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DOURADOS - MS
DEZEMBRO - 2017
Aline Grassi Couto
DOURADOS - MS
2017
1
2
Deus me deu saúde, me capacitou diante das minhas diculdades, colocou pessoas
que me ajudassem nos momentos difíceis e, nas horas em que não havia mais força
alguma, simplesmente me fortaleceu. Sei que, por diversos motivos, Ele me conou
uma caminhada longa de estudos e me conou essa prossão, sempre permitindo que
eu alcançasse objetivos e evoluísse no processo. Reconheço a todo momento que só
consegui concluí-lo, por Deus. Por isso dedico esse trabalho à Ele.
Agradecimentos
Agradeço à Deus por ter me dado saúde, por ter me conado esta prossão, por ter
me capacitado e fortalecido durante a caminhada de estudos, para que eu pudesse me
aperfeiçoar.
Agradeço à minha tia e madrinha Maria Aparecida Grassi, que assumiu o papel de
mãe todas as vezes que precisei de apoio.
Agradeço ao meu pai José Francisco, aos meus irmãos Érica, Adriano e às minhas
sobrinhas Natali e Clara pelo elo de família, que me fortaleceu durante o processo.
Agradeço as amigas Sandra Ribeiro, Fabiane Alves, Maria Fernanda e Ana Lúcia por
compartilharem tantos momentos comigo e por fazerem parte das minhas lutas e con-
quistas.
Agradeço ao Professor Dr. Robert Jesús Rodríguez Reyes, pela conança, disponi-
bilidade e comprometimento com este trabalho. Pela preocupação presente em suas
falas sobre a forma de repassarmos os conceitos aos nossos alunos, reforçando em mim
os valores da prossão.
1 Introdução 9
2 Noções Preliminares 12
2.1 A denição de matriz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.2 Determinante de uma matriz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.3 Expansão em cofatores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.4 Propriedades dos determinantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3 Frações Contínuas 19
3.1 Denições e notações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.2 Frações contínuas e números racionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.3 Convergentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.4 Frações contínuas e determinantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.5 Frações contínuas e números irracionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.6 Frações contínuas e a constante π . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.6.1 Função gama . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.6.2 O teorema principal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
5 Considerações nais 61
Referências 62
1 Introdução
No ensino básico, em geral, aprendemos que uma solução, por meio da fórmula
quadrática, da equação
x2 − 2x − 1 = 0 (1.1)
√
é dada por x = 1+ 2 e, portanto, tem uma representação decimal, não repetida e
innita 2, 4142155 . . . .
É possível também resolver a equação (1.1) da seguinte maneira: Dividindo por x
em ambos os lados de (1.1), conseguimos
1
x=2+ . (1.2)
x
Se no lado direito x for novamente substituído por x = 2+ x1 , isto produzira a expressão
1
x=2+ .
1
2+
x
Continuando este processo indenidamente, obtemos
1
x=2+
1
2+
2+
..
.
9
10
das frações continuas a partir das ideias dos matemáticos italianos Rafael Bombelli
(1526 − 1573) e Pietro Cataldi (1548 − 1626). Bombelli usou esse tipo de representação
√ √
para calcular aproximadamente 13. Cataldi fez o mesmo para 18. Já o matemático
e astrónomo holandês Christian Huygens (1629 − 1695) foi o primeiro a apresentar uma
aplicação prática das frações contínuas. Ele as usou no cálculo da razão entre rodas
dentadas para a construção de um planetário mecânico.
No entanto, a teoria moderna de tais frações, como a conhecemos hoje, foi desen-
volvida, principalmente, pelas contribuições dos matemáticos Leonhard Euler (1707 −
1783), Johan Heinrich Lambert (1728 − 1777) e Joseph Louis Lagrange (1736 − 1813),
dentre outros. Por exemplo, Euler, considerado o primeiro matemático a sistematizar
e+1 e−1
a teoria, representou os números e, e em fração contínua. Também é devido a
e−1 2
ele a demonstração dos seguintes resultados:
• Todo número racional pode ser representado por uma fração contínua nita
• Todo número irracional pode ser representado por uma fração contínua innita
• Uma fração contínua periódica (tem termos que se repetem) é o zero de uma
equação quadrática
Anos mais tarde, Lagrange desenvolveu as propriedades das frações contínuas perió-
dicas. Em 1728 Lambert provou a irracionalidade de π. As ideias e os resultados
de Lambert foram baseados em frações contínuas. Ele também obteve expressões em
ex −1
frações contínuas para x , tg(x) e π .
e +1
O século XIX, segundo Brezinski [1], é provavelmente o século do auge das frações
contínuas. As pesquisas sobre o assunto cresceram e aprofundaram-se. A consideração
de certos problemas conduziu, por exemplo, a necessidade de tratar com frações contí-
nuas complexas. Neste século deram valiosas contribuições matemáticos como Jacobi,
Perron, Hermite, Gauss, Cauchy e Stieljes.
Durante o século XX, as frações contínuas apareceram em vários ramos da mate-
mática. Por exemplo, Robert em [2] examinou a relação entre a teoria do caos e as
frações contínuas. Já Niederreiter em [3], estudou sua aplicação em criptograa. Na
teoria de nós, temos o trabalho de Conway [4].
No âmbito educacional, apesar de a representação decimal ser parte do currículo
previsto para o ensino básico, a representação por frações contínuas não é abordada nos
currículos da educação básica. No entanto, as operações matemáticas envolvidas nesse
estudo, são aplicadas, e isso sugere que, por reexões e adaptações, esse estudo possa
contribuir para a educação básica de maneira geral, e também para o ensino superior.
O objetivo do presente trabalho é possibilitar ao leitor uma melhor compreensão
dos números reais, através de um aprofundamento sobre o estudo de frações e de alguns
exemplos e aplicações, estabelecendo conexões entre alguns conteúdos matemáticos.
Este trabalho será dividido em 4 capítulos, que se distribuem como segue:
O capítulo 1 refere-se à introdução.
No capítulo 2, introduzimos algumas terminologias básicas, bem como denições e
exemplos sobre matrizes e determinantes.
O capítulo 3 é o foco principal do trabalho. Apresentaremos a representação dos
números racionais e irracionais em frações contínuas. Discutiremos uma relação inte-
ressante entre frações contínuas, determinantes e a constante π.
11
ou por A = [aij ]m×n , ou simplesmente por A = [aij ], quando a ordem da matriz estiver
sub entendida.
12
Determinante de uma matriz 13
Denição 2.3. Transposta de uma matriz. Dada uma matriz A = [aij ]m×n ,
chama-se transposta de A, e denota-se por At , a matriz [bij ]n×m , onde
aij = bij
6 1
1 2 3 4
A= , B= 1 4
5 6 7 8
3 5
1 5
2 6 6 1 3
At =
3
, t
B =
7 1 4 5
4 8
a11 a12
det(A) = ,
a21 a22
então
det(A) = a11 a22 − a12 a21 . (2.1)
então,
onde, A11 , A12 e A13 são obtidas de A eliminando a primeira linha e uma das três
colunas.
