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r$35
mar
coleções
barbara valente
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LINIBRAZIL.COM
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editOrial
Barbara Valente veste
PRADA fotografada por Lufré
T
Tradicionalmente, as edições de março da Vogue Brasil são ainda Não é à toa, portanto, que Maria Grazia reforce em suas
mais dedicadas à moda que de hábito. Mês de troca de coleções, coleções e discursos que a moda é um instrumento de libertação
este é o momento em que apresentamos nossa seleção do que há feminina. Foi essa a ideia que norteou seu antigo colega Pierpaolo
de melhor nelas. Por isso, nas páginas a seguir, você vai encontrar Piccioli na criação da coleção de verão 2024 da Valentino, também
os looks mais emblemáticos das marcas estrangeiras e nacionais. destacada aqui em Relevo Barroco. Ao criar um novo tecido que
Em The Bold Type, Barbara Valente, nossa estrela da capa, uma expõe o corpo e, portanto, exalta a autonomia das mulheres, ele
das tops brasileiras de maior proeminência no circuito faz um contraponto aos avanços da ultradireita italiana.
internacional, veste emblemas da estação das grandes casas, que Outra mulher muito poderosa que ocupa nossas páginas é a
mostram um verão do Hemisfério Norte cheio de personalidade, sér via Marina Abramović, que esteve no Brasil para a
ousadia e brincadeiras com texturas. Na moda nacional, o mood inauguração de sua obra Generator na Usina de Arte, em
é semelhante: divertir-se com os tecidos e suas superfícies é uma Pernambuco, a primeira dela na América do Sul. Em uma
tendência que também desembarcou por aqui. conversa inspiradora e divertida com o editor de cultura e lifestyle
Ainda nesta lupa que jogamos sobre a moda neste mês, não Nô Mello, a artista falou sobre sua relação com sexo, longevidade
deixe de ler o perfil de Delphine Arnault, CEO da Dior e única e trabalho. Por fim, ainda na temática, não deixe de ler Tempo
filha mulher do todo-poderoso Bernard Arnault, diretor-geral Rei, em que a editora-assistente Alice Coy narra sua história de
do grupo LVMH. Em um texto cheio de detalhes saborosos sobre congelamento de óvulos e reflete sobre as conquistas femininas,
esta discreta executiva – mas que, não se engane, sabe muito bem como o direito a preservar uma fase idílica de sua vida, e as
viver a vida –, ela fala sobre a responsabilidade de comandar não limitações que a natureza ainda impõe às pessoas que desejam
somente uma das marcas mais importantes do grupo como um gerar filhos a partir de seus próprios óvulos. Além do avanço da
patrimônio cultural da França. O texto também destaca o fato de ciência que permite procedimentos como esse, a boa notícia é o
que a rentável maison, além de ser comandada por Delphine, tem aumento da compreensão de que a maternidade é uma condição
outra mulher, Maria Grazia Chiuri, na liderança criativa. Não
deixa de ser incômodo que essa observação ainda precise ser feita
em pleno 2024 – o ano passado trouxe alguns retrocessos para a
que vai muito além dos vínculos biológicos. Boa leitura.
*
indústria, entre eles a predominância, quase na totalidade, de
homens brancos ocupando os cargos de estilistas na mudança de
cadeiras das grandes marcas. Maria Laura Neves
Redatora-Chefe
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REDAÇÃO MODA
Editora-Assistente de Moda Alice Coy Stylist Sênior Sam Tavares
Editora de Beleza e Wellness Bárbara Öberg Produtora Executiva Déia Lansky
Editora-Assistente de Beleza e Wellness Thaís Varela
Editor de Cultura e Lifestyle Nô Mello SUSTENTABILIDADE
Editora Digital Paula Mello Editora Contribuinte Fernanda Simon
Produtores de Conteúdo Bruno Costa, Luxas Assunção,
Milena Otta, Sara Magalhães e Thiago Baltazar SUA IDADE
Analista Administrativa Editorial Andrea Zilet Editora Contribuinte Claudia Lima
ARTE
Designers Heitor Ferreira, Karina Yamane e Sthefanie Louise
CORRESPONDENTES
Paris Isabel Junqueira e Vitória Moura Guimarães
Milão Mari Di Pilla
COLABORADORES
Ale Virgilio, Ana Carolina Sabadin, Angel Moraes, Anne Carvalho, Autumn Sonnichsen, Bill Macintyre, Bruno Astuto,
Caia Ramalho, Costanza Pascolato, Cris Biato, Fabio Cordeiro, Fernando Mendes, Gil Inoue, Henrique Martins, Igor Furtado,
Iude, Ivan Erick, Jean Labanca, Jô Castro, Joana Wood, João Arraes, Juju Bonjour, Leandro Porto, Leca Novo, Leo Faria,
Lu Prezia, Lufré, MAR+VIN, Marcela Dini, Maria Magalhães, Mariana Galhardo, Natália Guadagnucci,
Neel Ciconello Morikawa, Paula Jacob, Philipe Mortosa, Renata Brosina, Robert Estevão, Studio Bruno Rezende, Suy Abreu,
Telha Criativa, Thiago Andrill, Veridiana Cunha, Vetro Retouch, Xico Buny, Wesley Diego Emes
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Frederic Zoghaib Kachar, Rafael Menin Soriano, Manuela U. C. de Mattos, Leonardo Dib, Jason Miles, Christiane Clare Mack e Tiago Afonso
VOGUE BRASIL é uma publicação das Edições Globo Condé nast S.A. Av. nove de Julho, 5.229, tel. +55 (11) 2322-4600 CEP 01407-907 São Paulo, SP
Para contratação de assinatura e atendimento ao assinante, entre em contato pelos canais:
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Serviço de Atendimento ao Cliente www.sacglobo.com.br
Impressão Coan indústria Gráfica Ltda. - Avenida tancredo neves, 300, Revoredo – tubarão / SC
sumáriO
Sheila Bawar usa blusa
e saia mArinA
março
BitU no editorial
INVOGUE Toque brasileiro
32 Sem eSforço
Como usar, em 2024, oito peças que eram
best-sellers no guarda-roupa de Carolyn
Bessette-Kennedy
46 A Arte do enContro
As marcas Lenny niemeyer e misci se unem
para lançar uma coleção que abrange do
beachwear aos acessórios
50 PAPo SinCero
Comemoramos um ano da seção “diálogos”
com entrevistas de profissionais da beleza, da
fotografia e da moda de diferentes gerações
58 nA horA CertA
Victoria Beckham faz sua estreia na criação
de relógios a convite da Breitling
60 mão nA mASSA
Promessa da nova geração da joalheria
brasileira, a nart Studio está por trás das joias
do último desfile da herchcovitch; Alexandre
colabOradores
Angel Moraes
“A primeira vez que entrei em
um set foi o suficiente para
perceber que era aquilo que eu
queria fazer”, confessa a
maquiadora sobre a descoberta
do caminho profissional. A
beauty artist paulistana iniciou
a carreira aos 17 anos em
salões de beleza, mas entendeu
que não era nesse cenário que
gostaria de seguir. “A minha
maior inspiração foi Maxi
Weber. Quando vi os seus
trabalhos nas páginas das
revistas, meus olhos
brilharam”, recorda. Desta
vez, Angel traz uma proposta
minimalista para o visual do
ensaio Sem Esforço. “Apesar de
seguir essa linguagem com
frequência, me desafiei na
hora de brincar com as cores.”
MAR+VIN
A dupla Marcos Florentino Barbara Valente
e Kelvin Yule já coleciona Nascida em Salvador, ela é um dos nomes mais quentes da moda.
capas e ensaios especiais para Aos 27 anos, coleciona feitos que vão desde uma estreia exclusiva
a Vogue Brasil. Mas, desta na Prada, em 2015, quando tinha apenas 18 anos, até campanhas
vez, o sabor é diferente. recentes para a Balmain e Tom Ford – e ainda sonha em
“Para nós, é importante trabalhar com Maximilian Davis, diretor de criação da
fotografar coleções nacionais Ferragamo. Barbara era, portanto, a escolha perfeita para dar
e ter a possibilidade de vida ao nosso editorial de capa, que celebra as coleções
construir um imagético de internacionais (e sai no mês de aniversário dela). “Um presente
moda que eleva as criações, mais que especial”, diz. “Minha primeira capa na Vogue Brasil foi
evidenciando o nosso papel em 2020. Quatro anos se passaram e esta edição me fez olhar
como um polo de produção para trás, ver a minha trajetória e, no agora, me orgulhar de
de destaque, digno de quem sou: criar e deixar ser parte da criação.” Em vogue.com.br,
reverência e reconhecimento”, você confere uma entrevista completa com a modelo.
comentam. Eles trouxeram a Caia Ramalho
REPORTAGEM: Renata Brosina. FOTOS: Acervo pessoal. Divulgação
sensibilidade característica Colaboradora assídua das
– e um enorme orgulho – nossas páginas, a fotógrafa é Paula Jacob
para cliques que valorizam as conhecida por dar uma boa “Foi um prazer imenso poder
nuances da moda nacional dose de frescor às imagens de fazer parte da rotina da Vogue,
no ensaio Toque Brasileiro. moda. Por isso, ela ficou que tem um time talentoso,
encarregada de clicar uma comprometido e inspirador”,
colaboração inédita entre compartilha a nossa editora
Lenny Niemeyer e Misci, que contribuinte Paula Jacob. Ao
transcende gerações e traduz o longo dos últimos quatro
espírito do momento formado meses, a jornalista, professora
por dois nomes criativos, cada e pesquisadora, que esteve no
um forte no seu tempo. dia a dia da revista cobrindo a
“Acompanho e admiro o licença-maternidade da
trabalho da Lenny há muitos diretora de redação, Paula
anos. Foi incrível criar uma Merlo, trouxe seu olhar
atmosfera solar para esse sublime do cinema e da
ambiente tão lindo que é a literatura para os conteúdos
nova loja da Misci”, diz. digitais e do impresso.
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INVOGUE
sEm
EsFORçO
25 anos após sua morte, a americana
carolyn Bessette-Kennedy segue
inspirando a moda com seu estilo
atemporal. confira como usar, em
2024, oito peças que eram Best-sellers
no guarda-roupa da relações púBlicas
e esposa de John f. Kennedy Jr.
fotos FERNANDO mENDEs styling JOANA WOOD
1.
Saia
caramelo
Troque a versão reta da qual Carolyn era fã
por um modelo transpassado, que revela o
corpo conforme quem usa se movimenta, e
mantenha o styling com bota de cano longo.
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2.
Tricô de
caSHmere
O suéter camelo ganha clima preppy sobreposto
à camisa branca e shorts - e usado com boné
e meia branca de algodão.
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INVOGUE
camisa (r$ 5.120) e saia
(r$ 3.740) maX mara, top
INTeNSIFY me (r$ 230),
óculos ZereZeS (r$ 495) e
brincos PraSI (r$ 9.100). Na
página ao lado, casaco Troca
De lUXo (r$ 5.990), camiseta
aNImale (r$ 298), saia DoD
alFaIaTarIa (r$ 890),
sandálias mYa HaaS (r$ 180),
lenço B. lUXo (r$ 80), brincos
e relógio carTIer e bolsa
STella mccarTNeY na
cJ mareS (r$ 10.090)
3.
Floral
mIúDo
Foram raras as estampas para as quais Carolyn
abriu exceção. Aposte em uma versão com transparência
do floral, para ser usada por cima de um top-sutiã
e despretensiosamente desabotoada.
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4.
Casaco
7/8
Para além do alto-inverno,
a peça ganha temperaturas
menos amenas acompanhada
de minissaia, flats, lenço
amarrado na cabeça e tote
minimalista de couro.
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6.
Calça de veludo
coTelê
A cara dos anos 1970, o cotelê nem
sempre recebe seu devido mérito - e
adiciona textura ao look básico, com
camisa branca de seda. Misturar
diferentes materiais era um dos
segredos de Bessette.
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7.
Hannah rodrigues. aSSISTeNTeS De
STYlING: christiane martins e Henrique
manninger. camareIra: Daniela campelo.
BeleZa: angel moraes com produtos DIor.
aSSISTeNTe De BeleZa: michele medrado.
TraTameNTo De ImaGem: marcela Dini.
aGraDecImeNTo: Galeria Teo
lBD
Frequentemente, a escolha da americana para eventos de gala, o little
black dress da temporada surge em tecidos luxuosos e pontuado por
recortes que revelam estrategicamente o corpo.
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INVOGUE
c
que colocava o pé para fora de casa. e olha que os Bessette-Kennedy viviam em um
prédio sem porteiro, não tinham um carro com motorista, carolyn saía a pé todos
os dias. a relações-públicas foi uma das primeiras pessoas a ser clicada na rua por
conta de seu estilo (não só por ele, obviamente), em uma época pré-street style e na
qual vestir celebridades com roupas de grife ainda não era tão importante quanto se
tornou. “ela era alguém que entendia a atemporalidade de uma forma natural e in-
certa vez, ao adquirir uma roupa de esqui da trínseca. Nada nela era forçado, foi isso que a tornou tão carismática. Seu estilo não
Prada, carolyn Bessette-Kennedy pediu aos fun- era opulento, mas era luxuoso. Não é um estilo que chama a atenção, é um que
cionários da loja que removessem a logomarca tenta desviá-la da atenção. com isso, ela faz com que as pessoas prestem mais aten-
aparente da peça. assim era a americana: nem ção. o fato de ter poucas peças mostra o quão moderna ela era”, disse a estilista
mesmo em um momento de lazer, queria usar Gabriela Hearst em depoimento ao novo livro sobre carolyn.
uma grife como “validação” do seu senso de esti- Seu vestido de noiva foi o marco de uma era pós-anos 1980, um divisor de águas
lo. carolyn não vestia logos, não tinha um closet para uma geração que havia crescido assistindo pela televisão Diana se casar em 1981
gigantesco, praticamente não usava joias (nem em com seu “bolo” de tafetá e renda – e cauda de quase oito metros de comprimento.
seu casamento havia brincos à vista; e o colar Van ousado e revolucionário, quebrou, da maneira mais elegante possível, todas as regras
cleef de diamantes que ganhou da sogra Jackie do que se esperava de uma noiva até então, transformando-se na epítome do mini-
nunca foi avistado em público) e jamais circulava malismo dos anos 1990. “o vestido de carolyn era um veículo para iluminá-la. essa
com uma mesma marca da cabeça aos pés. Sem foi realmente uma afirmação sobre o alvorecer de uma nova era, a ideia de que a
exceções inclusive para a calvin Klein, onde tra- verdadeira simplicidade pode ser absolutamente bela. ela simplesmente era quem
balhou entre 1989 e 1996 como relações públi- era, e parte de seu apelo vinha de não tentar ser outra coisa senão ela mesma”, disse
cas. No momento em que se completam 25 anos certa vez à Vanity Fair a consultora de moda Stacy london, que costumava cruzar
de sua trágica morte em um acidente de avião e com carolyn em eventos de moda nos anos 1990. ela era a própria essência da moda
no qual seu relacionamento com John F. Ken- americana: tinha o poder de fazer tudo parecer fácil, acessível, descomplicado.
nedy Jr. será dissecado na série American Love ao contrário da sogra, acostumada a vestir marcas mais glamorosas, como oscar
Story, de ryan murphy, carolyn ganha também de la renta e Valentino, carolyn olhava para looks mais vanguardistas, que subver-
um novo livro sobre seu estilo, o CBK: Carolyn tiam as ideias de “feminino” da moda da época. além de Prada, suas marcas favori-
Bessette-Kennedy: A Life in Fashion (abrams tas incluíam Yohji Yamamoto, ann Demeulemeester e comme des Garçons.
