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Roteiro para o Caderno de Práticas Grupais

Nome do grupo: “TÔ DE BOAL”: Ana Vitória, Camilla Marra, Letícia Ramos e
Moisés Abrão.

Nome das dinâmicas: Teatro-Fórum

Propósito: (apresentação, aquecimento, integração, reflexão, encerramento)

O Teatro Fórum é uma modalidade do Teatro do Oprimido. Há a construção


coletiva de uma peça, e uma situação da realidade marcada por relações de poder e
de opressão que se evidenciam. No fim da peça, há um debate com a plateia, os
espectadores sentem-se convocados a trocar de lugar com os atores em busca de
uma solução para a cena de opressão sinalizada. No teatro-fórum, dois
personagens ganham destaque, o oprimido (protagonista) e o opressor. O teatro do
oprimido é essencialmente político !
Nesse breve texto, explicaremos a metodologia do teatro fórum, como
aquecimento, atividade corporal e cena realizada necessariamente em grupo. Vale
salientar que as atividades foram realizadas no curso de Práticas Grupais em Saúde
(EPSJV), nas aulas de Teatro do Oprimido e Teatro-Fórum, agradecemos! Poder
experienciar as atividades em grupo durante a formação nos faz crer numa
educação potente e libertadora!

Passo a Passo:
Constrói-se uma peça na qual se dramatiza uma situação da realidade
marcada pelas relações de poder e de opressão, com o objetivo de “ensaiar ações
concretas na vida social, produzir mudanças, transformações” (BOAL, 2009). No
primeiro momento, é realizada uma apresentação, onde os oprimidos e seus aliados
são apresentados e logo após, os opressores e seus aliados são apresentados.
Em seguida, é realizado um aquecimento coletivo, com o objetivo de tirar as
pessoas da passividade para olhar os problemas e dificuldades da comunidade.
Nesse aquecimento são realizados jogos, para mobilização dos corpos.
Com isso, se constitui a identificação grupal, encontrando problemas e
dificuldades da comunidade que serão levantados, em uma realidade marcada
pelas relações de poder e de opressão.
A partir da identificação grupal, monta-se o roteiro da peça escolhida na qual
se dramatiza uma situação da realidade, a partir da história da dificuldade da
comunidade encontrada, que será encenada. Nesse momento, monta-se os objetos
necessários para a cena, que são objetos simbólicos do real.
O início da construção da cena é criado, através da ação dramática, onde
aparece a situação-problema, em que é demonstrada a opressão vivenciada. É o
momento crítico onde há o choque entre o desejo do oprimido de se libertar da
opressão, e o opressor com o desejo de o impedir. Para Boal (1996), é o momento
em que o oprimido se debate com a opressão e apresentam-se diferentes
oportunidades.
Com isso, ocorre um debate com a plateia sobre o drama do oprimido, após a
cena, incentivando a participação e permitindo que a plateia possa trocar de lugar
com o ator-oprimido, para poder ensaiar novas formas de solucionar o problema
levantado, oportunizando uma transformação e libertar o oprimido da opressão.

Orientações para realização e perspectiva teórica:

Sugestão para aquecimento:


Utilização de movimentos corporais que visem o alongamento corporal, no
sentido de preparar e relaxar o corpo para a parte principal da atividade, em
especial na preparação para o encontro como outros corpos, portanto sugere-se
que durante o aquecimento ocorra o encontro com outras pessoas que compõem o
grupo. Numa perspectiva Spinozista, tal sugestão tem como objetivo o aumento da
potência do grupo através do encontro, neste momento este encontro pode ser
realizado através do toque (em si e no outro), do olhar e do abraço.
Além disso, é possível propor brincadeiras e jogos como forma de
aquecimento, como exemplo, citaremos a Jana Cabana.
Jana Cabana:
02 pessoas formam uma cabana, e uma pessoa ocupa a cabana. 01
participante grita para os demais: Cabana (todas as pessoas que estão como
personagens de cabana trocam de posições), um outro participante grita: Pessoa
(somente as pessoas mudam de posições e as cabanas ficam no mesmo lugar), um
outro participante grita: Tempestade (e todos os participantes, tanto na posição de
pessoas ou cabanas trocam de posições).

