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Nome do grupo: “TÔ DE BOAL”: Ana Vitória, Camilla Marra, Letícia Ramos e
Moisés Abrão.
Passo a Passo:
Constrói-se uma peça na qual se dramatiza uma situação da realidade
marcada pelas relações de poder e de opressão, com o objetivo de “ensaiar ações
concretas na vida social, produzir mudanças, transformações” (BOAL, 2009). No
primeiro momento, é realizada uma apresentação, onde os oprimidos e seus aliados
são apresentados e logo após, os opressores e seus aliados são apresentados.
Em seguida, é realizado um aquecimento coletivo, com o objetivo de tirar as
pessoas da passividade para olhar os problemas e dificuldades da comunidade.
Nesse aquecimento são realizados jogos, para mobilização dos corpos.
Com isso, se constitui a identificação grupal, encontrando problemas e
dificuldades da comunidade que serão levantados, em uma realidade marcada
pelas relações de poder e de opressão.
A partir da identificação grupal, monta-se o roteiro da peça escolhida na qual
se dramatiza uma situação da realidade, a partir da história da dificuldade da
comunidade encontrada, que será encenada. Nesse momento, monta-se os objetos
necessários para a cena, que são objetos simbólicos do real.
O início da construção da cena é criado, através da ação dramática, onde
aparece a situação-problema, em que é demonstrada a opressão vivenciada. É o
momento crítico onde há o choque entre o desejo do oprimido de se libertar da
opressão, e o opressor com o desejo de o impedir. Para Boal (1996), é o momento
em que o oprimido se debate com a opressão e apresentam-se diferentes
oportunidades.
Com isso, ocorre um debate com a plateia sobre o drama do oprimido, após a
cena, incentivando a participação e permitindo que a plateia possa trocar de lugar
com o ator-oprimido, para poder ensaiar novas formas de solucionar o problema
levantado, oportunizando uma transformação e libertar o oprimido da opressão.
Realização da Cena:
Deixaremos aqui também o relato de uma experiência de teatro-fórum
produzida e vivenciada no ano de 2021 no abrigo Ernani Gomes Duarte na cidade
de Maricá-RJ em pleno auge da pandemia da covid-19 no Brasil.
No ano de 2021 assim que começaram a ser vacinados os profissionais da
Secretaria de Assistência Social no município de Maricá-RJ, apenas duas
categorias profissionais estavam sendo contempladas naquela ocasião, sendo o
Serviço Social e a Psicologia, porém este fenômeno que colocaria algumas
profissões em lugar de privilégio na hora de receber as poucas e recém chegadas
vacinas contra a covid-19, apareciam em diversas mídias das imprensa, como por
exemplo em hospitais, onde médicos eram vacinados e maqueiros não.
Neste período, eu estava lotado no abrigo para a população adulta em
situação de rua Ernani Gomes Duarte, e lá havíamos recebido o comunicado que
as/os profissionais da secretaria seriam vacinadas/os, porém apenas duas
categorias como citadas acima. Nesta época, eu fazia parte de um coletivo que
geria o serviço numa gestão compartilhada, eu era o único não psicólogo ou
assistente social, porém com nível superior, dito isto me perguntei, quando as/os
profissionais de nível médio e fundamental serão vacinadas/os, entre uma conversa
e outra pelos corredores com essas pessoas sobre esta situação, elas diziam que
era assim mesmo, não conformado pensei na realização de uma cena que
convidasse a toda equipe de trabalho a pensar nas relações profissionais de poder,
a consciência de classe, o que isso tinha haver com ser vacinada/o ou não e quais
as possíveis saídas.
A intervenção consistiu em trazer para a reunião de equipe semanal a cena
de um telejornal com uma série de matérias que trouxessem os casos Brasil afora,
onde umas profissões tinham direito a vacina e outras não, nesta cena remetemos a
construção do famoso Jornal Nacional, com direito a música de abertura e tudo
mais, dois profissionais já vacinados foram os apresentadores, na plateia
majoritariamente trabalhadoras e trabalhadores não vacinadas/os. A esquete da
apresentação do telejornal talvez tenha durado uns 5 minutos, ao final a após o “boa
noite”, perguntou-se a platéia o que eles achavam? Tinha um detalhe nesta platéia:
uma psicóloga já vacinada era uma pessoa que havíamos combinado previamente
que ela deveria defender a vacinação para a categoria profissional dela.
