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T H E I N N O C E N C E I S S U E
L I T A Y M A R C U S
T
N
Descubra polestar.com
Consumo (WLTP) 4.8-17.1 kWh/100 km
Linha motriz 100% elétrico
Emissões 0g C02/km
2
Bateria de iões de lítio
Carregamento melhorado
Autonomia até (WLTP) Potência máxima DC
635 km 220 kW
BY D E S I G N BY D E S I G N
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programada, IUC e IPO, assistência em viagem 24h, não inclui seguro de danos próprios obrigatório 4% franquia, nos termos do contrato, condicionado
à aprovação da Leasys. Inclui despesas de legalização e transporte. Campanha Smart Renting - saiba imediatamente qual o valor da venda
do veículo no final do contrato de renting. Saiba mais leasys.com/pt. Condições válidas até 31/01/2023. Limitado ao stock existente. Imagens não
contratuais. Autonomia de 190km a 320km (ciclo combinado WLTP).
Consumos de energia 13kWh a 14,9kWh/100Km (ciclo combinado WLTP) e 0 emissões de CO2. As condições de utilização e outros factores podem
variar os valores apresentados.
EDITORIAL
“WHOEVER BLUSHES
IS ALREADY GUILTY;
TRUE INNOCENCE
IS ASHAMED OF NOTHING”
Jean-Jacques Rousseau
CM
MY
Não sei até quando durou a minha... Na verdade, ninguém sabe... início da nossa vida, e isso é algo que todos os seres humanos têm
CMY
Afinal, a verdadeira inocência é a que nem tem noção dela própria, em comum. Os recém-nascidos não têm agenda, não estão cientes K
mas reconheço-a como algo que me desarma, que baixa qualquer de jogos ou de manipulação, só nos querem fazer saber se estão
defesa, como uma memória doce de algo distante: quando estou com fome, cansados ou desconfortáveis. São a personificação da
junto a um bebé, no olhar puro da minha cadela, ou quando olho confiança, que nos permite amar sem pretensões, promessas ou
para alguém a dormir, abandonado num sono profundo... Porque defesas. Somos atraídos pelo começo e pela novidade da vida, pelos
aí, mesmo o pior vilão é um retrato puro de inocência indefesa. sonhos e por todas as possibilidades em aberto.
Fernando Pessoa dizia: “Tudo o que dorme é criança de novo. Tal- A inocência pueril encontra alegria nas coisas mais simples,
vez porque no sono não se possa fazer mal, e se não se dá conta descobre a magia nas coisas que a maioria de nós acha óbvias ou
da vida, o maior criminoso, o mais fechado egoísta, é sagrado, por até invisíveis. A inocência confia que tudo ficará bem. A inocência
uma magia natural, enquanto dorme. Entre matar quem dorme e mostra-nos que o medo e a preocupação perpétuos não fazem
matar uma criança não conheço diferença que se sinta.” parte do nosso eu original. A inocência pode desaparecer, mas
A magia inocente, e consensual, que emana de um bebé, gera no nosso fundo continua guardada, como se esperasse indefini-
uma sensação de admiração, talvez pela sua chegada recente de um damente por um sinal de paz, uma bandeira branca, como uma
lugar desconhecido e divino. Há um elemento de mistério em torno trégua de esperança que todos buscamos neste mundo contur-
do nascimento e da expectativa sobre o futuro. Do nada, um ser bado. Na verdade, a tela branca continua a servir de base para as
minúsculo, novo e único, entra no mundo como uma tela em branco, nossas vidas, e a nossa esperança infantil nunca desaparece por
onde as cores e as texturas da vida ainda não se mostram. Há algo completo. Na maioria dos casos está trancada a sete chaves, como
de especial e precioso nele, e está relacionado com a inocência. Um forma de sobrevivência, num mundo demasiado hostil, e é algo
bebé lembra-nos que todos experimentamos esse estado puro no que podemos escolher a qualquer momento, é algo que a qualquer
altura podemos redescobrir e abraçar.
FOTOGRAFIA: EMMA KIM / GETTY IMAGES.
CAPA
Litay Marcus @ IMG Models usa blusa, camisa e saias, tudo HED MAYNER.
Headband, da produção. Fotografia de Branislav Simoncik. Styling de Samuel Drira. English version
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Koto Bolofo, Kuma, Maria Magdalinou, Marie Delmasso, Nuno Miguel Dias, Olga Kasma,
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A Vogue Portugal é uma revista mensal, independente e livre, direcionada para o público feminino, também
O início de uma nova história de sedução.
com uma plataforma online. A Vogue Portugal foca-se em Moda, mas aborda temas de interesse transversal,
como Beleza, Cultura e Lifestyle, mantendo uma forte aposta no jornalismo de investigação. A Vogue
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e pela ética profissional dos jornalistas, assim como pela boa fé dos leitores.
BACKSTAGE
English version
Guilty as charge?
Há culpas que são totalmente
inocentes e a maioria dos
guilty pleasures também o são.
Entendam-se como guilty
pleasures aqueles que são
INOVAÇÃO
vistos pela sociedade como
-45%
condenáveis (no sentido em
que não são “fixes”, e não no
sentido de ilegalidade), e que,
por isso, não fazem mal a
ninguém. Gosta daquela música INTENSIDADE
“pimba” que os amigos estão
sempre a deitar a baixo? Ponha mais alto. Adora vídeos DAS MANCHAS*
de pimple popping? Faça o binge-watching para relaxar
em vez de sair numa sexta-feira à noite. Cereais do
mais infantil que há em vez de um jantar equilibrado?
Há coisas muito boas em ser-se adulto, nem tudo
+44%
são contas para pagar. Desfrute dos seus prazeres
“culpados”, sem culpa. Desde que não interfira com o
prazer dos outros, não vale a pena fazer-se de inocente.
Flower Power
As flores são, de uma maneira geral, pela sua LUMINOSIDADE**
delicadeza e romantismo, conotadas com
alguma dose de inocência – excetuando talvez
as rosas vermelhas, essas sedutoras, símbolo
da paixão e do amor. Mas diz-se por aí que
as gerberas (parecidas com as margaridas)
significam inocência e pureza. Disponíveis numa
multiplicidade de tons, independentemente
do seu significado, um ramo na sua
cor favorita vai bem com esta edição.
Porquê arroz?
FOTOGRAFIA: CHRIS RYAN / GETTY IMAGES.
Já ouviu falar do Rice Purity Test? É um teste com 100 perguntas elaborado nos anos 80 pela Rice University,
Houston, que testa o nível de inocência (leia-se, de experiência de vida em temas de sexualidade e
ilegalidades) de um indivíduo. Com perguntas como “Já alguma vez se masturbou?” ou “Já participou numa
orgia?”, este “teste de inocência” ganhou ressurgimento nos últimos tempos com a Gen Z, que, apesar
do questionário datado em contexto (há questões como “Já dançou com alguém sem deixar espaço para
Jesus?”) e nada atualizado para os parâmetros de 2023, se tem regozijado a fazer check (ou não) nos itens Disponível em Farmácias, Parafarmácias e em www.esthederm.pt
desta lista. O teste está disponível em ricepuritytest.com – ainda que a Internet tenha feito o spin-off com
uma lista pensada para o século XXI, emojis incluídos –, e a Vogue aconselha a fazê-lo como o próprio deve
ser entendido: um divertimento, um fait divers, e não como prova ou julgamento do que quer que seja.
Ninguém é mais ou menos puro, mais ou menos inocente, com base nos resultados deste teste.
*teste clínico, 30 voluntários com manchas e tez irregular, durante 42 dias, 2 aplicações diárias **teste clínico, 30 voluntários com manchas e tez irregular, durante 28 dias, 2 aplicações diárias
TENDÊNCIAS
SHOPPING
COMPORTAMENTO Pumps Hot Chick em pele, € 595, Christian Louboutin.
INVOGUE TENDÊNCIAS
ACT Nº1
GIAMBATTISTA VALLI
4
LANVIN
6
7
Prima ballerina
8
Só quem passou os últimos meses debaixo de uma pedra é que não sabe que a tendência mais tendência de todas
FOTOGRAFIA: D.R.
as tendências (passe a redundância) dá pelo nome de balletcore. Inspirada, como o nome indica, pelo mundo e pela Na página ao lado: Carla Fracci, bailarina, durante os ensaios de Giselle, Nova Iorque, 1971. 1. Vestido em algodão e acrílico, € 1.574,
estética do ballet, vai buscar tudo o que é tecidos (tule, chiffon), adereços (laços, tutus) e acessórios (sapatilhas ELISABETTA FRANCHI. 2. Brincos em ouro amarelo e ágata, € 400, LNB JEWELLERY. 3. Saia em algodão e poliéster, € 254, TWINSET.
4. Saia em nylon e poliamida, preço sob consulta, SIMONE ROCHA. 5. Mary Janes em tweed e pele, € 1.350, CHANEL. 6. Blusa em
de ponta, bodies) para transformar um guarda-roupa comum no de uma prima ballerina. E não é que conseguimos poliamida e algodão, € 1.650, ZIMMERMANN. 7. Meias em algodão, € 420, CHRISTIAN DIOR. 8. Sabrina em pele, € 690, MIU MIU.
falar de balletcore sem mencionar as famosas sabrinas Miu Miu? Ups… Realizado por Gloria Alafarga.
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INVOGUE TENDÊNCIAS
COACH
BALMAIN
4
CHANEL
5
Os mais puritanos que se preparem, porque os próximos meses trazem renda, muita renda, e não é
FOTOGRAFIA: D.R.
propriamente aquela que víamos nos naperons na casa das nossas avós. Das cores exuberantes (alguém
disse néon?) aos detalhes inusitados (obrigada cortes a laser, que permitem corpetes de cortar a Na página ao lado: Natalie Wood, uma das maiores divas do cinema dos anos 60 e 70, fotografada com
uma camisa de noite em renda, circa 1960. 1. Saia em algodão, € 3.000, DIOR. 2. Soutien, € 49,90, e cuecas, € 15,90,
respiração), as rendas que vamos usar são tudo menos inocentes — e saltam da noite para o dia, Shine High Like Stars, INTIMISSIMI. 3. Blusa em seda, € 1.695, ERMANNO SCERVINO. 4. Vestido em algodão e viscose,
porque essa ideia de usar certas peças só depois de o sol se pôr ficou lá atrás, em 2008. € 7.500, VALENTINO. 5. Vestido em poliamida e viscose, € 2.300, ALAÏA. 6. Pumps em poliéster, € 155, GUESS.
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INVOGUE TENDÊNCIAS
BOSS
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COPERNI
5
Durante muito tempo acreditou-se que usar branco total no inverno era um sacrilégio, um faux-pas,
FOTOGRAFIA: D.R.
um pecado quase tão grave como comer laranjas à noite. Depois, quase como que por magia, alguém
terá conseguido fazer com que a expressão “all white” se tornasse uma das mais procuradas por todas Na página ao lado: Terry Moore, atriz americana, fotografada com acessórios de neve em Los Angeles, 1949.
1. Chapéu Fedora em lã, € 88, FALCONERI. 2. Camisola em acrílico e lã, € 45,99, MANGO.
as trendsetters, que começaram a estudar os looks de Jackie O e Bianca Jagger, mulheres com altas 3. Casaco em caxemira e lã, € 919, MAX MARA. 4. Tote Bag em algodão e pele, € 775, MONTBLANC.
doses de pinta e que, claramente, nunca tiveram medo de se sujar com nódoas de vinho tinto. 5. Calças em algodão, € 45,99, PARFOIS. 6. Ténis Bradley Mid em pele, € 169, CLAE.
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INVOGUE TENDÊNCIA
que surja a imagem virginal de uma noiva. de casamento já se produziam réplicas para todas as mulheres
Mas, mesmo face a todas estas desvantagens, que queriam copiar Lady Di. As mangas de balão, a saia volumosa,
uma breve exploração das coleções recentes os laços, os folhos, não existe melhor exemplo que descreva as
dos titãs da indústria (Valentino, Jacquemus, sensibilidades da época de forma tão eficiente. Também o icónico
entre outros) indica que a Moda está pronta vestido de casamento de Grace Kelly cativou a atenção do mundo
para ultrapassar todos estes dilemas. Pa- inteiro e, ao contrário do de Diana, continua a inspirar noivas até
ra entender a justificação por detrás deste aos dias de hoje. Tal é o caso de outro membro da realeza britâni-
movimento temos de recuar no tempo para ca, Kate Middleton, que, aquando o seu casamento com o Príncipe
observar algumas das ocasiões em que o William, instruiu Sarah Burton, a designer que se encontra ao leme
branco se tornou sinónimo de fashionable. de Alexander McQueen, para se inspirar no vestido de Kelly.
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MEXICO
INVOGUE TENDÊNCIA
30 vogue.pt
INVOGUE TENDÊNCIA
32 vogue.pt
INVOGUE TENDÊNCIAS
Na página ao lado: uma criança, de vestido amarelo e chapéu de palha, segura um coelho de louça e uma cesta com ovos de Páscoa, Los Angeles, 1949.
1. French Fries Rainbow em cristais, preço sob consulta, JUDITH LEIBER COUTURE. 2. Panda em pele, € 4.420, THOM BROWNE. 3. Bolide On Wheels em pele,
€ 11.000, HERMÈS. 4. Em pelo sintético, € 68, BIMBA Y LOLA. 5. Elephant Pocket em pele, € 620, LOEWE. 6. Heart Flowers em pele, € 595, MOSCHINO.
7. K/Choupette em poliuretano, preço sob consulta, KARL LAGERFELD. 8. Allegra em pele, € 145, FURLA.
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INVOGUE TENDÊNCIAS
2
8
3
6
Love stories
Altas doses de glamour, opulência delicada, sensualidade quanto baste. A poucas semanas do dia de São Valentim,
uma data para celebrar a sós ou acompanhado, eis uma tendência que é um misto de duas séries tão amadas
pelo público: The Gilded Age e Bridgerton. Na impossibilidade de trazer as carruagens e os gowns (vestidos
ultra-compridos) do final do século XIX para os nossos dias, ficamo-nos pelas sedas, pelos veludos,
pelas luvas, pelos folhos, e por tudo o que gritar romantismo e ternura.
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INVOGUE ACESSÓRIOS
Aula de dança
E se no meio de uma das mais relevantes pinturas do impressionismo, The Dance
Class (1874), de Degas, encontrássemos umas plataformas Vivienne Westwood, um
dos símbolos mais relevantes do universo punk rock que a designer inglesa trouxe
para a Moda? Estaríamos a sonhar, ou seria apenas a concretização de um desejo,
com a assinatura Vogue Portugal, onde este e outros acessórios (inesquecíveis) se
cruzam com obras-primas de outros tempos? Realizado por Gloria Alafarga. Artwork de João Oliveira.
