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Efésios 2:1-3
Quando Paulo fala de vós refere-se aos gentios; pelo contrário quando diz
nós fala de compatriotas judeus. Nesta passagem mostra quão terrível era a
vida sem Cristo, tanto para os gentios como para os judeus.
1. Acima de tudo, diz que essa vida era vivida em meio a pecados e
transgressões. Os termos empregados aqui são muito
interessantes. Para pecado o termo é hamartia, que se emprega para
o tiro ao branco. Literalmente significa errar o alvo. Um homem
atira seu flecha e não acerta o alvo: isto é hamartia. O pecado é,
pois, errar o alvo na vida; pecado é não chegar a ser o que a pessoa
deveria ou poderia ser. Quando compreendemos o que é o pecado,
damo-nos conta de que não se trata de algo inventado pelos
teólogos, mas sim de algo que empapa, satura e impregna a vida.
Pecado é fracassar no que se deveria e poderia ser em cada esfera da
vida. Paulo usa o outro termo transgressão que corresponde ao
grego paraptoma. O termo significa literalmente escorregão ou
queda. Usa-se para o homem que perde o caminho ou se extravia,
ou para o homem que não consegue adquirir a verdade ou se
afasta dela.
MORTE EM VIDA
Efésios 2:1-3 (continuação)
Paulo fala de estar mortos no pecado. Que alcance tem esta frase? Muitos
a interpretaram no sentido de que os homens sem Cristo vivem num
estado de pecado que na vida futura produz a morte da alma. Mas Paulo
não se refere à vida futura, mas sim a esta vida presente neste mundo.
O pecado tem sempre um poder de morte. O efeito fatal e mortífero do
pecado se canaliza em três direções.
Aqui Paulo faz uma espécie de lista das características de uma vida sem
Cristo.
1. É a vida vivida como a vivem os homens deste mundo. Isto
significa que segue as pauta do mundo e seus valores. O
cristianismo exige o perdão. O cristianismo exige amor até para
nossos inimigos. O cristianismo exige serviço. Mas o mundo não
entende, por exemplo, ao missionário que marcha a um país
estranho para ensinar numa escola ou curar num hospital pela
quarta parte do salário que obteria em sua pátria em qualquer
serviço secular. A norma do mundo consiste essencialmente em
colocar o eu no centro. A norma cristã consiste em essência em
colocar no centro a Cristo e os demais. A essência do homem
mundano é que como disse alguém, "conhece o preço de tudo e
o valor de nada". O motivo do mundo é o proveito; a dinâmica
cristã é o desejo de servir.
1. Vimos que o pecado mata a inocência. Agora, nem sequer Jesus pode
devolver a inocência perdida, porque não pode fazer com que o
relógio da vida volte para trás. Mas pode tirar o sentido de culpa
que necessariamente traz a perda da inocência. A primeira coisa que
sempre o pecado faz é criar o sentido de distanciamento entre Deus
e nós. Cada vez que o homem compreende que pecou, oprime-o o
sentimento de que não pode ousar aproximar-se de Deus. Cada vez
que o homem compreende que pecou, oprime-o o sentimento de que
não pode ousar aproximar-se de Deus. Quando Isaías teve a
visão de Deus sua primeira reação foi: “Ai de mim! Estou
perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio
de um povo de impuros lábios”. (Isaías 6:5). Quando Pedro deu-se
conta de quem era Jesus, sua primeira reação foi: “Retira-te de
mim, Senhor, porque sou um homem pecador.” (Lucas 5:8). Jesus
começa tirando este sentimento de separação ao nos dizer que não
interessa o que tenhamos chegado a ser, agora as portas estão
abertas para que possamos nos aproximar da presença de Deus.
