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RESUMO
Ao pesquisar sobre a educação no Brasil constatamos que, em parte, foi negada à população
camponesa a educação proposta pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB),
aprovada em 1996. Desde então, os movimentos sociais do campo iniciaram uma luta pelo
acesso à educação pública de qualidade para todos os graus, e que se adeque ao cotidiano
presente no campo, com vistas à melhoria das condições de reprodução social para quem ali
reside. O presente trabalho tem como objetivo compreender a luta por políticas públicas efetivas
para a educação do campo, e como os movimentos sociais participam desse processo.
Metodologicamente, foi feito uma revisão bibliográfica de autores que trabalham essa temática,
como também um levantamento documental de legislações, portarias e decretos sobre educação
do campo no Brasil. Pretendeu-se refletir sobre a educação do campo, esta como libertadora,
representando para os que a defende, principalmente os movimentos sociais, a possibilidade de
rompimento com o modelo educacional presente nas escolas localizadas nos espaços rurais do
país.
INTRODUÇÃO
Analisando a atual conjuntura, observamos que, em partes, vem sendo negado
direitos básicos a residentes do campo. Tratando-se da educação, podemos observar que
no art. 205º da Constituição Federal de 1988, é assegurada “a educação, direito de todos
e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988) e, analisando o artigo 28
da lei 9394/96 vemos que nela está garantido à população camponesa o direito a uma
educação feita no e do campo.
Há anos que a educação do campo, no Brasil, vem sendo discutida pelos
movimentos sociais que lutam pelo acesso do camponês à educação. O movimento
social que estimulou e oficializou esta bandeira de luta foi o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), porém outros movimentos sociais rurais
também seguiram o mesmo caminho, como, por exemplo, o Movimento dos Pequenos
Agricultores (MPA).
Portanto, o artigo foi escrito com o objetivo de compreender a luta por políticas
públicas efetivas para a educação do campo, e como os movimentos sociais participam
desse processo. Metodologicamente, sua elaboração se deu a partir de leituras artigos e
obras de autores que trabalham a temática, como Cury (1997), Menezes (2017) e
Arroyo (1999), e de levantamento documental de legislações, portarias e decretos.
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Também conhecida como Lei Darcy Ribeiro, em homenagem ao educador e político brasileiro, que foi
um dos principais formuladores desta lei. É considerada a Carta Magna da Educação.
brasileiro tem direito a cursar, de forma gratuita, o ensino fundamental e médio e
esclarece que a educação básica é dever do Estado. Segundo Menezes, “a educação do
campo se configura como um movimento político de defesa da educação escolar:
pública e gratuita, plural e diferenciada, alicerçada nas entidades dos sujeitos
camponeses e articulada a um projeto de campo brasileiro contrário e em disputa com o
projeto capitalista” (MENEZES, 2017).
Em conjunto, o art. 205 da Constituição Federal de 1988 diz que:
Assegurada pela Constituição, a LDB abriu espaço para fixar medidas que
ampliaram o acesso ao ensino no Brasil e, após a sua atualização, passou a incluir
alguns temas que foram ganhando visibilidade na sociedade, sendo um deles a
Educação do Campo.
O artigo 1 da LDB diz que “a educação é o conjunto de processos formadores
que passa pelo trabalho, pela família, pela escola, pelo movimento social. Toda
educação escolar terá que vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social”
(BRASIL, 1996). Nessa perspectiva, o art. 28 faz referência direta à educação do
campo, indicando que “na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas
de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da
vida rural e de cada região” (BRASIL, 1996). Ainda no mesmo artigo, determina que se
definam:
Toda Lei nova carrega algum grau de esperança, mas carrega alguma
forma de dor, já que nem todos os interesses nela previamente
depositados puderam ser satisfeitos. Esta lei, de modo especial,
registra as vozes que, de modo dominante, lhe deram vida. Mas
registra, também, vozes recessivas umas, abafadas outras, silenciosas
tantas, todas imbricadas na complexidade de sua tramitação. Por isso a
leitura da LDB não pode prescindir desta polifonia presente na Lei,
polifonia nem sempre afinada, polifonia dissonante. (CURY, 1997)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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II Encontro Nacional de Educadoras e Educadores da Reforma Agrária (II Enera) ocorreu em setembro
de 2015. O debate e pesquisas apresentadas no encontro resultaram na Edição Especial do Boletim de
Educação do Movimento Sem-Terra. Disponível em:
http://www.reformaagrariaemdados.org.br/sites/default/files/BE%20(12).pdf acessado em 27 de julho de
2018
A educação do campo emerge no processo das lutas sociais e das manifestações
públicas reivindicatórias dos trabalhadores rurais organizados em movimentos sociais.
Trata-se de uma educação que fomenta condições materiais para a vida neste espaço,
articula os conhecimentos dos discentes com os conhecimentos científicos, ou seja,
educação que se contrapõe aos interesses das classes dominantes.
Nesse processo de luta, a atuação dos movimentos sociais fez com que as
demandas da população do campo fossem visibilizadas e asseguradas por meio de Leis,
Programas e Planos de Ação, sobretudo a partir da Constituição de 1988. A trajetória da
luta pela educação, enquanto prática emancipatória, se articula com a legislação que a
ampara como direito para todos. A organização em movimentos do campo que pautam a
educação se concatena a luta por direitos mais amplos, tendo em vista o entendimento
da cooperação simbólica e material da educação para o processo de luta e expansão do
acesso aos direitos e, por isso, o bem-viver no campo logo se interliga a luta por
reforma agrária e melhores condições para reprodução social, política e econômica.
Portanto, as variadas trajetórias de luta dos movimentos sociais e de entidades
representantes de camponeses, discentes e professores permitiram algumas conquistas,
como a realização de cursos direcionados à população do campo e a concretização de
atividades de extensão e de pesquisas sobre a Educação no Campo. Ao se apresentar
como uma educação libertadora, ela representa para os que a defende, principalmente os
movimentos sociais, a possibilidade de rompimento com o modelo educacional presente
nas escolas localizadas nos espaços rurais do país. Além disso, revela-se como
mecanismo para construção de uma nova hegemonia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MENEZES, Ana Célia Silva. Educação do campo no semiárido como política pública: um
desafio à articulação local dos movimentos sociais / Ana Célia Silva Menezes. – João Pessoa,
2017.