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INVOGUE ACESSÓRIOS
Bandolete Juno com cristais Swarovski, € 510, JENNIFER BEHR. Sapatos Degraginzbar em malha, € 1.195, CHRISTIAN LOUBOUTIN.
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INVOGUE ACESSÓRIOS
FOTOGRAFIA: GETTY IMAGES; THE REHEARSAL OF THE BALLET ONSTAGE, (CIRCA 1874), EDGAR DEGAS.
FOTOGRAFIA: GETTY IMAGES; BALLET REHEARSAL ON THE SET (1874), EDGAR DEGAS.
Carteira Tina Minaudière em pele, € 1.420, MICHAEL KORS COLLECTION. Na página ao lado: carteira Alma BB em pele, € 2.110, LOUIS VUITTON X YAYOI KUSAMA.
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INVOGUE ACESSÓRIOS
Sabrinas Tabi em pele, € 620, MAISON MARGIELA. Carteira Moon em pele, € 1.950, PRADA.
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INVOGUE ACESSÓRIOS
Pumps Love 100 em pele, € 1.195, JIMMY CHOO. Na página ao lado: Loafers Jordaan Flora em pele, € 690, GUCCI.
FOTOGRAFIA: GETTY IMAGES; THE DANCE CLASS, (CIRCA 1873), EDGAR DEGAS.
FOTOGRAFIA: GETTY IMAGES; BALLET REHEARSAL ON THE SET (1874), EDGAR DEGAS.
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INVOGUE JOIAS & RELÓGIOS
In Full Bloom
Fevereiro é o mês perfeito para renovar o guarda-joias. A poucas semanas do início da
primavera, é tempo de atualizar os rubis e as esmeraldas (os que não vieram com o Pai
Natal, claro) e investir naquele relógio cravejado a diamantes (mais nunca é demais) com Da esquerda para a direita: relógio Bohème Day & Night 30 mm com caixa em ouro rosa e pulseira em pele com movimento
que sempre sonhámos. Só depois disso é que estaremos prontas — leia-se rejuvenescidas, automático, € 7.100, MONTBLANC. Pulseira Cactus em ouro amarelo, esmeraldas, rubis e diamantes, € 130.000, CARTIER. Relógio
plenas — para sair à rua. Como uma flor. Realizado por Gloria Alafarga e Carolina Nunes. Artwork de João Oliveira.
Master Ultra Thin com caixa em ouro rosa e diamantes e pulseira em pele com movimento automático, € 30.500, JAEGER-LECOULTRE.
Brincos Bouton d'or earrings em ouro rosa, cornalina, diamantes e madrepérola, € 30.600, VAN CLEEF & ARPELS.
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INVOGUE JOIAS & RELÓGIOS
Da esquerda para a direita: relógio De Ville Trésor com caixa e pulseira em ouro Moonshine com movimento quartzo, € 25.600, OMEGA.
Brincos Serpenti em ouro rosa, diamantes e ónix, € 25.000, BULGARI. Anel Talisman em ouro amarelo e diamantes, € 10.600, DE BEERS,
em Farfetch.com. Relógio Égérie com caixa em ouro rosa, diamantes e pulseira em pele de jacaré com movimento automático,
€ 74.000, VACHERON CONSTANTIN. Pulseira HW Logo em ouro amarelo e diamantes, preço sob consulta, HARRY WINSTON.
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INVOGUE JOIAS & RELÓGIOS
Da esquerda para a direita: tiara Joséphine Aigrette Impériale em platina e diamantes, preço sob consulta, CHAUMET.
Anel em ouro branco, rubi e diamantes, € 6.950, SUAREZ. Relógio Oyster Perpetual Day-Date 36 mm com caixa em ouro branco,
diamantes e pulseira President com movimento automático, preço sob consulta, ROLEX. Brincos Happy Hearts em ouro branco,
diamantes e madrepérola, preço sob consulta, CHOPARD. Anel Bean em platina e diamantes, € 4.300, TIFFANY&CO.
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INVOGUE JOIAS & RELÓGIOS
Da esquerda para a direita: relógio Gondolo com caixa em ouro branco e diamantes e pulseira em ouro branco, diamantes e pérolas
Akoya com movimento manual, € 222.400, PATEK PHILIPPE. Relógio Takashi Murakami Sapphire Rainbow com caixa em cristal de safira
e pulseira em borracha com movimento automático, € 110.000, HUBLOT. Ursos Kris Set em cristais Swarovski, € 250, SWAROVSKI.
Relógio Carrera 36 mm com caixa em aço polido e diamantes e pulseira em pele de jacaré com movimento quartzo, € 4.200, TAG HEUER. English version
54 vogue.pt vogue.pt 55
ENTREVISTA INVOGUE
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INVOGUE ENTREVISTA
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INVOGUE TRIBUTO
Protest Capitalism.
Top, outono/inverno 2019. Saia, Menswear primavera/verão 2018.
Headpiece, outono/inverno 1994. Brincos, primavera/verão 2019.
English version
Defend Human Rights. Vestido, outono/inverno 1994. Headpiece, primavera/verão 2018.
Chantilly Lace
Delicada, complexa, singela, romântica, recatada. É a renda na sua
tonalidade mais alva, esse epítome da inocência no que ao guarda-
-roupa diz respeito. Mas se a renda branca é isso tudo — delicada,
complexa, singela, romântica, recatada —, como é que, em simultâneo,
consegue ser também o epítome da provocação? Ilustração de Nuno da Costa.
English version
FOTOGRAFIA: D.R.
vogue.pt 67
ARTWORK: MIGUEL CANHOTO.
ARTES
LIVING
DESIGN
Jarras Blooming, a partir de € 66, Vista Alegre.
ROTEIRO LIFESTYLE
Melancholic books
THE AGE OF INNOCENCE,
de Edith Wharton, McMillan
O que une todos estes livros é, mais do que Collector’s Library (2019), € 14.
GLASS LIFE,
de Sara Cwynar,
Aperture (2011), € 57.
MY WINDOW,
de David Hockney,
Taschen (2022), € 100.
FOTOGRAFIA: D.R.
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LIFESTYLE ROTEIRO
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LIFESTYLE FILME
Um mundo de hieróglifos
É com estas palavras que Edith Wharton descreve a narrativa de A Idade da Inocência.
Mas só através da lente de Martin Scorsese é que estas se substanciam. Um mundo
onde nada é dito e tudo é implícito. Por Pedro Vasconcelos. Artwork de João Oliveira.
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LIFESTYLE FILME
English version
estética do realizador que faz com que, passados trinta anos, A
Idade da Inocência permaneça no panteão da sétima arte. l G Q : T H E J OY O F LO N G R E A D I N G
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LIFESTYLE PORTEFÓLIO
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LIFESTYLE PORTEFÓLIO
Know your lemons (2020). Licra, cetim Peau d'Ange, enchimento de espuma, seda bordada, bastidor. Camberwell Beauty (2013). Licra, acolchoamento, bordado de seda, bastidor.
vogue.pt 81
LIFESTYLE PORTEFÓLIO
Milkmaid’s Tale (2017). Licra, cetim Peau d'Ange, enchimento de espuma, bordado de seda, bastidor. Strictly (2013). Licra, renda elástica, cristais, enchimento de espuma, bastidor.
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LIFESTYLE PORTEFÓLIO
Sweaty (2020). Licra, cetim Peau d'Ange, enchimento de espuma, seda bordada, nylon, missangas iridescentes, bastidor. Pincushion (2019). Licra, cetim Peau d'Ange, enchimento, bastidor.
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LIFESTYLE PORTEFÓLIO
Pixeltits (2019). Licra, enchimento de espuma, seda bordada, bastidor. Mermuff (2021). Licra, enchimento, lantejoulas iridescentes, bastidor.
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LIFESTYLE PORTEFÓLIO
Sal’s Scar (2017). Licra, enchimento de espuma, seda bordada, bastidor. Stretched (2022). Licra, cetim Peau d'Ange, enchimento, bastidor.
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LIFESTYLE PORTEFÓLIO
Rising Moons (2014). Licra, seda, enchimento de espuma, bordado de seda, cordão de seda, couro, bastidor. Plumped Up (2020). Licra, enchimento de espuma, bordado de seda, cabelo, bastidor.
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LIFESTYLE COR
White balance
É a cor da luz, da pureza, dos anjos e das noivas, da paz e da virgindade, até da tabula
rasa, aquela tela em branco que é ponto de partida para muita história, mas não
para este texto. O ponto de partida é: porque é que tendemos a associar o branco à
inocência? E será ele sempre contextualizado como inocência?
Por Sara Andrade. Arte de Ai Weiwei.
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LIFESTYLE COR
divindade feminina associada à lua e que representa um tríptico de EM DESIGN E DECORAÇÃO, O todas as cores do vestuário do quotidiano. Similarmente, na Índia,
símbolos: é a virgem, a mãe e a idosa, cada uma com a sua cor. A BRANCO É MINIMAL, MAS UM ESPAÇO apenas as viúvas podem usar branco. Regressando à literatura, e
da virgem é a branca. A da mãe não, mas curiosamente, os antigos COMPLETAMENTE ALVO É POUCO OU contrapondo a ideia das heroínas virginais e inocentes, há vilões
gregos associavam o branco ao leite materno (porque na mitologia NADA ACOLHEDOR, PRINCIPALMENTE que também usufruem da conotação negativa do tom para fazer
E ATÉ PELA SUA CONOTAÇÃO À
grega, consideravam-no uma das quatro substâncias sagradas, a valer o seu caráter infame, com especial ênfase na sua frieza — ou
ESTERILIDADE DE UM HOSPITAL,
par com o vinho, o mel e a rosa), ligando o pantone a esta vertente melhor, na frieza do seu coração — ao serem associadas com o gelo
CLÍNICA OU CONSULTÓRIO MÉDICO. É
divina e não-profanada, mas também sugerindo a ideia de começo, A IDEIA DO INTOCADO TRADUZIDA POR e a neve, como a White Witch, do The Lion, the Witch and the Wardobe
nascimento, começar do zero — a tal tela em branco, ainda não “NÃO SE PODE TOCAR” — TRADUZIDO, (1950), de C.S. Lewis, ou a Rainha da Neve, da obra homónima Snow
profanada. Na Arte, o simbolismo repete-se: o pintor James McNeill POR SUA VEZ, NA AUSÊNCIA Queen (1844), de Hans Christian Andersen. Similarmente, esta ideia
Whistler (1834-1903), no quadro Simphony in White No. 1 - The White DE LIGAÇÃO E TOQUE HUMANO. de ausência de calor coloca o branco como uma cor que pode causar
Girl (parte de uma série de obras com títulos musicais em que sentimentos de isolamento e de falta de conforto: em design e deco-
usava determinada cor para criar um mood específico, tal como um ração, o branco é minimal, mas um espaço completamente alvo é
compositor faz nas suas sinfonias), usou esta cor delicada para vei- pouco ou nada acolhedor, principalmente e até pela sua conotação à
Antiga, na arte funerária, ilustrada com um ramo de oliveira ao cular a ideia de inocência e fragilidade, uma esterilidade de um hospital, clínica ou consultório médico. É a ideia
lado da palavra Paz. Mas o simbolismo não é apenas cristão: no simbologia transversal a muitas obras. Nos do intocado traduzida por “não se pode tocar” — traduzido, por sua
Brasil, a entrada no novo ano é feita envergando branco, para manuscritos, quadros e tapeçarias históri- vez, na ausência de ligação e toque humano.
auspiciar um ano de paz e pureza, uma tradição ligada à religião cos pós-clássicos, o unicórnio branco era
afro-brasileira Candomblé, na qual os fiéis usam trajes brancos um tema comum enquanto signo de pureza, liás, esta parafernália de conotações opostas e incongruentes
(tonalidade divina, de Oxalá) nos rituais, para promover a busca castidade e graciosidade, e o animal mítico alvo possível, uma prática que se populari- em relação ao branco é algo inerente ao próprio pantone: o
de purificação espiritual. A religião também coloca, tendencial- só podia ser capturado por uma virgem zou na aristocracia, mais tarde. No século branco é, simultaneamente, nenhuma cor e todas as cores.
mente, o branco como sendo espelho de luz e o negro de trevas, (recorrentemente, surgia na imagética ao XVIII, homens e mulheres da alta sociedade Por um lado, o branco existe enquanto pigmento, por isso, é
uma dualidade também explicada por um exemplo prático: à luz colo da Virgem Maria). Esta ideia de uma usavam este tipo de tinta, conforme conta um pantone em si. Por outro, no espectro de luz, o branco que
vemos tudo — aliás, o próprio tom exponencia-a, ao servir-lhe de imagem alva não corrompida foi também Maggie Angeloglou no seu livro A History of resulta da luminosidade (de um ecrã de televisão, por exemplo), não
refletor —, e é difícil haver segredos quando algo está iluminado, usada, sem surpresas, ao serviço do go- Makeup, para disfarçar todas as imperfeições tem um comprimento de onda específico, é antes a soma de todas as
enquanto que as trevas dissimulam, têm mistério, enganam o olhar, verno. Na Roma Antiga, quem concorria a da pele, uniformizando a tez no tom branco cores. Basta pensar no arco-íris e no facto de apenas se conseguir
promovendo o binómio de puro e impuro. Um de que a literatura lugares políticos públicos envergava bran- mais branco não há — uma emenda pior que ver as cores da luz do sol quando as gotas fazem a refração dos
muito se tem servido, usando recorrentemente o tom para fazer co, sendo que a palavra latina para a cor é o soneto, uma vez que a toxicidade desta raios solares e revelam o seu espectro (como acontece num prisma).
valer a componente virginal dos seus protagonistas, nomeadamente candidus (albus também é latim para branco, espécie de base de maquilhagem só piorava Aqui, o branco contém um equilíbrio, em igual medida, de todas
os femininos — o mais óbvio e popular sendo a heroína descrita mas refere-se a uma tonalidade menos lu- os problemas cutâneos e desencadeava uma as cores (o chamado white balance, uma afinação da temperatura
como pura e inocente, e batizada até com o nome Branca de Neve. minosa) - o que explica porque hoje usamos série de outras enfermidades, como anemia, cromática da imagem realizado antes de se fotografar ou gravar
Mas outros, mais subliminares, fizeram o mesmo: por exemplo, no o temo “candidato” para quem concorre perda de apetite, obstipação, dores de ca- digitalmente), representando, assim, tanto o aspeto positivo quanto
romance Tess of the d’Ubervilles (1891), de Thomas Hardy, a heroína a um cargo, porque já na altura, derivado beça, paralisia e podia resultar em morte. o negativo de cada cor. Mais ou menos como as associações que
homónima é conotada com o tom branco (é a tonalidade recorrente de candidus, era assim que estes políticos Essa consequência, conhecida ou não, era fazemos desta tonalidade alva, que mudam consoante o contexto.