Determinante de uma matriz 14
det(A) = a11 a22 a33 + a12 a23 a31 + a13 a21 a32 − a12 a21 a33 − a11 a23 a32 − a13 a22 a31
1 −1 10
A= 1 0 5
1 3 2
é dado por
det(A) = 0 − 5 + 30 − 0 − 15 + 2 = 12.
onde, os elementos a11 , a12 , a13 , . . . , a1n são da primeira linha de A e A1j , j ∈ {1, 2, . . . , n},
representa a matriz obtida eliminando, em A a primeira linha e a j-ésima coluna.
Exemplo 2.5. Para calcular o determinante da matriz
1 10 1
A= 1 5
0 ,
1 2 9
5 0 1 0 1 5
=1 − 10 +1
2 9 1 9 1 2
= −48
Expansão em cofatores 15
Então,
det(A) = a11 c11 + a12 c12 + · · · + a1n c1n .
Essa fórmula é chamada de expansão de cofator com respeito à primeira linha de
A.
10 −1 1
A= 5 0 0
2 3 9
como
−1 1 10 1 10 −1
= −5 +0 −0
3 9 2 9 2 3
= −5(−9 − 3) + 0 + 0 = 60.
3 −7 8 9 −6
0 2 −5 7 3
A=
0 0 1 5 0
.
0 0 2 4 −1
0 0 0 −2 0
Propriedades dos determinantes 16
2 −5 7 3
0 1 5 0
det(A) = 3
0 2 4 −1
0 0 −2 0
Em seguida, expande-se esse determinante 4×4 com respeito à primeira coluna, de
modo a tirar vantagem dos zeros contidos nessa coluna. Tem-se:
1 5 0
det(A) = 3(2) 2 4 −1
0 −2 0
Agora, expande-se esse determinante 3×3 com respeito à terceira linha,
1 0
det(A) = 3(2)(−1)(−2)
2 −1
Calculando-se o determinante 2 × 2, acima, obtém-se
det(A) = −12.
(ii) Se duas linhas de A forem trocadas entre si, formando a matriz B , então
det(B) = − det(A).
(ii) Se uma linha de A for multiplicada por um escalar k formando uma matriz B ,
então
det(B) = k det(A).
−3 −1 1 −3 −1 1
det(A) = −1 1 1 = 0 4 10
1 3 9 1 3 9
0 8 28
det(A) = 0 4 10
8 3 9
8 28
det(A) = = −32.
4 10
O teorema 2.2 nos permite realizar operações com linhas de uma matriz. O próximo
teorema mostra que se podem realizar operações análogas com as colunas de uma
matriz.
Portanto, por causa do teorema 2.3, cada armação do teorema 2.2 é verdadeira se
substituir a palavra linha por coluna.
1 −1 −3
A= 1 1 −1 .
1 3 1
1 −1 −3 1 0 −3
det(A) = 1 1 −1 = 1 2 −1
1 3 1 1 4 1
1 0 0
det(A) = 1 2 2
1 4 4
2 2
det(A) = =0
4 4
Propriedades dos determinantes 18
1 1 1
A = a b c ,
a3 b 3 c 3
1 1 1 1 0 0
det(A) = a b c = a b−a c−a
a3 b 3 c 3 a b − a c 3 − a3
3 3 3
b−a c−a
det(A) ==
b − a c 3 − a3
3 3
2 12x
2+ , 1+
3 x2
2+ x−2+
4 x2
3+ 6x +
4+ 10 +
.. ..
. .
Denição 3.2. Uma fração contínua simples ou regular é uma fração continua da
forma
1
a1 +
1
a2 +
a3 +
...
onde a2 , a3 , a4 . . . são números inteiros positivos e a1 um número inteiro qualquer. Os
termos a1 , a2 , a2 , . . . são chamados de quocientes parciais da fração contínua.
19
Frações contínuas e números racionais 20
1
a1 + = [a1 ; a2 , a3 , . . . ]
1
a2 +
a3 +
..
.
7 = 3 · 2 + 1.
Daí, encontramos
10 1 1 1
=1+ =1+ =1+
7 7 3·2+1 1
2+
3 3 3
Como 3 dividido po 1 da resto zero, paramos o processo e portanto
10
= [1; 2, 3].
7
Se o numerador da fração é menor do que o denominador, então a1 = 0. Vejamos
o exemplo.
3 0 3 3 1 1 1
= + =0+ =0+ =0+ =0+
7 7 7 7 7 6 1 1
+ 2+
3 3 3 3
Logo,
3
= [0; 2, 3].
7
Frações contínuas e números racionais 21
18 2 1 1
− = −4 + = −4 + = −4 +
5 5 5 1
2+
2 2
Assim, temos que
18
− = [−4; 2, 2].
5
Utilizando-se operações elementares com frações, agora temos a situação contrária,
isto é, dada uma fração contínua simples nita, procura-se obter um número racional.
Exemplo 3.4. Para determinar o numero racional associado a fração contínua simples
[1; 1, 2, 2, 3], sabe-se que
1
[1; 1, 2, 2, 3] = 1 +
1
1+
1
2+
1
2+
3
Efetuando-se as operações com frações, obtemos
1 1 1 1
1+ = 1+ =1+ =1+
1 1 1 1
1+ 1+ 1+ 1+
1 1 3 17
2+ 2+ 2+
1 7 7 7
2+
3 3
1 1 17 41
= 1+ =1+ =1+ =
7 24 24 24
1+
17 17
Portanto,
41
[1; 1, 2, 2, 3] = .
24
Dos exemplos anteriores, a pergunta natural que surge é: qualquer número racional
pode ser representado por uma fração contínua simples nita? A resposta a questão é
dada pelo seguinte teorema.
Teorema 3.1. Qualquer número racional pode ser representado por uma fração contí-
nua simples nita. Reciprocamente, qualquer fração contínua simples nita representa
um número racional.
Demonstração. Ver [8] e [9].
Convergentes 22
10 1
=1+ ,
7 1
2+
1
2+
1
10
isto é,
7
= [1; 2, 3] = [1; 2, 2, 1].
Assim, podemos enunciar o seguinte teorema.
Teorema 3.2. Qualquer número racional pode ser representado por uma fração con-
tínua simples nita de apenas duas formas: uma com um número par de termos, e a
outra, com um número ímpar. Uma com último termo igual a 1, e a outra, com esse
termo maior de que 1.
Demonstração. Ver [8] e [9].
Observe-se que o fato anterior também acontece na representação decimal dos nú-
meros reais. Por exemplo, as expressões seguintes denem o mesmo número real
3.3 Convergentes
Denição 3.3. Dada a fração contínua
[a1 ; a2 , a3 , . . . , an , an+1 , an+2 , . . . ].
O número
rn
cn =
= [a1 ; a2 , . . . , an ],
sn
obtido da fração contínua eliminando an+1 , an+2 , . . . , é chamado de n-ésimo conver-
gente ou convergente de ordem n.
