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02 - Glória Texana
02 - Glória Texana
Lorraine Heath
TRILOGIA TEXAS 02
Capítulo 01
Maio, 1881.
Capítulo 02
Cordelia nunca tinha visto uma casa com quartos tão sombrios.
Seus passos ecoavam pelo chão de pedra enquanto eles caminhavam
até o escritório de Dallas Leigh.
Ela se perguntou se ele permitiria que ela ficasse algum tempo
neste cômodo. Ela olhava com espanto do chão até o teto e para as três
prateleiras nas paredes. As prateleiras vazias—exceto uma—todas
iguais. Ela acreditava que todos os seus livros podiam achar um lar
aqui.
Cameron a tinha convencido de trazer apenas alguns de seus
pertences caso ela decidisse não ficar. Como se ela tivesse alguma
escolha no assunto. Observando o homem que se sentava atrás da
escrivaninha de mogno grande, ela tinha o pressentimento de que
deixá-lo não seria uma opção para ela uma vez que tivesse se tornado
sua esposa.
Assim como partir não tinha sido uma opção para sua mãe.
Quando Dallas Leigh tirou o chapéu e as sombras retrocederam,
ela ficou assombrada com a perfeição de suas feições esculpidas. Ela
tentou não olhar fixamente para ele agora, mas ela parecia incapaz de
parar. Um bigode preto espesso emoldurava lábios que pareciam muito
suaves para pertencer a um homem.
Ao longo dos anos, o vento e o sol tinham talhado linhas em um
rosto que refletia orgulho e confiança. E possessão. Dallas Leigh era um
homem que não só possuía tudo o que o cercava, mas ele possuía a si
mesmo também.
Logo ele a possuiria, da mesma maneira que seu pai tinha
possuído sua mãe.
Seus irmãos tinham se sentado nos fundos do aposento como se
nenhum deles tivesse relação com o que acontecia, e ainda assim, ela
estava com a impressão de que eles estavam prontos a mudar de
opinião em um piscar de olhos.
Boyd ficou na frente da escrivaninha, Cameron e Duncan
estavam apenas um pouco atrás dele. Ela sempre tinha achado que os
irmãos eram um pouquinho intimidantes. Mas parecia aos olhos de
Dallas Leigh que eles eram apenas irritantes.
O reverendo Preston Tucker amavelmente tinha se apresentado
antes que eles entrassem no quarto. Parecendo divertido, ele estava
próximo à janela que revestia a parede restante.
Boyd retirou uma folha de jornal de dentro de sua jaqueta. "Antes
de Cordelia assinar o contrato de casamento, nós queremos sua
assinatura neste contrato que nós redigimos. Há nele as duas condições
que meu pai impôs para dar a você a permissão de se casar com sua
filha. Nós adicionamos uma terceira condição”.
Dallas ergueu uma sobrancelha, e ela lembrava a asa de um
corvo em vôo. "E essa condição, qual seria?".
"Se o destino for gentil o suficiente para fazê-la uma viúva, ela
herdará tudo o que você possuir neste dia e tudo que vocês ganharam
de hoje em diante”.
Cordelia viu a mandíbula de Dallas se apertar. Ela não podia
dizer que o culpava. A família dela tinha perdido a cabeça quando
tinha pensado que ele concordaria—
"Não é necessário nenhum papel para saber que se ela for minha
esposa, tudo o que eu tenho vai para ela após a minha morte”.
"Você não acha que aqueles dois sentados ali atrás poderão fazer
objeções?", Boyd perguntou.
"Não se eu disser para eles não fazerem”.
"Não é o suficiente”, Boyd disse. "Nós queremos por escrito e
assinado”.
"Minha palavra é boa o suficiente para o banco, boa o suficiente
para o estado, boa o suficiente para qualquer homem que já teve que
depender dela. Então é melhor que a droga da minha palavra seja o
suficiente para você”.
Cameron e Duncan lançaram olhares furtivos um para o outro.
Boyd simplesmente puxou os ombros para trás. "Bem, não é bom o
suficiente. Se você não assinar o documento, nós vamos para casa e
Cordelia vai conosco”.
Cordelia achava que seria difícil o suficiente construir um
casamento em uma base de ódio, mas começar isto não tendo nenhuma
confiança… Ela foi para frente na cadeira. "Boyd, com certeza isto não é
necessário—".
"Cale a boca, Cordelia”, Boyd rosnou.
Cordelia encolheu contra sua cadeira enquanto Dallas Leigh
colocava as mãos na escrivaninha e lentamente ficava de pé. Cameron e
Duncan deram um passo para trás, e ela pensou que se lhes fosse dada
escolha, eles alegremente deixariam o quarto. Ela também queria ir.
Os olhos marrons de Dallas escureceram e ela imaginou Satanás
parecendo com um anjo se ficasse ao lado desse homem quando estava
consumido pela ira.
"Nunca use esse tom de voz na minha presença quando estiver
falando com uma mulher e, por Deus, nunca fale com a mulher com
quem vou me casar dessa maneira”.
"Você não vai casar com ela se não assinar o papel”, Boyd disse.
Dallas estreitou os olhos até que eles pareciam a ponta afiada de
uma faca. Ela sabia que o orgulho era o que o afastava de assinar o
documento. O orgulho a impediria de se tornar sua esposa hoje.
Cordelia ouviu o som de pés minúsculos batendo no chão e o
flash de um vestido azul e cachos loiros e uma menininha entrou
correndo. Segurando com firmeza um gatinho nos braços, ela correu na
direção do homem de pé atrás da escrivaninha. A mulher que
caminhava atrás dela estava, obviamente, ignorante do ferver de ódio e
raiva que preenchia o quarto. Houston ficou de pé, mas ele parecia
hesitante em interferir.
"Ti Dalls?", A menininha disse enquanto puxava a calça comprida
de Dallas.
Cordelia lentamente ficou de pé de sua cadeira, temerosa do
bem-estar da criança, incerta do que poderia fazer para prevenir Dallas
de jogar sua fúria sobre a criança.
Então já era muito tarde.
Ele deu uma olhada rápida para baixo, e a menina apontou o
dedo na direção dele. "O gatinho me mordeu”.
A raiva sumiu nos olhos de Dallas e virou preocupação. Sua testa
se enrugou. "Ele fez isso?”.
Ela concordou com a cabeça, os cachos loiros pulando com
entusiasmo.
"Onde?".
Ela ficou na ponta dos pezinhos, esticando a mão. "Aqui”.
"Ah, Maggie”, Dallas disse enquanto alcançava o bolso. "Parece
mal”.
Maggie concordou com a cabeça, embora Cordelia não pudesse
ver nenhum sangue e a criança ainda tinha nos braços o animal que a
tinha ferido. Dallas se ajoelhou, beijou o dedo de Maggie, e envolveu o
dedo dela com o lenço, com uma bandagem quase tão grande quanto
sua mão. Ela deu uma risadinha. Ele tocou um dedo na ponta do nariz
dela. "Vá brincar agora”.
Enquanto ela saía correndo através do quarto e achava conforto
adicional nos braços de Houston, Dallas ficou de pé, pegou uma caneta,
a imergiu no tinteiro, e rabiscou o nome no documento de Boyd.
"Vamos começar logo esta porcaria”.
Cordelia desejou que Boyd tivesse sido cortês o suficiente para
não sorrir triunfantemente.
"Eu sinto muito por ter estado do lado de fora para saudar você
quando chegou”.
Cordelia virou a cabeça na direção da voz suave. A mulher que
tinha seguido a pequena menina até o quarto sorriu para ela. "Eu sou
Amelia, esposa de Houston. Eu coloquei Maggie para cochilar e acabei
adormecendo também. Espero que me perdoe”.
"Não existe nada para perdoar. Eu não esperava que você
estivesse aqui”.
"Por que não?".
Cordelia sentiu um calor surgir em seu rosto. Ela não podia
muito bem explicar por que ela não esperava que Dallas daria boas-
vindas à mulher que o tinha abandonado e nem tinha imaginado que a
mulher permaneceria amiga de um homem que tinha sido um marido
tão ruim. "Eu só… bem, este acordo aconteceu muito depressa e eu não
esperava que ninguém estivesse aqui”.
Amelia sorriu calorosamente. "Tem todos os peões do rancho e
várias pessoas da cidade, há bastante gente. Dallas gosta de fazer tudo
com pompa”.
Cordelia sentia como se um enxame de abelhas de repente tivesse
invadido seu estômago. Ela esperava uma pequena formalidade,
tranquila, mas parecia que seu futuro marido era um homem de
preferências ousadas.
Ela deu uma olhada rápida em direção a Dallas. Ele usava a
impaciência tão facilmente quanto usaria luvas.
Boyd estava explicando para o Reverendo Tucker que ele
precisava de sua assinatura para servir como testemunha. O reverendo
Tucker não parecia propenso a dar sua assinatura.
"Maldição! Assine o papel”, Dallas disse, irritação presente em
sua voz.
O reverendo Tucker contraiu a mandíbula e lentamente
movimentou a cabeça. "Se é isto o que você quer”. Ele imergiu a caneta
no tinteiro. "A vingança é minha, diz o Senhor”. Com um penetrante
olhar azul, ele encarou Boyd. "Mantenha isso em mente”.
Capítulo 03
Tinha sido um erro deixar sua esposa só, entretanto parecia ser o
dia dos erros.
Depois que o reverendo Tucker o tinha deixado, Dallas tinha
decidido levar os pertences dela para casa. Ela só tinha trazido um
pequeno baú, e não tinha levado muito tempo para Dallas levá-lo para
o quarto, mas aparentemente era tempo suficiente para perdê-la.
A escuridão estava tomando seu lugar, e as pessoas estavam
começando a se despedir. Sem sua esposa ao lado, Dallas agradeceu por
eles terem vindo e se recusou a responder as perguntas que tinha visto
refletidas em seus olhos.
Quando a última carroça levando pessoas para a cidade partiu
noite afora, a tensão dentro dele aumentou. Ele estava começando a
acreditar que sabia como era uma corda quando estava sendo feita:
esticada de forma firme e contorcida.
Ele precisava achar sua esposa, dar a ela a oportunidade de se
despedir de seus irmãos, mandá-los de volta para casa, e começar o
serviço que o levaria a atingir seu sonho final.
Ele viu Houston debruçado contra o curral e não desperdiçou
tempo para cruzar o espaço que os separava.
"Você viu minha esposa?", ele perguntou.
"Não”.
"Eu levei o baú dela para o meu quarto, e agora não consigo achá-
la”.
Virando, Houston esquadrinhou a multidão que consistia nos
peões do rancho. "Ela tem que estar aqui”.
"Eu olhei em todos os lugares. Até naquela coisa ostentosa que
ela viaja”.
"Eu sei o que você está pensando. Ninguém a roubou”.
"Mas ela poderia ter partido”.
Houston movimentou a cabeça astutamente achando que ela
provavelmente tinha. "Vamos achar Austin—".
"Houston!".
Ambos se viraram com o som da voz frenética de Amelia.
"Eu não consigo achar Maggie”, ela disse enquanto parava e
cravava os dedos no braço de Houston.
"O que você quer dizer que não a acha?" Houston perguntou,
pânico visível através da voz.
"Eu quero dizer que ela está perdida. Os homens tinham falado
que iam revezar quem ia tomar conta dela, e eles acabaram se
confundindo. Eu devia ter mantido o olho nela. Eu não deveria ter
começado a dançar—".
Houston se debruçou para frente e apertou sua boca contra a dela
para silenciá-la. "Nós a acharemos”.
"Mas e se—".
"Eu sei onde ela está”, Dallas disse.
Alívio lavou o rosto de Amelia. "Você a viu?".
"Não, mas eu sei onde ela gosta de se esconder. Se eu estiver
certo, ela está em casa com uma grande dor de barriga”.
Ele começou a caminhar em direção a casa, a tranquilidade de
Amelia tomando mais importância do que a sua própria.
"Você viu a minha esposa?", ele perguntou a Amelia enquanto
eles se aproximavam da casa.
"Não desde que você a levou para caminhar. Por quê?".
"Eu acho que ela se foi”.
Ele abriu a porta da frente.
"Com certeza não foi”, Amelia disse suavemente.
"Eu não consigo achá-la, e eu não acredito que ela esteja debaixo
da minha escrivaninha com Maggie”.
Dallas caminhou pelo corredor. Ele silenciosamente abriu a porta
do escritório e olhou para dentro. Ele não queria surpreender sua
sobrinha se ela estivesse com uma bala de limão na boca.
Ele ouviu um barulho de papel e sorriu. Ele amava muito aquela
menininha.
Com Houston e Amelia seguindo seus passos, ele andou
silenciosamente através do quarto e ficou de pé ao lado de sua
escrivaninha até que ouviu o papel crepitar novamente, um sinal de
que ela tinha terminado uma bala de limão e estava pegando outra. Ele
tinha ensinado a ela a não pôr mais de uma na boca de cada vez.
Ele foi depressa para trás da escrivaninha e ficou de cócoras.
"Peguei você!".
Um grito penetrante ricocheteou pelo quarto. Dallas olhou
fixamente para sua esposa, curvada debaixo de sua escrivaninha. Ela
gritou novamente.
Maggie gritou, as mãos minúsculas acenando freneticamente. O
gatinho gemeu e passou a pata pelo ar.
Dallas agarrou sua esposa. Recuando, gritando novamente, ela o
chutou na canela. Ele grunhiu. Maggie começou a chorar. O gato fez
uma pequena poça no chão.
Houston o empurrou para o lado, e Dallas bateu o traseiro no
chão.
"Shh. Shh. Está tudo bem”, Houston arrulhou com uma voz que
Dallas frequentemente ouvia quando ele tentava tranquilizar os
cavalos. "Está tudo bem. Ninguém está em perigo. Ninguém vai ser
machucado. Shh. Shh”.
Maggie saiu debaixo da escrivaninha e foi para os braços de
Houston. Houston a entregou para Amelia.
Com lágrimas fluindo no rosto, Maggie olhou para Dallas com
acusação nos olhos verdes "a gente tava tisti!".
Dallas se sentia um monstro enquanto ficava de pé. Houston
estava estendendo a mão para Cordelia. "Vamos, Cordelia. Está tudo
bem. Dallas não se importa de você ter chupado suas pastilhas de
limão”.
Ele viu sua esposa olhar cautelosamente por baixo da
escrivaninha. Não aliviava sua consciência ver que ela tinha chorado,
também. Ela permitiu que Houston a ajudasse a ficar de pé.
"Eu sinto muito”, ela sussurrou enquanto secava as lágrimas que
brilhavam em suas bochechas.