das suas vestes) para sublinhar estes traços de bondade e pureza, eram denominados. Etimologicamente, a irrelevante, porque o desejo de estatuto falava Para o contexto desta edição subordinada à “idade da inocência”,
sendo que quando o co-protagonista Alec a viola, Hardy descreve palavra deriva de “cândido”, que significa mais alto — e branquear o rosto era afastar-se assuma-se este tom da cal como o seu mais ou menos consensual
Tess, que enverga um vestido em musselina branca, como “alva franco e honesto. Voltemos à semântica: do povo que, por trabalhar de sol a sol, tinha representante, mas que este texto sirva de disclaimer — não para a
como a neve.” O escritor Robert Graves, por sua vez, na obra sobre franco, honesto, puro, não-corrompido, tons bronze e longe do branco que a nobreza multiplicidade de significados do branco, mas para a multiplicidade
a gramática do mito poético, The White Goddess (1948), argumenta verdadeiro — inocente. podia exibir, no seu ócio protegido dos raios de cores da inocência, para evitar cair em clichês, lugares comuns,
que toda a poesia ocidental se inspira na figura da Deusa Tripla, uma solares. A História, de uma forma mais ou frases feitas ou preconceitos. l
as o branco, propositadamente ou não, nem sempre foi — menos subliminar, perpetuou esta ideia por ser interessante à classe
ou, melhor, nem sempre é — uma cor consensual no que diz dominante das sociedades ocidentais, mas a prática, hoje em dia,
respeito ao seu lado positivo e luminoso. Aliás, muita desta adotou um plot-twist: são poucos os que desprezam o ar saudável
corroboração literária do seu simbolismo é também reflexo que uma cor estival responsável pode trazer à face e ao mood. Aliás,
do background dos seus autores e consequentes referências. não é à toa que a palidez é associada à morte (descrita no Livro
Associamos a tonalidade à ideia de inocência como consequência das Revelações, enquanto um dos quatro Cavaleiros do Apocalipse,
de um contexto que, quando se altera, deita por terra muitas das a montar um “cavalo pálido”) e que os fantasmas são percebidos
premissas deste artigo. Por exemplo, nas culturas orientais, o branco enquanto espíritos num lençol branco, na cultura popular. Talvez
é conotado com o luto e com a tristeza — nas ocidentais, o costume numa espécie de referência ao vazio, no entendimento do branco
também vigorou até ao século XVI, as viúvas dos reis de França como uma “ausência de cor”, o tom também remete para a ausên-
usaram branco até Ana de Bretanha (1477-1514) —, e há quem sinta cia, a morte, o fim da vida. Em algumas culturas orientais, é ligado
no branco frieza e aborrecimento. O passar do tempo também tem à passagem para uma nova vida e conotado com má sorte. O que
mudado conotações: era comum, por exemplo, na Antiga Grécia, justifica também o facto de, na China, ao contrário do que acontece
usar tinta branca feita de chumbo para pintar a cara no tom mais no Ocidente, o luto ser feito em branco, porque traduz a remoção de English version
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Feels like home Innocence é o reflexo da pureza da porcelana. As suas notas frutadas
de seiva de figo são complementadas pela elegância de um bouquet
de pétalas de jasmim e de íris branca, encontrando na madeira de
Haverá algum aroma capaz de descrever sensações tão sândalo o seu ponto de equilíbrio. É o aroma ideal para acompanhar
fortes como o mistério, o poder ou a inocência? A Vista momentos de silêncio e meditação, trazendo serenidade até ao
Alegre sonhou e três essências imperdíveis nasceram. coração do lar. Quem procura uma fragrância mais alegre e ener-
gética, irá encontrar o seu par junto de Pouvoir. As cores quentes
pintadas nas porcelanas deste conjunto intensificam a celebração
dos acontecimentos mais marcantes, quando as emoções são ex-
pressas sem medo ou vergonha. No campo olfativo, denota-se um
aroma poderoso, não fosse esse o nome que lhe dá vida. Notas de
óleo de conhaque são combinadas com extrato de carvalho, cortiça
e âmbar, acentuadas pela singularidade de especiarias e raízes de
vetiver. Antigas técnicas de fermentação inspiraram o nascimento
desta gama, relembrando objetos ilustres como os decantadores
em cristal da Vista Alegre. Há ainda a possibilidade de encontrar
um refúgio paradisíaco nos aromas facultados pela coleção Mystère.
Com o intuito de avivar as memórias passadas à beira-mar, quando
a brisa marítima flutua em nosso redor, esta fragrância é composta
por essências icónicas, como as pétalas de rosa, lírio do vale e
jasmim. Os tons azulados das suas porcelanas espelham o ponto
do horizonte em que céu e água se tornam num só.
As três essências da coleção Home Cosmetics foram criadas em
parceria com Stéphanie Bakouche, uma célebre perfumista francesa
que já colaborou com marcas conceituadas de alta perfumaria por
todo o mundo. A formação de Bakouche remonta ao Institut Supé-
rieur International du Parfum, de la Cosmétique et de l'Aromatique
Alimentaire e, hoje, é formadora na École Supérieure du Parfum,
em Paris. Apesar de ser um novo segmento da Vista Alegre, a Home
Cosmetics já recebeu os aplausos da crítica, e foi galardoada com o
prémio Silver nos Muse Design Awards. l
cada pessoa possa encontrar o aroma que melhor complementa o English version
seu espaço, a coleção Home Cosmetics divide-se em três fragrâncias
Da esquerda para a direita, as três linhas que compõem
inspiradas em sensações que habitam o núcleo do ser humano: a a nova gama Home Cosmetics: Mystère, Innocence e Pouvoir.
inocência, o poder e o mistério. À venda nas lojas da Vista Alegre e loja online.
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LIFESTYLE GOURMET
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LIFESTYLE GOURMET
seja bebido e não comido. A pap tem, na sua elaboração, uma gi-
gantesca influência colonial africana. Originalmente, é denominada
ugali, posho ou sima, mas cada país africano tem a sua denominação
(uma centena ou mais). Em Angola, por exemplo, é funge, o que faci-
litará a identificação por parte do leitor mais afoito a experimentar
comida exótica. Tradicionalmente, é feita com farinha de milho e
a sua consistência não permite ser bebida, ao contrário do gruel.
Os grandes responsáveis pelo facto de este ser o alimento trans-
versal aos humanos que habitam o mais belo continente do mundo
são, claro está, os portugueses, que trouxeram a maçaroca do
continente americano e, mais tarde, a mandioca e o arroz. Antes
disto, era o sorgo e o painço. Esqueçam as receitas que encontram
a partir daí que, até ao século XIX, surgem aqueles que na Internet, onde será apresentado como pouse, treze, catorze e meia, a coisa não está tão feia, dezasseis,
serão os primeiros exemplares de livros de puericultura. acompanhamento de mão de vaca (mazon- dezassete, mais um pingo no babete (homenagem ao saudoso José
Amplamente editados, são verdadeiros tratados onde, nos do), abóbora (ndebele) ou galinha (inkukhu). Barata Moura). É também a Conchita, a Lyuba, a Arjun, a Bomani, a
capítulos dedicados à alimentação, se curava sobre as vir- Nunca esqueçamos, romantizando algo que Ahmad ou a Mayumi. Em todo o mundo há uma papa que se desti-
tudes e perigos da sua vertente artificial, com receituário só existe no nosso ideal, que a esmagado- na a alimentar o humano nesse grande marco da sua vida que é a
específico para cada tipo de papa. Com isto, surgem as ra maioria dos africanos come funge (ou os passagem do leite materno para os alimentos que farão parte do
definições mais técnicas ainda hoje usadas. Em inglês, equivalentes busuma, chima, isishwala, mutuku, resto da sua vida e, paradoxalmente (ou não) quando estamos a
claro, faz-se a distinção entre papas, a saber: pap, uma sakoro, xima e etc.) porque não tem mais na- um passo de morrer, incapacitados de digerir grandes gourmandices
comida semissólida feita de farinha ou migalhas de pão da. Finalmente, a panada. Este tipo de papa e com a dentição a 10%.
cozinhadas em água, com ou sem leite (e que nos levou equivalerá àquilo que os lisboetas chamam
a denominar o mesmo género de alimento como “papa”, de açorda. O pão é rei e, quando passa aquele experimentou fazer molho branco (o outro termo para bechamel), m Portugal, o século XX foi determinante no consumo de
assim como chamamos “queque” a um cake). Gruel, uma papa mais estado em que já nem para torradas serve, sabe que os primeiros ingredientes, a farinha e a manteiga, têm de papas. Porque entrou a publicidade e fez com que a tão antiga
fina resultante da fervura de cereais em água ou leite (o termo ficou é reidratado naquilo que, dependendo da ter partes iguais. É o leite, adicionado depois, que dita a cremosidade e simples adição de amido de milho à água adquirisse contor-
e ainda hoje os ingleses se referem, de forma pejorativa, a qualquer região geográfica da sua confeção, será um do molho. Imagine-se, então, que se quer um pouco mais sólido. O nos muito mais requintados com a inclusão do cacau em pó
alimento com um aspeto aguado e pouco apetitoso como “what a caldo. Em Itália, mais exatamente na Tosca- que fazer? Exatamente: juntar mais farinha. A dificuldade está em e baunilha, ainda que em quantidades mínimas. Surgiram as
gruel”). Por fim, a panada, uma preparação de vários cereais ou pão na, as variedades acquacotta e ribollita são as evitar os mais que certos grumos. Boa sorte. farinhas. Mais especificamente, a 33 e a Amparo. Diferenças entre
cozinhados num caldo. Todas elas cabem na denominação comum mais populares e têm como base caldo de No tempo em que eu era criança, que já foi o século passado, não elas? Uma tinha malte, a outra não. Só foram destronadas pela
de porridge, ou seja, aquilo que para nós corresponde a papa ou vegetais, cogumelos e, no final, muito queijo ler livros da Disney era ser antissocial. Não seríamos admitidos Cerelac e pelo Nestum Mel. Entretanto, a textura de papa deixou
papas. O gruel pode obter-se da moagem de aveia, trigo, centeio ou ralado. Em França leva, claro, manteiga ou em metade das conversas na escola, por exemplo. Aquele universo de agradar ao palato das gerações mais recentes, que preferem
arroz (nas suas formas mais antigas podia ser de painço, cânhamo, natas. Na vizinha Espanha, a mistura é ligada onde Peninha, Urtigão, Maga Patalógica, Gastão, Morcego Verme- os cereais, esse perigoso americanismo com a mesma quantidade
cevada, castanha e bolota) aquecidos ou fervidos em água ou leite. com gema de ovo, à semelhança da nossa lho e Madame Min nos punham um sorriso na cara, tinha uma de açúcar numa tijela como a que deveríamos ingerir durante
Está associada, por preconceito, às comunidades mais rurais do açorda e, na Grã-Bretanha, leva passas, noz particularidade. Editados pela Abril Murumbi, eram redigidos em uma semana. E por falar em saúde, falemos também de ironia. Já
Reino Unido e à pobreza (tendo sido Charles Dickens, nos seus moscada e muito açúcar. Na alta cozinha, a português do Brasil. Que já dominávamos com tanto Chico Buarque alguém pensou que os humanos só descobriram os cereais e o seu
Um Conto de Natal e Oliver Twist, um dos principais responsáveis panada é um termo que define um acompa- e Caetano na aparelhagem e, na TV, Tieta do Agreste e Roque Santeiro cultivo quando se tornaram sedentários (deixando de ser nómadas
por essa ideia) e, por senso comum, à alimentação dos doentes ou nhamento que não é mais que um molho ao serão, Top Model e Vereda Tropical à hora de almoço e, ao sábado recoletores) e, entretanto, estamos em 2023 e é extremamente
como parte do processo de introdução dos bebés aos alimentos de bechamel com a densidade de um puré. Para de manhã, Sítio do Picapau Amarelo. Nessa musicalíssima variante perigoso ingerir cereais se tivermos uma vida sedentária? Não?
adultos. Muitas vezes, a sua consistência leva a que o seu consumo quem toca de vez em quando em tachos e já do português do outro lado do Atlântico, a palavra “mingau” era Bem me queria parecer. l
recorrente. Mais uma vez, relacionada com pobreza ou alimentação
para bebés. A título de mero exemplo, lembro-me de Zé Carioca,
papagaio favelado, “trapaçar” meio mundo para poder fazer uma
feijoada e não ficar assim condenado a comer apenas mingau. Só
EM TODO O MUNDO HÁ UMA PAPA QUE SE muitos anos depois, quando a Internet dava os primeiros passos,
DESTINA A ALIMENTAR O HUMANO NESSE soube o que significava aquele vocábulo. E significava, apenas,
GRANDE MARCO DA SUA VIDA QUE É A papa. Originário da língua tupi, na qual significa “o que alguém
PASSAGEM DO LEITE MATERNO PARA OS empapa”, o mingau pode ser de farinha, de amido de milho, de
ALIMENTOS QUE FARÃO PARTE DO RESTO fubá (mandioca) ou de arroz. É, também no Brasil, o primeiro
DA SUA VIDA E, PARADOXALMENTE (OU NÃO) alimento dos bebés e, como tal, é equivalente aos mais recentes
QUANDO ESTAMOS A UM PASSO DE MORRER,
Cerelac e Nestum, ou seja, aquele refúgio de memória do palato
INCAPACITADOS DE DIGERIR GRANDES
ao qual regressamos em dias chuvosos, com uma manta no sofá
GOURMANDICES E COM A DENTIÇÃO A 10%.
enquanto assistimos, pela enésima vez, ao Love Actually. Assim,
não é só a Joana que come a papa, um, dois, três, uma colher de
cada vez, quatro, cinco, seis, era uma história de reis, sete, oito,
nove, ainda nada se resolve, dez, onze, doze, à espera que a mosca English version
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Girls talk
Pergunta para um milhão de euros: do que é que as mulheres falam quan-
do vão à casa de banho? De muitas coisas, coisas essas que nunca serão
reveladas, porque se há algo que merece ficar no segredo dos deuses é o
mistério que cimenta a amizade feminina. Podemos, porém, desvendar
algumas indiscrições: a maquilhagem é um dos temas que vem sempre à
baila, nomeadamente as tendências mais quentes da estação. Por Eduardo Rosewood. 1 2 3 4 5
Glossy lips
Depois de quase duas décadas escondido no fundo do nécessaire, o lip gloss ressurgiu das cinzas e tornou-se um dos produtos de beleza
mais procurados dos últimos meses. Esteve em quase todas as passerelles, de Fendi a Victoria Beckham, passando por Blumarine,
FOTOGRAFIA: IMAXTREE; D.R.
uma das marcas que mais abraçou a estética Y2K. Nostalgia? Sim, mas não só. O brilho proporcionado por uma simples aplicação
de lip gloss é suficiente para completar o look minimalista que a tendência de maquilhagem pós-pandemia tanto procura alcançar.
