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5 - agosto - 2007 ISSN 0103-4413

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais


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COMO CONVIVER COM A MOSCA-DA-RAIZ EM LAVOURA DE CAFÉ 1


Júlio César de Souza 2
Paulo Rebelles Reis 3
Rogério Antônio Silva 4

INTRODUÇÃO

Larvas da mosca-da-raiz, Chiromyza vittata Wiedmann, 1820 (Diptera: Stratiomyidae), foram


constatadas atacando raízes do cafeeiro, pela primeira vez, em agosto de 1986, numa lavoura no município
de Oliveira, região dos Campos das Vertentes, em Minas Gerais (REIS; SOUZA, 2004). Atualmente, esse
inseto vem infestando algumas lavouras nas cafeiculturas do Sul de Minas, Campos das Vertentes,
Jequitinhonha (região do município de Capelinha), leste mineiro (Manhuaçu, Caratinga, Espera Feliz etc.) e
Zona da Mata, apresentando pequenas e grandes infestações.

MANIFESTAÇÃO

Apesar de as larvas da mosca-da-raiz já terem sido estudadas em vários aspectos, dentre eles parte
de sua biologia, flutuação populacional, controle cultural e químico, ainda não se conseguiu determinar seu
nível de dano, devido ao fato de terem hábito subterrâneo, com grande variação no número delas por cova
infestada. Conseqüentemente, não se sabe qual seria a quantidade de larvas presentes nas raízes e que
causam danos econômicos, para realizar o controle químico.
Numa lavoura infestada pela mosca-da-raiz, o total de larvas por cova varia de zero a centenas delas,
numa grande heterogeneidade.

CONTROLE QUÍMICO

O controle químico das larvas no solo é muito difícil, já que são mortas por ação de contato com os
inseticidas e não por ingestão destes, por se tratarem de insetos mastigadores e não sugadores, como
acontece com as larvas das cigarras (ninfas móveis), também subterrâneas, de mais fácil controle. Os
inseticidas sistêmicos granulados têm apresentado oscilações quanto à sua eficiência no controle das larvas
da mosca-da-raiz no solo, nos inúmeros experimentos já realizados, como os de Matiello e Almeida (2000),
Salgado et al. (2000) e Reis e Souza (2004). No entanto, ao conferir vigor aos cafeeiros, estes suprem essa
oscilação, mantendo a produtividade das lavouras. Matiello e Almeida (2003) relatam aumento do ataque da
mosca-da-raiz, tendo como possíveis causas a redução dos tratos culturais nas lavouras e a falta da
aplicação de inseticidas sistêmicos granulados de 2001 a 2003, em função dos baixos preços do café no
mercado. Inclusive o controle da ferrugem, que foi reduzido em muitas áreas, passou a ser feito via foliar,
em detrimento da aplicação de fungicidas via solo. Com a volta de preços remuneradores para o café, a
partir de 2005, os tratos culturais, inclusive o controle da ferrugem via solo, voltaram a ser realizados,
garantindo o vigor e a produtividade das lavouras.

1
Circular Técnica produzida pela EPAMIG - Centro Tecnológico do Sul de Minas (CTSM). Tel (35) 3821-6244 -
Correio eletrônico: ctsm@epamig.ufla.br
2
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM - EcoCentro, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio
eletrônico: jcsouza@navinet.com.br
3
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM - EcoCentro, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio
eletrônico: rebelles@epamig.ufla.br
4
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM - EcoCentro, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio
eletrônico: rogeriosilva@epamig.ufla.br
2

O controle químico ideal para as larvas da mosca-da-raiz deveria ser feito com inseticidas
neonicotinóides aplicados em pulverização no solo, sob os cafeeiros, em duas faixas de 25 cm, a partir da
linha de plantio, uma de cada lado, com bico tipo leque, visando matar as larvas por contato, na região de
maior presença delas, na cova, junto às raízes mais grossas. Como a maior eficiência apresentada pelos
inseticidas neonicotinóides, os únicos realmente eficientes, pouco ultrapassa 80%, como no caso do
imidacloprid (MATIELLO et al., 1998; SOUZA; REIS, 2000; MATIELLO; ALMEIDA, 2000), seria necessário
mais de uma aplicação, visando zerar a infestação do inseto nas raízes do cafeeiro, apesar de ser um
controle difícil e caro de ser realizado.