Books), e segue fascinando a moda. Yamamoto é, por exemplo, o responsável pelo vestido preto sem alças que ela usou
carolyn e John foram a realeza americana: no Gala da Sociedade de arte municipal de 1998, combinado a luvas longas da
sem uma família real para chamar de sua, os mesma cor. a admiração era recíproca, com Yamamoto dizendo na época que
Kennedy preenchiam essa lacuna na cultura – e Bessette-Kennedy era uma inspiração para algumas de suas coleções.
nos tabloides – do país. Quase uma versão o fato de carolyn ser uma mulher que trabalhava também aumentava esse sen-
norte-americana da princesa Diana, uma mu- timento de “realidade” que emanava ali. a americana ingressou na calvin Klein
lher relutantemente colocada sob os holofotes como associada de vendas, em Boston, cidade onde cursou faculdade, e atuou como
por conta de seu casamento, carolyn até que personal shopper de celebridades e clientes importantes antes de chegar ao departa-
conseguiu se manter fora do radar durante os mento de relações públicas da marca. Na calvin Klein, carolyn inclusive foi uma
dois anos de namoro com John Kennedy Jr. ao das responsáveis pela icônica campanha com Kate moss e mark Wahlberg em 1992,
se casarem numa cerimônia secreta para 40 con- um dos trabalhos mais importantes do início da carreira da modelo inglesa – foi
vidados numa pequena ilha na Geórgia, tão Bessette, junto ao diretor de arte Fabien Baron, que convenceu calvin de que Kate
poucas pessoas sabiam o que estava acontecendo era exatamente o que ele precisava. “Sua Birkin carregava a nécessaire de maquiagem,
que, quando a notícia foi divulgada no dia se- agenda, telefone e uma muda de roupa. Havia uma sensação de realidade nela e em
guinte na imprensa, familiares do filho do 35º sua vida”, escreveu edward enninful no prefácio do livro. “ela era uma de nós,
presidente dos estados Unidos foram pegos de trabalhando de dia com moda e festejando à noite.”
surpresa. a foto do casal na escadaria da igreja carolyn é também, claro, beneficiada por padrões que colocam a branquitude como
rodou o mundo – iniciando ali um apetite insa- referência. Uma mulher que atendia perfeitamente à beleza idealizada na época (bran-
ciável por imagens deles. Nela, carolyn usa o ca, magra, loira), em uma sociedade na qual quem correspondesse menos ao estereó-
slip dress cortado em viés do amigo Narciso ro- tipo jamais teria alcançado o mesmo efeito. a glorificação posterior de seu estilo foi,
driguez, com quem havia trabalhado na calvin infelizmente, “ajudada” por sua morte prematura: praticamente todas as fotos que vemos
Klein e que, no ano seguinte, lançaria a própria de carolyn foram tiradas ao longo dos 34 meses que durou seu casamento. Se não
marca, e pouquíssima maquiagem. fosse aquela noite nebulosa de 16 de julho de 1999, na qual John John decolou no pe-
enquanto fazia um esforço consciente para queno avião particular do aeroporto em Nova Jersey rumo à martha’s Vineyard (seu
evitar a vida pública (ela não dava entrevistas, não primeiro voo sem instrutor na nova aeronave, em uma noite de visibilidade limitada,
posava para sessões de fotos, mal há registros na qual outros pilotos decidiram não decolar), quem sabe o que teria acontecido? Teriam
inclusive de sua voz), carolyn passou a estrelar eles se separado na sequência (há boatos de várias brigas entre o casal)? Teria ela acom-
diariamente a capa dos jornais – e seu nome não panhado Jonh se a revista fundada por ele (George, lançada com sucesso em 1995, mas
saiu mais da Page Six. Não apenas os passeios do naquele momento em crise por ainda não ter atingido lucro) não fosse para frente e ele
casal por Tribeca, onde moravam, acompanhados decidisse se entregar à vida pública como boa parte da família?
do cachorro Friday, eram retratados, como ela recriar a aparência de carolyn é possível. emanar seu estilo sem esforço é o
passou a ser perseguida por fotógrafos a cada vez verdadeiro desafio. VÍVIaN SoTocÓrNo
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Nesta página,
carolyn clicada pelas
ruas e festas de
manhattan e, acima,
vestindo Yohji
Yamamoto no Gala
da Sociedade de arte
municipal de 1998
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INVOGUE mood
1 Tim-Tim!
Para elevar o brinde, aposte em acessórios mais que
especiais, como a coqueteleira revestida com o Damier de Pharrell
Williams, ou o saca-rolhas com as linhas orgânicas de Elsa Peretti
fotos Xico Buny edição VÍViAn SoTocÓRno
2
FoTos (stills): divulgação. beauTY arTisT: Koichi sonoda. produÇÃo de moda: neel ciconello morikawa. modeLo: carol ruppenthal
3
1. dior
2. carTier
(r$ 5.300, o set com seis)
3. TiFFanY & co. (r$ 1.800)
4. doLce & Gabbana
na FarFeTcH
(r$ 3.398 a unidade)
5. Versace (r$ 6.248)
À direita, coqueteleira Louis
VuiTTon (r$ 7.050)
40 VOGuE BRASiL
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VOGuE BRASiL 41
1. maGda buTrYm
na FarFeTcH (r$ 10.113)
Amarradona
2. aquaZZura no cJ
FasHion (r$ 7.600)
sandÁLias com Tiras que enrolam
3. ricK oWens (r$ 9.524)
4. paris TeXas
nas pernas deixam qualquer look mais
5 5. scHuTZ (r$ 215) cHarmoso, especialmente em versões
acima, sandália
boTTeGa VeneTa com saltos finos e aplicações decorativas
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INVOGUE mood
1
42 VOGuE BRASiL
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VOGuE BRASiL 43
Rústico cHique 1
Bolsas com shapes clássicos ganham
revestimento de paLHa e detalhes de
couro. Para carregar tudo e mais um pouco
1. cHaneL
2. cHLoÉ (r$ 6.440)
3. LoeWe
4. Fendi (r$ 16.500)
5. prada (r$ 18.500)
À esquerda,
bolsa serpui (r$ 795)
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INVOGUE news
brisa leve
Diretor criativo da marca homônima e diretor de estilo da
Água de Coco, o baiano Vitorino Campos se uniu ao
fotógrafo Ivan Erick e ao tratador de imagens Philipe
Mortosa para fundar a Gammba (o nome faz referência à
praia de Gamboa, em Salvador). A nova etiqueta dos três
amigos traz roupas atemporais para o dia a dia, feitas de fibras
naturais, duráveis e confortáveis. Rua Augusta, 2.676, SP
Abaixo, vestido de tricô GAMMBA (R$ 1.390)
ORIGAMI REPORTAGEM: Luxas Assunção e Vívian Sotocórno. FOTOS: Rafael Evangelista (Louis Vuitton) e Divulgação
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VOGUE BRASIL 45
Bem-me-quer
Oitenta diamantes com lapidação navete e 2.286 diamantes com lapidação
brilhante, totalizando quase 44 quilates, formam o colar de alta-joalheria Galaxie
Monogram da Louis Vuitton, que demandou 350 horas de trabalho para sua
confecção.A peça reinterpreta a icônica flor do monograma da grife francesa, com
direito a pedras no formato, o corte LV Monogram Star, exclusivo da Louis Vuitton.
Com 80 centímetros, ainda pode ser dividida em quatro partes, transformando-se
em choker, colar médio ou braceletes. Shopping Cidade Jardim, piso térreo, SP
Acima, colar Galaxie Monogram, da LOuIS VuITTON
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INVOGUE
A ARTE DO
ENCONTRO
por ALICE COY fotos CAIA RAMALHO styLinG SAM TAVARES
As mArcAs Lenny niemeyer e misci se unem pArA
LAnçAr umA coLeção que é refLexo dA AmizAde
sincerA de seus respectivos diretores criAtivos
"e
“Eu conheci o Airon em uma sessão de fotos da Sinop, cidade no Mato Grosso onde ele nasceu,
Vogue lá no Rio. Não sabia do trabalho dele até até o Leblon, bairro carioca onde a santista
então. A gente engatou uma conversa com tanta Niemeyer se estabeleceu.
sinergia, que eu quase não vi as fotos começarem. O desenvolvimento do projeto, portanto,
Foi amor à primeira vista”, diz Lenny Niemeyer. incluiu algumas pontes aéreas para os times
Não por acaso, sua marca homônima lança em se reunirem. Quando aconteceram no Rio,
agosto uma coleção com a Misci, comandada ficaram hospedados na casa de Lenny. “Para
por Airon Martin. A união de duas grifes bra- mim, não tem esse negócio de não se envolver
sileiras independentes para cocriar uma linha pessoalmente com quem você trabalha. Cha-
grande, que estará à venda em todo o país, não mo para tomar um uísque sour lá em casa, para
é um feito comum na moda nacional. Ainda ouvir uma música, para viajar junto”, diz a
mais considerando o encontro intergeracional estilista. Superanfitriã, ela costuma imprimir
de ambas – a label de Lenny tem três décadas a fotos de seus hóspedes para colocar em
mais do que a de Airon. Porém, há mais que os porta-retratos. “A do Airon eu nem tive cora-
une do que os diverge. Os dois estudaram design gem de tirar, está lá ainda.” Durante esse perío-
(ela, industrial; ele, de produtos e serviços), e não do, ela priorizava reuniões à tarde, para os seus
moda, e tem passagens na arquitetura. “Essa convidados poderem ir à praia de manhã. “Eu
ideia começou porque temos uma visão parecida redescobri a minha juventude na casa da Lenny”,
sobre a indústria. Valores semelhantes. E foi diz Airon. “Ela é bizarra. Aproveita a noite, bebe
interessante notar como isso se reflete também e, no dia seguinte, está fazendo ioga de manhã.
em uma estética em comum”, diz Airon. Mode- Me senti jovem acompanhando a rotina dela”,
lagens que cobrem e mostram o corpo feminino, brinca. Esse acolhimento entre colegas da in-
formas limpas com inspirações modernistas e dústria não foi algo que ela sentiu no início de
paletas de cor parecidas são alguns desses ele- sua carreira. Lenny se lembra de pedir indica-
mentos. O marrom, por exemplo, um tom con- ções de fornecedores e só escutar negativas.
siderado difícil de se vender para consumidoras “Era difícil, eu me sentia repudiada. Ao invés
brasileiras, é um best-seller das duas grifes. de uma união que nos fortalecesse, tudo era
O lançamento inclui roupas, beachwear e
acessórios. O crochê de palha de buriti da
Associação de Artesãs de Barreirinhas, no
Maranhão, um dos destaques do último des-
Na página ao lado, os estilistas Lenny
file da Lenny, recobre a Bambolê, bolsa hit da Niemeyer e Airon Martin. Atrás, a
Misci. Dois vestidos da apresentação que a partir da esquerda, Jamile Lima veste
grife de Airon fez na Pinacoteca em junho fo- maiô (R$ 678) e Thayane Martins veste
maiô (R$ 728). Todos os looks são da
ram reimaginados em lycra e viraram maiôs. coleção colaborativa entre a LENNY
A coleção foi pensada como uma viagem de NIEMEYER e a MISCI
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VOGUE BRASIL 47
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INVOGUE
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VOGUE BRASIL 49
INVOGUE dIÁLOGOS
papo sincero
no especial que comemora um ano da
seção "diálogos", reunimos profissionais
da beleza, da fotografia de moda e
estilistas de diferentes gerações para
se abrirem, trocarem – e nos inspirarem
por vívian sotocórno, alice coy e luxas assunção
fotos gil inoue stYling saM tavares
50 vOgue Brasil
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vOgue Brasil 51
Isabel garcIa e MarIna zabenzI o HD, o monitor, são muito caros. E como você vai fazer um
As fotógrafas de moda cariocas discutem as dificuldades de ser uma shooting para uma revista sem um monitor ou sem um cabo? Ser
mulher nesse mercado, o olhar, a técnica e a fotografia feita pelo celular um fotógrafo profissional continua sendo um pouco elitista.
Vogue: Talvez por ser mais democrático passe a impressão de ser
acessível para todo mundo, o que não é. Nem todos têm dinheiro
Vogue: Como o Rio de Janeiro moldou a identidade de vocês? para investir na própria carreira.
Isabel: O Rio é uma cidade muito formativa, é visualmente forte, Marina: Eu sinto que, em algum momento, todo mundo vai ter
com verão o ano inteiro, tem um way of life que é impresso em você que sentar e conversar sobre investir na carreira. Você investe tudo
– e nas tuas imagens. Mas o Rio que eu conheci foi muito diferen- que tem querendo um retorno. E, às vezes, você investiu seu di-
te do Rio da Marina, porque o dela já teve muito mais violência. nheiro para fazer uma imagem apenas da maneira que outra pessoa
Quando comecei a fotografar, todas as revistas e agências de publi- queria, sabe? O processo criativo, hoje, é esmagado, quase não
cidade tinham filiais no Rio, era mais fácil. Em uma época também existe. São raras as vezes que a gente consegue de fato se colocar
mais rigorosa com a técnica, era preciso revelar o filme, então tinha para fazer o que quer enquanto equipe.
que dar certo, sem segunda chance. Técnica e mulher nunca é uma
coisa que associam, né? Há sempre uma desconfiança: “será que ela Marina: Na minha humilde opinião, o que importa é o olhar.
vai conseguir?”. Acho que já não existe isso mais nesta geração... Sinto que existem fotógrafos muito bons, mas que não são valori-
Marina: Sinto que existem pautas mais urgentes, absurdos que zados porque não têm a estrutura ou a técnica necessária. Às vezes,
acontecem no mercado com pessoas trans, pessoas pretas. Eu as pessoas ficam viciadas em um tipo de fotografia e não se viram
consigo ter uma conversa com colegas de trabalho e ser escutada, para uma parada que pode ser mais interessante, sabe? Poucas
respeitada, mas ainda passo por desconfortos por ser mulher. portas se abrem, porque quem está experimentando é a galera que
Isabel: Jamais aconteceria com você o que aconteceu comigo mil está com o celular.
vezes: ao chegar em um set, dizerem: “o fotógrafo não vem?”. Isabel: Cada vez mais, essa linguagem do celular está sendo valo-
Marina: Já aconteceu muito. “Ah, você é fotógrafa? Achei que você rizada. É algo menos encerrado na técnica e mais no olhar.
era filha de alguém que estava aqui.” Marina: Eu acho que existe, sim, um lugar, mas ainda é um lugar
Isabel: Mas aí acho que tem a ver também com a sua juventude... diferente. Muitas pessoas não consideram fotografia de celular uma
Marina: É, mas também por ser mulher. Sinto que um homem fotografia. É o futuro, eu amo fotografar com celular.
cis, jovem, branco seria considerado um pequeno gênio. Para mim,
essa pauta pega bastante em vários momentos. Ao me pergunta- Isabel: Como percebeu que queria ser fotógrafa?
rem se eu consigo entregar ou não. Ao pedir algo cinco vezes para Marina: Desde pequena tive acesso a celular com câmera. Fi-
um assistente e ele fazer outra coisa completamente diferente, por cava gravando várias coisas sozinha, editando. Meu pai tinha
julgar que sabe mais que você. um amigo que sabia mexer no After Effects, eu o encontrava em
seu escritório para que ele pudesse me ensinar a mexer. Um
Vogue: Isabel, você começou no fotojornalismo... pouco mais velha, comecei a fazer editoriais com amigas, fotos
Isabel: Eu fazia faculdade de cinema na Universidade Federal de show de amigos, clipes. Não era ligada em roupas, até hoje
Fluminense, mas desde pequena gostava de fotografia. E aí fui não consigo acompanhar de fato, mas a moda como criação me
trabalhar como fotojornalista. Foram sete anos muito legais, viajei emociona. Eu fazia as redes sociais do Vitorino Campos. E, em
o Brasil inteiro, uma experiência de vida. Depois que saí daqui, um dia de backstage no SPFW, me lembro de chorar por ter
continuei viajando, com uma vontade muito grande de fotografar acompanhado todo o processo dele.
tudo o que fosse aparecendo na minha frente. Isabel: Também me interesso pela fantasia que a moda nos permi-
Marina: Eu sinto que eu registro tudo porque tenho um celular e te criar. Continua (pág. 174)
isso faz parte um pouco de como eu observo as coisas. A nossa re-
lação com a fotografia é diferente, né? Porque a minha já veio de
uma câmera digital, desenvolvi o meu olhar com o celular.