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por qualquer mulher – qualquer que seja a estação do ano ou a tendência do momento. Haverá sempre truques mais ou
menos infalíveis para conseguir aquele olhar de mulher fatal (se dissermos “Lolita” arriscamo-nos a ser cancelados, certo?), ilumina e realça as maçãs do rosto – o que, no fundo, é o que se pretende com qualquer blush. Nas passerelles a tendência
por isso deixamos alguns produtos que nunca falham quando o objetivo é um olhar fatal, perdão, fantástico. continuou, com eyeliners e sombras da mesma cor a comandarem as inspirações de várias marcas e designers.
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diária. Porém, a melhor forma de prevenir o envelhecimento precoce da pele é com uma forte aposta na proteção solar. Flacidez, pele baça ou olheiras são algumas das caraterísticas que uma boa rotina consegue minimizar em poucas semanas.
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mas é por isso que se deve apostar em fórmulas eficazes, indicadas para esta fase tão particular da vida. optando por produtos que não só trazem prazer na sua aplicação, como resultados que correspondem ao nosso tipo (único) de pele.
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tilizar a maquilhagem como um fator de integração Claro que o debate sobre o que é “correto” “HÁ JOVENS MUITO À FRENTE, E MUITO
social não acontece apenas entre os mais jovens. Pa- na maquilhagem não é exclusivo das ge- MAIS À FRENTE DO QUE UMA BOA PARTE
trícia Lima acredita que, na verdade, este é o motivo rações acima referidas. Boomers (pessoas DE NÓS, CRIATIVOS MADUROS QUE
que explica muitas das tendências adotadas pelas dife- nascidas entre 1946 e 1964) e Geração TRABALHAM NESTA ÁREA. (...) HÁ UNS
rentes gerações. Tomemos como exemplo o contouring, X (de 1965 a 1980) foram responsáveis ANOS ERA IMPENSÁVEL. AS JOVENS NÃO
uma técnica de maquilhagem de aperfeiçoamento dos por revolucionar diversos aspetos da SE MAQUILHAVAM. MESMO AS MULHERES
ADULTAS MAQUILHAVAM-SE MUITO
traços do rosto. A crença popular dita que foram os beleza que hoje consideramos triviais,
POUCO. HOJE NÃO.” Patrícia Lima
Millennials quem difundiu a utilização do contouring, mas como a procura por cirurgia estética e,
a maquilhadora nota que a sua popularidade surgiu ao em particular, a aplicação de botox. Neste
mesmo tempo que um reality show que, embora não o momento, estas gerações são as maiores
queiramos admitir, moldou a sociedade em diversas consumidoras de produtos antienvelheci- existem preconceitos? Claro, os preconceitos são também do tempo
formas: Keeping Up with the Kardashians. Para além de técnicas de mento do mercado cosmético, e isso não da Maria Cachucha. Durante a minha pesquisa para este artigo, dei
maquilhagem – das quais o contouring é uma das mais proeminentes é exceção quando se fala de maquilhagem. por mim no meio de um campo de batalha geracional. Um vídeo,
– esta família popularizou um estilo de vida e, por isso, mais do “Normalmente, as pessoas com alguma publicado no YouTube, explicava as diferenças na forma como as
que a idade, é a procura por esse mesmo lifestyle que pode ditar a idade, já maduras, também em termos duas gerações digitais – Millennials e Geração Z – se maquilhavam,
adoção (ou abolição) desta e de outras técnicas de maquilhagem. de personalidade, estão mais vincadas a sem conseguir esconder a sua parcialidade face a uma das gerações.
Há outro fator a ter em conta quando abordamos os hábitos de uma determinada imagem. Não são tão Na caixa de comentários, cada pessoa, defendendo o seu ano de
beleza dos Millennials. Como conta Patrícia Lima, “as mulheres experimentalistas, não arriscam tanto. nascimento, proferia palavras como “certo,” “errado,” “bem,” e
que têm agora 20 e muitos, 30 anos, entraram numa fase de mu- (...) O maior receio [deste] público é que “mal”, e eu não conseguia deixar de pensar como esses termos
dança (...) no consumo da maquilhagem.” Por um lado, sentem a pareça mais velho ou que as marcas da não se enquadram na minha forma de ver a maquilhagem. O que
liberdade social de ir mais além no que toca às suas escolhas de pele se tornem mais realçadas”, explica mais me encanta neste mundo é poder explorá-lo sem acreditar
beleza, mas, por outro lado, estando já numa fase profissional, o Patrícia Lima, baseando-se na sua expe- que existem técnicas certas e erradas, passos bem ou mal feitos.
seu lado criativo pode ficar mais inibido. É por isso que, para a riência profissional. Para responder a Existem, sim, pessoas que agarram aos pincéis para exteriorizar
maquilhadora, o que reina nesta geração é a expressão da “perso- estes pedidos, a maquilhadora mune-se aquilo que de melhor habita no seu interior. Se queremos falar de
nalidade”, nomeadamente “se gostam de uma pele mais perfeita, de variadas técnicas que contribuem para “certos” e “errados”, falemos disso. Errado não é uma pessoa de 70
mais opaca, se gostam de uma pele muito natural, se são mais minimizar a aparência das rugas em peles anos usar batom vermelho para ir comprar pão. Erradas estão as
sexy, se gostam de um olho mais esfumado”, o que pode explicar mais maduras, e partilhou algumas das pessoas que veem um problema nisso. E essas podem ir conviver
a diversidade de estilos existente atualmente. mais importantes com a Vogue Portugal. com a Maria Cachucha. l
Comecemos pela base: “[é importante] Utilizar uma base e cor- alguns pontos, utilizar tons que sejam
retores de olheiras que não vinquem tanto e que tragam alguma mais frescos, mais quentes, como os ro-
frescura à pele. Normalmente são bases mais hidratantes, muitas sas ou os pêssegos, para trazer alguma
vezes com pigmentos refletores de luz (...). Quanto mais mate for frescura à maquilhagem.” Algumas destas
a base, mais a pele fica grossa e pesada em termos de ‘idade’.” Pa- técnicas podem também ser aplicadas em
trícia Lima continua a sua lista de sugestões, explicando que “tudo faces mais jovens, mas, nesses casos, Pa-
o que é irisado, isto é, que tenha partículas de brilho, acumula nas trícia Lima afirma que será uma questão
rídulas, nas rugas, e acaba por vincar mais.” Por isso, “sombras da “fisionomia do rosto,” não sendo tão
com brilhantes, iluminadores, blushes [com pigmentos irisados] importante em termos de adequação da
acabam por marcar muito mais a textura da pele.” Caso queiramos maquilhagem à idade.
oferecer alguma luminosidade à pele sem cair nestas armadilhas, Se existe uma lição a retirar, que essa seja que, embora existam
a maquilhadora aconselha a utilização de “produtos em creme”, técnicas de maquilhagem para enaltecer a beleza natural das várias
tendo em atenção a “quantidade, porque o creme também acumula.” gerações, isso não impede que cada pessoa posicione a sua indi-
Outro ponto que deve também ser tido em conta é a definição dos vidualidade em primeiro lugar. Mais do que a idade, Patrícia Lima
lábios. “Com a idade, perdemos alguma definição do contorno dos acredita que as preferências e gostos na escolha da maquilhagem são
lábios e as rugas acabam por fazer com que o batom fique man- impactados pela “forma como [cada um] se vê, enquanto pessoa,
chado com mais facilidade”, esclarece Patrícia Lima. Nesse sentido, na sociedade.” É por isso que, daqui a uns anos, alguns Millennials
a maquilhadora aconselha a “usar um lápis delineador, que ajude poderão adotar a tendência das sobrancelhas finas, tal como uma
tanto a dar forma como a proteger o batom” de manchar. A última parte da Geração Z, e de outras gerações, o fará. A idade é apenas
sugestão prende-se com as cores do look de maquilhagem: “Os tons um fator, entre tantos, que define a predisposição de uma pessoa
frios e escuros acabam sempre por pesar um pouco. Portanto é para preferir um certo look em detrimento de outro. Agora, se
English version importante que, na escolha dos tons, procuremos, pelo menos em
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BELEZA MOOD
Rainbow Room
Não o do topo do Rockefeller Center, mas antes aquela sala arco-íris que criamos
num imaginário pueril onde nos podemos refugiar. O paraíso de mil cores e cheio de
flores que maquinamos na mente, em criança, e que nos acompanha no âmago até
à idade adulta. Um Jardim do Éden à nossa medida, cada vez mais secreto ao longo
dos anos, onde a inocência da infância não se perde. E fechamo-lo a sete chaves, à
medida que os anos se apoderam que nem trepadeiras dos seus muros e que os
afazeres de um quotidiano de crescimento forçado enferruja o seu portão de ferro.
Mas deixamo-lo revelar-se numa fresta de inocência, sem ninguém saber… pintando
de todas as cores as pálpebras e os lábios e as pestanas, numa rainbow room que vive
à vista de todos, no nosso rosto.
Fotografia de Ruo Bing Li. Styling de Jolene Lin. Cabelos de Junya Nakashima. Maquilhagem de Kuma.
Base Studio Face and Body Foundation, no tom C1, € 49,50, e sombra de olhos,
no tom Humblebrag, € 23, MAC. Sombra de olhos Diorshow Mono,
no tom 573 Mineral, DIOR. Blush, no tom Deep Throat, € 35, NARS.
Pestanas postiças Fabulashes 3D Faux Mink, no tom C15, KARA BEAUTY.
English version
Vestido e camisola, MARC JACOBS. Base Studio Face and
Body Foundation, no tom C1, € 49,50, e sombra de olhos,
no tom Electric Eel, € 21, MAC. Sombra de olhos Diorshow
Mono, no tom 516 Delicate, DIOR. Na página ao lado: base
Studio Face and Body Foundation, no tom C1, € 49,50,
e sombra de olhos, no tom Humblebrag, € 23, MAC.
Sombra de olhos Diorshow Mono, no tom 573 Mineral, DIOR.
Blush, no tom Deep Throat, € 35, NARS. Pestanas postiças
Fabulashes 3D Faux Mink, no tom C15, KARA BEAUTY.
Top, KIM MESCHES. Base Studio Face and Body
Foundation, no tom C1, € 49,50, e batom Matte Lipstick,
no tom You Wouldn’t Get It, € 23, MAC. Sombra de
olhos Duo Cream Eyeshadow, no tom Burn it Blue, e
blush, no tom Orgasm, € 35, NARS. Na página ao lado:
vestido, ACNE STUDIOS. Base Studio Face and Body
Foundation, no tom C1, € 49,50, e sombra de olhos,
no tom Chrome Yellow, € 23, MAC. Sombra de olhos
Diorshow Mono, no tom 573 Mineral, DIOR. Blush,
no tom Torrid, € 35, NARS. Batom Le Marc Lip Crème,
no tom 248 Willful, MARC JACOBS BEAUTY.
Top, KIM MESCHES. Base Studio Face and
Body Foundation, no tom C1, € 49,50, e batom
Matte Lipstick, no tom Heroine, € 23, MAC.
Blush, no tom Behave, € 35, NARS.
Nas duas páginas: top e saia, ECKAHAUS LATTA. Base Studio Face and Body Foundation, no tom C1, € 49,50, sombra de olhos,
no tom Humblebrag, € 23, sombra de olhos Dazzleshadow Extreme, no tom Celebutante, € 24, e batom Matte Lipstick,
no tom Get the Hint, € 23, tudo MAC. Sombra de olhos Single Eyeshadow, no tom Matcha, € 23, e blush, no tom Liberté, € 35, NARS.
Fotografia: Ruo Bing Li @ Saint Luke Artists. Modelo: Ling Ling @ The Industry Model Management. Maquilhagem: Kuma @ Streeters. Produção: Heng Qing Zhao.
Casting: Marina Fairfax. Assistente de fotografia: Tianyao Wang. Assistente de styling: Yoyo Zhang. Editorial realizado em exclusivo para a Vogue Portugal.
BELEZA HISTÓRIA
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BELEZA HISTÓRIA
scusado será dizer que o blush nem sempre foi bem re-
cebido pela sociedade. Na Idade Média, a vermelhidão da
pele era um sinal de pobreza, associada a quem passava
muito tempo a trabalhar ao sol e, por esse motivo, entre as
classes mais altas, foram popularizados tratamentos opos-
tos, que disfarçavam o sangue que circulava no rosto. Um
dos mais radicais envolvia a utilização de sanguessugas.
Durante o reinado de Vitória do Reino Unido, entre 1837 e
1901, qualquer produto de tom avermelhado (como o blush
ou o batom) era considerado vulgar e inferior – até porque
nem é possível contar a história de qualquer produto de
maquilhagem sem relembrar as conotações pejorativas que, em
algum ponto da história, o associam à prostituição. Façamos como
as flappers, então, que souberam tomar o poder de volta. Durante
os loucos anos 20, este grupo vanguardista de mulheres aplicava
blush nos joelhos, já que era esta parte do corpo que estava visível
(e não escondida por uma saia comprida, como era socialmente
“correto”). Desde então, poucas foram as vezes em que o blush foi
usado como um meio de revolução social – uma dessas vezes deu-se
na década de 70, quando David Bowie fez deste produto uma arma
contra rígidos estereótipos binários de género – mas o seu papel
no mundo da maquilhagem manteve-se intacto.
Atualmente, o blush flutua no meio de uma roda viva de tendên-
cias, cada vez mais acelerada e diversificada. Nos anos 80 estava
in (muito in, talvez in demais) e, na década seguinte, já se dava
prioridade a tonalidades e pinceladas mais suaves nas bochechas.