Inseticida sistêmico

Com base em todas as informações técnicas obtidas até agora sobre o inseto, inclusive com lavouras
muito infestadas e produzindo normalmente, sugere-se aos cafeicultores conviver com a mosca-da-raiz em
suas lavouras, com uma aplicação anual de um inseticida sistêmico, no início do período chuvoso. Essa
aplicação, às vezes, já é feita pelos produtores, visando o controle preventivo do bicho-mineiro, da cigarra e
da ferrugem, no caso da mistura com um fungicida, também sistêmico (REIS et al., 2006). Essa aplicação
anual mata um pouco das larvas da mosca no solo além de conferir intenso vigor aos cafeeiros. Assim, a
produtividade das lavouras será garantida pela referida aplicação, complementada pelos outros tratos
culturais como adubações de solo e foliares, desbrotas, podas etc.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ainda não houve relato de cafeeiros mortos pela presença de altas infestações de larvas da mosca
em suas raízes. O que se observa são lavouras definhadas com a presença dessas larvas nas raízes dos
cafeeiros e outros fatores, como deficiências nutricionais, defeitos físicos nas raízes dos cafeeiros, lavouras
velhas improdutivas etc. Se as larvas da mosca-da-raiz causassem realmente grandes prejuízos, inclusive
levando cafeeiros à morte, nas regiões infestadas seriam vistas lavouras totalmente definhadas e
improdutivas, inclusive muitas abandonadas, o que não acontece.
Finalmente, no caso de erradicação de lavouras velhas, improdutivas, e infestadas pela mosca-da-
raiz, a simples erradicação da lavoura, com posterior pousio e preparo convencional do solo (aração e
gradagem), visando implantar uma nova cultura na mesma área, um ano depois para o cafeeiro, resultará
na morte das larvas por inanição, exposição ao sol e aos seus inimigos naturais.

REFERÊNCIAS
MATIELLO, J.B.; ALMEIDA, S.R. Eficiência do novo inseticida Premier (imidacloprid) no controle da mosca
das raízes Chiromyza vittata. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 26.;
ENCONTRO DE CAFEICULTORES DE MARÍLIA, 6., 2000, Marília. Trabalhos apresentados... Rio de
Janeiro: MA/PROCAFÉ, 2000. p.28-29.
_______; _______. Recorrência de ataque de mosca de raízes em cafezais. In: CONGRESSO BRASILEIRO
DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 29., 2003, Araxá. Trabalhos apresentados... Rio de Janeiro,
MAPA/PROCAFÉ, 2003. p.29-30.
_______; MIGUEL, A.E.; SILVA, W.L.; ALMEIDA, S.R. Nível de dano econômico da mosca das raízes
(Chiromyza) no cafeeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 24., 1998, Poços
de Caldas. Trabalhos apresentados... Rio de Janeiro: MAA/PROCAFÉ, 1998. p.36-37.
REIS, P.R.; SOUZA, J.C. de. Mosca no café. Cultivar: grandes culturas, Pelotas, ano 6, n.58, p.12-16, fev.
2004.
_______; _______; ZACARIAS, M.S. Alerta para o bicho-mineiro. Cultivar, Pelotas, ano 8, n.84, p.13-16, 2006.
SALGADO, L.O.; SILVA, A.C.; FERREIRA, A.J.; ALVARENGA, M.A.R.; PAIVA, J.L. e. Eficiência e
praticabilidade dos produtos Actara 10 GR, Verdadero 20 GR e Altomix 103, 2 no controle da praga
Chiromyza vittata (mosca das raízes) (Diptera: Stratiomyidae), na cultura do cafeeiro (Coffea arabica, L.). In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 26.; ENCONTRO DE CAFEICULTORES DE
MARÍLIA, 6., 2000, Marília. Trabalhos apresentados... Rio de Janeiro: MA/PROCAFÉ, 2000. p.113-115.
SOUZA, J.C.; REIS, P.R. Perspectivas de controle da mosca-da-raiz do cafeeiro. Lavras: EPAMIG,
2000. 3p. (EPAMIG-CTSM. Circular Técnica, 113).

Esta nova edição da Circular Técnica é uma fusão das Circulares Técnicas do Centro Tecnológico do Sul de Minas (CTSM), Centro Tecnológico do Norte de
Minas (CTNM) e Centro Tecnológico da Zona da Mata (CTZM) publicadas pela EPAMIG até 2006.

Departamento de Transferência e Difusão de Tecnologia


Divisão de Publicações

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