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EEEM ELZA DE OLIVEIRA MAIA

CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPO DO SABER SOCIOLOGIA


PROF. DANNA DIAS

DO IMPERIALISMO À GUERRA FRIA


Entre os séculos XVI e XVIII, a integração do planeta se
acelerou. Ainda assim, a influência econômica das potências europeias
estava restrita a algumas regiões da África, da Ásia e da América. Entre
o final do século XVIII e meados do século XIX, a Europa iniciou o
processo de industrialização, o que deu origem a novas estratégias de
dominação colonial, visando à exploração de matérias-primas e à
venda de mercadorias. Assim teve início a etapa do neocolonialismo.
Inglaterra, França, Bélgica e, posteriormente, Alemanha, Itália,
Estados Unidos e Japão passaram a conquistar territórios coloniais ou
exercer influência econômica indireta em regiões da África e da Ásia.
O processo de descolonização, que começou após o término
da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), intensificou a integração
econômica, cultural e social do planeta, mas até meados do século XX
ainda havia um importante fator limitador ao processo de integração
global das economias e sociedades: a polarização do planeta durante a
chamada Guerra Fria, que teve início após a Segunda Guerra Mundial.
A Guerra Fria marcou um período de disputa por hegemonia entre as duas superpotências da época: Estados
Unidos e União Soviética. A polarização resultou na criação de dois blocos de países, os capitalistas e os
comunistas. Havia barreiras políticas que impediam a constituição de amplas relações comerciais ou culturais
entre os países dos dois blocos.
GLOBALIZAÇÃO E MEIO TÉCNICO-CIENTÍFICO-INFORMACIONAL
A Guerra Fria terminou no início da década de 1990, com a reunificação da Alemanha, a extinção da
União Soviética e a derrocada do comunismo, principalmente no Leste Europeu. A partir daí, houve uma
intensificação do processo de integração do planeta, possibilitado tanto pelo fim das barreiras políticas
criadas no mundo bipolar quanto pela profunda interação entre ciência e técnica, iniciada nos anos 1970, no
período chamado técnico-científico-informacional, que vivenciamos até os dias atuais.
O desenvolvimento tecnológico criou um
mercado global. O mundo conectado em rede
possibilitou que o capitalismo se consolidasse como
um sistema hegemônico, estendendo-se sobre
territórios que adotavam o socialismo. Na ordem
globalizada contemporânea, mesmo países
comunistas, como China, Cuba e Coreia do Norte,
estão interligados por processos econômicos, sociais
e culturais do mundo globalizado. Em Cuba, por
exemplo, há práticas capitalistas, como o turismo e
a instalação de empresas multinacionais do setor
hoteleiro em território cubano. No meio técnico-
científico-informacional, pode-se dizer que o mundo
Pastor de ovelhas fala ao celular, carregado por meio
“encolheu”. Podemos conhecer lugares distantes por de painéis solares transportados por burros, em
meio do computador, do tablet, do celular ou da Sanliurfa (Turquia), 2016.
televisão.
A internet nos permite conversar com as pessoas sem levar em conta as distâncias e nos dá a
sensação de estarmos ao mesmo 1500-1840 Experiência do espaço e do tempo
tempo em todos os lugares. No
mundo globalizado, filmes, séries 1500-1840 A melhor média de velocidade das carruagens
e programas de televisão e dos barcos a vela era de 16 km/h

disseminam valores, ideias e


hábitos da cultura de diferentes 1850-1930
1850-1930 As locomotivas a vapor alcançavam em média
povos. Além disso, há intensos 100 km/h e os barcos a vapor, 57 km/h

fluxos globais de informações,


mercadorias, pessoas, serviços e anos 1950
anos 1950 Aviões a propulsão: 480-640 km/h
capitais; empresas utilizam filiais
espalhadas pelo mundo,
anos 1960
anos 1960 Jatos de passageiros: 800-1100 km/h
fragmentando as etapas de
fabricação e montagem de
mercadorias, produzindo componentes e partes de um A ilustração representa o “encolhimento” do
mesmo objeto em diferentes lugares. mundo promovido pela evolução dos transportes.

