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PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO CONSUMERISTA

Alunas: Juliana Deise Gomes Marques


Vitória Kércia Ferreira Alves

No cenário dinâmico das relações de consumo, dois pilares jurídicos desempenham


um papel crucial na tutela dos direitos dos consumidores: a prescrição e a decaência.
Estes conceitos, inseridos no âmbito do Direito Consumerista, são fundamentais para
compreendermos a dinâmica temporal das demandas nesse campo específico do
Direito.

A prescrição, como a perda do direito de ação decorrente do transcurso do tempo, e a


decadência, como a perda do próprio direito pela inércia do titular, desempenham um
papel essencial na balança entre a proteção do consumidor e a necessidade de
segurança jurídica. Enquanto a prescrição impõe limites temporais para o exercício do
direito de ação, a decadência busca compelir a celeridade na reação do consumidor
diante de irregularidades.

Ao mergulhar nas análises doutrinárias e na jurisprudência pertinente, buscamos não


apenas elucidar aspectos teóricos, mas também destacar como esses instrumentos
jurídicos se convertem em ferramentas essenciais para assegurar a justiça e a
equidade nas relações entre consumidores e fornecedores. Por meio desta
investigação, visamos contribuir para um entendimento mais profundo sobre a
importância da temporalidade na salvaguarda dos direitos do consumidor e na
construção de um ambiente jurídico mais justo e equitativo.

1. CONCEITO E FUNDAMENTOS

Primeiramente, é evidente a importância da prescrição e da decadência no


contexto jurídico, pois esses mecanismos têm o papel de extinguir direitos de
indivíduos ao longo do tempo, em diferentes estágios de desenvolvimento. Essa
relevância será detalhada mais adiante.
Seria desvantajoso no campo jurídico permitir que os detentores de
pretensões desfrutassem indefinidamente de seus direitos ao longo do tempo. Por
esse motivo, torna-se relevante estabelecer prazos específicos para a propositura de
ações, os quais resultariam na extinção da ação por meio dos institutos jurídicos
mencionados.

A prescrição, de maneira simplificada, foi concebida para proporcionar


segurança às relações jurídicas. Trata-se de uma questão de ordem pública inserida
no âmbito do direito material, visando preservar a estabilidade nessas relações,
evitando a possibilidade de que o titular da ação a exerça indefinidamente.

Dessa forma, além de promover a estabilidade nas relações jurídicas, a


prescrição possui um caráter punitivo para aqueles que negligenciam e deixam de
agir dentro do prazo estabelecido pela legislação. Há clara negligência quando o
autor, após um período consideravelmente prolongado que viabiliza a efetivação da
pretensão, não inicia o processo com a ação.

Maria Helena Diniz, em seu curso sobre o Direito Civil Brasileiro, destaca o
fundamento da prescrição no interesse jurídico social. Silvio de Salvo Venosa, outro
autor relevante nesse campo, define a prescrição como a perda da ação atribuída a
um direito e de toda a sua capacidade defensiva devido à ausência de uso ao longo
de um determinado período.

A prescrição, como instituto, requer quatro pressupostos essenciais: a) a


existência de uma ação executável que representa o objeto do conceito; b) a inércia
do titular da ação pela não propositura, mantendo-se passivo diante do direito violado;
c) a persistência da inércia ao longo de um lapso temporal suficiente, visando punir
essa continuidade da inatividade; d) a ausência de fato ou ato que impeça, suspenda
ou interrompa o curso prescricional.

Quanto à decadência, trata-se da extinção de um direito potestativo devido à


inércia de seu titular, permitindo que o prazo legal ou acordado amigavelmente para o
seu exercício se esgote.
A decadência envolve o direito a ser exercido, sujeitando-se a um período
específico, após o qual ocorre a perda desse direito. Se o titular não exercer a
prerrogativa até o término da eficácia, ocorre a decadência, resultando na
impossibilidade de efeitos decorrentes do ato.

Diante do exposto, torna-se evidente que a prescrição e a decadência são


temas de extrema importância não apenas para a teoria geral do Direito Civil, mas
para o âmbito jurídico como um todo. Devido à sua complexidade e aos debates
gerados por seus aspectos controversos, esses institutos desempenham um papel
crucial na extinção de direitos individuais, reconhecendo a inviabilidade de que uma
pessoa seja titular de um direito ao longo de toda a vida.