Chegados ao século XXI, o estilo Y2K (leia-se, do início dos anos
2000) revitalizou este produto de maquilhagem, dando prioridade
às suas tonalidades mais rosadas. Mas, com a entrada na década
de 2010, a sua utilização começou a cair em desuso, à medida que
looks inspirados no estilo gótico ganhavam terreno. É difícil prever
POR SARA ANDRADE. FOTOGRAFIA: D.R.
13 4 vogue.pt
BELEZA BEST OF
As pure as snow
Inspirámo-nos na neve que cai lá fora (pelo menos em alguns pontos do globo)
para selecionar os produtos que precisamos de ter na nossa beauty shelf de fevereiro:
todos imaculadamente brancos, ou não fosse esta uma edição dedicada à inocência.
Por Vogue Portugal. Artwork de João Oliveira.
Máscara de rosto multi-ação com tecnologia LED Gel hidratante Dramatically Different Hydrating Jelly, Clinique
Unicled Korean Mask, UNICSKIN Baixas temperaturas pedem texturas altamente hidratantes. O frio é um dos maiores inimigos da pele, por isso qualquer
A máscara de rosto com tecnologia LED é um dos produtos estrela da Unicskin. A Unicled Korean Mask já foi testada por produto cujos ingredientes consigam combater as agressões do meio ambiente são particularmente necessários nesta altura
celebridades como Kim Kardashian, Jessica Alba ou Kate Hudson, que deram o seu parecer positivo a este tratamento simples, do ano. É o caso deste gel da Clinique. Fortalecido com ácido hialurónico, a sua consistência gelatinosa penetra profundamente
altamente eficaz e não invasivo. As diferentes cores da luz LED têm diferentes funções (anti-manchas, anti-idade, firmeza, na tez e proporciona-lhe proteção e suavidade que duram até 24 horas. Um plus? Uma luminosidade incrível.
efeito relaxante, rejuvenescimento celular) e podem tratar, de forma abrangente, os problemas de pele mais comuns. Gel hidratante Dramatically Different Hydrating Jelly, €49,50, CLINIQUE, em LOOKFANTASTIC.PT.
Máscara de rosto multi-ação com tecnologia LED Unicled Korean Mask, € 315, UNICSKIN, em PERFUMESECOMPANHIA.PT.
vogue.pt 139
BELEZA BEST OF
Sérum hidratante Hyaluronic Serum, Dr. Barbara Sturm Máscara revitalizante, iluminadora e refrescante Le Blanc, Chanel
É um dos (muitos) hits da linha de cuidados de pele assinada pela Dra. Barbara Sturm, um dos principais nomes da medicina Formulada com o precioso extrato da flor de Damasqueiro, um ingrediente natural e exclusivo com poderosas propriedades
estética a nível mundial. Com uma concentração ótima de moléculas hialurónicas de baixo e alto peso, proporciona antioxidantes, a máscara Le Blanc é o acessório perfeito para qualquer rotina de noite. Deve ser aplicada uniformemente
uma hidratação instantânea tanto à superfície como nas camadas mais profundas da pele. Quando aplicado regularmente, em todo o rosto, evitando o contorno dos olhos, atuando como um véu estimulante que revitaliza, ilumina e refresca a tez.
melhora a textura da tez e reduz a formação de rugas. Um must-have para experimentar agora e usar para sempre. O resultado é uma pele que respira saúde e beleza, profundamente hidratada.
Sérum hidratante Hyaluronic Serum, € 270, DR. BARBARA STURM, em SKINLIFE.PT. Máscara revitalizante, iluminadora e refrescante Le Blanc, € 76, CHANEL.
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BELEZA TEST DRIVE
À prova de gelo
Os termómetros estão como o nosso mood de domingo à tarde
(níveis de energia: baixíssimos; quantidade de paciência a usar
até chegar segunda-feira: menos três; valores de simpatia a
partilhar com outros seres humanos: zero), por isso vascu-
lhámos o armário da casa de banho à procura dos produtos
que conseguem proteger a nossa pele do frio que se faz sentir.
Por Vogue Portugal.
Promete: hidratar, fortalecer e regenerar a barreira cutânea da pele. Promete: nutrir, proteger e reparar a pele seca.
Palavra da Vogue: um ícone no universo da beleza, o The Moisturizing Palavra da Vogue: consta que, a cada 15 segundos, uma embalagem de Cicaplast
Cream, da La Mer, dispensa apresentações. Com uma textura suave e sedosa Baume B5 é vendida na Europa. Não é de estranhar, tendo em conta as variadíssimas
que combina dois ingredientes-chave, o exclusivo Milagre Broth™ e o Chá de funções deste produto-milagre, que nos últimos meses conheceu um hype gigantesco,
Lima antioxidante, este creme ultra-rico tem uma ação hidratante, refirmante nomeadamente no TikTok. O burburinho é merecido. Agora que as temperaturas atingem
e suavizante — como que por magia, o The Moisturizing Cream acalma a níveis mínimos, a pele tende a ficar irritada (há quem a sinta extremamente seca, outros
sensibilidade da pele, protegendo-a das agressões externas. A aplicação diária poderão estranhar a sua súbita “vermelhidão”) e é aqui que entra em cena este bálsamo
proporciona uma pele mais firme, reduz visivelmente as linhas e rugas e ultra-regenerador, que em menos de nada apazigua as áreas afetadas. Além de funcionar
confere à tez um aspeto mais elevado, rejuvenescido e apelativo. Num mundo como agente de proteção cutânea, o Cicaplast Baume B5 pode ser usado como máscara de
repleto de listas de “melhores do mês” e de “trending topics”, este é um daqueles noite. Em qualquer dos casos, o resultado final será sempre cinco estrelas.
produtos para durar uma vida. Creme hidratante The Moisturizing Cream, € 345, La Mer. Bálsamo reparador Cicaplast Baume B5, € 9,45, La Roche-Posay.
camada generosa de produto sobre a pele. Pro tip: é também um lifesaver apenas pelo cheiro, o Vinotherapist estaria certamente no topo desse
na altura do verão. Máscara hidratante hydravital mask, € 45,44, Mesoestetic. ranking. Ainda antes de se aplicar o produto, já é possível sentir o cheiro
cítrico intenso, mas desengane-se se pensa que este permanecerá, com a
mesma intensidade, ao longo de todo o dia. A pele fica hidratada, o aroma
desvanece e a suavidade nas mãos perdura — a textura cremosa e a rápida
absorção do creme permitem uma hidratação profunda, sem efeito oleoso.
É um creme vegan, com 98% de ingredientes naturais, protegendo a pele
da desidratação e das agressões diárias e fortalecendo, também, as unhas
English version e as cutículas. Creme reparador de mãos e unhas Vinotherapist, € 9,50, Caudalie.
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BELEZA LANÇAMENTO
Objeto de desejo
À primeira vista, parecem pequenas joias ou lucky charms que
queremos usar como um acessório mais. No entanto, os produ-
tos de maquilhagem que compõem a novíssima Herrera Beauty
são muito mais do isso: customizáveis e recarregáveis, refletem
o espírito da marca fundada em 1981 por Carolina Herrera e
trazem um olhar revolucionário sobre o universo da beleza.
bras Chico Mono existem em 20 tons distintos e três acabamentos tos. Herrera Beauty é, em suma, a personificação da elegância que
sensacionais – e prometem durar até doze horas. O portefólio da carateriza a maison, sem nunca perder a irreverência e a sofisticação
coleção contempla ainda 36 tonalidades de batons, divididas entre despreocupada que a tornaram famosa. l
English version 16 tons matte, 12 satins e oito sheer. Na linguagem da cor ninguém Os produtos Herrera Beauty estão disponíveis no El Corte Inglés, em Lisboa.
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BELEZA LADO B LADO B BELEZA
O que se passa na
infância, fica na infância?
Geralmente apelidados de gatilhos emocionais, refletem-se no quotidiano em si- oucas coisas são tão difíceis de dissecar como a mente e tudo o que esta
incorpora. Onde é que começam e terminam os traumas de infância quando
tuações onde traumas do passado são ativados. Ocorrem sem que haja qualquer queremos arranjar uma justificação para certo comportamento? E quando é
controlo — ou consciência — sobre os mesmos, sendo crucial reconhecê-los para que a personalidade entra em jogo? O que é que está enraizado em nós que
depois os resolver. Não sendo impossível, é difícil. Mas vale a pena o esforço: tudo nos faz agir “assim”? O que é apenas “mau feitio”, “fraqueza de espírito”, ou
uma “mania” entranhada? A linha que separa aquilo que é nosso, daquilo que vamos
em nome de uma existência mais serena. Por Pureza Fleming. adquirindo ao longo da nossa existência, através das experiências da vida, é ténue
e, muitas vezes, torna-se complexo identificar o que é o quê. Sempre mantive uma
curiosidade aguçada acerca dos assuntos da mente, assim como sempre considerei
que a melhor maneira de evoluirmos, enquanto seres humanos, é tentarmos entender
o que é que está “errado” dentro de nós, para o mudarmos e, quem sabe, sermos
conduzidos a uma vivência mais pacífica: connosco mesmos, com os outros, com o
mundo. Por estes e outros motivos, tenho passado a vida a fazer terapias de várias
ordens. Culminei na psicanálise, ramo clínico que se encarrega de ir aos meandros
do inconsciente, mas também a fase mais “lá atrás”, a infância, para escavar como se
não houvesse amanhã. E, então, de lá retirar o máximo de insights possível. Cumpri
durante algum tempo sessões semanais até que me cansei de explorar. A minha
resistência em continuar com as consultas prendeu-se (também) com o seguinte
pensamento: “Já percebi tudo, já sei que situação X ou evento Y lá atrás contribuíram
para o comportamento Z de hoje. Mas não chega de ‘bater no ceguinho’?” E dei
por terminada a minha tournée pelos confins da minha psique. “O trauma é muito
mais do que uma história sobre algo que aconteceu há muito tempo”, escreveu o
psiquiatra e autor Bessel van der Kolk no seu livro, The Body Keeps the Score (2014),
leitura que rapidamente se tornou referência máxima no assunto dos traumas
infantis e ligação destes à vida adulta. “As emoções e sensações físicas que foram
impressas durante o trauma são experimentadas não como memórias, mas como
reações físicas perturbadoras no presente.” A este propósito, escreve o The New
York Times: “O argumento central do livro é que as experiências traumáticas – tudo,
desde agressão sexual e incesto a abuso emocional e físico – ficam incorporadas
nas partes mais antigas e primitivas do nosso cérebro que não têm acesso à per-
ceção consciente. Tal significa duas coisas: primeiro, o trauma aloja-se no corpo.
Carregamos uma marca física das nossas feridas psíquicas. [...] O que obscurece as
memórias, convence-nos de que a vitimização é culpa nossa, ou encobre o evento
com vergonha para que não o discutamos.”
Marta Calado, psicóloga clínica e de saúde, esclarece: “A infância é uma fase com
grande influência na vida adulta porque as experiências vivenciadas quando somos
pequenos permanecem marcadas para sempre na nossa mente, e [as mesmas]
podem ser responsáveis pelos designados traumas de infância, sobretudo aquelas
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BELEZA LADO B
partir de inúmeras áreas de preocupação social: reconhecimento da prevalência alguém que tenha tido uma infância difícil é mais propenso a fumar, beber, ou ter
da violência contra mulheres e crianças (violação, espancamento, incesto); iden- comportamentos que podem arruinar a saúde. “Isto não é ciência. É apenas ‘mau
tificação do fenómeno do transtorno de stress pós-traumático em veteranos de comportamento’”, pode-se dizer. Mas é precisamente aí que a ciência entra. Hoje
guerra (à época, do Vietname); e consciência das cicatrizes psíquicas infligidas entendemos, mais do que nunca, como é que a exposição precoce às adversidades
pela tortura e genocídio, especialmente no que diz respeito ao Holocausto. Não contamina o desenvolvimento do cérebro e do corpo das crianças. Afeta áreas
podemos obviamente falar em traumas e infância sem referir Freud. Embora o pai como o núcleo accumbens, o centro de prazer e de recompensa do cérebro que
da psicanálise nunca tenha negado a realidade do incesto nas histórias que ouviu está envolvido no processo de dependência química; inibe o córtex pré-frontal,
das suas primeiras pacientes, preferiu direcionar a sua atenção para o drama do necessário para o controle de impulso e da função executora, uma região crucial
conflito interno. Da mesma forma, os choques psíquicos e as desilusões sofridas para a aprendizagem. E, em ressonâncias magnéticas, constatam-se mudanças
pela Grande Guerra levaram-no a especular sobre os tipos de patologia (flashbacks, significativas na amígdala, o centro de reação ao medo, do cérebro. Em suma, há de
pesadelos recorrentes e comportamento repetitivo compulsivo) infligidos pela facto razões neurológicas que explicam o facto de pessoas expostas a altas doses
experiência do conflito. No entanto, a sua inclinação para uma grande narrativa de adversidade serem mais propensas a apresentarem comportamentos de alto
afastou-o de uma investigação de como a experiência traumática afeta os indivíduos risco. E mais: mesmo que não adotem comportamentos de alto risco, serão mais
em direção ao reino da teoria universal, culminando na sua formulação do “instinto propensas a desenvolver doenças cardíacas ou cancro. O motivo prende-se com
de morte” ou Thanatos – o conceito nasceu em oposição ao instinto de vida, ou Eros, o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal, o sistema de reação ao stress do corpo e do
e foi definido como o gerador de impulsos inconscientes e excitação orgânica (ou cérebro, que comanda a reação de “luta ou fuga.”