Os seguintes exemplos ilustram melhor a denição de convergentes.
128 1
=3+ = [3; 2, 5, 1, 2].
37 1
2+
1
5+
1
1+
2
Convergentes 23
c1 = 3
1 7
c2 = 3 + =
2 2
1 38
c3 = 3 + =
1 11
2+
5
1 45
c4 = 3 + =
1 13
2+
1
5+
1
1 128
c5 = 3 + =
1 37
2+
1
5+
1
1+
2
Observação 3.2. Desde que a fração contínua do número
128
37
é nita, o último con-
vergente é o próprio número.
Exemplo 3.6. Para a fração contínua [2; 1, 1, 2, 2] seus convergentes estão dados por:
c1 = 2
1
c2 = 2 + =3
1
1 5
c3 = 2 + =
1 2
1+
1
1 13
c4 = 2 + =
1 5
1+
1
1+
2
1 31
c5 = 2 + =
1 12
1+
1
1+
1
2+
2
Existe uma fórmula de recorrência simples para determinar o n-ésimo convergente
sem precisar efetuar longos cálculos. Essa fórmula é dada pelo teorema a seguir.
Convergentes 24
384
= [2; 2, 4, 8, 2].
157
Uma forma prática de calcular os convergentes é usando a tabela 3.1. Nessa tabela,
os valores de n cam na primeira linha, os valores de an cam na segunda linha, os
valores de rn na terceira linha e os de sn na quarta.
n −1 0 1 2 3 4 5
an 2 2 4 8 2
rn
sn
Tabela 3.1:
n −1 0 1 2 3 4 5
an 2 2 4 8 2
rn 0 1
sn 1 0
Tabela 3.2:
r1 a1 r0 + r−1 2(1) + 0 2
c1 = = = =
s1 a1 s0 + s−1 2(0) + 1 1
e
r2 a2 r1 + r0 2(2) + 1 5
c2 = = = =
s2 a2 s 1 + s 0 2(1) + 0 2
Prosseguindo com os cálculos, chega-se a seguinte tabela
Convergentes 25
n −1 0 1 2 3 4 5
an 2 2 4 8 2
rn 0 1 2 5 22 181 384
sn 1 0 1 2 9 74 157
Tabela 3.3:
22 181 384
c3 = , c4 = , e c5 =
9 74 157
Uma observação mais atenta da tabela 3.3 revela outra propriedade interessante
dos convergentes. Por exemplo, a partir da tabela 3.3, obtemos as expressões a seguir
r0 s−1 − r−1 s0 = +1
r1 s0 − r0 s1 = −1
r2 s1 − r1 s2 = +1
r3 s2 − r2 s3 = −1
r4 s3 − r3 s4 = +1
r5 s4 − r4 s5 = −1
Em geral, as relações anteriores são válidas para qualquer tabela de convergentes
como mostra o seguinte resultado
Teorema 3.4. Se ri
si
é o i-ésimo convergente da fração contínua [a1 ; a2 . . . , an ], então
ri si−1 − ri−1 si = (−1)i (3.1)
para todo i ≥ 0.
Demonstração. A demonstração será por indução em i.
• Para i = 0,
r0 s−1 − r−1 s0 = 1(1) − 0(0) = 1 = (−1)0 .
• Para i = 1,
r1 s0 − r0 s1 = a1 (0) − 1(1) = −1 = (−1)1 .
• Para i = 2,
r2 s1 − r1 s2 = (a2 a1 + 1)1 − a2 a1 = 1 = (−1)2 .
Agora, suponhamos que o teorema seja válido para um certo i = k, isto é,
n −1 0 1 2 3 4 5
an 2 3 4 5 6
rn 0 1 2 7 30 157 972
sn 1 0 1 3 13 68 421
Tabela 3.4:
Verica-se que
2 7 30 157 972
, , , e
1 3 13 18 421
são irredutíveis. Essa é outra propriedade importante dos convergentes e é dada pelo
seguinte corolário do teorema 3.4.
Corolário 3.1. Todo convergente de uma fração contínua simples nita é um nú-
ri
si
mero racional irredutível, isto é, mdc(ri , si ) = 1.
r
= [a1 ; a2 , . . . , an ].
s
r
Sabe-se que os convergentes de estão dados pelas expressões seguintes
s
1 1
c 1 = a1 ; c 2 = a1 + ; c 3 = a1 + ;
a2 1
a2 +
a3
Frações contínuas e determinantes 27
1 1
c 4 = a1 + ; · · · cn−1 = a1 + ;
1 1
a2 + a2 +
1 a3 +
a3 + ..
a4 .
1
1
an−2 +
an−1
1
c n = a1 +
1
a2 +
a3 +
..
.
1
1
an+1 +
an
c1 = |a1 |
a1 1
a1 a2 + 1 −1 a2
c2 = =
a2 a2
O convergente c3 pode expressar-se como
a1 1 0
−1 a2 1
a1 a2 a3 + a1 + a3 0 −1 a3
c3 = =
a2 a3 + 1 a2 1
−1 a3
a1 1 0 0
−1 a2 1 0
0 −1 a3 1
a1 a2 a3 a4 + a1 a2 + a1 a4 + a3 a4 + 1 0 0 −1 a4
c4 = =
a2 a3 a4 + a2 + a4 a2 1 0
−1 a3 1
0 −1 a4
a1 1 0 · · · 0 0 a2 1 0 · · · 0 0
−1 a2 1 · · · 0 0 −1 a3 1 · · · 0 0
0 −1 a3 · · · 0 0 0 −1 a4 · · · 0 0
Nn = .. .. .. ... .. .. e Dn−1 = .. .. .. ... .. ..
. . . . . . . . . .
0 0 0 ··· an−1 1 0 0 0 ··· an−1 1
0 0 0 ··· −1 an 0 0 0 ··· −1 an
a1 1
a1 a2 + 1 −1 a2
c2 = = .
a2 |a2 |
Nn−1
cn−1 = .
Dn−2
Deseja-se mostrar que
Nn
cn = .
Dn−1
1
Para isso, da observação 3.3, tem-se que adicionando-se
an
à an−1 , obtém-se a expressão
Pn−1
cn = (3.2)
Qn−2
onde
a1 1 0 · · · 0 0
−1 a2 1 · · · 0 0
0 −1 a3 · · · 0 0
Pn−1 = .
.
.
.
.
. .. .
.
.
.
. . . . . .
0 0 0 ··· an−2 1
1
0 0 0 ··· −1 an−1 + an
e
Frações contínuas e determinantes 29
a2 1 0 · · · 0 0
−1 a3 1 · · · 0 0
0 −1 a4 · · · 0 0
Qn−2 = .
.
.
.
.
. .. .
.
.
.
. . . . . .
0 0 0 ··· an−2 1
1
0 0 0 ··· −1 an−1 + an
an Pn−1
cn = (3.3)
an Qn−2
Armamos que
an Pn−1 = Nn e an Qn−2 = Dn−1 .