Isabel: Eu trabalhei com câmeras muito grandes, e tinham
coisas que eram tecnicamente difíceis de aprender sozinha.
O celular tem uma instantaneidade muito legal. Enquanto que
uma foto 4x5, 8x10, é muito da tua cabeça. Eu morava em Nova
York quando o digital começou. Vendi todas as minhas câmeras,
porque, se eu não fizesse isso, eu nunca conseguiria aprender, a Nascida no Rio de Janeiro, Isabel Garcia começou sua
carreira como fotojornalista antes de migrar para a moda.
câmera era uma extensão do meu corpo. A única solução foi Clicou para grifes como Georges Henri e Maria Bonita,
nunca mais tocar em uma máquina analógica. além de publicações como a Vogue Brasil. Viveu 16 anos
Vogue: Vocês acham que é mais fácil trabalhar com fotografia hoje, entre Paris e Nova York, tempo em que colaborou com
títulos internacionais da Condé Nast e fotografou para
levando em conta a tecnologia? lojas de departamento como Saks Fifth Avenue e Macy’s
Isabel: Acho mais democrático, porque, quando eu comecei,
Além da Vogue Brasil, aos 24 anos, Marina Zabenzi já
tínhamos um problema econômico básico. Não tinha como você teve suas fotografias estampadas em publicações como
comprar uma câmera, a não ser que você tivesse um “paitrocínio”. Vogue e GQ Portugal, trabalhou com marcas como Misci
Marina: Eu sinto que hoje em dia, de alguma forma, também é e Renata Brenha e dirigiu clipes de músicos como Ana
Frango Elétrico e Hiran (em um feat com Tom Veloso).
necessário algum tipo de investimento, porque os materiais que Aos 16 anos, já registrava bastidores de desfiles de moda
precisamos para trabalhar profissionalmente, desde o cabo “x” até e, em 2021, lançou o fotolivro Entre
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INVOGUE dIÁLOGOS
saMIr ferreIra e MaxI Weber Maxi: E você, Sasa, como começou?
A dupla de profissionais de beleza debate inícios de carreira, samir: Ainda criança, pegava os batons da minha mãe. Na escola,
o papel da maquiagem na vida de uma pessoa e transfobia sempre que alguma amiga queria fazer alguma maluquice no cabelo,
eu era a pessoa que ela buscava. Me formei em biomedicina e vim
para São Paulo fazer um mestrado em biotecnologia. Eu convivia
samir: Como começou o seu interesse por maquiagem e cabelo? com amigos artistas e pensava: “nossa, mas será que vou ser só da
Maxi: Minha mãe era revendedora Avon, e eu cresci entre reuniões, ciência?”. Nasci no norte de Minas e, na minha cidade, trabalhar com
revistas e produtos. Eu desenhava bem e, com o tempo, passei a beleza era fazer noiva, formatura. E eu não me via em um salão. Em
maquiar minhas irmãs. Aos 14 anos, vieram os videoclipes, as su- São Paulo, passei a maquiar as colegas do mestrado.
permodelos, e minha mente expandiu. No fim da década de 1990, Maxi: Você cobrava?
eu conheci uma drag queen, a Alfredo, que era a melhor Tina Turner samir: Nada. Quando me formei, minha orientadora da faculdade
que tínhamos no Brasil. Fiquei enlouquecida, a transformação me me deu de presente uma maleta de maquiagem. Porque, quando eu
chamou a atenção. Comecei a maquiar gays, travestis e me maquiar. ia maquiá-la, levava meus produtos para a casa dela em uma sacolinha.
Vi uma imagem da Naomi e foi um insight. Alguma coisa me disse Nas festas de techno, eu ia supermontado, com maquiagens doidonas.
que eu iria conhecer aquela mulher. Mas pensei: “bicha, se manca, Teve uma vez que desenhei dois olhos extras no rosto e aquilo foi um
você mora na Cohab, é pobre. Como você vai conhecer uma mulher divisor de águas. Conheci um maquiador nessa noite que me chamou
que está com o Michael Jackson, com a Madonna, com os estilistas?”. para fazer assistência para ele. A partir dali, fui trabalhando como
samir: E teve algum momento de virada de chave? assistente de outros profissionais.
Maxi: Minha mãe me deu um quartinho depois de terminar a esco-
la de cabelo, que fiz aos 21. No início, era extremamente insegura. Maxi: Às vezes, a gente é morta por um olhar, né? O Brasil é o país
Uma gay que trabalhava como promoter em uma boate abriu uma que mais mata travestis e transexuais, mas as pessoas não matam
agência de modelos, foi o meu primeiro contato com a moda. Eu já apenas fisicamente. Eu não vou ser morta por vocês.
estava na área há dez anos quando passei a trabalhar com as super- Vogue: Por quais situações de transfobia vocês passam no trabalho?
modelos brasileiras: Ana Beatriz, Raquel, Fernanda... Daí, a Isabe- Maxi: Acho que hoje as pessoas estão mais cuidadosas. A transfobia
li me chamou para fazer minha primeira capa de Vogue, uma Vogue velada é a pior. Se eu te respeito, você me respeita. Você não precisa
Espanha que seria fotografada no Brasil. Me deu um clique, enten- gostar de mim, eu também não preciso gostar de você, mas, juntos,
di que tinha algo de especial. Eu precisei dessa validação. a gente pode fazer dinheiro.
samir: E daí você maquiou a Naomi, né? samir: Além dessa transfobia velada, tem a transfobia descarada.
Maxi: Era um desfile da TNG, em 2006, o último dia de Fashion Sendo um trans masculino não binário, eu acho que é ainda mais
Rio. Eu fiz uma oração e fui. Quando a encontrei no camarim, falei: desafiador para as pessoas cisgêneras. Às vezes, não se esforçam nem
“ai Deus, não acredito!”. Ela gostou de mim e me pediu para fazer para acertar um pronome. Ou me diminuem porque sou uma figura
também a campanha. Meu cachê quintuplicou. Realmente o negó- masculina que não tem pênis, me colocam nesse lugar de impotência.
cio mudou, ela conseguiu fazer a água andar. E isso já faz 20 anos. Eu já maquiei um modelo que falou para mim que eu era mulher por
causa da minha voz. E tive que continuar a maquiá-lo.
Maxi: E a transição? O que ela influenciou no seu trabalho? Maxi: Sendo que basta perguntar, né? “Qual é o seu pronome? Como
samir: No ano em que comecei a trabalhar na assistência, eu tran- você quer ser chamado?” Continua (pág. 174)
sicionei. Passei a ter mais independência. Mas sendo uma pessoa
trans, ainda mais um trans masculino, sofri muita transfobia. Quan-
tos trans masculinos você vê na moda?
Maxi: Por enquanto, você. Tem planos para chamar outros? Eu con-
segui montar uma equipe só com pessoas trans, já somos cinco. Estou
bem feliz, porque antes, mesmo dando curso de graça, não conseguia.
samir: A maioria das pessoas que eu chamo para as minhas equipes
é trans, preta e indígena. Se a gente proporciona empregabilidade,
acho que temos que empregar quem realmente precisa, sabe?
Maxi: Se queremos que a mudança aconteça, ela tem que co-
meçar por nós.
samir: Eu não quero me sentir sozinho, eu quero chegar a um lugar
e não me sentir sozinho? Com 30 anos de carreira e mais de 300 capas de revista no
currículo, além de editoriais para publicações internacionais
Maxi: É legal falarmos também sobre dinheiro. As pessoas pre- como a Vogue América, Maxi Weber já maquiou ícones que
cisam pagar mais, o mercado está muito sucateado. Vários pro- vão de Naomi Campbell a Hebe Camargo. Aos 51 anos, é
fissionais trabalham de graça, quando algo pode gerar reconhe- diretora de beleza da Casa de Criadores e fundadora da Maxi
Academy, escola que promove cursos de cabelo e maquiagem,
cimento. Se a gente tem o dinheiro, acho que é mais fácil trazer enquanto passa pela transição de gênero pela segunda vez.
a pessoa, né? Não adianta fazer o fervo, dar a roupa, convidar para
Formado em biomedicina e autodidata na beleza, Samir
festa, mas não dar o dinheiro. Se você vende uma peça por três, Ferreira, mais conhecido como Sasa, de 31 anos, trabalha no
quatro, R$ 5.000, como você quer pagar isso para uma equipe ramo há cinco anos. Trans masculino não binário, foi co-
inteira de beleza, com 20, 30 pessoas? apresentador da segunda temporada do reality show Born to
Fashion, já assinou belezas de artistas como Marina Sena e
samir:Só a gente sabe quantas pessoas trans estão fazendo vaquinha Jão, capas para publicações como Glamour e o filme Lupi,
para pagar aluguel, tratamento de dente, problema de saúde... além de editoriais de moda para a Vogue.
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vOgue Brasil 53
A partir da esquerda,
Samir Ferreira (com
camisa JOÃO PIMENTA)
e Maxi Weber
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INVOGUE dIÁLOGOS
A partir da esquerda, Maurício
Duarte (vestindo marca
homônima) e Jum Nakao
54 vOgue Brasil
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vOgue Brasil 55
MaurícIo duarte e juM nakao esse massacre, essa colonização. Vivemos em um mundo onde as
Nome por trás de um dos desfiles mais icônicos da história da moda pessoas não se conectam nem com quem está do lado, como vão se
brasileira, A Costura do Invisível, que completa 20 anos, Jum conver- conectar com uma cultura desvalorizada? Falo não apenas pelas
sa com Maurício, primeiro estilista indígena a integrar o SPFW, sobre culturas originárias, mas pelas culturas de diásporas que vieram ao
identidade, cultura e a possibilidade de um retorno às passarelas Brasil e foram totalmente desterritorializadas.
ASSISTENTES DE FOTO: Igor Kalinouski e Stefany Villar. BELEZA: Ana Carolina Sabadin com produtos Care Natural Beauty e Schwarzkofp. ASSISTENTE DE BELEZA: Mischa Barros.TRATAMENTO: S&S
Maurício Duarte foi o primeiro estilista indígena a integrar o SPFW, onde estreou
jum: No seu trabalho, quando você revaloriza as raízes, são raízes em 2023 com a marca homônima, fundada em 2013, e uma coleção que impactou
distantes, que muitas vezes você sequer teve acesso. Você está 12 etnias durante sua produção. Desde então, o estilista de 28 anos, da etnia
tendo que redescobrir uma realidade que você não viveu, né? En- Kaixana, marcou presença em eventos internacionais, como um relacionado ao
Pacto Global, em Nova York, vestiu a primeira-dama Rosângela Lula da Silva e
contrando orgulho onde existe vergonha, buscando afirmação onde desfilou nos Estados Unidos, durante o Ofrenda Fest, evento dedicado à pauta
existe negação. Conseguiram com muito sucesso esse apagamento, climática e ambiental e à valorização dos povos indígenas das Américas.
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inVOgUE negócios
DÉCADA
DOURADA
inicialmente um pequeno negócio atrelado
à marca da família, carol Bassi completa
dez anos com cinco lojas próprias e planos
de crescer ainda mais – agora, pertencendo
ao maior grupo de moda do país
por ThiAgo AnDRill
f
como estava meu momento e pedindo por uma reunião. Tive di-
versos encontros e essa história vazou para o Arezzo. Alexandre
Birman [então CEO do grupo] me chamou para uma conversa.”