Realização da Cena:
Deixaremos aqui também o relato de uma experiência de teatro-fórum
produzida e vivenciada no ano de 2021 no abrigo Ernani Gomes Duarte na cidade
de Maricá-RJ em pleno auge da pandemia da covid-19 no Brasil.
No ano de 2021 assim que começaram a ser vacinados os profissionais da
Secretaria de Assistência Social no município de Maricá-RJ, apenas duas
categorias profissionais estavam sendo contempladas naquela ocasião, sendo o
Serviço Social e a Psicologia, porém este fenômeno que colocaria algumas
profissões em lugar de privilégio na hora de receber as poucas e recém chegadas
vacinas contra a covid-19, apareciam em diversas mídias das imprensa, como por
exemplo em hospitais, onde médicos eram vacinados e maqueiros não.
Neste período, eu estava lotado no abrigo para a população adulta em
situação de rua Ernani Gomes Duarte, e lá havíamos recebido o comunicado que
as/os profissionais da secretaria seriam vacinadas/os, porém apenas duas
categorias como citadas acima. Nesta época, eu fazia parte de um coletivo que
geria o serviço numa gestão compartilhada, eu era o único não psicólogo ou
assistente social, porém com nível superior, dito isto me perguntei, quando as/os
profissionais de nível médio e fundamental serão vacinadas/os, entre uma conversa
e outra pelos corredores com essas pessoas sobre esta situação, elas diziam que
era assim mesmo, não conformado pensei na realização de uma cena que
convidasse a toda equipe de trabalho a pensar nas relações profissionais de poder,
a consciência de classe, o que isso tinha haver com ser vacinada/o ou não e quais
as possíveis saídas.
A intervenção consistiu em trazer para a reunião de equipe semanal a cena
de um telejornal com uma série de matérias que trouxessem os casos Brasil afora,
onde umas profissões tinham direito a vacina e outras não, nesta cena remetemos a
construção do famoso Jornal Nacional, com direito a música de abertura e tudo
mais, dois profissionais já vacinados foram os apresentadores, na plateia
majoritariamente trabalhadoras e trabalhadores não vacinadas/os. A esquete da
apresentação do telejornal talvez tenha durado uns 5 minutos, ao final a após o “boa
noite”, perguntou-se a platéia o que eles achavam? Tinha um detalhe nesta platéia:
uma psicóloga já vacinada era uma pessoa que havíamos combinado previamente
que ela deveria defender a vacinação para a categoria profissional dela.
Então ela inicia com um discurso muito opressor, que dizia o seguinte:
“Mereço ser vacinada antes, é mais do que justo, pois estudei muito pra estar aqui,
assim como um médico, quem vale mais o médico ou o maqueiro”. Pronto, o debate
disparou, logo os trabalhadores de nível médio e fundamental que pelos corredores
me diziam que isso era assim mesmo, começaram a defender e fundamentar a
importância de serem incluídas/os no plano de vacinação. Uma educadora social,
disse: “estou na linha de frente igual todo mundo aqui, independente do meu
estudo”. Um dos nossos objetivos com essa proposta, e, como citado acima, era de
refletir sobre a importância da luta de classe.
Como encaminhamento após a atividade realizada tivemos como
encaminhamento a produção de uma carta coletiva feita por muitas mãos, de nível
superior, médio e fundamental reivindicando a inclusão de todas as trabalhadoras e
trabalhadores independente de sua escolaridade ou formação, que fossem todas/os
incluídos no plano de vacinação que contemplava as/os profissionais de secretaria
de assistência social do município.