"Foi minha culpa”, Dallas disse. "Eu não devia ter…" Ele não
devia ter o quê? Tentado brincar com a sobrinha? Como diabos ele
poderia saber que sua esposa tinha rastejado para de—
Os passos dos três irmãos de Cordelia ecoaram no corredor como
trovões e entraram repentinamente no quarto, Cameron com uma arma
de fogo balançando no ar. "Fique longe dela, seu bastardo!", Cameron
gritou.
"Cameron—", Cordelia começou mas Dallas levantou uma mão
para silenciá-la.
Ele se moveu em torno da escrivaninha e lentamente caminhou
em direção ao irmão dela, colocando-se entre ele e os que estavam atrás
da escrivaninha, já que nem Boyd nem Duncan pareciam propensos a
tentar tomar a arma de Cameron.
"Dê-me a arma de fogo, Cameron”, Dallas disse em um tom de
voz baixo, calmo.
Ele agitou a cabeça. "Eu não vou deixar você machucar minha
irmã”.
"Eu não vou machucá-la”.
"Eu a ouvi gritar. Eu conheço o som do grito dela”.
Ele virou a arma de fogo para o lado direito, e Dallas entrou na
frente dela. "Eu a assustei”, Dallas disse. "Não acontecerá novamente”.
Cameron se virou e uma sombra verde doentia e suor brotaram
em sua testa. Dallas agarrou a arma de fogo.
"Eu não a machucarei”, ele repetiu.
"Dê-me sua palavra”, Cameron disse firme, o tremor na mão
aumentando.
"Eu dou minha palavra”, Dallas disse enquanto pegava a arma de
fogo da mão de Cameron.
Cameron se virou para frente e trouxe seu jantar de volta do
estômago. Enquanto os outros no quarto gemiam e faziam caretas,
Dallas trincou os dentes. Maravilha. Agora ele tinha vômito e urina
para limpar.
Cordelia passou por ele e apertou os dedos na testa de Cameron.
"Oh, Cameron”.
"Eu estou bem, Dee”, ele disse, enxugando a boca com a manga
da camisa e evitando o olhar de Dallas.
Dallas encarou Boyd. "McQueen, se despeça da sua irmã, junte
seus irmãos, e sumam da minha vista”.
Cordelia olhou para ele como se ele fosse uma serpente.
"Cameron não pode partir. Ele está doente”.
"Ele pode vomitar do lado de fora tão facilmente quanto ele pode
do lado de dentro”.
"Você é insensível”, ela disse.
"Eu estou bem agora, Dee”, Cameron repetiu. Ele estendeu a mão
em direção a Dallas. "Posso ter minha arma de volta?".
"Eu darei para você daqui a alguns dias quando os ânimos
tiverem esfriado”, Dallas disse. "Agora mesmo, seria melhor que você
partisse”.
Cameron moveu a cabeça e olhou para a irmã. "Noite, Dee”, ele
passou por ela.
"Você tem que partir?", ela perguntou.
"Seu marido está exigindo”, Boyd disse. "Vamos”.
Ele girou e foi para fora, os irmãos o seguindo como cachorros
com o rabo entre as pernas.
Não era exatamente como Dallas tinha planejado terminar a
noite.
Maggie andou de leve através do quarto, e colocou suas mãos
minúsculas nas coxas de Dallas, e jogou a cabeça para trás. "Nós
pegamos um monte de balas”, ela disse. "Um monte”.
Ele a ergueu nos braços. "Acabou tudo?", ele perguntou a ela,
embora ele focasse seu olhar na esposa que olhava para ele como se
achasse que ele poderia machucar a criança.
Maggie concordou com a cabeça e a deitou no ombro de Dallas.
"Agora minha barriga dói”.
"Eu não fico surpreso”. Ele olhou para o irmão. "Por que você não
pega sua filha, e eu mostrarei a minha esposa o quarto dela? Então eu
vou arrumar essa bagunça”.
Ele deu a sobrinha para Houston e segurou o braço de sua
esposa.
"Sra. Leigh”, ele disse, sabendo que sua voz soava muito dura,
mas foi incapaz de impedir. Ele tinha perdido uma esposa na noite do
casamento. Ele não pretendia perder outra.
Ela andou em direção a ele indecisamente como se ele tivesse dito
que a levaria para a forca em vez do quarto. Os dedos dela se cravaram
no antebraço dele, e, maldição, ela ainda estava trêmula.
"Por aqui”.
Cordelia o seguiu para fora do quarto, andou por todo corredor e
subiu alguns degraus. Ele caminhou até o último quarto à direita—o
quarto do canto que estava com a porta fechada.
"Esse é o nosso quarto. Eu trouxe seu baú mais cedo, portanto, ele
está esperando por você”.
Nosso quarto. Não dela, mas deles. Ela sabia que ele desejava
compartilhar o quarto com ela esta noite. "Eu sinto muito por nós
termos chupado todas as suas pastilhas de limão”, ela disse tolamente,
desejando que o sol nunca tivesse se posto, que a noite nunca tivesse
chegado.
"E deu certo?".
"Desculpe. Não entendi".
"Fez a tristeza ir embora?".
"Não completamente”.
"Eu sinto muito ouvir isto”.
"Eu sinto muito por ter gritado”.
"Eu sabia que Maggie estava embaixo da minha escrivaninha. Eu
não teria tentado surpreendê-la se eu soubesse que você estava lá
também”.
"Eu sinto muito por ter dito que você era insensível”.
Um canto de sua boca se curvou para cima. "Nós podíamos,
provavelmente, passar a noite toda aqui pedindo desculpas por coisas
que nós dissemos ou fizemos ao longo do dia. Vamos reconhecer que
nós começamos com o pé esquerdo, e vamos começar daqui”.
Ele colocou a mão sobre a maçaneta. "As duas primeiras
condições—" ela disse depressa. Ele tirou a mão da porta, endireitou o
corpo e olhou para ela. Ela lambeu os lábios.
"As duas primeiras condições que meu pai concordou foi… quais
eram?".
"Ele não disse a você?".
"Ele disse que você compartilharia sua água com ele se eu casasse
com você. Sem a água, ele perderia o gado”.
"Essa foi a primeira condição. Eu prometi puxar minha cerca para
trás na manhã depois que nós nos casássemos”.
"Essa foi idéia sua?", ela perguntou.
"Foi minha oferta”.
"E a segunda condição?".
"Quando você me der um filho, eu transferirei por escritura uma
parte das minhas terras para seu pai”.
"Isso foi idéia sua também?".
Ele hesitou. "Não”.
Cordelia sentiu como se alguém tivesse tentado arrancar seu
coração do peito.
"Não há um nome para a mulher que negocia seus favores por
dinheiro?", ela perguntou.
"Existe também um nome para uma mulher que recebe um
marido. Você é minha esposa, não minha prostituta”.
"Neste caso, Sr. Leigh, parece ser uma coisa boa. Posso ter alguns
momentos sozinha?".
Ele concordou com a cabeça e abriu a porta do quarto. "Eu verei
meu irmão e sua família e então voltarei”.
Ela deslizou para dentro do quarto, fechou a porta, e apertou as
costas contra ela.
Seu pai conhecia os medos que ela abrigava, sabia o que ela tinha
visto quando era criança. Ela ficou de pé no corredor, apavorada,
quando ele finalmente tinha rolado sua mãe escada abaixo.
Ele tinha prometido a ela que nenhum homem a tocaria. Ele tinha
negociado sua promessa por um pedaço de terra, sabendo muito bem
que Dallas Leigh esperava de sua esposa o que o pai tinha jurado que
ela nunca teria que fazer.
Cordelia estava tremendo tanto que ela achava que nunca mais
sentiria calor. Amelia adicionou madeira no fogo, mas Cordelia ainda
parecia fria, tão fria. Amelia colocou um cobertor ao redor dos ombros
de Cordelia mas isso não a esquentava de jeito nenhum.
"Eu não posso ficar aqui”, ela sussurrou.
Amelia se ajoelhou diante dela e pegou suas mãos. "Tudo bem”.
Cordelia agitou a cabeça. "Meu irmão Duncan me disse que você
tinha se casado com Dallas e que ele tinha sido tão cruel com você que
você partiu depois de uma semana”.
Cordelia viu uma faísca de raiva se acender dentro das
profundezas verde dos olhos de Amelia.
"Foi isso que ele disse?".
Cordelia concordou com a cabeça. "Eu posso entender porquê
você o deixou”.
Amelia tirou a escova das mãos de Cordelia e sorriu suavemente.
"Não, eu não acho que você entende. Eu estava prometida a Dallas.
Alguns dias depois que nós estávamos casados, ele percebeu que eu
amava Houston, e que Houston me amava, então ele me deu a anulação
do casamento”.
"Eu queria que ele me desse também”.
Amelia começou a escovar o cabelo dela. "Eu nunca esquecerei o
que ele disse para mim naquela noite… quando me deixou partir”.
Cordelia não queria saber qualquer coisa sobre o homem com o
qual tinha se casado, e estava certa de que não precisava saber. Ele
tinha um temperamento pior do que qualquer um que ela já tinha visto,
como uma bomba prestes a explodir.
Ainda assim ela se lembrava desse dia mais cedo quando ele
tinha parado sua explosão quando sua sobrinha tinha puxado sua calça
comprida. As pastilhas de limão. Sua repugnância pelo modo como
Boyd tinha falado com ela durante a formalidade. Contra sua vontade
ela se ouviu perguntar, "O que ele disse?".
"Eu não preciso de amor, Amelia, mas eu acho que você precisa, e
se você o encontrar com um homem que tem o sonho de criar cavalos,
saiba que você tem a minha bênção", Amelia ficou de pé do lado de
Cordelia e deu a escova para ela. "Eu te contarei um pequeno segredo.
Dallas precisa de amor—mais do que qualquer um de nós. Eu sei que o
seu casamento não começou da melhor forma, mas eu acho que se você
der uma chance a ele, ele adorará o chão que você pisa”.
Capítulo 05
"O que, em nome de Deus, você achou que estava fazendo esta
manhã?".
Dallas deu uma olhada rápida na saliva que tinha caído em sua
escrivaninha e encontrou o olhar ígneo de Angus McQueen.
"Recuando minha cerca”.
"Com minha filha em um cavalo, em uma subida onde ela
facilmente poderia ter caído e morrido. Eu disse a você que ela era
delicada”.
"Sua filha monta em um cavalo bem, McQueen. O cavalo é dócil
o suficiente para que minha sobrinha de três anos de idade consiga
montar. Sua filha estava segura”.
"Isso é o que você diz. Você precisa protegê-la—".
"Eu a protegerei, mas eu farei isto do meu modo”.
Angus se sentou na cadeira. Seus filhos continuavam de pé, os
braços cruzados, embora Dallas achasse que Cameron parecia que iria
colocar sua comida para fora a qualquer momento, um pensamento que
ele não achava particularmente tranquilizante.
"Você apenas não entende”, Angus disse. "As mulheres não
podem se proteger. Você precisa manter as mulheres próximas ou elas
se prejudicarão, da mesma maneira que minha esposa querida fez”.
Dallas esfregou a testa, tentando aliviar sua enxaqueca. Ele
queria um fim para essa discussão, mas ele só conseguia aumenta-la.
"Olhe, McQueen, ela é minha esposa agora. Eu cuidarei dela”.
"Não é fácil dar sua filha para outro homem cuidar”.
"Pareceu muito fácil ontem. Você não deveria perder seu tempo
em vir visitá-la quando ontem o próprio diabo a levou como esposa e
você não estava”.
McQueen estreitou os olhos. "Eu não estava me sentindo bem—"
"Minha suposição é que você gastou a noite toda se afogando em
culpa e uma ressaca o manteve em casa”. Quando o homem começou a
se levantar de sua cadeira, Dallas levantou uma mão. "Eu não quero
ouvir nada, McQueen. Suas desculpas, suas preocupações, suas
inquietudes. Eu não dou a mínima. Se você quer visitar sua filha, certo.
Visite-a. Mas não me passe sermão pela forma como eu cuido dela.
Você desistiu desse direito quando você a negociou pela minha água.
Ela pode montar no pêlo através das planícies que eu não me importo”.
Dallas estava certo de que o homem iria ter um ataque do
coração, seu rosto ficou tão vermelho, a boca mexia mas não saía
nenhuma palavra.
Dallas ficou de pé. "Eu a deixarei saber que você está aqui”. Ele
saiu do cômodo e subiu os degraus. Austin tinha dito a ele que Cordelia
tinha ido para seu quarto depois que eles tinham terminado o café da
manhã. Ele tinha a impressão de que não tinha realizado tudo o que
tinha planejado nesta manhã. Ela ainda estava muito cautelosa com ele.
Ele bateu ligeiramente na porta. Ele ouviu passos inquietos no
outro lado. Ela abriu a porta e olhou para fora como se estivesse
esperando achar um monstro.
"Sua família está no meu escritório. Eles gostariam de ver você…
se você quiser vê-los”.
"Sim, eu gostaria de vê-los”.
"Eu preciso verificar meu rebanho. Não voltarei antes de
escurecer. Austin estará aqui se você precisar de alguma coisa”.
"Obrigada”, ela disse suavemente.
Não era exatamente o que ele queria ouvir. Seja cuidadoso. Volte
logo. Eu te esperarei acordada. Qualquer uma dessas frases o teria
agradado.
Ele bateu as luvas contra a palma da mão. Ela vacilou.
Não ligando muito para a dor no peito dele que a reação dela
causou, ele girou para partir, parou, e deu uma olhada rápida por cima
do ombro. "Você quer que eu fique enquanto você fala com eles?".
"Não. Eu prefiro vê-los sozinha”.
Ele desceu os degraus na frente dela, sabendo que não tinha
conseguido realizar nada nesta manhã.
Capítulo 06
Quando o relógio no andar de baixo bateu doze vezes, Cordelia se
levantou da cama. Dallas não tinha vindo ao quarto dela. Ela não estava
nem certo de que ele estivesse em casa.
Ela desejava ter trazido seus livros. Ela tinha acreditado que
ficaria ocupada como uma esposa. Ela achava que não teria nenhum
tempo para leitura, mas agora ela achava que não tinha nada além de
tempo.
Ela se lembrou da estante meio-cheia no escritório de Dallas. Ela
deslizou através da noite, aumentou a chama na lamparina, e saiu para
o corredor quieto.
Ela foi até os degraus, segurando a lamparina bem alto.
Cuidadosamente, passo após passo, ela desceu os degraus, caminhou
para o escritório de Dallas, e abriu a porta.
A respiração dela parou quando viu Dallas sentado atrás de sua
escrivaninha. A cabeça dele surgiu, e como uma corça que pressente o
cheiro do perigo, ela não pôde se mover. A lamparina na escrivaninha
queimava baixa, tão baixa que mais da metade do quarto ficava na
sombra. As cortinas estavam puxadas de lado e as janelas largas davam
a visão de mil estrelas que cintilavam no céu da noite.
