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DENTRO DA BOLHA
Ao insistir em fórmulas que já foram testadas e não deram certo, assumir posições
controversas sobre temas variados e se manter distante de problemas reais, Lula
afasta uma parcela do eleitorado e começa a enfrentar os ventos da impopularidade
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DE CONTEÚDO VEJA 2 884 (ISSN 0100-7122), ano 57, nº 11. VEJA é uma publicação semanal da Editora Abril. Edições anteriores:
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CARTA AO LEITOR
MULHERES EM AÇÃO
AS MUDANÇAS de comportamento da sociedade sem-
pre foram tema de permanente atenção de VEJA ao lon-
go de seus 55 anos de história — período suficiente para
ver as placas tectônicas, rígidas e imutáveis, se movimen-
tarem, empurradas pelo saudável vento da democracia.
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bem que o que vivemos aqui vai muito além de uma nar-
rativa. O regime de Maduro é o mais corrupto e violador
dos direitos humanos da história. As pessoas sentem na
pele. Há destruição econômica, institucional e social. Sa-
lários não passam de 1 dólar por mês, e as crianças têm
sorte quando conseguem ir à escola mais de duas vezes na
semana. Não à toa, a população debandou: 7 milhões já se
foram em busca de um futuro.
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IMAGEM DA SEMANA
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Ricardo Ferraz
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Raquel Carneiro
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DATAS
FENÔMENO O japonês
Akira Toriyama e sua criação
mais conhecida, o Goku de
Dragon Ball (à esq.): paixão
mundial pelo espevitado e
esperto personagem
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UM SALTO DA CIÊNCIA
É uma bonita aventura da
medicina. Em março de 1961, o
patologista britânico Anthony
Epstein sentou-se nas últimas
cadeiras, bem no fundão mes-
mo, de uma palestra de um cole-
ga irlandês que apresentava uma
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VEJA ESSA
JIM WATSON/AFP
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“As fotos
ficaram
(quase)
ótimas.”
MARINA RUY
BARBOSA, atriz,
em suas redes sociais
INSTAGRAM @MARINARUYBARBOSA
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FERNANDO SCHÜLER
A EXCEÇÃO
COMO REGRA
ELE FOI PRESO no balaio. O Geraldo. Sobrenome “da Sil-
va”. Morador de rua de Brasília, cidade que não tem propria-
mente rua. Naquele domingo de janeiro ele andava vagando
por lá, curioso. Acabou na rede. Onze meses em cana, com
direito a uma tornozeleira eletrônica, no final. Geraldo não ti-
nha “foro por prerrogativa de função”, mas conseguiu a única
coisa chique da vida: ser julgado pelo Supremo. Denunciado
por “associação criminosa armada, abolição violenta do Esta-
do democrático de direito, tentativa de golpe”. Logo ele, que
não tinha nem bem o que comer. Um jornal chamou seu caso
de “incrível”. A mim, tudo lembra um pouco uma novela de
García Márquez. O sem-teto que iria derrubar o Estado de di-
reito. Bom retrato da maluquice brasileira atual. A ideia vaga
do “delito coletivo”, o “crime multitudinário”, no qual você é
condenado “por estar ali, no meio da confusão”. No fim, o mi-
nistro foi lacônico: “Não há prova suficiente para a condena-
ção”. Por ora, ninguém dá a menor bola. Mais um equívoco,
talvez, e bola para frente. Mas desconfio que um dia isso tudo
será estudado e descrito com palavras bastante mais duras.
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Não acho que um caso como este ajude o país a voltar aos
trilhos da “normalidade jurídica”, como começo a ler em edi-
toriais com um tom de impaciência. O ponto é que eles conti-
nuam a ser vistos como “acidentes de percurso”. Vale o mes-
mo para a morte do Clezão, com a diferença de que, no seu
caso, não há mais nada a fazer. A espinha dorsal da grande
história que fundamenta toda a sorte de “inovações” surgi-
das desde a criação dos inquéritos sobre fake news, que já vai
completando cinco anos, permanece intacta. Na verdade, vai
se aprofundando. Seu fundamento é a tese ensaiada desde as
eleições de 2018, de que era preciso lançar mão de “medidas
excepcionais”, relativizando normas do Estado de direito, pa-
ra proteger nossa frágil democracia. O aspecto central não é
tanto especular sobre o tamanho do “risco” existente à de-
mocracia. Mas o tipo de remédio que deveria ser usado, pelas
instituições, para lidar com eventuais delitos devidamente ti-
pificados, cometidos por quem quer que seja, e que merecem
nem mais, nem menos do que o rigor da lei.
O que o Brasil fez foi recriar uma versão tropical da tese
da “democracia militante”, originalmente pensada pelo ju-
rista alemão Karl Loewenstein, nos anos 1930, em uma épo-
ca na qual o nazismo já havia se consolidado, na Alemanha.
A tese de Loewenstein dizia que era preciso “abandonar
temporariamente” certos princípios e direitos caros a nossas
democracias como forma de “defender a própria democra-
cia, a longo prazo”. Tese sedutora, no contexto da época,
mas envolvendo riscos evidentes. E usada, com variações,
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“Estamos de novo
no ponto de
partida: o plano das
boas intenções”
que exigia “medidas enérgicas”, mesmo que heterodoxas,
como a forma de instalação daqueles inquéritos, para o seu
combate. Não muito tempo depois, o alvo migrou para o
blogueiro Allan do Santos, acusado de “apontar o dedo mé-
dio para prédio do Supremo”. A partir daí, tudo parece ter
encontrado seu eixo. E por aí andamos.
A lista do que foi feito é conhecida, ainda que não exista
(que eu saiba) um apanhado geral de todas as pessoas censu-
radas, processadas, presas, “desmonetizadas” ou banidas.