A ECONOMIA GLOBALIZADA
Na economia globalizada, uma decisão econômica tomada, por exemplo, por uma empresa multinacional
com sede na França gera consequências em diferentes localidades, distantes do país de origem. Assim, um
trabalhador de uma montadora de automóveis francesa instalada no Brasil pode perder o emprego caso a
matriz dessa empresa tenha decidido fechar a filial brasileira e instalá-la em outro país ou substituir a mão
de obra da linha de montagem por robôs.
Com a informatização e a evolução dos meios de transportes e comunicação, as empresas multinacionais
estão fragmentando as etapas de produção entre suas
filiais espalhadas pelo mundo ou firmando acordos de
parceria com outras indústrias, com o objetivo de
minimizar custos, aumentar a produtividade e,
consequente- mente, obter lucros maiores.
Assim, no caso da montadora francesa, a empresa tem sua
administração central na França e pode ter seu
departamento de marketing instalado nos Estados Unidos,
projetar o veículo no Japão, montá-lo no Brasil, com peças
fabricadas no México ou em qualquer outro país que lhe
ofereça vantagens comparativas (mão de obra, matéria-
prima, energia, transportes, menores impostos etc.).
Nessa organização da economia global, as empresas
multinacionais também vêm sendo chamadas de
transnacionais, pois operam no espaço geográfico
■ A economia globalizada faz com que a extrema pobreza mundial como se não existissem fronteiras entre os
afete também países ricos, como os Estados Unidos, em países. Cada vez mais, as empresas são empresas-redes,
decorrência do desemprego causado pela transferência de
empresas para países mais pobres, entre outros fatores.
nas quais a interação no nível mundial de concepção,
Em 2018, só no estado da Califórnia havia mais de 130 mil fabricação e distribuição dos produtos se encontra
pessoas sem moradia. Na foto, acampamento de sem-teto subordinada às suas sedes.
montado ao longo do rio Santa Ana, em Anaheim, Califórnia
(Estados Unidos), 2018. FLUXOS FINANCEIROS
A produção de objetos é o aspecto mais visível
da economia global. Cabe destacar, porém, que os fluxos de capitais financeiros são o que melhor
caracterizam o processo de globalização, já que circulam 24 horas por dia, em tempo real e sob a forma de
uma vasta rede de computa- dores conectados à internet, favorecendo a troca de capitais financeiros entre
diferentes centros. O dinheiro tornou-se virtual, números nas telas dos computadores. Os mercados de
capitais são globalmente integrados e interdependentes. Bancos, seguradoras, fundos de pensão e bolsas de
valores estão interconectados. Transações financeiras com valores extrema- mente elevados são realizadas
diariamente. O capital é transportado de um país para outro em questão de segundos.
A maior parte das transações financeiras globais é realizada nos grandes centros financeiros
mundiais, concentrados principalmente nos Estados Unidos (Nova York, San Francisco, Chicago, Boston,
Washington), na Europa (Londres, Zurique, Genebra, Luxemburgo, Frankfurt), no Japão (Tóquio, Osaka) e
na China (Hong Kong, Xangai, Shenzhen), principais economias do mundo globalizado.
Em muitas das transações realizadas, principalmente nas bolsas de valores, os capitais são
especulativos (hot money), ou seja, aplicados a curto prazo, com o objetivo de gerar lucro rápido. Os
investidores não criam empresas ou novos negócios, não geram novos empregos e não compram
equipamentos e matéria-prima. Eles investem,
sobretudo, em títulos da dívida pública de governos e
em ações de empresas já existentes.
Os países emergentes são os principais
destinos dos capitais especulativos, pois oferecem, em
troca do risco, juros altos aos investidores. Como as
bolsas de valores estão interconectadas, ao menor sinal