seja, uma unidade), que aparece como a busca de voltar ao absoluto descanso da
não-existência. E Jung? O psiquiatra e psicoterapeuta suíço, fundador da psicologia maginemos que estamos numa floresta e que avistamos um urso. Imediatamente,
analítica, entendeu, por sua vez, que as experiências traumáticas são necessárias, o hipótalamo envia um sinal à glândula pituitária, que por sua vez envia um sinal
mas insuficientes em si mesmas, para produzir sintomas de resposta prolongada à glândula adrenal, que ordena: “Libertar hormónios do stress!” O coração acelera,
ao stress. De acordo com a sua visão, as experiências traumáticas impactam os as pupilas dilatam, as vias aéreas expandem-se, e fica-se pronto para lutar contra
processos psíquicos internos do ego e do self. o urso – ou, melhor ainda, para fugir deste. O problema é quando o urso aparece
todas as noites e aquele sistema é ativado repetidas vezes, deixando de ser adaptável
erante o mar de teorias que a sociedade moderna nos propõe em torno deste ou de salvar a vida, para ser um mal-adaptado ou prejudicial à saúde. As crianças
tema, torna-se urgente entender quem é que tem razão: afinal, os traumas são especialmente sensíveis a esta ativação repetida devido ao stress, porque os seus
ditam ou não sentenças de vida? A psicóloga Marta Calado assevera que, sen- cérebros ainda se estão a desenvolver. Altas doses de adversidades não afetam apenas
do as pessoas diferentes, há uma reação distinta a situações eventualmente a estrutura e as funções cerebrais, mas também o sistema imunológico e endócrino
traumatizantes: “Estamos a falar de traumas psicológicos, com repercussões em desenvolvimento e até a forma como o nosso ADN é lido e replicado. Marta Calado
emocionais, muitos dos quais tiveram a sua origem na fase da infância mas, ainda assegura que se torna realmente difícil manter uma vida tranquila na presença de cer-
assim, nem sempre os traumas de infância se relacionam apenas com ocorrências tos traumas, uma vez que estes desafiam o autocontrolo emocional, além de fazerem
de vida muito dramáticas, uma vez que não é a situação vivida que tem importân- o adulto refém de muitas situações onde estão alojados os gatilhos emocionais do
cia, mas sim a forma como cada pessoa reage à situação. É por esta razão que, por passado: “O adulto sente-se amarrado, sufocado e limitado nas suas ações. Em algum
vezes, não percebemos como é que determinado acontecimento afetou tanto certa momento, pode-se aperceber que muito daquilo que o trava nos dias de hoje pode
pessoa, e como é que outra passou ilesa a outro evento terrífico.” Acrescenta que ser oriundo de reflexos antigos, de dores não curadas. Nesse sentido, é tanto mais
existem pessoas que ficam como que estagnadas emocionalmente em determinados oportuno ‘escavar’ a infância, quanto mais as necessidades da intervenção psicoló-
acontecimentos da sua infância: “Em certos casos clínicos, por culpa ou vergonha, gica do indivíduo revelem essa utilidade, no sentido de restituir a sua qualidade de
negam-no ao longo de toda a vida, como por exemplo, quando um professor humilha vida e de lhe devolver a paz e o bem-estar interior.” É claro que para procurar ajuda
constantemente uma criança em frente à turma inteira, com nomes depreciativos, o adulto tem de reconhecer que precisa de ajuda, e muitos “só descobrem a origem
gozo esse que se estendia aos pares no recreio, e os pais nunca souberam devido ao de determinados traumas de infância através da relação terapêutica estabelecida com
medo do menosprezo se agravar.” Conduzido pelos médicos e pesquisadores Vincent um determinado especialista em saúde mental (“Finalmente encontrei uma Psicóloga
Felitti e Robert Anda, o estudo “Experiências Adversas na Infância” (EAI) reuniu 17.500 com quem me identifico.”), numa fase específica do seu percurso de vida (por exemplo,
adultos que foram questionados acerca do seu histórico de exposição àquilo a que divórcio, desemprego, maternidade, luto).” Lembra também que existem outros fatores
consideraram “situações desfavoráveis”, como violência sexual, física ou emocional; de proteção que podem moderar a influência de um acontecimento traumático na
negligência física ou emocional, doenças mentais, dependência química ou prisão infância: “A coexistência de experiências de vida positivas, a existência de figuras de
dos pais; separação ou divórcio dos pais; ou violência doméstica. Para cada “sim”, vinculação facilitadoras de reforço positivo, como irmãos ou avós, ou até determinadas
estes recebiam um ponto no quadro de EAI. Ao relacionar as pontuações de EAI e os caraterísticas de temperamento, como a tendência para a exteriorização das emoções.
resultados na saúde, concluíram o seguinte: primeiro, que as EAI são incrivelmente O que é certo é que há pessoas que conseguem superar os traumas de infância, mas
comuns – 67% da população tinha pelo menos uma EAI e 12,6%, uma em cada oito, há outras que ficam sempre presas ao passado.” Nas palavras de Carl Jung: “Aquilo a
tinha quatro ou mais EAI. A segunda descoberta concluiu que havia uma relação que se resiste, persiste.” O que é o mesmo que dizer que vale mais cortar o mal pela
dose-reação entre as EAI e os resultados na saúde: quanto maior a pontuação de raiz. De início até pode doer, mas não é preferível a agonia do confronto a viver uma
EAI, piores os resultados na saúde. Para uma pessoa com uma pontuação de EAI de vida inteira refém da própria sombra? l
quatro ou mais, o risco relativo de doença obstrutiva crónica dos pulmões era 2,5
vezes maior do que o de alguém com uma pontuação zero de EAI. Para hepatite,
também era 2,5 vezes maior. Para depressão, era 4,5 vezes maior e para o suicídio,
12 vezes maior. Uma pessoa com uma pontuação de EAI de sete ou mais apresentava
três vezes mais risco de morrer de cancro de pulmão. É claro que isto faz sentido: English version
vogue.pt 1 49
ARTWORK: MIGUEL CANHOTO.
MODA
FOTOGRAFIA
REPORTAGEM V em renda, Vogue.
Quem sublinha que a inocência tem faixa etária desconhece a intemporalida-
de de um estilo irreverente e bom guarda-roupa. Na candura de quem não se
preocupa com o que ditam as regras do conservadorismo, na sapiência dos que
olham para o vestuário como uma extensão do eu e não do número de anos
lunares que o cinto já contabiliza, na ingenuidade de quem vê datas, mas não vê
limitações, fica uma seleção de looks que cruza a diversão pueril com a sofistica-
ção da maioridade. Há blazers e folhos, transparências e meias curtas, há laços
aldrabados e recortes requintados, sedas e algodões que coexistem em silhuetas
justas e folgadas. Há simplicidade tanto quanto styling complexo e há, acima de
tudo, a pureza incondicional de um amor pela criatividade no vestir, olhando
para cada visual com o imaginário imaculado de uma criança.
Fotografia de Branislav Simoncik. Styling de Samuel Drira.
English version
ARTIGO 11º
É a cláusula sobre a presunção da inocência que figura na Declaração Universal
dos Direitos Humanos. Aqui, presumindo-se a inocência legal, diferente, mas não
totalmente desligada, da inocência que tendemos a encaixar numa faixa etária —
e que queremos aqui abordar. No que diz respeito à idade da inocência, só somos
culpados de querer saber: porque é que é
associada à infância? O que é isso de “perder
a inocência”? Será ela sempre uma virtude?
E é uma noção igual para todos? Por Sara Andrade.
vogue.pt 1 69
ANÁLISE
legal, a não ser em casos excecionais, como em patologias graves. conhecimento, do bem e do mal. A um nível mais profundo, afrontou “A AUSÊNCIA DE CONHECIMENTO
Resumidamente, na ingenuidade, alguém não compreende/conhece a clara ordem dada pelo seu Criador. O pecado e a sua libertação, SOBRE ESTAS TEMÁTICAS [DE
as normas e, por isso, prejudica-se. Já na inocência, não é possível pode ser uma forma de perder e retomar a ideia de inocência, numa "CONHECIMENTO DIFÍCIL"] ESTÁ
ser atribuída uma responsabilidade pelo pensamento e/ou pela libertação de maldade e de culpa. O roubo da inocência, também SIGNIFICATIVAMENTE LIGADA AOS
ação”, o que justifica o porquê de a inocência não ser algo que acontece pela desconexão das crenças religiosas e determinados IDEAIS OCIDENTAIS DE INOCÊNCIA
INFANTIL E À SUA INTERSEÇÃO COM
associemos à vida adulta, ainda que possamos descrever, de forma acontecimentos de vida. Tal como a nível social e relacional, em
O DISCURSO DO DESENVOLVIMENTO
metafórica, um adulto como “inocente” por ser demasiado crédulo ocasiões referidas anteriormente e pelo acesso lento ou acelerado de
INFANTIL, ENCARANDO-SE AS
em determinado momento. “A inocência começa a associar-se à informação factual, cultural, bem como à natureza das experiências CRIANÇAS COMO DEMASIADO
infância quando surge uma transformação social a partir do século de vida, adequadas ou não, a determinadas etapas do crescimento. NOVAS PARA LIDAREM EMOCIONAL
XVI. Nessa altura, a ideia de ‘casa’, com compartimentos distintos, Quando associado à psicopatologia, também se percebe uma relação E COGNITIVAMENTE COM ESTES
evidencia uma nova divisão do espaço social”, continua Janeiro. “A perturbada com a inocência, em estados delirantes — nas psicoses CONCEITOS, O QUE JÁ NÃO
família nucleariza-se, diferenciado-se da massa social. As gerações e esquizofrenias. Nas depressões patológicas, também assistimos à ACONTECERÁ COM UMA
dentro do espaço familiar estruturam-se e possibilita-se a preser- introjeção da culpabilidade num extremo, e à desresponsabilização PESSOA ADULTA." Maria João Cunha
vação da inocência, do pensamento e da ação próprios das etapas e vitimização, noutro polo.”
do seu desenvolvimento, com forte influência da nova moral dos
padres reformadores. Embora a inocência possa acompanhar-nos ão podemos, portanto, dissociar a ideia de ino-
ao longo da vida e nas suas várias esferas (relacional, profissional, cência das condicionantes sociais e morais que a
amorosa), é normalmente associada à infância. Encontramo-la com tabelam, porque as matérias que podem provocar
maior expressão e clareza na primeira infância, dos 0 aos 3 anos de a sua perda são, em parte, tabeladas também pela
idade. É atribuída, frequentemente, uma dimensão quase angelical comunidade: “Neste sentido, a ‘perda da inocência’
aos bebés. Desprovidos de intencionalidade ou de malícia, de culpa está relacionada com a exposição a estas temáticas da sexualidade,
ou de qualquer tipo de responsabilidade.” A psicóloga continua: “Em- da morte, da violência e da pobreza que constituem formas de "co-
bora a viagem durante a infância seja longa, construção de um ideal de infância que mantenha a inocência, como nhecimento difícil" (Britzman, 1998)”, confirma Maria João Cunha. e na relação com a mãe e os cuidadores, sepa-
atribulada e de muitas conquistas, encon- nos dizem vários autores (ex. Julie Garlen), sentindo os pais pressão “A ausência de conhecimento sobre estas temáticas está significa- ra-se progressivamente da experiência sim-
tra-se durante grande parte do tempo uma para fabricar ‘um período mítico de maravilhas de olhos arregala- tivamente ligada aos ideais ocidentais de inocência infantil e à sua biótica e começa a ter consciência da noção
imaturidade psíquica, emocional e relacional dos e momentos mágicos, uma noção perpetuada por pedagogos interseção com o discurso do desenvolvimento infantil, encaran- do Si, como Bernard Golse concetualiza, ou
própria, que ditam formas de pensamento, de corporativos como a Walt Disney’. Ou seja, existiria a necessidade do-se as crianças como demasiado novas para lidarem emocional e do Self, na definição de Donald Winnicott. As
relação e de ação, que são impunes de uma de cultivar cuidadosamente as condições da infância para preservar cognitivamente com estes conceitos, o que já não acontecerá com ‘angústias de separação’ e a ‘angústia do 8.º
atribuição de malícia, culpa ou de responsa- a inocência. Segundo outros autores, como Faulkner (2013), esta uma pessoa adulta. A inocência infantil tem sido assim, fortalecida mês’, marca o início de uma consciência de
bilização moral ou legal, como se interpreta ‘atrai uma grande atenção cultural e energia, tanto positiva como pela psicologia do desenvolvimento, mas também pela doutrina Si, ainda em esboço, atingindo uma maior
no universo adulto, ou da maioridade.” negativa’ como um ‘local privilegiado não só de preocupação, cele- religiosa e pela cultura popular. Revela a preocupação com um dos maturidade perto do 15.º mês de vida. Perto
Na sociologia, o discurso e referências con- bração e proteção, mas também de ansiedade’. Isto pode significar, grupos mais vulneráveis da nossa sociedade, cujos direitos humanos desta altura, surge o ‘Não’, e mais tarde, a
firmam-se: “No contexto contemporâneo, para alguns autores, que a fantasia da infância como uma época feliz estão particularmente em risco nas atuais condições de injustiça capacidade e necessidade de reforçar a sua
a construção da inocência está associada à de encantamento sem preocupações é uma poderosa construção social generalizada.” Joana Janeiro corrobora que a inocência está individualidade e de se diferenciar do outro,
infância”, atesta Maria João Cunha, socióloga, social, que cria uma expectativa sobre como as experiências das de facto ligada a uma série de desconhecimentos sobre as agruras com a proteção e defesa do que é seu: ‘é meu!’.
professora do ISCSP/ULisboa e investigadora crianças ‘deveriam’ ser e que pode levar inclusive a alguma ansiedade da vida e, portanto, perdê-la, está inerentemente ligada ao passar Comportamentos muitas vezes incompreen-
do CIEG (Centro Interdisciplinar de Estudos por parte dos pais, alimentada, em alguns, pela nostalgia da própria dos anos versus aquisição dessa informação que destrói a normal didos e/ou mal interpretados pelos adultos: ‘já
de Género). “Pode na verdade funcionar co- infância, e noutros pelo desejo de proteger os filhos dos traumas noção pueril de que a vida é cor-de-rosa e plena de arco-íris, desti- tem querer!’, ‘já tem personalidade!’. Mas são
mo um poderoso mito social que estrutura suportados. Esta ansiedade leva muitos pais a grandes esforços tuída de qualquer nuvem cinzenta. “Sim, a perda de inocência está marcos fundamentais do desenvolvimento
as relações sociais e a cultura das crianças, para proteger os seus filhos da tristeza, do stress, e mesmo de um associada ao crescimento e desenvolvimento psíquico, à aquisição psíquico e afetivo da criança. Níveis cada vez
enquanto simultaneamente informa sobre os desconforto ligeiro, que em casa e na escola se pode manifestar de informação e experiências. A Psicologia do Desenvolvimento e mais evoluídos na diferenciação eu/outro,
seus direitos e estatuto na sociedade. Aca- como um desejo de prolongar o desconhecimento das crianças a Psicanálise ajudam a pensar a noção de inocência e a sua perda mundo interno/mundo externo e no manejo
ba por existir até uma certa pressão para a das realidades sociais. A manutenção da inocência está portanto natural e progressiva. À medida que o bebé cresce individualmente da fantasia e da realidade. A fase dos medos
relacionada com a censura de temas como a sexualidade, a morte, também é outro marco de perda de inocência: quando o escuro
a violência e a pobreza.” Uma necessidade — esta de salvaguardar esconde os monstros debaixo da cama, o bicho papão, o mal, o
a inocência o mais possível, particularmente em tenra idade, pro- perigo, a morte e a finitude. Quando se descobre que o Pai Natal
tegendo a criança destes temas — prende-se com o contexto social não existe, e os pais foram cúmplices desta fantasia. A deceção
em que nos inserimos. Os arquétipos que se criaram para escudar quando a realidade se impõe e se vai conhecendo, dando conta,
os mais novos das adversidades ou de conteúdos considerados também, das falhas e imperfeições dos pais. A pouco e pouco, a
impressionantes são resultantes da nossa própria escala de valo- sublimação, a experiência e a vida cultural, permitem que a criança
res — morais, religiosos, sociais, de integridade física. “Sim, [as viva e constitua um Self submetido à realidade, e ao mesmo tempo,
nossas condicionantes sociais, religiosas e psicológicas também com capacidade de criação e espontaneidade”, explica a psicóloga,
condicionam a nossa inocência], pela forma como vivenciamos, acrescentando que “o choque do conhecimento ou da experiência
interpretamos e integramos essas condicionantes”, explica Joana também pode ser pensado pela roubo precoce da inocência. Quando,
Janeiro. “Se pensarmos na religião, Adão deixou de ser inocente por em casos patológicos, se percebe a ausência de fronteiras entre
ser informado das consequências de colher o fruto da árvore do gerações, ou uma interpretação projetiva por parte dos pais e/ou
170 vogue.pt
ANÁLISE
“NÃO SEI SE CONSEGUIMOS ignorância são felizes, mas não o sabem” e diz Caeiro que “amar é a noção de que, uma vez perdida, dificilmente pode ser recuperada.