Quando a ministra Cármen Lúcia explicou que “excepcional-
mente” se censuraria previamente aquele filme feito pela
Brasil Paralelo sobre a “facada no Bolsonaro”, à época da
campanha eleitoral, talvez tenha produzido a melhor síntese
de todo esse processo. Uma mistura de irrelevância (que efei-
to real teria aquele filme?), imprecisão (qual era mesmo o seu
conteúdo?) e pura e simples quebra do “Estado de direito”,
dado que a censura prévia é vedada em nossa ordem legal.
Há uma certa graça em observar a banalidade da maior par-
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pada com o que diz o marco civil da internet. Uma lei apro-
vada no Congresso. E agora a criação de uma espécie de
superinstância de monitoramento de qualquer coisa, en-
volvendo “ameaças”, “desinformação”, “discursos de ódio”
e as palavras de sempre. Estamos nós, de novo, no ponto
de partida: o plano das boas intenções. Como lá em 2019,
tudo é possível. Novos Monarks, novos PCOs, novos Mar-
cos Cintras, novos Geraldos, e quem sabe, tristemente, no-
vos Clezões. Talvez seja nossa vocação como país. Que o
“Estado de tutela” se instale em definitivo. Que devamos
aceitar o fato da guerra permanente, e logo as práticas
sempre surpreendentes da democracia militante, em nossa
vida institucional. Cada um pode julgar. O ponto: o que era
provisório se tornou permanente. E o que um dia foi exce-
ção, sem cerimônia, vai se transformando em regra. Até
quando? Não faço a menor ideia. ƒ
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SOBEDESCE
SOBE
JAVIER MILEI
O presidente da Argentina
comemorou o fato de o país ter
fechado o mês de fevereiro com
uma taxa de inflação de 13,2%,
7 pontos abaixo do índice
registrado no mês anterior.
OPPENHEIMER
O longa foi o grande vencedor do
Oscar ao levar sete estatuetas,
incluindo os prêmios de melhor
filme, direção (Christopher
Nolan) e ator (Cillian Murphy).
MICHAEL JORDAN
O ex-craque da NBA lidera o ranking
mundial de atletas mais ricos de
todos os tempos, com patrimônio
estimado em 3,75 bilhões de dólares.
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DESCE
REGINA DUARTE
A atriz foi condenada a pagar
30 000 reais de indenização
à família de Leila Diniz por
uso indevido da imagem dela.
JOHN TEXTOR
O dono da SAF do Botafogo
fez uma grave denúncia sem
apresentar provas sobre
manipulação de resultados
no Campeonato Brasileiro.
EDMILSON RODRIGUES
Único político do PSOL a
comandar uma capital do país, o
prefeito de Belém é rejeitado por
75% da população da cidade e, por
isso, enfrenta enorme dificuldade
em sua campanha à reeleição.
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RADAR
ROBSON BONIN
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INSTAGRAM @GIOVANNAANTONELLI
É FAKE Giovanna: criminosos usam a imagem dela
para golpes na internet
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BRASIL PODER
A BOLHA DO
PRESIDENTE
Ao insistir em fórmulas que já foram testadas e não
deram certo, assumir posições controversas sobre
determinados temas e se manter distante de problemas
reais, Lula afasta uma parcela do eleitorado e começa a
enfrentar os ventos da impopularidade
DANIEL PEREIRA
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L
ogo após assumir seu terceiro mandato na Presidên-
cia da República, Lula ganhou um presente de Jair
Bolsonaro, a quem derrotou na eleição mais acirrada
desde a redemocratização do país. A invasão e a de-
predação das sedes dos três poderes, em 8 de janeiro
de 2023, desgastaram seu principal adversário político, re-
traíram o bolsonarismo e permitiram ao petista — sob o pre-
texto de defender a democracia — estreitar laços com repre-
sentantes do Judiciário e do Legislativo e até com políticos da
oposição. Na esteira de uma fracassada articulação golpista,
abriu-se uma janela para a pacificação do país e consolidou-
se um ambiente de boa vontade com o mandatário, em nome
da reconstrução nacional. Experiente, Lula aproveitou a
oportunidade e conseguiu aprovar projetos importantes no
Congresso, recuperar programas sociais e fazer a economia
crescer acima do esperado pelo mercado. Esses resultados le-
varam-no a acreditar que o governo era um sucesso — se não
de crítica, ao menos de público. Com fama de infalível dentro
do PT, o presidente errou na avaliação e tem sido, ele mesmo,
o catalisador do desgaste de sua gestão.
Desde o ano passado, as imagens de Lula e do governo es-
tão derretendo, como resultado do confronto entre duas reali-
dades. A realidade paralela da bolha de esquerda e dos sabujos
do Palácio do Planalto, que não têm coragem para contestar o
chefe e aplaudem recaídas ideológicas e receitas já testadas e
reprovadas. E a realidade das ruas, nas quais há preocupação
com a segurança pública, o avanço da dengue, a carestia dos
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AVA L I A Ç Ã O D O G OVERNO
Genial/Quaest
FEV/2023 MAR/2024
Positiva 40 % 35 %
Negativa 20 % 34 %
alimentos e o fantasma da corrupção. Na pesquisa Genial/
Quaest, a aprovação ao trabalho de Lula caiu no final de feve-
reiro ao menor nível desde o início do terceiro mandato, 51%,
enquanto a reprovação alcançou a maior marca, 46%. No le-
vantamento do Ipec, a avaliação positiva do governo também
registrou seu pior resultado, 33%, uma situação de empate téc-
nico com a avaliação negativa, 32% (veja os quadros). Os nú-
meros obrigaram o presidente a se curvar à voz das ruas. Em
entrevista ao SBT, ele reconheceu que o governo estava “muito
aquém” do prometido, mas emendou com o otimismo de pra-
xe: “Até agora, preparamos a terra, aramos, adubamos e colo-
camos a semente. Cobrimos a semente. Este é o ano em que
vamos começar a colher o que plantamos”.
