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SÉRIE VESTUÁRIO

MODELAGEM
INDUSTRIAL DO
VESTUÁRIO
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI

Robson Braga de Andrade


Presidente

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA

Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti


Diretor de Educação e Tecnologia

Julio Sergio de Maya Pedrosa Moreira


Diretor Adjunto de Educação e Tecnologia

SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL – SENAI

Robson Braga de Andrade


Presidente do Conselho Nacional

SENAI – Departamento Nacional

Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti


Diretor-Geral

Julio Sergio de Maya Pedrosa Moreira


Diretor Adjunto

Gustavo Leal Sales Filho


Diretor de Operações
SÉRIE VESTUÁRIO

MODELAGEM
INDUSTRIAL DO
VESTUÁRIO
© 2016. SENAI - Departamento Nacional

© 2016. SENAI – SENAI CETIQT - Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil

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Esta publicação foi elaborada pela equipe do SENAI CETIQT, com a coordenação do SENAI
Departamento Nacional, para ser utilizada por todos os Departamentos Regionais do
SENAI nos cursos presenciais e a distância.

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Unidade de Educação Profissional e Tecnológica – UNIEP

SENAI CETIQT – Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil


Coordenação de Educação a Distância – CEaD

FICHA CATALOGRÁFICA

S491m

Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Departamento Nacional.


Modelagem industrial do vestuário / Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial. Departamento Nacional, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.
Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil. Brasília : SENAI/DN, 2016.
139 p. il. (Série Vestuário).

ISBN 9788550500836

1. Industria do vestuário. 2. Modelagem industrial. I. Serviço Nacional de


Aprendizagem Industrial. Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil. II. Título.
III. Série.

CDU: 687.021

SENAI Sede
Serviço Nacional de Setor Bancário Norte . Quadra 1 . Bloco C . Edifício Roberto
Aprendizagem Industrial Simonsen . 70040-903 . Brasília - DF . tel.: (0xx61) 3317-9001
Departamento Nacional Fax: (0xx61)3317-9190 . http://www.senai.br
Lista de ilustrações
Figura 1 - Medidas em circunferências..................................................................................................................... 21
Figura 2 - Medidas em distâncias............................................................................................................................... 22
Figura 3 - Medidas em Alturas..................................................................................................................................... 24
Figura 4 - Exemplo da tabela de medidas .............................................................................................................. 25
Figura 5 - Grupos masculinos ABNT NBR 16060.................................................................................................... 26
Figura 6 - Tabela de diversidade antropométrica e étnica................................................................................ 29
Figura 7 - Esquema de mudança progressiva em relação a peso e idade................................................... 30
Figura 8 - Modelos de corpo feminino..................................................................................................................... 32
Figura 9 - Croquis de moda........................................................................................................................................... 36
Figura 10 - Conjunto de réguas técnicas utilizadas na modelagem manual.............................................. 38
Figura 11 - Fonte das medidas, desenho dos moldes e esquema de instrução com letras.................. 39
Figura 12 - Construção de base de corpo................................................................................................................ 40
Figura 13 - Pontos anatômicos medidos para construção de saia................................................................. 41
Figura 14 - Passo 1: Retângulo para construção da base................................................................................... 42
Figura 15 - Passo 2: Linhas laterais e de quadril.................................................................................................... 42
Figura 16 - Passo 3: Abertura da Linha lateral........................................................................................................ 43
Figura 17 - Passo 4: Linha da cintura......................................................................................................................... 44
Figura 18 - Gabarito da linha da cintura................................................................................................................... 44
Figura 19 - Rebaixamento da cintura........................................................................................................................ 45
Figura 20 - Definição de pences.................................................................................................................................. 46
Figura 21 - Definição de pences.................................................................................................................................. 47
Figura 22 - Base de saia completa.............................................................................................................................. 47
Figura 23 - Interpretações de modelagem de calça masculina....................................................................... 48
Figura 24 - Interpretações de camisa masculina................................................................................................... 49
Figura 25 - Modelo de macacão a ser desenvolvido........................................................................................... 50
Figura 26 - Base de macacão e interpretação........................................................................................................ 50
Figura 27 - Molde frente do macacão finalizado.................................................................................................. 51
Figura 28 - Etapas de finalização do molde............................................................................................................ 52
Figura 29 - Diagrama da modelagem do macacão completa.......................................................................... 53
Figura 30 - Molde copiado com adição de costuras............................................................................................ 53
Figura 31 - Adição de margens de costuras com o auxílio do esquadro...................................................... 54
Figura 32 - Esquadramento em detalhes de cantos de costura...................................................................... 54
Figura 33 - Bainha com dobra...................................................................................................................................... 55
Figura 34 - Adição de margens de bainha............................................................................................................... 55
Figura 35 - Pique............................................................................................................................................................... 56
Figura 36 - Pique indicativo de dobra de bainha.................................................................................................. 56
Figura 37 - Furo sinalizador de final de pence..................................................................................................... 57
Figura 38 - Sinalização com alicate de pique......................................................................................................... 57
Figura 39 - Marcação de fio do tecido no molde.................................................................................................. 59
Figura 40 - Peças do vestuário feminino.................................................................................................................. 60
Figura 41 - Peças do vestuário masculino............................................................................................................... 61
Figura 42 - Construção de terno em alfaiataria..................................................................................................... 62
Figura 43 - Segmento infantil...................................................................................................................................... 63
Figura 44 - Moda íntima................................................................................................................................................. 65
Figura 45 - Moda fitness...............................................................................................................................................66
Figura 46 - Moda praia.................................................................................................................................................... 67
Figura 47 - Saia com detalhe assimétrico em sobreposição............................................................................. 68
Figura 48 - Desconstrução de camisa com botões............................................................................................... 69
Figura 49 - Adaptação de partes componentes.................................................................................................... 70
Figura 50 - Gradação de base de saia feminina..................................................................................................... 71
Figura 51 - Ampliação de frente de saia................................................................................................................... 72
Figura 52 - Gradação de saia........................................................................................................................................ 73
Figura 53 - Bases planificadas a partir do corpo humano................................................................................ 74
Figura 54 - Base desenvolvida no busto de manequim.................................................................................... 74
Figura 55 - Técnica de draping em vestido............................................................................................................. 75
Figura 56 - Manequim sinalizado em seus principais pontos de referência............................................... 78
Figura 57 - Exemplo de modelo assimétrico.......................................................................................................... 79
Figura 58 - Sinalização assimétrica de manequim............................................................................................... 79
Figura 59 - Tecido e sua estrutura fundamental.................................................................................................... 80
Figura 60 - Draping em ¼ de manequim para peças sem folgas ................................................................... 81
Figura 61 - Draping para peças com drapeado ou franzido.............................................................................. 81
Figura 62 - Draping: Etapa 1.......................................................................................................................................... 82
Figura 63 - Draping: Etapa 2.......................................................................................................................................... 82
Figura 64 - Draping: Etapa 3.......................................................................................................................................... 83
Figura 65 - Draping: Etapa 4.......................................................................................................................................... 83
Figura 66 - Draping: Etapa 5.......................................................................................................................................... 84
Figura 67 - Draping: Etapa 6.......................................................................................................................................... 84
Figura 68 - Draping: Etapa 6 (continuação)............................................................................................................. 85
Figura 69 - Draping: Etapa 7.......................................................................................................................................... 85
Figura 70 - Draping: Etapa 8.......................................................................................................................................... 86
Figura 71 - Rolos de tecidos.......................................................................................................................................... 90
Figura 72 - Tecido plano e representação de sua estrutura.............................................................................. 91
Figura 73 - Tecimento do tecido plano..................................................................................................................... 92
Figura 74 - Malha e representação gráfica.............................................................................................................. 94
Figura 75 - Ponto por laçada em um tecido de malha........................................................................................ 94
Figura 76 - Estrutura por trama e urdume............................................................................................................... 95
Figura 77 - Curso e coluna de malhas....................................................................................................................... 95
Figura 78 - Verificação de elasticidade via tensionamento............................................................................... 96
Figura 79 - Fio no sentido longitudinal.................................................................................................................... 97
Figura 80 - Fio no sentido transversal....................................................................................................................... 97
Figura 81 - Fio em sentido enviesado....................................................................................................................... 97
Figura 82 - Encaixe sem sentido.................................................................................................................................. 98
Figura 83 - Posicionamento em relação a ourela.................................................................................................. 99
Figura 84 - Montagem de bolso................................................................................................................................. 100
Figura 85 - Protótipo finalizado.................................................................................................................................. 100
Figura 86 - Teste de preparação................................................................................................................................. 101
Figura 87 - Exemplo de peça piloto.......................................................................................................................... 103
Figura 88 - Encaixe em pé............................................................................................................................................ 105
Figura 89 - Estampa em pé.......................................................................................................................................... 105
Figura 90 - Corte manual.............................................................................................................................................. 107
Figura 91 - Ciclo de vida do produto........................................................................................................................ 108
Figura 92 - Resíduos de confecção............................................................................................................................ 110
Figura 93 - Modelo de ficha técnica.......................................................................................................................... 115
Figura 94 - Cabeçalho de ficha técnica.................................................................................................................... 116
Figura 95 - Exemplos de aviamentos....................................................................................................................... 118
Figura 96 - Tag feita em tecido................................................................................................................................... 120
Figura 97 - Ordem de símbolos para etiquetas de composição..................................................................... 121
Figura 98 - Sequência de símbolos de etiquetas em produtos do vestuário............................................ 122
Figura 99 - Etiqueta obrigatória................................................................................................................................. 123
Figura 100 - Sequência operacional......................................................................................................................... 124
Figura 101 - Operações de acabamento................................................................................................................. 124
Figura 102 - Ficha de criação....................................................................................................................................... 126
Figura 103 - Ficha técnica de modelagem............................................................................................................. 128
Figura 104 - Campos referentes a modelagem e a partes componentes................................................... 128
Figura 105 - Ficha técnica de qualidade.................................................................................................................. 130

Quadro 1 - Descrições de medidas..............................................................................................................................25


Quadro 2 - Detalhamento de biótipos.......................................................................................................................29
Quadro 3 - Distúrbios de peso.......................................................................................................................................30
Quadro 4 - Relação comparativa de corpos..............................................................................................................31
Quadro 5 - Faixas etárias do segmento infantil.......................................................................................................64
Quadro 6 - Evolução da moda praia............................................................................................................................67
Quadro 7 - Ferramentas para draping........................................................................................................................77
Quadro 8 - Estrutura básica do tecido........................................................................................................................80
Quadro 9 - Ligamentos básicos de tecidos...............................................................................................................93
Quadro 10 - Gestão de resíduos................................................................................................................................. 110

Tabela 1 - Relação de medidas para referência do tamanho feminino 40....................................................41


Tabela 2 - Tabela de medidas femininas em cm......................................................................................................71
Tabela 3 - Dados de consumo direto........................................................................................................................ 117
Tabela 4 - Dados de aviamentos................................................................................................................................ 118
Tabela 5 - Beneficiamento direto de produto....................................................................................................... 119
Tabela 6 - Consumo indireto....................................................................................................................................... 120
SUMÁRIO

1 Introdução...................................................................................................................................................................... 13
2 Antropometria aplicada ao vestuário..................................................................................................................... 17
2.1 Entendendo o que é antropometria............................................................................................................ 17
2.2 Pontos anatômicos............................................................................................................................................. 19
2.3 Conhecendo as tabelas de medidas antropométricas ......................................................................... 24
2.4 O corpo e suas relações, diferentes tipos físicos ..................................................................................... 28

3 Modelagem...................................................................................................................................................................... 35
3.1 Modelagem: a reprodução do vestuário.................................................................................................... 35
3.2 Representando produtos................................................................................................................................. 36
3.3 Modelagem plana............................................................................................................................................... 37
3.3.1 Molde base.......................................................................................................................................... 38
3.3.2 As primeiras representações de bases...................................................................................... 39
3.3.3 Roteiro de construção de base.................................................................................................... 40
3.3.4 Interpretação e estudo do modelo para a preparação dos moldes............................... 48
3.4 Segmentos de modelagem ............................................................................................................................ 60
3.4.1 Moda feminina................................................................................................................................... 60
3.4.2 Moda masculina................................................................................................................................ 61
3.4.3 Alfaiataria............................................................................................................................................. 62
3.4.4 Infantil................................................................................................................................................... 63
3.4.5 Moda íntima........................................................................................................................................ 65
3.4.6 Moda fitness....................................................................................................................................... 66
3.4.7 Moda praia.......................................................................................................................................... 67
3.5 Simetria e assimetria.......................................................................................................................................... 68
3.6 Desconstrução..................................................................................................................................................... 68
3.7 Adaptação de moldes....................................................................................................................................... 69
3.8 Gradação................................................................................................................................................................ 70
3.8.1 Ampliação e redução....................................................................................................................... 72
3.9 Modelagem tridimensional............................................................................................................................. 73
3.9.1 Preparando o manequim............................................................................................................... 78
3.9.2 Tecido para o draping...................................................................................................................... 80
3.9.3 Realizando o draping...................................................................................................................... 81

4 Confecção de produtos: matéria-prima, processo de fabricação e cuidados.......................................... 89


4.1 Tecidos.................................................................................................................................................................... 89
4.1.1 Definição.............................................................................................................................................. 89
4.1.2 Composição........................................................................................................................................ 90
4.1.3 Tipos e estrutura para uso e aplicação na modelagem...................................................... 91
4.1.4 Fio e caimento do tecido................................................................................................................ 96
4.2 Protótipo................................................................................................................................................................ 99
4.2.1 Testes de preparação.....................................................................................................................101
4.2.2 Correções e ajustes.........................................................................................................................101
4.2.3 Análise final do protótipo............................................................................................................102
4.3 Peça Piloto...........................................................................................................................................................103
4.3.1 Definição............................................................................................................................................104
4.3.2 Etapas da confecção......................................................................................................................104
4.3.3 Cálculo de materiais.......................................................................................................................106
4.4 Destinação de resíduos sólidos ..................................................................................................................108

5 Ficha Técnica..................................................................................................................................................................113
5.1 Elaboração de ficha técnica...........................................................................................................................114
5.1.1 Dados de identificação.................................................................................................................115
5.1.2 Elementos de descrição ...............................................................................................................116
5.1.3 Dados de consumo (insumos materiais)................................................................................117
5.1.4 Dados operacionais (processos e tempos)............................................................................123
5.1.5 Dados sobre custos .......................................................................................................................125
5.2 Ficha de criação.................................................................................................................................................125
5.3 Ficha de modelagem.......................................................................................................................................127
5.4 Ficha de qualidade............................................................................................................................................129
Introdução

1
2

Você já pensou como as roupas são feitas em padrões de medidas adequados para a produ-
ção em série? Para que os produtos do vestuário tenham um determinado padrão de medidas,
é necessário que, antes de cortar o tecido, sejam feitos moldes que sejam entendidos por todos
os envolvidos em uma confecção. Isso, em resumo, é a essência da modelagem. Assim como
em qualquer processo fabril, a padronização e a busca por meios mais eficientes de desenvolvi-
mento de produtos também se aplicam ao cotidiano do vestuário e a modelagem se configura
como uma poderosa ferramenta para todos os envolvidos.
Esse livro se propõe a ensiná-lo sobre modelagem para o vestuário em nível industrial e a
desenvolver capacidades relativas à construção de produtos, utilizando técnicas de modela-
gem bidimensional e tridimensional. Também propõe uma visão global do processo de cons-
trução de peças, conferindo habilidades e técnicas relativas a desenho, preparação e a adapta-
ção de moldes. Os conhecimentos aqui apresentados têm nível introdutório para a prática do
modelista ou para qualquer pessoa interessada no assunto, pois convergem saberes ligados a
várias ciências, como antropometria, geometria, anatomia, bem como conceitos de cultura e
de sociedade.
Para responder à pergunta inicial, faremos reflexões ao longo do livro sobre as etapas de
produção do vestuário e como sequencialmente a modelagem influencia na padronização
de peças. Para isso, no capítulo 1, serão apresentados conhecimentos relativos à antropome-
tria, tratando do uso das tabelas de medidas masculinas, femininas e infantis utilizadas para
o estudo de modelagens específicas. Serão mostrados detalhes do corpo e as medidas mais
importantes para que um modelista possa montar uma tabela de medidas referenciais para
construção de moldes.
Na sequência, o capítulo 2 nos aproxima das técnicas de modelagem em si, oferecendo
ao leitor fundamentos da modelagem plana e tridimensional e suas variações. Não à toa, será
discutida a formação dos públicos (feminino, masculino e infantil) e os desdobramentos por
segmentos, que são extremamente importantes para orientar a atuação do profissional do ves-
tuário desde a criação até a inserção dos produtos no mercado. Ainda nesse capítulo, serão
apresentadas modelagens por função ou mesmo por matéria prima, como alfaiataria, lingerie,
moda praia, entre outras. Não menos importantes, as aplicações de tabelas e medidas para o
redimensionamento dos moldes também serão incorporadas ao conteúdo desse guia para o
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
14

mundo da confecção. Assim, será possível ver que a criação de um molde é um processo criativo sujeito
a interpretações, adaptações e a gradações de tamanhos. Avançando nos conhecimentos sobre modela-
gem, as técnicas de interpretação serão apresentadas e, através dessas, será possível elaborar modelos a
partir de desenho, foto ou de protótipo do produto a ser confeccionado. Serão apresentados os elementos
de identificação e sinalizações aplicados para comunicação em ambiente fabril e ainda o vocabulário ade-
quado à confecção industrial.
No capítulo 3, será possível conhecer e identificar os processos que envolvem o protótipo, suas fases
de desenvolvimento, correções e análise até a aprovação final. Junto à construção desse protótipo, a apro-
priação de conhecimentos sobre tecidos justifica uma seção dedicada à principal matéria-prima utilizada
em construção do vestuário, o tecido. Para tanto, será possível entender sua classificação, estrutura e sua
aplicabilidade em produtos. Esse capítulo trata ainda da peça piloto e mostra de que forma acontecem as
etapas de construção, corte, encaixe e de finalização do produto.
No capítulo 4, você compreenderá o uso e a função da ficha técnica, que é o documento de registro
de informações mais importante dentro de uma confecção. Verá quais especificações técnicas que devem
estar contidas nela e aprenderá como pode ser estruturado esse documento e qual é a função de cada um
dos seus campos de acordo com seu grupo de informação. Por fim, você conhecerá os diferentes tipos de
fichas técnicas adequadas aos setores da confecção. Dessa forma, será possível ler e interpretar uma ficha
técnica de acordo com os produtos específicos.
Este livro tem por objetivo apresentar o setor de modelagem para o desenvolvimento de habilidades
de construção de moldes além de orientar o leitor no entendimento do público para quem são feitas as
roupas. Aproveite esse material especialmente criado para ajudá-lo na busca de soluções para a execução
de projetos de moldes mais adequados ao mercado.

Boa leitura!
1 INTRODUÇÃO
15
Antropometria aplicada ao vestuário

O corpo humano é o principal objeto de estudo para a modelagem. Para criar uma roupa e
para desenhar um molde, é importante conhecer anatomia humana e detalhes de sua estrutu-
ra óssea e muscular. Isso é uma lei no mundo do vestuário e é fundamental entendermos que
roupas são produtos intimamente ligados ao indivíduo, pois dependem da relação entre as
medidas do corpo humano e a construção de moldes em diferentes tamanhos e proporções.
Este capítulo propõe o estudo das medidas do corpo humano para o desenvolvimento de
produtos do vestuário. A partir delas, torna-se possível elaborar diagramas de moldes mais
adequados e eficientes. Com o intuito ampliar a percepção das diferentes formas de construir
moldes, estudaremos os biótipos e quais são os fatores que influenciam seus diferentes tipos.
Iniciaremos com a definição de antropometria e, em seguida, explicaremos informações
sobre formas de aferição de medidas e como utilizar os dados antropométricos na confecção
de tabelas. Por fim, apresentaremos as partes do corpo e suas relações de acordo com três
principais grupos para a modelagem: feminino, masculino e infantil.

2.1 ENTENDENDO O QUE É ANTROPOMETRIA

Antropometria1 é uma ciência que visa obter medidas do corpo humano e é responsável por
captar e por reunir as informações do usuário identificando as diversas partes e suas variações
anatômicas individuais, essas que servem de base para a concepção de produtos do vestuário.
Então, ao confeccionar artigos do vestuário, o modelista deve se apropriar dos conhecimentos da
antropometria para desenvolver peças ergonomicamente adequadas aos diferentes tipos físicos.

Os estudos de antropometria foram aprofundados durante o século XIX


e o início do século XX por uma necessidade de classificar a raça humana
CURIOSI de acordo com a estrutura física do corpo humano. Dessa forma, muitos
DADES alfaiates, como o francês H. Guglielmo Campaign, tornaram-se pioneiros
da antropometria moderna.

1 A palavra é formada pela junção de dois termos de origem grega: ánthropos, que significa “homem” ou “ser
humano”; e métron, que quer dizer “medida”.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
18

A ergonomia visa ao entendimento das relações entre seres humanos e qualquer elemento em um
ambiente, não apenas roupas.
É importante saber que a antropometria é uma ciência diretamente ligada à ergonomia. A ideia de se
obter medidas do corpo para construção do vestuário está ligada ao fato de que a roupa é desenvolvida
para indivíduos com diversas atividades e interações com o ambiente. Por isso, é improvável estudar a
antropometria sem citar a ergonomia. Especificamente na construção do vestuário, devemos direcionar o
olhar à aplicação da ergonomia e da antropometria para essa relação mais íntima entre o objeto roupa, o
ser humano e para as particularidades do uso do vestuário.

Você pode não ter observado, mas, em diversos momentos, somos medidos: por
CURIOSI médicos, para saberem sobre o crescimento durante a infância; por uma costureira,
DADES para fazer um conserto de roupas; ou, até mesmo, pelo avaliador, quando vamos à
academia.