Ele empurrou a cadeira para trás e ficou de pé.
Ela acenou com a mão. "Não. Não se levante. Eu sinto muito. Eu
não queria perturbar você. Eu não sabia que você estava aqui”.
Ele angulou a cabeça. "Você precisa de alguma coisa?".
"Eu não conseguia dormir. Eu lembrei que vi alguns livros nas
suas prateleiras. Eu pensei que poderia pegar algum”.
"À vontade”.
Ela lambeu os lábios secos. "Houston estava procurando você
esta tarde”.
"Ele me achou. A madeira dele chegou. Eu irei a casa dele no
domingo para ajudá-lo a construir um outro cômodo na casa. Você é
bem-vinda para ir também”.
Ela pensou em Maggie, Houston, e Amelia. Ela achou que
apreciaria passar o dia na companhia deles, com pessoas que não
estavam sempre bravas. "Eu gostaria”.
"Bom. Como foi a visita da sua família?".
"Foi bom. Legal”. Ela caminhou depressa para a estante. "Eu
levarei apenas um minuto”.
"Não se apresse”.
Só uma meia dúzia de livros chamava a atenção na estante. As
capas estavam gastas. Ela ergueu a lamparina para que pudesse ler o
nome do primeiro livro: Tudo sobre a Arte Doméstica(*). O livro ao lado
chamava: O Marido Prático.
Ela arrastou os dedos por sobre as lombadas deles. Pelo canto do
olho, ela viu seu marido se mover para o lado dela. "Você leu estes
livros?", ela perguntou.
"Todas as letras”, ele disse, a voz baixa, a respiração dele roçando
o pescoço dela.
"Você lê livros de como ser um marido?", ela perguntou
espantada.
Ela girou a cabeça e o encontrou a fitando. "Eu não sabia”, ela
explicou. "Eu não sabia que existia livros que falavam desse assunto.
Você acha que alguém já escreveu um livro que uma esposa como eu
poderia ler?".
Ele riu. Profundamente, com gosto. Sorrindo amplamente, ele
tocou os dedos na bochecha dela. O calor que brotou em seu corpo a
surpreendeu, e ela recuou horrorizada, a batida do coração forte, a
respiração presa na garganta.
O sorriso dele sumiu, e ele voltou para a cadeira atrás da
escrivaninha. "Sinta-se livre para ler alguns dos meus livros”.
Ela pegou O Marido Prático certa de que o conselho oferecido a
um marido se aplicaria a uma esposa. Encostando o livro contra o peito,
ela correu através do quarto e parou na porta. Ela respirou fundo antes
de examinar o ombro de seu marido. Ele a estava observando mas não
havia nenhuma alegria nos seus olhos escuros. "Você virá para a cama
logo?".
"Você me quer lá?", ele perguntou.
Ela apertou os dedos em torno do livro. Ele estava dando a ela
uma escolha real ou apenas outra ilusão? - "Eu prefiro que você não
venha”.
"Então eu não irei”. Ele imergiu sua caneta no tinteiro e começou
a rabiscar em seu Livro Razão, a descartando no processo.
"Obrigada”.
Ela andou depressa pelo corredor e subiu rápido os degraus para
seu quarto. Colocando a lamparina na mesa ao lado da cama, ela tirou a
roupa e foi para debaixo do cobertor. Ela pôs o travesseiro atrás das
costas, levantou os joelhos, e abriu o livro, antecipando todos os
segredos que ele solucionaria.
Não era a chave que ela desejava.
Com a luz solar fluindo através da janela no fim do corredor,
Dallas estava do lado de fora do quarto, sabendo que tinha o direito de
simplesmente caminhar no quarto, sabendo que era um direito que ele
não exerceria. Não ainda.
Capítulo 07
"É tão bom ouvir eles rindo, saber que eles estão se divertindo com
a companhia um dos outros”, Amelia disse.
Cordelia deu uma olhada rápida para a mulher de pé ao lado
dela, os dedos abertos por sobre o estômago, um sorriso contente no
rosto.
"Quando eu vim aqui pela primeira vez eles raramente falavam
um com o outro e nunca riam”, Amelia confidenciou baixinho.
"Por quê?", Cordelia perguntou.
"Culpas e mal-entendidos principalmente”. Como trazia
memórias dolorosas de outro tempo, Amelia lançou um suspiro longo,
lentamente andou até o fogo de onde a carne de boi estava cozinhando.
Cordelia assistia os homens começaram a levantar a armação que
serviria como estrutura para a adição da casa de Houston. Ela
rapidamente estava descobrindo que Dallas fazia tudo como uma
questão de honra.
Junto com Austin, eles tinham começado a jornada bem antes do
amanhecer e chegaram a casa de Houston ao mesmo tempo em que o
sol do amanhecer surgia no horizonte. Dallas ajudou que ela
desmontasse antes de tomar a xícara de café que Amelia tinha oferecido
a ele enquanto andava sobre a varanda.
"Você sabe o que quer?", ele perguntou a Houston enquanto o
irmão deslizava o braço ao redor de Amelia e a beijava na bochecha.
"Sim”, Houston disse, dando a Dallas um rolo de papel.
Dallas desenrolou o rolo e o segurou de forma que a luz do dia
pudesse iluminá-lo. "Parece que você quer adicionar dois quartos na
parte de trás e colocar um sótão em cima deles”.
"É isso que Amelia quer”.
"Então nós vamos fazer isto”.
E eles fizeram. Mediram, serraram, bateram os pregos nas
madeiras com o som ecoando pela pradaria.
Quando eles terminaram de fixar a armação no lugar, Dallas deu
sua primeira parada. Cordelia segurou Precious com mais firmeza
dentro dos braços enquanto via Dallas tirar o chapéu e a camisa cheia
de suor por cima da cabeça, e se agitar como um cachorro recém saído
de um rio. Ele jogou a camisa em um arbusto perto, colocou o chapéu
no lugar e voltou a trabalhar. Embora ele não tivesse lançado um olhar
para ela desde a chegada, ela não tinha tirado os olhos dele.
As costas bronzeadas dele brilhavam, os músculos se esticavam
enquanto ele colocava uma tábua no lugar. As pernas longas acabavam
rapidamente com a distância entre a pilha de madeira e a armação
recentemente erguida. Ele deitava a tábua contra a armação e abaixava,
uma mão segurando a tábua no lugar enquanto a outra procurava o
martelo pela grama. Sua calça comprida se esticou contra seu traseiro.
Ela não achava que já tinha notado o quão esguio eram seus quadris.
Ele lembrou a ela da porção superior de uma ampulheta de areia: os
ombros bem largos se afinando até chegar em sua cintura estreita—
"Eu queria que eles não tivessem feito isto”, Amelia disse com
um suspiro.
Com as bochechas vermelhas, Cordelia deu uma olhada rápida
para Amelia. "O quê?".
"Tirado as camisas. Eu estou tentando preparar jantar, e tudo que
eu quero fazer agora é assistir eles trabalharem”.
Cordelia voltou sua atenção para os homens. Ela não sabia
quando Houston e Austin tinham tirado suas camisas, mas as costas
deles não chamavam a atenção dela do mesmo modo como a de Dallas
fazia, não a faziam imaginar se sua pele era tão quente quanto parecia.
Ela viu Maggie correr na direção dos homens, os cachos loiros
saltando tanto quanto a caneca que ela carregava. A água vazava pelos
lados. Cordelia não achava que mais do que algumas gotas ainda havia
nela quando a menina parou abruptamente ao lado de Dallas e a deu
para ele.
Um sorriso morno se estendeu embaixo de seu bigode enquanto
ele pegava a caneca, esticava as costas para trás e dava um suspiro
longo, lento. Enquanto Maggie apertava as mãos juntas e arregalava os
olhos verdes, Cordelia tinha a sensação de que Dallas estava dando um
show para a sobrinha. Quando ele tirou a caneca da boca, ele colocou
um dedo na ponta do nariz e disse a ela algo que Cordelia não podia
ouvir. Maggie sorriu brilhantemente, agarrou a concha, e correu de
volta para o balde com água.
Ofegante, ela olhou para a mãe. "Ti Dalls disse que a água era a
mais doce que ele já teve o prazer de beber. Eu vou dar um pouco mais
para ele”. Ela mergulhou a caneca no balde antes de correr de volta
para seu tio, a água espirrando na saia.
"Pobre Dallas. Ela o adora. Ele não conseguirá trabalhar agora”,
Amelia disse.
"O sentimento parece ser mútuo”, Cordelia disse, desejando que
ele desse aquele sorriso para ela.
"Você está certa. Ele a estraga. Eu estremeço só de pensar como
ele vai estragar os próprios filhos”.
O calor subiu as bochechas de Cordelia com a lembrança de seus
deveres de esposa. "Eu… queria dizer obrigado pelas flores que você
colocou na minha cama no dia em que eu me casei”.
Amelia sorriu. "Eu não coloquei nenhuma flor na sua cama”.
"Oh”. Cordelia olhou de volta na direção de Dallas. Eles tinham
terminado de levantar a armação e a firmado no lugar. Os homens
começaram a colocar as tábuas no chão. Dallas estava segurando um
prego enquanto Maggie batia nele com um martelo. Após algumas
batidas gentis, Dallas tomou o martelo dela e bateu o prego no lugar.
Ela não sabia o que fazer com Dallas Leigh. Ele parecia tão duro
quanto o prego que segurava na boca sorridente, dificilmente ele seria o
tipo de homem que colheria flores…
Ter a certeza de que ele era a pessoa que tinha colocado as flores
na cama dela — deles—faria mais difícil para ela o repugnar, muito
menos odiá-lo. Ainda assim ela não gostava de pensar no ato do
casamento.
Maggie subiu na armação que eles tinham colocado no chão—a
armação que sustentaria o chão—e começou a segurar os pregos para
Austin. Embora ele não estivesse martelando como deveria, estava
fazendo sua parte no serviço. Algo que Cordelia tinha que admitir que
ela não estivesse fazendo. "Amelia, o que posso fazer para te ajudar?".
"Eu deixei várias colchas na varanda. Por que você não as coloca
em torno da árvore para que assim a gente possa sentar embaixo da
sombra?".
Cordelia colocou Precious no chão, e com ela a acompanhando,
saiu apressada da varanda, agradecida por ter uma tarefa, embora ela
não achasse que conseguiria impedir sua mente errante de pensar no
marido.
Pelo canto do olho, Dallas viu sua esposa correr em direção à frente
da casa. Ele estava tendo um trabalho dos diabos em tentar manter sua
mente focada na tarefa—construir a casa de Houston.
Ele sempre se achava pensando na esposa. Não ajudou muito o
fato de ela ter ficado a semana toda lavando a roupa dele e todas as
vezes que ele começa a suar, o cheiro dela começava a rodeá-lo. Ele
achava que ficaria louco, com a fragrância dela tão perto dele enquanto
ela ficava tão incrivelmente longe.
Ele tinha cometido um engano não exercendo seus direitos de
marido na noite de núpcias. Agora, ele não tinha nenhuma idéia de
como a abordar e deixá-la saber que sua moratória estava terminada.
Ele sabia que se batesse em sua porta, ela abriria com terror nos
olhos, e ele não conseguia suportar o simples pensamento. Ela o
lembrava do jeito que muitos soldados olhavam para ele durante a
guerra. Eles tinham seguido suas ordens e entrado na batalha, temendo
ele mais do que eles temiam os inimigos ou a morte.
Ele não acreditava em viver com remorsos, mas às vezes ele se
perguntava quantos homens tinham sido enviados para a morte por
causa de sua natureza dura.
Ele não queria que sua esposa olhasse para ele com aquele
mesmo medo em seus olhos quando eles fossem para a cama. Só que
ele não sabia como mudar isto. Pelo pouco tempo em que eles tinham
cuidado do cachorro de pradaria, o medo tinha deixado seus olhos, mas
Dallas não conseguia se imaginar trazendo para casa um cachorro de
pradaria ferido todas as noites.
Ele ficou de pé e foi buscar mais tábuas e pregos. Quando ele se
aproximou da pilha de madeira, parou longe o suficiente para admirar
as costas de sua esposa enquanto ela se curvava e colocava as colchas
no chão.
Ele desejava saber o modo de tirar o medo de seus olhos—
permanentemente.
Eles comeram em silêncio com exceção das conversas que Austin
começava. Dallas não conseguia pensar em uma coisa única para dizer
a sua esposa. Ele se lembrava de quando ele tinha começado a escrever
para Amelia. Sua primeira carta tinha apenas algumas linhas. Ao final
do ano, ele tinha compartilhado páginas inteiras de sua vida com ela.
Ele tinha pensado em escrever uma carta para Cordelia, mas isso
parecia uma saída covarde. Ele precisava aprender a dizer palavras que
trariam suavidade aos olhos da esposa, o tipo de suavidade que Amelia
tinha nos olhos todas as vezes que ela olhava para Houston.
Ele levou várias tábuas para a estrutura de madeira, colocou-as
no lugar, se ajoelhou ao lado de uma e tirou os pregos da boca.
"Houston, quando você e Amelia estavam vindo para cá… sobre o que
vocês conversaram?".
Houston bateu um prego na tábua que poderia servir como
assoalho e encolheu os ombros. "Qualquer coisa que ela quisesse
conversar”.
Dallas segurou sua frustração. "Sobre o que ela queria
conversar?".
Houston tirou o chapéu da sobrancelha. "Você, principalmente.
Ela estava sempre fazendo perguntas sobre o rancho, sobre o tipo de
homem que você era, a casa”.
"Você não devia ter dito ela a verdade sobre a casa já que ela
estava vindo mesmo”, Austin disse.
Dallas olhou ao redor. "O que há de errado com a minha casa?".
Austin tirou o sorriso do rosto e olhou para Houston. Houston
agitou a cabeça e deu a ele um olhar que dizia: "você deveria ter
mantido sua boca fechada desta vez". Então ele começou a bater um
prego na tábua.
"O que há errado com a minha casa?", Dallas perguntou
novamente.
"Hm, bem… é grande”, Austin explicou.
"Claro que é grande. Eu pretendo ter uma família grande”.
"Bem, então não há nada de errado com ela”, Austin disse. Ele
deu um prego para Maggie. "Maggie May, segure isto aqui para seu Tio
Austin”.
Dallas encarou o irmão, tentando fazer sentido com o que ele
tinha ouvido. "Seu comentário não tinha nada a ver com o tamanho da
casa. Eu quero saber o que você quis dizer”.
Austin fechou os olhos e respirou rápido antes de encontrar o
olhar de Dallas. "Não parece que é uma casa. É… é…" - Ele trocou o
olhar para Houston que parou seu martelo.
Dallas achou que o irmão estava procurando coragem. Ele sabia
que sua casa era incomum.
Austin olhou de volta para Dallas. "Eu acho que ela é muito feia.