Antes das pesquisas, a autocrítica era uma raridade no
Palácio do Planalto. Encastelados, alguns dos principais as-
sessores presidenciais minimizavam os focos de desgaste,
que, segundo eles, teriam impacto negativo menor do que os
dividendos gerados por uma série de dados econômicos posi-
tivos, como o crescimento do produto interno bruto (PIB), do
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RICARDO STUCKERT/PR
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MIN IST ÉR IO DA ED UC AÇ ÃO
REEDIÇÃO Institutos de educação em 2024 e
em 2008 (no detalhe): Lula 3 não pode ser apenas
a repetição de Lula 2
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RIC AR DO ST UC KE RT/ PR
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RICARDO STUCKERT/PR
brasileiras e derrubar o governo do PT. “Tudo o que aconteceu
neste país foi uma mancomunação entre alguns juízes, alguns
procuradores, subordinados ao Departamento de Justiça dos
Estados Unidos, que queriam e nunca aceitaram o Brasil ter
uma empresa como a Petrobras”, discursou Lula ao visitar a
Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
Numa mesa de negociação aberta pelo ministro do Su-
premo Tribunal Federal (STF) André Mendonça, no final
de fevereiro, as empreiteiras que protagonizaram o petrolão
começaram a renegociar seus acordos de leniência com ór-
gãos de controle. Apesar de terem confessado seus crimes
anos atrás, receberão refrescos bilionários em suas multas,
tudo sob a bênção do presidente da República. Não dá para
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AVA L I A Ç Ã O D O G OV ERNO
Ipec
MAR/2023 MAR/2024
Ótimo/Bom 41 % 33 %
Ruim/Péssimo 24 % 32 %
reclamar depois de “dissonância cognitiva”. Há outros ca-
sos de grande repercussão em que Lula contrata desgastes
por conta própria. Na política externa, seus dois desatinos
mais recentes foram comparar a ação do exército de Israel
em Gaza ao Holocausto e endossar o ditador Nicolás Ma-
duro, ao dizer que haverá eleições na Venezuela e omitir
que a candidatura da oposicionista mais competitiva foi ve-
tada (leia a entrevista nas Páginas Amarelas). Apesar de
até aqui apoiar a política econômica do ministro da Fazen-
da, Fernando Haddad, que volta e meia enfrenta o fogo
amigo do PT, o presidente também sabota a administração
quando insiste em receitas de seu partido que já foram tes-
tadas e reprovadas. Entre elas, intervencionismo estatal em
empresas de economia mista e até privadas.
Como parte de seu plano de redimir antigos companhei-
ros, Lula tentou emplacar o ex-ministro Guido Mantega na
Vale. Até agora, não conseguiu — e também não desistiu. A
confusão sobre o pagamento de dividendos extras pela Pe-
trobras também fez reviver o temor de que o Planalto tente
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AtlasIntel
JAN/2023 MAR/2024
Ótimo/Bom 41 % 38 %
Ruim/Péssimo 38 % 41 %
semana, deve fazer uma reunião ministerial, em que pedirá
à equipe que pise no acelerador e entregue resultados.
Nos últimos dias, como ocorre quase toda vez em que
uma gestão se sente acossada, voltou a ganhar corpo nos
bastidores a ideia de aumentar os gastos públicos. Setores do
PT defendem há tempos essa medida, que pode ter impacto
nefasto em juros e inflação, por exemplo. Com o aumento da
arrecadação registrado no início do ano, Lula voltou a aven-
tar essa possibilidade. De novo, uma receita já testada e re-
provada. O presidente, que superou diferentes crises em sua
carreira política, pode fazer ajustes aqui e ali, mas só reto-
mará o rumo, segundo um antigo e experiente conselheiro,
se voltar a discursar e decidir levando em consideração a
frente ampla formada em torno dele para derrotar Bolsona-
ro. Recaídas ideológicas, sectárias e populistas até rendem
aplausos fáceis na bolha de esquerda, mas não agradam ao
eleitorado médio, que, apesar de espremido entre as duas
massas de eleitores polarizados, decidiu a eleição de 2022 —
e certamente decidirá a de 2026. ƒ
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BRASIL POLÍCIA
O CORONEL NA
ENCRUZILHADA
Ameaçado e com a carreira por um fio, o
ex-ajudante de ordens de Bolsonaro vai ter de
decidir entre a fidelidade ao ex-presidente e o risco
de voltar à prisão MARCELA MATTOS
PEDRO LADEIRA/FOLHAPRESS
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ESTEVAM COSTA/PR
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VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES
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TON MOLINA/FOTOARENA
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BRASIL ELEIÇÕES
ALERTA VERMELHO
Aposta da esquerda para São Paulo, Guilherme
Boulos vê seu rival Ricardo Nunes se aproximar em
momento de baixa para ele e seu padrinho, Lula
VALMAR HUPSEL FILHO E ADRIANA FERRAZ
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FOTOGRAFIA
RUIM
Quatro constatações
preocupantes para
Guilherme Boulos
na pesquisa Datafolha
M A I O R R E J E I Ç Ã O
34% DO ELEITORADO NÃO VOTARIA NELE
(ERA 29% EM AGOSTO DE 2023). RICARDO
NUNES MANTEVE 26%
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PA D R I N H O E M BA I X A
A APROVAÇÃO A LULA NA CIDADE CAIU 7
PONTOS EM SEIS MESES, E A REPROVAÇÃO
CRESCEU 9
A DV E R S Á R I O E M A LTA
A APROVAÇÃO À GESTÃO DE NUNES SUBIU
DE 23% EM AGOSTO DE 2023 PARA
29% AGORA
D E R ROTA E N T R E
O S M A I S P O B R E S
NUNES BATE BOULOS (30% A 24%) ENTRE
QUEM GANHA ATÉ DOIS SALÁRIOS MÍNIMOS
(40% DO ELEITORADO)
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A CORRIDA ELEITORAL
NA MAIOR CIDADE DO PAÍS
GUILHERME BOULOS (PSOL)
30%
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ELIANE NEVES/FOTOARENA
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ELIANE NEVES/FOTOARENA
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MURILLO DE ARAGÃO
O PARADOXO
POPULISTA
Esse fenômeno na política é fantasia
para enganar incautos
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“Argentina, Portugal e
a ascensão de Trump
comprovam que
o viés de direita está
mais popular”
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BRASIL JUSTIÇA
BRIGADA
ANTI-FAKE NEWS
Perto de deixar o TSE, Moraes cria órgão reunindo
PGR, OAB e Ministério da Justiça para combater velhas
e novas ameaças à democracia BRUNO CANIATO E
ISABELLA ALONSO PANHO
LUIZ ROBERTO/SECOM/TSE
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ISTOCK/GETTY IMAGES
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TON MOLINA/FOTOARENA
rém, as big techs reclamam
do rigor das exigências, da
dificuldade para identificar OUTRO FRONT Rodrigo
conteúdos ilegais, da capaci- Pacheco: autor de proposta
dade de cumprir as decisões para regular a IA
judiciais em tempo tão rápi-
do — na internet, minutos significam muita coisa — e da ex-
cessiva responsabilização imposta às empresas.
