (processo cardado)........................................................................................ 102
5.2.3 Fio penteado (processo penteado).................................................................................. 102
5.2.4 Fio singelo e fio retorcido.................................................................................................... 102
5.2.5 Fio regular.................................................................................................................................. 103
5.2.6 Fio fantasia................................................................................................................................ 103
5.3 Características e propriedades dos fios fiados................................................................................ 104
5.3.1 Composição do fio fiado...................................................................................................... 104
5.3.2 Estrutura do fio fiado............................................................................................................. 105
5.4 Designação do fio..................................................................................................................................... 105
5.4.1 Título do fio com mesma matéria-prima........................................................................ 106
5.4.2 Título do fio com matéria-prima diferente.................................................................... 107
5.4.3 Sistemas de titulação............................................................................................................. 109
VOLUME 1
Referências......................................................................................................................................................................... 123
Índice................................................................................................................................................................................... 128
Referências......................................................................................................................................................................... 299
Índice................................................................................................................................................................................... 303
8 Cálculos de Fiação....................................................................................................................................................... 321
8.1 Cálculos de produção.............................................................................................................................. 322
8.1.1 Conceito de produção teórica e capacidade de produção..................................... 322
8.1.2 Conceito de produção prática............................................................................................ 322
8.1.3 Unidades de medida do cálculo de produção............................................................. 322
8.1.4 Cálculo de produção teórica............................................................................................... 323
8.1.5 Cálculo de produção prática............................................................................................... 325
8.2 Cálculos de perda de matéria-prima.................................................................................................. 327
8.2.1 Cálculos de desperdício........................................................................................................ 328
8.2.2 Cálculos de rendimento de matéria-prima................................................................... 331
8.3 Cálculos de torção..................................................................................................................................... 332
8.4 Cálculos de estiragem.............................................................................................................................. 338
8.4.1 Cálculo de estiragem em máquinas que não efetuam limpeza, nem torção... 339
8.4.2 Cálculo de estiragem em máquinas que efetuam apenas limpeza...................... 341
8.4.3 Cálculo de estiragem em máquinas que efetuam apenas torção......................... 344
8.4.4 Cálculo para determinar o percentual de contração utilizado no fator de
correção (FC)....................................................................................................................................... 346
8.5 Cálculo para definir a composição dos fios com mais de uma fibra no processo
de fiação.............................................................................................................................................................. 348
8.5.1 Composição dos fios realizada na sala de abertura................................................... 348
8.5.2 Composição dos fios realizada no passador................................................................. 350
VOLUME 3
9 Testes................................................................................................................................................................................ 353
9.1 Teste para matéria-prima........................................................................................................................ 353
9.2 Teste na linha de abertura, mistura, limpeza e cardagem.......................................................... 354
9.3 Teste das características da matéria-prima em processo............................................................ 354
9.4 Teste no fio................................................................................................................................................... 356
Referências......................................................................................................................................................................... 423
Índice................................................................................................................................................................................... 431
Introdução
Este livro visa a fornecer as capacidades técnicas referentes ao processo de fiação com vis-
tas ao desenvolvimento de produtos têxteis, bem como a aquisição das capacidades sociais,
organizativas e metodológicas adequadas às diferentes situações que podem se apresentar na
sua vida profissional.
Neste material você verá que é no setor de Fiação que ocorre o primeiro processo da indús-
tria têxtil e conhecerá as matérias-primas têxteis (ou seja, as diversas fibras têxteis que podem
ser utilizadas para fabricar um fio têxtil). Além disso, você irá aprender a medir e controlar todo
o processo de transformação e quais são as operações fundamentais que acontecem em todas
as máquinas responsáveis pela produção, além dos tipos de fios que podem ser produzidos
nos diversos fluxogramas de processo existentes na Fiação. Posteriormente, você aprenderá
como realizar cálculos relacionados à Fiação e como utilizar as fibras nos diversos processos
de fabricação dos não tecidos, além de conhecer os aspectos do processo de Fiação que im-
pactam no Meio Ambiente, Saúde e Segurança do trabalho, que são essenciais para qualquer
indústria de transformação.
O livro didático está dividido em onze capítulos, sendo que o primeiro é destinado à Intro-
dução. O capítulo dois, Fibras Têxteis, definirá de forma global o que são as fibras têxteis, mos-
trando as diferentes classificações em função de sua natureza. Abordará também as principais
propriedades das fibras, possibilitando definir a aplicação de cada uma delas. Em seguida, o
capítulo Fiação Química demonstrará a definição desse tipo de fiação e os diferentes proces-
samentos, dependendo da origem da matéria-prima. Apresentará também a importância de
algumas etapas posteriores ao processo de fiação, as quais melhoram suas características intrín-
secas, a fim de garantir o desempenho desejado.
O capítulo quatro, Mistura de Fibras, expõe a importância da classificação do algodão em
pluma para o gerenciamento do controle da qualidade nos processos de fiação. Aborda ainda
os fundamentos de classificação de algodão e uma das formas de estabelecer a mistura entre
fardos das fibras de algodão em pluma com foco em atingir altos índices de produção, quali-
dade e baixos índices de custos. Além disso, você estudará as características físicas das fibras
de algodão e suas inter-relações e correlações com os processos e os produtos têxteis. Já no
capítulo sobre Testes, você aprenderá sobre todos os controles e testes realizados desde o
recebimento da matéria-prima até o processo final de formação do fio.
FIAÇÃO - VOLUME 1
18
O capítulo seis, Fios Têxteis, apresentará a definição e a classificação dos fios têxteis, destacando a
grande diversidade de produtos existentes e suas inúmeras aplicações. Destacará, também, a maneira cor-
reta de designar um fio têxtil e alguns fluxogramas de fiação, permitindo, dessa forma, que você perceba
que o processo de fabricação do fio é alterado em função do produto que deseja produzir.
O capítulo Operações Fundamentais apresentará as operações fundamentais para formação de um fio
em fiação convencional. Por último, relacionará as etapas do fluxograma e as operações fundamentais. No
capítulo oito, Fiação Convencional, você verá diversas máquinas que convertem as fibras descontínuas
compactadas, em forma de fardo, em diversos tipos de fios. Serão detalhadas as características, a aplicação,
os elementos, o funcionamento, os ajustes e as regulagens de cada máquina. Já o capítulo de Cálculos de
Fiação abordará os cálculos de produção teórico e prático, e o cálculo para determinar a perda de matéria-
-prima no processo, que são requisitos básicos para planejar e acompanhar a produção na fiação.
O capítulo dez, Não Tecidos, trata sobre a transformação de fibras têxteis em não tecidos. Você apren-
derá as definições, os processos de obtenção da manta via seca, via úmida e molhadas, os processos de
consolidação mecânica, química e térmica da manta, as características de cada processo e suas aplicações.
No último capítulo do livro didático, Gestão Ambiental de Resíduos na Fiação, você conhecerá a
origem dos resíduos do algodão, os resíduos que podem ser gerados em cada etapa do processo de fia-
ção e a terminologia utilizada para identificar seus diferentes tipos. Em seguida, você estudará o processo
de classificação de resíduos sólidos e, consequentemente, de classificação dos resíduos de algodão e da
fiação. Por último, foram observadas as diversas possibilidades de destinação dos resíduos de algodão, da
área de fiação, em termos de reciclagem ou reaproveitamento.
Esperamos que os conhecimentos abordados nesse livro favoreçam sua capacidade de tomada de de-
cisão dentro dos diversos desafios encontrados nos processos de fiação de uma indústria têxtil.
Bons estudos!
Fibras Têxteis
No universo têxtil, a palavra “fibra” é utilizada como um termo genérico que define quais-
quer materiais que sejam utilizados como elementos básicos para fins têxteis. De acordo com
a American Society for Testing and Materials (ASTM), uma fibra é definida como uma unidade de
material que possui o comprimento pelo menos 100 vezes maior que seu diâmetro ou larguras,
com orientação perfeitamente definida de suas células cristalinas na direção do comprimento.
A ASTM é um órgão norte-americano de normalização que desenvolve e publica normas
técnicas para diversos materiais, produtos, sistemas e serviços.
Segundo a resolução 01/2001 do Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Quali-
dade Industrial (CONMETRO), define-se por “fibra têxtil” todo o elemento, de origem natural ou
química, que é constituído de macromoléculas lineares, apresenta alta proporção entre o seu
comprimento e diâmetro e cujas características de flexibilidade, suavidade e conforto ao uso
tornem tal elemento apto a aplicações têxteis.
As fibras têxteis estão presentes em uma infinidade de artigos, seja no vestuário, têxteis para o
lar (cama, mesa e banho) e também nos segmentos industriais, sendo desenvolvidas e aplicadas
para utilizações específicas. Numa escala classificatória, podem-se dispor as fibras da seguinte
forma:
a) Fibras naturais: são aquelas encontradas prontas na natureza, sendo diretamente
submetidas aos processos têxteis para serem transformadas em fio e, posteriormente, em
tecido. Ex.: algodão, linho, seda;
b) Fibras artificiais: são fibras que possuem, como material precursor, um elemento encon-
trado na natureza que não se encontra no formato de fibra. Dessa forma, são necessários
alguns processos químicos e físicos para torná-lo um elemento fiável e capaz de ser tecido.
Ex.: viscose, acetato de celulose;
c) Fibras sintéticas: são fibras criadas a partir de sínteses químicas, ou seja, manipuladas
para se tornarem um elemento fiável e capaz de ser tecido. Ex.: poliéster, nylon.
FIAÇÃO - VOLUME 1
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As figuras 1 e 2 apresentam o diagrama de classificação das fibras têxteis naturais e químicas, com al-
guns exemplos.
Natural
Algodão Lã
Linho Seda Amianto
Juta Cashemira
Rami Coelho
Coco Vicunha
Cânhamo
Sisal
Figura 1 - Classificação das fibras têxteis naturais
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
Química
Ar cial Sintética
Viscose Poliéster
Poliamida
Acetato de Celulose
Acrílica
Liosel Aramidas
Poliéstireno
Polipropileno
Poliuretano
A seguir estão listadas as características físicas que podem ser associadas às fibras.
a) Finura: É a propriedade que diz respeito ao diâmetro ou espessura da fibra, normalmente expressa
em microns1.
b) Comprimento: Fator de extrema importância numa fibra. A maioria das fibras naturais apresenta
o comprimento limitado, com exceção da fibra de seda, que pode alcançar comprimentos acima de
um quilômetro. As fibras químicas, nesse ponto, podem ter seu comprimento controlado com maior
facilidade, visto que o mesmo pode ser alterado durante o processamento.
c) Alongamento: Definido como uma deformação longitudinal da fibra quando sujeita ao efeito de
uma carga.
d) Elasticidade: É a capacidade de retorno (recuperação elástica) da fibra ao seu comprimento original.
e) Resiliência: Definida como a propriedade que uma fibra possui de recuperar sua forma original após
sofrer um esforço, como uma dobra ou compressão. De forma geral, a resiliência está diretamente
relacionada com a capacidade ou não do tecido amarrotar.
f) Tenacidade: É uma medida da quantidade de energia que um material pode absorver antes de fra-
turar ou romper. Em outras palavras, a tenacidade é um termo utilizado para avaliar a resistência das
fibras têxteis.
g) Morfologia: Está relacionada a aparência das fibras com relação a seu corte transversal e longitudi-
nal.
h) Densidade: É a medida da massa da fibra por unidade volumétrica, normalmente expressa em g/cm3.
A densidade da fibra pode ser afetada pela estrutura molecular (cristalinidade), orientação e massa
molar dos elementos constituintes da fibra. A porosidade, os espaços vazios, o lúmen, etc., podem
também afetar a densidade da fibra. Todas as fibras têxteis, à exceção do polietileno, são mais densas
(pesadas) do que a água. A fibra mais leve é a poliamida. As mais pesadas são o vidro e o amianto.
i) Regain: Capacidade que possui a fibra têxtil de absorver umidade do meio ambiente. É expresso em
porcentagem a partir do peso seco da fibra. Os valores de Regain variam de fibra para fibra, depen-
dendo de sua origem.
j) Lustro: Propriedade que a fibra tem de possuir brilho. Está diretamente ligada às características mor-
fológicas e à reflexão de luz por parte da fibra.
k) Flamabilidade: Definida como a ignição relativa do material e sua tendência a produzir chama.
l) Combustibilidade: Característica da qualidade da queima do material, como a intensidade e a persis-
tência, isto é, o tempo de queima após a extinção da fonte de chama, por exemplo.
1 É um submúltiplo do metro, que é uma unidade de comprimento do Sistema Internacional de Unidades (SI). Um micron é
definido como 1 milionésimo de metro (1 × 10-6 m), ou seja, equivale à milésima parte de 1 milímetro.
FIAÇÃO - VOLUME 1
24
m) Resistência ao ataque ácido e básico: Nos processos de beneficiamento, é uma prática comum a
utilização de soluções ácidas e básicas para o pré e pós-tratamento do fio ou tecido a ser beneficiado.
É importante saber a composição dessas soluções, para que sejam utilizadas corretamente, sem pro-
vocar nenhum tipo de dano ao artefato têxtil.
As fibras naturais foram as primeiras a serem manipuladas pelo homem na confecção de vestimentas e
outros artefatos têxteis. Como dito anteriormente, estas já se encontram na natureza em formato fibrilar,
sendo necessários os processos de fiação convencional e tecelagem para a obtenção do produto desejado.
Neste tópico, serão estudadas as principais fibras naturais.
2.2.1 ALGODÃO
O algodão2 é classificado como uma fibra natural, orgânica, à base de celulose e derivada da semente.
Sendo utilizada como fibra têxtil há mais de sete mil anos, pode-se dizer que o algodão está ligado à ori-
gem mais remota do vestuário e à evolução da produção dos artigos têxteis. No mundo antigo, o algodão
representou um importante papel cultural e econômico.
O algodão é uma planta classificada na ordem das Malváceas, sob o nome de Gossypium. Existem di-
versos tipos de algodoeiro, sendo estes diferenciados por características como a altura da planta, o com-
primento e a finura das fibras. Desenvolve-se satisfatoriamente em zonas costeiras das regiões tropicais,
sendo necessário para seu cultivo um solo argiloso ou arenoso. Após 40 dias (em média), o arbusto atinge
sua altura máxima. Posteriormente, percebe-se o aparecimento de flores, que possuem variação de colora-
ção entre o amarelo claro e rosa.
O período de floração dura, em média, de 100 a 140 dias. A presença de flores na ponta do arbusto
significa que os capulhos ou cápsulas3 estão desenvolvidos, com cinco células em sua parte inferior, com o
tamanho aproximado de uma noz. Em cada célula, crescem de dois a seis grãos de sementes do tamanho
de um grão de café, de acordo com o tipo do algodoeiro. Cada grão desenvolve de 1200 a 1700 fibras. Na
maioria das espécies, o momento da colheita é percebido quando o capulho se rompe e as fibras “brotam”.
2 A palavra “algodão” se origina do termo arábico qoton ou qutum, o que significa “uma planta encontrada em terra conquistada”.
3 É a cápsula que envolve o algodão.
2 FIBRAS TÊXTEIS
25
Cutícula Partícula
Parede primária
Luiz Meneghel
Lúmen
Figura 4 - Corte transversal da fibra de algodão
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
CURIOSI A estrutura química da celulose é composta pela união de 300 a 1500 moléculas de
DADES glicose.
CH₂OH H OH
H O O H
H OH H
OH H H
H H O
O
Lílian Carreira
H OH CH₂OH
n
Figura 5 - Estrutura química da celulose, principal componente da fibra de algodão.
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
4 São substâncias obtidas a partir da pectina, um açúcar de estrutura química longa (polissacarídeo), sendo este um dos compo-
nentes principais da parede celular das plantas.
2 FIBRAS TÊXTEIS
27
b) Resistência Mecânica: A resistência é uma das principais características da fibra de algodão. No en-
tanto, a força necessária para rompê-la variará bastante, levando-se em consideração a espessura
da parede da fibra e outras avarias que as mesmas possam ter sofrido. O índice Pressley (Tabela 2),
expresso em lb/mg (libra por miligrama de fibra), apresenta a força necessária para o rompimento da
fibra, especificando a classificação existente.
5 São emaranhados de fibras formados pela grande quantidade de fibras imaturas, ou seja, fibras de algodão que não possuem
espessura necessária para serem consideradas fibras maduras.
FIAÇÃO - VOLUME 1
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c) Finura: A finura é medida pela massa de fibra por unidade de comprimento e está relacionada à
quantidade de celulose depositada. A maturidade é uma grandeza diretamente proporcional à finura,
pois o diâmetro da espessura da parede celular depende diretamente desta. A qualidade e a aparência
dos tecidos dependerão intimamente da finura da fibra utilizada, que é expressa em mg/” (miligrama
por polegada de fibra). A Tabela 3 apresenta a classificação do algodão de acordo com sua espessura.
d) Alongamento: Variará de acordo com o conteúdo de umidade das fibras, apresentando-se em torno
de 5 a 10%. Você verá mais informações sobre o assunto logo adiante, no item “Conteúdo de umidade
e regain”.
e) Resiliência: Embora apresente valor superior quando comparada às demais fibras celulósicas, a resi-
liência da fibra de algodão é baixa.
