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Só os espíritos xapiri estavam do meu lado naquele momento. Foram eles que
quiseram me nomear. Deram-me esse nome, Kopenawa, em razão da fúria que
havia em mim para enfrentar os brancos. [...] Disseram-me: ‘Estamos com você e
iremos protegê-lo. Por isso você passará a ter esse nome: Kopenawa!’.1
Podemos perceber, nessa mesma linha de raciocínio, como serão sempre ressaltadas, pelo
autor, ao se referir às formas de conhecimento, expressões como “palavras”, “dizeres”,
“falar”, evidenciando sempre a importância, ou ainda a centralidade, da expressão oral na
transmissão do conhecimento.
Tais elementos se tornam ainda mais marcantes na seção final do trecho, no qual, ao
se referir às formas de conhecimento dos “brancos”, em oposição às dos Yanomami,
Kopenawa expressará claramente, uma vantagem do conhecimento oral sobre o escrito:
1
Pgs. 71, 72.
fazem com as suas. Nem por isso elas irão desaparecer, pois ficam gravadas dentro
de nós.2
Ainda que brevemente, pudemos ver, ao longo do texto que, para Davi Kopenawa, a
tradição oral é de suma importância, apresentando vantagens sobre o texto escrito, que apenas
evidenciaria, para o autor, um pensamento “enredado em palavras esfumaçadas e obscuras”,
enquanto a primeira permitiria uma memória forte e viva.:
Omama não nos deu nenhum livro mostrando os desenhos das palavras de Teosi,
como os dos brancos. Fixou suas palavras dentro de nós. Mas, para que os brancos
as possam escutar, é preciso que sejam desenhadas como as suas.3
Kopenawa estabelece, com isso, que a maior, senão única utilidade do conhecimento escrito
seria de transmitir os saberes orais da única maneira passível de ser entendida para os
“brancos”.
2
Pg. 75
3
Pg. 77