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LIGA DE ENSINO DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO UNIVERSITÁRIO DO RIO GRANDE DO NORTE

CURSO DE DIREITO
DIREITO CIVIL I (TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL)
2º PERÍODO
PROF. WALBER CUNHA LIMA

1. Prescrição: conceito, espécies e elementos

Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2017) desde a concepção do ser humano o tempo influi nas relações
jurídicas de que o indivíduo participa. É ele o personagem principal do instituto da prescrição. Nesse
campo, a interferência desse elemento é substancial, pois existe interesse da sociedade em atribuir
juridicidade àquelas situações que se prolongaram no tempo.

No mesmo sentido Flávio Tartuce (2016) ressalta que o exercício de um direito não pode fica pendente de
forma indefinida no tempo. O titular deve exercê-lo dentro de um determinado prazo, pois o “Direito não
socorre aqueles que dormem”. Desse modo, arremata o jurista que, com fundamento na pacificação
social, na certeza e na segurança jurídica surge os institutos da prescrição e decadência.

Paulo Nader (2016) destaca que a lei estabelece limite temporal para o exercício do direito de ação. O
titular de um direito violado não poder deixar o tempo escoar indefinidamente sem tomar a iniciativa de
buscar a tutela judicial. Assim, a pendência de um conflito é fator de inquietação social e reclama
solução, pois não seria justo se um titular de um direito pudesse protelar indefinidamente a oportunidade
de o Judiciário convocar a outra parte para responder, dizendo os seus motivos (NADER, 2016)

Acerca da prescrição Maria Helena Diniz (2017) esclarece que o titular de uma pretensão jurídica terá
prazo para propor ação, que se inicia no momento em que sofrer violação do seu direito subjetivo. Se o
titular deixar escoar tal lapso temporal, sua inércia dará origem a uma sanção que é a prescrição. Essa será
a pena para o negligente. É a perda da ação, pois a prescrição atinge o direito de ação e não o direito
subjetivo a ela correspondente.

Nessa perspectiva, Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald (2018) aduzem que a prescrição não atinge o
direito subjetivo em si mesmo, visto que o mesmo se mantem, havendo tão somente a neutralização da
pretensão reconhecida ao titular desse direito subjetivo. Equivale a dizer: a prescrição não fulmina o
direito subjetivo em si, neutraliza a pretensão que o guarnece. Desta feita, exaurido o prazo prescricional
legalmente previsto, o direito em si subsiste, mas seu titular não pode mais exigir o seu cumprimento
porque a pretensão restou neutralizada (FARIAS; ROSENVALD, 2018).

Sob esse influxo, Flávio Tartuce (2016) pontua que na prescrição ocorre a extinção da pretensão; todavia
o direito em si permanece incólume, só que sem proteção jurídica para solucioná-lo. Tanto é assim que se
alguém pagar uma dívida prescrita, não pode pedir a devolução da quantia paga, eis que existia o direito
de crédito que não foi extinto pela prescrição.

Arnaldo Rizzardo (2016) preleciona que o marco para o inicio do prazo prescricional é o momento da
transgressão/violação do direito de modo que, tão logo verificado o fato que atingiu o direito, oportuniza-
se o exercício da demanda cabível, que perdura por certo tempo, não sendo indefinido ou eterno. Se não
vier a ação cabível em um lapso de tempo que a própria lei assinala, consolida-se a transgressão, pois fica
o direito desprovido da ação que o protegia, e que era garantida para a sua restauração.
Verifica-se, pois, que a lei estabelece limite temporal para o exercício do direito de ação. O titular de um
direito violado não pode deixar o tempo escoar indefinidamente sem tomar a iniciativa de buscar a
proteção do seu direito. É exatamente esse o sentido em que se reveste o conceito da prescrição, que é o
resultado da falta de exercício de um direito durante determinado lapso temporal, evidenciando que o
exercício de um direito não pode ficar pendente indefinidamente, pois deve ser exercido pelo titular
dentro de determinado prazo, caso contrário, perde ele a prerrogativa de fazer valer o seu direito
(NADER, 2016).

A doutrina distingue-se, pois, duas espécies de prescrição: a extintiva e a aquisitiva, também chamada de
usucapião.

A prescrição extintiva, prescrição propriamente dita, conduz à perda do direito de ação por seu titular
negligente, ao fim de certo lapso de tempo, e pode ser encarada como força destrutiva. A prescrição
aquisitiva (usucapião) consiste na aquisição do direito real pelo decurso de tempo. Tal direito é
conferido em favor daquele que possuir, com ânimo de dono, o exercício de fato das faculdades inerentes
ao domínio, no tocante a coisas móveis e imóveis, pelo período de tempo que é fixado em lei. São dois
fatores essenciais para a aquisição de direito real pelo usucapião: o tempo e a posse. O decurso de tempo
é essencial, porque cria uma situação jurídica. A posse cria estado de fato em relação a um direito
(VENOSA, 2016).

Evidencia-se, portanto, que o tempo, como fato jurídico, atua com duplo efeito: alguém ganha e, em
contrapartida, alguém perde.

Alguns países tratam conjuntamente as duas espécies de prescrição. O CC regulamentou a prescrição


extintiva na Parte Geral, dando ênfase à força extintora do direito. No direito das coisas, na parte
referente aos modos de aquisição do domínio, tratou da prescrição aquisitiva, em que predomina a força
geradora.