2. Vimos que o pecado mata os ideais que dão vida ao homem. Jesus
reaviva o ideal no coração do homem. Conta-se de um maquinista
negro dos Estados Unidos que possuía um barco de trasbordo. Seu
barco era velho e já não lhe servia muito. A maquinaria estava suja,
cheia de fuligem e descuidada. Aconteceu que o engenheiro se
converteu profundamente. A primeira coisa que fez foi voltar para
seu barco e limpar suas máquinas até cada parte da maquinaria
ficar brilhante como um espelho. Um dos passageiros
regulares lhe comentou a mudança. "O você que esteve fazendo?",
perguntou-lhe. "O que o tem feito ficar limpando e polindo esta
velha máquina?" "Senhor", respondeu o maquinista "alcancei uma
glória." Isto é o que Cristo faz por um homem: dá-lhe uma glória. A
graça de Jesus Cristo acende de novo os ideais que as repetidas
quedas no pecado tinham extinto. E por esta nova iluminação a
vida retoma seu caminho ascendente.
3. Mas o maior de tudo é que Jesus Cristo faz com que a vontade
perdida reviva, restaure-se e se recrie. Jesus recria a vontade. Com
efeito, é isto o que o amor sempre realiza. Um grande amor tem
sempre um efeito de purificação. Quando uma pessoa se apaixona de
verdade, entra em sua vida um amor maior que o amor a seus
pecados. O novo amor o impele ao bem. Ama tanto ao ser amado que
o amor a seus pecados é derrotado e quebrantado. É isto o que
Cristo faz por nós. Quando o amamos, este amor restaura e recria
nossa vontade para o bem.
Paulo fecha esta passagem com uma de suas mais importantes elaborações
sobre o paradoxo que sempre está no coração de seu evangelho.
Vejamos os dois elementos deste paradoxo.
2. Tudo isto equivale a dizer que as obras nada têm que ver com o
merecimento da salvação. Mas é precisamente aqui onde não é justo
nem possível abandonar o ensino de Paulo e é precisamente
onde é abandonada com tanta frequência. Paulo continua dizendo
que somos de novo criados por Deus para boas obras. Esta é o
paradoxo paulino. Todas as obras boas do mundo não podem nos
justificar perante Deus, mas uma vez que fomos justificados
perante Deus nosso cristianismo terá algo radicalmente errôneo se
não dar como resultado boas obras. As obras boas jamais merecem
a salvação, mas há algo radicalmente mal se a salvação não
produzir boas obras. Não são nossas boas obras as que fazem que
Deus seja nosso devedor, é o amor de Deus o que nos coloca na
obrigação de manifestar, através de nossa vida, pelo meio do
Espírito Santo que nos concede o efeito dessas obras em nossa vida.
A UNIDADE EM CRISTO
Efésios 2:13-18
(continuação)
Paulo passa agora a falar dos dons inestimáveis que Cristo ofereceu
ao homem, dons que acompanham à nova unidade
em Cristo.
1. De ambos os povos, judeu e gentio, fez um só homem novo.
Em grego há duas palavras para novo. Uma é neos que é
simplesmente o novo com respeito ao tempo; uma coisa é
neos simplesmente porque acaba de chegar à existência
ainda que tenham existido centenas e milhares da mesma
com antecedência. A outra é kainos que não significa tão
novo com respeito ao tempo quanto com respeito à
qualidade. Uma coisa é kainos, nova, no sentido de que
brinda ao mundo algo de uma nova espécie, uma nova
qualidade que antes não existia. Agora, a palavra que usa
Paulo é kainos: diz que Jesus une o judeu e o gentio e com
eles produz uma novo tipo de pessoa.
Na última seção deste capítulo Paulo usa duas vívidas imagens. Diz que
os gentios já não são estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos
perfeitos no povo de Deus e membros em sentido pleno da família
divina.
Paulo usa a palavra xenos para estrangeiros. Em cada cidade
grega haviam xenoi cuja vida não era fácil. Um forasteiro
escreveu de uma cidade estranha: "É melhor que fiquem
em seus lares, sejam como forem, antes que ir a terra
estranha". O estrangeiro era olhado sempre com suspeita e
antipatia.