A princípio, a empresária negou o encontro, até porque o negó-
cio já aconteceria com o Soma. “Quando conheci a história familiar
Foi em um espaço atrás da loja da marca dos pais, a Guaraná Bra- por trás do Arezzo, e pudemos contar a nossa, tudo fez sentido”,
sil, que Anna Carolina Bassi desenvolveu sua primeira coleção em explica. “Em quatro meses, vendemos 100% da marca com um
2014 e estreou a grife homônima. Eram 24 itens de vestuário fe- contrato de trabalho de quatro anos para mim e para o Caio.”
minino dispostos em duas araras. Hoje, a empresa possui cinco Anna Carolina diz que nunca havia pensado em negociar a
lojas, se prepara para a inauguração de uma unidade em Goiânia e marca. “O acordo aconteceu e eu só fui entender depois o que iria
faz parte do grupo que nasce a partir da fusão entre Arezzo e Soma. mudar. E tudo mudou.” Antes, a diretora criativa era responsável
“Foram os dez anos mais loucos, no sentido de timing, da minha por toda a área de estilo, com a ajuda de duas pessoas: tecido plano,
vida”, conta a diretora criativa, que trabalha desde o primeiro dia malharia, tricô, jeans. Hoje, há estilistas responsáveis por cada uma
em parceria com o marido, o empresário Caio Campos. A Carol das áreas. “A governança do Arezzo é tão bem-feita que cria uma
Bassi foi criada com o objetivo de entregar uma moda atemporal e conexão entre todas as pessoas, cada uma em sua especialidade,
clássica, com peças que pudessem transitar nas mais variadas oca- como se fosse uma orquestra que não desafina”, conta. “A gente
siões, para uma mulher que não busca incansavelmente a última vendeu a marca e, atualmente, existem pessoas acima de mim: isso
novidade da moda. Em alguns meses, já vendia mais do que a foi um aprendizado e, ao mesmo tempo, um choque de cultura.”
própria Guaraná Brasil. “Eu não tinha essa pretensão, só queria ter Outra mudança proporcionada pela aquisição foi a expansão
minha independência e uma marca funcional. A gente precisava dos pontos físicos. Além de São Paulo, a marca está no Rio de
escolher as multimarcas, porque eu não tinha mão para atender a Janeiro, com dois endereços, no Shopping Leblon e no Village
todos. Estudamos para não sermos apenas um sucesso relâmpago.” Mall, em Belo Horizonte e Curitiba. O que vai mudar com a
Uma das decisões tomadas foi a abertura de uma pop-up store no fusão entre Arezzo e Soma (anunciada no início de fevereiro)
Cidade Jardim, em São Paulo, em 2016. O pequeno espaço levou ainda não pode ser revelado. Porém, Carol conta que se vê em
a Carol Bassi a ter o maior faturamento por metro quadrado do um local parecido ao que estava quando vendeu a marca. “Eu
shopping. Depois, a marca teve outra pop-up no mesmo local, até volto àquela mesma estaca, de só entender vivendo, mas agora
FOTO: Acervo Vogue/Guilherme Pop
que veio o convite para abrir uma loja fixa, em 2019: um espaço de com um pouco mais de experiência – e expectativa, pois a nos-
1.000 m², com café e jardim interno. “Eu coloquei todos os meus sa primeira negociação foi com o Soma.”
sonhos no papel, e o Cidade Jardim topou. Eu era um case de su- “Roberto Jatahy brincou comigo um dia desses: ‘O rio corre para
cesso, mas não era consolidada no mercado.” o mar’. No fim das contas, a marca vai estar na gestão dele [no novo
Apesar da pandemia na sequência, a marca não parou de crescer, grupo, Roberto assume o posto de CEO da divisão de vestuário e
como atestam a abertura de uma pop-up store no Rio de Janeiro e a lifestyle feminino]. Estou animada, gosto do trabalho coletivo:
venda para o grupo Arezzo, em 2021. Antes de fechar o acordo,
Carol conta que estava em negociações com o então concorrente
Soma. “Recebi uma mensagem de Marcello Bastos [sócio-diretor
ninguém faz nada bem sozinho.”
*
da Farm] e de Roberto Jatahy [então CEO do Soma], perguntando Acima, a diretora criativa Anna Carolina Bassi
56 VOgUE BRASil
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INVOGUE joias
s
“Sempre adorei relógios, especialmente os masculinos vintage”,
me conta Victoria Beckham. “Tenho muita sorte de meu marido
ter me presenteado com peças lindas ao longo dos anos, então são
objetos que têm um significado pessoal e uma memória nostálgi-
ca para mim.” Foi essa relação que levou a empresária a aceitar o
convite da Breitling para assinar uma coleção-cápsula, que chega A mistura entre o masculino e feminino somada a influên-
ao Brasil este mês. O resultado dessa parceria são releituras do cias minimalistas, características das roupas que a estilista cria,
Chronomat, modelo clássico da grife, que agora surge em novas foram base para desenvolver a colaboração. “Os relógios são
variações de cores e acabamentos. chiques, mas descontraídos – você pode vestir no dia a dia,
Foram quase dois anos para desenvolver e afinar a collab, como também com um vestido de festa ou com um smoking.
que é limitada a 1.500 peças e possui opções de caixas de aço Eu gosto de usar com a pulseira mais solta, e combinado a
inoxidável ou ouro amarelo. O metal dourado é uma novida- peças de alfaiataria”, disse Victoria durante a apresentação da
de para os relógios femininos da grife suíça, mais acostuma- colaboração, que ocorreu em Nova York, em fevereiro. Sua
da a usar ouro vermelho (versão que leva um pouco a mais de escolha para o dia foi o modelo de aço com mostrador areia,
cobre do que o ouro rosa), e foi um pedido de Victoria. mas ela diz não ter um favorito. “Seria como escolher um filho.”
“Quando ela trouxe essa ideia, eu fui cético”, diz Georges Fundada em 1884 e historicamente uma grife dominada por
Kern, CEO da relojoaria. “Desde os anos 1980, ficou menos homens, a Breitling inventou o cronógrafo moderno e se tornou
comum usar ouro amarelo em relógios. Mas ainda bem que referência pelos relógios usados como ferramenta de navegação
ela nos convenceu, porque o resultado fala por si”, diz. em carros e aviões, antes de introduzir o primeiro modelo femi-
Não é apenas na escolha dos metais que os lançamentos nino, em 1946. A label agora procura se estabelecer melhor
inovam. As cores dos mostradores também são território novo nesse segmento. “Se metade da população mundial é composta
para a grife. Verde-menta, azul-escuro, cinza-claro e areia por mulheres, não faz sentido nos fecharmos para esse mercado.
estão entre as opções, todas resgatadas diretamente da cole- Mas, assim como é muito importante para nós sermos a alter-
ção de verão 2024 da grife homônima da Beckham. Além nativa cool e relaxada no mercado masculino, queremos ter o
disso, os acessórios possuem as iniciais “VB” no ponteiro de mesmo posicionamento com os relógios femininos. Queremos
segundos e são gravados com o número de sua edição limi- ser uma opção mais descontraída às relojoarias conservadoras e
FOTOS: Divulgação
tada: “um de 400” para cada uma das peças de aço inoxidável
e “um de 100” para as variações em ouro. “Com seu peso e
suas ferragens, os relógios masculinos podem ser um pouco
clássicas”, diz Kern. O primeiro passo foi dado.
*
grandes para as mulheres – eu queria algo que tivesse a mes-
ma aparência, mas com dimensões menores”, diz Victoria.
58 VOGUE BraSIl
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VOGUE BraSIl 59
INVOGUE joias
mão na massa
promessa da nova geração da joalheria brasileira,
a nart studio é o nome por trás das joias que deram
o que falar no último desfile da herchcovitch; alexandre
por isabel junqueira
60 VOGue brasil
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VOGue brasil 61
e
Em 2016, enquanto estudava na Belas Artes, em
São Paulo, Pedro Nart começou a frequentar
uma oficina de ourivesaria. O que era para ser
uma visita única para recriar o anel perdido de
um amigo acabou recalculando completamente
a sua rota profissional. Decidiu alugar um espa-
ço na bancada para ter um aprendizado informal de fazer tudo sozinho, abriu uma loja online e
paralelo ao curso de artes plásticas. “Fiquei en- começou, há dois anos, uma parceria frutífera
cantado pela alquimia do processo, de poder com Alexandre Herchcovitch. Desde que Ale-
manusear o metal e trabalhar com o fogo, sem xandre reassumiu a marca homônima, Nart
falar de todo o aprendizado sobre as gemas. En- passou a assinar as bijoux dos desfiles – a dupla
contrei uma nova plataforma para me expressar de designers (e namorados!) ainda abriu a L27,
e comercializar meu trabalho”, conta o designer loja que dividem desde o ano passado na galeria
de 29 anos, cujas joias voluptuosas em colabora- Metrópole, no Centro de São Paulo. “Alexandre
ção com Alexandre Herchcovitch roubaram os e eu não alinhamos muito as inspirações das
olhares no desfile de verão 2023/24 do estilista. roupas com a das joias. Gostamos do contraste”,
Foi nessa época de experimentação que sur- explica. Quando se conheceram, Nart estava
giu o anel Garras. “Eu não sabia soldar direito, criando uma coleção inspirada nos ossos de cria-
então resolvi virar a ponta das extremidades da turas imaginárias do artista Walmor Corrêa.
prata como se fossem as unhas afiadas de arac- Uma declinação desse trabalho tem tudo a ver
nídeos”, relembra sobre a gênese do seu com a iconografia de Herchcovitch – ornou os
modelo-assinatura, que hoje ele revisita asso- modelos da coleção inverno 2023.
ciando o metal com pedras naturais. A produção Em Vuoto, “vazio” em italiano e nome da
caseira logo chamou a atenção pela verve autoral sua mais recente colaboração, Nart se inspirou
e Nart chegou a vender algumas peças no boca na eletroformação, técnica italiana para produ-
a boca e em multimarcas como a Cartel 011. Ele zir peças ocas e leves, que há muito tempo o
sabia, no entanto, que havia chão pela frente fascina. Em contraponto, ele criou justamente
antes de se dedicar exclusivamente à sua própria itens mais “carnudos”, com formas arredonda-
marca. Depois de uma experiência na equipe de das e fluidas. “Meu primeiro pilar sempre foi o
FOTOS: Divulgação/Caia Ramalho
criação de Mario Pantalena, diretor da tradicio- da escultura, de fazer moldes e trabalhar com No alto, a partir da esquerda, brincos
nal joalheria paulistana Gioielli Pantalena, com a minha mão sem ter uma ideia muito definida”, Strano (R$ 998), de cobre com banho
de ouro amarelo, desenvolvidos em
quem lançou uma coleção, foi estudar alta-joa- conta. Recentemente, começou a desenhar em colaboração com a marca
lheria no Istituto Marangoni, em Milão. Du- 3D para poder prototipar seus primeiros HERCHCOVITCH;ALExANDRE
para o desfile de verão 2023/24; anel
rante a estadia de pouco mais de um ano, asses- designs de mobiliário, que podem ser vistos na Garras (R$ 598), de prata com banho
sorou Petteri Hemmilä, que assina acessórios da L27. Este ano, ainda deve lançar uma linha de ouro amarelo; brincos Punk
Dsquared2, Redemption e Faith Connexion. mais exclusiva, com pedras preciosas. “Venho (R$ 798), de cobre com banho de prata,
também da coleção com Alexandre.
Desde sua volta ao Brasil, em 2019, Nart curando isso na minha cabeça, mas sem muita Tudo NART STUDIO. Na página
profissionalizou aos poucos sua marca: deixou pressa. Tudo tem seu tempo.”
* ao lado, o designer Pedro Nart
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LUXO
irrequieto
Exposição no Museu Yves Saint
Laurent de Paris mostra como o
estilista transformou as transparências
em armas de emancipação
s
Seu coração fashionista está certamente apaixonado por Balenciaga
e The New Look, as novas séries que destrincham os bastidores da
alta-costura em sua época dourada, os anos 1950. Ou ainda pela
segunda temporada de Feud, que traz o embate entre o escritor
Truman Capote e suas musas, as socialites-cisnes cuja confiança
ele traiu, entregando todos os seus segredos. Os ambientes e figu-
rinos remetem àqueles tempos de alta sofisticação, formalidade e
performance ritualística da moda, em que as clientes chegavam a
trocar de roupa até cinco vezes num único dia, seguindo religiosa-
mente a cartilha imposta por seus costureiros. Havia silhuetas
próprias para almoçar, para ir a um coquetel, para frequentar o
teatro, para jantar, para caçar, para flanar pelo Triangle d’Or de
Paris – Montaigne, Faubourg, Champs-Élysées – ou almoçar na
Park Avenue de Nova York. O sucesso dos seriados reflete-se nas
vitrines de hoje, com a volta da polidez sofisticada às coleções.
Mas, talvez, sua alma rebelde também esteja procurando dar
uma arejada em meio a tantos rapapés. Porque o contrário de
quiet luxury não é necessariamente a enxurrada de logos, sneakers
e mangas balonês que dominaram o Instagram depois da pan-
demia. Existe uma terceira via, igualmente elegante, porém
provocante. E é ela que nos conduz por um mundo nem tão
chato, nem tão exibido, na nova exposição do Museu Yves Saint
Laurent de Paris, Transparences, em cartaz até 25 de agosto.
Yves foi o primeiro estilista a atrever-se a colocar um mamilo na
passarela, na inesquecível coleção de verão de 1968, em que ele
introduziu o que a imprensa americana chamaria de “a blusa trans-
FOTOS: Divulgação
parente”. A peça era feita de cigaline, um tecido muito fino, com Acima, vestido de noiva do inverno 1983 e a campanha do
aspecto de crepe bem rígido, quase uma crinolina que lembra as perfume Pour Homme, de 1971, que trazia Yves Saint Laurent
asas de uma cigarra. O mais incrível dessa criação seminal da moda nu. Na página ao lado, acima, vestido de crepe de lã com renda
Chantilly do inverno de 1970, vestidos de noite do inverno 1968
é que ela não foi sugerida de forma “feminina” ou insinuante, mas (à esquerda) e do inverno 1993 (à direita). Todos os looks são de
como parte de um conjunto de smoking com... bermuda! coleções de alta-costura de YVES SAINT LAURENT
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VOGUE BRASIL 63
Couture para
vida real
A coleção da Valentino por
Pierpaolo Piccioli indica
novos rumos ao sincronizar a
mística da alta-costura e a
funcionalidade do luxo agora
v
Vestindo celebridades com suas roupas de gala, a alta-costura se
tornou um elemento fundamental no marketing das marcas, além
de gerar conteúdo que sempre anima o ambiente digital. Às vezes,
é fácil até esquecer que essas roupas não falam apenas com o
Instagram e o TikTok. Elas precisam, primeiro, conversar com
poucos e poderosos clientes ao redor do mundo. Para isso, devem
ter algo a dizer na linguagem do luxo e da excelência.
A temporada couture para o verão 2024 em Paris foi rica em défilés exclusivos de outros tempos. Ver a roupa de perto, como
novidades, especialmente técnicas. De realismo opulento, fez nesse tipo de apresentação, acrescenta a temperatura emocio-
uma espécie de renovação estética com roupas requintadas, só nal e o prazer sensorial.
que mais fáceis de usar, apesar de suntuosas. Para mim, a cole- A preocupação de Piccioli, entretanto, é de não passar o
ção da Valentino por Pierpaolo Piccioli demonstra de maneira peso da técnica e do feito à mão porque, em última análise, a
clara este novo rumo, já que a funcionalidade do alto luxo sem- couture também tem a ver com a ilusão de ser conseguida sem
pre foi preocupação e característica do trabalho de Piccioli. É esforço. “A perícia tem que desaparecer para não perder a
na vida real que o designer busca, há anos, as referências para magia”, disse o designer. A coleção não teve narrativas absur-
sua alta-costura. Tanto que mulheres e homens desfilam na das ou subtextos obscuros, mas, sim, uma extensa experimen-
mesma passarela em um evidente esforço para honrar outro tação de formas, volumes e silhuetas.
objetivo original da couture – criar um guarda-roupa para viver. Bases do guarda-roupa tradicional como blazers, casacos
Assim, Piccioli segue sincronizando vida e época, o agora, en- masculinos, moletons e parkas foram traduzidos em “objetos
quanto mantém intacta a mística couture. couture” por meio de combinações incomuns, quase paradoxais,
A coleção de verão 2024 é impregnada de um vocabulário com modelos de alta-costura tradicionais.
de moda moderno, mas foi apresentada nos dourados salões O desfile começa com um casaco de alfaiataria – neutra, sem
da Place Vendôme, endereço da Valentino em Paris desde gênero definido –, que contrasta com vestido bem curto, de
1998. Dessa maneira, reproduz-se a atmosfera intimista dos musseline com barras de longas franjas e “efeito pluma” do
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VOGUE BRASIL 65
BELEzA
BRISA
fREScA ..