Materiais necessários: Não necessariamente seja obrigatório a utilização de algum


material, mas caso ocorra pode-se utilizar objetos simbólicos, que são objetos que
simbolizam o real. É necessário um espaço que seja suficiente para acomodar as
pessoas envolvidas, pode ser um espaço aberto (praças, ruas…) ou fechados (salas
de aula, teatros, hospitais…)

Tempo médio de realização: Traremos o relato sobre aquilo que chamaremos de


aqui de experivivências, sendo um ocorrido durante a aula sobre a temática no
curso de atualização profissional em práticas grupais, que o tempo utilizado na
ocasião foi de aproximadamente 2 horas e 30 minutos, onde tivemos a possibilidade
de conhecer técnicas de aquecimento, alongamento, jogos, brincadeiras e a
montagem de uma possível cena, porém o tempo citado não foi possível iniciar o
teatro-fórum propriamente dito.
Nome do grupo: Ana Vitória, Camilla Marra, Letícia Ramos, Moisés Abrão.

Nome da dinâmica: Teatro do Oprimido.

Propósito: (apresentação, aquecimento, integração, reflexão, encerramento)


Uma arma para todos os oprimidos lutarem contra a opressão, pela libertação
de todos os oprimidos do mundo. É desta maneira que Augusto Boal define o teatro
do oprimido (BERGER, 2012). Ele é um conjunto de técnicas e formas de reflexão e
ação política e social, com o objetivo de potencializar a expressão dos oprimidos e
romper com a opressão, pela compreensão e intervenção da realidade. Parte-se da
compreensão de que todos são atores, mesmo que não façam teatro, porque o ser
humano é ator de sua própria vida, pois escolhe o que vestir, como agir e como se
comportar. Nesse sentido, no teatro do oprimido o sujeito é protagonista e
transformador da ação dramática, podendo ter consciência de sua autonomia diante
dos fatos cotidianos, indo em direção a sua real libertação da ação.

Passo a Passo:
1º passo - aquecimento: é realizado o conhecimento de seu corpo, através da
sequência de exercícios que possibilitam identificar as possibilidades e limitações de
seu corpo, assim como suas possibilidades.
2º passo: realiza-se uma sequência de jogos em que cada pessoa se
expressa de maneira única através do seu corpo, abandonando outras formas de
expressão cotidiana.
3º passo - dramatização: neste momento se escolhe a cena e começa a
praticar o teatro como linguagem viva, através da ação dramatúrgica que expressa
uma cena da realidade cotidiana de opressão.
4º passo - debate: realiza-se um debate acerca da cena de opressão
vivenciada, demarcando qual a opressão daquela determinada cena e porque
aquela cena representa uma opressão.

Orientações para realização e perspectiva teórica:

Durante o aquecimento, realizamos uma atividade chamada hipnotismo


colombiano:
O hipnotismo colombiano ocorre com dois participantes, onde um deles
coloca a mão há poucos centímetros do rosto do outro e este fica como sendo o
hipnotizado, devendo manter o rosto na mesma direção da mão do hipnotizador. O
hipnotizador inicia uma série de movimentos lentos com a mão, para o lado, para o
outro, para cima ou para baixo, fazendo com que o hipnotizado faça com o corpo
todas as movimentações necessárias para manter o rosto na mesma direção da
mão do hipnotizador.
Outra atividade de aquecimento utilizada está ligada aos papéis sociais, no
qual foram separadas diversas profissões e lugares na sociedade, que foram
escritos em um papel e o organizador da dinâmica colocou nas costas de cada um
participante, exemplo: um participante ficou com papel de empresário escrito em
suas costas, outro participante com menino de rua, outro com enfermeira, outro com
atriz e etc.
Após a colagem de todos os papéis nas costas dos participantes, eles
caminhavam pela sala e ao encontrar com alguém, lia qual o papel social que o
outro tinha e o tratava como a sociedade o trataria. Nesse sentido, quando
encontrasse uma atriz, pediria foto e ficaria animado com sua presença, já se
encontrasse um menino de rua, ficaria com medo ou ignoraria. No entanto, faria
tudo isso sem falar, apenas de forma expressiva.
Após uns 15 minutos de caminhada e encontros entre esses participantes, foi
realizada uma fila onde na ponta direita era a pessoa mais importante da sociedade
e do lado esquerdo a pessoa menos importante na sociedade. Cada participante se
colocava na fila, a partir de como foi tratado pelos outros participantes, a fim de
avaliar quais são os papéis sociais que estão no topo da sociedade e quais os que
estão de maneira inferior/marginal na sociedade.
Ao final, os participantes sabendo de seu papel social escolhiam como
poderiam se posicionar se existíssemos em uma sociedade igualitária.