Além disso, de maneira introdutória, as interpretações sobre prescrição e


decadência sempre foram um tema polêmico na teoria geral do Direito, persistindo ao
longo do tempo e desafiando a perspicácia dos estudiosos. Vale notar que essa
discussão acerca da distinção entre os dois institutos é tão antiga quanto os princípios
romanos profundamente enraizados.

Dentro desse contexto, há um consenso básico sobre a definição dos termos.


A prescrição pode ser entendida como a perda da possibilidade de buscar reparação
por um direito violado, devido à inércia do titular desse direito, sendo importante
destacar que os prazos são claramente estipulados em uma legislação específica.

Em contraste, a decadência pode ser descrita como a perda de um direito


potestativo, um direito que não admite contestações e pode ser exercido em relação a
outros, decorrente tanto do decorrer do tempo quanto da inércia do titular desse
direito.

No Código Civil, as normas relacionadas à prescrição e decadência estão


delineadas nos artigos 161 a 179. No entanto, esses institutos possuem regras
particulares, dependendo das áreas específicas em que são aplicados.
Um exemplo concreto de aplicação da prescrição e decadência é encontrado
no Código de Defesa do Consumidor, notadamente nos artigos que tratam desses
institutos:

Art. 26. O direito de reclamar por defeitos evidentes ou de fácil identificação expira
em:

30 (trinta) dias, no caso de prestação de serviço e de produtos não duráveis;


90 (noventa) dias, no caso de prestação de serviço e de produtos duráveis.
§ 1.º A contagem do prazo decadencial começa a partir da efetiva entrega do produto
ou da conclusão dos serviços.

§ 2.º Obstam a decadência:

I – a reclamação devidamente registrada pelo consumidor junto ao fornecedor de


produtos e serviços até a resposta negativa, que deve ser clara;
II – (Vetado);
III – a instauração de inquérito civil, até sua conclusão.

§ 3.º No caso de defeitos ocultos, o prazo decadencial começa quando o defeito se


torna evidente.

Art. 27. A pretensão de reparação por danos causados por falha no produto ou no
serviço prescreve em 5 (cinco) anos, iniciando-se a contagem a partir do
conhecimento do dano e de sua autoria.

O transcurso do tempo tem implicações significativas no direito, sendo um


fato jurídico ordinário que resulta em aquisições e extinções de direitos. Nesse
contexto, no que se refere à extinção, surge a pretensão liberatória; o decorrer do
tempo, aliado à inércia de seu titular, representa um fato reconhecido pelo direito com
o objetivo de estabilizar e garantir a segurança jurídica nas relações processuais.

2 DISTINÇÃO ENTRE DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO NA PERSPECTIVA


DOUTRINÁRIA
Há várias nuances relacionadas a cada instituto, e numerosas divergências
entre prescrição e decadência, como amplamente discutido na doutrina. O critério
mais comum para diferenciar os dois institutos é a questão da extinção da ação
(prescrição) e da extinção do direito (decadência).

Enquanto o direito caduca, a pretensão prescreve. No contexto específico do


Código de Defesa do Consumidor (CDC), a decadência está associada ao direito de
reclamar, ao passo que a prescrição se volta para a pretensão de ser ressarcido por
danos causados pelo produto ou serviço.

Sob o mesmo prisma, a decadência está relacionada ao direito de reclamar


contra o fornecedor em relação a defeitos no produto ou serviço; em contrapartida, a
prescrição afeta a pretensão de buscar em juízo a compensação por prejuízos
decorrentes do produto ou serviço.

Adiante, a decadência requer um direito potencial e provável; a prescrição,


um direito que já foi exercido pelo titular, embora essa prerrogativa tenha sido
obstaculizada, resultando na violação do direito.

Assim, a prescrição não atinge o direito em si, mas sim a pretensão de


reparação. Devido às peculiaridades do instituto, o que se perde com a consumação
da prescrição é o direito de apresentar a pretensão em juízo, já que a prescrição diz
respeito à ação, algo completamente diferente do direito em si.

Portanto, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) separou essas


experiências nos distintos artigos mencionados: artigos 26 para decadência e 27 para
prescrição. Entretanto, essencialmente, não há uma distinção clara entre os institutos
de decadência e prescrição, pois ambos indicam a perda de direitos individuais em
estágios mais ou menos avançados do processo correspondente.