Silvio Venosa (2016) citando Antônio Luís Câmara Leal, alega que historicamente a prescrição foi
introduzida como forma de tolher a ação. O direito podia sobreviver à ação. A inércia é causa eficiente
da prescrição; ela não pode, portanto, ter por objeto imediato o direito. O direito incorpora-se ao
patrimônio do indivíduo. Com a prescrição o que perece é o exercício desse direito. É portanto, contra a
inércia da ação que age a prescrição, a fim de restabelecer estabilidade do direito, eliminando um estado
de incerteza, perturbador das relações sociais. Por isso, a prescrição só é possível quando existe ação a
ser exercida. O direito é atingido pela prescrição por via de consequência, porque, uma vez tornada a
ação não exercitável, o direito torna-se inoperante. Tanto isso é válido que a lei admite como bom o
pagamento de dívida prescrita, não admitindo ação para sua devolução. Também os títulos de crédito,
prescritos, se não autorizam a ação executiva, sobrevivem à prescrição, pois podem ser cobrados por ação
ordinária de enriquecimento sem causa, o que demonstra que o direito, na verdade, não se extingue.

Segundo Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald (2018), para que se configure a prescrição, imprescindível
a ocorrência dos seguintes elementos:

a) Existência de uma pretensão, que guarnece um direito subjetivo patrimonial e que possa se
alegada pelo titular;

b) Inércia do titular dessa pretensão;

c) Manutenção dessa inércia durante um determinado lapso de tempo;

d) Ausência de fato ou ato impeditivo, suspensivo ou interruptivo do curso da prescrição.


2. Impedimento, Suspensão e Interrupção da prescrição

Não se confundem impedimento, suspensão e interrupção da prescrição.

Segundo Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (2017) a priori não há diferença ontológica entre
impedimento e suspensão da prescrição, pois ambas são formas de paralização do prazo prescricional. A
distinção fática, segundo eles, é quanto ao termo inicial, pois, no impedimento, o prazo nem chegou a
correr, enquanto na suspensão, o prazo, já fluindo, “congela-se”, enquanto pendente a causa suspensiva.
Por essa razão, esclarecem os autores, as causas impeditivas e suspensivas da prescrição são tratadas da
mesma forma no Código Civil.

Silvio Venosa esclarece que o Código Civil não faz expressamente distinção entre suspensão e
impedimento. Todavia, a doutrina faz distinção entre tais institutos. Assim, doutrinariamente, as causas
impeditivas da prescrição são as circunstâncias que impedem que o seu curso inicie e, as suspensivas, as
que paralisam temporariamente o seu curso; superado o fato suspensivo, a prescrição retoma o seu curso,
computado o tempo decorrido antes da suspensão. Já as causas interruptivas da prescrição são as que
inutilizam a prescrição iniciada, de modo que o seu prazo recomeça a correr da data do ato que a
interrompeu. Desta forma, verificada alguma causa interruptiva perde-se por completo o tempo
decorrido. O lapso prescricional iniciar-se-á novamente. O tempo precedentemente decorrido fica
totalmente inutilizado (VENOSA, 2016).

OBS: Prescrição X Preclusão;


Prescrição X Perempção.

3. Decadência

“Decadência” é um vocábulo de formação vernácula, originário do verbo latino cadere (cair); do prefixo
latino de (em cima de) e do sufixo entia (ação ou estado); literalmente designa a ação de cair ou o estado
daquilo que caiu. No campo jurídico, indica a queda ou perecimento de direito pelo decurso do prazo
fixado para o seu exercício, sem que o titular o tivesse exercido (VENOSA, 2016).

Segundo Paulo Nader (2016) , decadência (ou caducidade) representa a morte de um direito subjetivo em
face da inércia do seu titular, que optou por não ajuizar uma ação constitutiva no prazo legal.

No mesmo sentido, Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald (2018) aduzem que a decadência, também
chamada de caducidade, faz perecer o próprio direito, atingindo-o na essência.

É grande a semelhança entre a decadência e prescrição. Ambos institutos se fundam na inércia do titular
do direito, durante certo lapso de tempo. Ambas se baseiam no conceito de inércia e tempo, como bem
aponta Fabio Ulhoa Coelho (2016) ao afirmar que tanto a prescrição como a decadência reúnem os
mesmos elementos: inércia do sujeito em exercer o direito (fator subjetivo) e o decurso do tempo fixado
em lei (fator objetivo).
Entretanto, atualmente há várias distinções, como poderemos ver no quadro comparativo a seguir:

PRESCRIÇÃO DECADÊNCIA

Extingue a pretensão Extingue o direito


O prazo é fixado por lei O prazo pode ser estabelecido por lei ou pela
vontade das partes (decadência legal e
convencional)
Deve ser conhecida de oficio pelo juiz A decadência legal deve ser reconhecida de oficio
pelo magistrado, o que não ocorre com a
decadência convencional.
O prazo pode ser suspenso, impedido ou O prazo corre contra todos, com exceção aos
interrompido. absolutamente incapazes.
Pode ser conhecida pelo juiz (Art, 487, II, CPC) A decadência legal pode ser conhecida de oficio
pelo juiz, a convencional não.

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