POR BÁRBARA OBERG E THAÍS VARELA FOTOS BEA DE GIAcOmO
BELEZA mAyUmI ODA E JOSEpH pUJALTE STYLING ELEnA mOTTOLA
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BELEzA
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BELEzA
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beleza
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Apresentam
CURSO DE
PÓS-GRA
RADUAÇÃO
A EM
Negócios &
Marketing
de Lux
uxo
x
Contemporâneo
19 DE MARÇO
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beleza
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DesatanDo nós
FeNômeNO Que aTRaveSSa PaSSaReLaS, TaPeTeS
veRmeLhOS e cheGa àS RuaS, O LaçO Se cONSOLIda NãO
Só cOmO um aceSSóRIO hIT, maS Também cOmO SímbOLO
2 de um mOvImeNTO Que TRaduz O eSPíRITO dO TemPO
POR natália GuaDaGnucci
Q
FOTO Maria MaGalhães STYLING JuJu bonJour
Quando olhamos para as tendências de tempos dem vigente perpetuada por séculos, que afeta
passados, é quase impossível separá-las do con- não só a moda, mas também questões compor-
texto social de suas épocas. O surgimento das tamentais e de gênero. “É algo típico das viradas
minissaias em 1960 não nos deixa mentir: ele de séculos nos últimos 300 anos”, explica a aca-
estava intrinsecamente ligado ao movimento de dêmica. “A ideia do laço como um ícone do es-
libertação feminina daquela década. Hoje, o laço tilo bibelô ainda está enraizada no imaginário
é o grande acessório da vez, ocupando um papel coletivo. Mas temos visto outras formas de pen-
central na moda e na beleza nesse último ano – sar esse símbolo do feminino: se, antes, o enfei-
1 mas a sua história remonta a cenários bem ante- te estava atrelado a uma feminilidade dócil, li-
riores aos virais do TikTok. Cottagecore, ballet- mitante e até submissa, agora, parece ampliar a
core, regencycore, coquettecore: as estéticas popula- voz da mulher que é dona das próprias escolhas.”
res trazem o resgate de símbolos associados aos Nem sempre é simples datar oficialmente o
estereótipos de feminilidade. Mas será que início de uma tendência, porém, é seguro afir-
ainda faz sentido reduzi-los a isso? mar que o acessório teve um grande boom du-
O próprio estilo coquette, que deu o impulso rante a temporada de inverno 2023. Uma das
principal para o retorno do acessório, já propõe imagens mais marcantes: a das modelos com
um outro olhar sobre o rococó e os elementos laços longos colados nas bochechas para a pas-
românticos. Das camisolas de seda aos corsets, sarela de Simone Rocha, com beleza assinada
o visual não soa nem ingênuo, nem construído pelo maquiador australiano Thomas de Kluyver
para agradar o olhar masculino. Segundo Carol e tranças nagôs esculturais feitas pela hairstylist
Siq, professora doutora em história da moda na jamaicana Cyndia Harvey. Poucos dias antes,
Universidade Estadual de Maringá (UEM), a o enfeite já havia sido eleito pela marca Sandy
busca pelo laço (que cresceu exponencialmente Liang como destaque dos cabelos de seu desfi-
nos últimos meses, segundo o Google Trends) le. A grife, aliás, pode ser considerada uma das
pode ser interpretada como uma ferramenta para responsáveis por trazer novas dimensões ao
compreendermos o momento de revisão da or- adereço. A etiqueta fundada em 2014 por
74 VOGue brasil
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Wellness
tempo rei
76 VOGUe BrASiL
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VOGUe BrASiL 77
E
Eu não sou uma pessoa que chora com frequência, mas,
recentemente, me vi em uma clínica de fertilidade me debulhando
em frente a uma médica que eu mal conhecia. Com 29 anos,
nenhum problema de saúde e uma vida ativa, me parecia
inconcebível processar o que ela me dizia: após um tratamento caro
e desgastante, eu provavelmente teria apenas três óvulos aptos para
o congelamento, o que, no mundo da fertilização, configura quase
nada. Eu já sabia, por ter conversado com especialistas, que uma
quantidade boa para se ter no freezer são de 12 a 15. Há alguns uma vida inteira de menstruações, cólicas, inchaços mensais e
meses, também vinha escutando comentários surpresos de estresse a respeito de métodos contraceptivos, deveria ser um
conhecidos quando eu contava do procedimento. O consenso era direito básico: ser fértil. Voltei para casa dilacerada, busquei o
que eu ainda era jovem, que, talvez, eu estivesse me precipitando. colo da minha mãe e chorei por três dias.
A meu ver era apenas uma decisão realista, bastava olhar à minha O motivo de eu ter uma quantidade tão ínfima, meu médico
volta para comprovar que o ritmo de vida da minha geração não é explicou, diz respeito à minha reserva. É uma característica
o mesmo da que veio antes. Dentro do meu recorte social pessoal. Pode ser que eu libere menos óvulos por mês, o que não
privilegiado, os bebês estão chegando mais tarde – enquanto a necessariamente significa que eu tenha um problema ou que
turma da minha mãe, em sua grande maioria, já tinha um ou dois terei dificuldade para engravidar. Enquanto ele falava, eu vi a
filhos ao completar três décadas de vida, eu e minhas amigas boca dele se mexendo, mas a única informação que o meu cérebro
estamos mais distantes dessa realidade. E isso não tem a ver apenas absorvia era a de que eu havia falhado. A recomendação era fazer
com comprometimento com a carreira e independência financeira, outro ciclo o mais rápido possível para tentar chegar a uma
bandeiras que o feminismo arqueou há muito tempo. Muitas das reserva maior. Eu posterguei por três meses – em parte porque
mulheres que eu conheço, estejam elas solteiras ou em pensar nisso me causava um desânimo extremo, em parte porque
relacionamentos sérios, parecem interessadas em prolongar a fase entrei em um momento frenético de trabalho, em parte porque
idílica da vida – um momento de muita liberdade e pouca cada rodada dessas custa em torno de R$ 20 mil.
responsabilidade, que dificilmente volta após a maternidade. Eu O meu segundo round, felizmente, foi mais bem-sucedido:
não vejo nada de errado nisso, é como boa parte dos homens viveu consegui nove óvulos maduros – hoje tenho no freezer 15 maduros
durante a história. Ou vivem até hoje. A diferença é que o nosso e dois quase maduros (com potencial de desenvolvimento após o
relógio biológico bate mais rápido. Minha escolha de congelar descongelamento). Depois disso, respirei aliviada. Mesmo que essa
óvulos foi, portanto, apenas o mais lógico a se fazer. reserva não seja a garantia de uma gravidez futura, eu ganhei tempo
O processo começou assim que eu menstruei – momento em e possibilidade de planejar a minha vida. Não sei qual destino os
que o ovário disponibiliza os folículos (estrutura que carrega o aguarda – se os usarei em uma tentativa de fertilização com alguém
óvulo) daquele ciclo. Fiz um ultrassom para contabilizar a que eu amo, se embarcarei em uma maternidade solo com um
quantidade e checar se os meus ovários e o meu útero estavam doador de esperma, ou se eles viverão para sempre no nitrogênio
normais. Tudo indicava que sim, então passei a me autoaplicar líquido –, mas tê-los ali me tranquiliza.
injeções hormonais para estimular o crescimento dos folículos – Todo esse processo, e o fato de eu ser a primeira das minhas
comecei com duas por dia e terminei com cinco, mas varia caso a amigas a trazer o assunto à tona, me levou a questionar se termos
caso. Durante dez dias, meus médicos acompanharam, através sido criadas como mulheres independentes e abençoadas com os
de ultrassons frequentes, o meu desenvolvimento. Após o período, avanços dos tratamentos de reprodução nos fez achar que não
espera-se ter a maior quantidade possível medindo entre 17 e 22 precisaríamos pensar nisso. Que podemos postergar essa conversa.
milímetros, tamanho ideal para a coleta. Para retirá-los, fui sedada Não existem regras, nem exatidões no mundo da reprodução
e submetida a um ultrassom transvaginal em que o líquido dos humana, mas é consenso entre os médicos que, a partir dos 30 anos,
folículos é aspirado. Desse material, foram identificados os a fertilidade feminina começa a decair, e aos 35, de maneira mais
maduros, aqueles que estão prontos para receber o espermatozoide, drástica. Não é possível brecar ou postergar isso. Nosso estoque de
aptos ao congelamento. Superando a expectativa inicial, eu óvulos (temos aproximadamente 1 milhão na adolescência) cai a
consegui seis óvulos, mas não me senti esperançosa. cada menstruação, e a qualidade se deteriora ao passar dos anos.
Então lá estava eu, após dez dias de doses cavalares de hormônios, É por isso que especialistas indicam o limite aos 35 anos.
sentada na clínica, chorando em frente a uma desconhecida. Independente da decisão de cada pessoa de embarcar ou não na
O efeito colateral das injeções é justamente a alteração de humor, maternidade, é importante essas conversas se tornarem comuns.
mas eu sabia que esse não era o real motivo das minhas lágrimas. O avanço do feminismo nos muniu de ferramentas que garantiram
Mesmo que eu acredite com muita convicção que o ato de ser mais controle sobre os nossos corpos e vidas ao ponto de nos
mãe não está ligado intrinsecamente a um filho biológico, acho sentirmos capazes de conquistar e gerenciar tudo (carreira,
que muitas mulheres conseguem entender a sensação de fracasso casamento e filhos) no momento que bem entendermos. Essa
quando o nosso corpo não responde da forma que esperamos. sensação de jogo ganho, porém, pode ser engenhosa e traiçoeira para
Quando ele é incapaz de fazer aquilo que, biologicamente, após as mulheres. Antes de tudo, precisamos encarar a realidade.
*
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WELLNESS
ponto
de pausa
Em parcEria com a francEsa GuErlain,
o spa asaya abrE suas portas Em são
paulo com um cardápio quE unE tErapias
brasilEiras consaGradas ao quE há dE
mais atual no univErso dE bEm-Estar
..
por BárBara oBerg fotos Wesley diego emes
78 VOgue Brasil
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VOgue Brasil 79
u
Um dos projetos hoteleiros mais grandiosos dos
últimos tempos no Brasil, o Rosewood, instalado
no complexo Cidade Matarazzo, próximo à Ave-
nida Paulista, em São Paulo, tem inaugurado seus
espaços a conta-gotas desde a sua abertura em
janeiro de 2022. Depois do restaurante Taraz, do
bar Rabo Di Galo e de um prédio residencial,
chegou a vez do spa ganhar seu lugar ao sol. Ban-
deira de bem-estar criada pelo próprio grupo
Rosewood, o Asaya, que tem outras cinco uni-
dades espalhadas pelo mundo, segue o mesmo
lema do empreendimento que o comporta, o
chamado “Sense of Place”. “Essa diretriz fala
sobre o valor que devemos dar às raízes do am-
biente e da cultura que nos rodeia, independen-
temente do país onde estamos. Isso faz com que
cada unidade do Asaya e do Rosewood seja úni-
ca”, garante Ana Flores, especialista em spas que
comanda a operação do Asaya.
Dos móveis aos utensílios usados no espaço
de 1.200 metros quadrados, desenhado pelo
designer francês Philippe Starck, a maioria foi
desenvolvida por fornecedores brasileiros, da
ceramista Patrícia Malizia aos designers André
STYLING: Anne Carvalho. BELEZA: Jô Castro. ASSISTENTE DE FOTO: Caio Araújo. MODELO: Carol Caputo
PELE EM
PAUTA
OIL CONTROL, NOVA LINHA DE
CETAPHIL, TRAZ FORMULAÇÕES
INOVADORAS PARA COMBATER
OLEOSIDADE, ACNE E MANCHAS
E
xcesso de brilho, sebo, poros
obstruídos e manchas causa-
das por acne são algumas con-
dições de pele que milhares
de indivíduos conhecem de perto. A
dermatologista Daniela Pimentel (CRM-
-SP 112165), de São Paulo, aponta que
alguns cuidados podem ajudar na mis-
são de minimizar esses efeitos. "É im-
portante escolher produtos com ativos
secativos que não prejudiquem a barrei-
ra cutânea. A pele oleosa também pode
ter baixa tolerância a alguns agentes es-
foliantes e ácidos, e propensão à irrita-
ção. Afinal, ao tentar controlar a oleosi-
dade, é possível causar uma reação, dei-
xando a cútis ainda mais vulnerável, ma-
chucada e suscetível a alergias”, explica.
Para atender a essa demanda, Ceta-
phil, marca número um em recomenda-
ção de dermatologistas1, acaba de lan-
çar a linha Oil Control, que não apenas A influenciadora Bruna Unzueta é adepta da
supre as necessidades específicas de nova linha Cetaphil Oil Control
ção feita totalmente em território nacio- Oleosidade. O sérum auxilia no controle da produção de sebo e no clareamento de
nal, na fábrica da Galderma, em Hor- manchas de acne a partir de três dias de uso9. Para conquistar melhores resultados
tolândia, São Paulo. Além da distribui- com o combo de cuidados, é indicado consultar um dermatologista periodicamente.
ção para todo o Brasil, vamos exportar
os produtos para o México e Colômbia”, 1
Pesquisa realizada com 200 dermatologistas © Inception | Dezembro de 2022; 3% dos profissionais entrevistados recomendam Cetaphil
celebra o diretor de skincare dermatoló- para hidratação corporal © Inception | Dezembro de 2022; Ref: nove em cada dez dermatologistas recomendam Cetaphil; 2Rel_EN22-0885-
01_v02_(FIL1744); 3RD.53.SPR.205696 (1773). *estudo clínico de sebumetria (40 pessoas); 4RD.27.SPR.203742 (FIL 1744); 5Rel_EN22-0885-01_
gico e dermatologia terapêutica da Gal- v02_(FIL1744); 6RD.53.SPR.204539 (1753); 7RD.53.SPR.205957 (1753). *estudo clínico, após 28 dias de uso (40 pessoas); 8RD.53.SPR.205957
derma Brasil, Júlio Cesar Silva. (1753). *estudo de autopercepção (40 pessoas);9 RD.53.SPR.204919 - P3017-2 (FIL 1822), REF-16262. *estudo de autopercepção (44 pessoas).
cetaphil.com.br
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APRESENTAM O CURSO
MARKETING
&
BRANDING
DE LUXO
11 a 21/03
A URGÊNCIA DA ERRADICAÇÃO
DO TRABALHO INFANTIL E O
IMPERATIVO DA INFÂNCIA PLENA
PARA TODAS AS CRIANÇAS
ANA MARIA VILLA REAL
Procuradora Regional do Trabalho
Ex-Coordenadora Nacional da Coordenadoria de
Combate ao Trabalho Infantil e de Promoção e Defesa dos
Direitos de Crianças e Adolescentes - Coordinfância/MPT
Cocoordenadora da Campanha Infância Plena
O
tema do trabalho infantil ainda demanda muito
esclarecimento e sensibilização. Daí a importân-
cia da realização frequente de campanhas educa-
tivas como estratégia de enfrentamento a essa
violação de direitos, ainda muito invisibilizada, naturalizada e
às vezes até romantizada pela sociedade brasileira, extrema-
mente classista e racista, é forçoso reconhecer. E o classismo e
o racismo são fatores impeditivos da existência de um contro-
le social efetivo em prol da construção de uma sociedade mais
justa e igualitária, em que crianças e adolescentes tenham os
seus direitos garantidos e respeitados. Ora, se parte da pró-
pria sociedade enxerga uma violação de direitos, no caso o
trabalho infantil, como forma de mitigar e/ou solucionar uma
outra violação de direitos, que é a vulnerabilidade socioeco-
nômica de crianças e adolescentes e suas famílias, tem-se aí
um problema gravíssimo que dificulta a eliminação de uma
violência contra a infância. nas, saudáveis e dignas, portanto, livre do trabalho infantil,
A campanha Infância Plena, realizada pelo MPT e veiculada conforme preveem vários documentos internacionais dos
na Vogue e em outros espaços do grupo Condé Nast, teve o quais o Brasil é signatário e a própria legislação interna (Cons-
objetivo de levar a temática para nichos diversos, mais especi- tituição Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente e Con-
ficamente o da moda, buscando alertar esse público não só solidação das Leis Trabalhistas).
acerca dos malefícios do trabalho infantil, mas sobretudo so- O abismo entre o que está prescrito na lei e a realidade vi-
bre o lugar de TODAS as crianças: na infância! venciada por crianças e adolescentes no Brasil, em especial,
Não à toa, a palavra “todas”, usada acima ao referir-se à tota- como já dito, quando negras/os, pobres e periféricas/os é gi-
lidade de crianças, está em destaque. O que mostramos ao gantesco. E por que isso acontece? O trabalho infantil é um
longo da campanha, com base em dados estatísticos, é que problema multidimensional, mas está sobretudo ligado à po-
infelizmente o trabalho infantil é uma violação que acomete breza, que acaba sendo causa e consequência do fenômeno,
sobretudo infâncias negras, pobres e periféricas. sendo oportuno esclarecer que crianças e adolescentes que
E por que estamos sempre reafirmando que o trabalho in- trabalham geralmente têm baixo rendimento escolar ou dei-
fantil, expressão cunhada para fazer alusão indistintamente a xam cedo a escola. Com baixas escolarização e qualificação
crianças e adolescentes , é uma violência, uma violação de di- profissional, acabam se vinculando a trabalhos ou empregos
reitos? Porque crianças e adolescentes são sujeitos de direitos precários e mal remunerados, perpetuando o ciclo da pobre-
e, nessa condição, fazem jus a infâncias e adolescências ple- za em que estão inseridos/as.
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E não se pode esquecer que os fatores pobreza e raça estão panha. Se trabalhar já é difícil e arriscado para pessoas adul-
umbilicalmente entrelaçados no nosso país, já que o racismo é tas, que dirá para crianças e adolescentes, que são seres em
estruturante da pobreza. A população negra é a mais atingida formação, em peculiar condição de desenvolvimento.
pelos altos índices de vulnerabilidade socioeconômica, estimu- A campanha Infância Plena, para além de trazer esclareci-
lando que crianças e adolescentes trabalhem para auxiliar na mentos sobre tema tão relevante, é também uma convocação
sobrevivência do lar. Por isso, buscou-se mostrar o racismo a toda a sociedade brasileira no sentido de que exerçam a sua
como um dos impulsionadores do trabalho infantil, como um parcela de responsabilidade na luta – em todas as esferas – por
elemento estruturante da nossa sociedade em todas as suas re- infâncias dignas, pautadas no desenvolvimento integral e sa-
lações: econômicas, políticas, sociais trabalhistas, institucio- dio, e, portanto, livre de trabalho infantil, afinal infância não é
nais, etc., bem como a importância da educação antirracista, a privilégio, mas sim direito.
fim de que se possa entender o fenômeno do racismo estrutural
e a sua correlação com tantas mazelas e violações de direitos.
FOTO: GETTY IMAGES
PONTO
DE VISTA
POR VÍVIAN SOTOCÓRNO
84 VOGUE BRASIL
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VOGUE BRASIL 85
the
BOlD
type
BArBArA VAlente é UM DOS nOMeS BrASIleIrOS
DISPUtADOS nAS PASSArelAS InternAcIOnAIS,
O qUe A fAz A MODelO PerfeItA PArA encArnAr
OS lOOkS MAIS IMPActAnteS De Prêt-À-POrter.
textUrAS e cOreS APOntAM PArA UMA
teMPOrADA cheIA De PerSOnAlIDADe
maison margiela
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dior
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schiaparelli
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balmain
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valentino
Brincos de ouro e diamantes
TIFFANY & CO. Na página
ao lado, vestido BALMAIN
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reunimos looks
tOque icônicos feitos
por marcas
Macacão-casaca HERCHCOVITCH;ALEXANDRE
(R$ 8.890),vestido de plumas PATBO (R$ 8.313) e chapéu
ÍTACA AKRA + NERIAGE (R$ 1.200).Na página ao
lado, blazer,body e calça,tudo LENNY NIEMEYER;
abaixo,vestido REINALDO LOURENÇO (R$ 4.998),
body JALACONDA,colar HELÔ ROCHA e botas
REINALDO LOURENÇO por PIAZZA
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RELEVO BARROCO
ApresentAdA nA École nAtionAle
de beAux-Arts de pAris, A coleção
de verão de pierpAolo piccioli
exAltA o poder feminino, um dos
mAntrAs dA vAlentino. Aqui, looks
esculpidos com referênciAs de
diferentes formAs de Arte
ASSISTENTES DE FOTO:
Sidney Brito e Thiago Lima.
PRODUÇÃO EXECUTIVA:
Déia Lansky. BELEZA: Robert
Estevão com produtos M.A.C
Cosmetics. ASSISTENTE
DE BELEZA: Giuseppe
Panissa. SET DESIGN: Jean
Labanca. TRATAMENTO DE
IMAGEM: Philipe Mortosa
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MARiNA,
inquieta
d
do Indiana Jones por lá”, recorda. Seu foco, ela ressalta, não era
ouro. “Estava interessada nos cristais: ametista, hematita, quart-
zo rosa... A partir daí, fui para Minas Gerais, Amazônia, per-
corri o país de Norte a Sul. Procurando essas pedras, não só
descobri o Brasil, mas também defini o meu amor pela cultura
brasileira, pelas suas diferentes formas e tradições”, completa
ela, que, inspirada pela sua curiosidade brasilianista, lançou em
2016, na cola de sua mostra no Sesc Pompeia, o documentário
Espaço Além - Marina Abramović e o Brasil, em que visitou ter-
reiros, xamãs, tomou ayahuasca, entre outras experiências que
manifestam, de alguma maneira, a existência de um mundo
Desnecessário dizer que estávamos todos ansio- espiritual. “Sou interessada em tudo e acredito em tudo. Gosto
sos pela chegada de Marina Abramović à Usina de experimentar, viajar, ver e viver de perto.”
de Arte, na Zona da Mata Sul de Pernambuco. A instalação que Marina criou para a Usina de Arte bebe dire-
Apesar do farto acervo de obras de larga escala tamente dessas duas fontes: tanto a performance na China quanto
que os fundadores, Ricardo e Bruna Pessoa de sua pesquisa com minerais são visíveis em Generator, constituída
Queiroz, exibem em seu parque artístico, não por um grande muro de três metros de altura, dois metros e meio
tinham até então um nome tão estelar como o de largura, e 25 metros de comprimento, com 12 conjuntos de três
de Marina entre suas atrações. Nós, do time pedras de quartzo rosa cada (vindas, claro, de Minas Gerais).
Vogue ali presentes, a aguardávamos, num misto A ideia é que o público encoste a cabeça, coração e estômago nas
de curiosidade e apreensão, para realizar este pedras. “O quartzo rosa é o material certo para abrir o coração para
ensaio e conhecer, em primeira mão, o site o amor incondicional”, justifica. “Os povos antigos o utilizam em
specific Generator – primeira obra pública dela rituais”, complementa. Não à toa, a nova obra está instalada no topo
no Brasil e em toda a América do Sul. Marc de uma colina, o ponto mais alto de todo o parque e a 2 km da
Pottier, curador da Usina, nos acalmava: “Ela é entrada da Usina. “Meu lema é: eu te dou a experiência, mas você
sensacional. Além do fato que é uma superstar, é tem que me dar seu tempo. Estamos viciados, não podemos mais
uma pessoa supernormal”. Dito e feito. Marina viver sem relógio, sem computador, sem telefone. Nunca reserva-
já chega dispensando qualquer cerimônia ou mos tempo para nos desintoxicar de tudo. E este é realmente um
apresentação intermediada. Caminha até mim, dos objetivos deste trabalho, a desintoxicação da tecnologia.”
estende a mão, me olha nos olhos e diz: “Hi, I’m Testar os limites do físico e do psicológico são parte essencial de
Marina”. Vasculha pela casa um lugar, escolhe Marina, seja nos seus “objetos transitórios”, como Generator – “não
uma das poltronas à sombra, na generosa varan- gosto de chamá-los de esculturas, porque não existem por si pró-
da da casa-sede da Usina e assim damos início à prios; o público tem que interagir com eles e ter a sua própria vi-
nossa conversa. vência” –, quanto em sua arte performática, trabalho que vem de-
Tento começar a falar da obra e de seu proces- senvolvendo desde os anos 1970 e que hoje transmite através de
so de realização, que levou cerca de dois anos, mas workshops no Marina Abramović Institute, atualmente com base
Marina não me deixa seguir. “Antes de tudo, que- em Karyes, na Grécia. Dentre suas performances mais polêmicas,
ro falar da minha relação com o Brasil.” Também estão Rhythm Zero (1974), em que ficava imóvel ao lado de uma
já havia sido alertado por Bruna: “Com Marina é série de objetos disponíveis para utilização do público – entre eles
assim: ela chega e define. Não tangencia assuntos, armas e facas –, e The Artist Is Present, de 736 horas e 30 minutos
é direta e objetiva”. Dito e feito novamente. de duração (o que equivaleria a cerca de um mês corrido), na qual
A primeira vez de Marina no país, ela vai me sentou-se à mesa, muda, em frente ao público, que podia pegar uma
contando com sua voz firme e aveludada, não foi fila para sentar com ela e encará-la por alguns minutos, como
meramente turística. Tinha acabado de realizar parte de sua retrospectiva no MoMA em 2010. Assim, inclusive,
em 1988, ano anterior à sua primeira vinda, a artista foi catapultada ao status de popstar, na arte e fora dela,
a performance The Great Wall: Lovers at the Brink, batendo o recorde de visitação de público para um artista vivo num
com seu então marido, o artista alemão Ulay, na museu (850 mil pessoas) e a garantiu o título de “mãe” (ou, como
Muralha da China, em que o casal percorreu se autointitula, “avó”) da performance art.
2,5 km da estrutura. “Nessa longa caminhada,
andei sobre diferentes minerais e percebi que a
relação do chão e dos minerais que o formam está
diretamente conectada com a nossa mente.
Quando terminei, fui procurar o país que tem
mais minerais no mundo, o Brasil”, explica.
Assim, segue narrando empolgada, veio
parar, a bordo de um avião de carga que trans-
portava até jumentos, em Serra Pelada – “me
chamaram de maluca, tinham acabado de ba-
lear um cinegrafista que estava filmando cenas
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Delphine, de DIOR, na
flagship em reforma da maison,
em Manhattan. “Faz você
sonhar”, diz a executiva sobre
visitar a sede da marca em Paris,
com seu pai, quando era menina
LaçOs
famiLiares
AO FinAl de Seu PRimeiRO AnO cOmO ceO
dA diOR, delPhine ARnAulT PROvA SeR
umA POdeROSA PROTeTORA dO legAdO dA
mAiSOn – e umA lídeR que FORjA e dá
viSibilidAde A diFeRenTeS TAlenTOS
POR Gaby Wood FOTOS annie Leibovitz
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n
doras ocupam uma posição onde determinam o que as mulheres
vestem, como se sentem. Na visão de Maria Grazia, “a moda precisa
nos ajudar a nos sentirmos livre”. Como pontua Marie-Josée Kravis,
uma amiga da família que faz parte do conselho administrativo da
LVMH há 13 anos: “Há duas mulheres talentosas que vivem essa
mensagem diariamente. É um ótimo exemplo”.
Conforme as roupas vão aparecendo, Delphine e Maria Grazia
se acomodam com facilidade na companhia uma da outra. Delphi-
ne absorve, mas nunca intervém. Ela já havia visto essa coleção em
andamento duas vezes. “Cada vez que você a vê, a conhece melhor”,
Na manhã de 1º de fevereiro do ano passado, recuperada da festa de me diz. O New Look de 1947 da Dior é refletido em saias pretas
despedida da Louis Vuitton, Delphine Arnault entrou em seu novo plissadas e refratado em golas de camisas brancas assimétricas.
escritório em Paris como CEO da Christian Dior. Primogênita e Há um toque excêntrico ocasional nas botas gladiadoras pretas com
única filha mulher de Bernard Arnault, ela subiu na hierarquia das salto gatinho e botões de pérola. Há um vestido de algodão feito de
empresas de seu pai, na LVMH, ao longo das décadas, absorvendo muitos tipos diferentes de renda e uma projeção borrada, como um
silenciosamente cada aspecto do negócio da moda. Agora, aos 47 raio X, da Torre Eiffel em um casaco preto. A filha de 27 anos de
anos, está com a joia da coroa nas mãos: a primeira grife comprada Maria Grazia e consultora cultural, Rachele Regini, está atrás de nós,
pelo pai, o lugar onde ele a levava aos fins de semana quando criança, preparando as modelos e supervisionando a operação.
a casa de Monsieur Dior, que, há 77 anos, mudou a forma como as “Ela não é um pouco magra demais para esse aqui?”, Maria Gra-
mulheres sonhavam com suas vidas. Christian Dior é um nome zia pensa em voz alta sobre uma das modelos. Ela vira para Delphi-
intrinsicamente ligado à história da França – e, naquele dia, Delphi- ne: “Estou obcecada. Não quero mostrar garotas muito magras. Eu
ne Arnault se tornava a primeira mulher a estar no comando da casa. quero meninas saudáveis”. E baixinho: “É uma semana intensa para
Não muito tempo depois, ela ligou para o amigo Larry Gago- você, não é, Delphine?”. E era mesmo. Cinco dias antes, Delphine e
sian em Nova York: “Larry, tenho um escritório gigante. Mas seu companheiro, Xavier Niel – com quem tem dois filhos –, parti-
aqui é tão solitário!” Ser um membro da família Arnault, embo- ciparam de um jantar no Palácio de Versalhes para o rei e a rainha
ra afável em vários aspectos, acompanha um certo isolamento. do Reino Unido (a rainha Camilla vestia Dior; a primeira-dama
Muito unidos e reservados, os Arnaults têm recebido cada vez francesa, Brigitte Macron, vestia Louis Vuitton). Delphine vestiu
mais atenção do público, desde que o patriarca distribuiu as res- um casaco de alta-costura de lã bordado, com um vestido até o chão
ponsabilidades de tomadas de decisão sobre o futuro da LVMH em renda e seda amassada na cor champanhe. No dia seguinte, ela
aos cinco filhos (através de uma holding, onde cada um deles tem falaria pela primeira vez para 600 representantes durante o Dior
participação de 20%). “Quando você cresce em uma família co- Summit no Louvre. O mesmo desfile primavera-verão seria exibido
nhecida, não tem o direito de cometer erros”, diz Antoine, irmão a eles, que foram entretidos com conversas, festas e jantares.