CURIOSI Os tecidos de algodão devem ser umedecidos quando passados a ferro, em função
DADES da baixa resiliência dessa fibra.
g) Propriedades químicas: Com relação ao ataque básico, a fibra de algodão se mostra bem resistente.
Esses produtos são amplamente utilizados nos processos de acabamento de fios e tecidos. Os ácidos
minerais fortes e as soluções ácidas a quente atacam as fibras de algodão. No caso de soluções ácidas
em temperatura ambiente, também é possível observar a degradação das fibras, no entanto, de for-
ma mais lenta. Os solventes orgânicos não apresentam riscos à fibra de algodão, sendo esta bastante
resistente ao ataque dos mesmos.
h) Propriedades térmicas: A exposição da fibra de algodão a temperaturas acima de 240°C pode cau-
sar degradação. A queima da fibra de algodão é rápida e o odor exalado é de papel queimado (quei-
ma da celulose), com liberação de fumaça branca e resíduo macio na cor cinza.
Ao se passar uma peça de vestuário de algodão, deve-se ter atenção não somente à
CURIOSI temperatura, mas também ao tempo de exposição ao ferro de passar (períodos de-
DADES masiadamente longos de tempo podem causar manchas amarelas na peça, indício
de degradação da fibra).
2.2.2 LINHO
O linho é uma fibra natural, orgânica, à base de celulose e derivada de caule vegetal. É conhecido
como a fibra têxtil mais antiga utilizada.
CURIOSI Fragmentos de linho, que datam de cerca de 10.000 a.C., foram encontrados e esca-
vações na região da Suíça, assim como consta a utilização do linho em vestimentas
DADES no Egito, entre os anos 4.000 a 3.000 a.C.
A obtenção do linho provém do caule de uma planta (Linun usitatissimum) que é encontrada em regiões
de clima temperado ou subtropical. No interior da casca da planta são encontradas células longas, delga-
das e de parede espessa, que são compostas por elementos fibrosos. As variedades que são cultivadas
para fibra alcançam, em média, 90 a 120 cm de altura, sendo este um fator extremamente importante, pois
somente a porção não ramificada do caule possui valor comercial para uso têxtil.
Para o cultivo do linho, deve-se oferecer um solo de média fertilidade e que possua bom sistema de
drenagem; com relação ao clima, este deve ser ameno durante a germinação (em torno de 23°C) e com
chuvas bem distribuídas. A colheita é iniciada quando há o aparecimento de flores e, consequentemente,
o amadurecimento das sementes. A Figura 7 a seguir apresenta o arbusto florescido:
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IStock / Elenathewise
Figura 7 - Arbustos de linho no momento da floração
Após essa etapa, são feitos alguns tratamentos no caule para que se consiga separar as fibras que, pos-
teriormente, serão transformadas em fios e tecidos.
Aline Mendonça
b) Tenacidade: A tenacidade do linho varia entre 5,5 a 6,5 gf/d (grama-força por denier). Os tecidos
produzidos a partir dessa fibra são duráveis e são resistentes durante a lavagem, sendo a resistência
deste, quando molhado, 20% superior ao ser comparado em seu estado normal.
c) Alongamento: É uma fibra pouco extensível, isto é, possui baixo alongamento. A seco, os valores
encontram-se entre 2,7 a 3,3%; quando molhado, esse valor cai para cerca de 2%.
d) Elasticidade: Encontra-se na faixa de 65%. O linho é considerado uma fibra elástica, tendendo a vol-
tar ao seu estado original quando cessado o esforço.
6 É um polissacarídeo que, em conjunto com a celulose e a pectina, formam a parede celular das plantas.
FIAÇÃO - VOLUME 1
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e) Resiliência: O linho possui péssima recuperação à dobra, ou seja, possui baixa resiliência, devido a
sua elevada rigidez e alta resistência à flexão.
CURIOSI A baixa resiliência da fibra de linho está diretamente associada à tendência a amar-
DADES rotar que as peças de vestuário feitas dessa fibra têm.
CURIOSI Os tecidos de linho, assim como os de algodão, devem ser umedecidos quando pas-
DADES sados à ferro, em função da baixa resiliência dessa fibra.
Possui comportamento de queima semelhante ao algodão, exalando o odor de papel queimado, carac-
terizado pela presença de celulose em sua estrutura.
CURIOSI A fibra de linho é considerada boa condutora de calor, dissipando-o com facilidade.
Assim, é explicado o porquê de peças de vestuário feitas de linho possuírem o to-
DADES que frio.
2.2.3 LÃ
A lã é classificada como uma fibra natural, de origem animal, proveniente de pelos. O termo lã refere-se
ao revestimento piloso encontrado em animais como carneiros, ovelhas, borregos ou cordeiros. Caracterís-
ticas como comprimento, finura e ondulação da lã serão diferentes para cada espécie de animal que pode
fornecê-la, o que constitui grande importância na definição dos tipos e qualidades das mesmas.
2 FIBRAS TÊXTEIS
33
Composição e morfologia da lã
A lã é uma fibra composta de queratina, uma proteína fibrosa que possui em sua estrutura 18 resíduos
de aminoácidos que se mantêm juntos e se distribuem de tal forma que a fibra possua boas propriedades,
como resiliência e elasticidade. Algumas análises científicas evidenciaram que a queratina presente na lã
possui uma estrutura helicoidal a (Figura 9) e acredita-se que esse tipo de estrutura seja responsável pelo
elevado alongamento das fibras de lã.
No entanto, pesquisas adicionais sugerem que a ligação cistina e as interações intermoleculares de hi-
drogênio participam ativamente na manutenção dessa estrutura, sendo responsáveis pela forma e fixação
das fibras de lã ao se estruturar um tecido. A Figura 9 apresenta tais estruturas.
a)
CO CO
RHC CHR
NH NH
OC CO
CH CH₂ S S CH₂ CH
NH Ligação de Cristina NH
CO (Cystine linkage)
CO
RHC CHR
NH NH
OC CO
RHC CHR
NH NH
OC CO
CH CH₂ CH₂ CO O NH₃ CH₂ CH₂ CH₂ CH₂ CH
NH Ácido glutâmico Sal de Lysine NH
ligação
CO CO
(Salt Linkage)
RHC CHR
NH NH
OC CO
CH CH₂ CO O NH₃ C NH CH₂ CH₂ CH₂ CH
NH NH
NH
CO CO
Lílian Carreira
RHC CHR
FIAÇÃO - VOLUME 1
34
b)
R
C CH
N N N
CH C
R
R CH CH
C N R
R CH N
C C
C
H CH R
N N O N
H H CH C H
R R
R R N C CH
CH CH O
O O H N
C C C
O R CH H
N R
C H CH N O
N C
N
O
CH CH
R CH R N R
C
R N
C R
CH CH
C C
N
N C
CH
Lílian Carreira
R
Com relação à morfologia, é possível observar, na vista longitudinal, que a lã possui uma estrutura esca-
mosa. São encontradas de 250 a 700 escamas por cm, dependendo da qualidade da fibra. A observação da
seção transversal mostra três fases distintas: a camada externa, o córtex e a medula.
a) Camada externa: Também conhecida como epiderme ou cutícula, é a parte composta pela escamas.
Estão dispostas umas sobre as outras ao longo da fibra.
b) Córtex: É a maior porção em massa da fibra (cerca de 90%). É composto por células corticais e se
estende ao longo do centro da camada da cutícula. As células corticais são longas e se apresentam
como enroladas num fuso, de forma a ter resistência e elasticidade.
c) Medula: Local onde ocorre a alimentação da fibra. Possui tamanho variável, sendo invisível em fibras
muito finas. Como é uma área que contém certos pigmentos, torna-se também responsável pela co-
loração da fibra.
A Figura 10 apresenta a vista longitudinal e o corte transversal de uma fibra de lã.
2 FIBRAS TÊXTEIS
35
Aline Mendonça
Figura 10 - Vista longitudinal (a) e corte transversal da fibra de lã (b)
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
Processamento da lã
O processamento da lã se divide em várias etapas. O primeiro procedimento consiste na extração, isto
é, a retirada de pelo por meio de tosquia. Posteriormente, ocorre o processo de lavagem, que tem por fina-
lidade a remoção da gordura natural que a lã contém (lanolina). Em seguida, faz-se a separação da lã, por
meio de seleção natural, de acordo com sua qualidade, que é caracterizada por:
a) Finura;
b) Comprimento;
c) Cor;
d) Aparência.
Esses fatores irão variar na lã extraída de um único animal, visto que a tosquia é feita em diferentes par-
tes do corpo (quanto mais próxima estiver do solo, pior é qualidade da lã).
A próxima etapa consiste na limpeza das fibras, com a abertura das fibras para a remoção das impure-
zas. Esse processo é continuado durante a cardagem7, a qual também elimina as fibras curtas, que podem
ser prejudiciais à produção do fio. Finalmente, o material é submetido ao processo de fiação, no qual será
torcido e estirado para a formação do fio.
Propriedades da lã
a) Tamanho e espessura: O comprimento das fibras de lã pode variar na faixa entre 3,8 a 38 cm, depen-
dendo do tipo de animal, assim como a espessura, que dependendo da espécie, pode apresentar es-
pessura entre 15 a 70 mícrons. Uma particularidade das fibras de lã é o crimp, uma ondulação natural
que se constitui como vantagem na confecção de fios e tecidos.
7 É um processo mecânico que limpa, paraleliza e mistura fibras têxteis, produzindo um véu ou fita de fibras, que será utilizado no
processo de obtenção do fio têxtil da fibra em questão.
FIAÇÃO - VOLUME 1
36
c) Resiliência: Possui excepcional propriedade de resiliência, ou seja, recupera sua forma original de-
pois de retirada da carga ou força que provocava a deformação (compressão ou amarrotamento).
d) Regain: O regain varia entre 13,6-16%; podendo absorver acima de 29% em estado de saturação,
propriedade diretamente relacionada ao fato de artigos de lã serem confortáveis. Por absorver água, a
lã libera calor; contudo, com a evaporação, a lã seca e produz cargas elestrostáticas, que podem gerar
certos “arrepios” momentâneos no momento em que se veste um artigo de lã.
e) Estabilidade dimensional: São fibras dimensionalmente estáveis. A estrutura da fibra contribui para
uma reação de encolhimento e feltragem durante o processamento. Esse comportamento está rela-
cionado, em parte, à estrutura em escamas que a fibra apresenta. Ao ser exposta ao calor, umidade e
agitação, as escamas tendem a se mover em torno de seu eixo. Essa propriedade é importante em fios
e tecidos e é responsável tanto pela feltragem como pelo relaxamento.
f) Propriedades químicas: A queratina é altamente atacada pelas bases, sofrendo danos. Soluções de
Hidróxido de Sódio (NaOH) a 5% à temperatura ambiente (dependendo do tempo de exposição) e
Hipoclorito de Sódio (NaCIO) (concentrado) são capazes de dissolver as fibras. Com relação aos áci-
dos, a lã é resistente quando estes se encontram em soluções diluídas, no entanto, ácidos minerais
concentrados (ácido sulfúrico e ácido nítrico) são fortes o suficiente para provocar a degradação da
fibra.
g) Propriedades térmicas: A queima da lã produz um resíduo escuro e pulverizável, com liberação
de odor semelhante a cabelo queimado. Em temperaturas acima de 130oC, percebe-se um processo
lento de decomposição da fibra de lã e a mesma adquire coloração amarelada, desintegrando-se to-
talmente em temperaturas superiores aos 300 oC.
h) Efeitos de luz e tempo: A ação dos raios U.V. pode provocar degradação na fibra, em função da
quebra das pontes de bisulfeto da cistina que, com a exposição prolongada, leva a sua destruição. No
entanto, artefatos de lã não são expostos continuamente aos raios U.V. – já que os tecidos de lã são
quentes e, normalmente, utilizados no frio –, o que não se constitui num problema crítico.
2 FIBRAS TÊXTEIS
37
2.2.4 SEDA
A seda é uma fibra natural, orgânica, uma proteína animal encontrada na forma de casulos. A fibra é
produzida por meio de secreções expelidas por alguns insetos, sendo o mais comum o Bombyx mori, vul-
garmente conhecido como bicho-da- seda. A fibra é expelida sob a forma de dois filamentos de fibroína
ligados por sericina. Assim, designa-se por sericicultura a arte de criar o bicho-da-seda e cultura da amorei-
ra, indispensável à alimentação do referido animal.
De acordo com uma lenda chinesa, o “cultivo” da seda (sericultura) iniciou-se no ano
de 2640 a.C, em função do interesse da imperatriz Hsi Ling Shi. Conta a lenda que
a imperatriz encontrava-se em seu jardim tomando um chá sob a sombra de um pé
de amoreira, quando um casulo caiu dentro de sua xícara, que continha o líquido
CURIOSI ainda quente. Ao tentar retirá-lo com os dedos, ela percebeu que ele havia se “dis-
DADES solvido”, gerando um longo filamento. Assim nasceu a indústria da seda na China,
que em pouco tempo se tornaria uma potência na produção e na transformação
da seda em artefatos têxteis. Por cerca de 3.000 anos, os chineses guardaram em
segredo as técnicas para a produção da seda, sendo condenado à morte aquele que
ousasse revelá-los.
Sericicultura
A seda cultivada é proveniente da lagarta da mariposa Bombyx mori. Este tipo de lagarta, durante sua
fase larval, vive nos arbustos da amoreira e se alimenta das folhas dessa planta. Comercialmente, as lagar-
tas são mantidas em criadouros com condições adequadas de crescimento e formação do casulo. Neste
caso, uma grande quantidade de folhas de amoreira é disposta para a alimentação das lagartas.
CURIOSI É interessante salientar que o bicho da seda é um animal bastante seletivo com rela-
ção à alimentação. Nenhuma outra espécie de folhagem será aceita; apenas as folhas
DADES de amoreira.
A “extrusão”8 dos filamentos ocorre através de dois pequenos orifícios, denominados de glândulas
sericígenas, localizadas no abdômem (próximos à cabeça). Os filamentos são recobertos por uma goma
que se solidifica em contato com o ar. A larva da mariposa gasta de 2 a 3 dias para fazer o casulo em condi-
ções consideradas ideais: 20 a 250°C e cerca de 70 a 80% de U.R.
Durante sua vida, o Bombyx mori passa por quatro estágios: ovo, larva, pupa (crisálida) e imago (maripo-
sa). A pupa ou crisálida é a denominação dada à lagarta do bicho da seda quando esta se encontra dentro
do casulo formado pelo enovelamento dos filamentos de seda. A Figura 11 apresenta os principais estágios.
8 É uma palavra que deriva do grego (“ex” = movimento para fora; “trudere” = empurrar), que significa forçar a saída, ou seja, expul-
sar algo.
FIAÇÃO - VOLUME 1
38
O casulo é constituído por um “fio duplo” por causa dos filamentos oriundos das duas glândulas, e pode
chegar a ter mais de 1.300 metros de comprimento. O casulo furado possui baixo valor comercial. Para não
danificá-lo, ou seja, para que não ocorram danos à fibra, faz-se necessário “matar” a crisálida dentro do
casulo, por sufocação ou desidratação.
O Bombyx mori não sobrevive por muito tempo sozinho no ambiente. Portanto, a sua criação deve ser
feita em ambiente fechado, chocando os ovos colocados na estação precedente e, como dito anteriormen-
te, a alimentação deve ser feita somente com as folhas de amoreira.
a) b)
Thinkstock / bert_phantana
Thinkstock / GlobalP
c) d)
Thinkstock / Rolf Matthies
Thinkstock / james63
Figura 11 - Casulo com os fios pendurados (a); transformação em pupa e subsequentemente em mariposa (b); lagarta construindo casulo (c); casulo e pupa no interior
do casulo (d)
2 FIBRAS TÊXTEIS
39
Em média, são reunidos de 7 a 10 kg de casulo vivo para se obter 1 kg de seda crua. Nas rosetas denta-
das9, os filamentos de diversos casulos são reunidos com a finalidade de formar determinado título10 ao fio.
Logo a seguir, as meadas11 são levadas para os carretéis de uma máquina denominada de encantatória, e
posteriormente os fios são levados até a politriz, no qual os filamentos passarão por uma roldana encapada
com camurça, que possui a finalidade de retirar os defeitos, dando brilho a eles.
Propriedades da Seda
a) Estrutura química e microscopia: O fio de seda é composto, principalmente, por duas proteínas,
a saber: fibroína e sericina. A fibroína, que está presente em maior porcentagem (70-80% de massa
seca), é formada pela condensação de 15 aminoácidos na cadeia polipeptídica. Não está inclusa nesse
grupo a cistina, o que elimina qualquer possibilidade de serem formadas ligações sulfúricas, sendo
esta a principal diferença entre a proteína da seda e a da lã. A lã possui o aspecto de espiral em função
das ligações sulfúricas presentes.