Ao redor do mundo, multiplicam-se os esforços gover-
namentais para enquadrar legalmente gigantes como Goo-
gle, Meta (controladora de Facebook, WhatsApp e Insta-
gram), TikTok e X (antigo Twitter). Na quarta, 13, o Parla-
mento Europeu aprovou a Lei de Inteligência Artificial,
com restrições a sistemas como o reconhecimento digital
de emoções faciais no ambiente de trabalho. No mesmo
dia, a Câmara dos EUA aprovou o banimento do TikTok
sob alegações de espionagem pela chinesa ByteDance, do-
na do aplicativo. O Congresso americano já vinha fechan-
do o cerco contra as plataformas desde janeiro, quando o
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REPRODUÇÃO
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CRISTOVAM BUARQUE
ÊXITO PESSOAL,
FRACASSO NACIONAL
O descaso com a educação faz o país
avançar muito pouco
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BRASIL CONGRESSO
A POLÍTICA
COMO ELA É
Suspeita de atentado transforma disputa pelo
controle do União Brasil em um caso de polícia que
tem troca de acusações, denúncia de corrupção e
ameaças de morte LARYSSA BORGES
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RADAR ECONÔMICO
VICTOR IRAJÁ
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ECONOMIA GOVERNANÇA
ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA
INGERÊNCIAS
NEFASTAS
O governo Lula interfere na política de distribuição
de dividendos da Petrobras e embaralha a
sucessão do presidente da Vale. Isso é péssimo
para as empresas, mas pior ainda para o Brasil
JULIANA MACHADO E PEDRO GIL
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P
oucas empresas na história do Brasil, talvez nenhu-
ma, foram tão maltratadas pelos governantes de
ocasião quanto a Petrobras. Desde a sua criação, em
1953, pelo presidente Getúlio Vargas, a petrolífera
tem sido alvo de pressões políticas que frequente-
mente determinam os caminhos que ela deverá seguir. Foi
assim com o próprio Getúlio, que inventou a campanha “o
petróleo é nosso”, e com os governos militares, que fizeram a
estatal trabalhar a favor do slogan “Brasil grande”. Os gover-
nos petistas, contudo, têm especial predileção por mexer
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PERDAS BILIONÁRIAS
O efeito negativo das decisões políticas
EMPRESA
69 BILHÕES
DE REAIS
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EMPRESA
92 BILHÕES
DE REAIS
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SOB PRESSÃO
Desempenho das
ações da Petrobras em
períodos de crise QUANTO A
COTAÇÃO DOS
EVENTO DATA PAPÉIS CAIU
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ENTRADAS E SAÍDAS
Movimento de recursos
estrangeiros na bolsa brasileira
(em bilhões de reais)
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120
100
80
56
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60
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2024
0
-20
2021 2022 2023
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-21 *
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MAÍLSON DA NÓBREGA
É CORRETO IMITAR OS
ESTADOS UNIDOS?
A comparação com a política industrial
americana é imprópria
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“A política
industrial deveria
adotar medidas de
avaliação permanente
de suas ações”
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ECONOMIA NEGÓCIOS
UMA CARGA DE
100 BILHÕES
Montadoras anunciam investimentos recordes no
Brasil, mas o objetivo não é a expansão de fábricas.
O grosso do dinheiro será para lançar carros
híbridos e elétricos JULIANA ELIAS
KOJI NAKAYAMA/YOMIURI/AFP
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EM ACELERAÇÃO
As vendas de veículos
elétricos e híbridos no Brasil 93 900
(em unidades)
80 000
60 000
40 000
20 000
1 100
0
Fonte: ABVE
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ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA
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INTERNACIONAL PORTUGAL
CHEGOU CHEGANDO
O partido da extrema direita portuguesa conquista
quase 20% dos votos, sai da eleição como o maior
vencedor e complica a formação de um novo governo
pelas legendas tradicionais
ERNESTO NEVES
1|5
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T
odo ano, no dia 25 de abril, desde 1974, Portugal
celebra a Revolução dos Cravos, movimento popu-
lar pacífico que pôs fim à ditadura instituída por
António de Oliveira Salazar (1889-1970). Neste
abril, quando a volta à democracia completa exatos
50 anos, a comemoração ganha um traço de amargor: nas
eleições gerais realizadas no domingo 10, o maior triunfo
coube ao partido ultradireitista Chega, francamente nostálgi-
co do salazarismo, que quadruplicou sua bancada, conquis-
tando 18% dos votos e 48 assentos na Assembleia da Repú-
blica. “Hoje é o dia que assinala o fim do bipartidarismo em
Portugal”, proclamou o líder do Chega, André Ventura, de 41
anos, que ganhou força e influência no complicado tabuleiro
político montado pelo resultado eleitoral, sem clara vanta-
gem para nenhuma das duas legendas que tradicionalmente
se revezam no poder. Nele, a coalizão liderada pelo conser-
vador Partido Social Democrata (PSD) venceu por margem
estreitíssima o Partido Socialista (PS): 29% dos votos e 79
deputados, contra 28% e 77 cadeiras do rival.