Bom, eu disse, mas é o que eu penso. Houston pode pensar o contrário”.
Houston estreitou os olhos. "Me deixe fora dessa conversa,
menino”.
Dallas sentiu como se um rebanho de gado tivesse acabado de
pisoteá-lo. "Você concorda com ele?" Ele perguntou a Houston.
Houston firmou a mandíbula. "É diferente. Só isso. É apenas
diferente. Não seria o tipo de casa que eu gostaria de m—".
"A comida está pronta!", Amelia chamou.
"Graças a Deus”, Houston disse enquanto ficava de pé. "Eu estou
morrendo de fome. O que você acha de abóbora?" - Maggie deu um
gritinho enquanto ele a balançava no ar.
Dallas se levantou e agarrou o braço de Austin antes que ele
pudesse escapar. "Por que você não disse nada antes?".
O rosto de Austin queimou de um vermelho claro. "Você estava
tão orgulhoso, e o que nós achamos não é importante. O que importa é
o que Dee pensa sobre ela. Talvez você deva perguntar a ela”.
Pergunte a ela se ela odiava a casa tanto quanto ela odiava o
marido? Mesmo que ele vivesse cem anos não iria perguntar isso a ela.
"Eu gosto da casa”, ele disse em um tom neutro.
Austin deu a ele um sorriso fraco. "Então não há nenhum
problema. Vamos comer”.
Depois de amarrar Precious em um arbusto próximo, Cordelia
assistiu com as batidas do coração crescendo enquanto os homens se
aproximavam dela. Cada um depressa se lavou na bomba d’água antes
de colocar a camisa de volta. Só por aquele pequeno ato, ela estava
extremamente agradecida. Ela não achava que conseguiria comer se o
peito de Dallas estivesse nu.
Ela tinha colocado três colchas ao redor da caixa de madeira.
Amelia tinha colocado bifes e batatas sobre a caixa, e pratos e utensílios
nas colchas.
Amelia se sentou em uma colcha. Houston se sentou ao lado
dela, Maggie se aconchegou em seus braços. "Parece bom”, ele disse.
Cordelia sabia que era sem sentido imaginar que Austin se
sentasse na colcha ao lado dela, mas ela percebeu que desejava muito
isso. Ele sorriu a ela antes de se sentar na colcha oposta.
Na colcha pequena, Dallas pareceu incrivelmente grande
enquanto se sentava ao lado dela.
"Esta não é uma das minhas vacas, é?", Dallas perguntou.
Houston sorriu. "Provavelmente. Ele vagou até a minha terra. O
que eu deveria fazer?".
"Mande ele para casa”.
"Não mesmo”.
Austin levantou um braço. "E eu aqui? Eu sou o único sem uma
mulher para compartilhar minha colcha. Maggie May, venha se sentar
comigo”.
Com o rosto brilhando com excitação, Maggie ficou de pé com
um salto, cruzou a pequena área, e se jogou sobre Austin. Assobiando
agudamente, Austin a puxou com seu braço bom.
Houston pegou a filha com os braços. "Você está bem?", ele
perguntou a Austin.
Austin empalideceu consideravelmente, mas concordou com a
cabeça. "Eu estou bem”.
"Desculpe”, Maggie disse, o lábio inferior tremendo.
Ele sorriu. "Está tudo bem, doçura. Eu ainda estou um pouco
dolorido”. Ele bateu levemente na coxa. "Só venha e se sente do meu
lado, mas não se jogue em mim, certo?".
Mais cuidadosamente do que nunca e lentamente, ela rastejou
para cima da colcha e se sentou ao lado dele.
"O que aconteceu com o seu braço?" Cordelia perguntou. Um
silêncio caiu quando todos olharam para Cordelia. O calor subiu ao seu
rosto. "Eu sinto muito. Eu não pensei antes de perguntar”.
Austin parecia desconfortável à medida que respondia, "atiraram
em mim”.
"Oh, Deus. Bandidos?", ela perguntou, horrorizada com o
pensamento.
"Ladrões de gado”, Dallas disse enquanto batia as batatas contra
o prato. "Mas eles não nos aborrecerão mais”.
"Eu fico feliz em ouvir isto”, Cordelia disse. Ela cortava a carne
em pedaços minúsculos, comendo frugalmente.
"Você não come o suficiente para manter um pássaro vivo”,
Dallas disse.
Ela deu uma olhada rápida e encontrou o olhar dele no prato
dela, sua testa enrugando profundamente. Ela não conseguiria dizer a
ele que sempre que ele estava ao redor dela o estômago dava um nó tão
firme que ela mal conseguia respirar.
"Eu nunca fui de comer muito”, ela disse baixinho e voltou o
olhar para o prato.
"Acho que eu estou acostumado a ver os homens comerem”,
Dallas disse bruscamente.
"Eu nunca comi tanto quanto os meus irmãos”, ela disse. Um
silêncio desesperado os cercou. Cordelia desejou que poder pensar em
algo—qualquer coisa— para dizer.
"Quando você acha que a via férrea chegará aqui?", Amelia
perguntou.
Dallas agarrou mais batatas. "Algum dia no próximo ano”.
"As coisas devem mudar então”, Amelia disse tranquilamente.
"Acredito que sim. Com alguma sorte, Leighton começará a
crescer tão rápido quanto Abilene. Eu quero construir uma escola. Você
quer procurar um bom professor?", Dallas perguntou.
Amelia sorriu. "Eu adoraria. Além disso, eu tenho experiência em
colocar anúncios, e nós definitivamente vamos querer alguém do
Leste”.
"Dê-me uma lista de tudo que você precisará para que assim eu
possa registrar os custos antes de ir conversar com o Sr. Henderson do
banco”.
Amelia se debruçou adiante e tomou mão da Cordelia. "Dee, você
gostaria de me ajudar?".
Cordelia deu uma olhada rápida para Dallas. Ele a estava
estudando como se estivesse esperando por sua resposta. Com certeza
se ele quisesse que ela ajudasse, ele teria sugerido.
"Eu não sei nadas sobre escolas. Eu tive um tutor”.
"Então nós aprenderemos junto”, Amelia disse.
Cordelia agitou sua cabeça. "Não, eu não acho que posso—".
"Nosso filho fará seu saber nesta escola”, Dallas disse. "Você
deveria ter uma parte nisto”.
Cordelia movimentou a cabeça depressa. "Certo, então eu irei”.
"Bom”, Dallas disse bruscamente.
Amelia apertou a mão de Cordelia. "Será divertido”.
Sim, ela imaginou que seria, e daria a ela algo para fazer além de
lavar pratos e roupas. Dallas e Austin raramente estavam dentro da
casa e exigiam tão pouco de seu tempo que ela achava que
possivelmente poderia ficar louca.
A conversação se voltou para os outros aspectos de Leighton,
mas eles faziam pouco sentido para Cordelia. Ela não tinha visitado a
cidade desde o dia em que a terra tinha sido demarcada. Ela tinha
pedido várias vezes que a levassem, mas nenhum dos seus irmãos
tinham tido tempo. Ela sempre tinha achado que seria excitante assistir
algo crescer do nada… como assistindo uma criança crescer e virar um
adulto.
Seu marido tinha plantado as sementes da cidade no dia em que
ele tinha demarcado a terra. Ela lembrou que Boyd o tinha chamado de
um bastardo mão-de-vaca naquele dia… que tinha sido um dos nomes
mais agradáveis que ele tinha chamado Dallas. Ela sabia pouco sobre
negócios, mas ela não via como uma escola ou a igreja que ele tinha
oferecido construir para o reverendo Tucker o traria muito dinheiro.
De fato, no pouco tempo em que ela tinha sido sua esposa, ela
nunca tinha visto nenhuma evidência de sua cobiça com exceção da
manhã que ele tinha recusado puxar a cerca para trás se ela o deixasse.
Mas até então, ele tinha ganhado nada além de uma esposa relutante
enquanto a família dela tinha ganhado acesso ao rio. Eventualmente,
ele ganharia um filho enquanto sua família ganharia terra.
Ela estava começando a pensar que Dallas escondia sua natureza
avara bem… tão bem que ela se perguntava como Boyd tinha
descoberto isso para início de conversa.
"A nova adição para a casa parece ir de vento em polpa”, Amelia
disse, mudando a conversa do assunto Leighton.
"Antes da noite o andar térreo e a maior parte das paredes devem
estar no lugar”, Dallas disse.
"Fico muito agradecido por você e Austin terem desistido de seu
dia de folga para construir a nossa casa”.
"Família serve para isso”, Dallas disse.
"Mas nós não poderemos devolver o favor. Eu não consigo
imaginar você precisando aumentar sua casa”.
"Falando na casa de Dallas”, Austin disse. "Dee, o que você acha
dela?".
Cordelia olhou para Austin, então para Dallas que a olhava com
tal intensidade que sua respiração quase parou. Palavras sem sentidas
vieram a sua mente.
"Nós precisamos voltar a trabalhar”, Dallas disse, deixando o
prato vazio sobre a colcha.
Houston gemeu e passou a mão sobre o estômago. "Eu estou
muito cheio. Eu pretendo me sentar e relaxar durante um tempo”.
"Achei que você queria os quartos”, Dallas disse.
"Eu quero, mas a gente pode terminar no próximo domingo”.
"Já estará muito quente no próximo domingo”, Dallas disse
enquanto ficava de pé. "Eu vou voltar ao trabalho”.
Cordelia assistiu o marido colocar a camisa de volta e andar em
direção a casa.
"Um dia, Austin, você vai aprender quando manter a boca
fechada”, Houston disse.
Dallas pegou uma tábua robusta e a levou para o lado mais longe
da casa. Ele ficou cansado de martelar o chão. Houston e Austin
podiam terminar isso quando despertassem do cochilo. Os dois
adormeceram embaixo dos ramos irregulares da árvore—Houston
aconchegado com a cabeça no colo de Amelia, Austin com Maggie
enrolada contra ele.
Cordelia simplesmente sentou nas sombras, as mãos no colo—
parecendo linda.
Ele se perguntou se ela já tinha dado a alguém, exceto ele, a
permissão de chamá-la de Dee. Não que ele tivesse perguntado… nem
iria, mas Dee certamente era mais fácil de falar do que Cordelia. Ele
achava que Dee ficava melhor para ela, era mais suave.
Ele colocou outro prego na tábua contra o lado da casa e o pregou
no lugar. Suor rolava nos dois lados de sua espinha. Ele estava
esperando ansiosamente um banho quente à noite.
Ele colocou outra tábua no lugar e começou a bater os pregos na
madeira.
Um bom banho quente em sua casa. Em sua casa grande.
Ele se virou e congelou. Cordelia estava de pé ao lado dele,
segurando uma caneca com água. O medo inundava seus olhos.
"Amelia achou que você poderia estar com sede”.
"Não foi muito sociável da parte dela mandar você até a cova do
leão, mas eu aprecio a água”.
Ele tornou a jarra da mão trêmula dela e despejou o líquido
enquanto dava um longo suspiro. O olhar dele cravou no dela, ele
enxugou as costas da mão na boca antes de dar a jarra de volta para ela.
"Obrigado”.
Ele ergueu outra tábua e a colocou contra a armação.
"Sobre sua casa—", ela começou.
"Eu construirei outra para você”, ele disse enquanto alinhava a
tábua. "Não faz nenhuma diferença para mim”.
"Na verdade, eu gosto bastante dela”.
Ele deu uma olhada rápida por cima do ombro. Ela estava
segurando a caneca com tanta força que suas juntas tinham ficado
brancas. "Você gosta?".
Ela movimentou a cabeça com força. "Sim, eu acho que é um
pouco rígida… hmm, quero dizer, eu acho que ela pareceria mais
amigável se você fizesse algumas decorações—".
"Você quer dizer algo como ornamentação?".
"E talvez colocar alguns quadros nas paredes. Talvez um canteiro
na frente. Eu podia te dar uma lista de idéias—".
"Não há necessidade. Apenas faça”. Ele se abaixou e pregou
outro prego na tábua.
"E se você não gostar do que eu fizer?".
"Aparentemente meu gosto não combina com os das outras
pessoas”. Ele bateu o prego. "Eu confiarei no seu julgamento. Eu tenho
um catálogo do Montgomery Ward(*) em meu escritório. Peça o que
você precisar de lá ou vá ao armazém geral do Oliver e pegue com ele”.
Colocando na posição outro prego, ele a examinou por cima do
ombro, esperando que ela fizesse algum comentário, mas ela estava
olhando fixamente, com os olhos bem abertos, para o local onde eles
tinham comido. Dallas olhou em torno das tábuas. Houston
aparentemente tinha despertado de seu cochilo, tinha angulado seu
corpo por sobre o da esposa, e estava apreciando sua sobremesa: os
doces lábios de Amelia.
"Não é cortês ficar olhando”, Dallas disse enquanto batia outro
prego no lugar.
"Mas é que eles… estão…".
"Beijando”, Dallas disse. "Eles estão apenas beijando”.
Cordelia se virou, o rosto vermelho. "Mas eles estão muito
próximos um do outro”.
"É mais divertido assim. Aquele livro que você pegou não dizia
isto?".
Ele não achava que o rubor no rosto dela poderia aumentar ainda
mais, mas ainda assim aumentou.
"Aquele livro tem o nome errado”, ela disse em um sussurro com
medo de que alguém pudesse ouvir. "Não tem nada a ver com vida
doméstica”.
Ele não conseguiu parar de sorrir. "Mas ele tem tudo a ver com
criação”.
A confusão nublou os olhos dela. "Eu não entendo”.
"Criação é uma palavra cortês para procriação e cuidar do gado”.
"Você poderia ter explicado isso para mim antes que eu o
pegasse”.
Ele encolheu os ombros. "Você se casou com um rancheiro. Achei
que não faria mal a você ler o livro. Dará algo para a gente discutir no
jantar”.
Os olhos dela se arregalaram. "Não dará não!".
O sorriso dele diminuiu até que desapareceu e os lábios ficaram
apenas uma linha endurecida. "Não se você não conseguir pensar em
qualquer outra coisa para conversar durante nossas refeições. Eu estou
ficando cansado de comer em silêncio. Se eu quisesse isto, ficaria longe
da casa e comeria”.
"Eu não percebi que você queria conversar enquanto nós
comemos. Em casa eu não tinha permissão para falar durante as
refeições”.
"Parece que o seu pai e o meu tinham a mesma atitude: as
crianças eram para serem vistas e não ouvidas, mas você não é mais
uma criança”.
"Não, mulheres... mulheres eram para serem vistas e não
ouvidas”.
Capítulo 08
Dallas cruzou os braços sobre a grade e olhou fixamente para as
estrelas. Passar o dia com a família do irmão nitidamente tinha
mostrado o que estava faltando em sua vida: não só um filho, mas
também os olhares quentes que Houston e Amelia trocaram ao longo
do dia e que revelavam a profundidade do amor deles um pelo outro
sem que uma única palavra fosse dita.