RECUPERAR A INOCÊNCIA, OU SE NOS eterna inocência. E a única inocência é não pensar”. Mas, como em Ou não? “Não sei se conseguimos recuperar a inocência, ou se nos
INTERESSA, MAS PODEMOS MANTER tudo aquilo que se ignora — neste caso, a informação —, perdem-se interessa, mas podemos manter caraterísticas próprias da idade da
CARATERÍSTICAS PRÓPRIAS DA IDADE as amarguras tanto quanto as experiências positivas. Não é à toa inocência”, continua Janeiro. “A inocência é fundamental na infân-
DA INOCÊNCIA. (...) PODEMOS CRIAR que o poeta inglês Alfred Tennyson (1809-1892) cunhou a famosa cia. É necessária para constituir um terreno seguro, para o motor
ESPAÇOS INTERNOS, QUE ENCONTRAM frase “é melhor ter amado e perdido que nunca ter amado.” É que da vitalidade psíquica. Para sustentar as caraterísticas essenciais
LUGARES PRÓPRIOS PARA QUE O manter a inocência negando as experiências é também não evoluir. que configuram esta época de curiosidade, exploração, espanto,
PESO DA REALIDADE NÃO INTERFIRA.
É certo querer proteger uma criança dos temas fraturantes da desejo, no fundo, de crescimento. Sem prever ou conhecer o mal e
COMO NA CRIAÇÃO ARTÍSTICA,
NA LEITURA, NA MÚSICA." Joana Janeiro vida para preservar o mais possível essa capacidade tão inerente à as suas consequências. À medida que crescemos, vamos perdendo
inocência — à infância — que é a crença no irracional, o potenciar a inocência, mas podemos criar espaços internos, que encontram
o imaginário, é o conceber mundos e criaturas fantásticas, como lugares próprios para que o peso da realidade não interfira. Como
unicórnios e fadas e o Pai Natal — até a crença na perfeição dos na criação artística, na leitura, na música. Nestes lugares, deve ser
pais, sem defeitos, uns super-heróis, capazes de tudo (não é à toa cultivado um espaço para a inocência, seguro e protegido, para
que Janeiro relaciona a perda de inocência à descoberta desilusão alimentar um desejo, um ímpeto, de certa forma inconsequente,
de que os progenitores não são isto tudo) — e fazer perdurar esse onde se permite o erro como parte do processo de criação e de
dom, no tempo, o máximo possível. Porque a inocência é algo mais descoberta, e a procura do belo, da surpresa e do espanto. Um trecho
profundo que a ignorância, é uma espécie de operação inexplicável do poema Avarandado, de Matilde Campilho ilustra estas ideias: ‘E
da imaginação, esse lado que consegue criar universos dos quais apesar dos bofetões/Do tempo invertido/Apesar das visitas breves
se é excluído depois para sempre, sem hipótese de retorno. Mas do pavor/A beleza é tudo o que permanece’.”
fazer valer essa (ir)realidade é também fazer perder aprendizagens A inocência pode ter idade, portanto, mas não se extingue (to-
fulcrais para o desenvolvimento. Será assim tão negativo perder talmente) com ela. Esbate-se com os anos, com a maioridade, com
a inocência? Será ela uma virtude mesmo? Ou melhor, será im- o coming of age, por assim dizer, mas pode ser nutrida, com maior
adultos cuidadores, que confunde o conhecimento do mundo adulto portante, também, perdê-la, em determinada que nas últimas décadas, a expansão massiva dos meios digitais ou menor dificuldade, para que não pereça
com a intenção de fundo dos comportamentos das crianças. Desta altura? Sim, diz a psicóloga, “como expressão aumentou drasticamente o acesso à informação, alimentando ainda por completo. É importante não viver num
forma, pode ser imposta uma culpabilidade, numa ação inocente de desenvolvimento psíquico e emocional, de mais as ansiedades dos pais que desejam prolongar o estado de estado de inocência — leia-se, de ingenui-
da criança, que introjeta uma intencionalidade maliciosa ou sexual, consciência de si e do outro, da capacidade inconsciência ou ignorância dos assuntos que se relacionam com dade e ignorância — ad aeternum, porque a
por exemplo, que não lhe pertence. A Confusão de Línguas entre os de responsabilização. Reflete a possibilidade a sexualidade, a morte, a violência e a pobreza, e que se caracteriza sua praticabilidade nas sociedades modernas
Adultos e as Crianças é um trabalho notável de Sándor Ferenczi, que de um crescimento e de integração da ex- como inocência”, salienta a socióloga Maria João Cunha. “No fundo, não salvaguarda a proteção de adversidades
confere uma nova interpretação da Teoria da Sexualidade Infantil, periência. De conhecimento e compreensão a perceção do colapso do binário criança/adulto provocado pela que parece ser a benesse da ignorância. O
desenvolvida por Sigmund Freud. Tomemos o exemplo da criança progressiva de si e do mundo. Como afirma ‘corrupção’ de crianças com conhecimentos de adultos continua conhecimento pode ser uma maldição, tanto
que brinca com a ideia de conquistar o lugar do progenitor do mesmo Tim Bernardes na sua música Fases: ‘Trago a conduzir ao pânico moral sobre a segurança e bem-estar das quanto uma benção, o que importa é saber
sexo, para se tornar cônjuge do sexo oposto, apenas na imaginação marcas do caminho/Perdi a pureza da Infân- crianças na sociedade contemporânea. Como observa Faulkner equilibrar ambos os aspetos para maximizar
e no faz-de-conta. Existem já traços de amor infantil, que procuram cia/Trato as marcas com carinho/Elas já são (2010), ‘o sentimento dominante — frequentemente representado as vantagens da dicotomia. Um pouco no se-
na e pela brincadeira, usar a linguagem da ternura, não da paixão parte de mim’ “, refere Joana Janeiro. nos noticiários e na atualidade — tem sido o de que a inocência guimento da partilha acima da psicóloga e
madura. Se, no momento dessa fase de ternura, é interpretado e O que não quer dizer que essas aprendi- infantil é imperiosa’. Outros autores têm salientado as formas citando Pablo Picasso, “Todas as crianças são
imposto à criança um amor diferente do que exprime e procura, zagens não possam ser adiadas para que como a cultura popular capitaliza a sexualização das crianças. Por artistas. O problema é manterem-se artistas
carregado de uma intencionalidade adulta, poderá provocar uma se desfrute da idade da inocência de forma exemplo, vários anunciantes capitalizam a retórica da protecção, quando crescem”, vale a pena acrescentar que
pré-maturação, com consequências patológicas, num lugar que prolongada, uma tarefa dificultada pela emer- quer trabalhando contra ela, tirando partido da agência infantil a tarefa pode ser difícil, mas não é impossível.
ainda é, e deveria permanecer, inocente e imaturo.” gência e viralização da Internet, em parti- como consumidores e influenciadores parentais, quer reforçando-a Basta presumir-se inocente no que à capaci-
cular, da disseminação das redes sociais, através de produtos e experiências que respondem às ansiedades dade de maravilhar-se diz respeito — sem
a famosa frase Eternal Sunshine of the Spotless Mind, que que expõem, sem filtros, os temas sensíveis dos pais que procuram prolongar a inocência infantil, como as prejuízo para os conhecimentos adquiridos
dá título a um filme mas que originalmente pertence supracitados — a sexualidade, a violência, férias na Disney. Esta tem sido até criticada pela agressividade com a exposição às situações e características
a uma estrofe do inglês Alexander Pope (1688-1744), o etc. — a públicos cada vez mais jovens. “Claro usada na comercialização tanto para as crianças como para os pais menos inocentes da vida. l
poeta inscreve esta expressão de “mente imaculada em perpétua ao afirmar-se como um refúgio da idade adulta. Neste contexto de
luz” num contexto no qual equipara a virgindade de conhecimento consumo contemporâneo, as crianças tornaram-se um alvo lucrativo,
à felicidade. No poema Eloise to Abelard, a estrofe “How happy is the o que tem também aumentado as preocupações sobre a exposição
blameless vestal's lot!/The world forgetting, by the world forgot./ Eternal e o acesso ao conhecimento ‘adulto’, com a consequente perda da
sunshine of the spotless mind!/Each pray'r accepted, and each wish resign’d”, dita ‘inocência’.” Por sua vez, a psicóloga Joana Janeiro alerta ainda
o autor refere-se à felicidade de uma blameless vestal, uma virgem que a Internet “pode acelerar a perda de inocência pelo excesso de
casta sem pecados que esqueceu o mundo e de quem o mundo se informação. Este acesso pode desrespeitar o ritmo das experiências
esqueceu e, por isso, mantém uma mente inocente, sem conheci- naturais, culturais e relacionais, bem como a sua compreensão
mento das agruras de uma vida (amorosa, no caso). A inveja que e integração adequada. Sobretudo se trouxer com este excesso,
o autor manifesta desta castidade que advém da ignorância surge uma carga extra de conteúdos/conhecimentos inapropriados à
porque “coração que não vê, coração que não sente.” Fernando maturidade psíquica, causando o tal choque, o trauma, e exigindo
Pessoa, nomeadamente através da poesia do heterónimo Alberto uma maturação precoce, na maior parte das vezes, patológica”.
Caeiro, expõe igual analogia. Diz Pessoa que “só a inocência e a English version Mas mesmo que não se chegue a extremos, é importante ter a
Pintar o cabelo, quebrar as regras do guarda-roupa, vestir mil e uma personagens
num só dia, num só look, de uma assentada só. Tops curtos, vestidos justos, inter-
pretar o sexy em modo Lolita, e rebelar-se nos teens porque ainda nos estamos a
descobrir. Não sabemos quem somos, mas sabemos que não somos os adultos
que nos impõem. Não sabemos o que queremos, mas sabemos que não queremos
as regras que parecem vigorar nos círculos sociais. Não sabemos do que é que
somos culpados, mas sabemos que já não somos inocentes. E talvez a rebeldia
de que tanto nos acusam e nos rotulam, como teenagers inconsequentes, não seja
contra os pais ou as figuras de autoridade ou até o sistema. Talvez essa rebeldia
seja apenas um luto pela perda iminente da inocência.
Direção criativa de Marie Dalmasso. Fotografia de Emma Picq. Styling de Victoire Seveno.
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A CULPA É DA EVA
Desde tempos imemoriais que as mulheres são acusadas de um crime que nunca “A lista de gajos com quem já esteve é maior do que sei lá o quê.
É uma promíscua do pior que há.” Chocado/a? É suposto. No dia
prescreve, cujas bases legais foram criadas pelas mesmas mentes retorcidas que de- a dia nem damos por isso, mas a facilidade com que uma mulher
ram origem a fábulas como a de Adão e Eva: ela sucumbe aos encantos da serpente ganha este tipo de rótulos é mais simples do que parece. Basta
e entrega-lhe o fruto proibido, condenando-o, a ele e a todos nós, mortais, a uma aparentar ter uma vida sexual livre e aberta, sem tabus, e é meio
caminho andado para comprar uma guerra com as mentes puri-
eternidade de sofrimento e redenção. Em pleno século XXI, o sexo feminino con- tanas — que habitam em quase todo/as nós. É triste. É revoltante.
tinua a pagar por este pecado, ao ser constantemente julgado pela sua vida sexual. É a verdade. Experimente fazer este exercício: recue até aos anos de
liceu e pense: quantas raparigas eram conotadas de “puta”, “vaca”,
Mudam-se os tempos, não se mudam as mentalidades. Por Ana Murcho. “cabra”? De certeza que haveriam, pelo menos, umas cinco ou seis.