Programada para acontecer somente em 2026, depois de
uma clara vitória do PS que lhe deu confortável maioria par-
lamentar, as eleições foram antecipadas porque, em novem-
bro, o primeiro-ministro António Costa renunciou em de-
corrência de um escândalo de corrupção. As denúncias não
envolveram Costa diretamente, mas implicaram seu chefe
de gabinete e um ministro, e ele considerou não ter condi-
ções de seguir no poder, deixando o cargo e a liderança do
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INTERNACIONAL HAITI
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MATIAS DELACROIX/AP/IMAGEPLUS
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VILMA GRYZINSKI
ESTÃO FALTANDO
BEBÊS
Imagine um mundo em que a China tem
metade da população atual
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“O incentivo aos
altos índices de
reprodução
tradicionalmente
foi da esfera da
extrema direita”
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GENTE
VALMIR MORATELLI
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ABRINDO O HORIZONTE
Não havia nenhum sinal de cor-de-rosa,
que voltou a toda depois de Barbie, nos fi-
gurinos usados pela protagonista do filme
que estourou nas bilheterias (mas não no
Oscar, em que venceu apenas por canção
original). Pois MARGOT ROBBIE, 33
anos, que vinha exibindo visuais justamen-
te róseos, desta vez chegou à cerimônia
com um vestido preto que lhe valorizava
as curvas e, explorando ainda mais a pale-
ta, depois o trocou por um ousado corpe-
te dourado, à base de bem menos pano
FOTOS JON KOPALOFF/GETTY IMAGES/AFP; MIKE COPPOLA/GETTY IMAGES
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GERAL COMPORTAMENTO
A VOZ DA MUDANÇA
Pesquisa mostra que as jovens brasileiras são a única
parcela da população em que prevalecem as ideias
progressistas. E elas estão mais avançadas do que nunca
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U
ma marca indelével do século XX, que se espa-
lha, nítida e potente, pelos tempos atuais, é o po-
der de transformação exercido pelas mulheres
nos valores, no comportamento e na assimilação
do novo por parte da sociedade. Entre as mudan-
ças mais significativas lideradas e protagonizadas por elas
estão a conquista do voto feminino, o direito ao divórcio, a
entrada no mercado de trabalho, a liberdade sexual e a ex-
posição do papel subserviente que ocupavam nos lares.
Décadas se passaram, a sociedade se reorganizou e as
ideias progressistas vêm sendo, nos últimos anos, desafia-
das por uma agenda conservadora propagada em muitos
casos por mulheres empenhadas em neutralizar avanços,
em nome da preservação de costumes e modos tradicio-
nais. Isso significa que elas abriram mão de seu papel na
linha de frente das reformas sociais? Não, pelo contrário.
No mundo em que vivemos, a única parcela da população
que permanece decididamente fincada na marcha da re-
modelação de valores são as jovens na faixa dos 20, 30
anos, integrantes da agitada e inovadora geração Z.
Um estudo exclusivo da Genial/Quaest com 35 000 en-
trevistados, encomendado por VEJA, aponta que a ala fe-
minina, dos 18 aos 60 anos, continua sendo mais aberta a
mudanças do que a masculina na mesma faixa etária. Mas,
no termômetro ideológico em que os grupos se situam mais
à esquerda ou mais à direita, todos eles, sejam homens ou
mulheres, se encaixam na definição conservadora — com
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AVANÇADAS, SIM
Dentre todas as faixas etárias, apenas as
jovens mulheres da geração Z — nascidas
entre 1995 e 2008 — se situam no campo
das ideias progressistas no Brasil
MO
+ CO
NS
I S ER
S S V
E A
R D
G
O
O
R
PR
IS
MULHERES
MO
+
DA GERAÇÃO Z
-1 +1
MO
+ CO
NS
I S ER
S S V
E A
R
D
G
O
O
R
PR
IS
HOMENS
MO
+
DA GERAÇÃO Z
-1 +1
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MO
+ CO
NS
I S ER
S S V
E A
R
D
G
O
O
R
PR
IS
MULHERES
MO
+
EM GERAL
-1 +1
MO
+ CO
NS
IS ER
SS V
A
E
R
D
G
O
O
R
PR
IS
POPULAÇÃO
MO
+
BRASILEIRA
-1 +1
Fonte: Genial/Quaest
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CLAUDIO GATTI
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ABAIXO O MACHISMO
“Não quero me casar de jeito nenhum”, afirma a estudante
de relações públicas carioca Thaís Monteiro,
23 anos, que debate as questões feministas nas redes.
“O casamento reproduz a misoginia”, diz.