De fato, pelo expansão do cofator ao longo da última linha (teorema 2.1), a expressão
an Pn−1 pode-se reescrever como:
a1 1 0 0 0 0
−1 a2 1 0 0 0
.. ..
0 −1 . . 0 0
an Pn−1 = an .. ..
0 0 . . 1 0
.. 1 1
0 0 0 . an−1 + an an
0 0 0 0 0 1
Somando-se −1 vezes a n-ésima coluna à (n − 1)-ésima coluna, obtém-se dos teoremas
2.2 e 2.3
a1 1 0 0 0 0
−1 a2 1 0 0 0
.. ..
0 −1 . . 0 0
an Pn−1 = an .. ..
0 0 . . 1 0
.. 1
0 0 0 . an−1 an
0 0 0 0 −1 1
Multiplicando-se a última coluna pelo termo an , segue do teorema 2.2 e 2.3,
a1 1 0 0 0 0
−1 a2 1 0 0 0
.. ..
0 −1 . . 0 0
an Pn−1 = .. .. = Nn
0 0 . . 1 0
..
0 0 0 . an−1 1
0 0 0 0 −1 an
De modo semelhante demonstra-se que an Qn−2 = Dn−1 . Assim, temos que
Pn−1 an Pn−1 Nn
cn = = = ,
Qn−2 an Qn−2 Dn−1
o que completa a demonstração.
Frações contínuas e determinantes 30
Exemplo 3.9. Usando determinantes, vamos neste exemplo, calcular o quarto conver-
gente da fração contínua.
205 1
=2+
74 1
1+
1
3+
1
2+
1
1+
5
Do teorema 3.5, temos que o quarto convergente é dado por
a1 1 0 0
−1 a2 1 0
0 −1 a3 1
0 0 −1 a4
c4 =
a2 1 0
−1 a3 1
0 −1 a4
Substituindo a1 = 2, a2 = 1, a3 = 3 e a4 = 2, nos determinantes, tem-se que
a1 1 0 0 2 1 0 0
−1 a2 1 0 −1 1 1 0
0 −1 a3 1 0 −1 3 1
0 0 −1 a4 0 0 −1 2
c4 = =
a2 1 0 1 1 0
−1 a3 1 −1 3 1
0 −1 a4 0 −1 2
Das propriedades dos determinantes, obtemos
1 1 0 1 −1 0
2 −1 3 1 −1 0 3 1
0 −1 2 0 −1 2 25
c4 = =
3 1 −1 1 9
−
−1 2 0 2
25
Assim, temos que o quarto convergente é dado por c4 = 9
, sem a necessidade de
calcular os convergentes precedentes.
25
Da tabela de convergentes 3.5, pode-se conferir que o resultado é c4 = 9
.
n -1 0 1 2 3 4 5 6
an 2 1 3 2 1 5
rn 0 1 2 3 11 25 36 205
sn 1 0 1 1 4 9 13 74
Tabela 3.5:
r
Para encontrar , a partir do teorema 3.5, temos que:
s
a1 1 0 0
−1 a2 1 0
0 −1 a3 1
r 0 0 −1 a4
=
s a2 1 0
−1 a3 1
0 −1 a4
a1 1 0 0 1 1 0 0
−1 a2 1 0 −1 2 1 0
0 −1 a3 1 0 −1 3 1
r 0 0 −1 a4 0 0 −1 4
= =
s a2 1 0 2 1 0
−1 a3 1 −1 3 1
0 −1 a4 0 −1 4
r 43
= .
s 30
Embora a tabela de convergentes é mais simples para calcular-se convergentes, o
objetivo aqui é ilustrar a conexão entre diferentes conceitos matemáticos.
Teorema 3.6. Qualquer fração continua simples innita representa um número irra-
cional. Reciprocamente, qualquer número irracional x pode ser representado de forma
única por uma fração contínua simples innita [a1 ; a2 , a3 , . . . ].
Demonstração. Ver [8] e [11].
1 1
x = a1 + , em que 0< < 1,
x2 x2
de onde o número
1
x2 = >1
x − a1
é irracional.
De igual forma, calcula-se a2 = bx2 c e expressamos x2 como
1 1
x 2 = a2 + , com 0< <1 e a2 ≥ 1
x3 x3
de onde, novamente o número
1
x3 = >1
x 2 − a2
é irracional.
Repetindo esse processo, conseguimos
1
x = a1 + , x2 > 1,
x2
1
x 2 = a2 + , x3 > 1, a2 ≥ 1,
x3
.
.
.
1
x n = an + , xn+1 > 1, an ≥ 1,
xn+1
.
.
.
√
Exemplo 3.11. Devido à grande utilização de
√ 2 no ensino básico, vamos expandir
o número irracional 2 na forma de uma fração contínua simples innita. Para isso,
√
temos que o maior inteiro menor que 2 = 1, 4142 . . . é a1 = 1, deste modo
√ 1 1
2 = a1 + =1+ .
x2 x2
Resolvendo a equação acima para x2 , obtemos
√
1 2+1 √
x2 = √ √ = 2 + 1.
2−1 2+1
Por conseguinte,
√ 1 1
2 = a1 + =1+ √ .
x2 2+1
√
O maior inteiro menor que x2 = 2 + 1 = 2, 4141 . . . é a2 = 2, desta forma
1 1
x 2 = a2 + =2+
x3 x3
na qual
1 1 1
x3 = = √ =√
x2 − 2 ( 2 + 1) − 2 2−1
√
1 2+1 √
= √ √ = 2+1
2−1 2+1
Como resultado, x2 = x3 . Por tanto, daqui para frente o processo se repete, isto é,
x4 = x3 , x5 = x4 ,. . .
Por m, depois de simples substituições, obtemos
√ 1 1 1
2=1+ =1+ =1+ = [1; 2, 2, 2, . . . ] = [1; 2]
x2 1 1
2+ 2+
x3 1
2+
2+
..
.
ou
1
x−1= (3.6)
1
2+
1
2+
2+
..
.
1
x=1+ (3.7)
1
1
2+ 2+
2+
..
.
1 1
x=1+ =1+ ,
2 + (x − 1) x+1
isso se reduz a equação
(x − 1)(x + 1) = 1, ou x2 = 2.
Assim,
√
x = [1; 2, 2, . . . ] = 2.
Ainda em relação ao exemplo anterior, vamos comparar aproximações decimais de
√ √
2 com as aproximações obtidas via os convergentes da fração contínua [1; 2] de 2.
Para isso, considere a seguinte tabela de convergentes para [1; 2].
n -1 0 1 2 3 4 5
an 1 2 2 2 2
rn 0 1 1 3 7 17 41
sn 1 0 1 2 5 12 29
Tabela 3.6:
7 41
c1 = 1 c3 = = 1, 4 c5 = ≈ 1, 4137931
5 29
3 17
c2 = = 1, 5 c4 = = 1, 416
2 12
√
Ao comparar estes valores com a aproximação decimal de 2 ≈ 1, 4142 (até quatro
casas decimais), verica-se que à medida que a ordem do convergente aumenta, o seu
√
valor se torna mais próximo de 2 ≈ 1, 4142.