A sericina corresponde a 20-30% da massa seca restantes. Essa proteína possui propriedades adesivas
e é responsável por manter os filamentos de fibroína unidos, que têm por finalidade, no casulo, conferir
proteção e resistência. Além desses elementos principais, são encontrados no fio de seda traços de lipíde-
os, polissacarídeos, gorduras, ceras, carboidratos, corantes, entre outros. Com relação à microscopia, a vista
longitudinal apresenta um fio transparente e aparentemente macio. A seção transversal assemelha-se a
um triângulo. Os filamentos são longos e finos; o comprimento varia entre 915 e 1190 metros. Em casos
excepcionais, esse valor pode ser igual a 2750 metros. O diâmetro varia entre 9 e 10 microns. A Figura 12
apresenta a seção transversal e a vista longitudinal do fio de seda.
Aline Mendonça
b) Tenacidade: Os valores de tenacidade para o fio de seda “seco” encontram-se na faixa entre 2,4 a
5,1 gf/d. Quando úmido, o valor da tenacidade é igual a 80-85% do valor da resistência a seco, o que
significa que artigos feitos com seda têm sua resistência diminuída ao serem molhados.
c) Alongamento e elasticidade: O fio de seda possui boa elasticidade e alongamento moderado. O
alongamento, na fibra seca, varia entre 10 a 25%. Quando úmida, esse valor encontra-se entre 33 a
35%. O material apresenta deformação permanente (92% de elasticidade) para um alongamento em
torno de 2%.
d) Densidade: A densidade do fio de seda varia entre 1,25 a 1,34g/cm3 quando degomada12. Para a seda
crua, esse valor é igual 1,33 g/cm3.
e) Regain: Em condições laboratoriais padrão, o regain da seda é igual a 11%. Em condições de satu-
ração, varia entre 25 a 35%. A condição de saturação facilita a aplicação de corantes e processos de
acabamento. No entanto, o fio de seda pode também absorver impurezas, causando danos em virtu-
de do enfraquecimento da fibra ou rompimentos, quando não há a manipulação correta do tecido.
f) Propriedades químicas: A proteína da seda é decomposta por ácidos minerais fortes, bases fortes
a frio ou soluções de bases fortes aquecidas. Por exemplo, uma solução de NaOH a 5% m/m, quando
aquecida, dissolve por completo a fibra de seda. Ácidos orgânicos não causam danos às fibras; muitos
deles são usados em processos de acabamento do fio ou tecidos.
g) Propriedades térmicas: Em contato com a chama, a fibra de seda queima; após a remoção da chama,
a queima é extinta. O resíduo é escuro, rígido e pulverizável. O odor se assemelha ao odor produzido
na queima da lã (“cabelo queimado”). Suporta temperaturas até 135°C e a partir de 177°C ocorre dege-
neração e degradação. A seda possui baixa condutividade térmica. Dependendo da padronagem do
tecido, o artigo tende a aquecer mais do que aqueles confeccionados com fibras naturais celulósicas.
2.2.5 AMIANTO
O amianto, ou asbesto, é um nome comercial para uma variedade de sais minerais metamórficos de
ocorrência natural, inorgânica, com aspecto fibroso. É um material com grande flexibilidade e apresenta
elevadas resistências química, térmica, elétrica e à tração. Em função de ser um material fibrilar, ele pode
ser tecido.
12 Significa remover a goma de um artefato. Nesse caso, significa remover a camada de sericina que o filamento de seda recebe ao
ser “extrusado”, isto é, quando este é expulso pelas glândulas sericígenas.
2 FIBRAS TÊXTEIS
41
a) Características: O amianto é formado por feixes de fibras muito finas e longas, que são facilmente
separáveis umas das outras. Essa peculiaridade promove a produção de um pó de partículas muito
pequenas, que flutuam no ar e podem, potencialmente, aderir às roupas ou à superfície corporal da-
queles que trabalham com a sua extração. Em termos de produção, o Brasil é o terceiro maior país
produtor e o segundo maior exportador dessa matéria-prima. A Figura 13 apresenta o amianto em
seu formato fibrilar.
b) Propriedades e usos: Com relação as suas propriedades, a fibra de amianto suporta temperaturas
de até 1000°C, resiste bem ao ataque de ácidos inorgânicos, de bases, bem como ao ataque bacteria-
no. Também possui resistência à tração igual ou superior a fios de aço, desde que possuam mesmo
tipo de perfil. Em função das suas características e pelo fato de ter a capacidade de ser tecido, esse
material pode ser utilizado na confecção de roupas e acessórios têxteis ignificos13, mantas para isola-
mento térmico, cordas para suportar altas tensões. Outra aplicação muito conhecida é a produção de
caixas d’água residenciais, em função de sua elevada resistência mecânica.
c) Precauções à saúde: A inalação ou ingestão indireta do pó da fibra de amianto, gerado por suas fibras,
está diretamente relacionado a uma série de patologias clínicas, podendo ser malignas ou não. Dentre
as patologias, podem ser citadas a asbestose, câncer de pulmão, laringe, do trato digestivo e, nas mulhe-
res, câncer de ovário, entre outras. Em função do grau de periculosidade envolvendo essa fibra, mais de
50 países já proibiram a extração e comercialização do amianto, como Alemanha, Austrália e Argentina.
No Brasil, a Portaria DSST nº 1 de 28/05/1991, emitida pelo Ministério do Trabalho, apresenta uma série
de regras a serem cumpridas sobre o uso do amianto. Alguns municípios e estados brasileiros possuem
legislação restritiva ao uso da substância e, nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul
e Pernambuco, existe uma proibição formal de sua exploração, utilização e comercialização.
13 É algo que evita, retarda ou é resistente ao fogo.
FIAÇÃO - VOLUME 1
42
2.3.1 VISCOSE
A Viscose é uma fibra artificial, porém de origem orgânica, produzida pela regeneração da celulose em
forma de polpa. O estudo da produção dessa fibra iniciou em 1855. Em 1891, os cientistas Charles Frederik
Cross, Edward John Bevan e Clayton Beadle desenvolveram o processo de polimerização da viscose, sendo
iniciada em 1905 a produção com a primeira planta em funcionamento. A viscose foi a primeira fibra têxtil
não natural a ser comercializada.
Estrutura da viscose
A celulose (C6H10O5) constitui 1/3 de toda matéria vegetal, sendo esse o principal componente celular
das plantas mais evoluídas.
Obtenção da viscose
O processo químico para a obtenção da viscose, desenvolvido por Cross, Bevan e Beadle, consiste em
sete etapas.
a) Obtenção da polpa de celulose: A polpa de celulose é obtida pelo cozinhamento de pedaços de
madeira cortada em pedaços uniformes e previamente tratados com bissulfeto de cálcio. A etapa de
cozinhamento leva em torno de 14 horas. Durante esse processo, ocorrerá a decomposição e solu-
bilização de substâncias incrustadas, promovendo a purificação da celulose. Ao final dessa etapa, a
massa cozida será diluída em água e filtrada. Posteriormente, é feito um tratamento com hipoclorito
de sódio. A polpa pode ser transformada em folhas ou em flocos. Todo esse processo de purificação,
lavagem e branqueamento tem por finalidade remover elementos que possam prejudicar as etapas
posteriores do processo.
b) Tratamento da polpa de celulose com hidróxido de sódio: Nesta etapa, utiliza-se solução de hi-
dróxido de sódio (NaOH) 17,5% para transformar a celulose em álcalicelulose, que é um composto
químico intermediário no processo de formação da viscose. Em seguida, o material é submetido ao
processo de foulardagem, que consiste em fazer passar a polpa de celulose por cilindros, com o in-
tuito de aumentar a atuação banho alcalino em função da pressão exercida pelos cilindros (aumentar
a penetração do banho alcalino na polpa de celulose) e remover o excesso do banho. Em seguida, o
material é moído. A Equação 1 (Figura 14) apresenta a reação que ocorre.
Celulose Ácalicelulose
c) Maturação ou envelhecimento: A álcalicelulose é armazenada por vários dias para que a viscosida-
de e a concentração de celulose ideal sejam alcançadas.
d) Formação do xantato de celulose: Adiciona-se bissulfeto de carbono à álcalicelulose, para que
ocorra a formação do xantato. A reação é apresentada na Equação 2 (Figura 15).
SNa
OC₆H₉O₄
Lílian Carreira
Álcalicelulose Xantato de celulose
Figura 15 - Formação do xanato de celulose
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
ONa
C₆H₉O₄ Celulose
Lílian Carreira
Xantato de celulose
Figura 16 - Regeneração da celulose
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
FIAÇÃO - VOLUME 1
44
Propriedades da viscose
a) Morfologia: Por ser uma fibra manufaturada, a viscose não apresentará nenhuma morfologia intrín-
seca em sua vista longitudinal ou corte transversal, a menos que, ao passar pela fieira, esta possua
algum diferencial que será transmitido ao material no momento de sua passagem. Nas fibras naturais,
a morfologia (vista longitudinal e corte transversal) é algo intrínseco, ou seja, durante a sua formação,
essas características são adquiridas. No caso de fibras artificiais ou sintéticas (fibras manufaturadas), o
processo de fiação é que dará essa característica à fibra. Dessa forma, fibras manufaturadas não apre-
sentarão morfologia intrínseca.
Aline Mendonça
Figura 17 - Seção transversal (esquerda) e vista longitudinal (direita) da viscose
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
Seco
Úmido
Luiz Meneghel
Deformação (%)
Figura 18 - Gráfico Tensão – Deformação da viscose
Fonte: Adaptado de Aguiar Neto e Pita (1996)
2 FIBRAS TÊXTEIS
45
gf/dtex
SAIBA O gf/dtex (grama-força por dtex) é uma unidade de tensão e está relacionado ao esfor-
MAIS ço mecânico que uma fibra têxtil consegue suportar sem romper. O dtex é uma subu-
nidade de título do sistema Tex, que relaciona a quantidade em gramas de um fio em
10.000 metros.
c) Umidade: Nas condições consideradas padrão (65% U.R. e 21°C), a absorção de umidade possui valor
igual a 13%. A celulose regenerada possui uma estrutura menos cristalina (menos compactada), o que
aumenta sua capacidade de absorção.
d) Densidade: A densidade da viscose é igual a 1,52g/cm3, possuindo assim valor maior quando com-
parada à lã e ao acetato.
e) Propriedades elétricas: A viscose não é um bom isolante elétrico, haja vista seu alto poder de ab-
sorção de umidade.
f) Resistência à luz: Quando exposta ao raio ultravioleta, a viscose apresenta perda de resistência.
g) Resistência ao calor: A viscose possui resistência ao calor satisfatória; no entanto, quando exposta
prolongadamente, a fibra amarelece e perde resistência. Pode vir a se decompor em temperaturas a
partir de 170°C.
h) Propriedades químicas: As fibras de viscose são mais facilmente atacadas, ou seja, degradadas,
quando em contato com ácidos minerais puros ou em solução dos mesmos, quando comparada à fi-
bra de algodão. Na presença de bases diluídas, a viscose possui boa resistência ao ataque. No entanto,
ao se utilizar bases concentradas, a fibra perde resistência em função do seu inchamento, promovido
pela ação da base.
i) Propriedades térmicas: Por ser uma fibra de celulose, apresentará características de queima seme-
lhantes às estudadas no algodão e linho.
O triacetato e o acetato de celulose são fibras artificiais, porém de origem orgânica, obtidas pela mo-
dificação química da celulose, retirada da polpa de madeira ou outra fonte.
O acetato foi preparado pela primeira vez em 1869, pelo químico francês Paul Schut-
CURIOSI zenberger, ao aquecer celulose em presença de anidrido acético em um tubo de vidro.
Em 1894, o primeiro processo industrial foi patenteado na Inglaterra, pelos químicos
DADES franceses Charles Cross e Edward Bevan. A primeira produção comercial de acetato
aconteceu em 1924, nos Estados Unidos.
FIAÇÃO - VOLUME 1
46
A diferença entre o triacetato e o acetato de celulose está no grau de acetilação alcançado durante o
processo de modificação química ao qual a pasta de celulose é submetida. Primeiramente, será descrito o
processo de obtenção do triacetato de celulose, pois a partir deste processo é feita a modificação para a
obtenção do acetato de celulose.
(a) (c)
H OH CH₃OCO OCOCH₃
(b)
H OH H H CH₃CO H H H
H
O O O
H H
CH₃CO
O O
n
CH₂OH CH₂OCOCH₃
n n
Lílian Carreira
H₂SO₄ (catalizador)
CH₃COOH (solvente)
Figura 19 - Reação entre a celulose (a) e o anidrido acético (b), em presença de ácido sulfúrico e ácido acético, produzindo o triacetato de celulose (c)
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
Em função da impraticabilidade de fazer reagir 2,2 moléculas de anidrido acético com a celulose, a ob-
tenção do acetato de celulose parte inicialmente da obtenção da pasta de triacetato, como descrito no
tópico anterior. Após a síntese da pasta de triacetato, é feito o processo de hidrólise14 na mesma, promo-
vendo a adição em excesso de água, com o intuito de remover os grupos acetila em excesso. A reação é
extinta ao se adicionar uma base, para ocasionar a neutralização do ácido acético. A Figura 20 apresenta a
estrutura química do acetato de celulose.
H H H H H H
H H
O H₂O em excesso O
H Remoção dos H
O grupos (COCH₃) - O
CH₂OCOCH₃ CH₂OCOCH₃
n n
Lílian Carreira
Triacetato de Acetato de celulose
celulose
Figura 20 - Esquema reacional para obtenção do acetato de celulose
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
14 É uma palavra de origem grega (“hidro” = água; “lysis” = quebra), que define a decomposição ou alteração de uma substância
química pela ação da água.
FIAÇÃO - VOLUME 1
48
ao menos que, ao passar pela fieira, esta possua algum diferencial que será transmitido ao material no
momento de sua passagem.
b) Tenacidade e alongamento: A Tabela 5 apresenta os dados de tenacidade e alongamento para as
fibras. Percebe-se que há uma perda de resistência, quando úmida, para ambas as fibras. No entanto,
nota-se um ganho em elasticidade.
TRIACETATO DE
10 – 14 7 – 9,8 20 – 30 30 – 40
CELULOSE
ACETATO DE
12 8 20 35
CELULOSE
Tabela 5 - Valores de tenacidade e alongamento para as fibras quimicamente modificadas
Fonte: Adaptado de Aguiar Neto P. P. (1996)
H H H H H H
H H H H OH H
O O O
Lílian Carreira / Davi Leon
H H H
O O O
CH2OCOCH3 CH2OCOCH3 CH2OH
Figura 21 - Diferenças entre as moléculas de celulose para o triacetato (a), acetato (b) e viscose (c)
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
d) Densidade: A densidade da fibra de triacetato de celulose é igual a 1,30g/cm3; para a fibra de acetato
de celulose, o valor é igual a 1,32 g/cm3.
e) Resistência à luz: Ambos os materiais têm perda progressiva de tenacidade quando expostos a ação
de raios ultravioleta.
f) Propriedades elétricas: Ambos os materiais são excelentes isolantes elétricos, pois conseguem de-
senvolver cargas eletrostáticas com certa facilidade, sendo superadas somente pelas fibras sintéticas.
2 FIBRAS TÊXTEIS
49
TRIACETATO DE
230 290 – 300
CELULOSE
ACETATO DE
--- 230 – 232
CELULOSE
Tabela 6 - Temperaturas de amolecimento e fusão para as fibras de triacetato e acetato de celulose
Fonte: Adaptado de Aguiar Neto P. P. (1996)
h) Propriedades químicas:
Sobre o triacetato de celulose, estas são as principais características:
h.1) Não é afetado por soluções diluídas de ácidos, porém é solúvel em ácidos inorgânicos concen-
trados. É solúvel em ácido acético;
h.2) Bases com pH até 9,8 não possuem ação sobre essa fibra. No entanto, em cerca de 100oC, apre-
senta pequena perda de resistência;
h.3) É solúvel em alguns solventes, como clorofórmio ou cloreto de metileno. Aumenta de volume
na presença de tricloroetano.
Para o acetato de celulose, eis as principais características:
h.4) Não é afetado por soluções diluídas de ácidos, porém se decompõe na presença de ácidos inor-
gânicos concentrados;
h.5) Bases concentradas provocam a retirada dos grupos acetila, com tendência a transformá-la em
celulose regenerada;
h.6) É solúvel em certos solventes orgânicos, como acetona pura e acetona a 80%.
i) Propriedades térmicas: Queimam rapidamente, com liberação de odor semelhante ao vinagre (pre-
sença dos grupos acetila). Após a chama extinta, há formação de resíduo duro e negro, semelhante à
queima de materiais plásticos (termoplásticos).
A maioria das fibras sintéticas é denominada polímeros, que são macromoléculas que possuem unida-
des funcionais (meros15), que se repetem ao longo da cadeia.
Dentre as fibras sintéticas mais utilizadas na indústria têxtil para o vestuário, destacam-se a poliamida
(PA), também conhecida como nylon e o poliéster (PES).
15 Considerados produtos industriais de segunda geração, os meros são fibras oriundas do processo do refino do petróleo.
FIAÇÃO - VOLUME 1
50
Os polímeros podem ser obtidos por meio de dois tipos de reações: poliadição e policondensação.