CASOS E RELATOS

Body Scanner: Uma experiência nacional


Em 2005, o SENAI/CETIQT iniciou um estudo antropométrico com o objetivo de padronizar
a modelagem de confecções, respeitando às características regionais. Foi utilizada uma
metodologia de medição manual para medir cerca de seiscentos voluntários e para elaborar
um diagnóstico sobre o corpo do brasileiro.
No final do ano de 2007, a instituição adquiriu a tecnologia de escaneamento tridimensional −
Body Scanner − para agilizar e facilitar a pesquisa. Esse equipamento faz uma leitura do corpo
e capta com precisão mais de cem medidas detalhadas do corpo humano, exibindo, na tela do
computador, formas tridimensionais.
Na pesquisa, o equipamento viajou por vários estados brasileiros e foram obtidas as medidas
de aproximadamente dez mil pessoas. Os dados adquiridos foram selecionados por graus de
importância e estão sendo parametrizados com intuito de estabelecer uma tabela de medidas
mais precisa do corpo brasileiro. Tão logo esse material esteja pronto e organizado, ele será
disponibilizado através do site Size Brasil. Qualquer pessoa poderá consultá-lo e obter a tabela
de medidas para público masculino, feminino e infantil.
Outros países, como França, Inglaterra e, principalmente, como os Estados Unidos, que já
fizeram pesquisas semelhantes e influenciam muitas empresas no mundo, adotam tabelas de
medidas padronizadas com base em dados coletados em processo semelhante.
2 ANTROPOMETRIA APLICADA AO VESTUÁRIO
19

2.2 PONTOS ANATÔMICOS

Ao estudar antropometria com foco em modelagem industrial, um conceito essencial é o de pontos


anatômicos. Eles são os locais do corpo usados como referência para coletar medidas. Um segundo concei-
to que se interligará a esse estudo será o de bases.
As bases deverão ser pensadas na primeira concepção de molde como uma segunda pele. Será, a partir
delas, que entenderemos a roupa segundo seus códigos de formas, recortes e pontos de união e de costuras.
Para construir um molde, os pontos anatômicos mais utilizados são os que tornarão possível reproduzir
o contorno do corpo em um diagrama. Por isso, os pontos anatômicos escolhidos e que convencional-
mente são utilizados são os que correspondem a medidas de maiores e menores circunferências, além da
distância entre elas.
Por exemplo, se o objetivo é construir uma base de corpo (blusa), obtém-se a medida de maior circun-
ferência (busto) e a menor, que é a cintura, bem como as distâncias entre elas. Veja que a base também uti-
lizará outros pontos como pescoço, largura das costas, inclinação do ombro e altura da cava. Esses pontos
também serão encontrados na tabela de medidas.
Note que o vestuário utiliza alguns pontos de costura na montagem de uma roupa e alguns se repetem,
como os localizados em laterais ao longo do corpo, nos ombros, nos entrepernas, nas cavas, etc.

Para tomar as medidas do corpo, você terá mais precisão se a tarefa for desenvolvida
FIQUE por duas pessoas, uma medindo a outra. Assim você não terá alterações e nem
ALERTA distorções numéricas relativas a uma má postura.

Observe, nas imagens, os principais pontos considerados para modelagem. Esses pontos são medidos
geralmente com o auxílio da fita métrica.

Circunferência da cabeça
Corresponde à circunferência do crânio. É a medida utilizada na
construção da modelagem de acessórios de cabeça como o capuz de
casacos e de agasalhos.
LELIS, Wellington
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
20

Contorno da cabeça
Corresponde à medida encontrada a partir da base do pescoço,
passando pelo topo da cabeça. Não é muito encontrada em tabelas
de medidas. Metade da medida encontrada é utilizada para desenhar
moldes de capuz.

Circunferência do pescoço
Corresponde à circunferência do pescoço mais próximo à base, passan-
do pela base do pescoço, costas e frente (próximo à incisura jugular).

cnêrefnucriC açebaC ad onrotnoC açebaC ad aicnêrefnucriC lirdauQ-arutniC arutlA otnemirpmoC


oçarB od
Circunferência do busto ou tórax
Corresponde à circunferência do busto, localizada na região mamária. É
a parte com maior volume na parte superior do tronco.

oçocseP od aicnêrefnucriC açebaC ad onrotnoC açebaC ad aicnêrefnucriC lirdauQ-arutniC

Circunferência da cintura
Corresponde à circunferência localizada na linha mediana abaixo da
última costela. É a parte mais estreita do tronco.
LELIS, Wellington

Distância
Entre Bustos
2 ANTROPOMETRIA APLICADA AO VESTUÁRIO
21

Circunferência do quadril
Corresponde à circunferência na parte inferior do tronco, circundando a
região de maior perímetro entre a cintura e a coxa.

Circunferência do punho
Corresponde à circunferência da mão, passando pela região na base
dos dedos e envolve também o polegar.

rência da Cintura Circunferência do Quadril Circunferência do Joelho Circunferência Maior Altura Interna das Pernas
do Tornozelo (Entrepernas)
Distância
Circunferência do Punho Circunferência do joelho
Entre Bustos
Corresponde à circunferência do joelho, em uma região sobre o osso
do joelho (fíbula). Observando o corpo pela lateral, fica no ponto onde
dobram-se as pernas.

Circunferência do Quadril Circunferência do Joelho CircunferênciaCircunferência


Maior maior
Altura dodas
Interna tornozelo
Pernas
do Tornozelo (Entrepernas)
Corresponde à circunferência do da parte inferior abaixo do tornozelo,
contornando o calcanhar e passando na parte superior do pé. Essa
medida é auxiliar para a construção de pernas e de bocas de calça.
LELIS, Wellington

Circunferência do Joelho Circunferência Maior Altura Interna das Pernas


do Tornozelo (Entrepernas)
Figura 1 - Medidas em circunferências
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
22

Estatura
Corresponde à distância entre o topo da cabeça e o chão. Costuma ser
medida pela parte posterior ao corpo.

Distância Altura do Centro Costas Altura Cintura-Joelho Altura Lateral


Entre Bustos (vista posterior) Comprimento Calça

Estatura

Comprimento do braço
Corresponde à distância entre o ombro e o pulso. Costuma ser medida
com o braço dobrado em um ângulo de 90° próximo ao corpo.

Distância entre bustos


Corresponde à distância entre o ápice do busto (papila mamária).
Medida que, no vestuário feminino, ajuda na localização de pences de
ajustes de peças superiores, como blusas e vestidos.

Comprimento Altura Cintura-Quadril Circunferência da Cabeça Contorno da Cabeça Circunferênci


do Braço LELIS, Wellington

Figura 2 - Medidas em distâncias

Altura do centro costas (vista posterior)


Distância Altura do Centro Costas Altura Cintura-Joelho Altura Lateral
Corresponde à distância entre a base do pescoço e região média da Calça
Comprimento
Entre Bustos (vista posterior)
coluna na altura da cintura (a parte mais estreita do tronco).

Estatura
2 ANTROPOMETRIA APLICADA AO VESTUÁRIO
23

Altura cintura – quadril


Corresponde à distância entre a linha da cintura (parte mais estreita do
tronco) e a linha do quadril (parte mais larga da base do tronco).

Altura cintura – joelho


Corresponde à distância entre a linha da cintura (parte mais estreita do
tronco) e a linha do joelho, sendo medida pela lateral do corpo.
Comprimento Altura Cintura-Quadril Circunferência da Cabeça Contorno da Cabeça Circunferência do Pescoço
do Braço

ura do Centro Costas Altura Cintura-Joelho Altura Altura


Laterallateral – comprimento calça
(vista posterior) Comprimento Calça à distância entre a linha da cintura (parte mais estreita do
Corresponde
tronco) e a base do pé (chão), sendo medida pela lateral do corpo.

ostas Altura Cintura-Joelho Altura Lateral


Comprimento Calça

Altura interna das pernas – entrepernas


Corresponde à distância entre a região da base da virilha e chão, sendo
medida pela parte interna da perna.
LELIS, Wellington

Circunferência Maior Altura Interna das Pernas


do Tornozelo (Entrepernas)
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
24

Altura do busto
Corresponde à distância entre o ápice do busto (papila mamária) até a
linha da cintura. Essa medida também é mais utilizada para feminino
com a mesma intenção de construção de pences.

LELIS, Wellington
Distância
Circunferência do Punho Entre Bustos
Figura 3 - Medidas em Alturas

A fita métrica é o instrumento de medidas para o corpo utilizado na modelagem. Esse


FIQUE é o instrumento de mais fácil acesso e mais utilizado para medição. Em nosso país,
ALERTA utilizamos a unidade de centímetros. Em países como os Estados Unidos, podem ser
utilizadas outras unidades de medidas (polegadas).

Ao projetar uma peça e ao iniciar o diagrama de um molde, buscamos medir os comprimentos e as cir-
cunferências ou perímetros corporais, entendendo que:
a) Comprimentos indicam as distâncias e as alturas que partem de um ponto e terminam em outro
específico em um plano, isto é, em duas dimensões;
b) Circunferências ou perímetros representam todas as formas que envolvem o corpo, considerando
seu volume.
Quanto maior o número de medidas aferidas, menores as chances de erros e maior a precisão do traba-
lho, segundo Dinis (2010),

Conhecer as medidas e como coletá-las é fundamental para que o modelista possa


montar uma tabela de medidas referenciais baseada nos pontos anatômicos do corpo
humano. Elas são o parâmetro da modelagem e o escopo principal da construção do
vestuário.

2.3 CONHECENDO AS TABELAS DE MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS

Ao obter medidas do corpo humano para construção de moldes, registramos os valores desses pontos
em tabelas de medidas antropométricas.
Dadas as particularidades de cada tipo de corpo, pode-se obter uma classificação por público comu-
mente aplicada na modelagem baseada em três categorias: masculino, feminino e infantil.
2 ANTROPOMETRIA APLICADA AO VESTUÁRIO
25

A categorização por público pode ser observada, por exemplo, para a construção de uma peça do pú-
blico feminino. Utilizamos pences para o ajuste no corpo e para a construção de peças íntimas. Nesse caso,
teremos, como referência, a medida do que chamamos raio do busto. Essa é uma medida que pode estar
na tabela de medidas feminina e não consta nas tabelas infantil e masculina.
Tabelas de medidas são documentos compostos pelas medidas importantes do corpo para a construção do
vestuário. Elas podem ser encontradas em livros e/ou em normas regulamentadoras de órgãos responsáveis
como a ABNT2, ou ainda nas confecções que definem suas tabelas de acordo com seu público.
Abaixo, veja o exemplo da tabela de medidas masculina. O quadro na sequência o auxiliará no
entendimento da leitura desse documento.

MEDIDA DO COLARINHO PARA CAMISA


1 SOCIAL MASCULINA
36 38 40 42 44 46

2 CAMISA ESPORTE (TAMANHO) 0 1 2 3 4 5

3 CALÇA (TAMANHO/CINTURA) 36 38 40 42 44 46

Tórax 88 92 96 100 104 108

Cintura 72 76 80 84 88 92

Figura 4 - Exemplo da tabela de medidas

2. NUMERAÇÃO DE 3. NUMERAÇÃO
1. MEDIDAS DE COLARINHO 4. REFERÊNCIA
CAMISAS DE 0 A 5 DE CALÇAS

Medida obtida através do Utilizadas em camisas mas- São correspondentes às Esta coluna mostra que
contorno do pescoço que culinas. Tem correspondên- medidas do colarinho e todas essas medidas
define a numeração de rou- cias com numerações da costumam equivaler à correspondem à numer-
pas. Nesse caso, são utilizadas medida de colarinho. metade da medida da ação 44, que também
para vestuário masculino. circunferência da cintura é conhecida como o
(no masculino). tamanho do colarinho.

Quadro 1 - Descrições de medidas

O uso de tabelas de medidas surgiu com a necessidade de aumentar a produção de peças do vestuário
para vendas em larga escala. Foi necessário estabelecer técnicas de coleta e de registro de dados por amos-
tragem. Para elaborar esse projeto, os Estados Unidos, um dos pioneiros neste tipo de pesquisa, tomou
como base referências antropométricas junto aos órgãos militares e educacionais.

2 Órgão que regulamenta e fornece a base necessária ao desenvolvimento tecnológico brasileiro. Trata-se de uma entidade
privada sem fins lucrativos e de utilidade pública.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
26

Atualmente, o Brasil não possui uma tabela de medidas que possa ser considerada “padrão representa-
tivo” da população brasileira. O Comitê Brasileiro de Têxteis e do Vestuário da ABNT (ABNT/CB-17) com in-
tenção de atender às demandas da sociedade, vem trabalhando no processo de normalização de medidas
referenciais do corpo humano e aplicando o conceito de vestibilidade. Para isso, criou duas normas que
atendem aos públicos infanto-juvenil e masculino.
A publicação da ABNT NBR 15800:2009, que fala sobre vestibilidade de roupas para bebê e infanto-
juvenil, já vem sendo aplicada por várias confecções. Já em 2012, foi lançada a tabela de medidas para
público masculino, que dividiu os corpos do gênero em três grupos: o atlético, o normal e o especial. É
claro que, para institutos ligados à ergonomia e à anatomia, essas classificações são mais elaboradas, mas
o importante é saber que, em geral, essas medidas estão ligadas à conformação entre medidas de cintura
e de tórax. Para o vestuário feminino, ainda estão sendo desenvolvidas pesquisas para uma padronização.

ATLÉTICO NORMAL ESPECIAL


CORPO MASCULINO
CORPO MASCULINO CORPO MASCULINO CUJA MEDIDA DA CINTURA É MAIOR
CUJA MEDIDA DO TÓRAX CUJA MEDIDA DO TÓRAX QUE A MEDIDA DO TÓRAX E QUE, EM
É MAIOR QUE A MEDIDA É IGUAL OU MUITO PRÓXIMA GERAL, APRESENTA MEDIDAS MAIORES
DA CINTURA AO DA MEDIDA DA CINTURA QUE O CORPO NORMAL

LELIS, Wellington

Figura 5 - Grupos masculinos ABNT NBR 16060

NBR é a sigla usada para as normas técnicas da ABNT. Elas se baseiam em estudos
FIQUE científicos, tecnológicos e em experiências em que todas as partes interessadas
ALERTA podem participar e contribuir.

As indústrias de confecção não são obrigadas a adotar as normas de padronização. Por isso, ainda ve-
mos diferenças em medidas de roupas marcadas com a mesma numeração. Porém, em função da diver-
sificação de canais de vendas, a exemplo da internet, as empresas estão tentando adotar um padrão para
atender às demandas do mercado.
2 ANTROPOMETRIA APLICADA AO VESTUÁRIO
27

CASOS E RELATOS
O uso da tabela de medidas no mercado eletrônico

A utilização de medidas referenciais do corpo oferece segurança no ato da compra à distância


seja por meio de catálogos, seja via web. Esse tem sido um dos argumentos mais fortes em
favor da adesão das normas de vestibilidade.
Um caso de sucesso que se tornou exemplar no mercado é o da Quintess, marca de moda
feminina lançada em 2007 pelo grupo Posthaus, de Blumenau (SC). Antes mesmo da elaboração
da norma técnica de vestibilidade feminina, em uma ação empreendedora, a empresa com
experiência em vendas à distância, por meio de catálogos, enxergou a oportunidade de lançar
um portal na internet.
“Atualmente, mantemos uma equipe de trinta funcionários na área de gestão da qualidade”
– ressalta Alessandra Tolardo, gerente de marketing da empresa. A equipe é responsável pelo
desenvolvimento da modelagem e pela elaboração das fichas técnicas das peças.
A satisfação da clientela comprova o bem-sucedido caso de e-commerce, que só foi possível
graças à preocupação com a padronização de medidas e com a melhoria de processos. No
caso da Quintess, a gerente ressalta que é imprescindível apresentar ao cliente, no momento
da compra, as tabelas de medidas aplicadas aos seus produtos. Assim, o consumidor pode se
medir e avaliar em qual tamanho da tabela se encaixa. “Com a disseminação dessas informações
e das normas da ABNT, entendemos que os benefícios serão enormes, especialmente para
venda pela internet” - diz a gerente da empresa.
Em 2012, as vendas da Quintess alcançaram mais de R$ 20 milhões, sendo que as realizadas
pela internet corresponderam à cerca de 40% desse volume, contabiliza Tolardo.
Ainda que existam normas desenvolvidas para uma melhor experiência de consumo, tabelas
de medidas não regulamentadas são utilizadas. No entanto, a compreensão delas pode ficar
mais difícil se elas não vierem acompanhadas de instruções sobre como e onde medir. Muitas
dúvidas surgem, pois cada empresa cria seus critérios de importância dos dados de que mais
precisam de acordo com os produtos.

Texto adaptado da Revista boletim ABNT Março 2012 | volume 10 | nº 115. Matéria “Na medida certa”- página 6
Disponível em :http://www.abnt.org.br/images/boletim/Marco-2012.pdf acesso em 15/06/2015.

Para obter uma amostragem que possa ser considerada representativa, o desenvolvimento de tabelas
de medidas está vinculado ao estudo de um número significativo da população de determinada região. A
partir dessas amostras, é que são feitos cruzamentos de dados e padronizados os valores de intervalos de
aumento e de diminuições para inserção nas tabelas de medidas.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
28

Dentro das padronizações de tabelas de medidas e de acordo com as informações acima, entende-se
que o corpo aumenta em valores regulares em determinados pontos anatômicos.
Algumas tabelas utilizam as letras que correspondem aos tamanhos: Pequeno (P), Médio (M), Grande (G)
e Extra Grande (GG). Essas numerações por letras compreendem formas diferentes de aumentos, ou seja,
cada letra equivale a um intervalo entre dois tamanhos feitos por numeração. Na indústria, isso costuma
variar de 6 cm em 6 cm.

EXEMPLO: Se o busto do tamanho M é igual a 90 cm, o tamanho P será igual a 84 cm e o tamanho G a


96 cm. As outras numerações seguirão essa regra.

Como é possível perceber, as medidas em tabelas padrão aumentam de maneira proporcional assim:
• Circunferências principais (busto, cintura e quadril) de 4 cm em 4 cm para tabelas por números;
• Outras medidas de circunferências aumentam entre 0,5 cm e 2 cm (como braços, coxas e pescoço).

Para concluir, entendemos que, na padronização e no escalonamento da produção de roupas, a modali-


dade sob medida ficou restrita a oficinas de luxo e a pequenos ateliês de costura. A população passou a
comprar roupas em magazines e em lojas com medidas padronizadas. E as tabelas de medidas se estabe-
leceram no mercado de produção do vestuário. Entenda que as tabelas de medidas não são fixas, mas, ao
longo do tempo, podem sofrer mudanças para se adequarem aos novos biótipos. Podemos citar, como
exemplo, a população brasileira cuja estatura aumentou nos últimos anos.

2.4 O CORPO E SUAS RELAÇÕES, DIFERENTES TIPOS FÍSICOS

O entendimento de tabelas de medidas suas fontes e dados antropométricos nos remete à necessidade
de conhecer outros fatores que influenciam as diferenças físicas da população. Características genéticas
(formas e aspectos que nos identificam com nossos grupos e familiares), comportamento e estilo de vida
fazem com que os corpos apresentem particularidades em sua conformação.
Para entendermos essa variedade, usamos os biótipos como agrupamentos das características físicas.
No quadro abaixo, destacamos algumas delas:
2 ANTROPOMETRIA APLICADA AO VESTUÁRIO
29

O sexo do indivíduo determina as diferenças antropométricas influenciadas por diversos fatores.


Gênero
Exemplo: hormonal.

Os grupos étnicos apresentam particularidades em sua composição física. Essas características


Etnia
ajudam a distinguir um grupo de outro. Podemos citar a questão de estatura.

O estilo de vida define a forma como o indivíduo se comporta, seus hábitos alimentares, se faz
Comportamento
exercícios e consequentemente a sua forma física.

Quadro 2 - Detalhamento de biótipos

Veja, na figura 6, as diversidades antropométricas e étnicas relacionadas às proporções corporais dos


indivíduos.

180
Estatura (cm)

160
140
120
100
80
60
40
20
0
Branco Negro
Americano Americano Japonês Brasileiro
FERNANDES, Eurico

Nº da amostra 25.000 6.684 233 249


Idade média 23 23 25 26
Estatura (média) 174 173 161 167
Peso (kg) 70 69 55 63

Figura 6 - Tabela de diversidade antropométrica e étnica


Fonte: Iida, 2005.

Além disso, dos três itens apresentados, salientamos que as alterações antropométricas podem ser con-
juntas, ou seja, podem acontecer em função do peso, da idade, do sexo e da herança genética. Em seguida,
detalharemos algumas.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
30

Peso
Os distúrbios de peso, como desnutrição, sobrepeso e como obesidade, podem influenciar inclusive na
postura. O quadro abaixo mostra algumas situações comparativas.

NORMAL SOBREPESO E OBESIDADE

Quando o indivíduo está em uma escala de peso considerada Nesse caso, um indivíduo que tem a forma do tipo retângulo
normal e ganha peso em menor quantidade (1 a 5 quilos), a ou ampulheta pode migrar para a forma oval. Visto que, ao
sua forma (biótipo) pode não sofrer alterações se a gordura engordar, muitos pontos de acúmulo de gordura se alteram.
ficar distribuída proporcionalmente. Dentro da normalidade, Como exemplo, podemos citar a cintura, que muda total-
o que provavelmente acontecerá é que ele só aumentará a mente o aspecto visual do corpo que acumulou gordura na
numeração de roupas. pele e nas vísceras.

Quadro 3 - Distúrbios de peso

Idade
Ao longo do tempo, ambos os sexos são afetados em questões posturais que influenciam nas medidas.
Desse modo, alterações no tamanho, proporções e forma continuam ocorrendo ao longo da vida. Até os
50 anos, a postura sofre pouca alteração, mas, por volta dos 65 anos, o envelhecimento das articulações e
a degeneração muscular provocam alterações na forma do corpo.
Obesidade

Alterações
provocadas
pelo peso

Alterações
provocadas
pela idade
COIMBRA, Fernanda

55 anos 65 anos 75 anos

Figura 7 - Esquema de mudança progressiva em relação a peso e idade


2 ANTROPOMETRIA APLICADA AO VESTUÁRIO
31

OUTROS

A genética e a miscigenação étnicas geram tipos físicos diferenciados. Algumas definições servem aos
corpos femininos e masculinos e tratam de parâmetros relativos a estatura e a proporções. São eles:
• Brevilíneos: De estatura baixa à mediana, possui pescoço curto, tórax de grande diâmetro. Costu-
mam ter membros mais curtos em relação à altura do tronco. Deverá ter um peso maior do que um
normolíneo;
• Longilíneos: São os que têm estatura alongada. Pernas e braços costumam ser mais longos do que o
tronco. Comumente o longilíneo tem estatura final maior, com pescoço longo, tórax muito achatado;
• Normolíneo ou médio: Apresentam proporções mais harmoniosas, intermediárias entre os tipos bre-
vilíneos e longilíneos, com membros e tórax proporcionais em consonância com relação verticalidade
e horizontalidade. Essa descrição se refere à proporção e simetria.
Veja, na tabela abaixo, as diferenças em relação a algumas partes do corpo para brevilíneos e longilíneos.

RELAÇÕES COMPARATIVAS LONGILÍNEO BREVILINEO


Membros inferiores/tronco Maior Menor
Membros inferiores/superiores Maior Menor
Mãos/pés Maior Menor
Tronco Achatado dorso-ventral Cilíndrico
Pele Fina e transparente Espessa
Tecido subcultâneo/tecido adiposo Pobre Rica
Curvatura da coluna vertebral Discretas (torácica acentuada) Bem pronunciadas
Quadro 4 - Relação comparativa de corpos

CORPO FEMININO

Especificamente para os corpos femininos, existem outras maneiras para classificação de biótipos que
costumam ser associadas a figuras geométricas e, em alguns casos, a frutas.
As principais são:
• Ampulheta: similar ao retângulo, porém a cintura é mais fina. É considerado o ideal feminino;
• Triângulo invertido: os ombros são maiores do que o quadril;
• Triângulo ou Pêra: os ombros são menores do que o quadril;
• Retângulo: ombros e quadris são proporcionais e a medida de circunferência de cintura é próxima a
do quadril;
• Oval: esse costuma ter a região da cintura mais larga, revelando certo volume na barriga.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
32

ANDRADE, Carlos
Figura 8 - Modelos de corpo feminino

SAIBA Mulheres têm suas formas alteradas significativamente quando estão grávidas. Peso,
MAIS forma e postura mudam nesse período da vida.

RECAPITULANDO

Neste capítulo, vimos que corpo humano é o objeto base para a obtenção de dados para estudar
métodos de modelagem. A antropometria é a ciência que pesquisa as medidas físicas e fornece
informações para o desenvolvimento de tabelas de medidas.
Apresentamos os biótipos que podem ser classificados de diversas formas, inclusive por
comparação com figuras geométricas. Vimos que as características como sexo ou gênero, etnia
e idade podem influenciar nas proporções dos corpos e que, para isso, é necessária a realização
de pesquisas a fim de se obter uma melhor tabela que auxiliará na construção de moldes e
nas experiências de compras. Esses conceitos ajudarão você a desenvolver um maior senso de
observação em relação ao corpo e à modelagem. Então, que tal você fazer sua própria pesquisa
antropométrica em seu núcleo familiar?
2 ANTROPOMETRIA APLICADA AO VESTUÁRIO
33
Modelagem

Nste capítulo, trabalharemos conceitos da modelagem industrial do vestuário e apresen-


taremos a você duas técnicas utilizadas no desenvolvimento de roupas. Serão apresentados
ainda os processos de ampliação e de redução de moldes, método de trabalho fundamental
para o desenvolvimento de vestuário nas empresas.

A modelagem é uma importante etapa do planejamento do projeto de vestuário sem a


qual não seria possível dar sequência à produção, visto que traduz os desenhos e os croquis
de moda para o molde e esse servirá como referência para a produção em série de um mesmo
objeto, no caso da roupa. Pode-se dizer que é a realização material do projeto, em que o que
foi idealizado pelo designer de moda começa a se transformar em um produto tangível do
vestuário ou, como diz Sabrá (2009, p.21).

A modelagem dentro do processo de confecção é um ponto essencial no


processo de transformação têxtil em vestuário, que influencia e sofre in-
fluência direta do mercado, já que é tido como peça fundamental na moti-
vação de compra do consumidor de produtos do vestuário.

Os moldes são partes de uma modelagem que podem ser compostas por pedaços feitos em
papel que representam a roupa. São feitos para produção e para reprodução de peças dentro
de um mesmo padrão.
Dentre as formas de se construir moldes, existem a modelagem plana e a modelagem tridi-
mensional, manual ou informatizada. Essa última utiliza sistemas de desenho em computador
(CADS específicos para esse fim). Nessa situação de aprendizagem, você entenderá como são
feitos os moldes e suas aplicações para vestuário de públicos diferentes.

3.1 MODELAGEM: A REPRODUÇÃO DO VESTUÁRIO

Modelagem é a técnica de construção de moldes para a montagem e para confecção de


uma peça do vestuário. Modelar é pensar na composição de um determinado objeto e na en-
genharia de construção através de caminhos técnicos para desenvolvê-lo. Segundo Osório
(2007, p.20),
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
36

Numa visão geral, o trabalho de engenharia de modelagem nada mais é do que inter-
pretar a ilustração do estilista ou do designer. Entretanto, o processo é mais complexo,
necessitando de um grande conhecimento técnico.

Porém, a modelagem não é uma técnica exclusiva do vestuário, pois, em geral, se trata da reprodução
de um objeto ou da formatação para um padrão (modelo). O objeto da modelagem, o molde, possibilita
que um produto seja copiado repetidas vezes de uma mesma forma. Assim, os moldes de roupas são feitos
em papel, embora haja casos em que os moldes podem ser de gesso, madeira ou de metal de acordo com
o tipo de produto a ser reproduzido. A produção dos moldes de roupas em papel permite ao modelista,
profissional responsável, repassar as informações necessárias para a produção, conforme as configurações
de reprodução.
No vestuário, destacamos que os moldes podem ter dois tipos de produção: o manual e o computa-
dorizado. O primeiro tipo é feito com o auxílio de réguas ou de manequins e pode ser classificado em
modelagem plana (bidimensional) ou tridimensional. É geralmente utilizado em reproduções de pequena
quantidade ou de maneira mais artesanal. Na modelagem computadorizada, utilizam-se programas de
computadores específicos (CADS de modelagem) e viabilizam-se a reprodução em quantidades maiores,
pois, como será visto adiante, garantem a eficiência no consumo de materiais.

3.2 REPRESENTANDO PRODUTOS

A representação por meio da modelagem é feita em etapas definidas que se iniciam com a criação pelo
estilista, observando as tendências de moda, e vão até a construção de um molde final, depois de ser testa-
do e aprovado. Para que toda a ideia de uma nova peça seja materializada, a modelagem utilizará recursos
de desenho técnico, geometria e de antropometria para o desenvolvimento de seus moldes.
Assim, o estudo do molde se inicia com a representação de uma peça que pode ser um croqui de moda3
ou um desenho técnico.
shutterstock /Anca Avram.

Figura 9 - Croquis de moda

3 Ilustração em que a roupa idealizada é apresentada sobre uma representação do corpo humano.
3 MODELAGEM
37

Dando sequência, a representação será feita pelo diagrama ou pelo desenho do molde e já pode ser
considerada a construção do molde propriamente dito. Essa etapa feita no papel é realizada sobre uma
base que representa o corpo em duas dimensões e é desenvolvida com as medidas do corpo humano de
tamanho natural. Nesse momento, também é praticado um estudo da peça no qual são definidos os con-
tornos da nova roupa, inserindo folgas, desenhando linhas que definem o modelo e adequando esse ao
desenho proposto.
Por fim, o molde é finalizado e entregue limpo, ou seja, sem linhas internas, exceto a linha do fio que
caracteriza o estudo. Para ser considerado aprovado, deverá estar dentro de padrões de comunicação da
modelagem, apresentando as anotações referentes ao modelo, assim como os furos e os piques que serão
reproduzidos no tecido e que sinalizam os encontros de costuras, pregas e outros detalhes. Embora exis-
tam métodos de construção de modelagem, o trabalho do modelista é criativo, depende de observação
e de senso estético. Por isso, além de dominar técnicas que envolvem desenho e geometria, será a forma
como esse entende a roupa que dará a possibilidade de elaboração de um trabalho diferenciado. Para
Grave (2010, p.7),

O modelista apresenta, como característica de sua personalidade, um maior grau de


sensibilidade se comparado com a maioria das pessoas uma vez que trabalha muito
com o seu tato e sua visão. Seu trabalho deve resultar em uma leitura estética que aten-
da ao objetivo de uma confecção limpa, diferenciada e com caimento perfeito.

3.3 MODELAGEM PLANA


Entendido o papel da modelagem na indústria do vestuário, apresentaremos um estudo sobre suas
principais técnicas. Iniciaremos com a modelagem plana que corresponde ao formato bidimensional da
modelagem do vestuário e utiliza a tabela de medidas como referência para sua construção. Segundo
Fischer (2010, p.25),

Assim como todas as habilidades manuais, a modelagem plana pode, à primeira vista,
intimidar e parecer difícil. No entanto, com o conhecimento básico das regras a serem
seguidas (ou quebradas), o aspirante a modelista logo aprenderá abordagens interes-
santes, desafiadoras e criativas. Traçar o estilo de linha certa na posição correta em um
molde requer experiência e prática. Mesmo estilistas que já modelam há mais de 20
anos podem aprender algo novo, pois o processo de aprendizagem é contínuo, o que
torna a modelagem uma atividade fascinante.

Esta modelagem costuma ser apresentada de forma planificada sobre uma mesa de estudos onde os
pontos principais são marcados e traçados, formando as linhas de construção corporal. A partir desses da-
dos, são criados diagramas que utilizam princípios básicos da geometria com o apoio das réguas técnicas
de modelagem para traçar as linhas correspondentes àqueles presentes no corpo humano. Dessa maneira,
os desenhos são construídos com auxílio de réguas específicas para esse fim. Dentre as mais comuns, estão
o esquadro de ângulo reto 90° e 45°, a curva francesa, a régua de alfaiate e a curva de gancho.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
38

Curva francesa
Curva de gancho

Esquadro 45o e 90o RIBEIRO, Fábio

Curva de alfaiate

Figura 10 - Conjunto de réguas técnicas utilizadas na modelagem manual

3.3.1 MOLDE BASE

Em ordem, o primeiro passo para a construção dos moldes na modelagem plana é o desenvolvimento
do molde base. Esse molde é o ponto de partida para a interpretação de qualquer modelo de roupa na
modelagem plana, pois se define como um contorno planificado do corpo humano.
Na diagramação de um molde base, utilizamos letras e/ou números como pontos de referência para
o traçado das linhas principais do corpo, com o objetivo de facilitar a compreensão dos estudantes de
modelagem. Esses códigos, juntamente com outros símbolos gráficos (setas, por exemplo), comporão um
esquema descritivo que darão, ao leitor, instruções que podem utilizar letras ou números como os pontos
de partida e de chegada, sentido de fio ou de direção para análise.
Nas imagens abaixo, você poderá observar um exemplo de um molde base de uma saia (equivalente
a um corpo feminino de tamanho 40) com o esquema descritivo que representa, em suas linhas, a corres-
pondência em relação com o corpo humano tridimensionalizado.
3 MODELAGEM
39

A1 A2 corresponde a 1/4 da circunferência total do quadril = 24cm.


A1 B1 Medida da altura do joelho a partir da cintura = 58cm.
A1 C1 Medida da altura do quadril a partir da cintura

A1 A1
A1 A2

C1
C1 Linha do quadril

Centro frente
Linha do

Lateral
FRENTE
quadril

LELIS, Wellington
B1 B2
B1

Figura 11 - Fonte das medidas, desenho dos moldes e esquema de instrução com letras

Observe que as setas desenhadas nos esquemas de instruções têm como objetivo fornecer uma indica-
ção sobre a direção do início da linha até o seu final. Assim, quando observamos a instrução A1A2, sabemos
que a linha traçada a partir do ponto A1 se inicia na esquerda do papel e se encontrará com o ponto A2,
localizado à direita do mesmo.
Como já foi indicado, sobre um molde base é desenvolvida a interpretação dos modelos com as fol-
gas necessárias para que o usuário possa vesti-lo. Após o modelo ter sido interpretado, o diagrama será
desmembrado nas partes componentes da modelagem que são cada uma das partes da roupa conforme
conhecemos.

3.3.2 AS PRIMEIRAS REPRESENTAÇÕES DE BASES


Os moldes base são feitos em blocos de determinadas regiões do corpo, como parte superior do tronco
(base de blusa), e membros (base de manga), e parte inferior do corpo e membros (base de saia e de calça).
Por serem espécies de decalque planificado do corpo, não possuem qualquer tipo de folga que permita
sua utilização cotidiana pelo usuário. Contudo, sua concepção, que se assemelha a uma segunda pele,
pode ser experimentada pelo usuário com o fim de avaliar se a mesma está adequada ao corpo.
Entendemos que uma base de modelagem é apenas a representação inicial das formas corporais a
partir de um plano geométrico. Identificamos uma construção de base de corpo quando observamos um
desenho de estudo de modelagem que se inicia a partir de formas básicas como quadrados, retângulos e
como retas.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
40

Na figura 12, as linhas de cor preta mostram a construção da referência da base a partir de retângulos.
Após eles serem traçados, iniciam-se os riscos que darão formas às partes componentes da base de corpo:
o degolo, a cava, entre outros.

SENAI CETIQT / CASAGRANDE, Heide


Figura 12 - Construção de base de corpo

Após a finalização dos diagramas de bases de corpo, é feita a transferência das medidas corretas para
materiais mais resistentes, como papéis de maior espessura ou até mesmo como acetato. Esse processo
visa manter os desenhos como uma referência permanente para a construção das roupas, bem como per-
mitir que sejam copiados por diversas vezes.
Agora que você entendeu de forma geral o que é uma base de corpo, vamos ver cada uma das fases de
desenvolvimento separadamente?

3.3.3 ROTEIRO DE CONSTRUÇÃO DE BASE


Para exemplificarmos, iremos reproduzir a construção da base de modelagem de uma saia reta no ta-
manho 40. Na tabela abaixo, são definidas as medidas utilizadas e, na figura, você poderá identificar os
pontos anatômicos para a tomada das medidas.
3 MODELAGEM
41

1 2 3 4

SENAI CETIQT / Marina Calvo


Figura 13 - Pontos anatômicos medidos para construção de saia

MEDIDAS IMPORTANTES PARA A CONSTRUÇÃO DE SAIA – TAMANHO 40


1 Circunferência da cintura 70 cm

2 Circunferência do quadril 96 cm

3 Altura do quadril 20 cm

4 Altura do joelho 58 cm

Medida da pence frente (Altura x Largura) 10 cm x 2 cm

Medida pence costas (Altura x Largura) 13 cm x 3,6 cm

Tabela 1 - Relação de medidas para referência do tamanho feminino 40

Tomando essas dimensões como referência, basta seguir os passos listados abaixo. Observe que as me-
didas são tomadas em sua exatidão, ou seja, para a construção da base, como já foi mencionado, não há o
acréscimo de nenhum tipo de folga sobre os valores que foram mensurados no corpo humano:
Passo 1: Trace um retângulo onde a largura A.A1 é a metade da medida da circunferência do quadril e
A.B é a altura do joelho. Lembre-se de que a medida A.A1 significa a distância entre os pontos A e A1 e a
seta indica que a medida foi tomada da direita para a esquerda. Nos moldes para estudo, o esquema pode-
rá aparecer dentro do diagrama.
Passo 2: Divida o retângulo ao meio, utilizando um esquadro com ângulo de 90º e traçando a linha late-
ral da saia e uma linha na altura do quadril, conforme o esquema.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
42

Centro costas
Centro frente

Esquema:
A. A1  = Metade da circunferência total do
quadril.
SENAI CETIQT / LOURENÇO, Cynara.

A. B  = Altura do joelho.
A1. B1 = mesma medida de A B
B. B1 = Mesma medida de A A1

Linha do joelho
Figura 14 - Passo 1: Retângulo para construção da base

A1 A2 A

C2
C1 Linha do quadril C Esquema:
A. A2 = Metadade da largura do retângulo
Utilize o esqudro e trace a linha, marcando o
ponto B2 na linha do joelho.
Centro das Costas
Centro da Frente

A linha A2. B2 será a linha da lateral da saia


Lateral

A. C =Altura do quadril
Utilize o esquadro para traçar a linha do
LOURENÇO, Cynara.

Frente Costas quadril e marque o ponto C1 na intersecção


entre as linhas do quadril com o centro frente
o ponto C2 na intersecção entre a linha do
B1 B2 B quadril com a lateral
Figura 15 - Passo 2: Linhas laterais e de quadril
3 MODELAGEM
43

Passso 3: Em seguida, marque as linhas de abertura da lateral, percebendo as distâncias entre as medidas.

P1 P
A1 A6 A2 A5 A
A4 A3

P3
P2

C1 C2 C
Linha do quadril

Centro das Costas


Centro da Frente

Lateral

LOURENÇO, Cynara. SENAI CETIQT


Frente Costas

B1 B2 B

Esquema:
Use a régua de alfaiate com a curva suave para traçar a
lateral e a linha da cintura.

Figura 16 - Passo 3: Abertura da Linha lateral

Passo 4: Marque a linha da cintura, seguindo o esquema e utilizando o esquadro.

Esquema:
Para rebaixar a frente e ajustar a curvatura da cintura.
A. A3 = Rebaixando linha da cintura costas. Utilize a medida de 1,5 cm.
(Esta é uma medida fixa que atende às construções de base femininas)
A. A4 = Rebaixando a linhada cintura frente. Utilize a medida fixa de 2cm.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
44

P1 P
A1 A6 A2 A5 A
A4 A3

P3
P2

C1 C2 C

Centro das Costas


Centro da Frente

Lateral

LOURENÇO, Cynara. SENAI CETIQT


Frente Costas

B1 B2 B
Figura 17 - Passo 4: Linha da cintura

Não esqueça de fazer o uso adequado dos instrumentos. Nesse caso, veja a diferença de uma frente
desenhada sem o uso do esquadro (esquerda) e outra feita com o uso adequado do esquadro (direita).

Linha da cintura Linha da cintura


SENAI CETIQT / LOURENÇO, Cynara.
Centro Frente

Centro Frente

Figura 18 - Gabarito da linha da cintura


3 MODELAGEM
45

Passo 5: Projete, no diagrama, o rebaixamento da cintura, utilizando os pontos marcados anteriormen-


te. Use novamente a régua de alfaiate.

P1
A1 A6 A2 P A
A4 A5
A3

P3
P2

C1 C2 C

Centro das Costas


Centro da Frente

Lateral

SENAI CETIQT / LOURENÇO, Cynara.

Frente Costas

B1 B2 B

Esquema:
Utilize a régua de alfaiate com curva suave para traçar a lateral e a linha da cintura.

Figura 19 - Rebaixamento da cintura

Passo 6: Com o auxílio do esquadro, marque os locais para aplicação de pences, conforme o esquema.
Essa primeira linha indicará o centro do recurso. Posteriormente, você deve utilizar as medidas descritas
no esquema para identificar a abertura da pence e dobrá-la a fim de riscar, no papel, a marcação correta.

Esquema:
Pences: De acordo com as medidas preestabelecidas na tabela, marque os pontos de localiza-
ção das pences, frente e costas. Com auxílio do esquadro, marque a linha do centro da pence.
A.P = Metade de A.A5.
A1. P1 = Metade de A1.A6.
P.P2 = Altura da pence costas utilize a medida de 13cm.
P1.P3 = Altura da pence frente utilize a medida de 9 cm.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
46

P1 P
A1 A6 A2 A5 A
A4 A3

P3
P2

C1 C2 C

Centro das Costas


Centro da Frente

Lateral

SENAI CETIQT / LOURENÇO, Cynara.


Frente Costas

B1 B2 B

P1 P
A1 P6 P7 A6 A2 A5 P4 P5 A
A4 A3
SENAI CETIQT / LOURENÇO, Cynara.

P3
P2

C1 C2 C

Esquema:
Pences: Marque
P.P4 = 1,8 cm (metade da largura da pence costas)
Centro das Costas
Centro da Frente

P.P5 = 1,8 cm (mesma medida de P.P4).


P1.P6 = 1 cm (metade da largura da pence frente).
Lateral

P1.P7 = 1 cm (mesma medida de P1.P6).


Figura 20 - Definição de pences

Frente Costas
3 MODELAGEM
47

Linha da cintura

SENAI CETIQT / LOURENÇO, Cynara.


Figura 21 - Definição de pences

Linha da cintura

Linha do quadril
Centro da Costas
Centro da Frente

SENAI CETIQT / LOURENÇO, Cynara.


Lateral

Frente Costas

Figura 22 - Base de saia completa

Após traçadas as linhas de construção de uma base, os valores são conferidos e o diagrama aprovado
se torna referência.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
48

3.3.4 INTERPRETAÇÃO E ESTUDO DO MODELO PARA A PREPARAÇÃO DOS MOLDES

Construídas as bases, a modelagem do vestuário passa a materializar as criações dos designers de moda.
Em uma analogia à construção civil, é como se, a partir das bases, tivéssemos um alicerce pronto para rece-
ber uma nova casa, que pode ter sua construção com tamanhos, acabamentos e com estrutura totalmente
diferentes. Esse processo de construção, em modelagem, é chamado de interpretação. Podemos dizer que
a interpretação da modelagem é a transformação do molde base no modelo desejado. A partir da base de
corpo, são acrescentadas linhas retas e curvas, recortes, pregas, folgas e demais elementos para que um
croqui seja transformado em peça do vestuário.
O estudo de modelo acontece quando o modelista parte de um desenho ou de imagem em escala re-
duzida e utiliza seus conhecimentos para interpretar as informações presentes nesta imagem de referência
sobre uma base em escala de tamanho natural. Assim, é realizada uma leitura dos dados presentes no de-
senho e interpretados, construindo, sobre o molde, uma versão da peça. Essa versão, contudo, não é livre,
pois ela não pode se afastar da ideia original do criador. O modelista irá analisar o desenho que vem do se-
tor de criação para desenhar o molde e decompor em partes componentes que, ao serem reunidas depois
de cortadas, se transformarão em uma peça de roupa que deverá ter as características de conforto, estilo
e até mesmo de identidade. Sobre a interpretação, Sabrá (2009, p.79) reforça o conceito ao afirmar que:

Com o conjunto de bases já desenvolvido e aprovado, o modelista parte para o pro-


cesso de interpretação, ou seja, ele fará uma análise minuciosa do desenho passado
pelo designer de moda da empresa. Ele observará os detalhes que irão compor a mod-
elagem, tais como recortes, volumes, comprimentos, folgas e acabamentos. Com base
nessa análise, é que serão feitas as alterações nos moldes básicos para a obtenção da
nova modelagem, dando origem ao que chamamos de moldes interpretados, prepara-
dos para a montagem da peça.
Shutterstock /createvil

Figura 23 - Interpretações de modelagem de calça masculina


3 MODELAGEM
49

Além do objetivo estético, o fator ergonômico e a função da roupa são fatores importantes a serem con-
siderados no momento da interpretação de um modelo. Por exemplo, se a roupa é feita para um atleta que
faz movimentos amplos e utiliza aparelhos para o exercício, o material necessariamente precisa ser elástico
e a peça justa, sem elementos decorativos que possam se prender em algum dos aparelhos.
Durante o processo de interpretação das peças, alguns fatores devem ser considerados: a simetria ou
assimetria das mesmas; se estamos lidando com a desconstrução de um modelo já existente; e, ainda, se o
modelo é a adaptação de uma peça já presente em coleções anteriores. Esses conceitos serão detalhados
mais à frente.
Para ilustrarmos as ideias apresentadas, mostraremos abaixo interpretações referenciadas em uma base
de corpo masculina. O modelo escolhido é uma camisa de botões.
Ao receber a imagem da camisa, o modelista observa o desenho e analisa quais os elementos presentes
naquele desenho e quais são variações não encontradas na base. Uma camisa com detalhes como bolsos e
palas é uma interpretação da camisa, mas continua tendo como base a parte superior do corpo masculino.

SENAI CETIQT / LOURENÇO, Cynara.

Figura 24 - Interpretações de camisa masculina

Os elementos presentes na primeira camisa e que não estão presentes na base são: abotoamento, re-
baixamento dos ombros, gola e bainha em fralda. Já, na segunda, acrescentam-se o bolso, recorte na frente
esquerda e pala nas costas. O modelista deve avaliar as características presentes nesse desenho e, sobre a
base, construir sua versão (interpretação) do mesmo.
O exemplo anterior mostra a interpretação em um desenho técnico e a identificação de elementos por
parte do modelista. Para entendermos melhor como funciona uma interpretação de modelagem, observe
abaixo o exemplo da modelagem de um macacão em etapas.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
50

SENAI CETIQT / LOURENÇO, Cynara.