Ele não esperava que Cordelia olhasse para ele do mesmo modo
que Amelia olhava para Houston: como se ele possuísse a lua e as
estrelas. Se ele fosse um homem amável, ele libertaria Cordelia, a
enviaria de volta para o pai sem saber o gosto completo de sua boca,
sem sentir a pele dela sob suas mãos, o som de seu gemido quando ele
despejasse nela sua semente.
Mas ele não era um homem amável. Ele queria beijá-la
novamente, mais profundamente que antes, com sua boca devorando a
dela. Ele queria passar as mãos pelos seios dela, sentir sua cintura fina e
seus quadris delgados. Ele queria ouvir seus suspiros, gemidos e gritos
sufocados.
Ele a queria em sua cama—ele gemeu frustrado. Ela já estava em
sua cama. O problema era que ele não sabia como voltar para a própria
cama sem bater na porta e ver o medo refletido nos olhos dela.
Ele pensou em deslizar pelo quarto na calada da noite, se aninhar
ao lado dela e cobri-la de beijos—
"Dallas?".
Ele se voltou hesitante com a voz suave de Cordelia. Ela tinha ido
ao estúdio dele logo depois que eles tinham retornado para casa para
que pegasse o catálogo. Ele esperava que ela o folheasse com ele no
escritório, mas ela apenas o tinha agarrado e corrido para fora como um
coelho assustado. Ele não a viu desde então, e ele assumiu que ela tinha
ido para a cama— mais uma vez sem ele.
Ele cruzou os braços por cima do peito nu e desejou por Deus
que seus pés não estivessem descalços. Ele se sentia nu e escolheu usar
a raiva. "O que você está fazendo aqui?".
"Austin me disse para vir conversar com você”.
Primeiro Amelia. Agora Austin. Parecia que toda sua família
estava tentando empurrar a mulher sobre ele. Infelizmente, ele queria
que ela fizesse isso de vontade própria.
Cautelosamente, ela foi para mais perto do curral e correu o dedo
ao longo da grade. "Eu vejo você aqui fora frequentemente. Você tem
dificuldade em dormir?".
"Eu tenho muita coisa na mente”.
"Como o quê?".
Os seus olhos lindos. A sua pele que parece tão suave. O seu cheiro doce.
A vontade que eu tenho de te abraçar.
"Minha marca. Eu preciso mudá-la”.
"Por quê?".
Porque eu não tenho uma mulher há anos, desde que tive Amelia.
"Porque o símbolo não está mais certo”.
"O que aconteceu para mudá-lo, fazê-lo ficar errado?".
Destino.
"Quando eu comprei esta terra, eu usava D de Dallas. Quando
Amelia concordou em se casar comigo, eu adicionei um A. Eu o curvei
ao lado do D para que as letras se juntassem. Só que eu e ela não nos
‘juntamos’. Você e eu estamos juntos, então eu preciso mudar o
símbolo, mas a letra do seu nome não fica legal inclinada contra o D.
Um C e um D apenas parecem que são dois ‘Des’ de costas um para o
outro, assim eu estou tentando achar um modo de colocar o C e o D
juntos para que assim eles pareçam com eles mesmos e não outras
letras”. E divagando como um idiota no processo.
Ela manteve o olhar no luar. "Você a amou?".
"Quem?".
Ela abaixou os cílios. "Amelia. Você a amou?".
Ele passou os dedos polegar e indicador pelo bigode. Ele nunca
tinha se parado para fazer aquela pergunta. Talvez ele devesse. "Eu
gostava dela. Ela deu graça na minha vida enquanto estava aqui, mas
não, eu não a amei. Não do modo como Houston a amava na época;
Não tão profundamente quanto ele ama agora”.
"Eles parecem felizes”.
"Eu acho que eles são”.
Ela pisou no degrau da parte inferior da cerca. Os pés dela se
enrolaram em torno da madeira. Ele pensou em tocar os pés descalços
nos dela, roçar das solas até o tornozelo delicado dela.
Esticando-se, ela se debruçou contra o curral. Dentro das sombras
da noite, ele podia ver a curva dos seios dela se apertarem contra a
roupa. Ele sentiu o desejo de tirar as roupas dela de cima dos ombros,
tocar os seios, e sentir a pele acetinada dela contra as palmas de suas
mãos crespas. Ele cravou os dedos nos próprios braços para afastar
deles a vontade de tocá-la quando ela parecia tão serena.
"Eu acho que costas com costas seria bom”, ela disse suavemente.
Costas com costas? A mulher era incrivelmente inocente. Costas
com frente poderia dar certo, apesar de que ele preferia frente com
frente. Ele nunca tinha conhecido uma mulher tão alta quanto ela.
Apertada contra ela, ele imaginava que ele acharia muito pouco de seu
corpo que não encontraria o calor da pele dela. Coxa contra coxa.
Cintura contra cintura. Peitos contra peitos. Seus ombros poderiam ser
um pouco mais altos do que os dela, mas ele poderia muito bem
conviver com isto.
Ela deu uma olhada rápida para ele. "Cameron me chama de Dee.
Eu prefiro esse nome a Cordelia, então, seriam dois ‘Des’ um de costas
para o outro e poderia ficar legal”.
"Dois ‘Des’ um de costas para o outro?" Ele se virou para ela com
a respiração ofegante. "Minha marca. Você está falando sobre a minha
marca”.
"Sobre o que você achou que eu estava falando?".
Ele deu um aceno com a cabeça aos arrancos. "Minha marca. Eu
achei que você estava falando sobre a minha marca”.
Ela angulou a cabeça como se não acreditasse no que ele tinha
dito e quisesse entender o que ele exatamente tinha pensado. Ele
colocou as mãos suadas dentro do bolso da calça. "Por que ele te chama
de Dee?".
"Quando ele era um bebê, Cordelia era muito difícil para ele,
então ele começou a me chamar de Dee. Eu nunca gostei de Cordelia
mas nós não escolhemos nossos nomes… ou nossas famílias”.
Ele percebeu que na última semana, ela tinha aprendido mais
sobre sua família do que gostaria de saber. Houston tinha dito a ele o
que tinha escutado no escritório de Dallas, e isto custou a ele toda a
determinação que tinha para não dar uma visita aos McQueens. Ele
amaldiçoou Houston várias vezes por tê-lo feito prometer que não faria
nada depois de ouvir o que ele tinha a lhe dizer e só depois lhe contou a
história.
"Eu ouvi Austin e Amelia chamarem você de Dee. Eu poderia te
chamar assim se você quisesse”.
"Eu gostaria”.
"Certo. Eu colocarei dois ‘Des’ na nossa marca”.
Ela levantou o rosto em direção às estrelas. "O que acontece com
os seus homens quando eles se casam?".
Assim como o corpo, a garganta dela era longa e esbelta. Ele
andou para mais perto do curral e descansou o cotovelo na grade
superior para que assim ele a pudesse ver mais claramente. "Eles não se
casam”.
"Nunca?".
"Não um peão de rancho. Se um homem quer formar uma
família, ele tem que economizar seu pagamento, comprar alguma terra,
e começar sua expansão para que assim ele tenha um lugar para sua
família viver”.
"Você não acha isso triste?".
"Nunca tinha pensado muito sobre isto. É assim que as coisas são.
Um vaqueiro sabe disto desde o início”.
Ela pareceu meditar sobre a resposta. Ele desejou saber o que ela
estava pensando, desejava saber o que ela faria se ele pusesse um pé na
grade, embalasse o rosto frágil dela com suas mãos largas e a beijasse.
Ele tinha o direito—
Ela parou de olhar para as estrelas. "Austin irá para a cidade
amanhã de manhã. Posso ir com ele?".
Ele ignorou o orgulho ferido por ela preferir viajar para a cidade
com o irmão dele. Ele com toda alegria a levaria se soubesse que ela
queria ir. "Você não é uma prisioneira aqui. Você pode fazer qualquer
coisa que queira. Você não tem que me pedir permissão”.
"Eu posso fazer qualquer coisa?", ela perguntou.
"Você não pode voltar para casa”, ele respondeu depressa, certo
de que os pensamentos dela iam naquela direção.
Ela levantou um pouco o queixo, quase que desafiadoramente.
"Você diz que me dá liberdade, entretanto você delimita as minhas
escolhas, o que tira a liberdade”.
Ela saiu da grade. "Obrigada por me dar a permissão de sair com
Austin amanhã”.
Ela foi para longe. Ele queria agarrar sua trança, puxá-la com
uma mão até que o rosto dela estivesse próximo do dele… e a beijaria
até que nenhum dos dois tivesse qualquer escolha.
Capítulo 09
Dallas saiu do banco e pediu a Deus para que ele não tivesse
desesperadamente procurado por uma desculpa para entrar na cidade.
Ele esperava casualmente cruzar o caminho de sua esposa, talvez
caminhar pela cidade com ela.
Ele não esperava vê-la na passarela de madeira embrulhada
firmemente dentro dos braços de seu irmão.
Austin olhou para cima e seus olhos azuis se arregalaram.
"Dallas!", como uma serpente que já matou sua presa asfixiada, Austin
lentamente se desenrolou de Cordelia. "Não sabia que você tinha
planos de vir até a cidade”.
"Obviamente”. Dallas cerrou os punhos e suas mandíbulas se
apertaram, seu olhar indo do irmão para a esposa. O terror retornou aos
olhos dela, e ele imaginava que agora ela tinha uma boa razão para
temê-lo.
Com o andar relaxado, Austin o abordou. "Dee descobriu que
Boyd atirou em mim. Ela estava um pouco brava por nós não termos
sidos sinceros, por termos dito que tinham sido ladrões de gado. Eu
estava só tentando acalmá-la”.
Dallas encarou o irmão. "Você não me abraça quando eu estou
bravo”.
Austin começou a rir. "Eu irei se você quiser porque eu acho que
agora é a hora certa para isso”. Esticando os braços e balançando a
cabeça, ele mostrou um sorriso contagiante que Dallas estava certo de
que ele usaria para encantar as damas se houvesse alguma ao redor.
"Quer um abraço?".
Dallas deu um passo para trás. "Diabos, não”. Dallas virou sua
atenção para Dee. Ela o estava estudando como se ele fosse um
estranho, o que ele tinha percebido que era. O que ela realmente sabia
sobre ele? O que ele sabia sobre ela?
"Como ela descobriu?", ele perguntou.
Austin empurrou a cabeça na direção do armazém geral. "Becky”.
Ele esfregou as mãos nas coxas. "Escute, Dee nunca visitou Leighton.
Você poderia mostrar a cidade a ela enquanto eu converso com Becky
durante algum tempo?". Austin virou a cabeça. "Você não se importa de
ir com Dallas, não é, Dee?".
Dallas assistiu sua esposa ficar pálida antes de finalmente
concordar com a cabeça. "Isso seria bom”.
"Obrigado. Eu alcançarei vocês”.
Austin desapareceu no armazém geral. Dallas desejou que ele
tivesse sido a pessoa para quem ela tivesse olhado, a pessoa que a
tivesse abraçado quando ela tinha descoberto a verdade.
"Você nunca esteve numa cidade?", ele perguntou.
Ela agitou a cabeça. "Não nesta cidade. Não depois do dia em que
você demarcou a terra. Meus irmãos nunca tiveram tempo para me
trazer”.
"Bem… — Ele andou para fora da passarela de madeira, de
repente tímido com tudo que ainda precisava ser feito. "Não está nem
próximo de terminar”. Ele apontou para frente. "O armazém geral”. Ele
moveu a mão para a esquerda. "O banco”.
"O que você estava fazendo no banco?", ela perguntou enquanto
caminhava para o lado dele.
"Eu queria conversar com Sr. Henderson sobre um empréstimo
para outro edifício”.
"Que tipo de prédio?".
Ele limpou a garganta. "Um homem— marceneiro— escreveu
para mim. Ele quer se mudar para cá, mas ele não tem os meios para
financiar seu próprio negócio. Eu achei que ele seria um bom
investimento”.
"Você tem os meios para financiá-lo?".
"Com a ajuda do banco, eu o ajudarei no começo. Eventualmente,
ele conseguirá se manter, quanto mais pessoas eu trouxer para
Leighton, mais nós cresceremos”.
"Como você determina quais negócios são um bom
investimento?".
Ele a estudou, sem esperar que ela fizesse perguntas, mas
contente que ela sabia o suficiente para perguntar. Ele virou o cotovelo
e viu enquanto ela tragava antes de colocar sua mão por dentro do
braço dele. Juntos eles caminharam devagar ao longo da rua.
"Eu tento compreender o que as pessoas precisam”, ele explicou
para ela. Ele apontou na direção da loja de roupa. "Houston estava
sempre indo para Fort Worth para comprar roupas para Amelia. Ele ia
visitar a loja de vestidos de Mimi Saint Claire. A idéia de uma nova
cidade a intrigou, então ela mudou seus negócios para cá, desejando
que a cidade prosperasse e mais mulheres viessem. Até lá, ela costura
roupas para homens e mulheres”.
"Não existem muitas mulheres pelo o que eu vi”.
"Uma meia dúzia, se muito. Eu ainda não sei como atrair elas
para Leighton. Eu tenho pensado em colocar um anúncio para noivas,
semelhante ao que a Amelia colocou para ter um marido. Mas se eu
trouxer um monte de mulheres, eu terei que ter maridos esperando por
elas. Eu preciso pensar em uma forma de lidar com isto. Eu
particularmente não aprecio a idéia de me tornar um agente de
casamentos”.
Ela movimentou lentamente a cabeça, e Dallas quase imaginou
poder ver uma teia de pensamentos se formar em sua mente. Ele queria
perguntar a ela o que ela tinha pensado sobre a cidade. Ele não queria
que Leighton fosse apenas mais uma cidade… ele queria que fosse um
lugar que atraísse as pessoas e lhes desse uma razão para ficar.
Eles se aproximaram da taverna. Indecisamente, ela deu uma
olhada rápida para ele. "Eu posso olhar dentro da taverna?”.
"Pode”.
Cautelosamente, Cordelia se aproximou das portas de balanço e
olhou para dentro. A fumaça era espessa. O odor não era muito
agradável. Ela podia ver alguns homens sentados com umas cartas de
jogo na mesa. Um dos homens era seu irmão.
"O que Duncan está fazendo aqui?", ela perguntou.
Dallas deu uma olhada rápida por cima do ombro dela. "Jogo de
cartas”.
"Eu quis dizer, por que ele não está trabalhando com o gado?".
"Eu acho que ele só está dando uma pausa”.
Dando um passo para trás, ela estudou o marido. "Quando você
dá uma pausa?".
Ele a levou da taverna. "As tavernas não me atraem. Eu nunca
conseguiria deixar uma carta levar embora o dinheiro que eu trabalhei
tão duro para ganhar”.
"Mas você deve relaxar de vez em quando”.
"Quando eu preciso relaxar, eu monto de noite e visito uma das
minhas damas”.
Cordelia estava desprevenida para a dor que a atingiu. Por que
ela esperava que ele permanecesse fiel a ela só por causa dos votos que
eles tinham trocado? Furiosa por razões que ela não conseguia
entender, ela andou a passos largos para fora da passarela de madeira.
"Eu acho que eu vi tudo o que queria ver da cidade”.
Ele agarrou o braço dela, e ela se soltou. "Por favor, não me
toque. Não depois de você ter jogado suas amantes na minha cara”.
"Minhas amantes?", ele franziu as sobrancelhas bem juntas e a
olhou com confusão, então começou a rir. "Minhas senhoras”.
"Eu não vejo a graça”.
"Eu não estava pensando”.
"Obviamente que não. Um cavalheiro não menciona suas outras
mulheres para sua esposa. Eu acho que nós dois ficaríamos mais felizes
se você se casasse com uma deles em vez de mim”. Ela se virou e
começou a ir embora.
"Dee?".
Ela queria manter os passos, mas um desejo na voz dele a tocou,
a agarrou, e ela foi forçada a se virar. Não mais sorrindo ou rindo, ele a
olhava como se estivesse procurando por algo.
"As senhoras são os meus moinhos de vento”, ele disse
tranquilamente. "Eu aprecio o som deles durante a noite quieta. Traz
paz. Eu gostaria de compartilhar isso com você algum dia”.
Incrivelmente envergonhada, ela fechou os olhos. "Eu sinto
muito. Eu agi como uma sabe-tudo“.
"Você devia ficar brava mais vezes”.
Os olhos dela se abriram de repente. A única vez que a mãe dela
tinha ficado brava seu pai a tinha jogado escada abaixo. "Por quê?".
"A raiva põe fogo nos seus olhos. Eu prefiro o fogo ao medo”.
"Dallas!", um homem gritou.
Cordelia assistiu um homem esbelto correr na direção de Dallas.
"Tyler, você tem algum problema?", Dallas perguntou.
O homem parou. "Não há problema”. Como se de repente a
tivesse notado, Tyler tirou o chapéu da cabeça. Ele tirou as mexas loiras
da testa e sorriu para Cordelia. "Sra. Leigh, nós nos encontramos no seu
casamento embora a senhora provavelmente não se lembre. Tyler
Curtiss”.
"Eu não sou muito boa com nomes”, ela confessou.
"Eu não sou muito bom com rostos exceto quando eles são
bonitos como o seu”. Desacostumado a flertar, ele ficou vermelho, e
Dallas fez uma carranca.
"Tyler projeta os edifícios e administra a construção”, Dallas
disse, a voz tensa.
Ela sorriu com interesse. "Então você está construindo a cidade?".
"Com muita ajuda. Eu gostaria de ter a opinião do seu marido em
algumas coisas se você me deixar falar com ele algum tempo”.
"Sim, tudo bem”.
Dallas pareceu hesitar. "Você pode achar o Austin?".
Ela concordou com a cabeça. "Eu estou certa de que ele ainda está
no armazém geral”.
"Eu verei você em casa então”.
Ela o viu ir embora. Ela podia dizer pela postura dele que ele
estava escutando atentamente o que Tyler dizia.
Por que a machucou tanto quando ele tinha mencionado as
senhoras com tanto afeto? Por que ela ficou aliviada em descobrir que
ele tinha visitado os moinhos de vento?
Ela começou a andar na direção dos cavalos amarrados na frente
do armazém geral. Ela tinha estourado de raiva e em vez da retaliação,
ele tinha dito para que ela fizesse isso mais frequentemente. Ela tinha
que concordar que a sua sugestão poderia ter algum mérito. Ela tinha
achado sua explosão de fúria… libertadora.
Dallas não estava certo do que o tinha possuído para convidar sua
esposa para montar com ele, embora ele tivesse que admitir que ela
provavelmente não tinha considerado suas palavras como um convite.
Não era da natureza dele pedir. Talvez ele tivesse sido diferente
quando era um menino, mas a guerra tinha tirado isto dele. Aos
quatorze, ele tinha dado sua primeira ordem. Quando a guerra
terminou, ele continuou a dar ordens. Era o jeito mais fácil de realizar o
que precisava ser feito. Mande um homem fazer. Se ele não gostar,
pode partir.
Infelizmente para Cordelia, se ela não gostasse do modo como ele
dava ordens, ela não teria nenhuma liberdade para partir. Um contrato
de casamento os prendia, ela gostasse ou não.
Ele desejou que eles estivessem fazendo progresso em direção a
uma relação amigável quando ela tinha se oferecido para ler para ele na
noite anterior, mas agora ela montava ao lado dele com as costas tão
duras quanto uma barra de ferro, os olhos fixos na frente, e suas juntas
ficando brancas enquanto ela segurava o chifre da sela.
Os cavalos caminhavam lentamente como se eles tivessem o dia
todo para chegar aonde eles estavam indo.
"O quanto você é boa em manter sua palavra?", ele perguntou.
Ela virou a cabeça na direção dele, sua sobrancelha frisada. "Eu
não minto, se é sobre isso que você está falando”.
"Meu pai me ensinou que um homem é tão bom quanto a sua
palavra. Em toda minha vida eu nunca voltei com ela. Eu estou só me
perguntando se o seu pai tinha te ensinado a mesma coisa”.
Cordelia estava perplexa com as palavras dele. Ela não podia
recordar de seu pai a ensinando nada além de seu lugar dentro do
mundo dos homens, um lugar que ela nunca tinha questionado até que
ela descobriu que não se ajustava muito bem dentro do mundo do seu
marido. "Eu sei como manter uma promessa”, ela finalmente admitiu.
"Suponho que seja a mesma coisa”.
Ele movimentou a cabeça. "Então eu preciso que você me
prometa uma coisa”.
"Que tipo de promessa?".
Ele parou o cavalo. Ela fez o mesmo. Removendo o chapéu, ele
manteve o olhar dela.
"Eu quero que você me prometa que se algo acontecer comigo
você não dará minha terra para os seus irmãos”.
"O que aconteceria com você?".
"Qualquer coisa pode acontecer com um homem nessas terras. Eu
só não quero que os seus irmãos sejam beneficiados com a minha
morte”.
Morte? A palavra ecoou na mente dela, no coração. "Por que você
morreria?".
Os lábios dele se curvaram em um sorriso leve. "Eu não estou
planejando. Eu só quero a sua palavra de que se nós tivermos um filho,
você passará a terra para ele”.
"E se nós não tivermos um filho?".
"Então fique com a terra ou a venda. Só não a dê para seus
irmãos”.
"Eu não saberia o que fazer com a terra”, ela confessou.
Ele olhou na direção do horizonte distante. "Dê-me sua palavra
de que você não dará a terra para os seus irmãos, e eu ensinarei você
como cuidar dela”.
Ela varreu o olhar pela terra. Ele estava confiando a ela seu
legado. Ela percebeu que se algo acontecesse com ele, ela precisaria
saber como administrar o rancho para que assim ela pudesse ensinar ao
filho. Ela deu uma olhada rápida para ele enquanto ele firmemente a
observava. "Eu poderia destruir tudo o que você construiu”.
"Se eu achasse que existisse a mínima chance de isso acontecer,
eu não teria feito a oferta”.
A força das palavras a golpeou. Ele confiou a ela o império que
ele construiu, confiou que ela honraria sua palavra, da mesma maneira
que ela jurou que o honraria.
Ele estava dando a ela a oportunidade de reforçar a base trêmula
sobre a qual eles tinham começado a construir o casamento. "Eu dou a
você minha palavra”.
Um sorriso lento se estendeu por sob o bigode dele. "Bom”.
Nos dias que se seguiram, ela conheceu os nomes dos homens e
seus respectivos trabalhos. Ela tinha achado que eles simplesmente
cuidavam do gado. Ela não poderia ter estado mais errada. Os homens
constantemente faziam a cerca, remendavam o arame quebrado,
substituíam as estacas. O cavaleiro do moinho visitava os moinhos de
vento para engraxar as dobradiças e consertar qualquer coisa que
tivesse quebrado. Os cavaleiros do pântano procuravam por gado que
tinham se enganchado nos arbustos ou ficado presos na lama. Os tipos
numerosos de cavaleiros e suas várias tarefas a surpreenderam.
Parecia que tudo sempre precisava ser verificado e verificado
novamente: a cerca, os moinhos de vento, o gado, a água, o pasto. As
decisões tinham que serem feitas sobre quando e para onde mover o
gado.
Ao final da semana, Cordelia estava desarmada com o
conhecimento que a tinha atingido.
Ela também tinha um respeito e compreensão maior pelo marido
e suas realizações.
Capítulo 10
Capítulo 11
Cordelia nunca tinha estado tão nervosa em sua vida quanto ela
estava agora. Ela estava de pé assistindo o agrimensor colocar
marcadores no chão e separar o espaço de onde o hotel seria
construído.
Sr. Curtiss terminou a loja de ferreiro e o hospedaria para
cavalos. Ele estava pronto para começar a construção do hotel.
Ela apertou o braço de Dallas enquanto ele ficava de pé ao lado
dela, vestido muito parecido como estava no dia em que tinha se casado
com ela: calça comprida marrom, jaqueta marrom, um colete acetinado
marrom. Ele parecia com um homem de negócios bem sucedido, e não
com um vaqueiro que montava até o entardecer, coberto de suor e pó.
Ele deu uma olhada rápida para ela.
"Realmente vai acontecer, não é?", ela perguntou.
Os lábios dele se estenderam em um sorriso morno, um sorriso
que tocou seus olhos marrons profundos. "Sim”.
Segurando Precious dentro do braço, ela examinou por sobre o
ombro. As pessoas estavam se juntando atrás deles, assistindo os
agrimensores com interesse. Ela podia ver todos os peões de Dallas.
Ela viu Houston abrindo passagem na multidão, segurando
Maggie que estava com os braços ao redor do pescoço dele. Amelia
marchava junto dele, seu braço entrelaçado no dele. Enquanto eles se
aproximavam, Amelia soltou Houston e abraçou Cordelia. Precious
latiu. Amelia riu.
"Isto é tão excitante”, Amelia disse.
Cordelia não pôde conter o sorriso. "Sr. Curtiss acha que ele pode
ter o hotel pronto por volta de outubro”.
"Quatro meses?", Houston perguntou. "Ele acha que precisará de
tanto tempo?".
Cordelia concordou com a cabeça. "Vai ser um hotel grande, o
hotel principal”. Ela apertou a mão de Amelia. "Vamos chamá-lo de
Magnífico Hotel”. Ela deu uma olhada rápida para Dallas. "Não é?".
"Nós o chamaremos como você quiser”, ele disse.
Houston riu. "Parece que dar nome a um hotel é como dar nome
a crianças”.
Dallas fez uma careta para o irmão. "Não é nada parecido”.
Com passos largos e longos, Austin andou até Dallas e sussurrou
algo em sua orelha. Dallas movimentou a cabeça. "Bom”.
Austin sorriu para Cordelia. "Difícil de acreditar que faz menos
de três semanas que você caminhou até o banco de Henderson. Eu acho
que você trabalha mais rápido do que o Dallas quando tem uma idéia
na cabeça”.
Ela corou e abaixou o olhar. "Eu acho que ele irá ajudar esta
cidade a crescer. Dará as pessoas um bom lugar para ficarem quando
elas visitarem Leighton”. Ela deu uma olhada rápida para Amelia. "Nós
pensamos em ter um quarto especial onde o professor possa viver”.
"Isso seria maravilhoso”, Amelia disse, "embora para minha
vergonha eu não fiz nada para trazer um para a cidade”.
"Eu não te ajudei também”.
"Esse será o nosso próximo passo”, Dallas disse.
A respiração de Cordelia parou quando ela viu seus irmãos
andando a passos largos na sua direção. Apenas Cameron sorria para
ela. Ele a alcançou e tomou sua mão. "Oi, Dee, você parece bem”.
Ela se sentia bem, se sentia feliz. "Eu não estava esperando ver
você hoje”.
"Dallas mandou dizer que tem um anúncio para fazer”, Boyd
disse. Ele desceu o olhar para o estômago dela. "Considero que todos
nós sabemos o que é esse anúncio já que parece que o seu marido acha
que todo mundo se importa com os negócios dele”.
A hostilidade a surpreendeu. Ela não tinha percebido até este
momento que ela tinha crescido acostumada a viver em uma casa onde
a raiva sempre reinava suprema. "Onde está o nosso pai?".
"Ele não pôde fazer a viagem”, Boyd disse.
"Ele está doente?", ela perguntou.
"A idade o está alcançando”.
Ela olhou para Dallas. "Eu realmente deveria ir vê-lo logo”.
"Eu farei os preparativos”.
Uns dos agrimensores os abordaram. "Nós acabamos”. Dallas
movimentou a cabeça e virou sua atenção para Cordelia. "Você quer
caminhar em torno da extremidade da propriedade antes da
formalidade começar?".
"A formalidade?", Boyd perguntou.
Com satisfação óbvia, Dallas sorriu para o irmão dela. "A
formalidade da quebra do solo. Nosso anúncio envolve o hotel que Dee
planeja construir na cidade de Leighton”.
Boyd visivelmente empalideceu. "Hotel? Você não está
anunciando que ela está carregando sua criança?".
"Não”.
Os olhos de Boyd se estreitaram. "Qual é o problema, Leigh?
Você não é homem o suficiente para fazer uma criança?".
Cameron empurrou o irmão mais velho para trás. "Isto foi
desnecessário, Boyd”.
Boyd colocou o dedo agitado na frente do nariz de Cameron.
"Nunca mais faça isto novamente. Nunca”.
Cameron agitou a cabeça. "Esse é o momento da Dee. Não
arruíne isto”.
"Você sabia que ela estava construindo um hotel?".
Cameron olhou de lado para Austin antes de retornar o olhar
para o irmão. "Sim, eu sabia”.
"Eu não dou a mínima para essa porcaria de hotel. Tudo o que eu
me importo é com a terra que aquele bastardo roubou de nós”. Boyd
saiu para longe.
Cordelia olhou para os dois irmãos restantes. Eles trocaram o pé
de apoio meio que desconfortáveis.
Duncan finalmente riu. "Eu ouvir dizer que vai ter dança, comida
e uísque livres. Eu planejo ficar”.
"Eu, também”, Cameron disse com menos entusiasmo.
"Nós estamos contentes em ouvir isto”, Dallas disse. Ele se virou
para Cordelia. "Um passeio rápido em torno da extremidade? As
pessoas estão ficando ansiosas para que a gente comece”.
Ela estava ansiosa para que terminasse. Sempre voltava para o
assunto terra, ela dar um filho para Dallas.
Ainda assim, o homem que queria o filho, o homem que deveria
estar bravo porque ela não queria compartilhar sua cama com ele, era o
que estava de pé ao lado dela agora, caminhando em torno da
propriedade que tinha custado apenas um sorriso dela.
O dia em que ela o tinha encontrado, ela tinha julgado que ele era
um homem de pouca paciência. Ainda assim, no último mês, ele nunca
a tinha atormentado pelo que era seu por direito. Ele pacientemente
escutava seus planos para o hotel, oferecendo conselho, e dado a ela a
chance de agarrar algo que desejava.
Ele não tinha pedido nada em troca.
"O que você ganha com isso tudo?", ela perguntou enquanto eles
arredondavam o primeiro canto e caminhavam ao longo do lado que
seria os fundos do hotel.
Ele pareceu surpreso enquanto dava uma olhada rápida para ela.
"Eu gosto de ver você sorrir. Construir o hotel parecia te dar várias
razões para sorrir”.
"É tão simples assim?", ela perguntou.
"Simples assim”.
Eles caminharam em torno do próximo canto. "Vai ser grande,
não é?", ela perguntou enquanto o olhar dela seguia através da corda
tensa até outra.
"Será o maior edifício da cidade”.
Eles retornaram aonde tinham começado. Sr. Curtiss estava de pé
na esquina, segurando uma pá. Dallas e o Sr. Curtiss passaram sobre a
corda e caminharam para o centro da propriedade.
Cordelia sentiu Amelia deslizar a mão ao redor da sua e
suavemente apertá-la. Houston estava de pé atrás de Amelia. Maggie
tinha embrulhado as pernas ao redor de Cordelia. Austin se moveu
para o lado de Cordelia e pôs seu braço ao redor do ombro dela.
Cameron e Duncan permaneceram do lado de fora. Com uma
mistura de tristeza com a família que ela parecia ter perdido e vibrando
com a felicidade da família que ela tinha ganhado, ela virou a atenção
para o marido.
Ele tirou o chapéu da cabeça e um silêncio desceu na multidão. O
orgulho tocou seu coração ao ver o homem com quem ela tinha se
casado, tão ereto, tão corajoso diante da multidão.
Ela queria que as mulheres que viessem para Leighton tivessem
uma escolha. Quanto a ela mesma, ela não estava mais certa se teria
escolhido diferente se tivesse uma escolha.
"Pouco mais de um mês atrás”, Dallas começou, o timbre fundo
de sua voz reverberando ao redor dele, "eu tive o prazer de
compartilhar com vocês—nossos amigos e vizinhos—minha alegria
quando Dee se tornou minha esposa. Hoje, nós queremos compartilhar
com vocês o início do que será um marco na construção de Leighton. A
visão de Dee e seu hotel será o padrão pelo qual todos os futuros
edifícios em Leighton serão construídos”. Ele levantou a mão na
direção dela. "Dee, o sonho é seu. A terra é sua”.
Com a respiração presa, o coração de Cordelia bateu mais forte e
seus joelhos se agitaram. Com certeza ele não queria dizer a ela para
que se unisse a ele na frente de todas estas pessoas. Ela deu um passo
para trás e bateu no corpo duro de Houston.
"Vá, Dee”, Houston a persuadiu baixinho, suavemente.
Austin apertou o ombro dela e sorriu amplamente. "Se você pode
caminhar até o banco e pedir um empréstimo, você pode caminhar em
seu próprio hotel”.
Seu próprio hotel.
Ela olhou para Amelia, cujos olhos estavam se enchendo com
lágrimas. “Eu disse a você”, ela sussurrou, "se você desse a ele uma
chance, ele adoraria o chão que você pisa”.
Cordelia olhou de volta para o marido. Sua mão estava estendida
enquanto ele esperava por ela. Ela trouxe Precious para mais perto,
respirou fundo, e passou por cima da corda.
A multidão bateu palmas e gritou, o sorriso de Dallas cresceu, e o
tremor dela aumentou. Ela caminhou através do lote tão depressa
quanto podia e deslizou a mão até a do marido, surpresa ao encontrá-lo
trêmulo também.
Sr. Curtiss segurava a pá na direção dela. "Você precisará disto”,
ele disse, sorrindo brilhantemente.
"Dê-me o maldito cachorro de pradaria”, Dallas resmungou
através do sorriso enquanto estendia a mão.
Ela deu Precious para ele e pegou a pá. O Sr. Curtiss a ajudou a
posicioná-la. Ela apertou a manivela, empurrou o pé na pá na medida
em que ele instruía, e jogou para o lado uma pequena porção de terra.
Ela deu uma olhada rápida para Dallas. "De que tamanho eu
deveria fazer o buraco?".
Agitando a cabeça, ele tomou a pá e deu para o Sr. Curtiss. "Isto é
tudo que você precisa fazer”. Ele entortou o cotovelo. Ela colocou a mão
no braço dele, e ele a levou em direção à multidão que esperava.
Ela apertou o braço de Dallas enquanto as pessoas os cercavam,
fazendo perguntas.
"Eu não deixarei você”, Dallas sussurrou próximo a orelha dela.
Ela relaxou os dedos. Não, ele não a deixaria. Ela já tinha notado
com qual frequência ele sempre estava por perto quando ela precisava?
"Quantos quartos o hotel terá?", alguém perguntou.
Cordelia sorriu. "Cinquenta”.
"Eu ouvi dizer que vai ter um restaurante”.
"Um restaurante muito bom”, Cordelia os assegurou. "A melhor
comida da cidade”.
"Falando de comida boa”, Dallas inseriu, "nós temos carne de boi
cozinhando próximo à taverna. Vocês todos estão convidado para
apreciá-la”.
Enquanto as pessoas iam para longe, Cordelia voltou sua atenção
para Dallas. "Por que você não me disse que eu teria que cavar um
buraco na frente de todas estas pessoas?".
"Achei que você ficaria nervosa, e você poderia decidir não vir.
Eu não queria que você faltasse no seu momento”.
O momento dela.
"Sra. Leigh?".
Ela se virou. Um jovem estava diante dela, segurando um bloco
de papel. "Sra. Leigh, eu sou repórter do jornal Daily Democrat de Fort
Worth. Já que a via férrea que toca nossa cidade eventualmente vai
tocar a sua, eu desejava que você pudesse gastar alguns minutos para
responder algumas perguntas sobre o seu hotel”.
Cordelia olhou para Dallas. Ele sorriu. "Seu momento”.
Quando ele foi embora, ela começou a responder as perguntas do
jovem sobre O Magnífico Hotel. Ela explicou o fato de que mulheres
administrariam o hotel e trabalhariam no restaurante. Quando ela
respondeu a pergunta final dele, começou a caminhar em direção ao
outro terminal da cidade onde as pessoas estavam se reunindo. Ela
podia ouvir as notas doces de uma valsa. Ela viu Austin de pé atrás de
uma carroça, tocando seu violino. Houston e Amelia dançavam como
faziam Becky e Duncan. Vários homens dançavam juntos.
"Dee?".
Ela parou cambaleante e sorridente quando seu irmão mais
jovem tomou sua mão. "Cameron, eu estou tão contente por você estar
aqui hoje”.
"Você parece feliz, Dee. Dallas está te tratando bem?".
Ela deu uma olhada rápida na direção da taverna. Ela podia ver o
marido debruçado contra a parede, Precious aconchegada dentro do
seu braço enquanto ele conversava com o Sr. Curtiss.
"Ele me trata muito bem”. Ela apertou a mão dele. "Você deveria
vir nos visitar. Eu acho que você gostaria de Dallas se você parasse de
olhá-lo com os olhos de Boyd”.
Pelo canto do olho, ela viu um tecido preto passando. "Com
licença”, ela disse para o irmão enquanto corria para longe. "Rawley!
Rawley Cooper!".
O menino parou cambaleante e olhou para o chão. Ela se agachou
na frente dele.
"Oi, Rawley. Eu não sei se você se lembra de mim. Eu te vi no
armazém geral um dia”.
"Eu lembru”.
"Eu estava me perguntando se você pode me fazer um favor”.
O olhar preto dele se levantou e então abaixou. Ele começou a
arrastar o dedo no chão. Ela queria abraçá-lo com força. Ela tinha se
perguntado se alguém já tinha feito isso.
"Eu pagarei a você”, ela disse suavemente.
O olhar dele se focou nela, mas ela podia ver a dúvida e
desconfiança flutuando em seus olhos.
"Quanto?", ele perguntou.
"Um dólar”.
Ele mordeu o lábio inferior. "O que eu tenho que fazer?”.
"Cuide do meu cachorro de pradaria para que assim eu possa
dançar com o meu marido”.
"Por quantu tempu?".
"Até amanhã de manhã”.
Os olhos dele se estreitaram. "Você precisa me pagar primeiro”.
"Certo”. Ela se levantou e ofereceu a mão. "Vamos conversar com
meu marido”.
Com os dedos enrolados, ele agarrou a mão dela, então depressa
a soltou. "Dar as mãos é frescu”.
Ela se perguntou brevemente se seus irmãos eram da mesma
opinião. Desde que ela conseguia se lembrar, Cameron era o único que
já a tinha tocado, e mesmo assim seu toque sempre tinha sido hesitante.
Ela não queria isso para suas crianças.
Ela caminhou em direção à taverna com Rawley atrás dela. Ela
sabia o momento exato em que Dallas a viu. Sua atenção foi para longe
do Sr. Curtiss, e embora o arquiteto e construtor continuasse a
conversar, ela sentiu sem dúvidas que ela tinha a atenção exclusiva de
Dallas.
Quando ela parou na frente do marido, Precious latiu e Dallas a
trocou de posição nos braços.
"Se você me dá licença, eu quero conversar com Mimi Saint
Claire”, Sr. Curtiss disse. "Ela está pensando em expandir seus negócios
para um empório”.
"Agradeço sua ajuda hoje”, Dallas disse.
"O prazer foi meu”. Ele bateu com o chapéu na direção de
Cordelia antes de ir embora.
"Como foi a entrevista?", Dallas perguntou.
"Creio que é seguro dizer que ele estava pelo menos
entusiasmado com o novo hotel”.
Precious latiu novamente e começou a se torcer. Cordelia tocou o
ombro de Rawley, e ele se virou. Ela desejou não estar cometendo um
engano.
"Esse é Rawley Cooper. Ele vai cuidar da Precious para nós”.
Dallas ergueu uma sobrancelha. "É mesmo?".
Rawley deu um aceno com a cabeça. "Mas cê tem que me pagar.
Um dólar. Adiantadu”.
"Isto é uma pechincha”, Dallas murmurou enquanto colocava a
mão no bolso e retirava um dólar. Ele o colocou na palma de Rawley.
Rawley olhou para a moeda como se ele não tivesse realmente
esperado receber um dólar. Ele embolsou o dinheiro, limpou as mãos
cobertas de sujeira, e pegou Precious. Ele deu uma olhada rápida para
Cordelia. "Onde cê qué que eu deixe ela amanhã?".
"Onde você vive?".
Ele virou o olhar. "Ao redor”.
"Nós acharemos você”, Dallas disse.
Rawley movimentou a cabeça e lentamente foi para longe como
se estivesse carregando algo frágil.
"Então, por que você fez isto?", Dallas perguntou.
Cordelia virou a atenção para o marido. "Precious estava
atrapalhando”. Ela andou sobre a passarela de madeira. O olhar dela
era quase no nível do olhar de Dallas. Ela podia ouvir as notas gentis da
canção encher o ar. Seu coração começou a bater mais forte, seu
estômago começou a se revirar. "O dia em que nós nos casamos você
me disse que não era difícil dançar, e que você me guiaria. Eu estava me
perguntando se a sua oferta ainda está aberta”.
Ele desencostou da parede e ofereceu a mão para ela. "Está
sempre aberta para você”.
Ela colocou as mãos sobre as dele. Sua palma era áspera, seus
dedos tinham calos, os dedos eram longos, a pele morna enquanto sua
mão se fechava ao redor da dela. Ela caminhou com ele para uma área
onde só algumas outras pessoas dançavam.
Quando ele colocou a mão na cintura dela, pareceu o movimento
mais natural no mundo colocar a mão no ombro dele. Ele manteve o
olhar dela. Quando ele entrou no ritmo da música, ela o seguiu.
A melodia rodou ao redor dela. Além do ombro de Dallas, as
matizes do céu começavam a escurecer, prolongando as sombras da
noite. Ele a guiou pela valsa tão facilmente quanto ele a tinha guiado
até este dia.
"Como você sabia que eu queria construir um hotel?".
O olhar dele não hesitou. "Austin me falou sobre a sua visita ao
banco”.
"Você disse ao Sr. Henderson que me desse o empréstimo?".
"Eu simplesmente expliquei para ele que você tinha garantia—".
"Sua terra”.
"Nossa terra. Ele não tinha nenhuma razão para não te dar o
empréstimo”.
"E se o hotel quebrar?".
"Não irá”.
"Como você pode estar tão certo?".
Ele a apertou, trouxe-a para mais preto. As coxas tocando uma na
outra.
"Eu já te vi apavorada. Você ficou quando eu tinha poucas
dúvidas de que você queria, desesperadamente, partir. Uma mulher
com tanta força não vai deixar um negócio afundar”.
"Eu era boba por temer você”.
Ele agitou a cabeça ligeiramente. "Eu fui o bobo maior. Eu nunca
devia ter forçado nosso casamento. Eu devia ter usado o tempo para
cortejar você”.
Ela assistiu enquanto ele tragou.
"Eu devia ter dado a você a escolha que você quer dar as outras
mulheres”.
Ela se balançou dentro dos braços dele, agora sabendo sem
sombra de dúvidas que se ele a tivesse cortejado, se ela tivesse tido uma
escolha, ela não escolheria diferente.
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
"Vá ver o cozinheiro”, Austin disse. "Foi isso que Dallas disse.
Então ele e Dee começaram a dar risadinhas como hienas que
encontraram comida”.
Houston olhou através da mesa para Amelia e sorriu. "Então
você decidiu vir comer a nossa comida?".
Austin encolheu os ombros. "Melhor do que esperar por aqueles
dois. Eles poderiam nunca voltar ao andar de baixo”. Ele piscou para
Amelia. "Além disso, a comida de Amelia é melhor do que a do
cozinheiro”.
Alcançando a panela com feijões, Amelia bateu levemente na
mão dele. "Eu aprecio o elogio. Parece que as coisas estão melhores
entre Dallas e Dee”.
"Estranho é o que parece”, Austin disse enquanto cortava o bife.
"De que modo?", Houston perguntou.