A reação de poliadição consiste no encaixe de inúmeras unidades funcionais na cadeia em crescimento.
É necessário que se utilize, no meio reacional, um composto químico denominado “iniciador”, que reagirá
quimicamente com uma molécula da espécie formadora do polímero, produzindo um centro ativo. Molé-
culas que não tenham reagido com o iniciador irão se ligar quimicamente ao centro ativo, que mudará de
posição em função do crescimento da cadeia, perpetuando-se até o término da reação, que pode ocorrer,
por exemplo, pela intervenção de um agente de terminação, adicionado ao sistema reacional para a inter-
rupção do crescimento da cadeia. A Equação 4 descreve o processo global para obtenção de polímeros
por essa técnica.
Equação 4
1) formaçao do centro ativo
M+I IM*
2) crescimento da cadeia
IM* + M IMM*
Equação 4
IMM* + M IMMM*
1) formaçao do centro ativo
M+I IM*
3) término da reação
Líllian Carreira
Figura 23 - Equação 5
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
2 FIBRAS TÊXTEIS
51
Nas reações por condensação, geralmente são formados compostos químicos de menor massa, que
são denominados “subprodutos”. Por essa técnica, são produzidos o politereftalato de etileno (PET) e a
poliamida 6.6 (PA6.6), polímeros que são utilizados, entre outras aplicações, na produção de fios têxteis.
Cabe ressaltar que as técnicas apresentadas dependerão de uma série de fatores, como temperatura e
pressão adequadas, para que a reação ocorra sem nenhum inconveniente.
2.4.2 POLIAMIDA
A poliamida é o polímero que possui, em sua unidade repetitiva, o grupamento denominado amida
(CONH). Existem diferentes tipos de poliamida, no entanto, as mais utilizadas na indústria têxtil são a PA6
e a PA6.6. As diferenças entre os modos de obtenção serão discutidos a seguir.
CURIOSI A primeira fibra têxtil sintética produzida foi a poliamida, sintetizada em 1935 por
DADES Wallace Carothers.
Obtenção da poliamida
A poliamida pode ser obtida por dois diferentes processos reacionais. Estes podem produzir a poliami-
da 6 (PA6) e a poliamida 6.6 (PA6.6).
Para obtenção de PA6, a reação ocorre pela abertura de um composto químico cíclico que possui o
grupo funcional CONH. Especificamente na síntese da PA6 é utilizada a caprolactama, um composto cícli-
co que possui o referido grupo funcional. Quando a caprolactama é aquecida, a ligação entre o átomo de
carbono e o átomo de nitrogênio é desfeita, e o composto cíclico
O passa a ser umaHestrutura linear.
O Por meio H
do processo de polimerização por adição, as cadeias abertas reagem umas com as outras, formando o
C N C N
composto macromolecular que terá a repetição do grupo CONH. O número 6 refere-se à quantidade de
carbono presente no composto químico que deu origem ao polímero. A Figura 24 ilustra o processo.
CH2 CH2 CH2 CH2
N2
O O O O
CH2 CH2 CH2 CH2 -N-(CH2)5-C-N-(CH2)5-C-N-(CH2)5-C-N-(CH2)5-C-
N2
Líllian Carreira / Davi Leon
H H H H
CH2 CH2 CH2 CH2
CH2 CH2
Caprolactama
Figura 24 - Síntese da PA6
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
O O O O
-N-(CH2)5-C-N-(CH2)5-C-N-(CH2)5-C-N-(CH2)5-C-
H H H H
FIAÇÃO - VOLUME 1
52
Para que seja obtida a PA6.6, o processo é diferente, pois nesse caso ocorre a união entre dois compos-
tos químicos de grupos funcionais diferentes. Para a síntese da poliamida 6.6 (PA6.6), ocorre uma reação
entre um ácido carboxílico e uma amina, que formarão o grupo CONH, por meio da polimerização por
condensação. Para a PA6.6, o número “6” antes do ponto refere-se à quantidade de átomos de carbono
presente no ácido carboxílico e o número “6” após o ponto refere-se à quantidade de átomos de carbono
na amina. A Figura 25 ilustra o processo, no qual foi utilizado o ácido adípico e a hexametilenodiamina
como compostos químicos precursores para a formação da PA6.6.
HO C NH2
C OH + H2N
O
Ácido adípico Hexametilenodiamina
O H
[ C N ]
C N + H2O
O H
Lílian Carreira
PA6.6
Figura 25 - Síntese da PA6.6
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
É interessante frisar que tanto o componente ácido como a amina possuem, em sua estrutura, duas
espécies ditas grupos funcionais, uma em cada extremidade da estrutura química. Isso é necessário para
garantir que a reação ocorra e a cadeia polimérica cresça. Percebe-se também que, nessa reação, houve a
formação de água como subproduto, que se não for removida da reação, pode atrapalhar no crescimen-
to da cadeia, causando prejuízos. Ácidos ou aminas com mais átomos de carbono podem ser utilizados,
produzindo diferentes tipos de poliamidas. No entanto, como foi dito anteriormente, àquelas de maior
interesse na indústria têxtil de vestuário são a PA6 e PA6.6.
Propriedades da poliamida
Os comentários a seguir sobre as propriedades das poliamidas têm, como referência, o comportamento
da PA6 e da PA6.6.
2 FIBRAS TÊXTEIS
53
a) Morfologia: A fibra de poliamida, por se tratar de uma fibra manufaturada, não apresentará nenhu-
ma característica intrínseca a ela, uma vez que são fibras fiadas por meio de um processo mecânico.
No entanto, é possível dar a seção transversal deste material algum tipo de conformidade. Para tanto,
faz-se necessário que a fieira possua o desenho desta conformação; uma vez que a massa viscosa pas-
sa na fieira e logo em seguida é solidificada, o resfriamento manterá a conformação adquirida.
b) Tenacidade e alongamento: A tenacidade para a fibra de poliamida é igual a 5 gf/d, com alonga-
mento em torno de 30%; para a utilização desse material com fins diferentes do vestuário, a tenacida-
de é igual a 8 gf/d, com alongamento variando entre 16-20%.
SAIBA O grama-força por denier (gf/d) também é uma unidade de tensão e está relacionado
ao esforço mecânico que uma fibra têxtil consegue suportar sem romper. O denier (d)
MAIS é uma unidade de título, que relaciona a quantidade em gramas de um fio em 9000 m.
c) Regain: O regain da fibra de poliamida está em torno de 4%, o que faz essa fibra sintética ser a melhor
para confecção de artigos de vestuário, por ser a fibra sintética com melhor poder de absorção de
umidade.
d) Densidade: O valor da densidade é igual a 1,14 g/cm3, ou seja, uma fibra leve.
e) Elasticidade e resiliência: Possui valores de elasticidade e resiliência elevados, com valores superio-
res quando comparados às fibras naturais e às outras fibras químicas.
f) Intumescimento16: Possui intumescimento reduzido, no entanto, é maior quando comparado às fi-
bras de poliéster. Em função disso, possui secagem rápida.
g) Resistência à luz: As propriedades são afetadas pela ação dos raios U.V. quando expostos por tem-
pos prolongados.
h) Propriedades químicas: Os ácidos minerais fortes (como o ácido clorídrico) conseguem solubilizar a
poliamida. A poliamida é solúvel também em fenóis, no entanto, é insolúvel na maioria dos solventes
orgânicos, como cetonas, álcoois e solventes clorados, por exemplo.
i) Propriedades térmicas: A aproximação à chama faz que as fibras se contraiam. Em contato com a
chama, a poliamida queima e libera fumaça na cor branca. Sua chama se apaga logo após ser remo-
vida da fonte de alimentação e o odor lembra plástico queimado e o resíduo da queima é duro, com
coloração clara.
Com relação às temperaturas que agridem os materiais, existem pequenas diferenças entre as poliamidas
abordadas nesta seção, em função de seus diferentes métodos de síntese. A Tabela 7 apresenta essas diferenças:
16 Ato de aumentar de volume. Neste caso, relaciona-se com o aumento de volume em função do contato com a água.
FIAÇÃO - VOLUME 1
54
2.4.3 POLIÉSTER
Dá-se o nome de poliéster (PES) ao polímero que é constituído de, pelo menos, 85% em massa de um
éster obtido da reação entre um álcool di-hídrico (que possui dos grupos funcionais OH) e o ácido tereftá-
lico (possui dois grupos funcionais COOH).
Na indústria têxtil, o PES mais utilizado é o politereftalato de etileno (PET). As características apresenta-
das nos demais tópicos serão relativas ao PET como fibra de poliéster. O PET é obtido por meio da polime-
rização por condensação que ocorre entre o ácido tereftálico e etileno glicol.
Na época da Segunda Guerra Mundial, o PET foi inicialmente utilizado como fibra
têxtil. No entanto, com o passar do tempo, os cientistas detectaram nesse material
CURIOSI uma significativa propriedade de barreira, sendo sua produção viabilizada para a
DADES indústria de filmes e embalagens alimentícias. Atualmente, uma de suas utilizações
mais comuns – além de matéria-prima têxtil – é para a produção de garrafas para o
envase de bebidas carbonatadas (refrigerantes, por exemplo).
O O
HO – C C – HO + HO – CH2 – CH2 – OH
Etíleno
Assim como na PA6.6, a síntese o PET também forma um subproduto, a água. A Figura glicol a sín-
26 ilustra
Ácido tereftálico
tese do PET.
O O O O
HO – C C – HO + HO – CH2 – CH2 – OH O–C C – CH2 – CH2 – O + 2n H2O
Etíleno glicol n
Davi Leon
Ácido tereftálico
Ácido tereftálico Etileno glicol Poli(tereftalato de etileno)
Figura 26 - Síntese do PET
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
O O
O–C C – CH2 – CH2 – O + 2n H2O
n
Poli(tereftalato de etileno)
2 FIBRAS TÊXTEIS
55
Propriedades do poliéster
a) Morfologia: Assim como a fibra de poliamida, a fibra de PES não apresentará nenhuma característi-
ca intrínseca a ela, uma vez que são fibras fiadas por meio de um processo mecânico. No entanto, é
possível dar à seção transversal desse material algum tipo de conformidade (para tanto, é necessário
que a fieira possua o desenho desta). Uma vez que a massa fundida passa na fieira e logo em seguida
é solidificada, o resfriamento manterá a conformação adquirida.
b) Tenacidade e alongamento: Para a fibra de PES, os valores de tenacidade e alongamento depende-
rão da forma. A Tabela 8 apresenta os valores para os respectivos parâmetros.
PES FILAMENTO (ALTA) (gf/d) FILAMENTO (MÉDIA) (gf/d) FIBRA CORTADA (%)
Amolecimento 230-240
Fusão 250-270
CASOS E RELATOS
O termo “matéria corante” define uma substância capaz de transmitir sua cor para de-
SAIBA terminado substrato quando entra em contato com este: tecido, papel, entre outros.
Os corantes são classificados como uma substância química que, durante seu processo
MAIS de aplicação, deve ser solúvel em água, além de apresentar alguma afinidade com o
material a ser tinto, a partir da solução aquosa.
2 FIBRAS TÊXTEIS
57
RECAPITULANDO
Até o momento, foram discutidos os aspectos principais das fibras têxteis mais utilizadas
para o vestuário, como características físico-químicas e propriedades. No entanto, para trans-
formar uma fibra em um fio têxtil, uma série de processos é requerida, em função da natureza
da matéria-prima que dará origem a esse artefato inicial.
O processo de fiação é dividido em duas vertentes: a fiação química e a fiação convencional.
A fiação convencional é o processo que transforma fibras descontínuas (forma linear e compri-
mento limitado) em fio fiado, dando origem a um único material com diâmetro definido e com-
primento ilimitado, que é o fio têxtil. Em outras palavras, é a união de diversos segmentos de fibra
têxtil por meio de torções, com a finalidade de se obter um único material dessa mesma fibra, que
seja capaz de ser tecido. Por meio desse processo, são obtidos, por exemplo, os fios de algodão e
linho. Todo o processo de fiação convencional será detalhado nos capítulos posteriores.
A fiação química é o processo do qual são obtidos fios têxteis de comprimento ilimitado
(fibra contínua ou filamento contínuo) provenientes de modificações químicas em matérias-
-primas naturais ou de sínteses químicas. Nesse caso, dependendo das características da ma-
téria-prima, podem ser realizados três diferentes processos de fiação, que serão descritos com
detalhes ao longo deste capítulo.
FIAÇÃO - VOLUME 1
60
Por meio do processo de fiação química são obtidos os filamentos que darão origem aos fios têxteis. Des-
tes são obtidas as fibras classificadas como artificiais e sintéticas. A Figura 27 apresenta o organograma que
fundamenta essa etapa industrial na elaboração dos fios que, posteriormente, darão origem aos tecidos.
Fiação
química
Fio de filamento
contínuo
Como descrito anteriormente, o produto obtido da fiação química é o filamento contínuo, definido
como um material de diâmetro definido e comprimento ilimitado. Dependendo das propriedades físico-
-químicas da matéria-prima, uma das três técnicas de fiação será escolhida para se produzir o filamento.
São elas:
a) Fiação via úmida;
b) Fiação via seca;
c) Fiação por fusão.
A fiação via úmida é utilizada para produção de filamentos de matérias-primas de difícil solubilização.
A ideia é transformar a matéria-prima, por meio de uma série de reações químicas, em um material solúvel
em água.
3 FIAÇÃO QUÍMICA
61
A solução viscosa obtida é forçada a passar por uma fieira e, posteriormente, ocorre a extração do sol-
vente colocado no filamento. Essa extração é feita por meio de lavagem simples ou então por meio de
reações químicas entre o solvente presente na solução viscosa e um reagente presente no banho no qual
os filamentos são submetidos logo após saírem da fieira. A esse processo, dá se o nome de coagulação.
O filamento obtido apresenta as mesmas características químicas da matéria-prima original, no entanto,
apresenta-se em um novo formato. Um exemplo de material obtido dessa técnica é a viscose. No momento
em que os filamentos fiados de viscose imergem no banho coagulante, ocorre a regeneração da celulose,
no entanto, em formato de filamento. A Figura 28 apresenta como se dá o processo de fiação via úmida.
Pelo alimentador, a
solução viscosa de
matéria-prima O processo de
(ex.: xantato sódico lavegem permite
Os filamentos são
de celulose) é remover do filamento
solidificados ao
inserida no resíduaos do banho
passarem pelo banho
equipamento. coagulante.
de coagulação.
Ao passar pela
fileira, a solução Após a lavagem, o Líllian Carreira / Davi Leon
viscosa se Solvente filamento é estirado e
conforma em extraído bobinado, pronto
um filamento para ser utilizado.
contínuo.
Figura 28 - Representação do processo de fiação via úmida
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
Após a coagulação, o filamento é lavado com o intuito de remover resíduos do banho coagulante pre-
sentes, pois a presença destes no filamento pode interferir negativamente nos processos de tecelagem e
beneficiamento. O banho de coagulação deve ter sua composição aferida, para que a extração do solvente
seja feita de forma adequada.
Após a formação dos filamentos e posterior lavagem, estes são forçados a passar por uma série de
cilindros, nos quais ocorre o processo de estiramento, que será abordado com mais detalhes em seção
posterior. Uma das finalidades do estiramento é determinar o título desse filamento.
Outro material têxtil obtido desta técnica são os filamentos de poliamida aromática,
denominados “aramidas”. O processo ocorre de forma semelhante, mas é utilizado áci-
SAIBA do sulfúrico (H2SO4) como solvente para solubilização da matéria-prima. As aramidas
MAIS são utilizadas na indústria têxtil para a confecção de tecidos utilizados em coletes à
prova de balas e também em roupas especiais, como a farda dos bombeiros, que ne-
cessitam possuir resistência ao fogo.
FIAÇÃO - VOLUME 1
62
Esta técnica é utilizada para obtenção de filamentos de matérias-primas que não são muito resistentes
a temperaturas altas, mas sensíveis e estáveis na presença de solventes aquecidos (não aquosos). A ideia é
obter uma solução viscosa a partir da matéria-prima que, ao passar pela fieira, tomará forma de filamento,
muito semelhante à técnica via úmida. A solidificação ocorre pela evaporação do solvente utilizado, dentro
de uma câmara, na qual há temperatura e fluxo de ar adequado para o processo. Por meio desse procedi-
mento são obtidos os filamentos de triacetato e acetato de celulose. A Figura 29 apresenta como se dá o
processo de fiação via seca.
Entrada de
ar quente
Saída de ar
Para cada material fiado por essa técnica, as condições de temperatura da câmara e fluxo de ar serão di-
ferentes, levando em consideração as características físico-químicas da matéria-prima e do solvente utiliza-
dos. Há de se ter cuidado com relação à coalescência (união) dos filamentos, além da garantia de completa
remoção do solvente. Filamentos que apresentem defeitos oriundos do processo de fiação ou traços do
solvente em sua composição impactarão negativamente nos processos de tecelagem e beneficiamento.
Após a obtenção do filamento, ele também sofrerá a ação de estiramento. Por essa técnica, além do triace-
tato e do acetato de celulose, são obtidas as fibras poliacrílicas, conhecidas comercialmente como lã sintética.
3 FIAÇÃO QUÍMICA
63
Esta técnica é utilizada para a produção de filamentos de matérias-primas que são altamente resisten-
tes ao ataque de solventes, mas que mantêm suas propriedades quando fundidas em altas temperaturas.
A ideia é submeter a matéria-prima a um processo denominado de extrusão, que tem por finalidade fundir
o material e, posteriormente, forçar a passagem dessa massa fundida pela fieira, no qual serão conforma-
dos os filamentos. A seguir, seguem maiores detalhes desse processo.
O processo de extrusão
A palavra extrusão vem do grego (“ex” = movimento para fora; “trudere” = empurrar). O equipamento,
denominado “extrusora”, é composto por uma rosca do tipo sem fim envolto numa carcaça (chamada de
tambor ou canhão) e vários sensores de aquecimento, que promovem a fusão do material por meio de
aquecimento. A ação de cisalhamento17 das partículas em função do atrito entre estas e as superfícies do
tambor e da rosca, e também pelo próprio atrito entre as partículas, geram ganho de temperatura ao siste-
ma. A Figura 30 apresenta um corte longitudinal do referido aparelho.
Pellets do polimento
Funil de alimentação
Saída
Aquecedores
Líllian Carreira / Davi Leon
17 É definido como uma deformação a qual um corpo qualquer está sujeito quando as forças que agem sobre ele provocam um
deslocamento em planos diferentes, mantendo o volume constante.
FIAÇÃO - VOLUME 1
64
O material, em função do movimento giratório da rosca, é levado à zona de compressão, onde ocor-
rerá a completa fusão da matéria-prima, que seguirá o fluxo até a zona de calibração. Percebe-se que há
uma diferença entre o diâmetro inicial e final da rosca, fator de extrema importância que provê pressão
suficiente para a entrada do material na cabeça de mistura e, por conseguinte, saia do equipamento com a
conformação determinada pela matriz acoplada ao sistema sem nenhuma falha. Após saírem da matriz da
extrusora, os filamentos formados são solidificados por corrente de ar ou por banho em água arrefecida.
Desta técnica, além dos filamentos, são obtidos artefatos sem muitos detalhes geométricos, como filmes,
perfis, tubos e espumas.
Parâmetros como velocidade da rosca, vazão de alimentação, perfil de rosca e ajustes de temperatura
nas zonas da extrusora serão diretamente relacionados ao tipo de matéria-prima a ser processado. É im-
portante salientar que o uso de parâmetros inadequados poderá acarretar a inutilidade do material pro-
cessado, levando a sua degradação.
Após a obtenção dos filamentos por esse método, os filamentos também serão submetidos ao processo
de estiramento. Em materiais como PES, por exemplo, o processo deve ser feito a quente, para que o pro-
cedimento promova no material as características desejadas.
3 FIAÇÃO QUÍMICA
65
Após a formação dos filamentos, algumas etapas são necessárias para completa consolidação destes.
São listados, a seguir, procedimentos que são realizados para conferir propriedades aos filamentos oriun-
dos dos processos de fiação química.
a) Estiramento: após a solidificação dos filamentos, as moléculas estão orientadas de modo aleatório. Para
que os filamentos possuam resistência à tração satisfatória, eles são submetidos a um processo de estira-
mento, que aumenta seu tamanho em muitas vezes em relação ao seu comprimento original. Para isso,
são utilizados dois ou mais pares de godets18, alinhados em série (cada par de godets à frente gira mais
rápido que o par antecessor). Dependendo do tipo de matéria-prima, pode haver a necessidade de aque-
cer os godets, promovendo o ganho de propriedade ao material submetido ao processo de estiramento.
A Figura 32 apresenta a peça denominada “godet” em um sistema de estiramento.
4 3 2 1
Marina Calvo
Figura 32 - Após sair da extrusora e passar pelo sistema de resfriamento, os filamentos são encaminhados para a seção de estiramento, que é um equipamento no
qual estão posicionados os godets. O filamento é alimentado até o primeiro godet (posição 1), no qual é laçado de cinco a seis vezes, passando para o segundo godet
(posição 2), e segue dessa forma sucessivamente (posição 3) até o último godet que compõe o sistema (posição 4)
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
b) Acabamento: Muitas vezes, os filamentos têxteis necessitam de um recobrimento químico, para que
as etapas posteriores (tecelagem e malharia) possam ocorrer sem muitas interrupções. Essa prática
aperfeiçoa a fricção entre as fibras, atua como um lubrificante e provê melhorias no comportamento
antiestático, aumentando a capacidade de abertura e a proteção do material. Melhorar o comporta-
mento antiestético significa reduzir ou evitar a formação de eletricidade estática nos fios ou tecidos.
18 São cilindros que possuem controle de velocidade e são utilizados no processo de estiramento de filamentos sintéticos. Depen-
dendo da matéria-prima que compõe o filamento, esses cilindros também devem possuir aquecimento, o que facilitará o estira-
mento. Geralmente esses cilindros são colocados em série e são ajustados com velocidades diferentes, para otimizar o processo.
FIAÇÃO - VOLUME 1
66
c) Crimping: O termo em inglês se refere às ondulações mecanicamente feitas aos filamentos têxteis
obtidos do processo de fiação por fusão. Ou seja, os filamentos químicos regulares (lisos) devem ser
submetidos ao processo de crimping, de modo a garantir melhores propriedades de mistura quando
em combinação com outros tipos de fibra. O procedimento, realizado em uma câmara de enchimen-
to, na qual os filamentos são ondulados de forma bidimensional, em forma de zigue-zague, também
promove um aumento na sensação do volume nos produtos finais. Embora exista a tradução no am-
biente fabril, o nome em inglês é utilizado comumente.
d) Secagem: Durante os processos de estiragem e crimping, é necessário o aquecimento do filamento,
que pode ser realizado com água quente ou vapor. Após essas etapas pós-fiação, o filamento precisa
ser seco (procedimento normalmente efetuado em secadoras perfuradas ou de tambores).
e) Corte: Embora as bobinas de filamentos sejam entregues às indústrias da forma como finalizadas,
muitas vezes é necessário que a entrega destas seja feita na forma de fibra cortada, em comprimento
pré-determinado. Para isso, os filamentos são alimentados em um dispositivo de corte, sendo manti-
dos sob tensão pré-definida. O produto obtido (flocos de filamento) é transportado para a prensa de
fardos e embalado.
O processo de corte deve ser efetuado após o processo de estiragem. Já a etapas de lubrificação, crim-
ping e secagem devem ser realizadas na fibra cortada, antes de seu enfardamento.
f) Compressão: A compressão é o procedimento no qual os flocos (fibra cortada) são comprimidos em
caixas com prensas, formando fardos retangulares, em forma de cubos.
Como exemplo, os fardos com volume entre 0,5 a 1 m3 contêm cerca de 200 a 400 kg de fibra cortada.
CASOS E RELATOS
A esses candidatos foi dada certa quantidade de material (o mesmo processado pela empresa), para
que uma partida do filamento fosse simulada, nas mesmas condições pré-estabelecidas pela empre-
sa, sendo a única diferença a temperatura programada nos godets. Após os ensaios laboratoriais, foi
visto que o material processado pelos candidatos apresentou os resultados de tenacidade, alonga-
mento e elasticidade satisfatórios, sanando, dessa forma, o problema exposto. Consequentemente,
todos os candidatos foram contratados.
RECAPITULANDO
Em todo o processo têxtil, existem diversos controles para otimizar a produção, a qualida-
de e os custos dos insumos e produtos. Nos processos de fiação, este controle inicia-se com a
avaliação das fibras que alimentam a produção, chegando até o momento da entrega dos fios
prontos.
As características físicas das fibras e dos fios representam um importante fator para determi-
nação da escolha da matéria-prima a ser utilizada nos processos que compõem a fiação.
É a partir da composição dos fios e/ou tecidos desejados para a produção que se estabelece
a padronização das fibras que serão necessárias.
A mistura de fibras para o processo têxtil é fundamental para se obter um mínimo de con-
formidade na construção do fio. Essa conformidade é essencial para atender a demanda, não
só da fiação, mas também da tecelagem, da malharia e do beneficiamento, pois por intermédio
da mistura de fibras que se torna possível obter um fio homogêneo e resistente aos processos
de produção têxtil.
Para a fiação, é fundamental produzir um fio resistente e linear, ou seja, sem variação de
distribuição de massa ao longo do seu comprimento provocada pelos pontos finos e grossos
em sua extensão, comprometendo a resistência. Além disso, a mistura de fibras também pode
influenciar na pilosidade das fitas, pavios e fios, provocando rupturas desnecessárias ao proces-
so e influenciando nos custos e na qualidade da produção.
Para realizar a mistura de fibras, é necessário que, antes, haja a classificação dessas fibras,
considerando sua natureza, além das características que apresenta, tais como finura, compri-
mento, resistência, dentre outras propriedades que estão diretamente correlacionadas à pa-
rametrização dos processos têxteis. Na busca de melhor compreender esse processo, vamos
iniciar nossos estudos pela classificação do algodão e de sua importância para a fiação.
além de reduzir as variações no comprimento, as quebras e a formação de neps na massa das fibras em
processo.
O cuidado com a mistura de fibras na preparação para a fiação tem também o objetivo de atender ao
programa de controle da produção, aos níveis de qualidade desejados e os custos esperados pela indústria
têxtil e atender as expectativas dos seus clientes.
Nesse contexto que podemos identificar a importância da classificação de fibras, pois ela tem o intuito
de atender a um padrão de qualidade para a produção, a comercialização e o processamento do algodão.
A fibra de algodão é um material que possui características intrínsecas e extrínsecas variáveis entre as
próprias fibras, ou seja, há diferenças entre as fibras de cada fardo e dentre o próprio fardo. Essas diferenças
podem influenciar na construção do fio. E para atender a demanda da fiação, visando ter uma produção
com baixo custo e desperdício para gerar um produto em conformidade ao planejamento da produção,
é necessário fazer um estudo para misturar as fibras de fardos diferentes, procurando minimizar tais dife-
renças, ou seja, fazer um planejamento de forma que ao alimentar a linha de produção da fiação, sejam
encaminhados lotes de fibras com características físicas próximas ou similares, evitando que a fibra seja
danificada e influencie negativamente na produção do fio. Se tais variações não forem controladas e ade-
quadas à linha de produção, a produtividade e a qualidade do produto podem cair em função de paradas
de máquinas desnecessárias, causadas por fatores ligados às características do algodão.
No Brasil, a classificação desta fibra pode ser realizada de forma manual ou eletrônica, gerando dados
para a parametrização de máquinas do processo de produção da fiação.
Quanto à comercialização, as características físicas das fibras influenciam diretamente na cotação de
cada fardo de algodão, impactando também diretamente, no ágio (valorização) e deságio (desvaloriza-
ção). Para a exportação, a cotação obedece às regras do mercado internacional regras essas fornecidas
pela Associação Nacional de Exportadores de Algodão (ANEA). E, no mercado interno, a Bolsa Brasileira de
Mercadorias (BBM) estabelece a pontuação dos ágios e deságios.
FIQUE A aparência, o toque, o conforto e o caimento das peças do vestuário estão direta-
ALERTA mente ligadas às características físicas dos tecidos, dos fios e das fibras.
Nas próximas páginas, iremos estudar sobre o processo de mistura e de classificação de fibra de al-
godão, focando a recepção da matéria-prima, a retirada de amostras, o tipo de análise (classificação), os
dados gerados pela classificação tecnológica e o uso de tais dados na mistura dos fardos na fiação.
Em função das propriedades físicas das fibras de algodão ser diferentes umas das outras, é necessário
classificá-las para atingir uma qualificação desejada pela indústria têxtil, ou seja, é necessário criar um mé-
4 MISTURA DE FIBRAS
71
todo para agrupar fibras com características próximas. A classificação também se tornou necessária para a
comercialização e precificação dos fardos de algodão no mundo.
Para classificar o algodão de forma padrão, diversas instituições no mundo, adotam os padrões visuais
da USDA (United States Department of Agriculture – Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), que
desenvolveu técnicas e metodologias para classificação, originando-se assim os padrões físicos para reali-
zar uma classificação universal do algodão.
Atualmente, a classificação do Brasil é padronizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-
mento (MAPA), com a Instrução Normativa (IN) n.24, publicada em 14 de julho de 2016. Para a comerciali-
zação do algodão junto ao MAPA, é necessário seguir as normas de classificação descrita neste documento.
Sabe-se que, durante as fases de produção (cultivo), colheita (manual ou mecânica), beneficiamento
(descaroçamento e enfardamento) e processamento na preparação da fiação, determinados fatores contri-
buem para que ocorram variações no comprimento da fibra do algodão. Essas variações no comprimento
da fibra têm um efeito direto no desempenho do processo — roturas, níveis de resíduos, geração de fibras
flutuantes, número de “neps”, aparência do fio, afetando a produção e a qualidade de fios e tecidos.
Para atingir melhores índices de produção e qualidade, faz-se necessário verificar e controlar as varia-
ções do comprimento na seleção da matéria-prima no ato da compra, durante a distribuição dos fardos
para consumo (mistura) e ao longo do processo de fiação. Para fazer tais verificações e controles, deve-se
dispor de um sistema de trabalho organizado e com procedimentos para orientação desde o recebimento
da matéria prima até a alimentação da linha de produção.
Para compra o trabalho de seleção da matéria-prima deve seguir as seguintes etapas:
1º. Encaminhar solicitação de compra com as características físicas desejadas da matéria-prima, ou
seja, do algodão, para o corretor.
2º. Organizar o laboratório para verificação do algodão.
3º. Proceder a conferência da matéria-prima no ato do recebimento.
4º. Proceder a classificação e estocagem da matéria-prima.
5º. Realizar a formação da mistura que alimentará a linha de produção.
6º. Acompanhar o comportamento das fibras nas zonas de estiragem, ao longo do processo de fiação.
É importante lembrar de coletar e acompanhar o desempenho deste processo através da comparação
dos resultados antes e após a implantação do novo sistema de trabalho através dos relatórios sobre quan-
tidades de roturas, resíduos, desperdícios, características dos fios e tecidos e suas variações, dentre outros.
Uma forma de realizar a avaliação dos dados gerados por processos pode se dar pelas dispersões, ou seja,
pelos valores das variações: quanto maior for a diferença entre as variações dentro de uma dispersão, pior
o impacto na produtividade e qualidade do produto.
FIAÇÃO - VOLUME 1
72
Para realizar a classificação do algodão é necessário ter um local adequado a este fim. Tanto a classifica-
ção manual/visual e tecnológica/instrumental são feitas em laboratórios específicos que seguem normas
técnicas nacionais e internacionais de órgãos competentes como a Associação Brasileira de Normas Téc-
nicas e a American Society for Testing and Materials (ASTM). Além disso, para conseguir aferir a qualidade
dos serviços e melhorar a competitividade no mercado, o laboratório de classificação pode ser credencia-
do pelo INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) e pelo MAPA.
CURIOSI Consulte a página virtual do Mapa, Inmetro e da ABNT para conhecer os serviços e
normas técnicas disponíveis no Brasil para credenciamento e normalização na indús-
DADES tria.
Norma técnica ABNT NBR IS0 139:2008 (Têxteis – Atmosferas-padrão para condicionamento para condicionamento e
ensaio), que tem como referência a norma ISO 139:2005 (Textiles – Standard atmospheres for conditioning and testing).
Norma técnica ISO 4911:1980 (Textiles – Cotton fibres – Equipment and artificial lighting for cotton classing rooms) ou sua
equivalente pela ABNT.
Norma técnica ASTM D1684-07 (Standard Practice for Lighting Cotton Classing Rooms for Color Grading).
Norma técnica ASTM D5867 (Standard Test Methods for Measurement of Physical Properties of Cotton Fibers by High
Volume Instruments).
Norma técnica ASTM D1776 (Standard Practice for Conditioning and Testing Textiles).
Comissão Internacional dos Padrões Universais. Procedimentos para os testes de HVI S.1.: Comissão Internacional dos
padrões Universais, S.d.11p..
Manual para a Padronização da Classificação Instrumental do Algodão do Programa “Standard Brasil HVI” do Instituto
Brasileiro do Algodão (IBA) e da Associação Brasileira dos produtores de Algodão (ABRAPA), no qual consta a relação
de normas técnicas e orientações universais e fundamentais para a estruturação do ambiente laboratorial internacio-
nalmente aceito.
Resolução 09/2003 ANVISA (ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária), portaria 3.523/98 Ministério da Saúde
e lei da Unidade Federativa em que o laboratório está localizado sobre limpeza e descontaminação de dutos e condi-
cionadores de ar central.
Norma técnica ABNT NBR IS0/IEC 17025 (Requisitos Gerais para Capacitação de laboratórios de Análises e Calibração –
General Requirements for the Competence of Calibration Laboratories).