Realização da Cena:
Deixaremos um relato de experiência de uma cena de teatro do oprimido que
realizamos na aula escolhida pelo nosso grupo, sendo uma cena sem diálogo. O
professor orientou que o grupo escolhesse uma cena que demonstrasse a relação
de opressão vivenciada pelo oprimido. A cena foi a seguinte:
Um homem bêbado estava na rua com uma garrafa de cachaça e bebendo
sua cachaça, acabou caindo em cima dele mesmo e ficou falando sozinho, como se
estivesse tendo alucinações, porém não estava apresentando riscos a ele e nem a
terceiros. No entanto, uma mulher da igreja com uma bíblia na mão passa naquela
cena e vê o homem em situação de rua e alcoolizado, onde chama a SAMU,
pedindo internação para ele.
Com a chegada da SAMU, dois profissionais seguram o homem e, de
maneira forçada, o obrigam a entrar na ambulância, levando-o para a Emergência
Psiquiátrica do Hospital mais próximo. Os profissionais do SAMU com a presença
de dois profissionais do hospital contém o homem na maca e a médica do setor da
Emergência Psiquiátrica aplica medicação injetável no homem, fazendo com que
fique sedado e durma. Logo após este momento, aparece um pastor orando este
homem, enquanto o mesmo dormia, expulsando “demônios” dele.
Ao final o grupo pode discutir sobre como essa internação compulsória e
contenção química e mecânica foram maneiras de oprimir aquele homem que
encontrava-se sob efeito de álcool.
Uma das discussões foi realizada pela própria participante, pois enquanto
encenava, lembrava das contenções mecânicas que infelizmente já presenciei, no
caso como profissional de saúde. Foi angustiante não ter força para sair da situação
e não ser ouvida! Talvez, se outros profissionais de saúde protagonizassem a cena,
poderiam repensar suas formas de atuação. Marcamos na cena, inclusive, a
opressão da instituição! Do hospital, do jaleco, dos medicamentos, da religião e da
internação compulsória.

Materiais necessários: O uso de material não se faz necessário, mas caso precise,
pode-se utilizar objetos simbólicos, que simbolizam o real, além da necessidade de
espaço para realização dos jogos para aquecimento e a realização da cena.

Tempo médio de realização: O relato exposto foi baseado no que chamaremos


aqui de experivivências durante a aula sobre a temática no curso de atualização
profissional em práticas grupais, no qual o tempo utilizado na ocasião foi de
aproximadamente 2 horas e 30 minutos, onde tivemos a possibilidade de conhecer
técnicas de aquecimento, alongamento, jogos, brincadeiras e a montagem de uma
cena.

Referências:

BERGER, W; FONSECA, D. P. R. O teatro do poder e o Teatro do Oprimido: formas


de resistência e intervenção social em Caieiras Velhas. Aracruz, ES (2006-2011).
2012. 183 f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Departamento de Serviço
Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de
Janeiro, 2012.

BOAL, A. Teatro legislativo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1996.

BOAL, A. A estética do oprimido. Rio de Janeiro: Garamond. 2009.

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