A decadência representa a extinção do direito subjetivo que não chega a se


formalizar, devido à inatividade do sujeito do direito; em contraste, a prescrição é
definida como a extinção do direito subjetivo plenamente constituído.
Essa diferenciação é desafiadora do ponto de vista terminológico, porque, em
última análise, ambos os conceitos expressam o mesmo evento jurídico: a perda de
direito pelo decorrer do tempo. Conforme a visão da doutrina predominante, não é
viável considerar decadência e prescrição como institutos separados, uma vez que
abordam a mesma ocorrência jurídica - a perda do direito do sujeito devido à
passagem do tempo.

3 PRAZOS DECADENCIAIS E PRESCRICIONAIS NO CÓDIGO DE DEFESA DO


CONSUMIDOR

O conceito fundamental a ser compreendido é o de prazo, que representa o


intervalo de tempo estabelecido por lei, delimitado pelo momento inicial (dies a quo) e
final (dies ad quem). Esses prazos, seja de decadência ou prescrição, são
considerados de ordem pública no Código de Defesa do Consumidor (CDC), o que
significa que não podem ser modificados pelas partes envolvidas na situação.

O artigo 27 do CDC trata dos prazos prescricionais, estipulando o período de


cinco anos para a busca judicial de reparação por danos decorrentes do fato do
produto ou serviço. Este fato, que pode gerar dano material ou moral, é a base para o
direito do consumidor pleitear indenização.

Por outro lado, no caso dos prazos decadenciais, a classificação de produtos


como duráveis ou não duráveis está relacionada à sua durabilidade. Produtos não
duráveis, como vestuário e alimentos, possuem prazos distintos de reclamação em
comparação com produtos duráveis, como eletrodomésticos e veículos automotores.

Nos prazos decadenciais, outrossim, verifica-se uma tênue ampliação no que


diz respeito ao prazo para queixar-se dos vícios redibitórios na forma como foi
estabelecido no Código Civil – CC -, que dispõe o lapso temporal de 15 (quinze) dias
no artigo 178, § 2º, e pelo Código Comercial – 10 (dez) dias, no artigo 211.

O prazo decadencial começa com a entrega do produto ou a conclusão dos


serviços, ao contrário do Código Civil, que inicia o prazo com a simples tradição.
Importante notar que este prazo se refere à reclamação do consumidor contra o
fornecedor ou judicialmente para corrigir vícios.

Além disso, no contexto do CDC, a consciência do dano, necessário para


iniciar o prazo prescricional, é diferenciada do reconhecimento do autor, que envolve
o fabricante, construtor, produtor ou importador. O comprador pode ingressar com
ação contra um ou mais desses responsáveis, sendo a propositura contra um não
liberatória para os demais.

Em ações coletivas, a citação adequada interrompe a prescrição, reiniciando


apenas após a intimação da sentença condenatória. Vale ressaltar que essa
interrupção beneficia o consumidor no caso de ações individuais.

Em resumo, o CDC estabelece prazos decadenciais e prescricionais


fundamentais para as relações de consumo, visando proteger os direitos dos
consumidores diante de produtos ou serviços defeituosos.

4 IMPEDIMENTOS AOS PRAZOS

As causas que impedem o transcorrer dos prazos estão especificadas no § 2º


do artigo 26 do CDC, distinguindo-se claramente das causas de suspensão ou
interrupção.

Nesse contexto, a eficácia da reclamação realizada, se estiver em


conformidade com a norma mencionada, tem natureza constitutiva, permitindo que o
consumidor apresente sua contestação contra qualquer fornecedor envolvido na
cadeia de consumo. Isso significa que ela rompe com a inércia do consumidor,
possibilitando que ele busque posteriormente aquilo que a lei lhe garante, dentro do
prazo prescricional estabelecido.

As causas impeditivas são as seguintes:


a) a reclamação devidamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de
produtos e serviços, até a obtenção de uma resposta negativa clara e inequívoca;
b) veto;
c) a instauração de inquérito civil, até sua conclusão.

Ao término da causa de impedimento, inicia-se a contagem do prazo


decadencial conforme previsto nos incisos I e II do referido artigo. De acordo com
essas situações específicas, os prazos são de trinta dias para produtos e serviços
não duráveis e noventa dias para produtos e serviços duráveis. É importante reiterar
que o marco inicial desses prazos é a entrega efetiva do produto ou a conclusão dos
serviços.