ALEX FERRO
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GERAL SOCIEDADE
RETORNO ÀS ORIGENS
Para fugir das ameaças constantes do racismo,
negros americanos encontram refúgio em países
africanos — movimento que aos poucos cresce
no Brasil LUIZ PAULO SOUZA
NATALIJA GORMALOVA/AFP
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CAMINHO DE VOLTA
Número de negros americanos
que retornaram para viver no
continente africano
100 000
9 000 700
(1 500 entre 2019 e 2023)
SERRA
ETIÓPIA
LEOA
GANA
150 000
LIBÉRIA
3 000
ÁFRICA DO SUL
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TURISMO NEGRO
Incomodada com a
falta de operadoras
que oferecessem
pacotes e intercâmbios
para países africanos,
a empreendedora Bia
Moremi criou uma
agência que se tornou
uma das 100 empresas
mais prestigiadas do setor
no Brasil em 2021 e 2022
ARQUIVO PESSOAL
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LUCILIA DINIZ
A ILUSÃO
DA VERDADE
O pior cego é o que pensa que
já viu de tudo
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“Fazer longas
investigações não
nos isentava de erros,
mas dava tempo à
dúvida e à reflexão”
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GERAL AVENTURA
LHAGBA/XINHUA/AFP
ESCALADA
DE NORMAS
A alta procura e a degradação ambiental levaram
as autoridades a endurecer as diretrizes para
subir o Monte Everest. A excursão ficou mais
burocrática — e menos perigosa LIGIA MORAES
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NAS ALTURAS
Números que fazem a fama do monte
AVENTUREIROS POR ANO
CERCA DE 800
MORTES
AO MENOS 322 PESSOAS MORRERAM
DESDE O INÍCIO DOS REGISTROS EM
1922 — UMA MÉDIA DE 3,2 ÓBITOS
POR ANO
TURISMO
A ESCALADA DE MONTANHAS E
AS TRILHAS ATRAEM MILHARES DE
ESTRANGEIROS PARA O NEPAL TODOS
OS ANOS, CONTRIBUINDO COM MAIS DE
4% PARA A ECONOMIA DE 40 BILHÕES
DE DÓLARES DO PAÍS ASIÁTICO
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CHI NA
MONTE EVEREST
NE PAL
ÍN DI A
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GERAL TURISMO
RARO
O espetáculo
no Hemisfério
Norte: o maior
em décadas
NO CAMINHO
DO SOL
Com visibilidade muito acima da média, o eclipse que
acontece em 8 de abril movimenta o turismo na América
do Norte e estimula a criação de pacotes temáticos
VALÉRIA FRANÇA
ISTOCK/GETTY IMAGES
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LEOPATRIZI/E+/GETTY IMAGES
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PRIMEIRA PESSOA
MARCELO NAVARRO
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GERAL LIVRO
POR TRÁS DO
MITO Busto em
relevo feito entre III
e I a.C.: mulher que
DEAGOSTINI/GETTY IMAGES
desafiou as ideias
de submissão
DE VÍBORA A
LEOA FEMINISTA
Nova biografia se propõe a corrigir estereótipos sobre
Cleópatra e fazer justiça à rainha egípcia, reforçando
sua conversão em ícone da afirmação política
RAQUEL CARNEIRO
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DEAGOSTINI/GETTY IMAGES
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GERAL MODA
A GRANDE SACADA
Duas exposições em Paris revelam como a
necessidade humana de se exercitar fez mudar
radicalmente a forma como as pessoas se vestem
DUDA MONTEIRO DE BARROS E MAFÊ FIRPO
DIRETO
DO MAR
Evangelista
RISKYWALLS/ALAMY/FOTOARENA
em desfile da
Chanel: estilo
surfista
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DIVULGAÇÃO
tura clássica, a evolução dos
trajes se revela em duzentas TRAJE DE MONTARIA
peças que, uma década após Quando surgiu: século XIX
a outra, vão se amoldando Evolução: O excesso de
aos avanços esportivos, até pano do vestido exigia que as
desaguar na alta-costura. “A mulheres se acomodassem
partir da década de 1920, as de lado sobre o cavalo. Ele
foi substituído um século
prestigiadas maisons passa- mais tarde por um conjunto
ram a ter uma linha voltada de jaqueta e calça inspirado
para o esporte, o que mais no guarda-roupa inglês.
tarde resultaria no sports-
wear, com o visual atlético
tomando as ruas”, disse a VEJA Sophie Lemahieu, curadora
da mostra Mode et Sport, do Museu de Artes Decorativas.
A metamorfose por que passou o vestuário usado nas
mais distintas formas de exercício exigiu tempo e espírito de
inovação. Ainda no século XVIII, a excêntrica Maria Anto-
nieta, a última das rainhas da França, praticava equitação
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CULTURA ARTE
NO LIMITE Estudo
para Retrato em Cama
Dobrável: representação
humana de Bacon é
figurativa, mas
nada realista
FRANCIS BACON - STUDY FOR PORTRAIT ON FOLDING BED, 1963
TENTAÇÕES DA CARNE
Exposição impactante no Masp joga luz sobre a influência da
sexualidade de Francis Bacon em sua obra explosiva e destaca
o papel do irlandês como inovador radical da técnica do retrato
AMANDA CAPUANO
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E
m um dia prosaico como qualquer outro, o irlandês
Francis Bacon (1909-1992) foi atraído por uma ima-
gem que passa despercebida para muitos: ao cami-
nhar em frente a um açougue, teve o olhar captura-
do pelas peças de vermelho vivo exibidas na vitrine
do estabelecimento. “Como pintor, você não pode deixar de
sentir toda a beleza do colorido da carne”, proclamou ele ao
relatar a experiência ao historiador e crítico de arte David
Sylvester (1924-2001). A passagem curiosa ilustra o olhar
atento do artista para a composição corporal em toda a sua
plasticidade, e é a centelha inicial da exposição Francis Ba-
con: a Beleza da Carne, em cartaz no Masp, em São Paulo,
a partir de sexta-feira, 22. “A gente parte dessa fala que dia-
loga com diversas obras dele para pensar também sobre ou-
tro aspecto de sua pintura, o desejo carnal”, explica Laura
Cosenday, uma das curadoras da mostra.