Legislação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento sobre a classificação de produtos vegetais e cre-
denciamento de laboratórios, como exemplo, a Instrução Normativa nº 54, de 24 de novembro de 2011. *D.O.U., seção
01, de 25/11/2011 e a Instrução Normativa que aprova o Regulamento Técnico do Algodão em Pluma, definindo seu
padrão oficial de classificação, com os requisitos de identidade e qualidade, a amostragem, o modo de apresentação e
a marcação ou rotulagem.
Quadro 1 - As normas, leis e documentos básicos que orientam a estruturação arquitetônica para o laboratório de classificação de algodão em pluma
Fonte: http://www.puntofocal.gov.ar/notific_otros_miembros/bra78r1_t.pdf
Para obter bons resultados de uma classificação de algodão é necessário criar procedimentos que pos-
sam garantir a normalização e a padronização da análise do algodão e que esta seja realizada dentro das
condições de certificação e acreditação das instituições nacionais e internacionais.
A Instrução Normativa n.24 de 14 de julho de 2016 do MAPA também descreve os procedimentos ope-
racionais para se classificar o algodão em pluma de forma visual/manual e tecnológica/instrumental. Ela
orienta que o classificador ou o profissional responsável pela classificação deve primeiramente verificar se
a amostra está acondicionada, identificada e lacrada. Em seguida, ele deve verificar se há qualquer situação
que possa desclassificar a amostra. Somente após estes procedimentos é que se pode iniciar a classificação
do produto.
Segundo a IN n.24 do MAPA, nos procedimentos para amostragem do algodão em pluma, a amostra do
fardo de algodão deverá ser retirada, manualmente ou mecanicamente, devendo ser manuseada de forma
a não descaracterizá-la ao longo do processo de coleta. Para isso, as amostras devem ser acondicionadas
em pacotes (malas), sendo enviado um jogo de amostras para a classificação visual e manual e outro jogo
para a classificação tecnológica, conforme o caso.
FIAÇÃO - VOLUME 1
74
A retirada das amostras dos fardos de algodão para a classificação tecnológica juntamente com a clas-
sificação visual e manual, deve seguir os seguintes passos:
1º. Cada fardo será cortado em dois lados opostos. Cada um desses lados deve ter, no mínimo, 150
(cento e cinquenta) gramas, totalizando 300 (trezentos) gramas, gerando duas subamostras representati-
vas do fardo.
2º. Cada uma dessas subamostras será partida ao meio no sentido longitudinal e adicionada à metade
da amostra retirada do outro lado do fardo, formando assim duas amostras de trabalho, uma amostra para
classificação tecnológica e uma amostra para classificação visual e manual.
Para a realização da classificação tecnológica ou da realização da classificação visual e manual, ou seja,
quando se destina a amostra somente para um tipo de classificação, devemos seguir os seguintes passos:
1º. Cada fardo será cortado em dois lados opostos e ser retirada uma subamostra de cada lado de, no
mínimo, 75 (setenta e cinco) gramas, gerando duas subamostras representativas do fardo.
2º. As subamostras serão adicionadas formando, assim, uma amostra de trabalho.
Para classificar as fibras de algodão, é utilizado como referência amostras padrão dos tipos e classes
de algodão. Tais amostras são nomeadas de padrões físicos universais americanos, e são desenvolvidos e
comercializados pela USDA mantém dois tipos de padrões: Padrões para Algodão Upland Universal e Pa-
drões para Algodão Pima. Os padrões norte-americanos de algodão Upland do USDA são referidos como
padrões “universais” porque foram adotados por um órgão especial de administração e são reconhecidos
e utilizados internacionalmente.
Esses padrões são utilizados como base para a classificação Visual/Manual, servindo como referência
comparativa para o classificador. São também utilizados na classificação Tecnológica/Instrumental, para
calibração de equipamento.
Os padrões são comercializados através de caixas com etiquetas as quais identificadas segundo a clas-
sificação pela cor e pelo grau de folhas. Para fazer a comparação com a amostra, o técnico tem como
referência dois jogos de caixas dos padrões físicos universais: um jogo de quinze caixas para o algodão
americano Upland de fibras de comprimento curto e médio e um jogo de seis caixas para o algodão ame-
ricano Pima de fibras de comprimento longo e extralongo.
4 MISTURA DE FIBRAS
75
Figura 34 - As seis caixas para o algodão americano Pima de fibras de comprimento longo e extralongo
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
Segundo os padrões físicos americanos, quanto mais branco for o algodão, melhor é a sua qualidade.
Contudo, dentro do grupo de algodão branco, quanto maior o brilho do algodão, melhor a qualidade. Para
FIAÇÃO - VOLUME 1
76
auxiliar a parametrização da cor, utiliza-se o grau de refletância e amarelamento, que são mensurados e
estimados por um colorímetro próprio para o algodão.
Veja na Tabela a seguir a relação dos códigos numéricos e seus respectivos nomes dos padrões dos
algodões americanos Upland de fibras de comprimento curto e médio, relativos ao CG.
Veja na Tabela abaixo a relação dos códigos numéricos e LG do algodão americano Pima de fibras de
comprimento longo e extralongo relativos ao CG.
4 MISTURA DE FIBRAS
77
* Código 11 = CG 1 e LG 1
* Código 22 = CG 2 e LG 2
* Código 33 = CG 3 e LG 3
* Código 44 = CG 4 e LG 4
* Código 55 = CG 5 e LG 5
* Código 66 = CG 6 e LG 6
Tabela 11 - Relação dos códigos do CG e LG do algodão americano Pima do Regulamento técnico de Identidade e de Qualidade para a Classificação do Algodão em
Pluma do Ministério da Agricultura pecuária e Abastecimento.
Fonte: Brasil (2002)
FIQUE Os Padrões Físicos Universais possuem prazo de validade, que fica registrado na par-
ALERTA te interna das caixas e abaixo da foto das amostras que compõe cada caixa.
de fibras curtas, resistência, alongamento, graus de amarelamento, dentre outras. Além disso, o HVI é um
equipamento capaz de realizar uma grande quantidade de análises de amostras de algodão em pluma em
pouco tempo, pois tal equipamento é automatizado e controlado por sistemas eletrônicos, assegurando a
confiabilidade dos dados gerados.
Para iniciar a classificação visual/manual, é necessário seguir procedimentos para padronização das
operações envolvidas. Através da Instrução Normativa nº 24 do MAPA, vamos apresentar alguns pontos
importantes destes procedimentos:
1º. Verificar se a amostra está acondicionada, lacrada, identificada e autenticada. Além disso, deve-se
verificar se a amostra apresenta qualquer situação que a desclassifique. Se o produto estiver em condições
de ser classificado, inicia-se o processo de classificação do algodão.
2º. Preparar as amostras para a classificação, dividindo no sentido longitudinal cada amostra ao meio,
subdividindo essas metades, tendo o cuidado de não as descaracterizar durante o manuseio.
3º. Selecionar visualmente as duas piores partes (de características inferiores) e unir as quatro partes,
deixando as duas piores partes voltadas para as faces externas, sendo a pior voltada para cima e a outra
votada para baixo, sendo, esta última colocada contra o tampo da mesa de classificação, definindo o grau
de cor e o grau de folha em função da pior parte.
4º. Analisar visualmente, tendo como referência os Padrões Físicos Universais, as superfícies de cada
amostra, quanto à cor, o brilho, as manchas, o conteúdo e o tamanho das impurezas, contaminações de
matérias estranhas e defeitos de beneficiamento, registrando no Laudo de Classificação em código ou
descrevendo as contaminações e defeitos de beneficiamento detectados.O classificador pode selecionar
as amostras que compõem o lote por grupos semelhantes para facilitar as observações e determinar o Tipo
do Algodão em Pluma. Este algodão classificado, receberá um código referente ao Grau de Cor (C.G,) e ao
Grau de Folha (L.G.), equivalentes aos Padrões Físicos Universais para os algodões americanos Upland ou
Pima que estão sendo utilizados. Caso a amostra não se enquadre em nenhum dos Padrões Físicos Univer-
sais utilizados, será considerada como Fora de Tipo.
5º. Por fim, registrar o resultado da classificação visual/manual no Laudo de Classificação.
4 MISTURA DE FIBRAS
79
4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
1
2 GM Diagrama de cor de HVI
SM para algodão upland
80 3
M 11
Branco americano
-1
11
21 -2 11
Ligeiramente
4 -1 -3 creme
11
21
SLM 31 -
21 4
-2
-1 12
- -1 Creme
Brilhante
31 21 3
-2 -4
12
31 2 13
-2
41 -3 2- -1
-1 1 13
5 31 - 13
22
LM 41 -4 23 2 -3
-2
-2 32
41 -1 23 -1 13- Avermelhado
-3 32 -2 4
70 51
-1 41
-2 33
-1
2
23 3
3- 2 4-
1
-4 42 -4
-1 33
51 51 -2 24 24
-2 42
33
6 -3 -2 -3
-2 43 Amarelado
-3
SGO -1 33
-4 34
51 52 43 -1 24 25
Rd (% Re etância)
61 -4 -1 -2 43 -4 -1
-1 -3 34
52 53 43 -2 34
61 -2 -1 -4 4 -3
61
25
-2 -3 4- 34
1
-2
53 53 -4
-2 -3 44 35
62 - 2 4 -1
7 6 1-4 - 1 4 -3 3
60 GO 71
-1 63
53
-4
54
-1 44
5 -2
62 -1 -4 8
-2 5-
54 54 1
71 6 3 - 2 - 3 8
71 -3 6 3-2 - 3 5 -2
-2
54 85
82-1 63 - 4 -3
-4 84
71 -1
-4 85
83 -4
82-2 - 1 8 4
81 -2
-1
83-
Opaco
81 2 84-
-2 3
50 85
-5
83- 84-
3 4
84
-5
USDA_AMS
Programa
algodão
Luiz Meneghel
40
Amarelamento descrescente +b Amarelamento crescente
Figura 36 - Diagrama de cor para o algodão americano Upland com código de três dígitos, a partir dos valores do grau de reflectância (% Rd) e o grau de
amarelamento (+b)
Fonte: Adaptado de Uster Technologies (1991)
4 MISTURA DE FIBRAS
83
O grau de cor para os algodões equivalentes ao algodão americano Pima é representado por um código
numérico de um dígito, que equivale a um tipo de cor dos seus Padrões Físicos Universais.
4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Diagrama de cor
baseado no
USDA Standards for Grade
80 of American Pima Cotton
Effective
01 de julho, 1986
1
Brilhante
70 4
5
Rd (% Re etância)
60
Opaco
50
Luiz Meneghel, Diego Fernandes
USDA_AMS
Programa
algodão
40
Amarelamento descrescente +b Amarelamento crescente
Figura 37 - Diagrama de cor para o algodão americano Pima com código de um dígito, a partir dos valores do grau de reflectância (% Rd) e o grau de
amarelamento (+b)
Fonte: Adaptado de Uster Technologies (1991)
FIAÇÃO - VOLUME 1
84
Figura 38 - Vista de dois corpos de prova no visor do medidor de impurezas, contendo número e percentual de área (% Area) ocupada pelas impurezas e o mesmo LG
Fonte: Adaptado de Uster Technologies (2008)
Na figura acima é possível verificar que os dois corpos de prova apresentam diferentes números, tama-
nhos e percentual de área ocupada pelas partículas de impurezas.
4 MISTURA DE FIBRAS
85
Contudo, observando a figura a seguir, verifica-se que os graus de folha dos dois corpos de prova são
iguais, ou seja, correspondem ao LG 3.
% AREA
LG
(DADOS DA SAFRA DE 2001 USDA – MÉDIA DE QUATRO ANOS)
1 0,00 – 0,17
2 0,18 – 0,27
3 0,28 – 0,43
4 0,44 – 0,62
5 0,63 – 0,86
6 0,87 – 1,13
7 1,14 – 1,41
8 1,42 – 5,00
Tabela 12 - Parâmetros referenciais da equivalência entre a % de área que as impurezas ocupam na área do visor do medidor de impurezas dos instrumentos do tipo
HVI, tendo como referência os padrões físicos universais do LG
Fonte: Adaptado de Uster Technologies (2008)
Existem oito graus de folha para o algodão Upland, sendo sete com padrões físicos e um com padrão
descritivo. Veja a tabela a seguir com o LG para o algodão Upland.
Para o algodão Pima, existem sete graus de folha, sendo seis com padrões físicos e um com padrão
descritivo, veja a tabela abaixo.
Observe a diferença entre as figuras 39 e 40 em relação a presença de partículas de folhas nas amostras
para o algodão Upland. Podemos ver que o padrão físico universal da fig. 39 possui menor quantidade de
partículas de folhas em relação à figura 40.
Fagner da Silva Mariano
O comprimento da fibra de algodão é amplamente influenciado pela sua variedade, pela exposição da
planta a temperaturas extremas, pelo estresse hídrico ou pelas deficiências de nutrientes, podendo resul-
tar em fibras mais curtas. A limpeza excessiva ou a secagem nos processos de beneficiamento também
podem resultar em fibras mais curtas. O comprimento da fibra afeta a força do fio, a uniformidade do fio
e a eficiência do processo de fiação. A finura do fio, que pode ser produzida com sucesso a partir de fibras
específicas, também é influenciada pelo comprimento da fibra. Quanto maior for a variação de compri-
mentos das fibras em um lote ou fardo, pior será a qualidade do fio, impactando também nos índices de
qualidade e custo da produção.
Visando apoiar a classificação das fibras de algodão para os processos têxteis, mais especificamente
na mistura de fibras para a fiação, foram estabelecidos classes de comprimento de fibra para classificar os
lotes e orientar a mistura.
O UHML (Upper Half Mean Length), ou o comprimento médio das 50% das fibras mais longas, correspon-
de ao comprimento médio da metade superior das fibras de algodão.
O ML (Mean Length), ou o comprimento médio, corresponde ao comprimento médio de 100% das fibras
de algodão.
FIAÇÃO - VOLUME 1
88
O SL (Span Length) ou comprimento da extensão, pode-se referir aos 2,5% ou 50%, que corresponde a
distância de 2,5% ou 50% das fibras pinçadas ao acaso respectivamente, que foram estendidas na zona de
estiragem a partir do ponto de pinçagem.
Fonte:
A resistência específica ou a tenacidade à rotura da fibra (Str – gf/tex), são medidas de força em gramas
por tex. Uma unidade tex é igual ao peso em gramas de 1.000 metros de fibra. Portanto, a força relatada é a
força em gramas necessárias para quebrar um pacote de fibras de uma unidade tex em tamanho. Medições
de força são feitas nas mesmas barbas de algodão que são usadas para medir o comprimento da fibra. A
barba é apertada em dois conjuntos de mandíbulas, separados por 1/8 de polegada. Após esse processo,
FIAÇÃO - VOLUME 1
90
é possível verificar a quantidade de força necessária para quebrar as fibras. A tabela 19, abaixo é um guia
para a interpretação das medidas de resistência da fibra. A força da fibra é amplamente determinada pela
variedade. No entanto, isso pode ser afetado pelas deficiências de nutrientes das plantas e pelo clima. A
força da fibra e a força do fio estão altamente correlacionadas. Além disso, é mais provável que o algodão
com alta resistência à fibra resista à ruptura durante o processo de fabricação.
O alongamento à rotura da fibra (% Elg) corresponde a quanto o feixe de fibras (barbas de fibras) cede
no sentido longitudinal até o momento da rotura, expresso em percentual. A tabela 20 também é um guia
para a interpretação desta medida.
O micronaire pode ser influenciado durante o período de crescimento por condições ambientais tais
como umidade, temperatura, luz solar e nutrientes das plantas.
A finura da fibra afeta o desempenho do processamento e a qualidade do produto final de várias ma-
neiras. Nos processos de abertura, limpeza e cardagem, os algodões de baixo teor de micronaire ou de
fibra fina requerem velocidades de processamento mais lentas para evitar danos ou a destruição da fibra
ao longo do processo de fiação.
Os fios feitos de fibras mais finas possuem mais fibras por seção transversal, o que resulta em fios mais
fortes. A absorção e a retenção de corantes são afetadas pela maturidade das fibras. Quanto maior a matu-
ridade, melhor a absorção e a retenção.
O índice de maturidade (Mat) representa o grau de espessura das camadas de celulose as quais consti-
tuem a parede secundária das fibras que formam os corpos de prova. Podemos observar as figuras 41 e 42
que representam a estrutura da fibra de algodão.
Fibra de algodão
Cutícula
Parede primária
Diego Fernandes
Parede secundária
(sucessivas camadas de celulose) Lúmen
Davi Leon
Figura 42 - Perfil de maturidade da fibra de algodão. De cima para baixo, das mais maduras para as mais imaturas
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
No quadro 2 são definidos esses tipos de fibras que podem conter fibras maduras, fibras imaturas, fibras
de paredes finas, fibras normais e fibras mortas de acordo com bibliografia técnica.
A Tabela 22 apresenta os referenciais para o índice de maturidade das fibras do algodão americano
Upland de comprimento de fibras curtas e médias.
Por fim, o índice de consistência da fiação (SCI), que representa o valor determinado por uma equação
matemática de regressão múltipla, foi desenvolvido a partir dos inter-relacionamentos e correlações entre
as propriedades físicas das fibras e as correlações entre as propriedades físicas daestas e dos fios têxteis.
