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BRASÍLIA
2023
ESTEFANY REZENDE ALVES COELHO
BRASÍLIA
2023
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Resumo: O presente artigo tem como objetivo investigar se o excesso de prazo para
julgamento da Ação Penal enseja em indenização por dano moral individual in re
ipsa em favor do acusado inocentado, visto que não há a necessidade de
comprovação do dano pois este é inerente diante da demora na prestação
jurisdicional, pois percebesse que durante o longo processo de julgamento houve
uma lesão a personalidade do acusado, também abordaremos se essa morosidade
configura como erro do judiciário ou apenas uma falha diante da omissão do Estado
pela demora da prestação jurisdicional. Verificando assim, a forma de
responsabilização do Estado visto o descumprimento de preceito fundamental, o
princípio da duração razoável do processo, princípio previsto no inciso LXXVIII do
art. 5º da Constituição Federal. Em linhas gerais, trazer a baila se a morosidade do
judiciário incide em um erro do Estado e a responsabilização deste pela demora na
prestação jurisdicional em matéria penal.
INTRODUÇÃO
A Convenção Europeia, a qual o Brasil fez parte, destaca que toda pessoa
na sustentação de uma acusação criminal tem o direito de ser julgada dentro de um
prazo razoável, vejamos:
Toda pessoa tem direito a que sua causa seja examinada eqüitativa e
publicamente, em prazo razoável, por um tribunal independente e
imparcial, estabelecido pela lei, o qual decidirá, quer sobre a determinação
dos seus direitos e obrigações de caráter civil, quer sobre o fundamento de
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Quando o judiciário demora em julgar uma ação penal este causa um dano
direto ao acusado. Todo dano causado decorrente de um ato ilícito deve ser
reparado, há o dever de responsabilização do estado em face dos danos causados a
outrem.
O dano moral nestes casos é presumido, visto que houve uma violação da
personalidade da honra, imagem, bom nome, dignidade, uma vez que o acusado,
quando inocentado dificilmente consegue reparar a sua imagem. Não há como
excluir um processo criminal, apesar de arquivado, sempre ficará registrado.
O trâmite processual em si já é uma pena, visto que durante toda a instrução
probatória, a parte que responde a uma ação penal figura como um acusado, como
suspeito de ter cometido um crime, um delito.
Sendo assim, percebe-se que após um excesso de tempo para o julgamento
de uma ação penal há o dano moral, o acusado ao ser inocentado não precisa
comprovar o dano moral, pois este é presumido. É desnecessária a comprovação
concreta de abalo profundo, afinal, é impossível demonstrar um sentimento de dor,
tristeza e humilhação através de falas, depoimentos, documentos etc.
Tem-se aqui que o dano moral nos casos de excesso de prazo para
julgamento da ação penal é caracterizado pela própria ofensa e pela gravidade do
ilícito em si, possuindo natureza in re ipsa.
Os danos são presumidos, atingindo o direito da personalidade do cidadão
que ora fora considerado acusado de cometer um crime e findo o processo fora
inocentado. Este excesso de prazo no julgamento da ação atinge também o princípio
da Presunção de Inocência, pois a demora e o prolongamento excessivo do
processo penal vai automaticamente descredibilizando o acusado, enfraquecendo
sua versão e trazendo o sentimento perante a sociedade de que este não é
inocente, pois se fosse já teria sido inocentado.
Com essa morosidade, além da grande dificuldades para o exercício da
resistência processual, a vida econômica do então acusado também é afetada
diretamente visto que além dos gastos com o advogado a dificuldade para encontrar
emprego pela estigmatização social é enorme. O acusado, quando inocentado
passou anos sofrendo um julgamento doloroso e punitivo. O excesso de prazo para
julgamento de uma ação penal viola os direitos fundamentais. Vejamos o
entendimento da 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro já se debruçou sobre o tema, em acórdão.
“...a demora injustificada em dar resposta aos casos penais impõe que o
Estado, por inoperância própria, “abra mão” de seu direito de punir
porque, na verdade, já o exerceu por meio da submissão do réu a intenso e
prolongado sentimento de incerteza e angústia”. (TJRJ, Recurso em Sentido
Estrito nº 2003.051.00073, Rel. Des. Geraldo Prado, Julgamento:
24/06/2010 - Quinta Câmara Criminal)
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Contudo, sabemos que nem todo acusado é culpado, muitos são inocentes
e mesmo provada a sua inocência este não consegue apagar essa parte de sua
vida, a parte de já ter sido indiciado como alguém que provavelmente cometeu um
ilícito penal, então fica sempre com um passado que não cai no esquecimento.
O sistema judiciário que não prestou o serviço em prazo razoável, mas que
extrapolou o limite do tempo e infringiu o artigo LXXVIII do art. 5º da Constituição
Federal, deve indenizar o réu que no final do processo foi inocentado. O Estado tem
o dever de reparar o dano causado, neste caso fica claro que o réu inocentado
sofreu um dano moral presumido, dano este que não há a necessidade de sua
comprovação, visto que se dispensa a necessidade de prova para justificar a
indenização.
REFERÊNCIAS