Parte de uma programação inteiramente dedicada a
histórias da diversidade LGBTQIA+, que conta com uma
série de mostras ao longo de 2024, a exposição — que lan-
çará, ainda, um catálogo inédito do artista — é uma das
raras ocasiões em que a obra de Bacon é exibida de manei-
ra extensa no Brasil. No total, 24 pinturas produzidas en-
tre 1940 e 1980 compõem o acervo, que reúne peças vin-
das de diversas instituições de renome. Inserida no contex-
to da diversidade sexual, a curadoria volta suas atenções
para um recorte importante e pouco explorado: a influên-
cia da homossexualidade do pintor em sua arte e, mais que
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CULTURA CINEMA
UM ATO DE
CORAGEM
No filme Uma Vida — A História de Nicholas
Winton, um homem comum salva centenas de
crianças judias do nazismo — uma trama real que
atesta o poder da empatia e da solidariedade
DIAMOND FILMS
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DIAMOND FILMS
ótimo com papelada. Talento
desprovido de glamour, mas DISCRETO Hopkins como
que fazia com que ele enxer- Winton: ele refutava a fama
gasse possibilidades práticas de herói na guerra
onde os demais não viam. Ao
notar que a única maneira de levar as crianças de forma legal
e segura à Inglaterra exigia a aprovação de vistos emergen-
ciais, uma alta quantia financeira e cidadãos ingleses dispos-
tos a abrigá-las em suas casas, ele encabeçou uma força-tare-
fa que angariou doações e famílias prontas a ajudar. Como
resultado, 669 crianças foram salvas — número que poderia
ter sido maior não fossem tantos entraves burocráticos.
Em 2014, quando a filha de Winton publicou a biografia
que dá nome ao filme, a estimativa era de que 6 000 descen-
dentes daquelas crianças existiam por causa de seu empe-
nho. Após a guerra, ele voltou ao trabalho no banco e, na
aposentadoria, se dedicou a ações humanitárias diversas.
Morto em 2015, aos 106 anos, Winton deixou uma lição po-
derosa: a combinação de empatia e coragem pode mudar
(ou ao menos melhorar) o mundo. ƒ
Raquel Carneiro
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CULTURA TELEVISÃO
NETFLIX
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NOVA DIMENSÃO
Simulação de jogo:
aliens que dominam
as mentes
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ED MILLER/NETFLIX
GUARDIÕES Os cientistas da série:
perseguidos por forças terríveis
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CONECTADOS
Wong como Da
Shi: investigador
busca respostas
NETFLIX
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CULTURA MÚSICA
O AVÔ DA SOFRÊNCIA
Um belo documentário reconta a vida de Lupicínio
Rodrigues, o sambista gaúcho que criou a dor de
cotovelo, enfrentou o racismo e foi indicado ao Oscar à
sua revelia FELIPE BRANCO CRUZ
LUCAS NOBILE/DIVULGAÇÃO
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DIVULGAÇÃO
gaúcha Inah. Para a carioca
Mercedes, escreveu o hino MULHERENGO Lupicínio e
da sofrência, Vingança. A es- a esposa, Cerenita: após anos
posa, Cerenita, com quem se de desilusões amorosas, ele
casou na maturidade, deu se casou na maturidade
mote a Exemplo.
Negro e pobre, Lupicínio foi discriminado por sua clas-
se social e cor da pele. Nos anos 1950, já famoso, foi bar-
rado num bar em Porto Alegre. Amparado na Lei Afonso
Arinos (1951), chamou a polícia, tornando-se o primeiro
na cidade a invocar a lei contra o racismo. No futebol,
também rompeu barreiras. Numa época em que Grêmio e
Internacional não aceitavam jogadores pretos, tornou-se
torcedor do tricolor gaúcho porque o time foi o único a
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WALCYR CARRASCO
PROTEÇÃO OU
TROLAGEM?
Na nossa era surreal, a IA decide
até se somos quem somos
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PIONEIRA
Regina King
como Shirley:
mudança
física para
interpretar
deputada
americana que
GLEN WILSON/NETFLIX
fez história
FILME
SHIRLEY PARA PRESIDENTE
(Shirley, Estados Unidos, 2024. Disponível na Netflix)
Filha de imigrantes caribenhos, Shirley Chisholm (1924-2005)
carregou em seu currículo uma série de pioneirismos. A ativista
foi a primeira mulher negra a ser eleita deputada nos Estados
Unidos, em 1968. Ousada e desafiando o conselho de todos ao
redor, ela se tornou ainda, em 1972, a primeira mulher a dispu-
tar as primárias democratas para a presidência do país. No fil-
me, a atriz Regina King assume a oratória envolvente e as fei-
ções (com muita maquiagem) de Shirley, enquanto se move nos
bastidores agitados de uma campanha presidencial. Os percal-
ços do trajeto foram muitos, de crise pessoal no casamento até
atentados e ameaças de morte — um caminho que expõe o pre-
conceito que ainda persistia entre muitos americanos, em con-
traste com a sabedoria e firmeza da graciosa deputada.
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TELEVISÃO
O AGENTE DE FUTEBOL (disponível no Star+)
No fim dos anos 80, Diego Maradona estava no auge após fatu-
rar a Copa de 1986 para a Argentina e virar estrela do futebol
italiano. Mas tinha um desejo difícil até para um deus da bola:
queria uma Ferrari que já tinha saído de linha — e preta, contra-
riando o vermelho da marca. Coube a seu agente, Guillermo
Coppola, realizar o sonho maluco, usando artimanhas surreais
para dobrar a montadora. Com humor escrachado e a sacada
de mostrar um Maradona onipresente, mas sem rosto, a série
argentina reconta a vida do folclórico Coppola (Juan Minujín)
— mais que empresário, amigão de balada e babá com o qual o
astro rompeu em 2003, mas reatou no fim da vida.