Figura 25 - Modelo de macacão a ser desenvolvido

Etapa 1: Análise de desenho. A modelagem utiliza recursos de desenho técnico, geometria e de antro-
pometria para desenvolver seus moldes. Assim o estudo do molde se inicia com uma representação de
uma peça que pode ser um croqui de moda (ilustração em que aparece a roupa vestida em um manequim)
ou desenho técnico.
SENAI CETIQT / LOURENÇO, Cynara

Figura 26 - Base de macacão e interpretação


3 MODELAGEM
51

Etapa 2: Interpretação e preparação do molde. No exemplo, o macacão será o resultado da união entre
duas bases de corpo feminino, base de blusa e base de calça, ambas marcadas com linhas em cinza. Note
que a base possui elementos que foram eliminados na interpretação (em vermelho) e, ainda no que virá a
ser considerado o molde interpretado, foram adicionadas folgas em relação ao original. É importante per-
ceber que o que chamamos de interpretação ocorre concomitantemente ao que consideramos o estudo
do modelo para a preparação do molde, pois é, nesse momento, que são transformadas as medidas e tra-
duzidas as incorporações e as eliminações de elementos a fim de dar, ao modelo, o resultado mais parecido
com o desejo do designer.

SENAI CETIQT / LOURENÇO, Cynara.

Figura 27 - Molde frente do macacão finalizado

Etapa 3: Entrega do molde finalizado. Feitos os devidos ajustes, o molde é entregue limpo, ou seja, nele
não estão presentes as linhas internas desenvolvidas no estudo (a não ser a linha do fio). Ele deverá estar
dentro de padrões de comunicação da modelagem, ou seja, com anotações referentes ao modelo, furos e
aos piques que serão reproduzidos no tecido, sinalizando encontros de costuras, pregas e de outros detalhes.
Ainda que tenhamos simplificado o processo de construção de um molde interpretado, detalharemos a
última etapa, a finalização do molde. Nessa etapa, o molde será preparado para uso nos setores de pilota-
gem4 e de corte e, depois da execução da primeira peça piloto, o molde será conferido e ajustado se houver
necessidade. Para facilitar, dividimos em quatro fases, conforme o esquema abaixo:

4 É o processo de desenvolvimento (confecção) da peça piloto. Também denomina o setor em que esse processo de
confecção da peça piloto ocorre.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
52

Carlos Andrade
Figura 28 - Etapas de finalização do molde

Separação das partes componentes

Após a interpretação do modelo sobre o molde base, é realizada a separação das partes componentes,
também conhecidos como moldes. Cada molde corresponde a uma parte da peça da roupa que virá a ser
cortada e unida durante o processo de confecção da mesma.
A separação dos moldes ou das partes componentes se dá a partir de cópias feitas em papel transpa-
rente, ou com uso de rolete (carretilha), ou, até mesmo, com o uso de papel carbono somado ao rolete. O
objetivo é separar todas essas partes para poder cortá-las no tecido e depois costurá-las, o que resultará
na peça piloto.
Ao separar as partes componentes de moldes, extraímos os moldes inteiros, copiando o seu contorno
exatamente como se encontra no diagrama inicial do estudo da modelagem para depois acrescentar as
margens de costura. Devemos ressaltar que essa clonagem inclui apenas o contorno da peça, ou seja,
não são copiadas as linhas internas que foram traçadas com o fim de auxiliar no processo de interpreta-
ção do modelo.
3 MODELAGEM
53

Macacão Macacão
Tam. 40 Tam. 40
Frente esq. Frente dir.
1x 1x Macacão
Macacão Tam. 40
FIO

Tam. 40 Costas
Manga 1 par
1 par

Macacão Macacão
Tam. 40 Tam. 40
Lado esq Lado dir

FIO
FIO
1x

FIO
1x

SENAI CETIQT / LELIS, Wellington


FIO
FIO

Figura 29 - Diagrama da modelagem do macacão completa

Marcações e detalhes (margens de costuras e bainhas)

As marcações e os detalhes de modelagem compreendem as margens de costura que devemos acres-


centar nos moldes, inclusive a bainha. Essas marcações representam a quantidade de tecido sobressalente
que será utilizado no momento da costura e que vai ser adicionado a cada um dos moldes para além das
linhas de interpretação do modelo. Além disso, antevê que a peça, depois de pronta, não fique menor do
que o tamanho projetado.
LELIS, Wellington

Figura 30 - Molde copiado com adição de costuras


MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
54

Para essa etapa, o uso de ferramentas de modelagem é muito importante. Por isso, não podemos dis-
pensar as réguas nem a fita métrica. Além disso, cada parte de molde que será unida a outra deve ser
conferida em suas medidas com o objetivo de certificarmos que estão com o mesmo tamanho. Isso deve
acontecer ainda no papel de modelagem, pois, uma vez que a peça esteja cortada no tecido, todo o pro-
cesso de ajustes será dificultado. Além disso, aumentam as perdas de material e os gastos com a produção
aumentam. Para concluirmos uma modelagem com êxito, são necessários alinhar, medir e aparar arestas
que formem pontas desnecessárias nos moldes. As imagens abaixo mostram o uso adequado do esquadro
na adição de margens de costura e a forma correta de definir essas marcações.

LELIS, Wellington

Figura 31 - Adição de margens de costuras com o auxílio do esquadro


LELIS, Wellington

Figura 32 - Esquadramento em detalhes de cantos de costura


3 MODELAGEM
55

É importante ressaltar que as margens de costuras e as bainhas serão definidas de acordo com o mode-
lo e com o tecido utilizado na confecção do mesmo, pois o tipo de tecido e de acabamento proposto para
a peça influencia na máquina que será utilizada em sua confecção. No caso da máquina reta, as costuras
Mol
aplicadas devem ter 1 cm de largura (bitola). Em uma máquina overloque de três fios, a margem de costura
utilizada é de 0,5 cm. Assim, em uma peça programada para overloque, o uso de uma máquina reta deixará
a peça menor.
Por exemplo, em um molde de calça em tecido plano, em que a bainha tem 5 cm, o acréscimo de mar-
cação de bainha no desenho deverá conter os 5 cm somados a mais 1 cm de dobra de costura, que será
utilizada para o acabamento da peça na máquina reta. Mol
FIO

FIO

SENAI CETIQT / LOURENÇO, Cynara


Linha de dobra

Linha de dobra

Figura 33 - Bainha com dobra

Molde 01
SENAI CETIQT / SAMPAIO, Paulo.

Molde 05

Figura 34 - Adição de margens de bainha

Linha de dobra
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
56

Sinalizações (piques e furos)

São cortes e furos que podem ser transferidos para o tecido com o intuito de auxiliar e de agilizar os pro-
cessos de corte e costura. Essas marcações têm a função de determinar o encontro de partes componen-
tes, aplicação de bolsos ou de detalhes, como localização de pences, medidas de bainhas, etc. Ao inserir
um pique ou um furo num molde, devemos ter claro que esta sinalização será reproduzida no tecido pelo
cortador. Assim, quando a costureira observa um pequeno corte no tecido, ela entende que esse corte será
sobreposto com outro corte.
Devemos pensar que os piques e os furos são sinais simples e eficientes. Se forem entendidos por todos
os envolvidos no processo de construção da peça, esse tipo de marcação contribuirá para o aumento da
produtividade. Nas figuras abaixo, você pode identificar algumas aplicações de sinalizações.

Ápice da

SENAI CETIQT / LOURENÇO, Cynara


1,5cm

Figura 35 - Pique

Dobra do
molde no pique Nova margem
Dobra do de bainha
molde no pique Nova margem
de bainha
LELIS, Wellington

Figura 36 - Pique indicativo de dobra de bainha


3 MODELAGEM
57

Ápice da pence

1,5cm

LELIS, Wellington
Marcação
do furo

Figura 37 - Furo sinalizador de final de pence

LELIS, Wellington

Figura 38 - Sinalização com alicate de pique

Informações complementares de identificação

O molde, sendo um documento, possibilita a comunicação entre os vários setores da confecção do ves-
tuário, tais como a modelagem, corte e a costura. Por isso, sua linguagem deve ser unificada a fim de não
comprometer o desenvolvimento do produto.
Ao desenvolvermos e finalizarmos um molde, ele terá dados de identificação e algumas marcações que
deverão ser passadas ao tecido. Como as marcações já foram apresentadas, a seguir apresentaremos os
dados de identificação que devem ser descritos no molde:
a) Referência ou nome do modelo - Será um número, código ou sigla que dará nome ao molde. Por
exemplo, o seguinte código SA01/V2015, em que SA é a sigla para saia, 01 a numeração para a primeira
saia desenvolvida na coleção, V indica a estação verão e 2015 o ano do modelo. Cada empresa criará seus
códigos e linguagem para identificação de acordo com as suas necessidades. Não existe uma norma que
determine isso.
b) Tamanho - Todos os moldes e suas partes deverão ter o tamanho escrito por letras ou por números
(P/M/G e 36/38/40/42).
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
58

c) Partes componentes - Cada parte que foi separada no desenvolvimento do diagrama do molde,
normalmente compreendendo uma determinada parte do corpo. Por isso, é importante nomear cada uma
dessas partes, por exemplo, manga, parte superior frente, parte superior costas, etc. Além disso, uma única
peça pode ter as suas partes componentes diferentes em relação aos lados do corpo. Sendo assim, deve-
mos distinguir a parte direita da parte esquerda de frente.
d) Números de partes componentes – Alguns modelistas têm o hábito de registar no molde o nú-
mero de partes componentes daquela modelagem, mesmo sabendo que essa informação deve ser inse-
rida na ficha técnica do produto. Sendo assim, essa representação numérica das partes componentes da
modelagem é inserida da seguinte forma: parte 1 de 15 (1/15) significa que é a primeira parte de um molde
que contém 15 partes componentes.
e) Quantidade - É o número de vezes que cada parte do molde será cortada. Pode vir anotada da
seguinte forma: 2X (2 vezes) ou 1 par (1 par). Se um molde é simétrico, ou seja, se tem uma manga que é
exatamente igual tanto em seu lado direito quanto o esquerdo, deve-se escrever que ela será cortada duas
vezes (2X em par/ espelhado) e não é preciso ter dois moldes de mangas. Essas informações são fundamen-
tais, pois, na indústria, as roupas são cortadas em grandes quantidades e essa informação fará com que o
encaixe seja melhor elaborado no setor de corte.
f ) Autor - Muitas vezes o setor de modelagem é composto por equipes de modelistas que são res-
ponsáveis por diferentes seguimentos. Por isso, é recomendável informar o nome do autor daquela mode-
lagem em todas as partes do molde.
g) Data - As datas também devem ser inseridas nas partes de molde para um melhor controle de
coleção e execução.
h) Tipo de tecido - Se um modelo de peça de roupa utiliza partes componentes em materiais dife-
rentes, deverá ser escrito o tipo de tecido que será utilizado em cada um deles. Com o objetivo de facili-
tar o trabalho, muitas vezes não se informa todo o nome do tecido, de maneira que se utilizam códigos,
como, por exemplo, tecido “1” e tecido “2”. Contudo, podemos utilizar o nome completo do tecido na
informação do molde. Se a peça tem um forro ou mesmo um material que serve para lhe dar estrutura,
como, por exemplo, uma entretela, seu molde deve vir acompanhado desta informação. Exemplo: 1X
entretela da gola.
i) Fio - Este é um detalhe fundamental no molde e a falta dele pode comprometer uma produção. O
sentido do fio define a forma como o molde será posicionado sobre o tecido no momento do corte da peça
e isso define o caimento da peça no corpo. Além disso, o fio pode determinar também a orientação de uma
estampa ou, até mesmo, o sentido de um tecido com felpa5, como acontece com o veludo.
3 MODELAGEM
59

Rolo de tecido

Fio Reto

Ourela

Centro
Frente
Centro
Costas

Fio

LELIS, Wellington
Figura 39 -Marcação de fio do tecido no molde

Em geral, o fio acompanha o sentido do urdume do tecido. É o que chamamos de


fio reto. Outra forma de posicionar o fio é no contrafio ou atravessado. Nesse caso,
CURIOSI o fio será alinhado no sentido da trama do tecido.
DADES
O fio enviesado é aquele que está num ângulo de 45° em relação ao urdume,
também chamado de diagonal.

CASOS E RELATOS

Uma informação errada significa um grande prejuízo


Em uma confecção em Santa Catarina, Joana Freitas, responsável pelo setor de modelagem,
encarou uma situação tensa. Ao conferir uma modelagem feita por outro profissional, validou
as anotações, os piques e as sinalizações e encaminhou para a digitalização no sistema
de modelagem. No entanto, não observou que havia uma sinalização, informando que a
modelagem estava invertida e que, na etapa seguinte, deveria ser feita a correção para o setor
de corte.
Aprovada a modelagem, o risco foi programado para corte e esse problema não foi solucionado.
O encaixe foi feito e o risco enviado ao corte. Se não fosse um cortador experiente ter percebido
o erro, inúmeras peças teriam sido cortadas com uma modelagem errada e inviabilizaria a
produção, acarretando um enorme prejuízo à empresa. O funcionário alertou a equipe antes
que o corte fosse feito, dizendo que, da maneira como foi enviado, as peças teriam ou frente
ou costas com o tecido ao avesso.
Assim, Joana identificou o problema e fez as correções necessárias, mas ficou em sua mente a
importância de observar modelagens e como elas são classificadas.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
60

A falta de atenção a detalhes é um dos principais motivos de perdas na produção e de prejuízo


nas empresas. Por isso, ainda que a experiência indique que uma modelagem está totalmente
aprovada, observar atentamente todas as possibilidades de erro na produção é dever de todos.

3.4 SEGMENTOS DE MODELAGEM

Segmentar o mercado de moda significa dividir este mercado em pequenos grupos de acordo com as
suas necessidades. Ou seja, o objetivo é agrupar os públicos semelhantes para, assim, poder atendê-los de
forma diferenciada e direcionada, respondendo às necessidades de cada um deles com mais qualidade.
Os tipos de modelagem se orientam pela mesma linha de raciocínio, dividindo o seu público-alvo em gru-
pos para realizar os seus estudos de modelagem. Os grupos podem se classificar em: segmento feminino,
masculino, alfaiataria, infantil, moda íntima, fitness e moda praia. A seguir, falaremos de cada um deles.

3.4.1 MODA FEMININA


Shutterstock / Sergios

Figura 40 - Peças do vestuário feminino

Denominamos como feminino o segmento de moda que se dedica à construção de produtos do vestu-
ário para esse público. Nele encontramos desdobramentos de construções de bases e de interpretações de
modelagens distintas, pois quem norteia essa orientação é o corpo que devemos vestir. Logo, os caminhos
para essas construções são diversos e é o mercado de moda quem determina essas classificações. Seguem
algumas subclassificações do segmento: feminino jovem, feminino contemporâneo, feminino senhora, fe-
minino tamanho plus.
3 MODELAGEM
61

Como podemos perceber, embora todos esses setores desenvolvam roupas para mulheres, eles se es-
pecializam de maneira a atender a cada um dos públicos, considerando as especificidades de seus corpos
e os elementos de estilo adequados a cada um deles.
Para desenvolver uma modelagem feminina a partir do uso das bases de corpo (base de saia, calça,
corpo sem pence, corpo com pences e mangas), deveremos observar a anatomia desse corpo e fazer uso
de pences e de recortes (mecanismo utilizado para eliminar as sobras do tecido acumuladas nas pences).

SAIBA A pence é um recurso de ajuste do tecido bidimensional sobre o corpo que, como
sabemos, possui volumes. Leia outras definições em Osório (2007, p. 218)
MAIS

3.4.2 MODA MASCULINA

Shutterstock / hxdbzxy

Figura 41 - Peças do vestuário masculino

Denominamos como masculino o segmento de moda que se volta para a construção de produtos do
vestuário para esse público. Esse segmento pode ser desdobrado em diferentes públicos, que são determi-
nados pelo mercado de moda, como: esportivo, casual e tamanho plus.
As roupas masculinas costumam seguir uma evolução de peças tradicionais. Utilizam ornamentos ou
detalhes mais específicos como bolsos e recortes que muitas vezes seguem referências da alfaiataria.
Ao desenvolver a modelagem masculina, utilizamos as mesmas técnicas de construção em modelagem
plana utilizadas no feminino e no infantil, levando em consideração modelos do vestuário masculino e o
uso de tabela de medidas antropométricas masculinas. Esses modelos deverão ser desenvolvidos através
da interpretação sobre as bases, aplicando diferentes técnicas de modelagem para construção de partes
superiores e inferiores com detalhes e diferentes recursos e técnicas da modelagem plana.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
62

3.4.3 ALFAIATARIA

Shutterstock / 719production
Figura 42 - Construção de terno em alfaiataria

Denominamos como alfaiataria o segmento de moda que tem, por principal característica, as referên-
cias clássicas do vestuário masculino como o paletó, a calça social, a camisa social e o colete. Diferente dos
outros segmentos de moda, a alfaiataria não trabalha com o uso padronizado de uma numeração preexis-
tente (tabela de medidas), de maneira que cada uma de suas peças são confeccionadas exclusivamente de
acordo com as medidas e as preferências do cliente. Assim, esse segmento de moda prioriza a qualidade
de concepção e a construção de um produto individualizado.
A alfaiataria reúne, dentro do seu ofício, todas as técnicas necessárias para o desenvolvimento da roupa.
Logo, a profissão de alfaiate exige conhecimentos de modelagem, de corte e de costura. Alguns desses
profissionais se especializam em fazer somente uma das peças do vestuário masculino, como os calceiros,
por exemplo, que são assim chamados porque, dentro do ateliê, só constroem as calças.
Ao tratarmos de modelagem de alfaiataria, estamos falando de elementos específicos e tradicionais,
como é o caso dos bolsos aplicados em calças sociais (bolso embutido, bolso faca) ou mesmo os tipos de
lapelas em paletós (italianas, smoking, clássica), como também dos acabamentos que são dados às peças,
esses que são quase todos manuais.
3 MODELAGEM
63

Embora a alfaiataria seja um segmento exclusivamente masculino, alguns dos detalhes e das caracterís-
ticas dessas peças são adotados em outros segmentos, pois eles agregam elegância e valor às peças.

3.4.4 INFANTIL

Shutterstock / Vasina Natalia

Figura 43 - Segmento infantil

É o segmento de moda que atende à construção de peças do vestuário para o público com até dezesseis
anos. A infância e a adolescência se caracterizam como fases de grande desenvolvimento físico, marcado
pelo gradual crescimento da altura e do peso do ser humano e, por isso, esse segmento normalmente é
subdividido por faixa etária, já que a infância corresponde a um período de vida que vai desde o nascimen-
to até aproximadamente o décimo-segundo ano. O segmento, contudo, pode atender também ao público
entre os treze e os dezesseis anos.
Na modelagem infantil, são observadas várias características importantes para esse público, como con-
forto e praticidade. Por isso, para cada faixa etária exige uma particularidade que devemos observar na
construção da modelagem. Geralmente, são moldes sem pences, com muita folga e poucos recortes. O
quadro abaixo apresenta algumas características conforme encontramos no mercado.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
64

O vestuário quase não tem diferença para menino e menina na modelagem. As roupas são difer-
Recém-nascidos enciadas normalmente por cores. São peças inteiras,como macacões compridos ou curtos, sempre
até 12 meses com muita folga por causa do uso das fraldas. Os tecidos deverão ser confortáveis e deverão ser
evitados materiais ásperos, como os de fibras sintéticas.

Quando a criança começa a dar os primeiros passos, o vestuário já apresenta as características do


adulto (base de corpo, short e manga, além de vestido e de calças). Essa faixa etária precisa de muita
De 1 a 3 anos
atenção e cuidado de modo que se devem evitar enfeites que soltem com facilidade por se tratar da
fase oral da infância, momento em que a criança leva tudo à boca.

Nessa idade, a criança já não usa mais fraldas, então as roupas não precisam de muita folga. Eles já
De 4 a 8 anos são muito ativos, correm muito e, por isso, o vestuário deve ser confortável e de fácil vestibilidade.
Os materiais mais usados são o tecido de algodão e a malha.

As crianças já participam da escolha das roupas e preferem um vestuário mais próximo das carac-
De 10 a 11 anos
terísticas dos adultos.

Também conhecida como infanto-juvenil, essa fase representa a saída da infância e a entrada na
De 12 a 16 anos adolescência. As modelagens já são as mesmas dos adultos, diferenciando apenas pelo estilo dos
modelos.

Quadro 5 - Faixas etárias do segmento infantil

Em 2015, foi publicada uma norma de segurança referente ao desenvolvimento


CURIOSI de vestuário para crianças pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a
NBR-16365/2015. Ela fornece orientações para os produtores de vestuário, além de
DADES dados sobre alguns elementos do vestuário infantil que devem ser evitados, como
cordões na região do pescoço, enfeites que possam ser engolidos, dentre outros.
3 MODELAGEM
65

3.4.5 MODA ÍNTIMA

Shutterstock/ Wendy Kaveney Photography

Figura 44 - Moda íntima

Moda íntima (lingerie) são as peças de vestuário usadas diretamente sobre a pele e que normalmente
se encontram sob outras camadas de roupa. Logo, a lingerie tem a função de contribuir para o conforto de
seus usuários, o que faz com que haja uma preocupação ergonômica no desenvolvimento desse tipo de
produto. Exemplos de lingeries: calcinhas, sutiãs, meias, ceroulas, cuecas, etc.
O segmento de lingerie foi ganhando espaço durante todo século XX, quando surgiram inovações para
ampliar as possibilidades na confecção de roupas íntimas. As peças íntimas foram ganhando cores, pois
antes as opções para esses produtos eram muito restritas, os seus tecidos foram ficando mais leves e suas
modelagens menores. Hoje encontramos no mercado peças de lingerie com trabalhos de aplicações, com
aviamentos diferenciados e ainda com recursos avançados de tingimentos, estamparia e beneficiamentos
para o produto pronto.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
66

3.4.6 MODA FITNESS

Shutterstock / Syda Productions


Figura 45 - Moda fitness

Sobre moda fitness ou moda esportiva, entendemos como sendo as peças de vestuário utilizadas para a
prática de exercícios físicos. Foi durante a década de 1980, que houve a explosão desse segmento quando
o culto ao corpo entrou em evidência e a moda esportiva, que até então era utilizada apenas nas acade-
mias, ganhou força e influência na forma de vestir e de sair nas ruas. Hoje, as primeiras regras para a escolha
de uma roupa esportiva são o conforto e o bem-estar, pois é necessário adequarmos o modo de vestir aos
variados movimentos do corpo.

Encontramos no mercado diversos tipos de tecidos chamados de “tecidos


FIQUE inteligentes” que concentram propriedades que contribuem para melhorar o
ALERTA desempenho esportivo do atleta. Esses tecidos estão sendo, cada vez mais, utilizados
para o segmento fitness apesar de seu custo ser, em geral, mais alto.

Para a construção de estudos de modelagem direcionados ao segmento fitness, a ergonomia é conside-


rada um fator essencial, pois ela estuda e analisa o movimento de forma mais aprofundada e particular em
relação ao esporte. Detalhes como cavas e recortes são adaptados para dar maior conforto ao usuário em
sua prática esportiva. Além disso, a escolha de aviamentos6 para esse segmento deve ser criteriosa, pois,
quando trabalhamos com roupa esportiva, na maioria das vezes, a inclusão desses poderá interferir na ati-
vidade física: zíperes, por exemplo, podem incomodar um praticante de surf, pois esse atleta passa muito
tempo deitado na prancha. Os tecidos, acabamentos e aviamentos devem ser, dessa maneira, analisados
com cuidado, pois interferem diretamente na construção da modelagem.

6 São elementos de composição de roupas que servem para fechar, decorar e para dar estrutura às peças de vestuário. São
exemplos: zíperes, botões, elásticos, ilhoses, rebites, pedrarias e aplicações termocolantes
3 MODELAGEM
67

3.4.7 MODA PRAIA

Shutterstock/ Wendy Kaveney Photography

Figura 46 - Moda praia

Neste segmento de moda, são compreendidas peças do vestuário feminino, masculino e infantil utili-
zadas para o banho público ou para esportes aquáticos. Essas peças normalmente são de tamanhos redu-
zidos e cobrem o busto e a parte inferior do tronco no corpo feminino e apenas a parte inferior do tronco
no corpo masculino. O usuário deve sentir-se composto e confortável em uma peça que é desenvolvida,
utilizando em média 40 cm de tecido. Sendo assim, a construção da modelagem para moda praia envolve
estudo ergonômico, estudo de percentual de elasticidade e estudo de acabamentos, já que o maquinário
para esse tipo de roupa é bem específico. Esse segmento de moda teve grande evolução durante todo o
século XX. Veja, no quadro abaixo, alguns marcos referenciais para a moda praia:

Anos 1910 Anos 1940 Anos 1970 Dias atuais

Utilizavam-se peças como Surgiu o maiô duas peças, Começa o uso de tecidos Hoje este segmento de
uma túnica longa com uma que hoje conhecemos como elásticos na confecção das moda tem o seu lugar bem
calça por baixo, ambas feitas biquíni. peças de banho. estabelecido no mercado
de lã ou de sarja. Ao longo comercial. É reconhecido
dos anos, as peças de banho em todo cenário mundial
foram inovando suas formas como um dos principais
e matérias-primas. produtos de moda brasileira
no mercado de exportação
com grande aceitação em
diversos países do mundo.

Quadro 6 - Evolução da moda praia


MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
68

3.5 SIMETRIA E ASSIMETRIA

Voltando à discussão sobre interpretação de moldes, dentre as características que devem ser conside-
radas, estão os recortes, os detalhes e os volumes. Em um desenho, esses detalhes podem definir se a peça
é simétrica — se os dois lados do modelo são idênticos — ou assimétrica — quando um dos lados da peça
não é igual ao outro, como é o caso das peças de ombro único, por exemplo.
Se a peça for simétrica, ao construir o molde, ele pode ser feito pela metade e depois desdobrado ou
espelhado. Caso seja assimétrico, o que lhe atribui caraterísticas diferentes nos dois lados da peça, essa de-
verá ser construída a partir da base desdobrada. Ou seja, o trabalho não será desenvolvido em um quarto
do molde, mas, em sua metade, de modo que os dois lados possam ser desenvolvidos com suas caracte-
rísticas particulares.

Fio Reto

Centro
SENAI CETIQT / LOURENÇO, Cynara.

Frente
Centro
Costas

Figura 47 - Saia com detalhe assimétrico em sobreposição

3.6 DESCONSTRUÇÃO

A desconstrução de um modelo ocorre quando alteramos as características de uma peça tradicional do


vestuário e inserimos elementos que descaracterizam sua forma original. Para ilustrar, citamos o processo
de acréscimo de folgas com objetivo de ampliar o tamanho das peças.
3 MODELAGEM
69

Carlos Andrade
Figura 48 - Desconstrução de camisa com botões

Observe a diferença entre as duas camisas da imagem. Uma é bem maior que a outra, apresentando
folgas que não têm por objetivo apenas a vestibilidade. Os ombros da peça da direita estão deslocados e
o seu comprimento é maior. Esse não é um caso em que a peça é apenas maior em numeração. Podemos
dizer que esse é um exemplo da desconstrução de um modelo “clássico”, a camisa de botões. A análise
pode continuar se observarmos que a utilização da flanela em uma peça que, em origem, é desenvolvida
em tecidos “de alfaiataria” também é parte do processo de desconstrução.
Assim, a desconstrução, para a modelagem, é o ato de, a partir de uma peça clássica, propor uma altera-
ção de acordo com um novo conceito estético. Um exemplo é a utilização das características de roupas de
alfaiataria quando inseridas em peças femininas, como é o caso dos vestidos.

3.7 ADAPTAÇÃO DE MOLDES

A adaptação de modelo é aquela em que o molde é construído a partir de um modelo já interpretado.


O ponto de partida para a adaptação de moldes deixa de ser a base e passa a ser o modelo.
Podemos citar, como exemplo, uma peça que tem apenas a inclusão de um bolso ou mesmo de um re-
corte. E ainda quando ela muda somente a parte da frente ou das costas, alterando um decote ou uma cava.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
70

1,0

1,0

LELIS, Wellington
1,0

Figura 49 - Adaptação de partes componentes

Na imagem acima, podemos perceber alterações no desenho das palas, nos bolsos e na bainha, que
deixou de ser reta e passou a ser no formato de fralda. Esse tipo de técnica de interpretação é muito utili-
zado em modelos que têm alta vendagem em uma marca. A fim de estimular o consumo dos clientes da
marca, pequenas alterações sobre um modelo que é sucesso de vendas podem ser realizadas, ampliando a
margem de lucro por sobre o mesmo.

3.8 GRADAÇÃO

A gradação é o ato de ampliar e de reduzir o molde em pontos estratégicos a partir do tamanho que
foi desenvolvida a peça piloto. Assim, a técnica da gradação consiste em, por meio da tabela de medidas,
aumentar e diminuir um molde.
Ao estudar as tabelas de medidas no capítulo 1, você viu que os números equivalentes às medidas do
corpo aumentam de maneira regular e gradual e que, a partir de uma tabela de medidas, será possível fazer
a gradação de um molde.
3 MODELAGEM
71

Tamanho 36 38 40 42

Tamanho Valor de
P M
por letra aumento

Busto 80 84 88 92 4

Cintura 62 66 70 74 4

Quadril 88 92 96 100 4

Altura do quadril 19 19,5 20 20,5 0,5

Altura do joelho 57 57,5 58 58,5 0,5

Tabela 2 - Tabela de medidas femininas em cm

Note, na tabela acima, que o aumento da numeração linhas 1 e 2 se dá progressivamente de 4 cm em 4


cm de um tamanho para o outro.
Para ilustrarmos um processo de gradação, utilizaremos o molde de uma saia. No desenho de grada-
ção abaixo, é possível ver que o aumento na lateral é de 1 cm, pois estamos trabalhando em ¼ de molde
(metade das costas). Conforme apresentamos na tabela 2, a ampliação do molde no ponto do quadril
aumenta 4 cm e, então, após desdobrar o molde, teremos a medida necessária para o aumento de acor-
do com a tabela.
1,0 0,5

0,5

1,0

Costas
SENAI CETIQT / LOURENÇO, Cynara.

1,0

Figura 50 - Gradação de base de saia feminina


MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
72

O processo de gradação é realizado de numeração em numeração, portanto é importante observar que


as diferenças de valor entre um tamanho e outro devem ser distribuídas igualmente.

3.8.1 AMPLIAÇÃO E REDUÇÃO

A partir da tabela e através de cálculos, é possível encontrar medidas específicas nos pontos de aumen-
to. Cada valor será obtido por cálculos e, se houver variações nas tabelas, os valores serão alterados.

0,5 0,5 0,5

0,5 0,5 1

0,5

0,5

SENAI CETIQT / LOURENÇO, Cynara.

Saia Frente em três ta

Saia Frente
1

Figura 51 - Ampliação de frente de saia

Na figura 51, nos pontos centro frente/cintura, pence, lateral frente com cintura, lateral do quadril e
lateral das barras, existem números com setas, indicando a direção e o valor a ser aumentado e diminuído.
O resultado é demonstrado na figura abaixo. Na visão bidimensional, pode não parecer um resultado sig-
nificativo, mas, para o usuário, haverá uma diferença significativa na vestibilidade entre os três tamanhos.
0,5 3 MODELAGEM
0,5
73
0,5 0,5 1

0,5

0,5

SENAI CETIQT / LOURENÇO, Cynara.


Saia Frente em três tamanhos diferentes

Figura 52 - Gradação de saia

Saia Frente
Em resumo,
1 a ampliação nos moldes significa que os pontos de ajustes de medidas são aumentados
para se obter um tamanho maior do que o molde de referência. A redução nos moldes significa que os pon-
tos de ajustes de medidas são reduzidos para se obter um tamanho menor do que o molde de referência.

3.9 MODELAGEM TRIDIMENSIONAL

Após conhecermos os principais fundamentos da modelagem, especialmente aqueles relacionados à


modelagem planificada, vamos apresentar os principais elementos referentes à modelagem tridimensio-
nal. Nessa técnica, a visualização do produto é quase imediata, pois o tecido é esculpido sobre o corpo/
manequim, podendo ser trabalhado bem justo ao corpo ou ter um caimento mais solto e distante do ma-
nequim de modelagem, esse que também é conhecido como busto de modelagem.
Ainda que sua utilização seja menos comum na indústria, a modelagem tridimensional deveria ser me-
lhor explorada no ambiente fabril, pois seus resultados costumam ser mais acertados: a técnica permite
uma visualização do produto desenvolvido, possibilitando correções mais acertadas e, dessa maneira, re-
duzindo a quantidade de protótipos a serem desenvolvidos.
A modelagem tridimensional também facilita a comunicação entre o designer e a modelista, pois essa
última pode mostrar, de maneira concreta, se o planejamento da estilista é viável funcionalmente. Essa
técnica é uma boa forma de introdução ao conceito de modelagem de roupas. Dessa forma, Souza (2006)
define:

A modelagem tridimensional, também chamada de moulage ou de draping, é uma


técnica que permite desenvolver a forma diretamente sobre um manequim técnico,
que possui as medidas anatômicas do corpo humano, ou mesmo sobre o próprio cor-
po. Consideram-se, portanto, as medidas de comprimento, largura e de profundidade
e promove o contato entre o corpo/suporte, representado pelo manequim, e a tela, o
tecido utilizado para modelar. Essa proximidade favorece a experimentação das possi-
bilidades construtivas, permitindo buscar novas soluções facilitadas pela apreensão da
realidade. (p. 23)
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
74

Assim, o moulage ou draping7 é a forma de dispor o tecido sobre o manequim para a produção do ves-
tuário com o objetivo de definir os contornos e as linhas desejadas. Associada à modelagem plana, que não
estuda o volume e os conhecimentos de geometria para a compreensão da planificação do corpo humano,
essa também pode ser considerada uma forma artesanal mas sofisticada de transitar entre o molde plano
e o corpo humano tridimensional.
Na modelagem tridimensional, trabalhamos com o corpo humano em todas as suas dimensões (com-
primento, largura e profundidade), portanto, evidenciamos o estudo volumétrico. Por essa razão, costuma-
-se dizer que a modelagem tridimensional é “mais simples” ou “mais fácil” quando, na realidade, ela é mais
intuitiva, já que não temos de imaginar o corpo humano em duas dimensões para desenvolver os moldes.
Para facilitar o entendimento dessa relação, veja a diferença entre as imagens dos moldes bidimensionais
e do molde no manequim tridimensional:

Pen
ce d
os om
bro
s

Costas Frente

Pence usto
da cintu e do b
ra Penc

Pence d
a a cintu
Pence da cintur ra

Frente
Costas
LELIS, Welligton

da Saia
da Saia

Figura 53 - Bases planificadas a partir do corpo humano


Fonte: Adaptado de Studio Modellare

Figura 54 - Base desenvolvida no busto de manequim

A técnica é especialmente utilizada por criadores na Alta Costura e em vestidos de festa, pois é comum
o desenvolvimento de peças com muitos volumes nesses segmentos.
7 Moulage, palavra francesa derivada de moule que significa forma. Draping, palavra de origem inglesa que significa drapea-
mento.
3 MODELAGEM
75

No início do século passado, com o aparecimento de grandes casas e de ateliês de


CURIOSI costura, essa modalidade de modelagem se tornou mais conhecida, tendo, como
DADES grande representante, Madame Vionnet, estilista da década de 1920 que explorou
ao máximo essa técnica.

Shutterstock / Everett Collection

Figura 55 - Técnica de draping em vestido

Para o trabalho de draping, algumas ferramentas específicas são necessárias:

Boneco em tamanho real com medidas


baseadas em tabelas de medidas utilizadas
Manequim na indústria do vestuário. Em geral, têm
Ou busto apenas o tronco e parte das pernas, porém
podem ter variações como é o caso de
pernas longas para desenvolvimento de
calças.
COIMBRA, Fernanda
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
76

São encontradas diversos tipos de alfinetes


no mercado. Utilizam-se, para o draping,
Alfinetes os mais finos, pois facilitam o manuseio no
manequim e na montagem da roupa, e os
com cabeça para marcações.

Específica para cortar tecido e para fazer


chanfros e piques. Recomenda-se não uti-
Tesoura lizar a mesma tesoura para tecidos e para
os papeis, pois esses últimos fazem com
que a tesoura perca seu fio.

São utilizadas para marcar os contornos


e as linhas diversas dos modelos após
o desenvolvimento do drapeamento
Canetas de marcação
no manequim. Por vezes, utilizamos
uma caneta com ponta porosa como as
hidrográficas.
COIMBRA, Fernanda
3 MODELAGEM
77

Tradicionalmente são utilizadas fitas com


Fita métrica
150 cm.

São fitas estreitas e achatadas que servem


para marcar as circunferências e as linhas
principais, assim como as linhas de
modelos de decotes, recortes, etc. Por ter
Soutache
certo volume, que cria um relevo ao ser
aplicado ao manequim, facilita o tato ao
se manusear o tecido sobre ele, não sendo
necessário levantar o tecido para vê-lo.

A princípio, o tecido mais utilizado para


o draping era um tecido 100% algodão
chamado morim, mas atualmente utiliza-se
especialmente o algodão cru. É possível,
Tecido
contudo, utilizar tecidos com elasticidade e
outros mais nobres. Em geral, escolhem-se
tecidos de cor clara e sem estampas para
facilitar a visualização do trabalho.
COIMBRA, Fernanda

Quadro 7 - Ferramentas para draping


MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
78

3.9.1 PREPARANDO O MANEQUIM

A preparação do manequim é fundamental para a aplicação da técnica do draping. Conforme Souza


(2006, p. 24)

O manequim deve ser previamente preparado para receber a tela. Essa preparação con-
siste na delimitação das diversas linhas do corpo – eixo frente, eixo costas, decote, om-
bros, busto, cintura, quadril e linha princesa (orienta pences fundamentais) – considera-
das importantes para aferição de medidas de circunferência, largura e de altura e que
se constituem referenciais para o desenvolvimento da modelagem. A marcação é feita,
utilizando fitas ou cadarços estreitos.

Assim, devemos preparar o manequim, que deve ser sinalizado com base nos pontos de referência da
peça a ser desenvolvida, a fim de que ele possa receber o tecido que virá a ser modelado.
É necessário estudar a peça para assinalarmos, no manequim, os contornos básicos que a definem,
como, por exemplo, a altura do decote e da cava. Esse estudo consiste em um mapeamento que é realizado
com o auxílio das fitas para a marcação. Além dessas informações, algumas sinalizações gerais devem ser
realizadas, como: ápice do busto (mamilo) e contornos complementares do modelo escolhido (modelo de
decote, tamanho de cava).
Shutterstock / Dmitry Zimin

Figura 56 - Manequim sinalizado em seus principais pontos de referência


3 MODELAGEM
79

O mapeamento para o draping utilizando o busto é feito sempre para um quarto do manequim frente e
um quarto para as costas. Não se trabalha com todo o contorno da peça a fim de garantir a simetria perfeita
das duas metades. Desta maneira, após drapear-se uma metade frente, clona-se (espelhando na mesa com
auxílio de réguas) o restante para que os dois lados da frente permaneçam simétricos. O estudo do draping
só é feito com todo o manequim em caso de modelos assimétricos, ou seja, em peças irregulares, como é
o caso dos modelos de ombro único ou de saias envelope.
No exemplo da figura 57, o vestido (assimétrico) teria de ser desenvolvido no draping não apenas em
sua metade, mas inteiro devido a essa irregularidade.

Shutterstock / Oleg Gekman

Figura 57 - Exemplo de modelo assimétrico

Para esse modelo, sem considerarmos a manga, o manequim deveria ser sinalizado com a fita nos pon-
tos, conforme a imagem abaixo:

+5cm
Decote

Cava +5cm
+5cm +5cm
C.F.

Cintura +5cm
LELIS, Wellington

Quadril

Figura 58 - Sinalização assimétrica de manequim


MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
80

3.9.2 TECIDO PARA O DRAPING

Um recurso fundamental para o planejamento da construção de uma peça é a escolha do tecido e a


quantidade a ser utilizada. Sabendo disso, para além do estudo do modelo (mapeamento do manequim),
a técnica também possibilita que se avalie o tamanho do tecido necessário para seu desenvolvimento.
Dentre as características do tecido, as mais importantes para o draping são: o fio, o caimento e o peso.
Além disso, deve-se levar em conta o resultado esperado em relação ao aspecto da roupa para definir qual
o corte de tecido para determinada construção.
Para modelagem, são necessários alguns conhecimentos sobre o tecido. Seus elementos fundamentais
são apresentados no quadro abaixo e relacionados na figura 59.

Urdume São chamados os fios que seguem no comprimento do tecido. São paralelos à ourela.

Ourela É a extremidade entrelaçada, que não desfia e segue paralela à estrutura de urdidura.

Trama São os fios dispostos de maneira transversal em relação ao urdume.

Estrutura É a diagonal formada em 45° do urdume ou da ourela. Esse fio faz com que o tecido
do viés plano ganhe certa elasticidade de acordo com a sua disposição em relação à roupa.

Quadro 8 - Estrutura básica do tecido

Ourela
Fio longitudinal
Paralelo a ourela (urdume)
acompanha a tama
Fio transversal

0 em
l 5
on
a e4
i ag l o d la
d gu re
Fio ân a ou
m
nu ção
tá la
Es re
RIBEIRO, Fábio

Ourela

Figura 59 - Tecido e sua estrutura fundamental


3 MODELAGEM
81

3.9.3 REALIZANDO O DRAPING

Feita a preparação do manequim e escolhido o tecido a partir das suas características, a realização do
draping se inicia com a preparação do tecido a ser aplicado no manequim.
Para peças sem folgas, utilizamos um retângulo com a medida da altura e da largura da região a ser dra-
peada com cinco centímetros excedentes em cada lado (figura 60). Para peças com drapeados e franzidos,
trabalha-se com o dobro das medidas da região a ser drapeada no sentido do volume que se deseja aplicar
(figura 61).

+5cm
Decote

+5cm
+5cm +5cm
+5cm
+5cm +5cm
C.F.

C.F.
C.F.
2X
Cintura +5cm

Quadril
LELIS, Wellington

Figura 60 -Draping em ¼ de manequim para peças sem folgas Figura 61 -Draping para peças com drapeado ou franzido.

FIQUE É fundamental não se esquecer de sinalizar o fio do tecido antes do corte a fim de
ALERTA que não se perca a referência de sentido do início da construção da peça.

Em alguns casos, nos cortes de tecido, devem ser anotadas, além da referência do fio, as informações
sobre as linhas fundamentais do corpo: para as partes superiores, a linha do centro frente do manequim ou
do centro costas (vertical) e a linha de referência da altura do busto (horizontal); para as partes inferiores, a
linha do centro frente do manequim ou do centro costas (vertical), a linha de cintura e/ou a linha de quadril
(horizontal). A linha de centro será posicionada na costura central do manequim. Nas imagens anteriores,
por exemplo, a sigla CF significa Centro Frente do molde. Você provavelmente encontrará, na indústria,
siglas ou nomes escritos por extenso.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
82

Finalmente vamos ao passo-a-passo do draping dividido em nove etapas:

Etapa 1 - O modelista usa alfinetes para prender o tecido no centro do manequim e segue moldando o
tecido ao corpo de acordo com o modelo definido.

LELIS, Wellington
Figura 62 - Draping: Etapa 1

Etapa 2 - Com a tesoura são feitos os piques e aparadas as sobras para moldar a peça, alcançando o mo-
delo desejável. Quanto mais curvas na região, maior a necessidade de piques, pois a tendência do tecido
plano é resistir às curvas naturais do corpo. Esse é o caso dos decotes e cavas.
LELIS, Wellington

Figura 63 - Draping: Etapa 2


3 MODELAGEM
83

Etapa 3 - Com o lápis ou com a caneta de marcação, os pontos principais de curvas de cava e de decote,
ombros e laterais e outras linhas deverão ser sinalizados com pequenos traços para que eles auxiliem na
tarefa de acertar as linhas ao levar o tecido para a mesa, onde será finalizado.

LELIS, Wellington

Figura 64 - Draping: Etapa 3

Etapa 4 - Ao finalizar o processo de modelagem da peça no busto, as partes componentes são retiradas
do manequim e levadas a uma mesa para conferir medidas e ajustar linhas com auxílio de réguas de mo-
delagem e de rolete (carretilha).
LELIS, Wellington

Figura 65 - Draping: Etapa 4


MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
84

Etapa 5 - Em seguida, são observados os pontos que serão unidos por costuras e aferidas as medidas.
Como as laterais, por exemplo.

LELIS, Wellington
Figura 66 - Draping: Etapa 5

Etapa 6 - Decotes, cintura, cavas e pences são traçados com o auxílio das réguas.
LELIS, Wellington

Figura 67 - Draping: Etapa 6


3 MODELAGEM
85

LELIS, Wellington
Figura 68 - Draping: Etapa 6 (continuação)

Etapa 7 - Após a finalização do molde no tecido, ele será cortado e costurado à mão ou alfinetado. Nes-
se momento, a peça ainda é montada sem acabamento, com preocupação apenas de observar a qualidade
dos moldes. Essa peça será vestida no manequim para realizar os ajustes, se necessário.
LELIS, Wellington

Figura 69 - Draping: Etapa 7

Etapa 8 - Após vestir a peça no manequim, detalhes como caimento, equilíbrio e aspecto geral são
observados e ajustados.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
86

LELIS, Wellington
Figura 70 - Draping: Etapa 8

Etapa 9 - O molde será copiado para o papel depois da análise no manequim com uso das ferramentas
de modelagem plana para serem finalizados de forma adequada.
Após modelar cada uma das partes da peça seguindo as etapas do draping, deve-se fazer uma prova.
Para tal, deve-se acrescentar a margem de costura em cada um dos moldes e, em seguida, unir as partes
com o auxílio de alfinetes ou alinhavando-as. Esse toile deve ser provado no busto a fim de se verificar se
a peça está vestindo adequadamente, se corresponde ao modelo pretendido e se é necessário fazer algu-
ma correção. Sendo aprovada, pode-se decalcar os moldes em tecido para o papel de modelagem, o que
garante a durabilidade dos mesmos e facilita na hora deles seguirem para o corte do protótipo em tecido
similar ao da peça final.

De acordo com Jones (2011), o toile é o nome utilizado, no Brasil e no Reino Unido,
CURIOSI para a primeira peça-piloto desenvolvida em tecido e feita para a prova. Ela não
DADES possui, por essa razão, costuras finalizadas, fechos, forros e demais acabamentos,
como nos indica Fischer (2010).
3 MODELAGEM
87

É importante salientar que hoje, nas indústrias, as técnicas de modelagens são utilizadas em conjunto. Às
vezes, para peças mais simples, utiliza-se a modelagem plana manual. Em caso de peças mais elaboradas
e em tecidos diferenciados, como os elásticos, utiliza-se a técnica de draping. Os cads são usados para gra-
dação, transformação e adaptação de moldes.