de Delphine. “As pessoas procuram pelo menor dos defeitos.” Ao anoitecer, Delphine e eu caminhamos alguns quarteirões sob
Encontrei Delphine Arnault pela primeira vez sete meses depois seu amplo guarda-chuva até a butique Dior, onde os representantes
de ela assumir a direção na Dior, no lobby do estúdio da diretora do simpósio do dia seguinte se reuniram para drinques de boas-vin-
criativa Maria Grazia Chiuri, em Paris. Discreta, com uma das. Ela se maravilhou com a organização tranquila de Maria Grazia.
compostura que combina com sua altura, quase 1,80 m, Delphine John Galliano e Raf Simons, se lembra, estariam acordados a noite
me cumprimentou vestindo um terninho azul-marinho da maison. inteira na véspera de um desfile, fazendo ajustes em pânico, enquan-
Era véspera do desfile primavera-verão 2024. Modelos andavam para to Maria Grazia está sempre preparada a tempo. “É muito impor-
lá e para cá, com ajustes sendo feitos e acessórios, pensados. Pequenas tante, para mim e para quem trabalha comigo, ter tempo para a vida
torres de morangos e framboesas foram expostas diante de nós. Maria pessoal”, Maria Grazia me disse depois. “É bacana que cada um
Grazia, vestindo jeans e suéter, jante em sua casa.”
sentou-se ao lado de Delphine e O local original da estreia de
apresentou um pequeno poodle Christian Dior em 1947 foi a 30
cinza, cuja cor, ambas notaram Avenue Montaigne. Extrema-
com um sorriso, combina com a mente remodelado, reabriu em
marca. “É gris Dior”, disse sua nova encarnação em março
Maria Grazia. de 2022. E esse não é o único
Se em 1947, Christian Dior sinal de uma empresa em expan-
contava uma história sobre a são acelerada. Havia diretores de
vida das mulheres – a guerra lojas de todo o mundo em Paris
pela qual passaram, o futuro so- naquele momento – “o coração
bre o qual sonhavam –, as duas e a alma” da empresa, como Del-
primeiras a presidir a empresa phine disse a eles. O time não se
dele contam uma também. Com reunia desde antes da pandemia
Delphine como CEO e Maria e, então, a Dior criou mais de
Grazia como diretora criativa, a 6.600 empregos no período. Um
maison está entrando em uma milhão de icônicas bolsas Lady
era na qual duas mães trabalha- Dior foram vendidas.
INÊS 249
Paris deste ano no valor de € 150 milhões. Os economistas franceses o consideram mais
poderoso que um chefe de Estado. Sua filha, de maneira mais discreta, também con-
tribui com as escolas francesas. “Trabalho com educação”, diz ela sobre as causas que
apoia. “É algo que faço pessoalmente com escolas. Identificam talentos, alunos bri-
lhantes que não podem pagar pelos estudos.” Não é algo que ela fale publicamente.
A riqueza da dinastia os tornou recipientes de uma certa hostilidade em certas
partes de um país fundado no princípio da égalité: em abril passado, manifestantes
invadiram a sede da LVMH com bombas de fumaça durante greves. A resposta
de Delphine a isso é aparente perplexidade e mágoa, juntamente com a proteção
da equipe. “Isso, infelizmente, não teve nada a ver com a LVMH”, diz ela. “Eles
eram trabalhadores ferroviários. Foi intrusivo e violento – sem motivo. Achei
assustador que eles conseguiram entrar na sede da empresa, havia funcionários
que ficaram presos e inalaram fumaça.”
Embora o drama shakespeariano dos Arnaults tenha atraído a atenção internacio-
nal, o gesto redistributivo do seu patriarca é quase prosaico sob a lei francesa. Legal-
mente, você precisa deixar bens para seus filhos e não pode deserdá-los, mesmo se
quiser. Assim, embora a intriga sobre quem irá emergir no topo permaneça, o interes-
se principal nos Arnaults não é tanto familiar como nacional. Quem serão os guardiões
dessas fatias da história francesa e os guardiões da sua economia futura?
Como CEO da Dior, Delphine é a protetora de um mito. Tudo nele – o esquema
originaldecorescinzaebranco,ascadeirascomencostooval,asreferênciasaoNewLook,
o tecido estampado com um mapa das ruas ao redor da loja – foi projetado para trazer a
sensação de que, se você comprar algo da Dior, terá um pedaço de sua história. Quando
Maria Grazia lembra sua chegada à maison, há sete anos, percebe que se enganou ao
pensar nela como uma marca de moda igual às outras. “Em Paris, a Dior faz parte dos
franceses”, explica. “Para mim, inicialmente, foi muito difícil entender isso porque vim
da Itália, e lá não temos esse tipo de relação com a moda.” Essência reforçada pela expo-
sição mundialmente exibida Christian Dior: Designer of Dreams e pela republicação da
autobiografia de Christian Dior, Dior by Dior. A expansão do 30 Montaigne inclui
agora a Galerie Dior, onde o camarim usado pelas modelos originais da Dior foi recons-
truído para parecer que aquelas mulheres dos anos 1950 acabaram de sair para almoçar.
Atéumapeça de metalem formade estrela, queosupersticiosoMonsieur Dior encontrou
numa calçada, foi exposta atrás de um vidro, como se fosse uma relíquia. “Dior é o nome
francês mais famoso do mundo”, Delphine diz, confiante.
“Tivemos um estilo de vida saudável e calmo, focado nos estudos e esportes”,
Delphine reflete sobre sua infância. “Não podíamos sair muito. Víamos nosso pai traba-
lhar muito – e nosso avô estava no escritório nas manhãs de sábado. Às vezes eu ia junto.”
Bernard Arnault nasceu no seio de uma empresa familiar de construção em Roubaix,
no norte da França. Seus pais se casaram no mesmo ano em que Christian Dior reve-
lou seu New Look e, três anos depois, seu avô materno entregou as rédeas do negócio
ao pai. Arnault tinha apenas 26 anos quando Delphine nasceu. Ele era então casado
com sua primeira esposa, Anne Dewavrin, também do norte da França. Delphine
guarda lembranças antigas do guarda-roupa da mãe em Roubaix: “Ela tinha um look
dos anos 1970 com saias longas e botas”, diz. Delphine e seu irmão mais novo, Antoi-
ne, foram “criados com princípios muito rígidos”, conta a amiga Kravis. Arnault aju-
dava os filhos com matemática antes do jantar. Almine Rech, amiga de Delphine – uma
galerista que vendeu a primeira pintura para Delphine –, acrescenta: “Quanto mais
privilégios tiver, mais você terá de se provar. Assim que se é criado na França”.
Embora ela e Antoine discutissem muito (como qualquer irmão), sendo a mais
velha, era esperado que Delphine fosse um bom exemplo. “Delph” era uma
criança estudiosa, que gostava de matemática e economia – na verdade, ela sempre
foi tão comportada que Antoine mal conseguiu acreditar quando a pegou Delphine de DIOR, em Manhattan,
em novembro de 2023
fumando um cigarro pela janela aos 16 anos.
Ela se recorda com carinho dos três anos tranquilos que passaram nos Estados HAIR STYLIST: Braydon Nelson.
Unidos, em Rochelle, Nova York, enquanto seu pai tentava abrir uma filial do MAQUIAGEM: Francelle Daly.
PRODUçãO EXECUTIVA:
negócio imobiliário da família no país. “Era uma escola franco-americana, então AL Studio. SET DESIGN: Estúdio
metade das aulas era em francês e a outra, em inglês. Acho que a escola americana Mary Howard. ALFAIATE: Jen
pressiona menos os alunos, foi divertido.” A família voltou para a França quando Hebner no Carol Ai Studio
carnaval
estelar
convidamos os fotógrafos autumn
sonnicHsEn, igor furtado E lEo faria Para
rEgistrar o bailE da voguE 2024. a sEguir,
rEtratos dE uma noitE galáctika cHEia dE
criatividadE E fantasia
MISS V
FOTO: Alê Virgílio, Any Duarte, Autumn Sonnichsen, Bruna Guerra, Kenji Nakamura, Lali Moss, Lucas Jones, Lu Prezia, Pedro Barcellos, Renato Wrobel, Ricardo Cardoso
GALÁCTIKA
O BAILE DA VOGUE ATERRISSOU NO DIA 3 DE FEVEREIRO NOS SALÕES DO
COPACABANA PALACE COM GALÁCTIKA, UMA FESTA CÓSMICA, RETROFUTURISTA E
TRANSCENDENTAL QUE VIAJOU PELO TEMPO E ESPAÇO EM UMA NOITE INESQUECÍVEL
PATROCÍNIO:
APOIO:
PARTICIPAÇÃO:
DJ LUÍSA VISCARDI
GABRIELA ÁDIE
MANU GAVASSI
METÁLICA &
VANGUARDISTA
Eis uma boa definição para Rabanne,
marca que incorpora o espírito
parisiense com louvor. A grife vestiu
a cantora Manu Gavassi, a
influenciadora Marcela Carrasco e a
modelo Gabriela Ádie em looks
metalizados – a textura é um de seus
ícones – e emprestou frascos de
Fame e Phantom às musas e ainda
ao cantor Xamã.
MARCELA CARRASCO LAURA FERNANDEZ
GINEVRA MAVILLA
EFI ROCHA
ROBERTITA
CONFORTO
INTERGALÁTICO
Das clássicas Top, que carregam
tiras grossas e foram adornadas por
pins temáticos, às nupérrimas Slim
Point – com tiras finas e solado
pontudo –, as Havaianas garantiram
energia extra para dançar no baile.
Um espaço supercolorido deu aos
convidados a possibilidade de
manter o visual estiloso sem abrir
VALEN BANDEIRA MARTA LOSITO
mão do conforto.
MÔNICA SAMPAIO
LÉNA MAHFOUF
INÊS 249
EUDORA PARA
BRILHAR!
A marca levou sua bandeira ao pé
da letra e trouxe um squad
poderoso.Além do time composto
por nomes como Camila Queiroz e
Sasha, ela proporcionou uma
experiência incrível ao consumidor:
uma máquina de garra recheada
com seus produtos de make mais
desejados. Para manter a noite
reluzente, uma dupla de
maquiadoras estava disponível
SASHA MENEGHEL
LUANA KARINE RYSER para retoques. Glam total!
INÊS 249
MISS V
LARISSA WEISSHEIMER
LEVIS NOVAES
SABRINA SATO
PAOLLA OLIVEIRA
BONDE DAS
DELÍCIAS
Deu para se deliciar em nossa
festa: tivemos as trufas LINDOR da
Lindt; os picolés da
Bacio di Latte; a bolsa estilizada
da Gata Bakana; os drinques com
gim Beefeater; o espumante de
Chandon e as bebidas de
Desinchá. Geovani Antunes
Meireles Filho e Cynthia Meireles,
convidados Gulf Combustíveis,
prestigiaram a noite de gala.
INÊS 249
JORNADA DE
CURTIÇÃO
Ficou mais fácil se jogar no
esquenta, na festa e no descanso
pós-Baile com a dupla Engov Up
– bebida energética com cafeína,
arginina e taurina – e Engov After,
que ajuda na recuperação com
glicose, sais minerais e cafeína. O
primeiro fez parte da gift bag e o
segundo foi entregue aos
convidados na saída do evento.
Engov UP. Alimento isento de registro conforme RDC 27/2010. Beba gelado. Após aberto, consumir imediatamente. Engov
After. Alimento isento de registro conforme RDC 27/2010. *Recupera eletrólitos e líquidos perdidos durante a atividade intensa.
**Citrato trissódico dihidratado e cloreto de sódio: fontes de sódio. ***Glicose, carboidrato fonte de energia. Fevereiro/2024.
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MISS V
GUI LEONEL
MÁQUINA
DO TEMPO
Lunar Pilot para eles, Gemini
para elas: durante o Baile,
nossos convidados não perderam
tempo com os relógios da Bulova,
distribuídos no Brasil pela SWG.
O modelo feminino tem silhueta
geométrica e mostrador coberto por
um vidro metalizado; já o masculino
foi usado pela tripulação que visitou
a lua em 1971 na missão Apollo XV.
São duas pulseiras para troca rápida
CAROL NAKAMURA
FELLIPE CARLO no dia a dia!
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THAILA AYALA
COMPANHIAS
INDISPENSÁVEIS
No caso da atriz Thaila Ayala, é o coque
da Princesa Leia, personagem de Star
Wars que inspirou seu look; para a
criadora de conteúdo Gabb, é sua veia
divertida revelada nos vídeos que produz
para o TikTok; já as atrizes Alinne Moraes
e Carolina Dieckmann vão de Stella Pure
Gold, de Stella Artois; e há ainda o
leque de PACCO usado pela modelo
Schynaider Moura, além das pastilhas Tic
Tac, dos drinques da Tônica Antarctica
ALINNE MORAES e da água micelar da Bioderma.
ERIKA JANUZA
ENZO CELULARI
CONEXÃO
CAROLINE TRENTINI CÓSMICA
Na viagem pela galáxia, nos
apegamos a destaques terrestres,
como os drinques à base de café da
3 Corações; o sabor da Mortadela
Duplamente Defumada da Seara
Gourmet; as entrevistas da
influenciadora Bertha Salles para o app
de relacionamento Inner Circle; e o
relógio Lunar Pilot, da Bulova, que
acompanhou uma missão à lua em
1971. Na jornada, contamos ainda com
o C6 Bank, a Phytoervas e a Azul. BERTHA SALLES
PEU GUERRA
LETÍCIA VELOSO
FATOR
AUTÊNTICO
“You dare, we care”: com este
lema, a Kérastase firma seu
compromisso com mulheres
autênticas, que ousam da raiz às
pontas. Para permitir que elas
possam correr atrás de seus
sonhos, a marca garante
cabelos hidratados e bem-
-cuidados. O mais novo
lançamento é a linha Nutritive,
prova desse cuidado irrestrito
com fios de todos os tipos,
tamanhos e cores.
GIULIANNA ARCURI
LELE BURNIER
NATALIA CANGUEIRO
continuações
ligar, a agenda está aberta! E você, Sasa?
