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Angustia e a formação do indivíduo em kierkegaard

A presente comunicação tem como objetivo refletir sobre a Angústia e sua importância
na formação do indivíduo a partir da perspectiva do filosofo danes Soren Kierkegaard.
No primeiro momento pretendo apresentar o contexto histórico em que o filósofo está
situado. Em seguida uma breve breve comentário sobre os dois primeiros capítulos da
obra “ o conceito de angustia” e mostrar como ela ( a angustia) desempenha um
importante papel na formação do individuo. Por fim concluirei, destacando a relevância
da obra para a reflexão filosófica atual.

1. KIERKEGAARD: CONTEXTO HISTÓRICO

1.1 – Vida familiar: Soren Aabye Kierkegaard, nasceu no dia 5 de Maio de 1813, em
Copenhague. Filho de Michael Pedersen Kierkegaard e Anne Sorensdatter Lund. O
pai de Kierkegaard era um homem muito religioso, sua influência foi tão grande que
o irmão mais velho de Soren, Peter Christian Kierkegaard (1805-1888 )foi pastor e
depois se tornara Bispo da igreja da Dinamarca. A vida de Kierkegaard é marcada
pelo luto, pois aos 21 anos ele já tinha cinco irmãos e irmãs e a mãe
(STEWART,2017). Outro fato marcante na vida do pensador, foi o rompimento do
seu noivado com Regina Olsen.

1.2 – Sua jornada intelectual: O pai de Kierkegaard teve muita preocupação com a
formação escolástica e religiosa dos filhos, particularmente de Peter e Soren, os
únicos filhos sobreviventes (REGINA,2017). Quando criança estudou na Escola da
Virtude Cívica, que ficava em Copenhague, foi onde Kierkergaard iniciou seus
estudos em latim e grego. Stewart vai dizer que foi nessa escola que surgiu o
fascínio de Soren por Socrates
“O mais importante, porém, foi que ele leu também
alguns dos diálogos do filósofo grego Platão,
especificamente o Eutífron, a apologia e o Críton. Ele
ainda leu outra importante fonte sobre a vida e os
ensinamentos de Sócrates, a Memorabilia de Xenofonte.
A escola, portanto, lhe proporcionou um conhecimento
amplo sobre Sócrates, filosofo pelo qual seria fascinado
durante o resto da vida”¹

Após a conclusão dos estudos na escola Cívica, Soren Kierkegaard é admitido na


universidade de Copenhague, no final dos seus estudos, que surge a obra “O Conceito
de Ironia”, em 1840. Dando inicio ao ciclo intenso de publicações do filósofo danês.

2 – O CONCEITO DE ANGUSTIA. CAPUT 1

Publicado em junho de 1844, dias após Migalhas filosóficas e no mesmo dia que os
Prefácios, O Conceito de Angustia é sem dúvida uma das obras mais acadêmicas escrita
por Kierkegaard. O livro foi publicado com o pseudônimo de Vigilius Haufniensis, ou
o Vigia de Copenhague.
O subtítulo da obra, “Uma simples reflexão psicológica-demonstrativa direcionada ao
problema dogmático do pecado hereditário”, já traz consigo um conceito que é muito
caro a Kierkegaard, ou seja a ironia, que é “um auxílio negativo, que corrói as certezas
de uma existência segura de si mesma e deixa o indivíduo só, na insegurança de sua
dívida”( ROOS, 2021).

Kierkegaard, na introdução do livro faz questão de deixar claro que sua exposição,
apesar de carregar o título de “dogmátiga”, nega totalmente que ideia do pecado seja
fruto de reflexão acadêmica

“ O pecado não pertence propriamente ao campo


acadêmico, mas é o tema do sermão, no qual o indivíduo
singular fala como indivíduo singular ao indivíduo
singular”

Essa negação do que na teologia convencional é chamada de Hamartiologia, gera um certo


desconforto nos teólogos contemporâneos ao filósofo danes.