RECAPITULANDO

Este pode ser considerado o principal capítulo dessa publicação, pois traz uma boa experiência
com os elementos necessários para os estudos sobre modelagem. Trata-se de uma porta de en-
trada para aplicação dos conhecimentos do capítulo anterior na representação do vestuário a
partir de moldes. Foram estudadas elaborações básicas da modelagem plana e construções que
possibilitam a reprodução do vestuário. Além disso, foram trabalhados os conceitos de público e
de segmento que são usuais na indústria da moda e do vestuário.
O capítulo segue com conhecimentos fundamentais para estudos de modelagem como simetria
e assimetria e gradação de moldes, além de técnicas de interpretação. Por fim, explica procedi-
mentos para a realização da modelagem tridimensional em uma abordagem sutil dessa sofisti-
cada técnica.
Confecção de produtos: matéria-prima,
processo de fabricação e cuidados

Você acredita que conhecer materiais e processos é tão importante para os que desejam
desenvolver moldes quanto conhecer conceitos geométricos e produtos?
Para que você possa pensar modelagem e produção com melhor aproveitamento de mate-
riais e menor desperdício, é importante ter uma visão de processo. Isso é, conhecer a estrutura
e o uso da matéria-prima, compreender a técnica de construção de modelo de roupas - inician-
do no protótipo até peça piloto -, e, por fim compreender a geração e o descarte de resíduos
originados na confecção.
Para entender um pouco mais sobre o assunto, iniciaremos esse capítulo, apresentando os
tipos de tecido, suas composições e as estruturas, assim como a influência desses materiais na
modelagem e do uso em experimentos na construção de produtos confeccionados.
Apresentaremos, em seguida, as especificações técnicas necessárias relacionadas às prin-
cipais etapas do processo de fabricação de protótipos e de peças pilotos junto ao setor de
modelagem e de pilotagem.
Finalizaremos, explorando os principais fatores que influenciam na geração de resíduos e as
principais formas para descarte dentro da confecção.
Com esses subsídios, você será capaz de identificar o processo de desenvolvimento do ves-
tuário e de interpretar a construção do produto de acordo com normas técnicas.

4.1 TECIDOS

4.1.1 DEFINIÇÃO

O que chamamos de tecidos é o material construído pelo entrelaçamento de fios.


MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
90

4.1.2 COMPOSIÇÃO

Para entendermos melhor a aplicação desse material na modelagem, definiremos os fios como sendo
os produtos obtidos pela fiação de fibras naturais ou sintéticas. Assim, conforme a disposição do entrela-
çamento das fibras, será formada uma estrutura básica ou diferenciada do tecido e, em função disso, eles
poderão apresentar pesos e caimentos diferentes.
A composição do tecido é definida pelo tipo de fibra ou pela combinação da qual foi feito o fio de cons-
trução. As fibras têm importante influência no toque e no visual dos tecidos, pois, a partir de sua variedade,
o tecido apresentará toque mais áspero ou macio assim como aspectos mais brilhantes ou foscos. As fibras
são classificadas em:
• Naturais: dividem-se em animais (lãs, sedas), vegetais (celulósicas) e em minerais (amianto);
• Artificiais: são as que têm por origem a natureza, porém passam por processos artificiais para se tor-
narem têxtil (por exemplo, a viscose);
• Sintéticas: envolvem processos químicos para se obtê-las (o exemplo mais conhecido é o poliéster).

shutterstock / Ragne Kabanova

Figura 71 - Rolos de tecidos

CURIOSI O algodão é a matéria-prima de 45% do vestuário da humanidade. Além da fibra


DADES usada para tecido, o caroço do algodão fornece óleo comestível e farelo.
4 CONFECÇÃO DE PRODUTOS: MATÉRIA-PRIMA, PROCESSO DE FABRICAÇÃO E CUIDADOS
91

4.1.3 TIPOS E ESTRUTURA PARA USO E APLICAÇÃO NA MODELAGEM

Os tecidos são produzidos em teares manuais ou automáticos. Na indústria, são utilizados apenas os
teares automáticos, dispostos de forma organizada e padronizada em um setor específico denominado
tecelagem. A forma como são construídos classifica os tecidos em três tipos: planos, malhas e os tecidos
não-tecidos.
Neste capítulo, iremos estudar os dois tipos de tecidos mais importantes para a modelagem: os planos
e as malhas. Observe que, na indústria têxtil, eles ainda receberão outras classificações: quanto a sua estru-
tura, sua composição e coloração.

4.1.3.1 TECIDOS PLANOS

O tecido plano é formado pelo cruzamento perpendicular dos fios de urdume8 com os fios de trama9.
Ele possui maior estabilidade na largura e no comprimento. Em geral, não têm elasticidade, exceto quando,
em sua composição, entram fibras de elastano.

Shutterstock / Thatsaphon Saengnarongrat

Figura 72 - Tecido plano e representação de sua estrutura

Veja, na ilustração abaixo, como funciona a passagem dos fios de trama entre os fios de urdume para a
formação do tecido.

8 Conjunto de fios dispostos na direção transversal (largura) do tecido. A trama é passada pelos fios do urdume para formar os
desenhos do tecido por estrutura.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
92

LACERDA, Rodrigo
Figura 73 - Tecimento do tecido plano

Outra característica que pode interferir no aspecto do tecido plano é sua classificação. A forma como é
construído o tecido determina seu padrão. Embora existam diversos nomes fantasias, em sua classificação,
ele terá apenas três tipos de ligamentos básicos: tafetá, sarja e cetim.
Todas as formas de construção de tecido terão como ponto de partida as três estruturas básicas. Abaixo
observe como a trama passa pelos fios de urdume e criam o desenho do tecido e, ao lado, sua representa-
ção gráfica em padrão quadriculado.

Tafetá: É o mais simples dos entrelaçamentos,


não possuindo diferenças entre o lado direito e
o avesso a não ser que exista algum tipo de aca-
bamento ou de estampa definindo o lado direi-
to. Nesse entrelaçamento, cada fio de urdume
passa alternadamente sobre um fio de trama e,
logo após, abaixo de outro fio de trama, sendo
que essa evolução se repetirá por todo o compri-
mento do tecido.
4 CONFECÇÃO DE PRODUTOS: MATÉRIA-PRIMA, PROCESSO DE FABRICAÇÃO E CUIDADOS
93

Sarja: caracteriza-se fundamentalmente pela


formação de linhas diagonais que vão de um
extremo ao outro do tecido. O entrelaçamento
é desequilibrado, ou seja, o fio de trama passa
por cima de dois fios de urdume e por baixo de
uma terceira.

Cetim: Este possui diferenças entre os lados di-


reito e avesso (da mesma forma que a sarja), po-
rém a face exposta não exibe diagonais. Os teci-
dos em cetim produzem uma superfície regular,
o que dificulta a visualização do entrelaçamento.
Tem, por caraterística, o brilho e a maciez.
LACERDA, Rodrigo

Quadro 9 - Ligamentos básicos de tecidos


MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
94

4.1.3.2 MALHAS

As malhas têm, como forma de entrelaçamento, as laçadas. Devido esse formato fundamental, há a ga-
rantia de excesso de fio, o que proporciona a elasticidade, o bom caimento e a sensação de conforto que
caracterizam esse tipo de tecido. Algumas vezes os produtos desenvolvidos em malha são menores que
as proporções do corpo para que eles se acomodem ao mesmo. Por isso, a malha vem sendo usada em
muitos casos na concepção de roupas esportivas ou que remetam a algum tipo de conforto, ou necessitem
de maior flexibilidade.

Shutterstock / Svetlana Lukienko

Figura 74 - Malha e representação gráfica

O produto de vestuário desenvolvido deve se adequar ao corpo do usuário e também


FIQUE deve ser adaptado aos mais variados tipos de matérias-primas. Por isso, entendemos
ALERTA que, nos tecidos planos, as roupas precisam de mais folgas para dar conforto e, já no
caso das malhas, a modelagem não precisa ser folgada.

Na figura abaixo, você pode ver o que chamamos de laçada. Essa forma de tecer é muito similar ao
processo de tecimento de tricô manual, com o mesmo tipo de laçada, porém em proporções menores em
relação aos fios e ao tamanho dos pontos.

Cabeça

Pernas
LACERDA, Rodrigo

Pés

A laçada e seus Estrutura de malha Estru


componentes por trama
Figura 75 - Ponto por laçada em um tecido de malha po

b
4 CONFECÇÃO DE PRODUTOS: MATÉRIA-PRIMA, PROCESSO DE FABRICAÇÃO E CUIDADOS
95

As malhas podem ser construídas em malharia por trama ou por urdidura (figura abaixo). Observe, no
destaque, que, na malha por trama, o fio passa horizontalmente. No tecimento por urdume, vários fios são
tecidos, ao mesmo tempo, e o fio aparece destacado em sentido vertical.

Cabeça
Cabeça

Pernas
Pernas

Cabeça

LACERDA, Rodrigo
eus
e seus Estrutura de de
malha
Estrutura malha Estrutura de de
Estrutura malha
malha
tes
nentes porpor
trama
trama porpor
urdimento
urdimento
Pernas
Figura 76 - Estrutura por trama e urdume

b b
Pésidentificar essas duas carreiras. A carreira de malhas, formada por uma
Na figura abaixo, são possíveis
sucessão de laçadas consecutivas no sentido da largura do tecido (a a’), se denomina curso. A carreira de
malhas, formada no sentidoA vertical
laçada e(bseus
b’), se denomina coluna. Ela é a sucessão de laçadas
Estrutura consecutivas no
de malha E
componentes
sentido do comprimento do tecido (vertical). por trama

a’ a’
b

ViéVié
s s
Ourelas
Ourelas

b’ b’
Curso e coluna
Curso de de
e coluna malhas
malhas
a a’

Ourelas
LACERDA, Rodrigo

b’
Curso e coluna de malhas
Figura 77 - Curso e coluna de malhas
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
96

4.1.4 FIO E CAIMENTO DO TECIDO

Quando entendemos a estrutura dos tecidos, o próximo passo é identificar visualmente suas bordas e
como o seu tecimento está posicionado para o aplicarmos na construção dos moldes.
Na indústria ou em outros níveis de modelagem, a borda é chamada ourela. Ela representa a parte da
margem do tecido que acompanha a urdidura ou o urdume e tem, por característica, não desfiar e ter um
aspecto mais duro.
A partir da posição do tecimento, identificamos o fio do tecido. Estruturalmente, o fio respeita às linhas
verticais que acompanham a borda. Essa regra vale tanto na malha quanto no tecido plano. Porém, para essa
modelagem e, consequentemente para o corte, podem ser identificadas de três formas. Veja a figura 78:
Cabeça
• Fio longitudinal: identificado quando acompanha a ourela e consequentemente os fios de urdume. O
fio, nesse sentido, tem menor propensão ao estiramento;

Pernas • Fio transversal: identificado quando está em posição perpendicular10 aos fios de urdume e apresenta
caraterística de menor resistência. O fio definido pela trama é utilizado com menor frequência para
tecidos planos;
• Fio em viés ou tecido enviesado: é a linha diagonal11 em relação ao urdume e a trama. Essa posição do
eus
es
fio dará características
Estrutura de malhade leve elasticidade ao tecido
Estrutura plano, como você pode ver na figura 77. Entenda
de malha
por trama por urdimento
que, para malharia, não existe o fio enviesado.

a’

Vié
s
Ourelas
LELIS, Wellington

b’
urso e coluna de malhas

Figura 78 - Verificação de elasticidade via tensionamento

No molde, o fio do tecido aparece como uma linha reta desenhada em cada parte componente, de-
finindo a forma como o molde será posicionado sobre o tecido. Ou seja, indica como a sobreposição do
diagrama será feita no tecido dada a estrutura discutida anteriormente.

10 Forma geométrica em que uma reta forma um ângulo reto (90 graus) com outra reta

11 Em relação ao fio do tecido, será a linha reta que vai de um ângulo a outro ângulo em um quadrado. Ou a linha que parte de
um ângulo de 45° a partir do urdume.
4 CONFECÇÃO DE PRODUTOS: MATÉRIA-PRIMA, PROCESSO DE FABRICAÇÃO E CUIDADOS
97

A posição do fio está ligada ao caimento do tecido e à criação de efeitos, como volume em locais espe-
cíficos. Ressaltamos que, para o vestuário, o caimento é a forma com que o tecido se acomoda em relação
ao corpo e aos seus contornos.
Veja, na imagem, abaixo o caimento de um tecido plano posicionado em diferentes sentidos em relação
ao fio sobre um manequim. O sentido do corte mostra o efeito do caimento para o modelo.

Figura 79 -Fio no sentido longitudinal Figura 80 - Fio no sentido transversal

O modelista irá definir a melhor forma de


construção do molde e o posicionamento do
fio para o desenho escolhido. Ao posicionar o
molde sobre o tecido, o fio deve ser alinhado
paralelamente à margem do tecido – ourela (Fi-
gura – 82). Para isso, deve-se utilizar régua ou
fita métrica para medir a distância que será a
mesma por toda a extensão do molde do fio em
relação às margens.
LELIS, Wellington

Figura 81 - Fio em sentido enviesado


MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
98

Mesmo que o objetivo do corte seja o maior aproveitamento do tecido, o molde


FIQUE nunca deverá ser inclinado. Para evitar isso, o fio traçado no molde determinará a
ALERTA forma como ele será posicionado sobre o tecido.

FIO
FIO

Macacão Macacão
Tam. 40 Tam. 40
Manga Manga
1par 1par

Macacão
Macacão
Tam. 40
Tam. 40
1x
Frente Dir.
1x
Macacão
Tam. 40
Costas
FIO

1par
1 2 3 4 5
ourela

ourela
FIO

FIO

FIO

FIO

1 2 3 4 5

Macacão
ourela

Tam. 40
1par 1x

Costas
Tam. 40
Macacão
1x
FIO

Frente Dir.
Tam. 40
Macacão
Carlos Andrade

Figura 82 - Encaixe sem sentido

Perceba que a inclinação poderá acarretar torções na roupa e dificuldades na montagem além de des-
conforto ao vestir. Veja a posição correta do molde em relação a ourela e a com leve inclinação.
4 CONFECÇÃO DE PRODUTOS: MATÉRIA-PRIMA, PROCESSO DE FABRICAÇÃO E CUIDADOS
99

ourela

ourela
Macacão Macacão
Tam. 40 Tam. 40
Frente Dir. Frente D
ir.
1x 1x

FIO 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5

FIO
1 2 3 4 5 1 2 3 4 5

LOURENÇO, Cynara. SENAI CETIQT


ourela

ourela

Figura 83 - Posicionamento em relação a ourela

Com as informações apresentadas, você entendeu que, tanto para a modelagem plana quanto para a
tridimensional, todas as características do tecido são importantes e é, por isso, que será necessário ter em
mente o resultado que se espera em relação ao aspecto da roupa para, só então, definir a forma do corte
no tecido para construção do vestuário.

4.2 PROTÓTIPO

O protótipo é o produto em sua fase de testes. Enquanto a peça não é definitiva nem considerada uma
peça piloto, será chamada protótipo. Ao finalizar as modelagens e ao fazer o corte, monta-se o primeiro
protótipo, que pode ser executado no material final ou em material similar ao definitivo.
Será, através da montagem do protótipo, que o designer conseguirá verificar a viabilidade técnica de
um produto, pois, somente por esse recurso, ele será capaz de definir se há algum conserto ou alteração a
ser feita antes de começar a produção. Nesse momento todas as partes componentes devem ser unidas,
inclusive partes acessórias como bolsos.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
100

LOURENÇO, Cynara/SENAI CETIQT


Figura 84 - Montagem de bolso

Quando esteticamente a peça parece viável em relação ao caimento e à aparência, ela será montada em
seu material definitivo e todo o processo começará a ser registrado em fichas técnicas.
Shutterstock / Dragon Images

Figura 85 - Protótipo finalizado

O protótipo é a fase final após a realização de um projeto que passou pelas seguintes análises:
• Quem irá usar o produto?
4 CONFECÇÃO DE PRODUTOS: MATÉRIA-PRIMA, PROCESSO DE FABRICAÇÃO E CUIDADOS
101

• Para que serve? Qual sua função?


• Que detalhes deve conter (relação uso e estética)?
• Quais os materiais que serão utilizados? Quais os mais adequados?
• Qual será o conceito deste produto?

4.2.1 TESTES DE PREPARAÇÃO

Chegada à fase de prototipia12 de uma peça do vestuário, algumas análises de aspectos estéticos e ergo-
nômicos já devem ter sido feitas e o designer já resolveu questões de escolhas de materiais e de aviamen-
tos em relação ao uso do produto. Será de responsabilidade do setor de prototipia garantir a qualidade
padrão quanto à costurabilidade, além de escolher o melhor maquinário, tipos de agulhas adequadas ao
tecido usado, fios e linhas e à adequação de pontos.
No que se refere ao processo produtivo, além da montagem e da confecção, as peças devem ser passar
por testes como o de solidez de cor, que verifica que as peças não manchem com a lavagem, bem como o
de encolhimento, de lavanderia e de qualquer outro tipo de beneficiamento que vá ser realizado na peça.
Assim, os detalhes que possam dificultar a produção em série serão registrados para correção.
Toda essa padronização, desde a entrada ao final da produção, evitará futuras reclamações e prejuízos
financeiros à indústria do vestuário.

4.2.2 CORREÇÕES E AJUSTES


Shutterstock / Click and Photo

Figura 86 - Teste de preparação

12 É como é conhecido o setor onde são desenvolvidos os protótipos. Na confecção, é também chamado de setor de pilotagem.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
102

Quando são identificadas correções e ajustes a serem feitos, os produtos deverão ser avaliados pela
equipe de criação com a presença de algum representante da equipe de modelagem. A partir daí, são re-
avaliados os aspectos ligados à vestibilidade13 e à estética, agora com o produto vestido em uma modelo.
Essa etapa é chamada de prova dos protótipos. Nesse momento, serão são feitas as marcações para corre-
ção ou os ajustes em relação à proposta da função das peças.
Após a avaliação e o parecer sobre o que deve ser feito, os detalhes ligados à modelagem e à costura
serão corrigidos no setor de prototipia e de pilotagem. O protótipo deve ser refeito quantas vezes for ne-
cessário em confecção para que o produto fique perfeito.

4.2.3 ANÁLISE FINAL DO PROTÓTIPO

Nessa fase, serão definidos quais protótipos devem ser produzidos ou não efetivamente.
O último teste a ser feito é o teste de usabilidade, que consiste em planejar o desenvolvimento de uma
peça baseado em perguntas fundamentais:
• Quantas pessoas irão testar?
• Em que ocasião e como vão testar?
Identificada a usabilidade, as confecções reduzem consideravelmente problemas em relação ao tempo
de produção, pois passam a dominar o processo e a planejar melhor seus objetivos. Esses testes também
ajudam na avaliação de desempenho do produto, se o mesmo atendeu às expectativas básicas e às neces-
sidades do usuário.
Pesquisas podem ser aplicadas aos usuários. Elas poderão fornecer outras informações complementa-
res quanto às expectativas em relação a forma, cor, a componentes, etc. Assim, se houver necessidade, o
produto será adequado ao público a partir das informações obtidas, evitando futuros problemas nos pon-
tos de venda e reclamações do consumidor final.
Voltando à ótica da indústria, tem-se uma sequência de produção após a aprovação do protótipo, que
se inicia com a atualização dos dados na ficha técnica. Esse documento acompanhará o protótipo até o fim
da produção.

13 É a capacidade que uma roupa tem de enfrentar muitas horas de uso, adequando-se facilmente a diversos tipos de situação.
4 CONFECÇÃO DE PRODUTOS: MATÉRIA-PRIMA, PROCESSO DE FABRICAÇÃO E CUIDADOS
103

4.3 PEÇA-PILOTO
A indústria de confecção é muito diversificada em seus segmentos. Cada tipo de produto do vestuário
pode exigir diferentes processos na sua linha de produção. Mas podemos destacar que, para a confecção
de um produto, será necessário definir algumas etapas: desenho, escolha de materiais, confecção de mol-
des, corte, pilotagem, prova, correções, aprovação e gradação de moldes. Essas etapas fazem parte do
processo de construção de uma peça piloto. Após a peça aprovada, reinicia-se o processo a partir do pla-
nejamento da grade de pedidos para corte, compra de materiais, costura, beneficiamentos, acabamentos e
de embalagem. Esse processo se inicia a cada estação de acordo com o número de coleções que a empresa
trabalha.
Algumas vezes são duas coleções - primavera/verão e outono/inverno. Em outras, alguns fabricantes
incluem coleções intermediárias, como alto-verão, que são feitas para suprir o mercado com novidades.
Existem os fabricantes que costumam desenvolver pequenas coleções que são lançadas mensalmente.
Assim é possível ter produtos novos em suas lojas com frequência.

Shutterstock / Indira’s work

Figura 87 - Exemplo de peça piloto


MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
104

4.3.1 DEFINIÇÃO

Peças piloto são as peças que já passaram por todo processo de construção e de provas e estão de acor-
do com orientações da equipe de estilo. A peça piloto é aquela que está compatível com o projeto inicial
em aspectos estéticos, ergonômico e de produção, incluindo sua matéria-prima e forma de construir. Essa
peça só pode ser considerada como tal se for exatamente de acordo com o produto que se deseja ter nos
pontos de vendas. Sendo assim, peça-piloto é o produto que se obtém após os ajustes dos protótipos.
São as peças iniciais de uma produção que estão perfeitamente de acordo com aspectos ergonômicos,
estéticos e materiais. Essa peça é tão importante que, em algumas confecções, ela costuma ser marcada
com lacres numerados. Assim, ela não poderá ser trocada nem perdida durante seu trajeto em diferentes
setores produtivos. O setor de modelagem e de pilotagem funciona como uma célula de produção em que
são feitas todas as etapas de construção do produto.

4.3.2 ETAPAS DA CONFECÇÃO

Na confecção ou em qualquer indústria, a qualidade será garantida se essa for observada em cada etapa
do processo produtivo. Todas as etapas de confecção dentro do setor de modelagem e de pilotagem deve-
rão reproduzir os macros processos de uma empresa do vestuário.
Dessa forma, os processos serão estabelecidos e registrados em uma ficha técnica para produção em
série, partindo do setor de pilotagem e de prototipagem. Entenderemos, por processo, as atividades exe-
cutadas por uma sequência com início meio e fim. Por exemplo, na fixação de um bolso, que inicia com a
modelagem, passa pelo corte e deverá ser costurado antes de ser avaliada a qualidade. A seguir, apresen-
taremos outros processos comuns na confecção.