PAPO SINCERO Samir: Eu tô p*... Com uma raiva daquelas. Eu acho incrível a
possibilidade de você traduzir e conversar com a roupa através da
(Continuação da pág. 51) beleza, contar uma história. Não trazer só o que é bonito, padrão,
mas uma estranheza também, e críticas. Eu já estive em algumas
ISABEL E MARINA equipes no SPFW e na Casa de Criadores, mas só assinei a beleza
Vogue: Isabel, como foi a transição do fotojornalismo para a moda? de um desfile até hoje, em 2021, do João Pimenta. Acho que ainda
Isabel: Eu sempre quis contar histórias. Comecei a fotografar é uma bolha muito restrita, é o amigo do fulano que é amigo do
gente, depois atrizes e aí fiz uma campanha para a Maria Bonita. sicrano. As oportunidades são limitadas e ainda existe boicote.
Foi de uma maneira instintiva e foi bem aceita, comecei a trabalhar
muito. Depois de cinco ou seis anos como fotógrafa de moda no Maxi: Acredito que o papel da beleza é nos empoderar. E também
Brasil, senti que estava me repetindo, não estava crescendo, aí eu nos ajudar a nos reconhecer. Eu tinha uma autoestima baixa hor-
fui morar em Paris. Foi uma experiência forte, até de humildade, rorosa, fiquei anos me achando feia e a maquiagem me dava essa
porque quando saí do Brasil eu estava fazendo tudo. beleza. Quando eu a tirava, perdia esse poder. Mas o superpoder
Marina: E como foi a experiência? não estava na maquiagem, estava em mim. Hoje, tem dias que eu
Isabel: Eu já tinha um agente, me preparei. Depois, comecei a ir faço o mínimo, outros eu faço mais – mas sei quem sou. A maquia-
para outros países e ter um agente em Londres, um na Alemanha, gem tem esse papel de nos ajudar a criar a nossa própria persona.
outro em Nova York... Aí resolvi mudar para lá. Foi outro tipo de Samir: Você está falando tudo isso e está um caos na minha cabe-
choque. O problema não era mais a língua. Se você não falar um ça, porque eu estou em um processo... Antes da minha transição,
francês perfeito, é uma barreira grande, Versalhes não existiu à toa, foi o momento que eu estava me sentindo mais bonito e mais ali-
tem realmente um jogo social forte na França. Chegando em Nova nhado com a minha maquiagem, com meu cabelo, com as coisas
York, o problema era a quantidade. Logo no começo, minha agen- que eu fazia...Eu transicionei e não me maquio mais.
te falou: “gostaram do teu trabalho, você vai lá, leva o teu book Maxi: Nem um corretivozinho?
nesse lugar, eles querem ver”. Eu fui toda animada. Chegando lá, Samir:Nada, porque eu não queria me conectar a signos lidos como
a recepcionista disse: “está vendo aquela sala ali? Pode abrir e deixar femininos. Já é difícil acertarem meu pronome, maquiado então...
teu book lá”. A sala tinha books até o teto. Estou num momento no qual estou tentando me reconectar com a
automaquiagem, me reencontrar.
SAMIR E MAXI
Samir: Sua carreira já estava consolidada e você transicionou. MAURÍCIO E JUM
Você acha que mudou alguma coisa? Maurício: Eu estou indo agora mais uma vez para os Estados
Maxi: No fundo, o trabalho também é uma droga. Eu fugi muito Unidos, onde as pessoas estão falando da Amazônia. Você não pode
de mim mesma, e uma hora eu tive que encarar isso. Essa é minha chegar e querer falar das nossas fibras se você não tem uma única
segunda transição. Eu fiz uma quando era bem jovenzinha; uma pessoa na sua equipe que tenha a prática disso, né? Às vezes, a
gay me falou que os hormônios eram legais e eu comecei a me gente tem que rasgar muitas cortinas. Estou cansado de rasgá-las,
hormonizar sozinha. Um dia, minha mãe percebeu, ficou louca e mas vou continuar, porque a nossa cultura não está só no artesana-
me mandou embora. E aí, nesse balanço das horas, falei: “não, vou to. Como as pessoas ainda não abriram os olhos para consumir a
parar”. Fiz a retransição, e toda a energia ligada a essa mulher, que nossa cultura? Como que eu ainda tenho que ensinar que é pejora-
foi guardada na Caixa de Pandora, fui colocando nos meus traba- tivo me chamarem de índio?
lhos. Trabalhava de segunda a segunda. E aí, na pandemia, falei:
“estou viva, tenho 48 anos, daqui a pouco eu morro”. Finalmente Jum: Não é uma dificuldade apenas porque você é nortista, porque
fiz o que eu queria fazer. você é de uma tribo originária. É uma dificuldade que existe porque
o Brasil é o Brasil. Lá fora, já deixei de fechar contratos algumas
Vogue: Maxi, você é um ícone das semanas de moda brasileiras, um vezes quando descobriam que eu era brasileiro, e não japonês. In-
dos maquiadores que mais assinaram desfiles... felizmente a gente vive uma situação de desvalorização da imagem
Maxi: Aprendi muita coisa a paulada nesse mercado duro. Por brasileira. Não existe um processo de cultura necessário para que
exemplo, entravam numa sala de desfile 30 repórteres juntos, de o Brasil seja valorizado.
uma vez. Eu era muito tímida, péssima de português. Tive que
aprender a falar, engasgava. Até o dia que eu entendi o que eles Vogue: Como vocês lidam com o ritmo e a pressão para produzirem
queriam. Foi então o pulo do gato. Em uma semana, eu tinha 15 novidades sempre?
desfiles no Rio, 11 em São Paulo. Então, quando os repórteres Maurício: O último desfile me fez perceber que não tem como,
entravam, eu dava só um tiquinho: “esse delineador é assim. Esse nesse momento, desenvolver duas apresentações por ano. Entendi
pincel você pega aqui”. Eu tinha uma simplicidade. Tenho, porque que fazer apenas uma coleção conversa muito mais com o tempo
não fiz faculdade. As palavras não são corretas, mas o passo a que preciso para mergulhar no que realmente quero contar.
passo, aquelas que estudaram nas faculdades não tinham. Jum: Com a era digital, eu, como professor, tinha aquela preocu-
Vogue: E você segue fazendo desfiles? pação em gerar conteúdos na velocidade que as redes sociais pediam.
Maxi: O mercado também cria monstros, né? Ninguém me co- Mas descobri que aquilo também não dava em muita coisa. Depois
nhecia. Daí eu apareci e virei um monstro e ninguém mais chega- de passar todos esses anos atuando na indústria, no comércio, no
va perto. Eu consegui dois desfiles agora, porque bati na porta e varejo, percebi que o que vai realmente impactar não vai ser a fre-
falei: “oi? E aí, vamos?”. Se você tem um desfile para fazer, pode me quência. Podemos nos concentrar em qualidade, não em quanti-
dade – e ter um impacto muito maior. Na época que encerrei minha no estava na Dior, mas também trabalhava em sua marca JG em
marca, a gente estava sendo lavado por um tsunami de produtos uma antiga fábrica de bonecas no 11º arrondissement – foi onde
que vinham com preço muito mais baixo, hoje estamos sendo la- Delphine começou. Na época, eles estavam revisando a identidade
vados por um excesso de informação. Hoje, eu tenho a certeza de gráfica da marca e Delphine ajudou Galliano a encontrar designers,
que o que falta é profundidade. Se você entrar nessa onda de pro- fabricantes e fornecedores. Rapidamente, lembra Galliano, ela
duzir, você se torna uma máquina que faz algo sem valor.
* percebeu o que ele procurava: “Um sentimento de ironia. Às vezes
isso não funciona na França. E ela estava com as pessoas certas”.
Delphine se casou com Alessandro Vallarino Gancia, herdeiro
de uma fortuna na indústria vinícola italiana, em 2005, e Galliano
desenhou para ela um vestido de noiva digno de conto de fadas que
levou cerca de 1.300 horas para ser feito. “Isso foi divertido”, lembra
LAçOS fAMILIARES ele. “As provas foram malucas – todos os sogros estavam lá, a mãe
verdadeira, a outra mãe...” A recepção – para centenas de convida-
(Continuação da pág. 149) dos, incluindo políticos, líderes de empresas, atores e estrelas da
moda; “o Monte Olimpo dos VIPs”, segundo o jornal Le Monde,
Foi mais ou menos ali que seu pai fez sua primeira aquisição: uma aconteceu no Château d’Yquem, do pai de Delphine. O casamen-
companhia que incluía a maison Dior. “Ele sempre teve um carinho to durou cinco anos. Delphine não estava no comando da Dior em
especial por isso. E teve esta visão: fazer da Dior a marca mais 2011, quando Galliano foi demitido após fazer comentários antis-
desejada do mundo – junto da Louis Vuitton!”, Delphine acrescen- semitas, mas, como ela lembra, “eu estava na sala quando a assis-
ta. Na época, a empresa proprietária da Dior estava em falência. tente do meu pai entrou e disse: ‘John foi preso’. Foi um choque.
Havia cinco lojas, agora são 245. Arnault levou Delphine para a 30 As coisas que ele expressou não eram aceitáveis”, diz ela, mais
Montaigne na hora. “Fiquei impressionada”, lembra ela. “Foi fas- triste do que brava. “Foi um momento difícil. Mas episódios assim
cinante para uma menina chegar à Dior – ver os vestidos, bolsas, trazem aprendizados.”
chapéus... Faz você sonhar.” Um ano antes, Delphine havia começado a sair com seu atual
A primeira visita à Dior foi o início de um hábito: Arnault parceiro, Xavier Niel. Conhecido como “o Steve Jobs francês”,
passou a levar os filhos às lojas todos os sábados. “Hoje, quando vou Niel é um bilionário da tecnologia que fundou a empresa de tele-
à Ásia com ele, passamos uma semana visitando lojas.” Essas turnês comunicações por trás do provedor francês de serviços de internet
são como aparições de celebridades – Arnault é cercado por mul- Free, e também é sócio do Le Monde. Se Delphine é influenciada
tidões na China. Na mais recente, ela conta, rindo um pouco, pelo pai, a sua visão da vida é agora partilhada com Niel, um
“visitamos 250 lojas em cinco cidades, andamos em média 15 mil empresário que não nasceu rico e que é uma espécie de herói na
passos por dia, ficamos de pé 16 horas por dia, sob um calor de França, graças ao seu apoio em larga escala a novos talentos. Sua
35ºC. Ele nunca para. Ver isso como criança cria uma grande incubadora de empresas, Station F, é conhecida como a maior
impressão – a dedicação que ele dá ao trabalho.” instalação para startups do mundo, e a 42 é uma escola de ciência
Quando ela tinha 15 anos, seus pais se divorciaram. Ar- da computação gratuita. Juntos, têm dois filhos: Elisa, de 11 anos,
nault se casou com a pianista canadense Hélène Mercier e ti- Joseph, de 7 – Niel tem dois filhos mais velhos de um relaciona-
veram três filhos – Alexandre, Frédéric e Jean. Os dois últimos mento anterior. Se tornar mãe põe as coisas em perspectiva,
tiveram aulas de literatura com a então futura primeira-dama, Delphine sugere: “Tudo se torna relativo”. “Ela é uma mãe incri-
Brigitte Macron, que até hoje é uma grande amiga de Delphi- velmente cautelosa”, Rech me conta.
ne. Dewavrin se casou com Patrice de Maistre, gestor de Alguns anos antes da saída de Galliano, Delphine tinha se
fortunas. Antoine observa que Delphine é como a mãe “por tornado amiga de outro estilista. “Tínhamos encontros secretos”,
seu caráter altruísta e hedonista. Ambas cultivam a art de vivre recorda Nicolas Ghesquière. “Pensar sobre isso agora chega a ser
francesa e um notável senso de família”. engraçado – Paris é grande, mas também é muito pequena.” Ele
Aos 17 anos, Delphine vendeu perfume na Dior, antes de ir para estava na Balenciaga, ela era vice-presidente administrativa na
a London School of Economics e para a faculdade de negócios em Dior, mas tinha um papel importante na busca de talentos para
Lille. Ela ganhou sua primeira bolsa Louis Vuitton aos 18 anos – o grupo. Eles conversaram sobre um possível emprego, mas
uma Noé. Embora tenha trabalhado na McKinsey por alguns anos Ghesquière não estava pronto para mudar. Mesmo anos depois,
depois de se formar, sempre esteve voltada para a empresa da famí- quando ofereceram a ele a vaga de diretor criativo de moda femi-
lia. Como diz Toledano, ela “tem Dior no sangue”. nina na Louis Vuitton, ele disse não – até descobrir que Delphi-
O senso de humor de Delphine Arnault tende à ironia. Ela é ne também iria para lá. “E esse foi o fator decisivo para mim.”
apaixonada por artistas contemporâneos e os trouxe para o grupo Em seu início na Louis Vuitton, eles faziam tudo à mão. “Nin-
com grande comprometimento. Tem uma relação destemida com guém imagina que é assim que se faz”, diz Ghesquière. “Delphine
o risco, mas é mais moderada e analítica em seu pensamento do que esteve comigo o tempo todo. Seja num almoço com a princesa de
muitos na moda, que confiam no impulso ou na intuição. Por Mônaco para um projeto da Vuitton, seja sentados no chão do es-
baixo de seu exterior elegante, é uma mulher trabalhadora e enten- túdio recortando protótipos para bolsas. Foi uma época divertida.”
de a piada. A amiga Rech me lembra que os Arnaults são do norte Delphine apresentou Ghesquière às pessoas com as quais ele
da França. Como resultado, diz ela, o senso de humor familiar é ainda trabalha – ela construiu a equipe não apenas pensando no
basicamente britânico. trabalho, diz Ghesquière, “mas também com o nosso bem-estar
O primeiro emprego de Delphine na LVMH depois de se em mente”. Não o surpreendeu quando Delphine criou o LVMH
formar foi com John Galliano, em 2000. Ela tinha 25 anos. Gallia- Prize há dez anos. “Diz muito sobre a maneira que ela pensa sobre
INÊS 249
BELEZA
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WORLdWIdE EdItIONS
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germany AD, Glamour, GQ , Vogue
India AD, Condé Nast Traveller, GQ , Vogue
Italy AD, Condé Nast Traveller, GQ , La Cucina Italiana,Vanity Fair, Vogue, Wired
Japan GQ , Vogue, Wired
Mexico and Latin America AD, Glamour, GQ , Vogue
Middle East AD, Condé Nast Traveller
Spain AD, Condé Nast Traveler, Glamour, GQ , Vanity Fair, Vogue, Vogue Niños, Vogue Novias
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last look
Dolce &
GaBBana,
r$ 60.250
Modelo clássico da Dolce & Gabbana, a bolsa Dolce Box aparece enfeitada com flores de tecido na
nova coleção flower Power da grife italiana, que vem em mood anos 1970 e é protagonizada
por prints florais. O acessório em formato de caiXa e feito inteiramente à mão faz parte do pre-fall
2024 da marca - e acaba de desembarcar no Brasil. shopping iguatemi, piso faria lima, sP
FOTO Xico Buny
umsoplaneta.globo.com
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