Lembre-se que no caso de um número racional, o último convergente é o próprio
número. Já no caso de um número irracional, obtém-se valores cada vez mais próximos
dele, a medida que tomamos convergentes de ordens superiores.
Frações contínuas e números irracionais 35
√
Exemplo 3.12. Expandir
1+ 35
2
como uma fração contínua.
√
1+ 35
O maior inteiro menor que é a1 = 3, deste modo
2
√
1+ 35 1 1
= a1 + =3+ .
2 x2 x2
Resolvendo essa última equação para x2 , obtemos
√
1 2 −5 − 35
x2 = √ = √ √
1+ 35 −5 + 35 −5 − 35
2
−3
√
5+ 35
x2 =
5
Logo,
√
1+ 35 1 1
= a1 + =3+ √ .
2 x2 5+ 35
5
√
5+ 35
O maior inteiro menor que x2 = 5
é a2 = 2, por conseguinte, somos levados a
reescrever x2 como
1 1
x 2 = a2 + =2+
x3 x3
em que
1 5
x3 = √ √ =
5+ 35−5 + 35
−25
√
5 −5 − 35
= √ √
−5 + 35 −5 − 35
√
5 + 35
=
2
Assim,
√
1+ 35 1
=3+
2 1
2+ √
5 + 35
2
√
5+ 35
Novamente, o maior inteiro menor que x3 = 2
é a3 = 5, logo podemos reescrever
x3 como
1 1
x 3 = a3 + =5+
x4 x4
Resolvendo a equação acima para x4 , obtemos
1 2
x4 = √ = √
5+ 35 −5 + 35
2
−5
ou equivalentemente
√ √
2 −5 − 35 5 + 35
x4 = √ √ =
−5 + 35 −5 − 35 5
Frações contínuas e números irracionais 36
√
5+ 35
Mas a expressão já foi desenvolvida anteriormente, de modo que o processo
5
se repete.
Finalmente, e depois de fazer substituições, a expansão em fração contínua é dada
como segue
√
1+ 35 1
=3+ = [3; 2, 5, 2, 5, . . . ] = [3; 2, 5]
2 1
2+
1
5+
1
2+
5+
..
.
1
x=3+
1
2+
1
5+
1
2+
5+
..
.
1
x+2=5+
1
2+
1
5+
1
2+
5+
..
.
1
x+2=5+
1
2+
x+2
Segue então daí que
2x2 − 2x − 17 = 0
√
1+ 35
cuja raiz positiva é .
2
Portanto √
1+ 35
= [3; 2, 5]
2
√
1+ 35
Vamos, agora, comparar as aproximações decimais de com as aproximações
√2
1+ 35
obtidas via os convergentes da fração contínua [3; 2, 5] de
2
. Para isso, considere a
tabela de convergentes para a fração contínua [3; 2, 5]:
Frações contínuas e a constante π 37
n -1 0 1 2 3 4
an 3 2 5 2
rn 0 1 3 7 38 83
sn 1 0 1 2 11 24
Tabela 3.7:
38
c1 = 3 c3 = = 3, 45
11
7 83
c2 = = 3, 5 c4 = = 3, 4583
2 24
√
1+ 35
Ao comparar estes valores com a aproximação decimal de
2
≈ 3, 458 (até três casas
decimais), verica-se que
√
1+ 35
≈ c4 = 3, 4583.
2
12 4
(1) 1+ 2
=
3 π
2+
52
2+
2+
..
.
12
(2) 3+ =π
32
6+
52
6+
6+
..
.
Frações contínuas e a constante π 38
12 16
(3) 5+ =
32 π
10 +
52
10 +
10 +
..
.
12 9
(4) 7+ 2
= π
3 4
14 +
52
14 +
14 +
..
.
12 256
(5) 9+ 2
=
3 9π
18 +
52
18 +
18 +
..
.
12 225
(6) 11 + 2
= π
3 64
22 +
52
22 +
22 +
..
.
12 1024
(7) 13 + 2
=
3 25π
26 +
52
26 +
26 +
..
.
12 11025
(8) 15 + 2
= π
3 2304
30 +
52
30 +
30 +
..
.
.
.
.
Frações contínuas e a constante π 39
Olhando-se para a lista de frações contínuas acima, nota-se sua simplicidade e sua
facilidade para descrever-las e decorá-las. A seguir, apresenta-se os detalhes da de-
monstração dessas expressões seguindo a ideia proposta em [14]. Para isso, precisamos
conhecer algumas propriedades da função gama.
Teorema 3.7.
Γ(1) = 1.
Demonstração. Pela denição da função gama, temos que
Z +∞
Γ(1) = e−t t1−1 dt
0
Z +∞
= e−t dt
0
∞
= lim (−e−b )
b→∞ 0
= 1
Teorema 3.8.
Γ(x + 1) = xΓ(x), x>0
Demonstração. Da denição de função gama,
Z +∞ Z +∞
−t (x+1)−1
Γ(x + 1) = e t dt = e−t tx dt
0 0
+∞
Z +∞
Γ(x + 1) = −tx e−t 0 + x e−t tx−1 dt
0
Γ(x + 1) = xΓ(x).
Frações contínuas e a constante π 40
Γ(x + 1) = xΓ(x)
= x(x − 1)Γ(x − 1)
Γ(x + 1) = xΓ(x)
= x(x − 1)Γ(x − 1)
= x(x − 1)(x − 2)Γ(x − 2)
Γ(x + 1) = x!
Teorema 3.10. √
1
Γ 2
= π
Demonstração. Da denição de função gama, temos
Z +∞
1
1
e−t t 2 −1 dt
Γ 2
= (3.8)
0
Z +∞
2
1
e−u du
Γ 2
=2
0
De onde
Z +∞
2
1
e−u du
Γ 2
= 2
0
√
π
= 2
2
√
= π
Frações contínuas e a constante π 41
O próximo teorema será muito útil na demonstração das frações contínuas acima
(1) − (8).
Teorema 3.11.
1
1.3.5.7 . . . (2n − 1) √
Γ n+ 2
= π, n = 1, 2, 3, . . .
2n
Demonstração. A demonstração será feita por indução sobre n. Para n = 1, segue
diretamente dos teoremas 3.8 e 3.10 que
1
√
+ 1 = 12 Γ 1 1
Γ 2 2
= 2
π
Suponha-se, agora, que o resultado é válido para um dado n = k, isto é,
1.3.5.7 . . . (2k − 1) √
1
Γ k+ 2
= π
2k
Deve-se mostrar que é válido para n = k + 1. De fato, do teorema 3.8
Γ k + 1 + 21 = k + 12 Γ k + 21
(3.9)
1
1
1.3.5.7 . . . (2k − 1) √
Γ k+1+ 2
= k+ 2
π
2k
(2k + 1) 1.3.5.7 . . . (2k − 1) √
= π
2 2k
√
1.3.5.7 . . . (2k − 1)(2k + 1) π
=
2k+1
o que estabelece, desse modo, o resultado para todo n.
O teorema seguinte, que é o resultado principal desta seção, estabelece uma relação
entre frações contínuas generalizadas e a constante π.
Teorema 3.12. As seguintes relações são válidas:
12 4
1+ =
32 π
2+
52
2+
2+
...
12
3+ =π
32
6+
52
6+
6+
...
Frações contínuas e a constante π 42
12 16
5+ =
32 π
10 +
52
10 +
10 +
...
12 9
7+ 2
= π
3 4
14 +
52
14 +
14 +
...
12 256
9+ 2
=
3 9π
18 +
52
18 +
18 +
...
12 225
11 + 2
= π
3 64
22 +
52
22 +
22 +
...
12 1024
13 + 2
=
3 25π
26 +
52
26 +
26 +
...
12 11025
15 + 2
= π
3 2304
30 +
52
30 +
30 +
...
..
.
Frações contínuas e a constante π 43
12 4
1+ 2
=
3 π
2+
52
2+
2+
..
.
12
3+ =π
32
6+
52
6+
6+
..
.
12 2·2 4
5+ 2
=3· ·
3 1·3 π
10 +
52
10 +
10 +
..
.
12 1·3
7+ 2
=3· π
3 2·2
14 +
52
14 +
14 +
..
.
12 2·2 4·4 4
9+ 2
=5· · ·
3 1·3 3·5 π
18 +
52
18 +
18 +
..
.
12 1·3 3·5
11 + 2
=5· · π
3 2·2 4·4
22 +
52
22 +
22 +
..
.
Frações contínuas e a constante π 44
12
F C(x) = x +
32
2x +
52
2x +
2x +
..
.
onde x é um número ímpar. Note-se ainda que π aparece no lado direito, no deno-
minador quando x = 1, 5, 9, . . . e, no numerador quando x = 3, 7, 11, 15, . . . Assim, é
conveniente expressar a lista anterior em duas expressões. Para isso, usa-se o produto
de Wallis
12 1 4
(4n + 1) + = (2n + 1) (3.10)
32 W (n) π
2(4n + 1) +
52
2(4n + 1) +
2(4n + 1) +
..
.
e
12
(4n + 3) + = (2n + 1) W (n) π (3.11)
32
2(4n + 3) +
52
2(4n + 3) +
2(4n + 3) +
..
.
Frações contínuas e a constante π 45
x+y+3
Γ x−y+3
4Γ 4 4
12 − y 2
x+y+1
x−y+1
=x+ (3.12)
Γ 4
Γ 4
32 − y 2
2x +
52 − y 2
2x +
2x +
..
.
4Γ 4n+1+3 4n+1+3
4
Γ 4
12
= (4n + 1) +
Γ 4n+1+1 Γ 4N +1+1
4 4
32
2(4n + 1) +
52
2(4n + 1) +
2(4n + 1) +
..
.
ou " #2
Γ(n + 1) 12
4 = (4n + 1) +
Γ n + 12
32
2(4n + 1) +
52
2(4n + 1) +
2(4n + 1) +
..
.
4(n!)2 12
i2 = (4n + 1) +
1.3.5.7 ... (2n−1) √ 32
h
2n
π 2(4n + 1) +
52
2(4n + 1) +
2(4n + 1) +
..
.
Arma-se que
4(n!)2 1 4
√ i2 = (2n + 1)
W (n) π
h
1.3.5.7 ... (2n−1) π
2n
De fato,
Frações contínuas e a constante π 46
1 4 1 4
= 1.3.3.5.5.7...(2n−1)(2n−1) π
= 1.3.3.5.5.7...(2n−1)(2n−1) π
n
[2 n!] 2 n 2
[2 .1.2.3.4.5...n]
1 4 1 4
= 1.3.3.5.5.7...(2n−1)(2n−1)
= (2n + 1) 1.3.3.5.5.7...(2n−1)(2n−1)(2n+1)
π π
[2.1.2.2.2.3.2.4.2.5...2n]2 2
[2.4.6.8...2n]
1 4
= (2n + 1) 1.3 (2n−1)(2n+1)
3.5 5.7
... π
2.2 4.4 6.6 2n2n
1 4
= (2n + 1)
W (n) π
4n+3+3
Γ 4n+3+3
4Γ 4 4
1
4n+3+1 4N +3+1
= (4n + 3) +
Γ 4
Γ 4
32
2(4n + 3) +
52
2(4n + 3) +
2(4n + 3) +
..
.
ou
4Γ n + 32 Γ n + 32
1
= (4n + 3) +
Γ(n + 1)Γ(n + 1) 32
2(4n + 3) +
52
2(4n + 3) +
2(4n + 3) +
..
.
2
4 Γ n + 12 + 1
1
= (4n + 3) +
[Γ(n + 1)]2 32
2(4n + 3) +
52
2(4n + 3) +
2(4n + 3) +
..
.
Frações contínuas e a constante π 47
h
1
1.3.5.7 ... (2n−1) √ i2
4 n+ 2 2n
π 1
= (4n + 3) +
(n!)2 32
2(4n + 3) +
52
2(4n + 3) +
2(4n + 3) +
..
.
Arma-se que
h
1
1.3.5.7 ... (2n−1) i2
4π n+ 2 2n
= (2n + 1)W (n)π
(n!)2
De fato,
h
1
1.3.5.7...(2n−1) i2
4π n+ 2n+1 2 1.3.3.5.5.7...(2n−1)(2n−1)
2 2n 4π 2 22n
=
(n!)2 (n!) 2
11x + 7y = 58 (4.1)
Denição 4.1. Uma equação diofantina linear em duas variáveis é uma expressão da
forma
ax + by = c, (4.2)
48
Equações diofantinas lineares 49
a1 x + b 1 y = c 1 ,
onde
a b c
a1 = , b1 = , e c1 = .
d d d
Portanto, podemos nos restringir à equações do tipo
ax + by = c, com mdc(a, b) = 1,
x = x0 + tb, y = y0 − ta; t ∈ Z.
ax + by = c, com mdc(a, b) = 1,
a b
Pelo teorema 3.1, o número racional (ou ) pode-se expressar como uma fração
b a
contínua simples e nita
a
= [a1 , a1 , . . . , an ].
b
rn−1 r
Os dois últimos convergentes e n satisfazem a relação (teorema 3.4)
sn−1 sn
Entretanto,
rn a
= . (4.4)
sn b
Substituindo (4.4) em (4.3), obtém-se
Se n é par, então
asn−1 + b(−rn−1 ) = 1 (4.6)
a(csn−1 ) + b(−crn−1 ) = c,
mostrando que
x0 = csn−1 e y0 = −crn−1
é uma solução particular de ax + by = c .
31 1
=2+ ,
11 1
1+
1
4+
2
31 r4
isto é,
11
= [2; 1, 4, 2] = s4
. Desde que n = 4, segue-se do teorema 3.4, que
31s3 − 11r3 = 1.
r3
Precisamos calcular o convergente . Para isso, sabe-se que
s3
a1 1 0 2 1 0
−1 a2 1 −1 1 1
r3 0 −1 a3 0 −1 4
= = ,
s3 a2 1 1 1
−1 a3 −1 4
r3 r
de onde, obtém-se
s3
= 14
5
. Outra forma possível de calcular o convergente 3 é
s3
elaborando a tabela de convergentes
Equações diofantinas lineares 51
n −1 0 1 2 3 4
an 2 1 4 2
rn 0 1 2 3 14 31
sn 1 0 1 1 5 11
Tabela 4.1:
r3
Observa-se da tabela 4.1 que = 14
5
. Logo, x0 = s3 = 5 e y0 = −r3 = −14
s3
é uma
solução particular de 31s3 − 11r3 = 1. Multiplicando-se esta última expressão por 2,
consegue-se
31(10) + 11(−28) = 2,
mostrando que x0 = 10 e y0 = −28 é uma solução particular de 31x + 11y = 2.
Finalmente, decorre do teorema 4.2 que a solução geral é dada por
33 1 r5
=1+ = [1; 1, 2, 1, 4] =
19 1 s5
1+
1
2+
1
1+
4
Desde que n = 5, segue-se do teorema 3.4, que
ou equivalentemente
33(−s4 ) + 19(r4 ) = 1.
r4
Calculando o convergente :
s4
• Usando determinantes
a1 1 0 0 1 1 0 0
−1 a2 1 0 −1 1 1 0
0 −1 a3 1 0 −1 2 1
r4 0 0 −1 a4 0 0 −1 1 7
= = =
s4 a2 1 0 1 1 0 4
−1 a3 1 −1 2 1
0 −1 a4 0 −1 1
r4 7
• Usando tabela de convergentes vemos que
s4
= 4
Equações diofantinas lineares 52
n −1 0 1 2 3 4 5
an 1 1 2 1 4
rn 0 1 1 2 5 7 33
sn 1 0 1 1 3 4 19
Tabela 4.2:
31 1 r3
=1+ = [1; 2, 10] =
21 1 s3
2+
10
Desde que n = 3, segue-se do teorema 3.4, que
a1 1 1 1
r2 −1 a2 −1 2 3
= = =
s2 a2 2 2
Logo, C0 = −s2 = −2 e G0 = r2 = 3 é uma solução particular de 31(−s2 ) + 21r2 = 1.
Multiplicando-se esta última expressão por 1770, obtém-se
Consequentemente,
168, 57 < t < 171, 29.
Desse modo, as soluções são
AC 2 = AB 2 + BC 2 = 12 + 12 = 2,
ou seja,
√
AC = 2.
Da relação
√
AC 2
= ,
BC 1
segue-se que
√ AC AD + DC AD DC AD 1
2= = = + =1+ = 1 + BC (4.7)
BC BC BC BC BC AD
BC
Agora, precisamos obter uma expressão equivalente para de tal forma que nos
AD
permita transformar (4.7) em uma fração contínua . O ponto de partida para isso é
Cálculo do logaritmo com frações contínuas 54
AE = AD + DE = AD + 2BC
AB = BC
BC AB AE AD + 2BC AD + 2AB AD
= = = = =2+ (4.9)
AD AD AB AB AB AB
Voltando em (4.7), de (4.9) segue-se que
√ 1 1 1
2=1+ BC
=1+ AD
=1+ 1
AD
2 + AB 2 + AB
AD
√ 1 1 1 1
2 = 1 + BC = 1 + =1+ 1 = 1+
AD
AD
2 + AB 2 + AB 2 + 2+1AD
AD AB
√ 1
2=1+ = [1; 2, 2, 2, . . . ]
1
2+
1
2+
2+
..
.
Assim, a fração contínua simples é innita e o teorema 3.6 nos diz que o número
√
2 é irracional.
logb R = x ⇔ bx = R.
Essa equivalência nos informa que calcular logb R é o mesmo que calcular o valor de
x tal que bx = R. Assim, estabelecemos a seguir o método geral para encontrar x na
x
equação b = R.
Inicialmente, deve-se procurar um inteiro n tal que
1
x=n+ , onde x0 > 1.
x0
Substituindo-se este valor de x na equação bx = R temos
1
bn+ x0 = R.
Decorre da equação acima que
0 R
cx = b, onde c=
bn
Procedendo novamente nesta equação como na equação proposta bx = R, obteremos
0 0 0
que x está entre n e n + 1, logo
1
x0 = n0 + , onde x00 > 1.
x00
0
Substituindo-se este valor de x0 na equação cx = b temos
0 1
cn + x00 = b.
b
Pondo d= , decorre da equação acima que
cn0
00
dx = c.
Repetindo o processo teremos
1 1
x00 = n00 + , x000 = n000 +
x000 xiv
e assim por diante.
Dessa maneira,
1 1 1 1
x=n+ 0
, x0 = n0 + 00 , x00 = n00 + 000 , x000 = n000 + iv , . . .
x x x x
0 00 000
Agora se substituir x , x , x , . . . pelos seus respectivos valores, obteremos para o valor
de x a fração contínua
1
x=n+
1
n0 +
1
n00 +
n000 +
..
.
Os exemplos a seguir ilustram o método apresentado acima.
Cálculo do logaritmo com frações contínuas 56
2x = 6. (4.10)
1
x=2+ , onde x0 > 0.
x0
Atribuindo-se este valor de x na equação (4.10), temos
1 1
22+ x0 = 6 ⇔ 22 .2 x0 = 6
1 6
⇔ 2 x0 =
4
x0
3
⇔ 2= (4.11)
2
Desde que
1 2
3 3
= 1, 5 e = 2, 25,
2 2
então
1 x0 2
3 3 3
< < ,
2 2 2
ou seja, x0 tem um valor compreendido entre 1 e 2, logo
1
x0 = 1 + , onde x00 > 1 (4.12)
x00
Substituindo a expressão (4.12) na equação (4.11), temos
1+ 100
3 x
2=
2
ou, de modo equivalentemente
x00
3 4
= (4.13)
2 3
Como 1 2
4 4
≈ 1, 33 e ≈ 1, 78,
3 3
estamos diante a desigualdade
1 x00 2
4 4 4
< < ,
3 3 3
de onde conseguimos que x00 ∈ (1, 2), e assim
1
x00 = 1 + , com x000 > 1 (4.14)
x000
Cálculo do logaritmo com frações contínuas 57
1+ 1000
3 4 x
=
2 3
2 x000 3
9 9 9
< < ,
8 8 8
1
x000 = 2 + , com xiv > 1
xiv
Continuando dessa maneira, obtemos
1 1 1 1 1 1
x=2+ 0
, x0 = 1 + 00 , x00 = 1 + 000 , x000 = 2 + iv , xiv = 2 + v , xv = 3 + vi , . . .
x x x x x x
Agora, fazendo as substituições sucessivas de x0 , x00 , x000 , . . . pelos seus respectivos valo-
res, encontramos
1
log2 6 = x = [2; 1, 1, 2, 2, 3, . . . ] = 2 +
1
1+
1
1+
2+
..