5 JURISPRUDÊNCIAS A RESPEITO DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO CDC


STJ

5.1 Trecho de ementa:

“(...) 1. A pretensão autoral foi formulada para reaver valores pagos em decorrência
da má prestação do serviço de retífica no motor de veículo, bem como a reparação
por danos materiais e morais. 2. A prescrição e a decadência são institutos
diversos. 2.1. A prescrição atinge a pretensão que surge com a violação do
direito, já a decadência faz perecer o próprio direito, e, por consequência seu
exercício perante o devedor. 3. O prazo do art. 26, II do Código de Defesa do
Consumidor é decadencial e aplica-se à hipótese de reclamação por defeito no
serviço, sendo que o prazo para o consumidor reclamar perante o fornecedor é
distinto do prazo para pleitear indenização por danos decorrentes da má
prestação dos serviços. 3.1. No caso da pretensão de reparação de danos
materiais e extrapatrimoniais oriundos da má prestação do serviço, incide a
norma do Art. 27 do CDC, que estabelece prazo prescricional de cinco anos a
partir do conhecimento do dano e de sua autoria. 4. A ocorrência da decadência
do direito de reclamar perante o fornecedor não interfere no prazo prescricional de
demandar judicialmente pela quebra do contrato e pela devolução dos valores pagos,
bem como pela reparação de danos. Os prazos decadencial e prescricional são
diferentes e suas consequências jurídicas também."

5.2 Aplicabilidade da prescrição e da decadência no CDC conforme o STJ:


“(...) 8. O prazo decadencial previsto no art. 26 do CDC relaciona-se ao período de
que dispõe o consumidor para exigir em juízo alguma das alternativas que lhe são
conferidas pelos arts. 18, § 1º, e 20, caput, do mesmo diploma legal (a saber, a
substituição do produto, a restituição da quantia paga, o abatimento proporcional do
preço e a reexecução do serviço), não se confundindo com o prazo prescricional a
que se sujeita o consumidor para pleitear indenização decorrente da má-execução do
contrato. 9. Quando a pretensão do consumidor é de natureza indenizatória (isto é, de
ser ressarcido pelo prejuízo decorrente dos vícios do imóvel), não há incidência de
prazo decadencial. A ação, tipicamente condenatória, sujeita-se a prazo de
prescrição. 10. À falta de prazo específico no CDC que regule a pretensão de
indenização por inadimplemento contratual, deve incidir o prazo geral decenal
previsto no art. 205 do CC/02.” REsp 1819058/SP

6 CONCLUSÃO

Foi abordado a manifestação da prescrição e decadência no Código de Defesa do


Consumidor, analisando os artigos 26 e 27, delineando as diferenças doutrinárias e
legislativas entre esses conceitos, além de detalhar seus prazos e causas
impeditivas, localizadas no § 2º do artigo 26.

Portanto, é possível concluir que existem divergências substanciais entre os institutos


discutidos, mesmo que ambos lidam com o mesmo fenômeno jurídico - a perda do
direito devido ao transcurso do tempo.

Considerando essenciais os institutos de prescrição e decadência no contexto jurídico


para assegurar maior estabilidade nas relações processuais, proporcionando prazos
definidos e evitando que um sujeito mantenha uma prerrogativa indefinidamente.

O Código de Defesa do Consumidor estabelece regras específicas para esses


institutos, com prazos mais dilatados, definição clara de termos iniciais e finais, bem
como situações de interrupção e suspensão. Essas normas refletem a base
fundamental da hipossuficiência do consumidor nas relações de consumo, resultando
em discordâncias doutrinárias e jurisprudenciais em pontos cruciais.
No que diz respeito à natureza jurídica e ao subsequente procedimento do obstáculo
à decadência, conforme previsto no artigo 26, § 2º, do CDC, surge uma controvérsia.
Outra discussão relevante envolve a natureza do dano sujeito às disposições do
CDC, submetendo-o ao prazo prescricional do artigo 27 da mesma legislação, se
originado do vício ou do fato do produto ou serviço.

Considerando a primeira situação, é imperativo reconhecer a existência de duas


prerrogativas que o consumidor pode exercer quando ocorre um vício - de maneira
extrajudicial e judicial.

Para cada direito, há um ponto inicial e final para o prazo decadencial, e o exercício
de cada um impede que se argumente sobre decadência posteriormente, uma vez
que não foi negligenciado.

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