Foi, e ainda é, assim em todos os liceus do mundo, independente-
mente da geografia ou estrato social. A menina que, inocentemente,
beijou mais meninos no jogo do “bate pé.” A Joana e a Matilde
quela tipa? É uma cabra”, “Não te metas nisso, é uma que, na dança da vassoura, insistiam em “se roçar” nos rapazes, Nove. É no número de parceiros sexuais que, em média, uma pessoa
vadia”, “Aquela não é para casar. Já correu mais de qua- provocando-os. A Vanessa, que quando brincava ao quarto escuro tem ao longo da vida. O site World Population Review refere que
renta, e isso é o que ouvimos dizer, imagina quantos não dava (demasiados) beijinhos ao António. Todas elas acabaram por inquéritos sobre este tema começaram a ser feitos com regularidade
devem ser”, “É nojenta, dorme com todos.” Se estas frases o chocam, ser conotadas de qualquer coisa pouco simpática, todas elas viram em 2005, mas que os resultados podem oscilar significativamente
não continue a ler. É possível que ainda não esteja preparado/a as suas vidas do avesso porque deram azo aos seus instintos mais de país para país, uma vez que as “as normas culturais podem ter
para se confrontar com este tipo de ofensas que, provavelmente, básicos — que, naquela altura, ainda eram apenas isso, básicos. um impacto significativo sobre o número de pessoas com quem
já pronunciou — vários estudos mostram que quase todo/as nós Todas elas foram vítimas de slut-shaming (“slut”, vadia, e “shaming”, alguém tem relações sexuais.” As normas culturais e, acrescentamos,
FOTOGRAFIA: ISTOCK; D. R.
já o fizemos, mesmo se a intenção de magoar a vítima em causa do verbo “to shame”, envergonhar), amplamente reconhecido como a verdade. Uma mulher tenderá, quase sempre, a reduzir/omitir
não era consciente, mesmo se, por imaturidade ou influência de o ato de condenar uma mulher pelos seus comportamentos sexuais o número de parceiros sexuais, já um homem costuma exagerar
um sentimento de “matilha”, nos deixámos arrastar para conver- e a sua posterior punição social por esse mesmo comportamento. esses “valores.” Assim provou um estudo realizado em 2015 pela
sas de café que acabam com alguém como bode expiatório, sem Como numa distopia macabra, o slut-shaming não se aplica aos Organização Mundial de Saúde, que deixava no ar duas importan-
noção dos danos que esses diálogos incendiários podem causar. homens. Eles não são, nunca foram, acusados de nada. Bem pelo tes questões: estarão as mulheres a ocultar algumas experiências
“Puta, é uma puta”, “É uma vaca, se ficas com ela apanhas doenças”, contrário. Este é um crime só delas. sexuais com receio do julgamento social? Ou são os homens que
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REFLEXÃO
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And everything nice. Mesmo quando o cenário tem 50 sombras de cinza. Mesmo
quando o background inspira ao preto e branco. Mesmo quando as redondezas
respiram o seu quê de decadência, o lado mais puro e colorido da inocência ainda
tem espaço para singrar, para crescer, para existir. Como uma flor que irrompe
pelas frestas de um passeio em cimento, ou o calor do sol que aquece o rosto
num dia gélido. Ou como aquela letra de Leonard Cohen, que pode até parecer
um lugar-comum e que, ainda assim, tem muito valor para além do seu (aparente)
rótulo de cliché: “There is a crack in everything. That’s how the light gets in.” Quando o
mundo trouxer os limões, vamos confitá-los a todos.
Fotografia de Sara Fabbri. Styling de Domenico Diomede.
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Polly: vestido e brincos, MIU MIU. Botas, CASADEI. Denise: vestido e sapatos, MIU MIU. Colar, RADÀ. Meias, NA-KD.
Nas duas páginas, Polly: casaco, vestido e sapatos, tudo MICHAEL KORS COLLECTION. Bandolete, BONFILIO HATS. Brincos, RADÀ. Meias, ERES.
Denise: casaco, vestido e sapatos, tudo SPORTMAX. Brincos, LALALAND. Carteira The Arc Edge, LA FESTIN.
Nas duas páginas, Polly: vestido, DES PHEMMES. Gancho, RADÀ. Carteira Woo Yoo, LA FESTIN. Meias, NA-KD. Sapatos Rock, CASADEI.
Denise: top, saia e sapatos, tudo DEL CORE. Colar, LALALAND. Pulseiras, tudo RADÀ. Collants, PUCCI.
Denise: vestido e collants, VIVETTA. Camisa, SAINT FLEUR. Alfinete, RADÀ. Meias, NA-KD. Sapatos, CASADEI.
Na página ao lado, Polly: casaco, saia, carteira e sapatos, tudo PRADA. Balaclava, STEFANO BRUZZONE. Meias, MAISON CLOSE.
Fashion film
Nas duas páginas, Polly: camisola, saia, brincos, colar, carteira, pulseira e sapatos, tudo VERSACE. Modelos: Polly Domashych @ Select Model e Denise van den Bos @ Why Not Models. Cabelos: Alessandro Firenze. Maquilhagem: Arianna Scapola.
Denise: vestido, ALEXANDER MCQUEEN. Gorro, WARM-ME. Luvas, LALALAND. Meias, NA-KD. Sapatos, GUISEPPE ZANOTTI. Assistentes de fotografia: Rocchina Del Priore e Vanda Di Giovanni. Assistentes de styling: Erica Fierro, Simona Perfetto, Giulia Capone e Maria Luisa Memi.
Assistente de cabelos: Simone Martiradonna. Assistente de maquilhagem: Marco Roscino. Editorial realizado em exclusivo para a Vogue Portugal.
TENDÊNCIA
em tule, as leggings, as perneiras ou as delicadas sapatilhas de ballet, inverno 2022 da Miu Miu que vem à mente. E não é de estranhar:
têm inspirado a Moda num vaivém que é simultaneamente cíclico como ficar indiferente àquelas sabrinas, inspiradas no ballet, inde-
e certo — certo que, mais dia menos dia, voltará a ser tendência. pendentemente da nossa inclinação para a modalidade? Porém, é
Considerem-se as passerelles do ano de 2022, e as referências ao mesmo Simone Rocha a grande responsável pela proliferação desta
ballet podem ser sentidas palpavelmente: os vestidos-tutu em tule tendência, tudo graças à sua sensibilidade exacerbada para o roman-
de Simone Rocha, os looks de Molly Goddard, a designer londrina que tismo, bem patente nas suas silhuetas ultrafemininas, de tom ousado
é maioritariamente conhecida pelos seus vestidos em tule ou seda; e levemente gótico. Há ainda as saias tipo tutu, cortesia da Lanvin,
ou a homenagem (bastante literal) de Michael Halpern, o criador e os vestidos volumosos e repletos de folhos, de Giambattista Valli.
que, para a primavera/verão 2022, optou por uma apresentação Até a Zara, em 2021, colaborou com o New York City Ballet para
digital, realizada no âmbito da London Fashion Week, onde trocou apresentar uma coleção que foi uma autêntica devoção ao universo
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TENDÊNCIA
da dança clássica. Além disso, é impossível ignorar o influxo de disciplina, muita, que jamais deve ser visível em palco. “O ballet
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Sem artifícios. Um regresso aos básicos para fazer valer o lado mais puro do
guarda-roupa. Aquele casaco em lã que é tão versátil quanto quente. Aquelas cal-
ças de linhas retas que primam pela intemporalidade. As malhas que parecem de
criança mas não têm idade e os vestidos que são luvas para a silhueta feminina.
Quando o mundo parece pervertido e pecaminoso, voltar ao conforto do que
nunca é datado, do que será sempre imaculado, é trazer ao de cima uma inocên-
cia que parecia perdida à superfície, mas que é inabalável no âmago. E mais fácil
de comprovar quando nos despimos da civilização para voltar aos habitat mais
naturais e inóspitos, (quase) intocados.
Fotografia de Enric Galcerán. Styling de Beñat Yanci.
English version
CAÇA ÀS BRUXAS
Equipara-se o frenesim dos tabloides às fogueiras do passado. As bruxas são subs-
tituídas pelas celebridades do presente, mas o ódio fomentado por alguns meios de
comunicação queima tão persistentemente como qualquer fogo.
Por Pedro Vasconcelos. Artwork de João Oliveira.
o século XVII, as sociedades puritanas viviam com medo Dia após dia, a história (os sucessivos fait-divers, leiam-se) repete-
das bruxas, mulheres acusadas de colaborar com o diabo -se ao ponto de se tornar demasiado frequente para ser ignorada,
para desviar a integridade moral de uma comunidade. uma conclusão que tem tanto de irritante como de frustrante.
Comandadas pela devoção religiosa, estas sociedades eram antros Uma celebridade feminina é catapultada para o estrelato: não se
de suspeita para a população feminina, que vivia sob vigilância pode ouvir rádio sem lhe escutar a voz, usar o Instagram sem
constante. Tendo em conta a gravidade do crime, o processo de lhe ver a cara, abrir uma Vogue sem a reconhecer na publicidade
acusação era surpreendentemente leviano. Falar com outras mu- de uma marca de luxo. É quando a jovem mulher atinge este pico
lheres, o número de animais de estimação, ter um sinal na pele de celebridade que surgem sussurros maliciosos. À medida que
particularmente “estranho.” Os indícios de que uma mulher era a sua glória se esmorece, esses burburinhos elevam-se, tornam-
bruxa formavam um guia de conduta impossível de seguir. Se as -se vozes fixadas em analisar todos os pequenos erros que esta
acusações eram simples, o processo de provar se estas eram ver- pessoa comete, ou cometeu, ou virá a cometer. “Quão proble-
dade era bem mais criativo. Inspirando-se em técnicas de tortura mático é este comportamento?”, “O que é que ela está a usar?”,
medieval, surgiram provas como o “teste do mergulho.” Neste, uma “O sucesso subiu-lhe à cabeça.” Se estas críticas surgem como
mulher era desprovida da sua roupa e atirada a qualquer corpo de observações isoladas, rapidamente crescem, impulsionando uma
água profundo o suficiente para a submergir. Para além do risco nova expetativa comum: a queda pública da dita figura pública.
latente de hipotermia, o propósito do teste era, em si, mortal: se Menciona-se o Instagram e comentários em redes sociais, mas
uma mulher flutuasse era bruxa, se se afogasse era porque estava o fenómeno em muito antecede qualquer noção de vídeos de
inocente. O problema aqui é óbvio: independentemente do que Youtube ou TikTok. Este padrão comportamental é observado há
acontecesse, a mulher estava condenada à morte. Se há muito que séculos em mulheres em posições de poder, e não nos referimos
abdicámos de métodos tão bárbaros para provar a inocência de uma apenas às bruxas. Leve-se a título de exemplo Catarina, a Grande,
mulher, enquanto civilização continuamos à procura de argumentos que, a despeito de toda a sua proficiência enquanto monarca, é
para vilanizar a população feminina. Pense-se nas celebridades fe- lembrada pelo grotesco rumor de que teve relações sexuais com
mininas como ilustrações do escrutínio que todas as mulheres, no um cavalo. Este boato, refutado por simples leis da física, era uma
geral, têm de tolerar. Já não se acusam bruxas, mas destronam-se das muitas formas através da qual os seus inimigos procuravam
celebridades com o mesmo fervor. atacar a sua credibilidade.
FOTOGRAFIA: GETTY IMAGES.
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COMPORTAMENTO
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Numa produção de moda caiada de branco, é também nesta delicadeza e in-
genuidade que se traduz a ideia de inocência. No lado incólume do ser, nos
elementos naturais do planeta, na felicidade imaculada de se estar ao ar livre…
como uma flor que desponta aos primeiros raios de sol, sem condicionantes
ou preconceitos, na sua mais pura condição. Não é à toa que, no Oriente, a flor
de lótus significa pureza espiritual. No simbolismo budista, mais concretamen-
te, este espécime está relacionado com a pureza do corpo e da mente, com o
desapego aos prazeres carnais, simbolizados pela água lodosa onde flutua o
lótus, numa metáfora sobre a busca de luz e elevação do espírito. Que é mais ou
menos o que sentimos quando folheamos este editorial onde a tela em branco
é o ponto de partida e o ponto de chegada.
Fotografia de Clover Green. Styling de Annie Hertikova.
English version
Molly: vestido (por cima), JIL SANDER. Vestido (por baixo), TALIA BYRE. Calças, JOSEPH. Botas, SPORTMAX.
Molly: top (por cima), MAX MARA. Top (por baixo), MOLLY GODDARD. Cachecol, KHAITE. Na página ao lado, Saliou: top, JIL SANDER. Calças, S.S.DALEY.
Saliou: colete, PRADA. Camisola, FENDI. Kilt e cinto, DANIEL W. FLETCHER. Calças, S.S.DALEY.
Balaclava, RUSLAN BAGISNSKIY, em MYTHERESA.COM. Sapatos, LEMAIRE.
Molly: casaco, COPERNI, em MYTHERESA.COM. Camisa, RAQUETTE.
Na página ao lado, Saliou: casaco, STEFAN COOKE. Camisa, DIOR HOMME. Calças e sapatos, LEMAIRE.
Carteira Goji, JIL SANDER. Na página ao lado, Saliou: camisa, SIMONE ROCHA.
Saia, STEFAN COOKE. Calções, DANIEL W. FLETCHER.
Saliou: casaco e camisa, CRAIG GREEN. Na página ao lado, Molly: casaco, COPERNI, em MYTHERESA.COM.
Camisa, RAQUETTE. Casaco (usado na cintura), A.W.A.K.E. MODE. Saia, REJINA PYO. Botas, SPORTMAX.
Modelos: Molly Merland @ The Hive Management e Diagne Saliou @ Next Management. Cabelos: Anastasia Gryniuka.
Maquilhagem: Claire Urquhart. Produção: Clover Green, Hanna Rouge e Tom Durston. Retouch: Hanna Rouge.
Assistente de styling: Frankie Chartsuwan e Charlie Torode. Editorial realizado em exclusivo para a Vogue Portugal.
Fashion film
A dupla de protagonistas – e o enredo – do filme checoslovaco Daisies (1966) ser-
ve de rastilho para um editorial de moda que é uma ode à contra-corrente. Neste
caso, corre contra o crescer à força, as normas vigentes, a perda da inocência, o
abrir mão do child’s play. Na película assinada por Věra Chytilová, as personagens
Marie (Jitka Cerhová) e Marie (Ivana Karbanová) são o duo responsável por uma
série de partidas estranhas, numa clara afirmação e defesa do divertimento em
detrimento de uma vida condicionada por regras. Nesta espécie de sátira de uma
burguesia decadente, que se tornou uma bandeira do movimento New Wave
checoslovaco, a longa-metragem é considerada uma crítica ao autoritarismo,
comunismo e patriarcado. As páginas que se seguem, por sua vez, só advogam
uma coisa: a obediência total à (liberdade) da idade da inocência.
Fotografia de Koto Bolofo. Styling de Aline De Beauclaire.
English version
Flo: chapéu, BONFILIO HATS. Na página ao lado, Flo: top e saia, ALAIA. Chapéu, BONFILIO HATS.
Fotografia: Koto Bolofo @ Art Sphere. Modelos: Flo Fleming @ Elite e Jessica Luostarinen @ Brand Model Management.
Cabelos: Cyril Laloue @ Wise & Talented com produtos Christophe Robin. Maquilhagem: Maria Olsson @ Wise & Talented com produtos Charlotte Tilbury.
Set design: Alison Reid. Artwork: Jessica Luostarinen. Casting: Lylia Bokele @ Ikki Casting. Digital operator: Daniele Sedda.
Assistentes de fotografia: Mathieu Boutang e Hugo van Manen. Assistente de styling: Yousra Boutejdir. Assistente de set design: Clémence Althabegoïty.
Editorial realizado em exclusivo para a Vogue Portugal.
TO BE CONTINUED
280 vogue.pt S E G O S T O U P O D E FA Z E R A P R É - E N C O M E N D A D A P R Ó X I M A E D I Ç Ã O D A V O G U E P O R T U G A L