STAR +
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DISCO
BLEACHERS,
de Bleachers (disponível nas plataformas de streaming)
Um dos produtores mais requisitados da atualidade,
autor de sucessos de Taylor Swift e Lana Del Rey,
Jack Antonoff arrumou um tempinho para voltar a
se dedicar à própria banda, os Bleachers. Seu quin-
to álbum chama atenção, sobretudo, pelas melodias
marcantes e irresistíveis de ouvir. Em Modern Girl,
cruza o rock de Bruce Springsteen (seu conterrâneo
de Nova Jersey) com o pop dançante da neozelan-
desa Lorde (e dá certo). Na acústica Woke Up To-
day, há em sua voz uma alegria agridoce que reme-
te a Joni Mitchell. ƒ
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OS MAIS VENDIDOS
FICÇÃO
1 o avesso Da Pele
Jeferson Tenório [0 | 1] COMPANHIA DAS LETRAS
2 a BiBlioTeCa Da meia-NoiTe
Matt Haig [1 | 78#] BERTRAND BRASIL
5 veRiTY
Colleen Hoover [6 | 92#] GALERA RECORD
7 TuDo é Rio
Carla Madeira [2 | 76#] RECORD
9 a emPRegaDa
Freida McFadden [5 | 12#] ARQUEIRO
10 um DefeiTo De CoR
Ana Maria Gonçalves [7 | 4] RECORD
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NÃO FICÇÃO
1 mulHeRes Que CoRRem Com os
loBos Clarissa Pinkola Estés [1 | 180#] ROCCO
2 a CaDa Passo
Anderson Birman [0 | 2#] CITADEL
3 Nação DoPamiNa
Dra. Anna Lembke [2 | 34#] VESTÍGIO
5 o PRíNCiPe
Nicolau Maquiavel [4 | 36#] VÁRIAS EDITORAS
6 meDiTações
Marco Aurélio [6 | 42#] VÁRIAS EDITORAS
8 o PaCTo Da BRaNQuiTuDe
Cida Bento [0 | 12#] COMPANHIA DAS LETRAS
10 em BusCa De mim
Viola Davis [5 | 70#] BEST SELLER
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AUTOAJUDA E ESOTERISMO
1 Café Com Deus Pai 2024
Junior Rostirola [1 | 12#] VÉLOS
o
2 NegóCio 360
Vários autores [0 | 1] GENTE
5 a PsiCologia fiNaNCeiRa
Morgan Housel [9 | 26#] HARPERCOLLINS BRASIL
6 HáBiTos aTômiCos
James Clear [4 | 39#] ALTA BOOKS
7 esseNCialismo
Greg McKeown [10 | 34#] SEXTANTE/GMT
6|8
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INFANTOJUVENIL
1 o PeQueNo PRíNCiPe
Antoine de Saint-Exupéry [1 | 409#] VÁRIAS EDITORAS
5 DiáRio De um BaNaNa
Jeff Kinney [0 | 23#] VR
6 as aveNTuRas De miKe
Gabriel Dearo e Manu Digilio [0 | 23#] OUTRO PLANETA
9 o laDRão De Raios
Rick Riordan [0 | 46#] INTRÍNSECA
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JOSÉ CASADO
A MÃO PESADA
LULA inaugurou a Lulabrás. No imaginário dos áulicos do
Palácio do Planalto é uma espécie de coordenadoria para ali-
nhamento de empresas públicas, privatizadas ou apoiadas
por fundos de pensão estatais, com aquilo que a Presidência
diz ser o “pensamento de desenvolvimento do governo”.
Cultivada nos jardins do lulismo palaciano, Lulabrás é
uma ideia vaga com a pretensão de renovação política do
nacional-desenvolvimentismo. Acumulam-se as demonstra-
ções da sua capacidade de produzir confusão entre o públi-
co e o privado. Semana passada, provocou crises simultâ-
neas na Petrobras e na Vale e ampliou o conflito do governo
com a Eletrobras.
O Estado tem participação diluída no capital dessas em-
presas. Nos três casos, a razão do tumulto nas relações com
sócios privados e administradores está no fato de que, além
de Lula, ninguém na Esplanada dos Ministérios sabe expli-
car, descrever ou definir qual é o “pensamento de desenvol-
vimento do governo”.
Como não foi apresentado na campanha eleitoral de
2022 e permanece oculto no gabinete presidencial há mais
de um ano, há otimistas supondo que, talvez, venha à luz an-
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“Lulabrás pretende
a renovação política
do velho nacional-
desenvolvimentismo”
As doações de Itaipu são tipificadas como despesa nova na
“geração de energia”. Ficam escondidas na conta de luz paga
pelos brasileiros, que já é uma das mais caras do planeta: 4 em
cada 10 reais na fatura de energia não têm ligação direta com
geração, transmissão e distribuição de eletricidade, estimam
entidades dos consumidores. Acender uma lâmpada no Brasil
ficou caríssimo. Em dólares, sai por quase o dobro do preço
cobrado nos Estados Unidos, Reino Unido e Japão, embora a
renda dos brasileiros seja até dez vezes mais baixa.
Na Petrobras, o governo cobiça o caixa de 20 bilhões de
dólares, equivalentes a 100 bilhões de reais, restaurado de-
pois do ciclo de perdas com má gerência e corrupção desve-
ladas na Lava-Jato. A intervenção já deixou sequelas. Divi-
diu o governo, abriu espaço para eventuais pedidos de inde-
nização no exterior e levantou suspeitas de fraude no merca-
do acionário nacional por supostos lucros com informações
privilegiadas: a Comissão de Valores Mobiliários foi notifi-
cada dias atrás sobre operações “atípicas” com 12 milhões
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