4.3.2.1 MOLDE E RISCO

Ao pensar em um molde, além de atender às definições do setor de criação, deve-se pensar em sua ade-
quação para seguir no setor produtivo. Isso acontece quando o molde passa a ser entendido como risco
na etapa do corte. O risco é o desenho de todas as partes componentes do molde feito em uma folha de
papel para ser posicionado sobre o tecido. No risco, para produção em grande escala, mais de um tamanho
de um mesmo modelo será distribuído. O risco pode ser realizado manualmente em papel ou computado-
rizado, utilizando-se de software próprio, mas, ainda nesse caso, será impresso em uma grande folha a ser
posicionada sobre o tecido.

4.3.2.2 ENCAIXE E FIO

O encaixe é o ato de distribuir todas as partes que compõem um molde completo sobre o tecido com
o objetivo de ter o menor intervalo entre eles. Na figura abaixo, você visualizará um encaixe de um molde
sobre um tecido com a estampa em pé.
4 CONFECÇÃO DE PRODUTOS: MATÉRIA-PRIMA, PROCESSO DE FABRICAÇÃO E CUIDADOS
105

FIO
FIO

Macacão Macacão
Tam. 40 Tam. 40
Manga Manga
1par 1par

Macacão Macacão
Tam. 40 Macacão Macacão Tam. 40
Tam. 40
Frente Dir. 1x
Tam. 40
1x
Frente Dir.
1x 1x
Macacão Macacão
Tam. 40 Tam. 40
Costas Costas
FIO

FIO
ourela

1par 1par

FIO
FIO

FIO
FIO

SENAI CETIQT / LOURENÇO, Cynara

Figura 88 - Encaixe em pé
SENAI CETIQT / LOURENÇO, Cynara

Figura 89 - Estampa em pé
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
106

Nesse primeiro momento o encaixe servirá de referência para a estimativa do gasto de tecido por pro-
duto. O modelista encarregado pelo modelo irá definir a melhor forma de construção do molde para o
desenho escolhido, devendo adaptar o molde para um melhor encaixe em produção.
O encaixe é a ação complementar ao risco. Em geral, processo de risco e de corte geram retalhos, mas o
percentual de desperdício é reduzido quando o encaixe é bem resolvido.
Além do encaixe, o fio é um detalhe que interferirá diretamente no encaixe de moldes ao desenvolver
um risco.
Em relação aos encaixes, eles podem ser classificados de algumas formas para seu melhor aproveita-
mento. Isso se refere à forma de dispor as partes componentes sobre o tecido utilizando como referência o
fio. A relação fio e encaixe gera diversas definições para o corte. Veja algumas:
Encaixe “sem sentido”: quando as partes componentes podem ser dispostas para os dois lados, por
exemplo, uma frente de calça poderá ter as partes da frente (lado direito e esquerdo) posicionadas em sen-
tidos inversos e isso não altera o aspecto final do produto. Tecidos como tafetás, brim e sarjas são exemplos
que podem utilizar esse tipo de corte.
Encaixe para corte com pé: quando todas as partes devem ser colocadas sobre um tecido em um mes-
mo sentido, pois, se for diferente disso, o aspecto final da peça sofrerá alterações. É o caso das estampas e
dos veludos, que têm um sentido único. O veludo, se tiver partes cortadas em sentidos opostos, passará a
impressão de que é de cor diferente. Analisando o corte dentro do setor de pilotagem, devemos considerar
que, nessa primeira fase, o encaixe é um processo simplificado e feito manualmente.
Hoje, com automatização de processos, com o corte sendo feito por máquinas eletrônicas, tanto os en-
caixes quanto o cálculo de gastos são feitos com maior precisão pelo setor de corte.

4.3.3 CÁLCULO DE MATERIAIS

A partir do primeiro corte é que será calculado o gasto de matéria-prima da peça. Podemos dividir o
cálculo de gasto do tecido por tipos: 1) em tecidos de malha; e 2) em tecidos planos.
Em peças de malhas, pesamos a peça depois de pronta e calculamos o gasto por peso, pois esse tipo de
tecido é vendido por quilo. Em seguida, será feita a pesagem dos retalhos para calcular o desperdício. Daí
se estabelece uma relação entre o valor total e as sobras, isso é, o custo do tecido.
No caso dos tecidos planos, o cálculo está baseado na relação do risco sobre o tecido e na observação
da metragem utilizada para a construção de uma ou de mais peças. Então, a quantidade gasta é dividida
pelo número de peças cortadas (caso seja mais de uma).
Para ambos os casos, o gasto será lançado na ficha técnica e servirá como valor estimado para futuras
compras, porém, somente após a produção em quantidades, é que será possível ter o valor de gasto por
peça bem como dados exatos para cálculo do preço final.
4 CONFECÇÃO DE PRODUTOS: MATÉRIA-PRIMA, PROCESSO DE FABRICAÇÃO E CUIDADOS
107

Shutterstock / IClick and Photo

Figura 90 - Corte manual

A costura da peça piloto no setor de desenvolvimento de produto (prototipia) é feita pelo pilotista. O
pilotista é o profissional da costura que conhece todo o processo de montagem de uma peça e o mais qua-
lificado para a montagem do produto. Por isso, poderá montar uma peça de roupa para testar se a modela-
gem precisa de ajustes e verificar se os materiais e os acabamentos adotados no modelo estão adequados.
Com sua experiência, também poderá ajudar a avaliar se o modelo poderá ser produzido em grande escala,
definindo previamente uma sequência de montagem conforme seus conhecimentos técnicos e sobre ma-
quinários. Esse profissional é polivalente e tem, como norma, repassar dados para compor a ficha técnica
de produção como a sequência operacional.
Mesmo que um modelista não tenha muitas habilidades em costura, é necessário que ele conheça o
segmento em que atua e saiba dos maquinários envolvidos ao construir um molde. O modelista poderá
auxiliar o designer a definir os tipos de acabamentos internos ou externos de uma peça. A boa escolha de
um acabamento interfere nos aspectos gerais da peça, como ergonômicos e estéticos. Ao desenvolver uma
coleção um designer e sua equipe devem optar por acabamentos considerando o tipo de produto espera-
do. Se um tipo de acabamento só pode ser feito em uma determinada máquina, cabe avaliar quantas peças
poderão tê-lo para que a produção flua com eficiência.
Podemos chamar de acabamentos itens como: viés, limpezas, largura de bainha, debruns, etc. De tipos
de costuras e de maquinários: pespontos e detalhes aplicados e aparelhos utilizados juntamente com as
máquinas.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
108

4.4 DESTINAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

A modelagem, enquanto representação inicial de um produto, antecipa processos na produção do ves-


tuário tal como corte e costura. Assim, como em qualquer indústria, todas as etapas do processo produtivo
geram resíduos e, portanto, requerem regulamentação de Estado para o controle de suas atividades. No
campo do vestuário, comumente obtêm-se materiais residuais, como tecidos, papéis, fibras, mas também
resíduos químicos como óleos, corantes e água contaminada.
Com o entendimento do ciclo de vida dos produtos, podemos identificar os impactos negativos e pro-
por soluções para a destinação final, provocando menor impacto ambiental. Observe a atual concepção
do ciclo de vida do produto na imagem abaixo e entenda os momentos quando a matéria-prima é obtida e
aqueles em que pode ocorrer desperdício e descarte de resíduos. Veja abaixo as explicações dos itens mais
significativos para o setor de modelagem.

Carlos Andrade

Figura 91 - Ciclo de vida do produto


4 CONFECÇÃO DE PRODUTOS: MATÉRIA-PRIMA, PROCESSO DE FABRICAÇÃO E CUIDADOS
109

Fabricação do produto
Para o Técnico em Vestuário, é a etapa mais importante, pois é momento da elaboração do produto
propriamente dito. Nessa etapa, podem-se identificar os resíduos da modelagem (papel), corte (retalho) e
costura (sobras de fios e linhas).
Distribuição e venda
Ocorre quando o produto confeccionado e embalado é direcionado aos pontos de venda.
Uso pelo consumidor
Em geral, o uso se relaciona com as necessidades das quais os produtos se destinam, mas, além disso,
também, nessa etapa, há um maior apelo para o consumo. As atuais tendências orientam por um consumo
consciente em que haja a escolha por produtos com maior durabilidade.
Destinação final
Os produtos do vestuário têm particularidades, pois costumam ser descartados antes do fim de sua vida
útil. Além das destinações comuns, eles podem ser reciclados, customizados, doados, entre outros.

CASOS E RELATOS
Como a questão ecológica influi hoje em nossas vidas?
Depois da ECO-92 (um dos principais eventos sobre ecologia que reuniu representantes de
todo mundo no Rio de Janeiro), a discussão sobre políticas públicas nacionais em relação à
preservação da natureza e ao descarte de lixo tomou novos rumos. Nesse mesmo período,
foram criadas as Políticas Nacionais de Recursos Hídricos e de Educação Ambiental. Antes
disso, em 1988, a Constituição Federal, em seu Art. 225, parágrafo 3º, já estabelecia que: “as
condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente” sujeitarão os infratores, pessoas
físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de
reparar os danos causados”.
Em consequência dessa movimentação, desde a década de 80, surgiu a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS), que nasceu com intuito de estabelecer prazos em relação ao uso de
recursos e à destinação de resíduos.
A grande dificuldade da aprovação da PNRS foi em relação à ideia da responsabilidade
pós-consumo, que se traduziu no conceito de logística presente na lei. Dessa forma, setor
empresarial brasileiro vem se organizando para se adequar à legislação e ao perfil de um novo
consumidor, que vem sendo educado a partir de iniciativas privadas e públicas.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
110

Atualmente, existe muita preocupação em relação ao descarte e ao reaproveitamento, porém uma in-
dústria consciente busca formas de gerir os recursos para evitar consumo excessivo e descarte desneces-
sário. Veja a diferença entre gestão convencional e produção mais limpa. Essa é uma proposta que já existe
em nosso país e foi desenvolvida pela FIERGS/ SENAI.

Gestão convencional de Resíduos Produção mais Limpa


O que se pode fazer com os resíduos existentes? De onde vem os resíduos?

Quais as formas de se livrar deles? Como eliminar ou reduzir na fonte?

Quem pode comprar retalho? Por que são gerados?

Quadro 10 - Gestão de resíduos

Abaixo algumas imagens de resíduos da indústria de confecção, como plástico, papel, cones, retalhos e
restos de linha.

Cynara Lourenço
Figura 92 - Resíduos de confecção

A grande preocupação das indústrias hoje é quanto à viabilidade do processo de reaproveitamento sem
gerar ônus para a empresa. Existem diversas formas de descarte de materiais, porém muitas vezes esses
materiais vão parar em lixões misturados a materiais orgânicos descartados de maneira inadequada.
Considerando essas questões, percebe-se a necessidade de atitudes preventivas, como: organização
do estoque de matéria-prima e aviamentos, eliminação de perdas e melhoria na logística de compra para
evitar estoques desnecessários.
Então, vamos pensar em projetos de confecção mais sustentáveis?

SAIBA Se você se interessa pelo assunto, busque o guia: PRODUÇÃO MAIS LIMPA EM
MAIS CONFECÇÕES© 2007, CNTL SENAI-RS.
4 CONFECÇÃO DE PRODUTOS: MATÉRIA-PRIMA, PROCESSO DE FABRICAÇÃO E CUIDADOS
111

RECAPITULANDO

Neste capítulo, vimos que os conhecimentos sobre os materiais utilizados em confecção


são importantes para o desenvolvimento de moldes e de produtos. Vimos também que
a estrutura e a composição de tecidos podem interferir na forma de se construir moldes.
Identificamos experimentos na construção de protótipos que farão com que se obtenha
um produto com melhor qualidade estética e ergonômica. Assim serão obtidos produtos
com maior aceitação nos pontos de vendas. Sobre o setor de prototipia, entendemos que
nele são reproduzidos os processos da confecção em uma pequena escala e que assim
é possível resolver questões de distribuição e fluxo na produção. Por fim, assim como
na sequência de produção industrial, discutimos a destinação de resíduos gerados pelo
vestuário. Esses resíduos se destacam como preocupação da sociedade, da indústria e
que deve ser sua enquanto estudante do Técnico em Vestuário. Os conceitos aprendidos
ajudarão você a construir produtos mais adequados às normas técnicas e te auxiliarão na
elaboração de processos de outros produtos têxteis em produção do vestuário.
Ficha Técnica

Como visto no capítulo sobre antropometria, as medidas do corpo são fundamentais para
garantir uma boa produção do vestuário, pois permitem a padronização e as adaptações de
modelos para o consumo. Porém, considerando a quantidade de pessoas envolvidas no pro-
cesso de produção de um modelo, você já pensou em tudo que poderia dar errado se a infor-
mação dessas medidas fosse trocada ou mal interpretada no meio do processo de produção?
Qual seria o resultado quando, por exemplo, uma manga tivesse tamanho maior do que o
previsto para a costura na cava?
Pensando nisso e em outras tantas possibilidades, a indústria adotou a ficha técnica para
garantir uma boa comunicação entre os setores da confecção e uma produção eficiente para
otimizar seus resultados.
A ficha técnica é um documento utilizado em fábricas com o objetivo de reunir o maior nú-
mero de informações sobre um produto. Na confecção, ela é um documento muito importante,
pois tem, como principal função, o registro de dados referentes à produção, contendo imagens
e descrições que irão garantir a reprodução de um produto.
A cada coleção, todo o processo de desenvolvimento e de preenchimento de fichas técni-
cas é iniciado de acordo com os novos modelos, contendo todas as especificações técnicas do
produto, referências, descrições de materiais, desenhos técnicos, sequências de montagem,
entre outras informações. Assim, tem-se o acompanhamento ao longo da produção para que
as peças confeccionadas fiquem iguais à ideia original.
Neste capítulo, iniciaremos apresentando o leiaute da ficha técnica e o desdobramento de
seus campos para inserção de dados informativos mais comuns e adequados a produtos con-
feccionados. Apresentaremos isoladamente todos os campos de acordo com seu grupo de in-
formação.
Por fim, você conhecerá os diferentes tipos de fichas técnicas de acordo com os setores da
confecção. Dessa forma, você verá como interpretar uma ficha técnica de acordo com produtos
específicos.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
114

5.1 ELABORAÇÃO DE FICHA TÉCNICA

Fichas técnicas são documentos utilizados em diversos setores industriais, entre eles, o vestuário. Pode-
-se dizer que são uma espécie de certidão de nascimento de uma peça aprovada, pois sua função é descre-
ver todas as etapas de construção do produto. Assim, são determinadas as informações que garantem a re-
produção em grandes quantidades de um mesmo item sem perder os padrões de qualidade apresentados
na peça piloto. Cada modelo desenvolvido em confecção terá sua respectiva ficha técnica.
Uma série de informações textuais, gráficas e físicas são colocadas nessas fichas técnicas, como, por
exemplo, desenhos e amostras de tecidos. Serão enfatizadas as informações mais importantes, por exem-
plo, detalhes de costuras que precisam de maior atenção em produção.
Cada empresa deve elaborar uma ficha técnica que se ajuste melhor em relação às suas necessidades
dados os produtos, adequações dos setores produtivos internos e externos e a organização da produção.
Observando essas necessidades e para generalizar o conteúdo sobre fichas técnicas, podemos dividi-las
em grandes grupos para informações específicas:

• Dados ou elementos de identificação;


• Dados ou elementos de descrição;
• Dados de consumo;
• Dados operacionais (processos e tempos);
• Dados sobre custos.

As fichas técnicas também podem ser geradas por programas de computadores. Quando feitas dessa
maneira, seus dados são atualizados em todo o processo de produção, ou seja, a cada setor que passam e,
em cada um deles, terão funcionários responsáveis pela inserção de informações. Esse é um documento
que pode ser alterado de acordo com as necessidades de cada empresa.
5 FICHA TÉCNICA
115

FICHA TÉCNICA
COLEÇÃO REFERÊNCIA:
DESCRIÇÃO DO PRODUTO

FRENTE COSTAS PEÇA PILOTO/FOTO VARIANTES


Ziper em metal
cor prata

Manga modelo Acabamento


copinho com interno com
bainha de 1cm limpeza

Ziper em metal
cor prata
Detalhe vazado
na barra

Manga modelo Acabamento


copinho com interno com
bainha de 1cm limpeza

Sutterstock / Walking-onstreet / Ugorenkov Aleksandr / Indira´s work


Detalhe vazado
na barra

36 38 40 42 44 46 48 50
CORES / VARIANTES ÚNICO TOTAL
P M G GG
1- sarja amarela
2- sarja cinza
3- sarja vermelha
4- sarja preta

Fábio Paiva Ribeiro


5- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
TAMANHO DA PILOTO: 40 DATA APROV. PILOTO:
RESPONSÁVEL.:
COR DO SHOWROOM QTDE. SHOWROOM:

Figura 93 - Modelo de ficha técnica

Para fins de entendimento, os campos da ficha técnica foram desdobrados por afinidades. Seguem
abaixo as explicações dos campos conforme as divisões descritas acima.

5.1.1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Os dados de identificação do produto em geral estão no cabeçalho da ficha técnica e podem ser identi-
ficados nos campos: referência ou nome da peça, modelo, estação ou coleção a que pertencem.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
116

EMPRESA QUARTETO COLEÇÃO VERÃO 2016


MODELO SAIA REFERÊNCIA SA001V2016
DATA 30/03/2015 DESIGNER RESPONSÁVEL
DESCRIÇÃO: Saia curta jeans, “five pockets”, em jeans pespontada com bainha de 2cm.

COIMBRA, Fernanda
Figura 94 - Cabeçalho de ficha técnica.

No exemplo, apresentamos uma saia da coleção do verão de 2016 e, como sugestão de referência, o có-
digo SA001V2016, em que a sigla SA representa a peça saia; o numeral 001 significa que foi a primeira saia
desenvolvida para aquela coleção; V representa a coleção de verão; e 2016 é o ano quando será lançada.
Esses dados são escolhidos de acordo com definições mais funcionais dentro de uma empresa, portanto é
importante que esteja de acordo com as suas necessidades. Além desses campos, data, nome do autor e do
design responsável também podem estar dentre os dados de identificação do produto.

O cabeçalho refere-se à descrição de uma forma geral com itens que dizem respeito
a empresas e a profissionais envolvidos no desenvolvimento de determinado
FIQUE produto e a dados de identificação da peça confeccionada, como nome da peça,
ALERTA coleção, referência, data, uma breve descrição e como tudo o que for pertinente à
denominação do produto

5.1.2 ELEMENTOS DE DESCRIÇÃO

São informações que muitas vezes tratam da característica principal da empresa e do produto que cos-
tumam estar contidos no cabeçalho da ficha técnica. São eles:

• Modelo. Equivale à forma principal da peça. Ex.: saia, blusa, casaco.


5 FICHA TÉCNICA
117

• Referência. São códigos numéricos ou alfanuméricos que apresentam certos padrões. Ex.: blusas po-
dem ter sua referência iniciada sempre pelas letras BL seguidas de números que, muitas vezes, corres-
pondem à quantidade de modelos que já foram desenvolvidos na empresa.
• Descrição da peça. É a forma como o modelo é apresentado, seus detalhes e formas: tipo de deco-
te, cavas, comprimento e acabamentos. Muitas vezes, essa descrição resumida aparece impressa em
códigos de barras que são afixados nas roupas. Geralmente, utilizam-se termos técnicos mais usados
em confecção em descrições que devem ser curtas e objetivas sobre os aspectos visuais da roupa. Ex.:
saia curta jeans com 5 bolsos.
• Desenho técnico: É um complemento da descrição. Acrescenta-se o desenho técnico em fichas técni-
cas para representar detalhes de uma peça de roupa pronta. Eles são feitos frente, costas e, em alguns
casos, com vista lateral, incluindo cortes aumentados. Através do desenho, é mais fácil ter uma visão
clara e objetiva do corte e do acabamento da peça além das proporções corretas. Com o desenho,
podemos mostrar ângulos e destaques de algumas partes mais complexas.

5.1.3 DADOS DE CONSUMO (INSUMOS MATERIAIS)

Os dados de consumo podem ser divididos em insumos diretos ou indiretos.


Insumos diretos
São os que estão diretamente ligados ao desenvolvimento da peça do vestuário, ou seja, são os mate-
riais como tecido e aviamentos.
A tabela abaixo apresenta alguns campos relacionados a esse tipo de dado: a descrição ou o nome do
material (coluna 1), nome do fornecedor (coluna 2) e os valores (colunas 3 a 5).
Destacamos, na coluna 2, a importância desse campo, pois qualquer informação complementar sobre
o produto será dada pelo fornecedor. O consumo (3) é descrito por unidade de medidas que podem ser
metro, peso ou quantidade numérica. Em 4, é apresentado o valor por unidade de medida, por exemplo, o
valor do metro do tecido. A coluna 5 diz respeito ao custo unitário que é referente à quantidade consumida
em uma peça.

1 MATERIAL 2 FORNECEDOR 3 CONSUMO 4 PREÇO UNIT 5 CUSTO UNIT.

Piquet 0,2 R$ 22,00 R$ 4,40

Ribana 0,05 R$ 18,00 R$ 0,90

Botão 3 R$ 0,0010 R$ 0,00

Gola 1 R$ 1,2000 R$ 1,20

Linha / fio 90 R$ 0,0010 R$ 0,09

TOTAL R$6,59

Tabela 3 - Dados de consumo direto


MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
118

Em se tratando de aviamentos, esses são materiais de acabamentos, como elásticos, botões, rebites, zíperes.

Shutterstock / ILeysen
Figura 95 - Exemplos de aviamentos

Algumas empresas criam um campo separado para estes materiais. Esses podem estar dispostos da
seguinte maneira:

CUSTO
AVIAMENTOS REFERÊNCIA FORNECEDOR COR QTDE MEDIDA PREÇO UNIT
UNIT.

Zíper

Botão

Elástico

Rebite

Linha / fio

TOTAL

Tabela 4 - Dados de aviamentos

Alguns itens que agregam valor ao tecido ou à peça pronta são chamados de beneficiamentos e são
considerados consumo direto. Eles podem ser: bordados, lavagens, tingimentos e estamparia. Esses itens
podem aparecer em um quadro diferente na ficha técnica, porque, em algumas ocasiões, aparecem apenas
no final do processo produtivo, mas sua ordem no processo de produção pode ser tanto no início, logo
após o corte da peça e antes de sua montagem, como após a montagem com a peça finalizada. O impor-
tante é que existam campos definidos para inserir observações e descrições do processo.
5 FICHA TÉCNICA
119

Para exemplificar, podemos citar a produção de algumas calças jeans que têm as aplicações de rebites,
etiquetas e botões metálicos: caso passassem por algum beneficiamento na lavanderia, por processos quí-
micos de tingimento ou por desgastes localizados, esses poderiam corroer os metais, descaracterizando a
peça em cores e em aspectos.
A tabela de abaixo mostra alguns itens de beneficiamento que podem compor uma peça além da lavan-
deria, o amaciamento e do tingimento.

BENEFICIAMENTO FORNECEDOR CONSUMO PREÇO UNIT CUSTO UNIT.

Bordado 1 R$ 0,03 R$ 0,03

Lavanderia 1 R$ 0,01 R$ 0,01

Alvejamento

Amaciamento

Tingimento

Estamparia localizada

Estamparia por sublimação

Estamparia por metro

TOTAL R$

Tabela 5 - Beneficiamento direto de produto

Insumos indiretos
Os insumos indiretos estão ligados ao consumo por peça. São os que geram custos para o produto, mas
não estão diretamente ligados à sua construção, embora interfiram na questão estética e de apresentação
dele como: etiquetas adesivas, embalagens, caixas e tags14. Essas informações dizem respeito à identidade
visual da peça e estão relacionadas à marca comercial.