.
n -1 0 1 2 3 4 5 6
an 2 1 1 2 2 3
rn 0 1 2 3 5 13 31 106
sn 1 0 1 1 2 5 12 41
Tabela 4.3:
5 13 31 106
c1 = 2, c2 = 3, c3 = , c4 = , c5 = , c6 =
2 5 12 41
Assim, o convergente c6 = 2, 5853658 . . . fornece uma boa aproximação de log2 6. Para
comparação, o valor exato de log2 6 é 2, 58496 . . . . Pode-se mostrar que (ver [8]) quanto
maior for o convergente, mais próximo ele estará de log2 6.
Cálculo do logaritmo com frações contínuas 58
2
Exemplo 4.6. Usando frações contínuas calcular log5 .
3
Em outras palavras isso se reduz à resolver a equação
2
5x = . (4.15)
3
Desde que 5x < 1, isso sugere que escolhamos x = −y, para algum y ∈ R e y > 0. Com
essa escolha para x, a equação (4.15) torna-se
3
5y = . (4.16)
2
Observe-se que, para y=0 e y = 1, conseguimos a desigualdade
50 < 5y < 51
1
y =0+ com y0 > 1 (4.17)
y0
Fazendo a substituição de (4.17) na equação (4.16), chegamos a expressão
y0
3
=5 (4.18)
2
3 4
3 3
= 3, 375 e = 5, 0625, então y 0 ∈ (3, 4).
2 2
Logo, y0 é escolhido como sendo
1
y0 = 3 + , com y 00 > 1. (4.19)
y 00
Inserindo (4.19) na equação (4.18) e depois de um pouco de álgebra, obtemos
y00
40 3
= (4.20)
27 2
Decorre da equação acima que y 00 ∈ (1, 2), pois
1 y00 2
40 40 40
< <
27 27 27
Portanto, y 00 pode ser escrito como
1
y 00 = 1 + , com y 000 > 1 (4.21)
y 000
Continuando dessa maneira, obtemos
1 0 1 1
y =0+ 0
, y = 3 + 00 , y 00 = 1 + 000 , . . .
y y y
Solução da equação x2 − ax − 1 = 0 59
1
y =0+
1
3+
1+
..
.
1 1
y ≈0+ = 0 + = 0, 25
3+1 4
Portanto,
2
x = −y ≈ −0, 25, ou seja ≈ −0, 25
log5
3
Para comparação, o valor exato de log5 (2/3) é −0, 251929 . . . .
ax2 + bx + c = 0 (4.22)
√
−b ± b2 − 4ac
x= (4.23)
2a
seja muito cômoda para resolver (4.22), existem outras técnicas algébricas, como por
exemplo:
• Fatoração
Nesta seção, apresentamos uma técnica alternativa que consiste em usar frações
contínuas para encontrar aproximadamente uma raiz. O procedimento será ilustrado
na equação quadrática
x2 − ax − 1 = 0 (4.24)
onde a ∈ Z e a > 0. Esta equação, em particular, será discutida por se constituir numa
aplicação simples da técnica.
1
Começamos por multiplicar a equação (4.24) pelo fator
x
, logo, isolando x, temos
1
x=a+ ,
x
Solução da equação x2 − ax − 1 = 0 60
de modo que
1 1
x=a+ =a+
1 1
a+ a+
x a+ ..
.
Assim, a raiz positiva de qualquer equação quadrática da forma (4.24) tem expansão
em fração contínua dada por
1
x=a+ = [a; a, a, a, . . . ]
1
a+
a+ ..
.
x2 − x − 1 = 0
x = [1, 1, 1, . . . ].
1 2 3 5 8 13
, , , , , ,...
1 1 2 3 5 8
√
1+ 5
aproxima-se da solução positiva
2
φ== 1, 6180339 . . . , obtida através de (4.23).
Este número (tradicionalmente representado pele letra grega φ ) é também conhecido
como número de ouro ou proporção áurea. Ele tem varias propriedades matemáticas
notáveis (ver [18]).
√
1+ 2 = [2, 2, 2, . . . ].
Os anteriores exemplos são casos especiais de um resultado geral que enuncia que as
raízes reais de equações quadráticas com coecientes inteiros têm representação em fra-
ções contínuas periódicas, do mesmo modo que os números racionais têm representação
em dízimas periódicas.
5 Considerações nais
Neste trabalho, apresentou-se uma proposta de ensino dos números reais: o estudo
de números racionais e irracionais associado ao estudo de frações contínuas. Essa
proposta de ensino pode ser aplicada para a educação básica, com exercícios adaptados
ao currículo escolar, uma vez que os cálculos utilizados em frações contínuas já estão
incluídos no currículo.
Foram apresentadas aplicações ligadas as equações diofantinas lineares, logaritmos,
√
resolução de equações quadráticas e demonstração da irracionalidade de 2. As apli-
cações apresentadas podem contribuir para estimular o aluno à aprendizagem mate-
mática, promovendo reexões sobre a importância e sua estruturação dos conteúdos.
Já as conexões entre os diversos conteúdos apresentados ampliam conceitos de ma-
neira que o aluno possa associar um conteúdo à outros. Também foi apresentada uma
relação importante entre os determinantes, frações contínuas e a constante π, que foi
conduzida para uma generalização mais aplicada ao ensino superior.
61
Referências
[1] BREZINSKI, C. History of Continued Fractions and Pade Approximants. New
York: Springer Verlag, 1980.
[2] CORLESS, R. Continued fractions and chaos. Amer. Math. Monthly, v. 99, n. 31,
p. 323334, March 1992.
[4] CONWAY, J. H. An enumeration of knots and links. In: LEECH, J. (Ed.). Com-
putational problems in Abstract Algebra. Oxford: Pergamon Press, 1967. p. 329358.
[5] ANTOM, H.; RORRES, C. Álgebra Linear com Aplicações. 10. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2012.
[6] LAY, D. C. Algebra Linear e sus Aplicações. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2013.
[7] HEFEZ, A.; FERNANDEZ, C. S. Introdução á Álgebra Linear. 1. ed. Rio de Janeiro:
Coleção PROFMAT SBM, 2012.
[14] OSLER, T. J. Lord brouncker's forgotten sequence of continued fractions for pi.
International Journal of Mathematical Education in Science and Technology, v. 41,
2010.
62
Referências 63
[15] PERRON, O. Die Lehre von den kettenbruchen, Band II. Stuttgart: Teubner,
1957.
[16] BERNDT, B. Ramanujan's Notebooks, Part II. New York: Springer-Verlag, 1989.