Então ela inicia com um discurso muito opressor, que dizia o seguinte:
“Mereço ser vacinada antes, é mais do que justo, pois estudei muito pra estar aqui,
assim como um médico, quem vale mais o médico ou o maqueiro”. Pronto, o debate
disparou, logo os trabalhadores de nível médio e fundamental que pelos corredores
me diziam que isso era assim mesmo, começaram a defender e fundamentar a
importância de serem incluídas/os no plano de vacinação. Uma educadora social,
disse: “estou na linha de frente igual todo mundo aqui, independente do meu
estudo”. Um dos nossos objetivos com essa proposta, e, como citado acima, era de
refletir sobre a importância da luta de classe.
Como encaminhamento após a atividade realizada tivemos como
encaminhamento a produção de uma carta coletiva feita por muitas mãos, de nível
superior, médio e fundamental reivindicando a inclusão de todas as trabalhadoras e
trabalhadores independente de sua escolaridade ou formação, que fossem todas/os
incluídos no plano de vacinação que contemplava as/os profissionais de secretaria
de assistência social do município.
Passo a Passo:
1º passo - aquecimento: é realizado o conhecimento de seu corpo, através da
sequência de exercícios que possibilitam identificar as possibilidades e limitações de
seu corpo, assim como suas possibilidades.
2º passo: realiza-se uma sequência de jogos em que cada pessoa se
expressa de maneira única através do seu corpo, abandonando outras formas de
expressão cotidiana.
3º passo - dramatização: neste momento se escolhe a cena e começa a
praticar o teatro como linguagem viva, através da ação dramatúrgica que expressa
uma cena da realidade cotidiana de opressão.
4º passo - debate: realiza-se um debate acerca da cena de opressão
vivenciada, demarcando qual a opressão daquela determinada cena e porque
aquela cena representa uma opressão.
Realização da Cena:
Deixaremos um relato de experiência de uma cena de teatro do oprimido que
realizamos na aula escolhida pelo nosso grupo, sendo uma cena sem diálogo. O
professor orientou que o grupo escolhesse uma cena que demonstrasse a relação
de opressão vivenciada pelo oprimido. A cena foi a seguinte:
Um homem bêbado estava na rua com uma garrafa de cachaça e bebendo
sua cachaça, acabou caindo em cima dele mesmo e ficou falando sozinho, como se
estivesse tendo alucinações, porém não estava apresentando riscos a ele e nem a
terceiros. No entanto, uma mulher da igreja com uma bíblia na mão passa naquela
cena e vê o homem em situação de rua e alcoolizado, onde chama a SAMU,
pedindo internação para ele.
Com a chegada da SAMU, dois profissionais seguram o homem e, de
maneira forçada, o obrigam a entrar na ambulância, levando-o para a Emergência
Psiquiátrica do Hospital mais próximo. Os profissionais do SAMU com a presença
de dois profissionais do hospital contém o homem na maca e a médica do setor da
Emergência Psiquiátrica aplica medicação injetável no homem, fazendo com que
fique sedado e durma. Logo após este momento, aparece um pastor orando este
homem, enquanto o mesmo dormia, expulsando “demônios” dele.
Ao final o grupo pode discutir sobre como essa internação compulsória e
contenção química e mecânica foram maneiras de oprimir aquele homem que
encontrava-se sob efeito de álcool.
Uma das discussões foi realizada pela própria participante, pois enquanto
encenava, lembrava das contenções mecânicas que infelizmente já presenciei, no
caso como profissional de saúde. Foi angustiante não ter força para sair da situação
e não ser ouvida! Talvez, se outros profissionais de saúde protagonizassem a cena,
poderiam repensar suas formas de atuação. Marcamos na cena, inclusive, a
opressão da instituição! Do hospital, do jaleco, dos medicamentos, da religião e da
internação compulsória.
Materiais necessários: O uso de material não se faz necessário, mas caso precise,
pode-se utilizar objetos simbólicos, que simbolizam o real, além da necessidade de
espaço para realização dos jogos para aquecimento e a realização da cena.
Referências: