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A. Freixo e A. Senra - Paulo Nogueira Batista - Ação Intelectual, Projeto Nacional e Autonomia Tecnológica
A. Freixo e A. Senra - Paulo Nogueira Batista - Ação Intelectual, Projeto Nacional e Autonomia Tecnológica
Adriano de Freixo*
Alvaro de Oliveira Senra**
RESUMO
Este artigo busca analisar as ideias que fundamentaram a ação política de Paulo
Nogueira Batista (1929-1994), intelectual, diplomata e dirigente do Estado brasileiro,
relacionando-as aos debates políticos travados nos anos 60 e 70 do século passado,
principalmente àqueles decorrentes das inquietações geradas pelas relações do
Brasil com as potências hegemônicas e ao esforço de busca de um desenvolvimento
que garantisse ao país autonomia no contexto internacional. Seu pensamento foi
exposto em diversos espaços, sendo registrado e catalogado em documentação
preservada. A relação entre economia internacional, política externa e a ideia de
soberania nacional constitui o principal foco do texto aqui apresentado. O período
abordado estende-se entre os anos de 1967 e 1974, quando Paulo Nogueira Batista
produziu vários documentos abordando temáticas relacionadas à política externa
brasileira, aos problemas criados pelo protecionismo dos países desenvolvidos e
sobre a necessidade de domínio da tecnologia nuclear para a produção de energia,
considerada por ele como fundamental para a autonomia energética necessária ao
desenvolvimento nacional.
Palavras-chave: Intelectuais. Estado. Soberania Nacional. Ditadura Civil-Militar
Brasileira. Política de C&T.
ABSTRACT
This work analyzes the ideas which motivated the political action of Paulo Nogueira
Batista, intellectual, diplomat and leader of the Brazilian state, relating them to the
political debates of the 60’s and 70’s of the last century, especially those deriving
from the concerns generated by Brazil’s relations with the hegemonic powers and
the effort to search for a development that would guarantee the country’s autonomy
in the international context. His thoughts were exposed in several places and they
were recorded and cataloged in preserved documentation. The connection between
____________________
* Doutor em História Social (UFRJ) e Professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade
Federal Fluminense – INEST/UFF. Contato: < adrianofreixo@id.uff.br>.
** Doutor em Ciências Sociais (UERJ) e Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso
Suckow da Fonseca – CEFET-RJ. Contato:<alvarosenra@gmail.com>.
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international economy, foreign policy and national sovereignty idea is the focus of
this article. The period covered is between 1967 and 1974, when Paulo Nogueira
Batista produced several documents on Brazilian foreign policy, the problems
caused by the protectionism of developed countries and the need to master nuclear
technology for energy production that, according to him, was fundamental to the
energy autonomy necessary for national development.
Keywords: Intellectuals. State. National Sovereignty. Brazil’s military dictatorship.
Science and Technology policy.
RESUMEN
En este artículo se pretende analizar las ideas que motivaron la acción política de
Paulo Nogueira Batista, intelectual, diplomático y dirigente del estado brasileño,
en particular las derivadas de preocupaciones generadas por las relaciones de
Brasil con los poderes hegemónicos y la búsqueda de un esfuerzo de desarrollo que
garantice la autonomía para el país en el contexto internacional. Su pensamiento fue
expuesto en diversos espacios, siendo registrado y catalogado en documentación
preservada La relación entre la economía internacional, la política exterior y la idea
de soberanía nacional es el foco principal del texto que aquí se presenta. El período
examinado se extiende entre los años 1967 y 1974, cuando Paulo Nogueira Batista
produjo varios documentos que abordan cuestiones relacionadas con la política
exterior brasileña, los problemas creados por el proteccionismo de los países
desarrollados y la necesidad de la tecnología nuclear para la producción de energía,
considerado por él como esencial para la energía autonomía necesaria para el
desarrollo nacional.
Palabras clave: Intelectuales. Estado. Soberanía Nacional. Dictadura Civil-Militar
Brasileña. Política de Ciencia y Tecnología.
1 INTRODUÇÃO
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1 O Arquivo Paulo Nogueira Batista, aqui citado nas referências como Arquivo PNB.
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pela crescente retirada de apoio da burguesia brasileira aos militares, que antes
dispunham de sua plena solidariedade.
Segundo o economista José Luís Fiori, a opção estabelecida por Geisel
de completar todo um ciclo industrial sob a direção do Estado foi o ponto
fundamental do distanciamento entre os militares e os empresários. No ano de
1976, as apreensões do empresariado transformaram- se “em uma verdadeira
rebelião contrária à estatização.” A crise aberta entre o Estado e frações do
empresariado brasileiro, segundo o mesmo autor, foi mais profunda do que as
anteriormente vividas no decorrer do processo de estabelecimento e expansão
do Estado desenvolvimentista no Brasil, e se pôs entre as causas primordiais da
adesão da burguesia brasileira, na década de 1980, às teses neoliberais (FIORI,
1995, p. 70).
No entanto, a capacidade estatal de promoção de investimentos e o projeto
desenvolvimentista foram abalados pela conjuntura econômica internacional a
partir de meados da década de 1970. A crise energética internacional e o aumento
do endividamento externo e suas consequências para a liquidez do Estado brasileiro
fizeram-se sentir profundamente.
A economia brasileira vinha apresentando, posteriormente à década de
1930, elevadas taxas de crescimento econômico anual, notadamente no setor
industrial, com picos na segunda metade da década de 1950 e nos primeiros anos
da década de 1970. A partir dos primeiros anos da década de 1970, ela entrou em
desaceleração, culminando com uma forte recessão nos primeiros anos da década
de 1980, coincidindo com o mandato de João Figueiredo, último presidente do
período militar (1979-1985).
A crise econômica, o agravamento de tensões sociais, a reorganização do
movimento sindical e, de modo mais amplo, do conjunto da sociedade civil, assim
como o fortalecimento da oposição parlamentar e o nascimento de dissidências
entre as forças de apoio ao regime ditatorial resultaram na transição para governos
civis, em meados da década de 1980.
A passagem para o regime democrático, iniciada nos primeiros anos da década
de 1980, concluiu-se com a instalação do governo civil da Aliança Democrática, em
1985, e foi consolidada com a promulgação da Constituição democrática de 1988.
Esta transição foi coincidente com os estertores de um modelo de modernização e
com a gradual articulação de um novo consenso sobre a organização do Estado e
das relações deste com a sociedade.
Ele envolveu, para além da reordenação política e institucional do Estado,
as transformações na vida econômica e social e as consequências para o Brasil dos
movimentos de reestruturação econômica ao nível internacional, acompanhadas
por novas formulações ideológicas fortalecidas com as experiências de governos
neoliberais na Europa e na América, a partir da segunda metade da década de
1970.
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3 A política externa brasileira deve, portanto, ser revolucionária, em absoluto dissenso com o status quo
dominante nas relações econômicas internacionais contemporâneas (Tradução dos Autores),
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o status quo nuclear, seria bloqueado o acesso a uma tecnologia tão necessária
ao desenvolvimento de países que necessitavam de alternativas para sustentar o
desenvolvimento econômico e atender às necessidades de economias em expansão
e de populações em rápido crescimento.
Para Paulo Nogueira Batista, o congelamento proposto pelas Grandes
Potências afetava claramente as necessidades e os interesses brasileiros. As
intenções claramente pacíficas dos objetivos nacionais quanto ao uso da energia
nuclear não deixavam dúvidas quanto à injustiça contida nas políticas dos países
hegemônicos:
4 O Brasil demonstrou claramente sua repulsa à disseminação desse tipo de armamento quando propôs
a desnuclearização da América Latina (...). Mas o que o meu país não pode aceitar é um status de
inferioridade tecnológica no domínio dos usos pacíficos da energia nuclear (Tradução dos Autores)
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A resposta a ser dada pelo Brasil é citada logo no parágrafo seguinte, e implicaria
um grande esforço para alterar a situação do país no contexto internacional. Esse
empenho, prioridade do Estado brasileiro, teria que encontrar seus fundamentos
nos próprios recursos naturais e humanos do país:
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Tal concepção pode ser observada em trabalho posterior que Paulo Nogueira
Batista igualmente apresentou à Escola Superior de Guerra, destacando a resistência
dos países desenvolvidos em abrir seu mercado às mercadorias oriundas de outras
nações. A condição do Brasil, de potência intermediária, e a defesa de seus interesses
econômicos implicariam (mais uma vez ressalta o autor), uma assertiva política
externa: “Para assegurar a contribuição do setor externo a seu desenvolvimento e,
portanto, reduzir os seus custos sociais, nosso país terá de manter uma ativíssima
presença internacional [...]” (ARQUIVO PNB, 1973, 10.22, p. 45).
A defesa de uma “ativíssima presença internacional”, tão necessária aos
objetivos de autonomia econômica e tecnológica buscada pelo governo e ratificada
pelo autor, implicaria superar grandes obstáculos:
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
ABREU, Alzira; CASTRO A. Araújo. In. ABREU, Alzira A. et al. Dicionário histórico-
biográfico brasileiro pós-1930. v. I, Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2001.
p. 1234-1235.
FIORI, José L. Em busca do dissenso perdido. Ensaios críticos sobre a festejada crise
do Estado. Rio de Janeiro: Insight, 1995. 254 p.
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Paulo Nogueira Batista: Ação Intelectual, Projeto Nacional e Autonomia Tecnológica (1967-1974)
SILVA, Suely B. Paulo Nogueira Batista: o diplomata através de seu arquivo. Rio
de Janeiro: Centro de Pesquisa e Documentação (CPDOC); Brasília, Fundação.
Alexandre de Gusmão (FUNAG), 2006. 135 p.
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