de insegurança, como instabilidade política e/ou
econômica, os capitais são transferidos rapidamente
para outros países, em busca de investimentos mais
seguros.
A “fuga” repentina de capitais pode gerar Pedestres passam em frente a placar
graves crises financeiras no sistema financeiro global. eletrônico de uma corretora de valores que
As economias emergentes são as principais exibe cotação de ações, em Tóquio (Japão),
2019.
prejudicadas, como ocorreu com o México (1994),
países do Sudeste Asiático (1997), Rússia (1998),
Brasil (1999), Turquia e Argentina (2001), Grécia (2010), Espanha, Portugal e Irlanda (2013).
GLOBALIZAÇÃO E CULTURA
Vimos como a pizza, um produto originário de Nápoles, na Itália, se disseminou pelo mundo e
passou a fazer parte das tradições culinárias de diferentes países. Esse é um bom exemplo do efeito da
globalização da cultura no mundo
contemporâneo. A interligação do planeta
não promoveu apenas a criação de uma
economia globalizada, mas também de uma
cultura global que afeta e se relaciona com as
diferentes culturas. Além da pizza, é possível
lembrar outros exemplos culinários que se
espalharam ao redor do mundo.
O sushi, por exemplo, é um alimento
tradicional do Japão que pode ser consumido
em muitos países do mundo. O shawarma é Festival das Cores (Holi), em
um lanche típico de muitas regiões do Oriente Jaipur, no Rajastão (Índia), 2019.
Médio que se tornou muito popular na
Europa, mas também pode ser encontrado em grandes cidades brasileiras. Talvez o melhor exemplo da
influência da globalização na alimentação é a força das redes de alimentos fast food. Essas redes são
marcadas pela criação de um padrão para seus alimentos que pode ser replicado em qualquer país do mundo.
Redes muito populares podem ser encontradas em centenas de países, oferecendo sempre um menu
semelhante. Há variações regionais, como a inclusão de ingredientes típicos de uma cultura, mas, de forma
geral, os lanches produzidos em uma loja de determinada rede de fast food nos Estados Unidos serão bastante
similares aos lanches dessa mesma rede em uma cidade do Vietnã, do Iraque ou do Marrocos. Uma
característica central da globalização da cultura é o processo de homogeneização cultural.
O que dá origem a esse processo é o fato de que as trocas culturais no mundo globalizado não
ocorrem de forma igualitária. Os países economicamente dominantes disseminam seus valores, ideias,
hábitos e costumes de forma mais intensa. Culturas de países economicamente mais frágeis correm o risco
de sofrer um processo de assimilação cultural de valores, ideias, hábitos e costumes estrangeiros que
ameaçam tradições locais muito antigas. Esse processo de homogeneização não ocorre apenas no campo
alimentar; ele pode afetar o modo de vestir, as celebrações e as festas, a produção artística, as crenças e
muitos outros aspectos da cultura de um povo.
Vale destacar que atualmente a internet desempenha um papel muito importante na disseminação
da cultura globalizada. Os conteúdos produzidos nas redes sociais circulam rapidamente pelo mundo e
influenciam pessoas de diferentes regiões. As plataformas de streaming de filmes e músicas ajudam a
disseminar conteúdos globais.
A disseminação dessa cultura globalizada não significa, porém, o fim das culturas locais. As
comunidades tradicionais (indígenas, ribeirinhos, caiçaras, quilombolas, entre outros), por exemplo, também
fazem uso da internet e das tecnologias para disseminar seus valores para além de seus lugares de vivência.
Com base nessas evidências, alguns pensadores defendem que a globalização não provoca apenas a
homogeneização da cultura, mas também promove processos de heterogeneização cultural, pois jamais
houve tanto conhecimento da diversidade cultural do mundo. Essa diversidade de culturas pode contribuir