A Correlação entre as propriedades físicas das fibras de algodão com os processos Têxteis
O técnico têxtil, além de dominar as características dos equipamentos e máquinas da linha de produ-
ção, precisa compreender como relacioná-las com as características da matéria prima que será trabalhada.
As características físicas das fibras são muito importantes para que o técnico têxtil possa planejar e
parametrizar a linha de produção, pois é desta maneira que ele conseguirá fazer o fio com a qualidade e
custos planejados para a produção.
O comprimento das fibras que alimentam a fiação está relacionado à resistência, à torção, à aparência,
à pilosidade e à irregularidade de massa dos fios têxteis. Essa relação é importante para as ajustagens e
regulagens das máquinas que compõem o processo de fiação. E, consequentemente, ela influencia os
processos subsequentes à fiação e às características dos tecidos beneficiados e das peças confeccionadas.
A resistência e o alongamento das fibras influenciam também as resistências dos fios e, consequente-
mente, a resistência dos tecidos, reduzindo os índices de ruptura nas etapas do processo têxtil.
A maturidade das fibras de algodão também impacta diretamente nos processos têxteis, pois fibras
imaturas não suportam os esforços, as tensões e os atritos que sofrem a partir da colheita até a fiação e se
quebram facilmente, ocasionando fibras curtas, flutuantes, impactando na redução da uniformidade do
comprimento, formação de neps e aumento de rupturas nos processos têxteis, além de possuírem baixa
capacidade de absorção de corantes, influenciando negativamente no processo de tinturaria dos tecidos.
As características físicas das fibras de algodão devem ser tradas com atenção dentro dos processos
têxteis. Como pudemos observar, elas influenciam diretamente nas características do fio, do tecido e do
beneficiamento têxtil. Além de impactar na aparência visual dos fios e tecidos crus e tintos.
FIAÇÃO - VOLUME 1
94
Nesta análise, podemos agrupar os lotes por categoria e subcategoria utilizando as ferramentas estatís-
ticas e agrupar os fardos de algodão de forma a ter lotes cuja média aritmética, desvio-padrão e coeficiente
de variação das características físicas escolhidas sejam próximas. O corpo técnico deve fazer esta análise e
decidir como trabalhar com as características físicas da fibra de algodão em função das características da
sua linha de produção. Através desta análise, também poderá ordenar a disposição do armazenamento
dos lotes de fardos de algodão para alimentar a linha produtiva, agrupando os fardos de algodão de carac-
terísticas semelhantes, facilitando a logística de alimentação dos abridores.
Seria ótimo se todos os fardos possuíssem fibras com as mesmas características físicas, pois poderiam
ser agrupados aleatoriamente para alimentar os abridores na sala de abertura da fiação, sem impactar ne-
gativamente no fluxo de produção.
FIAÇÃO - VOLUME 1
96
CASOS E RELATOS
O método para estabelecer a mistura de fibras na fiação pode variar de empresa para empresa.
Cabe ao corpo técnico escolher o melhor método que se adeque às necessidades da fiação. Ge-
ralmente leva-se em conta o comprimento da fibra e o micronaire como características relevantes
para a realização da mistura. Contudo esta decisão deve estar correlacionada com as características
da linha de produção, ou seja, o corpo técnico deve fazer uma análise das máquinas e equipamen-
tos disponíveis na linha de produção e fazer os ajustes em função das características físicas das
fibras que serão processadas. Atualmente, existe no mercado programas que montam o estabe-
lecimento da mistura dos fardos, mas também é comum fábricas que desenvolvem o seu próprio
programa de mistura de fardos.
Em uma fiação, foi designado para a equipe técnica fazer uma análise sobre o impacto na pro-
dução caso houvesse uma troca de fornecedor de algodão. Para esta análise, diversos corretores
encaminharam relatórios de aparelhos do tipo HVI para que o corpo técnico escolhesse o melhor
fornecedor.
Durante a reunião técnica, o corpo técnico definiu que a principal característica que impacta na
produção é a variação do comprimento de fibra e de sua maturidade. Tanto que ao estabelecer o
plano de mistura para alimentar a sala de abertura, o planejamento estatístico realizado para or-
ganizar os fardos de algodão no armazenamento e a ordem dos fardos na alimentação da sala de
abertura tem como sua principal diretriz a mistura com a menor variação de comprimento de fibra,
seguido da menor variação de maturidade entre os fardos de algodão, ou seja, os fardos são arma-
zenados e organizados para que formem grupos que tenham menor variação de comprimento de
fibra e depois a menor variação de maturidade.
Ao avaliar os relatórios encaminhados pelos corretores, a equipe técnica identificou que a metade
dos relatórios não atendiam as necessidades da linha de produção.
Em relação aos relatórios que apresentam informações dos fardos que atendem ao padrão da fia-
ção, a equipe técnica solicitou que sejam encaminhadas amostras destes lotes para que seja possí-
vel fazer a classificação tecnológica na empresa ou em um laboratório credenciado. Após a emissão
dos resultados desta análise, a equipe técnica indicará quais empresas poderão atender a demanda
da linha de produção.
4 MISTURA DE FIBRAS
97
RECAPITULANDO
Neste capitulo, você viu a importância da classificação do algodão em pluma para o gerencia-
mento do controle da qualidade nos processos de fiação. Você estudou os fundamentos de clas-
sificação de algodão em pluma. Também estudou sobre uma das formas de estabelecimento das
misturas entre os fardos de algodão em pluma com foco em atingir altos índices de produção,
qualidade e baixos índices de custos. Também aprendeu as características físicas das fibras de
algodão como o seu comprimento, índice de uniformidade de comprimento, conteúdo de fibras
curtas, Índice Micronaire, índice de maturidade, resistência e alongamento à rotura, CG, LG dentre
outros parâmetros, além de ressaltar as inter-relações e correlações entre as características citadas
e entre os processos e os produtos têxteis.
Os conceitos estudados auxiliarão na correta análise da classificação de algodão em pluma dando
suporte à comercialização, ajudando a verificar a precificação e os valores de ágio e deságio, norte-
ando o produtor e o consumidor. Com essas informações, o corpo técnico tem competência para
o gerenciamento da qualidade do processo têxtil, que inicia-se na seleção dos lotes de fardos para
compra, o seu consumo e atender aos requisitos da maquinaria dos produtos e clientes internos
e externos.
Fios Têxteis
Você certamente, no seu dia a dia, já observou que existem diversos tipos de fios têxteis
(barbantes, linhas de costura, fios coloridos em um tecido xadrez, etc.) que são muito diferentes
em vários aspectos. É possível dizer que eles são facilmente diferenciados em função das suas
características, como espessura e cor.
A razão para essa multiplicidade de tipos está na enorme variedade de uso que se pode dar
ao material. Isso resulta, por consequência, numa variedade enorme de fios com propriedades
específicas, tais como toque, brilho, flexibilidade, absorção e resistência – por exemplo, lembre-
-se das toalhas que foram fabricadas com fios de algodão (composição 100% algodão); elas têm
entre suas propriedades a alta absorção e a maciez, sendo ideal para o uso pós-banho.
Você, como técnico têxtil, deverá desenvolver fios que atendam plenamente aos requisitos
de uso. Para tal, você deverá ter conhecimentos relacionados à matéria-prima, à tecnologia de
produção e ao equipamento disponível na fiação, entre outros. Portanto, neste capítulo, inicie
seus estudos aprendendo os seguintes conceitos sobre o fio têxtil:
a) Definição;
b) Classificação;
c) Características e propriedades;
d) Designação.
Boa leitura!
FIAÇÃO - VOLUME 1
100
Um fio têxtil é o produto final do processo de fiação, podendo ser fabricado a partir de fibras descontí-
nuas ou contínuas (filamentos contínuos).
O fio têxtil é caracterizado por possuir:
a) Possui diâmetro e comprimento que podem variar de acordo com a necessidade de uso;
b) Formato que lembra uma estrutura cilíndrica, mesmo nos casos dos fios com efeitos especiais, comu-
mente denominados de fios fantasias;
c) Propriedades que o tornam um material apropriado à produção de tecidos e outros artigos têxteis,
sendo estas: o toque, a flexibilidade, a resistência à tração, o alongamento e a elasticidade adequada.
Essa classificação permite identificar dois grupos de fios que são formados nos processos de fiação con-
vencional e fiação química.
Para fins didáticos, neste material serão detalhadas apenas as definições da fiação convencional e dos
seus respectivos produtos.
5 FIOS TÊXTEIS
101
Diego Fernandes
Figura 91 - Esquema de classificação dos fios têxteis
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
A fiação convencional, por meio de operações que provocam mudanças físicas no material, faz que as
fibras descontínuas36 sejam orientadas longitudinalmente, agrupadas e presas umas às outras, dando ori-
gem a um único material com diâmetro definido e comprimento limitado: o fio fiado. Portanto, o fio têxtil
de fibras descontinuas é uma estrutura formada pela união de fibras de curto comprimento, se comparado
com o filamento contínuo. A lã, o algodão e o poliéster cortado são exemplos de fibras descontínuas.
Essas fibras, dependendo da sua origem, podem apresentar comprimentos distintos. Existem fibras
descontínuas com comprimento médio inferior (como o caso da fibra de algodão) e superior (como a
fibra de lã) a 50 mm. Essa diferença deu origem ao Sistema de Fiação Convencional para Fibras Curtas e
ao Sistema de Fiação Convencional para Fibra Longas, ou seja, deu origem a fiações convencionais com
equipamentos destinados a produçãode fios formados por fibras curtas e longas.
FIQUE As fibras descontínuas, quando não naturais, correspondem aos pedaços cortados
ALERTA de multifilamentos e recebem a denominação de fibra cortada.
36 São segmentos em forma linear de pequeno comprimento. Normalmente, por uma questão de simplificação, é designada
simplesmente como “fibra”.
FIAÇÃO - VOLUME 1
102
O fio fiado cardado normalmente é utilizado em tecido menos nobre, por ser mais grosso, mais áspero,
ter menos brilho e ser mais barato se comparado ao fio penteado.
Victor Nasci-
mento
Figura 92 - Fio Cardado
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
O fio fiado penteado é aquele que recebeu um tratamento de seleção, eliminando as fibras de menor
comprimento, possibilitando a produção de fios mais finos, mais regulares e com melhor resistência. Nor-
malmente são utilizados na fabricação de tecidos mais nobres.
FIQUE Não se justifica utilizar o processo de fio penteado quando a matéria-prima que dará
origem a esse fio é formada apenas por fibras não naturais, oriundas de um multifila-
ALERTA mento cortado, pois nesse caso não existirá fibras muito curtas.
Lissandro
Garrido
Um fio fiado é considerado regular quando possui alta uniformidade, ou seja, quando apresenta, ao
longo do seu comprimento, a mesma forma, diâmetro, cor e torção. O fio regular é o mais produzido na
indústria e é o que normalmente é encontrado na maioria das peças têxteis no dia a dia.
Lissandro
Garrido
Figura 96 - Fio regular
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
Em um fio fiado fantasia são observadas irregularidades intermitentes em termos de torção, massa, cor,
diâmetro, forma, etc. com a finalidade de conferir-lhe uma forma diferenciada e apresentar um aspecto ou
toque diferente, destinado a valorizar e diversificar o tecido.
Lizander Augusto da Costa Lopes
Você acabou de ver os diversos tipos de fios fiados existentes, algumas características e diferentes usos
e pode estar se perguntando: como é possível produzir fios tão diferentes?
As características e propriedades são os fatores que diferenciam um fio do outro. Elas são obtidas a par-
tir da definição da composição e da estrutura do fio.
shutterstock/Picsfive
Figura 98 - Fios fiados
Os fios fiados são produzidos com uma ou mais fibras têxteis em função de alguns aspectos, como cus-
tos e tecnologia disponíveis na fiação e propriedades físicas e químicas que o produto final deva possuir.
Esse produto final poderá ser um fio, um tecido ou outro produto têxtil, como uma toalha de banho.
Como você já viu, a toalha de banho tem como propriedade principal ser muito absorvente.
A parte do tecido que torna a toalha capaz de absorver grande quantidade de água é a felpa.
Istock/thebroker
Figura 99 - Felpa
5 FIOS TÊXTEIS
105
A estrutura do fio fiado também é determinante na definição das suas propriedades finais e se dá em
função dos seguintes aspectos:
a) Espessura;
b) Número de cabos que o fio possui (denominados de fios reunidos ou retorcidos);
c) Intensidade da torção aplicada ao fio e seu sentido;
d) Processo de fiação;
e) Tecnologia de fiação (ex.: filatório por anel, filatório por rotor e filatório por jato de ar);
f) Existência de efeitos especiais de fiação (ex.: fio fantasia);
g) Existência de acabamentos especiais (ex.: fio mercerizado).
Um bom exemplo do impacto da estrutura do fio nas propriedades finais do produto é descrito a seguir:
Um fio 100% algodão com determinada espessura, produzido em um filatório por anel, terá comporta-
mento e aspecto diferentes de outro fio 100% algodão, com a mesma espessura, produzido em um filató-
rio por rotor. Se comparados, este tem maior capacidade de absorver líquidos que o primeiro.
Ao se designar um fio, permitimos a sua identificação por uma única expressão, informando a sua com-
posição e todos os aspectos relacionados a sua estrutura, além da cor com seu respectivo código. Isso
facilita bastante a comunicação em transações comerciais, isto é, clientes e fornecedores.
IdentificaPantone 19
Na designação do fio apresentada, utilizamos o título do fio em vez da grandeza de espessura (diâmetro
do fio expresso em mm). Você imagina o porquê?
Faça a seguinte experiência para responder esta pergunta.
Thinkstock/insagostudio
Para começar pegue um barbante grosso. Com o auxílio de uma régua graduada em milímetros, faça cin-
co medições do diâmetro em pontos diferentes do fio, anote os resultados e calcule a média desses valores.
Provavelmente, você obteve cinco resultados muito diferentes, em função da dificuldade de medir com
precisão a espessura do fio com uma escala milimétrica. Isso acontece por causa das irregularidades ine-
rentes ao fio e da pressão exercida pelos seus dedos sob o material que é facilmente comprimido. Por isso,
você não vai conseguir determinar a espessura do fio com esse método.
A questão agora é: como o título pode representar a espessura de um fio têxtil?
Para isso, relembre o conceito básico de título – que é o número que representa a espessura de um fio ou
de outro material têxtil – a partir da relação entre determinado comprimento e sua massa correspondente.
Imagine que a sua tarefa seja comparar o título de dois fios, produzidos com a mesma matéria-prima,
visando a identificar qual é o mais grosso, baseado no sistema de titulação Tex:
a) Fio A – título 20 tex;
b) Fio B – título 30 tex.
A partir da definição do sistema Tex, onde o título é igual a massa em grama de 1000 metros de fio ou
de outro material têxtil, é possível agora afirmar que:
a) 1000 metros de Fio A têm massa igual a 20 gramas, enquanto;
b) 1000 metros de Fio B têm massa igual a 30 gramas.
5 FIOS TÊXTEIS
107
Você deve ter percebido que o fio mais grosso é o Fio B, designado pelo título 30 tex, pois, comparando
a espessura de dois fios com o mesmo comprimento, fabricados com a mesma matéria-prima, aquele que
apresentar a maior massa será o mais grosso.
Agora imagine que a sua tarefa continue sendo comparar o título de dois fios, produzidos com a mesma
matéria-prima, com o objetivo de identificar suas espessuras. No entanto, nessa situação, o sistema utiliza-
do para designar os fios, foi o sistema inglês (Ne):
a) Fio A – 20 Ne;
b) Fio B – 30 Ne.
A partir da definição do sistema Ne (no qual o título é igual ao número de meadas com o comprimento
de 768 m necessárias para obter a massa de 454 g) é possível afirmar que:
a) 454 g de Fio A têm comprimento igual a 20 meadas com 768 m, ou seja, 15360 m;
b) 454 g de Fio B têm comprimento igual a 30 meadas com 768 m, ou seja, 23040 m.
Assim, pode-se afirmar que o fio mais grosso é o Fio A, designado pelo título 20 Ne, porque, compa-
rando a espessura de dois fios com a mesma massa, fabricados com a mesma matéria-prima, aquele que
apresentar menor comprimento será o mais grosso.
De acordo com os exemplos apresentados, ao compararmos os sistemas Tex e o Inglês de titulação são
obtidas as seguintes informações:
É possível concluir que em qualquer sistema de titulação do grupo direto, o fio com o maior título, ou
seja, maior número, terá maior espessura. Já em qualquer sistema de titulação do grupo indireto o fio com
o menor título, ou seja, menor número, terá a maior espessura.
Você observou que na comparação da sua espessura dos fios por meio do título, a condição foi que os
fios tivessem a mesma composição. Portanto, precisamos determinar se isso é uma premissa obrigatória
para realizar esse tipo de comparação.