14 Etiqueta comumente feita em papel, estampada, que costuma ser decorativa com objetivo de compor a identidade visual da
peça
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
120

MATERIAL FORNECEDOR DESCRIÇÃO LOCALIZAÇÃO QTDE PREÇO CUSTO UNITÁRIO

Etiqueta adesiva
1 R$0,03 R$0,03
de tamanho
Etiqueta
1 R$0,01 R$0,01
Composição
Tag 1 R$0,05 R$0,05
Saco plástico 1 R$0,03 R$0,03
Total R$
Tabela 6 - Consumo indireto

Não confunda insumos indiretos com custos indiretos que é um raciocínio mais
complexo ligado à administração e à contabilidade e representam gastos gerados
FIQUE em relação à produção que não podem ser medidos individualmente por peça. Por
ALERTA exemplo, quando o aumento da produção necessita o maior uso de máquinas de
costuras, consequentemente o gasto com energia elétrica aumentará, porém não é
possível medir o gasto individual de energia por peça produzida em cada máquina.

Shutterstock / Marko Poplasen

Figura 96 - Tag feita em tecido

Na tabela de insumos indiretos, campos como descrição e localização são importantes, pois definem a
identidade visual da peça.
No caso de etiquetas de composição, elas são instrumentos utilizados para informar ao consumidor
informações de composição e de conservação relativas ao produto têxtil. São características delas:
5 FICHA TÉCNICA
121

• Conter modos de lavar e cuidados, além de todos os itens obrigatórios por lei;
• Fixação na lateral interna, cós ou decotes das roupas;
• Não têm função estética, pois visam informar ao consumidor sobre os cuidados com as roupas para
que ao manuseá-las, lavar e ao passá-las, não se provoquem danos irreversíveis para o artigo durante
o processo.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) possui norma técnica: Têxteis — Códigos de cuidado
usando símbolos (ISO 3758:2012, IDT), que estabelece um sistema de símbolos gráficos em que a etique-
tagem é padronizada a partir de regras internacionais destinadas a artigos têxteis. O objetivo dessa norma
é informar e prevenir o usuário para que não se provoquem danos irreversíveis para o artigo durante o
processo de tratamento têxtil. Segundo o Regulamento Técnico Mercosul sobre Etiquetagem de Produtos
Têxteis (BRASIL, 2008)

[...] Produto têxtil é aquele que, em estado bruto, semibeneficiado, beneficiado, sem-
imanufaturado, manufaturado, semiconfeccionado ou confeccionado é composto ex-
clusivamente de fibras ou de filamentos têxteis. Também são considerados produtos
têxteis os produtos que possuem, pelo menos, 80% de sua massa constituída por fibras
ou filamentos têxteis (assemelhados têxteis), assim como os produtos têxteis incorpo-
rados a outros produtos, dos quais passem a fazer parte integrante e necessária, exceto
calçados.

O Brasil segue padrões internacionais para etiquetar seus produtos confeccionados. Os símbolos res-
peitam a uma sequência ao aparecer na etiqueta na ordem mostrada a seguir, segundo a ISO 3758/2005.

Lavagem Uso de cloro Secagem Passadoria Limpeza à seco

Figura 97 - Ordem de símbolos para etiquetas de composição

Observe abaixo o significado de alguns símbolos que indicam a forma correta de conservação do
produto:
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
122

Figura 98 - Sequência de símbolos de etiquetas em produtos do vestuário

Além disso, as etiquetas devem conter as seguintes informações:


• Nome fantasia da peça e marca registrada ou a razão social por extenso;
• Cadastro da pessoa jurídica (CNPJ) da empresa;
• País de origem;
• Forma de tratamento e de cuidado de conservação da peça por extenso ou por símbolo;
• Indicação do tamanho da peça por número ou por letra.

A falta de padronização conforme essa norma pode ocasionar punições e multas ao fabricante, portan-
to, a indicação de uso e de localização são fundamentais em uma ficha técnica. Os dados obrigatórios de
composição e de cuidados são passados pelo fornecedor dos materiais.
5 FICHA TÉCNICA
123

Figura 99 - Etiqueta obrigatória.

Sobre as etiquetas externas, essas podem compor o visual da peça enquanto elementos decorativos
que fazem parte da programação visual do produto. As empresas de moda têm suas marcas e elas podem
ser um ativo da empresa que gera lucro. Às vezes, para o consumidor é mais importante o uso da marca
do que a própria roupa. Embora a etiqueta externa não tenha uma função prática que atendam às normas
preestabelecidas no mercado têxtil elas são importantes elementos de estilo na composição da roupa. Por
isso, sua localização é importante do ponto de vista estético. O designer programa suas cores e sua locali-
zação de acordo com seu desenho. Elas têm o objetivo de promover a marca da empresa que representam.

5.1.4 DADOS OPERACIONAIS (PROCESSOS E TEMPOS)

Os dados operacionais são os que estão ligados ao modo de produzir, aos maquinários utilizados e ao
fluxo do produto. Os setores da indústria envolvidos no processo de fabricação em si, ou seja, apenas aque-
les ligados à transformação da matéria-prima em produto, precisam que os dados pertinentes à produção
estejam descritos em um campo preparado para isso na ficha técnica.
Chamamos de sequência operacional as etapas de operações15 e de montagem que consideram um
padrão lógico quanto a essa ordem. Entendida essa sequência, os dados são inicialmente coletados pela
pilotista, que poderá passá-los sobre tempo de montagem e de execução de cada etapa com o objetivo
de agilizar a forma de construir o produto em série. A sequência deve então ser confirmada pelo setor de
Planejamento de Controle de Produção (PCP).

15 É a ação dentro do processo de montagem que a costureira fará dentro de uma ordem pré-estabelecida para que a produti-
vidade seja aumentada.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
124

A sequência pode sofrer alterações de acordo com detalhes inseridos, a facção16 (célula de produção
em que o produto será montado) que irá construir a peça ou ainda de acordo com os maquinários e os
processos adotados.

SEQUÊNCIA OPERACIONAL

OPERAÇÃO DE PROCESSO MÁQUINA BITOLA17 TEMPO MÉDIO

Unir lateral da gola Overloque 0,5cm 0’20’’

Unir lateral dos punhos Overloque 0,5cm 0’30’’

Unir lateral da barra Overloque 0,5cm 0’15’’

Unir ombros Overloque 0,5cm 0’20’’

Unir mangas e cava Overloque 0,5cm 0’30’’

Unir lateral frente e costas Overloque 0,5cm 0’40’’

Unir gola ao decote 0,5cm 0’50’’

Unir punhos 0,5cm 0’20’’

Unir barras 0,5cm 0’30’’

Aplicar costura de cobertura gola/punho e barra Galoneira 0,7cm 0’15’’

Costura de arremate decote Travete 0,5cm

OBSERVAÇÕES DE MONTAGEM - PONTOS CRÍTICOS

Figura 100 - Sequência operacional

No exemplo acima, são destacas as operações ligadas ao maquinário, mas existem as operações de
acabamento que são os cuidados finais com as peças, arremate, revisão, passadoria, dobras e aplicação de
tags, códigos de barra e embalagem. Na confecção, essas etapas são feitas manualmente, embora existam
alguns maquinários que facilitam parte das operações, como, por exemplo, o ato de passar roupas, que
pode ser feito em grandes máquinas vaporizadoras. Abaixo, um exemplo de sequência operacional de
operações de acabamento.

OPERAÇÕES DE ACABAMENTO
ATIVIDADE OPERAÇÕES TEMPO MÉDIO
Arrematar Manual 3,00
Revisar Manual 3,00
Passar Ferro Manual 2,00
Empacotar Manual 1,00
TEMPO TOTAL 9,00

Figura 101 - Operações de acabamento

16 É a empresa parceira que recebe as peças cortadas e as costura. Normalmente essas empresas cobram por produção.

17 É a medida de margem de costuras. Pode-se dizer que é a distância entre a borda do tecido e a marcação da agulha. São tam-
bém os moldes que servem de referência em medidas de bolsos, golas e para marcação de botões.
5 FICHA TÉCNICA
125

5.1.5 DADOS SOBRE CUSTOS

Normalmente, os dados relativos a valores em uma ficha técnica têm ligação direta com custo de produ-
ção. Para o setor de custos, outros dados são considerados, como: margem de lucro pretendida, impostos,
despesas com empregados, estrutura, etc. Por isso, não existe um documento específico para custos, mas,
sim, dados que são captados ou inseridos na ficha técnica por pessoas responsáveis em cada setor específico.
Os relatórios são os resultados impressos das fichas técnicas e podem ser emitidos separadamente, pois
neles podem estar incluídos dados relevantes para cada setor. Por exemplo: em uma ficha de criação, não
é necessária a inclusão de dados de custo de produção, pois esses só são obtidos após a peça piloto ser
aprovada. Em contrapartida, essa ficha de criação precisa de informações estéticas e de materiais deseja-
dos para a construção do produto. Não faria sentido ter uma ficha completa de algum produto em estágio
inicial de construção. Assim podemos optar por algo mais simples que trate do produto em seu estágio
inicial como projeto.
Outro exemplo a ser observado é a ficha de modelagem, que costuma ser arquivada no setor ou anexa-
da ao envelope correspondente ao seu molde. Nela as informações relevantes à modelagem e à produção
estarão em evidência.
Ao observar fichas técnicas, será possível perceber quais partes dos itens são comuns em todas elas,
como o cabeçalho e as imagens de identificação.
Agora que você conheceu alguns campos importantes em uma ficha, vamos ver alguns exemplos.

5.2 FICHA DE CRIAÇÃO

A ficha técnica de criação é desenvolvida pelo Setor de Criação e de Estilo e costuma vir com um grande
campo para descrição, desenho e observações. Nessa ficha, virão as informações mais importantes para
o início do processo de desenvolvimento de produto, normalmente com uma base de corpo em escala,
desenhada em linhas claras com a intenção de facilitar a concepção do designer. Nesse desenho, são apre-
sentadas as visões da frente, lateral e de costas. Em alguns casos em que as peças desenvolvidas são mais
complexas, o profissional poderá fazer uma espécie de desenho ampliado dos detalhes aos quais quer
mais atenção. Nessa ficha, é essencial incluir as medidas ao lado do desenho, possibilitando construir o
molde com detalhes na medida exata desejada, atingindo assim o melhor resultado visual.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
126

FICHA TÉCNICA
EMPRESA COLEÇÃO
MODELO REFERÊNCIA
DATA DESIGNER RESPONSÁVEL
DESCRIÇÃO
DESENHO TÉCNICO

Observações:

MATÉRIA PRIMA FORNECEDOR CÓDIGO DESCRIÇÃO QTDE CUSTOS

AMOSTRAS

TAMANHO DA PEÇA COR DA PEÇA DATA DA APROVAÇÃO DA PEÇA MODELISTA RESPONSÁVEL

Figura 102 - Ficha de criação


5 FICHA TÉCNICA
127

5.3 FICHA DE MODELAGEM

A ficha de modelagem completa as informações iniciais que apareciam na ficha de criação. Na ficha de cria-
ção, o modelista encontra as informações necessárias para interpretar a peça desenvolvendo a modelagem de
acordo com a proposta do estilista ou designer. Em seguida, no decorrer da construção do produto, ele comple-
ta a ficha com outras informações, como os campos que dizem respeito ao molde, ao corte e ao tecido.
O campo referente ao molde deve conter um espaço para uma listagem com todas as partes compo-
nentes18 com número de vezes e a forma que será cortado. Veja abaixo, em destaque de cor, as informações
complementares mais importantes para o setor de modelagem.

FICHA TÉCNICA
EMPRESA COLEÇÃO
MODELO REFERÊNCIA
DATA DESIGNER RESPONSÁVEL
DESCRIÇÃO
DESENHO TÉCNICO

Observação:
PARTES COMPONENTES
CLASSIFICAÇÃO
NÚMEROS
NOME PAR DA MODELAGEM
DE VEZES

SIMÉTRICA

ASSIMÉTRICA

AMOSTRAS TECIDO
CORES
COR1 COR2

LARGURA COMPOSIÇÃO

GASTO COM A PEÇA PILOTO

AMOSTRA AVIAMENTOS

18 São as representações gráficas de todas aquelas que compõem um molde e que são necessárias para a confecção do modelo.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
128

MATÉRIA-PRIMA NOME FORNECEDOR CÓDIGO QTDE CUSTO

PADRONAGEM
( ) LISO ( ) XADREZ ( ) LISTRADO ( ) ESTAMPADO ( ) VELUDO

TAMANHO DA PEÇA PILOTO DATA DA APROVAÇÃO MODELISTA RESPONSÁVEL PILOTISTA RESPONSÁVEL

____/____/____
APROVAÇÕES E Aprovada ( ) Sim ( ) Não Data: ____/____/____
OBSERVAÇÕES Observações:
Corrigida ( ) Sim ( ) Não Data: ____/____/____

Figura 103 - Ficha técnica de modelagem

PARTES COMPONENTES
CLASSIFICAÇÃO DA MODELAGEM
NOME NÚMERO DE VEZES PAR

Frente 1 x

Costas 1 SIMÉTRICA X

Manga 1 x

Gola 1 x

Pé de gola 1 x
ASSIMÉTRICA

Punho 1 x

Figura 104 - Campos referentes a modelagem e a partes componentes

Essas informações são importantes porque são complementares para o corte, dado que o molde pode
influenciar diretamente no encaixe, enfesto e no corte. O campo onde aparecem as partes componentes
dos moldes pode vir ilustrado com o desenho de moldes em escala que facilitam a identificação de cada
parte componente.
5 FICHA TÉCNICA
129

5.4 FICHA DE QUALIDADE

A ficha técnica de qualidade tem a função de garantir a padronização de seus produtos. Um dos quesi-
tos mais importantes são as medidas do produto finalizado. Algumas empresas que terceirizam seus pro-
dutos costumam trabalhar com ficha de qualidade. Essas podem ser enviadas à facção que montará suas
peças e o setor de qualidade terá uma cópia. Nela, a tabela de medidas preenchidas e o desenho técnico
com indicações de pontos onde medir são fundamentais. Os produtos podem ser montados em mais de
uma oficina de costura, assim, para garantir a qualidade, a tabela de medidas será utilizada. Observe que as
medidas podem ter tolerâncias, que são pequenas variações que não comprometem o produto em relação
à estética e à vestibilidade.

Foi, a partir da contribuição do alfaiate H. Guglielmo Campaign para construção


CURIOSI de grade de tamanhos para uniformes militares, que se iniciou a padronização de
DADES roupas e de medidas.
MODELAGEM INDUSTRIAL DO VESTUÁRIO
130

FICHA TÉCNICA DE QUALIDADE


EMPRESA QUARTETO COLEÇÃO VERÃO 2016
MODELO Camisa REFERÊNCIA CA015V2016
DATA 30/03/2015 DESIGNER RESPONSÁVEL
DESCRIÇÃO: camisa masculina manga curta gola careca em meia malha

TOLERÂNCIA
MEDIDA P M G GG DESENHO TÉCNICO

A Tórax 52 54 56 58 1 I H F
J
G
B Largura barra 52 54 56 58 1
E
D L
C Comprim.Ombro/barra 68 70 72 74 1
A
D Cava 24 25 26 27 1
C
E Cava a cava 40 42 44 46 1

F Ombro 14 15 16 17 1

G Altura do decote 7 7,5 8 8,5 0,5


B

H Largura do decote 15,5 16 16,5 17 0,5

I Largura da gola 2 2 2 2 -

J Comprimento da manga 19 20 21 22 1

L Abertura do punho (boca) 18 19 20 21 0,5

MATERIAIS E AVIAMENTOS
MATÉRIA-PRIMA AVIAMENTO
TIPO COMPOSIÇÃO TIPO CÓDIGO
Meia malha 100% algodão
Ribana 100% algodão
ANÁLISE DE MAQUINÁRIO
MÁQUINA LOCALIZAÇÃO BITOLA (MEDIDA)
Overloque Cava, lateral, ombro e mangas 0,5 cm
Colarete Bainhas 2,0 cm
Colarete 2 agulhas Aplicação viés decote 0,7 cm
ANÁLISE CRÍTICA DE VESTIBILIDADE E MELHORIA DE PRODUTO
COIMBRA, Fernanda

Problemas encontrados: Soluções sugeridas:


- comprimento da peça inadequado para tamanho M - Rever a modelagem e adequar à tabela acima
REVISADO POR: Data:

Figura 105 - Ficha técnica de qualidade


5 FICHA TÉCNICA
131

CASOS E RELATOS

A importância do preenchimento das fichas técnicas


A aluna Aline Costa da Fonseca do curso Tecnólogo em Produção do Vestuário da unidade
SENAI/CETIQT, em seu projeto de conclusão de curso, relata o processo de implantação e de
adequação de ficha em uma empresa de médio porte localizada no Rio de Janeiro.
Para sugerir mudanças, ela tomou como prioridade a observação e o estudo do fluxograma do
processo de produção. Ao longo de seu trabalho, ela observou que a empresa utiliza planilhas
eletrônicas geradas por um software padrão de mercado.
Após a análise do processo, ela percebeu que alguns campos fundamentais estavam ausentes
nas fichas técnicas como: Identificação dos usuários e responsáveis por setores, versão da ficha
técnica, campos para sequência. Percebeu ainda que os campos que tratam de custos eram
incompletos ou não existiam, comprometendo a realização de cálculos precisos. Outra grave
ausência de campo era relativo à produção.
Como a empresa em questão terceirizava seus processos e recebia seus produtos com
divergências, ela viu a necessidade de adequação da ficha técnica e propôs inserir os campos
de sequência e de medidas. De acordo com os testes de uso e com a observação, a aluna
conseguiu, através de números, provar a necessidade das alterações pela de comprovação de
melhoras em processos e em custos.
Fim do Casos e Relatos

RECAPITULANDO

Neste capítulo, vimos que as fichas técnicas podem ter formatos variados de acordo com
os produtos desenvolvidos e que sua concepção tem a intenção de melhorar a leitura das
informações que queremos passar de acordo com o fluxograma de produção. Os conceitos
aqui trabalhados o ajudarão a interpretar a ficha técnica e a destacar informações
importantes, além de lhe capacitar para o desenvolvimento de fichas técnicas diferentes.
REFERÊNCIAS

1. BRASIL. Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e qualidade industrial. Resolução


02/2008. Disponível em: http://www.inmetro.gov.br/legislacao/detalhe.asp?Seq_classe=7&seq_
ato=213. Acesso em 27/08/2015
2. DINIS, Patrícia M. Interatividade: homem e objeto de moda / Patrícia M. Dinis, Cristiane Santos.
– Rio de Janeiro: SENAI/CETIQT, 2010.
3. FISCHER, Anette. Construção de vestuário. São Paulo: Bookman, 2010.
4. GRAVE, Maria de Fátima. Modelagem tridimensional ergonômica. São Paulo: Escrituras Editora,
2010.
5. IIDA, Itiro. Ergonomia projeto e produção. São Paulo: Edgar Blucher, 2005.
6. JONES, Sue Jenkyn. Fashion Design: manual do estilista. São Paulo: cosacnaify, 2011.
7. LOPES, Lizander Augusto da Costa; VIELMO, Ana Silvia de Lima; RODRIGUES, Maria Cecy Pereira.
Análise e reconhecimento de materiais têxteis. Rio de Janeiro: SENAI/CETIQT, 2010.
8. OSÓRIO, Ligia. Modelagem organização e técnicas de interpretação. Caxias do Sul: Edus, 2007.
9. SABRA, Flavio. Modelagem: tecnologia em produção do vestuário. São Paulo: Estação das Le-
tras e Cores, 2009.
10. SENAI. Departamento Regional do Rio Grande do Sul. Produção mais Limpa em Confecções/
SENAI - Departamento Regional do Rio Grande do Sul. – Porto Alegre: Centro Nacional de Tecnolo-
gias Limpas SENAI, 2007.
11. SOUZA, Patrícia de Mello. A modelagem tridimensional como implemento do processo de
desenvolvimento do produto de moda. 2006. 113 f. Dissertação (Mestrado em Desenho Industrial)
– Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Universidade Estadual Paulista. Bauru, 2006.
Studio Modellare. Disponível em HYPERLINK “http://studiomodellare.blogspot.com.br/”
MINICURRÍCULO DO AUTOR

CYNARA LOURENÇO
Possui pós-graduação em Docência do Ensino Superior (2012) e graduação em Tecnólogo em Produ-
ção do Vestuário pelo Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (2008) além de formação no
curso de Estilismo pela mesma instituição (1999). Tem experiência no desenvolvimento de produtos
em malharia retilínea e na área de educação com ênfase em modelagem desde 2004.
ÍNDICE REMISSIVO

A
ABNT, 25
Antropometria, 17
Aviamentos, 66
B
Bitola, 127
C
Croqui de moda, 36
D
Diagonal, 96
F
Facção, 124
M
Moulage, 75
O
Operação, 124
P
Partes componentes, 127
Perpendicular, 96
Pilotagem, 51
Prototipia, 102
T
Tag, 119
Tecido com felpa, 58
Trama, 91
U
Urdume, 91
V
Vestibilidade, 102
SENAI – DEPARTAMENTO NACIONAL
UNIDADE DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA – UNIEP

Felipe Esteves Morgado


Gerente Executivo

Luiz Eduardo Leão


Gerente de Tecnologias Educacionais

Fabíola de Luca Coimbra Bomtempo


Coordenação Geral do Desenvolvimento dos Livros Didáticos

Catarina Gama Catão


Apoio Técnico

CENTRO DE TECNOLOGIA DA INDÚSTRIA QUÍMICA E TÊXTIL DO SENAI – SENAI CETIQT

Sérgio Luiz Souza Motta


Diretoria Executiva

Fernando Rotta Rodrigues


Diretoria de Administração e Finanças

Jair Santiago Coelho


Diretoria Técnica em exercício

Paula Celestino de Almeida


Coordenação do Desenvolvimento dos Livros Didáticos

Cynara Lourenço
Elaboração

Marilene Rocha
Revisão Técnica

Fernando Celso Garcia da Silveira


Gestão do Conteúdo
Yana Torres de Magalhães
Gerência de Educação

Maurício Rocha Bastos


Coordenação do Projeto

Bárbara Vale Pocci


Heide Gomes Casagrande
Heloísa Helena dos Santos
Paulo Sampaio
Colaboração

Paulo Sampaio
Design Educacional

Rodrigo Monteiro
Revisão Ortográfica e Gramatical

Cynara Lourenço, Wellington Lellis, Fábio Ribeiro, Heide Casagrande


Fotografias, Ilustrações e Tratamento de Imagens

Carlos Magno Xavier Bacelar de Carvalho


Geralda Maria das Graças Prados
Marcelo Souza da Silva
Vitoria Prado dos Santos
Comitê Técnico de Avaliação

Fábio Ribeiro
Diagramação

Rosimar Sofia Tavares Duarte – CRB-6 /1876


Normalização

i-Comunicação
Projeto Gráfico

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