tanto para a solidariedade entre elas quanto para conflitos.
AS CRÍTICAS AO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO
O processo de globalização não beneficiou a todos igualmente. A maioria da população mundial
continua sem ter acesso às novas tecnologias e aos novos bens de consumo. Além disso, a pobreza e a
concentração de renda cresceram bastante nas últimas décadas.
Essa situação resultou na organização de movimentos que se opõem ao processo de globalização.
Conhecidos genericamente como movimentos antiglobalização, eles são formados por grupos variados que
fazem oposição ao capitalismo financeiro internacional e aos acordos de livre-comércio. Também se
manifestam contra a degradação ambiental provocada por indústrias, contra o uso do trabalho infantil e a
exploração dos trabalhadores, entre outras causas.
Um dos primeiros marcos do movimento antiglobalização ocorreu em novembro de 1999, em
Seattle, nos Estados Unidos. A cidade estava se preparando para a rodada de negociação da Organização
Mundial do Comércio (OMC), que trataria de livre-comércio em escala mundial. Cerca de 100 mil
manifestantes foram às ruas para protestar contra o encontro.
Um novo marco do movimento ocorreu em 2011, quando centenas de milhares de pessoas
acamparam em barracas nas ruas de diversas cidades do mundo para protestar contra a crise econômica
iniciada em 2007-2008 e contra a impunidade dos responsáveis.
Os grupos escolhiam, principalmente, lugares simbólicos do capitalismo para montar os
acampamentos. O fenômeno ficou conhecido pelo termo occupy, acompanhado do nome da cidade ou do
local específico onde ocorriam as manifestações.
Um dos primeiros eventos desse movimento foi o de Nova York, nos Estados Unidos, que ficou
conhecido como Occupy Wall Street (Ocupem Wall Street) por ter ocorrido nessa rua, que abriga a bolsa de
valores da cidade. Essa tática de protesto se espalhou para diversos lugares do mundo.
Nos anos seguintes, esses movimentos cresceram e se tornaram mais coesos, passando até a
participar de eleições. Na Grécia, por exemplo, a Frente da Esquerda Anticapitalista Grega (Antarsya, em
inglês) se organiza por meio de assembleias locais de militantes (municipais ou de bairro) que participam
das eleições. A Espanha também tem um forte movimento anticapitalista, e um de seus principais “braços”
é o partido Podemos.
A PRIMAVERA ÁRABE
No final de 2010, outro movimento importante de contestação da ordem global teve início. A
chamada Primavera Árabe – uma onda de protestos pró-democracia com inúmeras reivindicações,
incluindo pautas que questionam o processo de globalização – ocorreu no norte da África e no Oriente Médio.
Em alguns países, a manifestação levou à renúncia de presidentes, como ocorreu na Tunísia e no
Egito, ambos governados por ditadores. Por
causa da grande repressão governamental
contra os manifestantes, muitos movimentos
arrefeceram. Foi o que aconteceu na Argélia,
na Síria, em Omã, Bahrein e Kuwait. Nos anos
seguintes, as liberdades conquistadas em
alguns desses países sofreram retrocessos: em
2013, um golpe militar derrubou o governo
egípcio, eleito democraticamente.

Pessoas agitam bandeiras da Líbia e seguram


uma ilustração representando o então líder
líbio, Muammar Gaddafi, para comemorar a
entrada de combatentes rebeldes em Trípoli,
durante manifestação próximo ao tribunal de
Benghazi (Líbia), 2011.
ESAM AL-FETORI/REUTERS/FOTOARENA

BIBLIOGRAFIA – Texto Retirado (Adaptado):


RAMA, Maria A. G.; SERIACOPI, Gislane C. A.; CRUZ, Isabela G. ; CÂMARA, Leandro C. ; SERIACOPI,
Reinaldo. Prisma: ciências humanas : mundo em movimento : globalização, conflitos e pandemia : ensino
médio / – 1. ed. – São Paulo : FTD, 2020. p.12-23

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