Nenhum sistema de titulação deve ser utilizado para comparar fios formados por matérias-primas dife-
rentes. Observe a tabela a seguir:
FIAÇÃO - VOLUME 1
108
MASSA DE 1
COMPOSIÇÃO DO FIO COMPRIMENTO ESPESSURA DO FIO TÍTULO Tex
METRO DE FIO
Fio de cobre 1m 0,45 mm 141,55 g T = 141.550,00 Tex
Anteriormente está apresentado um fio de cobre com o mesmo comprimento e espessura de um fio de
algodão. Nota-se que o fio de cobre possui maior massa e, por isso, apresenta título diferente, ainda que
possua a mesma espessura.
A seguir apresentaremos os cálculos:
PARÂMETROS
DEFINIÇÃO CONSTANTE (K) FÓRMULA
COMPRIMENTO (C) MASSA (P)
O título Tex é dado pela
K ×P
massa de 1000 m de 1000 m 1g 1000 m/g T=
C
material têxtil
Tabela 48 - Cáculos do fio
1000g/m 141,55g
T= = 141.550,0 tex
1
Artur Paz
Fio de algodão:
1000g/m . 0,13137g
T= = 141.550,0 tex
1
Artur Paz
Trazendo esse conceito para área têxtil é possível garantir, por exemplo, que um fio de poliéster, título
20 tex, não tem a mesma espessura de um fio de algodão com esse mesmo título. A espessura desses fios
é até parecida, pois sua densidade é semelhante.
A densidade (ρ) expressa a relação da massa (m) em gramas pelo volume (v) em centí-
metros cúbicos.
m
m
rr == v
SAIBA v
MAIS g
g
rr =
= cm ³
cm ³
Essa propriedade explica porque 1 kg de algodão ocupa mais espaço que 1 kg de cobre.
Você já avançou muito no estudo sobre a designação dos fios! Agora vocêconhecerá um pouco mais
sobre:
a) Sistema de titulação;
b) Equivalência dos sistemas de titulação;
c) Norma ABNT para designação dos fios;
d) Determinação do título resultante.
Falta pouco agora!
Existem muitos sistemas de titulação utilizados na indústria têxtil. Por questões metodológicas, você
irá estudar neste material apenas os sistemas mais utilizados na indústria brasileira, ou seja, o Tex, Denier,
Métrico e o inglês de titulação. Portanto, antes de começar o estudo sobre equivalência dos sistemas de
titulação, relembre as definições e os parâmetros dos quatros mais usados:
FIAÇÃO - VOLUME 1
110
PARÂMETROS
CONSTANTE
DEFINIÇÃO COMPRIMENTO FÓRMULA
MASSA (P) (K)
(C)
GRUPO
DIRETO DE Tex: dado pela massa de
1000 m 1g 1000 m/g
TITULAÇÃO 1000 m de material têxtil. K*P
T=
Denier: dado pela massa de C
9000 m 1g 9000 m/g
9000 m de material têxtil.
Inglês: o título Ne é o nú-
mero de meadas com 768
m necessárias para obter 768 m 454 g 0,59 g/m
a massa de 454 g de um
GRUPO
INDIRETO material têxtil. K*C
T=
DE Métrico: o título Ne é o nú- P
TITULAÇÃO
mero de meadas com 1000
Victor Nascimento
m necessárias para obter 1000 m 1000 g 1 g/m
a massa de 1000 g de um
material têxtil.
O quadro apresentado a seguir é baseado na definição original do sistema Tex, no qual o título é dado
pela a massa em grama de 1000 m de material têxtil, ou seja, o comprimento é uma constante e a massa
varia. Isso é uma regra para todos os sistemas do grupo direto de titulação.
DEFINIÇÃO PARÂMETROS
FÓRMULA
VALOR CONSTANTE (1000 m) (C) (P) (K)
Quilotex (ktex): dado pela massa em kg de
1 kg 1000 m/kg
1000 m de material têxtil.
GRUPO
DIRETO Tex: dado pela massa em g de 1000 m de
1g 1000 m/g
DE material têxtil. K*P
TITULAÇÃO 1000 m T=
Decitex (dtex): dado pela massa em dg de C
1 dg 1000 m/dg
Victor Nascimento
Você certamente percebeu que para usar os subsistemas apresentados no quadro anterior seria neces-
sário trabalhar com unidade de massas pouco comuns na indústria, o que poderia trazer dificuldades. Por
essa razão foi feita uma conversão que resultou na mudança da constante de titulação tornando o uso do
subsistema mais fácil.
5 FIOS TÊXTEIS
111
DEFINIÇÃO PARÂMETROS
FÓRMULA
VALOR CONSTANTE (1 g) (C) (P) (K)
Quilotex (ktex): dado pela massa em g de 1
1m 1 m/g
m de material têxtil.
GRUPO
DIRETO Tex: dado pela massa em g de 1000 m de
DE 1000 m 1000 m/g
material têxtil. K*P
TITULAÇÃO 1g T=
Decitex (dtex): dado pela massa em g de C
10.000 m 10.000 m/g
Victor Nascimento
10.000 m de material têxtil.
Militex (mtex): dado pela massa em g de
1.000.000 m 1.000.000 m/g
1.000.000 m de material têxtil.
Quadro 8 - Subsistema Tex
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
Encontrar a equivalência entre os sistemas de titulação consiste em converter o título apresentado para
outro sistema diferente daquele originalmente utilizado. Isso pode ser feito de três maneiras:
a) Por meio de programas de computador ou tabelas de conversão de autoria confiável,
b) Por meio do cálculo do novo título;
c) Por meio das fórmulas de conversão.
1000 m / g * 454 g
T= = 29,55
15360 m
Conclusão: O cálculo realizado demonstrou que o fio com 20 meadas de 768 m pesando 454 g (indicado
no sistema inglês pelo título 20 Ne) seria designado no sistema Tex pelo título 29,55. Portanto é possível
afirmar que o título 20 Ne equivale ao título 29,55 tex.
FIAÇÃO - VOLUME 1
112
k' * t
t' =
k
k' * k
t' =
t
Onde:
t’ = título desejado
k’ = constante do título desejada
t = título conhecido
k = constante do título conhecido
FIQUE Não é possível comparar a espessura dos fios com títulos de sistemas diferentes, por-
ALERTA tanto, nesses casos, sempre é necessário fazer a conversão.
5 FIOS TÊXTEIS
113
Para fins comerciais é obrigatório designar o fio segundo a norma da ABNT NBR 12251. Alguns dos pon-
tos dessa norma (que trata da designação dos fios no sistema TEX) estão descritos a seguir. Acompanhe!
a) Objetivo: essa norma fixa métodos de designação de características de construção dos fios singelos,
reunidos e retorcidos;
b) Documentos complementares: NBR 7031 (indicação do sentido da torção dos fios têxteis) e NBR 8427
(emprego do sistema TEX para expressar o título têxtil).
Para a designação dos fios segundo a ABNT, são utilizados os seguintes símbolos:
a) R – Representa o título resultante da torção, ou da reunião de fios, e antecede o respectivo valor nu-
mérico;
b) f – Indica que o fio é composto por filamentos e antecede o número que indica a quantidade de fila-
mento existente;
c) t0 – Indica que o fio não tem torção;
d) Z – Indica o sentido da torção Z;
e) S – Indica o sentido da torção S;
f) X – Antecede o número que indica a quantidade de fios idênticos que compõem o fio reunido ou o
fio retorcido;
g) + – Une as designações de fios de título diferentes que compõem o fio reunido ou o fio retorcido.
Visando a sua melhor compreensão, veja alguns exemplos de designação de fios utilizando a NBR 12251.
Nas tabelas a seguir, o campo designação completa é o resultado dos aspectos relacionados à estrutura do fio.
DESIGNAÇÃO
TIPO DE FIO DESIGNAÇÃO DESIGNAÇÃO COMPLETA
COMPLETA
CONFORME Nº DE SEM
CONFORME
FIO SINGELO FIOS TORÇÃO
FIO SINGELO
UTILIZADO
UTILIZADO
Você concluirá seu estudo sobre designação dos fios aprendendo a calcular o título resultante dos fios
com mais de um cabo.
Quando se designa um fio retorcido informando apenas a quantidade de cabos e os seus títulos ex-
pressos em um mesmo sistema de titulação, a informação não está precisa. Veja o exemplo a seguir para
compreender essa questão.
Na designação 15 Tex x 2:
5 FIOS TÊXTEIS
115
O número 15, expressa o título Tex de cada cabo que compõe o fio; o número 2, a quantidade de cabos que
compõem o fio. Contudo, essa designação não é suficiente para expressar a espessura real que o fio possui.
Conforme a norma ABNT 12251:1990, a designação inicial deve vir acompanhada do cálculo do título
resultante (R), pois este é o número que representa a espessura de um fio formado por mais de um cabo.
1
R= * FC
1 1 1
+ +¼+ t1+ t 2 + ¼ tn
t1 t 2 tn R=
FC
Fórmula simplificada:
t
R= * FC
n
100 - %c
FC =
100
Onde:
R = título resultante
t1 = título do cabo 1
t2 = título do cabo 2
tn = título do cabo n
FC = fator de contração
%c = % de contração
Quadro 12 - Cálculo do título resultante
As máquinas que compõem cada etapa do processo de fiar estão diretamente relacionadas com a ma-
téria-prima processada e o tipo de fio desejado.
Você vai estudar o processo de formação do fio observando a produção manual do fio de lã. Esse proces-
so irá ajudá-lo a compreender as transformações que o material fibroso sofre até a sua transformação em fio.
FIAÇÃO - VOLUME 1
116
Victor Nascimento
Figura 103 - Separação de impurezas
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
b) 2º Passo: pegue a massa de fibra e, utilizando duas escovas com guarnições metálicas, penteie o
material.
Victor Nascimento
c) 3º Passo: depois de retirar o material das escovas, segure uma das pontas firmemente entre os dedos
polegar e indicador da mão esquerda, e na outra extremidade, com a mão direita, mantenha uma das
mãos parada e mova a outra distanciando desta, aplicando uma leve força a fim de distender. Conco-
mitantemente, aplique a torção girando a massa de fibras em torno do seu eixo, até obter resistência
e um formato semelhante a um fio.
5 FIOS TÊXTEIS
117
Victor Nascimento
Figura 105 - Preparação do fio
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
Victor Nascimento
Nesta seção serão apresentadas algumas propostas de fluxograma de fiação convencional para a ob-
tenção dos fios de algodão puro ou misturado com fibra de poliéster para ajudá-lo a compreender outros
conceitos que serão abordados adiante.
Um fluxograma é um diagrama que tem como finalidade representar processos ou fluxos de materiais
e operações, tendo sempre um início, um sentido de leitura e um fim.
FIAÇÃO - VOLUME 1
118
Para isso, será abordada a sequência de etapas pelas quais passa o algodão, desde a sua entrada na
primeira máquina até as etapas finais, para elaboração de alguns tipos de fios dentro da fiação.
O fluxograma da fiação convencional sofre modificações de acordo com:
a) As características da fibra de algodão;
b) As condições e recursos dos seus equipamentos;
c) A qualidade do fio que se pretende produzir.
Como primeiro exemplo, observe a seguir um fluxograma para a produção de um fio singelo de algodão
cardado num filatório de anel. Os conceitos listados serão discutidos detalhadamente nos capítulos seguintes.
Algodão em Floco ou
pluma Sala de abertura manta
Fita
Carda
Fita
Passador 1ª passagem
Fita
Passador 2ª passagem
Maçaroqueira Pavio
Fio singelo
Filatório por anel
Paulo Cordeiro
Fio singelo
Conicaleira
Figura 107 - Fluxograma do processo de produção de fio singelo de algodão cardado no filatório por anel
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
Algodão em Floco ou
pluma Sala de abertura manta
Fita
Carda
Fita
Passador 1ª passagem
Fita
Passador 2ª passagem
Paulo Cordeiro
Figura 108 - Fluxograma do processo de produção de fio singelo de algodão cardado no filatório por rotor
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
5 FIOS TÊXTEIS
119
Floco ou Algodão em
manta Sala de abertura pluma
Carda
Fita Fita
Passador de pré passagem
Estiro reunidor
Penteadeira Pavio
Fita
Passador 1ª passagem
Maçaroqueira
Fio singelo
Filatório por anel
Paulo Cordeiro
Fio singelo
Conicaleira
Figura 109 - Fluxograma do processo de produção de fio singelo de algodão penteado no filatório por anel
Fonte: SENAI/CETIQT (2016)
No caso da produção de fios retorcidos, acrescentam-se aos processos anteriores as etapas descritas a
seguir.
CASOS E RELATOS
Otimizando a produção
Uma fiação, localizada no Paraná, estava com dificuldade em se manter competitiva no mercado
de fios cardados 100% algodão, pois sua margem de lucro proveniente da comercialização desses
produtos estava reduzida, em função dos preços praticados pelos seus concorrentes na época.
FIAÇÃO - VOLUME 1
120
Esse cenário levou a direção da empresa a encomendar um estudo de viabilidade técnica e econô-
mica para criação de uma nova linha de produtos, formada por fios 100% algodão penteado com
maior valor agregado. Para isso, contratou um instituto de pesquisa de uma faculdade especializada
na área têxtil, sediada no estado do Rio de Janeiro.
Na execução do estudo foram identificadas, entre outras medidas, a necessidade de a empresa rea-
lizar alguns investimentos na sua linha de produção e na modernização do seu parque industrial, a
fim de viabilizar a criação desse novo portfólio.
O relatório apontou para uma decisão da direção que demandou a sua equipe técnica um levanta-
mento dos equipamentos (e fabricantes) mais adequados à produção.
Com os conhecimentos obtidos em um curso Técnico Têxtil, a equipe se dividiu, fez os levantamen-
tos adequados e tratou cada fluxograma de atividades a fim de otimizar a produção. Com isso, foi
possível reduzir custos e obter a titulação e características dos fios necessárias a uma concorrência.
De posse dos resultados levantados pela equipe técnica, a empresa investiu na sua linha de produ-
ção, possibilitando a criação de uma nova linha de produtos com maior valor agregado e contribuin-
do para melhorar a competitividade da empresa.
RECAPITULANDO
Neste capítulo foi apresentada a definição e a classificação dos fios têxteis, a grande diversidade de
produtos existentes e suas inúmeras aplicações. Além disso, destacou-se que as características e as
propriedades dos fios são definidas a partir da sua composição e sua estrutura.
Por último, foi apresentada a maneira correta de designar um fio têxtil e alguns fluxogramas de
fiação, permitindo, dessa forma, que você perceba que o processo de fabricação do fio é alterado
em função do produto que se deseja produzir.
Neste capítulo você iniciou sua trajetória por dentro da fiação convencional e começou a conhecer
os conceitos e a tecnologia utilizados na produção dos fios.
Ao longo dos próximos capítulos você irá aprofundar esses conhecimentos! Siga em frente!
REFERÊNCIAS
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MINICURRÍCULO DOS AUTORES
A
Algodão, 5, 6, 7, 8, 9, 11, 12, 15, 17, 18, 21, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 32, 45, 55, 56, 57, 59, 69, 70, 71,
72, 73, 74, 75, 76, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 88, 90, 92, 94, 95, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104,
105, 106, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 119, 120, 121, 122, 123, 124,
129, 130, 134, 142, 145, 147, 151, 154, 155, 163, 164, 165, 166, 169, 171
Aparelho do tipo HVI, 114, 124, 140
B
Barramentos, 113
C
Calibração, 6, 63, 64, 85, 91, 92
Capulho, 5, 24, 25
Cardagem, 7, 9, 12, 13, 14, 35, 114, 115, 122, 123, 134, 137, 162
Cisalhamento, 63
E
Efeito Cavitoma, 111, 113
Extrusão, 37, 63
F
Fardo, 18, 70, 75, 121, 122, 124, 130, 140, 142
G
Godets, 5, 65, 66, 67
H
Hemicelulose, 31
Hidrólise, 47
M
Materiais pécticos, 26
Micron, 114
Mistura ajustada, 134
Mistura calculada, 134
N
Neps, 7, 27, 70, 71, 101, 108, 109, 110, 111, 112, 116, 117, 118
Número de misturas, 134, 135
P
Pacote ou mala, 85
Pillings ou bolinhas, 112
R
Regain, 23, 28, 36, 40, 48, 53, 90, 111, 121, 122
Regularímetro ou conjunto de irregularidade, 115,
Roseta dentada, 39
Roturas ou Rupturas, 113, 116, 117, 118, 119
S
Saldo de fardos, 134
T
Tex, 7, 8, 9, 45, 48, 98, 100, 111, 116, 119, 123, 127, 152, 153, 154, 155, 156, 157, 158, 159, 160,
161, 174
Título, 8, 12, 39, 45, 53, 61, 107, 116, 152, 153, 154, 155, 156, 157, 158, 159, 160, 161, 174
Total de fardos utilizados, 134, 174
Tumefeita, 174
SENAI – DEPARTAMENTO NACIONAL
UNIDADE DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA – UNIEP
Robson Wanka
Gerência de Educação
Tikinet
Revisão ortográfica e gramatical
Artur Paz
Davi Leon Dias
Diego Fernandes
Luiz Eduardo de Souza Meneghel
Paulo Lisboa Cordeiro
Fotografias, Ilustrações e Tratamento de Imagens
Tikinet
Normalização
i-Comunicação
Projeto Gráfico