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Universidade de São Paulo

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas


Departamento de História - Hist. Indígena Pré - Hispânica - Eduardo Natalino
Aluno: Pedro Renato dos Santos Rodrigues - Vespertino - Nº USP: 11770949
Texto: KOPENAWA, Davi & ALBERT, Bruce. Desenhos de escrita. In: A queda do céu.
Palavras de um xamã yanomami. p. 69-79 e 611-614.
I - Qual o papel ocupado pelo conhecimento oral em relação ao escrito, para Davi
Kopenawa?

II - Para Kopenawa, desde o princípio de seu texto, a importância do conhecimento oral


sobre qualquer outra forma, se vê premente. Já nos momentos iniciais da obra, ao narrar a
importância dos diferentes tipos de nomes e as regras que os circundam, é possível notar que,
para o autor, o que é dito, e a maneira de se dizer tem um impacto intenso na vida social dos
Yanomami. Vemos também, nesse momento, uma evidência do papel secundário que o
conhecimento escrito tem para Kopenawa, quando, em oposição a importância que os nomes
teriam em suas diferentes forma de transmissão, este narra que foi obrigado a “desenhar” um
de seus nomes pelos “brancos”, os quais necessitavam que Kopenawa o escrevesse, não
bastando apenas transmiti-lo. Para além disso, é possível entender também que, para o autor,
“seu verdadeiro nome Yanomami” é transmitido a ele oralmente:

Só os espíritos xapiri estavam do meu lado naquele momento. Foram eles que
quiseram me nomear. Deram-me esse nome, Kopenawa, em razão da fúria que
havia em mim para enfrentar os brancos. [...] Disseram-me: ‘Estamos com você e
iremos protegê-lo. Por isso você passará a ter esse nome: Kopenawa!’.1

Podemos perceber, nessa mesma linha de raciocínio, como serão sempre ressaltadas, pelo
autor, ao se referir às formas de conhecimento, expressões como “palavras”, “dizeres”,
“falar”, evidenciando sempre a importância, ou ainda a centralidade, da expressão oral na
transmissão do conhecimento.

Tais elementos se tornam ainda mais marcantes na seção final do trecho, no qual, ao
se referir às formas de conhecimento dos “brancos”, em oposição às dos Yanomami,
Kopenawa expressará claramente, uma vantagem do conhecimento oral sobre o escrito:

Os brancos se dizem inteligentes. Não o somos menos. Nossos pensamentos se


expandem em todas as direções e nossas palavras são antigas e muitas. Elas vêm de
nossos antepassados. Porém, não precisamos, como os brancos, de peles de imagens
para impedi-las de fugir da nossa mente. Não temos de desenhá-las, como eles

1
Pgs. 71, 72.
fazem com as suas. Nem por isso elas irão desaparecer, pois ficam gravadas dentro
de nós.2

Ainda que brevemente, pudemos ver, ao longo do texto que, para Davi Kopenawa, a
tradição oral é de suma importância, apresentando vantagens sobre o texto escrito, que apenas
evidenciaria, para o autor, um pensamento “enredado em palavras esfumaçadas e obscuras”,
enquanto a primeira permitiria uma memória forte e viva.:

Omama não nos deu nenhum livro mostrando os desenhos das palavras de Teosi,
como os dos brancos. Fixou suas palavras dentro de nós. Mas, para que os brancos
as possam escutar, é preciso que sejam desenhadas como as suas.3

Kopenawa estabelece, com isso, que a maior, senão única utilidade do conhecimento escrito
seria de transmitir os saberes orais da única maneira passível de ser entendida para os
“brancos”.

2
Pg. 75
3
Pg. 77

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