No primeiro capitulo da o Vigia de Copenhague, faz uma abordagem retroativa até a idéia do
pecado de Adão, que é o individuo primordial, que segundo o prof. Tales Macêdo é primordial
por ser “aquele que por primeiro obteve a consciência de sua própria
possibilidade”(MACEDO, 2018).

Diante do que foi posto pelo professor Tales, entende-se que ao ser proibido de comer do fruto
no Éden, Adão não está diante de um tentação, e sim diante de uma possibilidade, que segundo
Jonas Roos, é a possibilidade de liberdade.

“No relato de Gênesis, como se sabe, Adão recebe uma


proibição: Mas da arvore do conhecimento do bem e do
mal não comerás, porque no dia em que dela comeres terás
que morrer (Gn.2,17). As interpretações teológicas
tradicionais entenderam que essa proibição geraria o
desejo de provar da fruta. Haufniensis, contudo, vai na
contramão dessa psicologia e entende que o que a
proibição gera não é desejo, mas angustia. A proibição o
angustia, porque a proibição desperta nele a
possibilidade”(ROOS, 2021.p.52)

Todos os descendentes de Adão, são chamados de indivíduos posteriores que diferente de Adão,
que sabia o motivo de sua culpa, nascem sem nenhum conhecimento de causa

“ O que pensar do indivíduo posterior n ão uma distinção


total com o primordial(Adão), mas um acréscimo diferente
deste individuo na humanidade, este diferencial é o “mais”
da angustia. Isso acontece quando este indivíduo, desde o
seu primeiro respirar no mundo, já esta com a
pecaminosidade, porém, uma pecaminosidade ignorante,
sem conhecimento de causa”(MACEDO, 2018.p.14)
Em seguida mostra a perda da inocência, na queda, pois a queda gera culpa e a “Inocência só
pode ser anulada pela culpa”(ROOS,2019). A inocência tem um sentido um tanto negativo pra
Kierkegaard, pois se mostra ignorante da natureza existencialmente angustiante da vida.

“A inocência é, então ignorância; mas como se perde a


inocência¿(Kierkegaard,2010)

Depois de falar sobre o conceito de primeiro pecado, o conceito de inocência e queda, Soren
Kierkegaard chega ao conceito de angustia no primeiro

“A inocência é ignorância. Na inocência, o ser humano


não está determinado como espírito, mas determinado
psiquicamente em unidade imediata com sua naturalidade.
O espírito está sonhando no homem. Tal interpretação está
em perfeita concordância com a da Biblia que, ao negar ao
homem em estado de inocência o conhecimento da
diferença entre bem e mal, condena todas as
fantasmagorias católicas sobre o mérito[...] Neste estado
há paz e repouso, mas ao mesmo tempo há algo de
diferente que não é discórdia e luta; POIS NÃO A
NADA CONTRA O QUE LUTAR. MAS O QUE HÁ
ENTÃO¿ NADA. MAS NADA, QUE EFEITO TEM¿ FAZ
NASCER ANGUSTIA”(Kierkegaard,2010)

Como fica bem claro na citação o objeto da angustia é o nada, pois é a sensação de indefinição e
ou de ambigüidade, diante da possibilidade. Ou seja na incerteza que sentimos diante da
possibilidade a angustia caracteriza a ambigüidade de buscar a possibilidade e ao mesmo tempo
fugir dela. No texto fica claro a necessidade de tornar o espírito efetivo, de realizá-lo a partir de
nossas escolhas.

“ o homem é uma síntese do psíquico e do corpóreo.


Porem, uma síntese é inconcebível quando os dois termos
não se põem de acordo num terceiro. Este terceiro é o
espírito”.(kierkegaard,2010)

Para que o homem seja um indivíduo de fato, isto é, um si mesmo, ele precisa efetivar a síntese,
ou seja quando a resposta é direcionada a Deus na perspectiva kierkegaardia, esse ser se torna
um individuo autonomo, caso a síntese seja mal efetivada, gera no ser humano o desespero.

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