Austin colocou o cotovelo na mesa e apontou o garfo para
Houston. "Dee lê para nós todas as noite. Dallas deveria estar
trabalhando em seu Livro Razão. Só que ele fica olhando para ela.
Então ela olha para ele e esquece o que estava lendo. Eles ficam se
olhando durante alguns minutos então Dallas diz que é hora de irem
para a cama, eles partem e eu fico sozinho me perguntando como
continua a história. Dee começou a ler Silas Marner para nós há uma
semana e ela não terminou o primeiro capítulo”.
"Você poderia começar a ler para si mesmo”, Amelia sugeriu.
"Não é a mesma coisa ouvir a história com a minha voz”. Austin
continuou a cortar o bife. "Eu só preciso ser paciente. Eu acho que as
coisas voltarão ao normal quando Dallas conseguir o filho”.
"Eu não contaria com isto”, Houston disse, encontrando o olhar
da
(*)N. da R.: Read (ler) e Redd (sobrenome) têm praticamente a
mesma pronúncia.
esposa. Ele sabia por experiência própria que quando a mulher que
um homem ama traz o filho dele ao mundo, o laço se aprofunda e fica
mais forte.
"Sr. Curtiss?".
Cordelia colocou a cabeça dentro da barraca onde Tyler Curtiss
trabalhava. Ela tinha acordado às duas da manhã com uma idéia sobre
o hotel e queria compartilhar com ele, mas ela não conseguia encontrá-
lo em lugar nenhum.
Entrando na barraca, ela decidiu esperar.
Folhas grandes de papel se esparramavam pela escrivaninha, e
ela não conseguiu evitar olhar. Ela viu os novos planos para a sede de
um jornal e para o farmacêutico. Negócios pequenos. Negócios grandes.
Eles achariam um lar em Leighton.
Movendo os documentos de lado, ela viu um desenho de um
edifício com muitos quartos grandes. Letras corajosas no topo
proclamavam que ele seria um hotel.
Afundando em uma cadeira, ela estudou o desenho. Não era o
hotel dela, e ainda assim o projeto parecia incrivelmente familiar,
lembrava a ela de Dallas. Corajoso. Ousado. Os quartos eram grandes,
projetados para conforto e não conveniência. Não era prático para uma
cidade onde muitas pessoas simplesmente estariam de passagem.
Ainda assim uma parte atraiu sua atenção, e—como ela suspeitava—
seu marido tinha sido o responsável pelo projeto.
"Sra. Leigh. Que prazer!".
Ela saltou da cadeira com um susto. "Sr. Curtiss, eu queria falar
com você”. Ela olhou de volta para o desenho. "Que hotel é esse?".
"Oh, isto”. Ele deu seu um sorriso culpado. "Hm, bem… hm”. Ele
tirou o cabelo loiro da sobrancelha.
"Dallas te pediu para fazer o projeto de um hotel, não é?".
"Sim, madame. De fato, alguns meses atrás”.
"O que você vai fazer com esse projeto agora?".
"Ele disse para que eu os ignorasse. Disse que esta cidade só
precisa de um hotel”.
"Obrigada, Sr. Curtiss”. Ela começou a sair da barraca.
"Eu pensei que você quisesse discutir algo comigo”.
Ela sorriu. "Eu acabei de perceber que eu preciso discutir sobre
isso com o meu marido primeiro”.
A vida era uma série de mudanças, e Cordelia sabia que após essa
noite sua vida iria mudar para sempre. Ela não podia mais adiar o
inevitável.
Alegria e tristeza rodeavam seu coração enquanto ela lia as
palavras finais da história e fechava o livro.
"Eu gostei da história”, Austin disse. "Qual que você vai ler
depois?".
"Eu acharei algo”, ela disse tranquilamente enquanto girava a
aliança no dedo. Ela podia sentir o olhar de Dallas fixo nela, mas ela
não conseguia se forçar a olhar para ele—não ainda.
Ela poderia ganhar tanto esta noite… e perder ainda mais.
Austin se levantou. "Acho que vou para a cama”.
"Nos vemos amanhã”, Dallas disse.
Ela escutou os passos de Austin pelo cômodo e a porta fechando.
"Você não olhou para mim a noite toda”, Dallas disse.
"Eu sei”. Ela colocou o livro de lado e ergueu o olhar para ele. "Eu
fui ver o Dr. Freeman hoje”.
Formaram-se sulcos profundos entre as sobrancelhas dele, e ele
se levantou da cadeira. "Você está doente?".
Ela sorriu incomodamente. "Não”.
Ele caminhou ao redor da escrivaninha e se ajoelhou diante dele.
"Então, o há de errado?".
Eu começarei a dormir só novamente quando eu já tinha me acostumado
a dormir com você.
"Nós finalmente tivemos sorte. Eu estou carregando uma
criança”.
Ele olhou para a barriga dela. "Você tem certeza?".
Ela passou os dedos no ventre onde a criança estava crescendo.
Ela tinha suspeitado por dois meses, mas ela queria estar certa antes de
dizer a ele, antes dar a ele esperança e tirar sua razão de ir até a cama
dela. "Seu filho deverá estar aqui na primavera”.
Ele entrelaçou os dedos nos dela juntando as mãos que se
assemelhavam a uma borboleta com as asas abertas. "Meu filho”. Ele
ergueu o olhar para ela. "Nosso filho”. Ele tocou a mão livre na
bochecha dela. "Como você está se sentindo?".
"Bem. Muito bem”. Lágrimas brotaram nos olhos dela. "A não ser
o fato de eu querer chorar o tempo todo, mas o Dr. Freeman disse que
isso é normal”.
Com o dedo polegar, ele capturou uma lágrima antes que ela
caísse do canto do olho dela. "Eu queria isto por tanto tempo, Dee, eu
não sei o que dizer. Obrigado não parecer ser o suficiente”.
"Pelo amor de Deus, não me agradeça”. Ela empurrou os ombros
dele com força, e ele caiu com o traseiro contra o chão de pedra. Ela
ficou de pé e o encarou. "Não foi por isso que você se casou comigo?
Não foi por isso que a minha família me deu para você? Eu só estou
fazendo o que eu fui trazida para cá para fazer!".
Ignorando a expressão aflita dele, ela se apressou e saiu correndo
para o quarto antes que ele pudesse ver as lágrimas que fluíam pelo
rosto dela. Ela queria dar a ele um filho, uma chance de realizar seus
sonhos, mas ela não queria sua gratidão.
Ela queria seu amor.
Um filho.
Ele iria ter um filho.
De pé no curral, Dallas sorria como um idiota enquanto os ventos
da mudança da estação o rodeavam, trazendo o tempo frio que
antecipava a chegada do outono. Quando os ventos mais mornos
chegassem na primavera, ele estaria segurando o filho nos braços.
E até lá… ele estaria dormindo sozinho.
Dee tinha deixado isso dolorosamente claro.
O sorriso diminuiu em seu rosto. Ela o tinha deixado ir para sua
cama porque ela sentia que era uma obrigação. Ele tinha começado a
pensar que ele tinha dormido lá porque ela o queria lá.
Ele tremeu quando o vento uivou e levou todo o calor de seu
corpo. Ele esperava ansiosamente pelo inverno pela primeira vez em
anos. Ele tinha imaginado acordar com Dee se aconchegando ao lado
dele, o calor que eles tinham compartilhado embaixo do cobertor
crescendo.
Ele sentia falta de tantas coisas. O modo como ela apoiava o nariz
no ombro dele. O modo como ela esfregava a sola do pé contra o pé
dele. O modo como ela cheirava antes de fazer amor com ele; O modo
como ela cheirava depois.
Um gemido veio do fundo de sua garganta.
Uma vez, ele tinha pensado que tinha apenas um sonho faltando:
ter um filho. Uma coisa triste realmente ao perceber que um homem de
sua idade tinha se conformado com um sonho pequeno quando ele
poderia ter possuído um sonho maior: ter uma mulher que ele amasse e
que desse um filho a ele.
Ele bateu o punho contra a grade do curral. Ele não precisava de
amor, mas droga, ele de repente o queria desesperadamente. Como
diabos ele poderia fazê-la amá-lo, um homem que não sabia nada sobre
ternura ou palavras suaves ou qualquer coisa sobre as gentilezas que as
mulheres precisavam?
Ele não sabia pedir. Ele só sabia mandar. Seu pai o tinha
ensinado isto.
Ele saiu do curral e caminhou lentamente de volta para casa. Ele
não tinha nenhum desejo de dormir sozinho em sua cama fria. Ele
trabalharia em seus livros durante algum tempo. Então ele montaria
fora com o rebanho, verificaria seus moinhos de vento, procuraria por
algo que ele poderia nunca achar.
Ele abriu a porta que o levava até a cozinha e parou. Dee estava
segurando um tronco em um braço, e se curvando para pegar outro.
"O que diabo você pensa que está fazendo?", ele rugiu.
"O fogo no meu quarto está quase acabando, e eu estava
escutando o vento. Eu acho que estará mais frio pela manhã”.
"Dê-me isto”, ele disse, enquanto pegava o tronco do braço dela.
Ele se abaixou e empilhou mais troncos sob o braço. "Você não precisa
ficar carregando coisas”.
"Eu não sou uma inútil”, ela disse, com as mãos sobre os quadris
estreitos.
Ele se perguntou já tinha notado o quanto ela era magra. Ele
sabia que ela era, mas ele não tinha considerado como isso poderia
afetar quando a questão era carregar o filho dele.
"Eu não disse que você era”, ele disse bruscamente à medida que
ficava de pé. "Mas eu não quero que você carregue madeira ou
qualquer outra coisa que seja pesada. Se você precisar de algo, diga-
me”.
"Você não estava aqui”.
"Então chame Austin”.
Ela parecia que não queria discutir mais, então ela simplesmente
passou por ele. Quando ela tinha ficado tão incrivelmente irritável? Ele
teria que ir ver Houston amanhã para descobrir quais outras pequenas
surpresas o aguardava nos próximos meses.
Ele a seguiu até o quarto dela. Ela se sentou na extremidade da
cama enquanto ele reacendia o fogo da lareira. Ele ficou de pé e limpou
as mãos na calça comprida. "Pronto. Eu virei em algumas horas para
checar o fogo. Não há necessidade de você sair da cama”.
"Certo”.
Ele deu uma olhada rápida para ela. As mãos estavam
descasando sobre o colo, os pés descalçados cruzados um em cima do
outro.
"Você não se deu ao trabalho de calçar um sapato enquanto
andava nesse chão de pedra frio?", ele perguntou enquanto se agachava
diante dela e colocava os pés dela sobre suas coxas. "Seus pés parecem
pedras de gelo”.
Ela empurrou o peito dos pés contra o peito dele e o jogou no
chão.
"Eles estão ótimos”, ela disse.
Ele estreitou os olhos e lentamente, deliberadamente ficou de pé.
"Entre debaixo daqueles cobertores e agora”, ele disse com um tom de
voz baixo.
Ela abriu a boca como que para protestar. Quando ele tomou um
passo ameaçador em direção à cama, ela fechou a boca e entrou debaixo
dos cobertores. Ele tirou a camisa por sobre a cabeça.
"O que você está fazendo?", ela perguntou.
Ele sentou na extremidade da cama e arrancou as botas. "Eu vou
aquecer seus pés”.
De pé, ele tirou a calça antes de deslizar pela cama dela em um
movimento rápido. "Ponha seus pés entre as minhas coxas”.
Os olhos dela se arregalaram. "Mas eles estão congelando”.
"Eu sei disto. Agora, faça isso, droga!".
Ela apertou os lábios e colocou os pés entre as coxas nuas dele.
Ele soltou uma respirou funda entre os dentes.
"Era isso que você queria?", ela perguntou, com a expressão
furiosa.
"Não, mas eu quero te aquecer”, ele respondeu, com olhar furioso
também.
Lágrimas brotaram nos olhos dela, e ela evitou o olhar dele. "Não
deveria ser assim entre a gente depois que eu te contei. Nós deveríamos
estar felizes”.
Tocando a bochecha dela, ele suavemente virou o rosto dela para
ele. "Eu estou muito feliz, Dee. Mais feliz do que eu jamais estive em
toda minha vida”.
Ela colocou a mão contra o peito dele e ele deu um pulo. "Por
Deus! Até a sua mão está gelada”. Ele tomou a outra mão dela e
apertou contra o peito, colocando as mãos por cima das dela. "Como
você pode estar tão fria?".
"Você estava do lado de fora. Como pode estar tão quente?", ela
perguntou.
"Eu tenho mais carne nos meus ossos”.
Ela passou a língua no lábio inferior. “Eu sinto muito por ter te
empurrado — no seu escritório e aqui. Eu não sei o que me deu —".
"Não importa. Eu quero um filho, Dee, mais do que eu já quis
qualquer coisa”.
"Eu sei. Eu quero dar a você esta criança. Eu desejo que ela se
pareça com você”.
Ele tocou na bochecha dela. "Eu nunca tinha pensado com quem
ele deveria parecer. Eu acho que ele não terá nenhuma escolha a não ser
ter os cabelos pretos e os olhos marrons”.
"Ele será alto”, ela disse.
"Magro”.
Ela concordou com a cabeça ligeiramente e deu a ele um sorriso
suave. "Vai demorar para ele ter um bigode”.
"Eu acho que sim”. O dedo polegar dele se movia de um lado
para outro pela bochecha dela. "Eu sei que você não quer a minha
gratidão, e eu sei que você não é uma inútil, mas eu quero cuidar de
você enquanto você está carregando meu filho”.
Ela não protestou quando ele abaixou as mãos, e alcançou a
bainha de seu vestido, e lentamente o ergueu tirando-o pela cabeça
dela. Ela não se moveu quando ele apertou a boca contra a barriga dela.
"Nosso filho está crescendo aqui”, ele disse assombrado,
perguntando-se por que ele já tinha pensado que ficaria contente em
deixar que qualquer mulher trouxesse seu filho ao mundo, por que ele
não tinha percebido que ele precisava de uma mulher que ele pudesse
respeitar e apreciar, uma mulher como Dee.
Ela passou os dedos pelo cabelo dele. Ele sentiu um nó se formar
em sua garganta e a estudou. "Eu estou muito contente por você ser a
mãe dele”.
Lágrimas vislumbravam dentro dos olhos dela. Subindo, ele a
beijou tão suavemente quanto sabia. Então ele recuou e sorriu para ela.
"Seu nariz está frio. Talvez eu tenha que dormir aqui só para te manter
aquecida”.
"Isso seria bom”.
"Se você quiser, eu fico. Eu darei a você qualquer coisa que você
queira, Dee”.
Porque ela estava carregando seu filho. O coração de Cordelia
doía com desejo o mesmo tanto que doía com alegria. O laço que os
unia seria o muro que para sempre os separaria.
Mas muros podem ser quebrados, e hoje à noite, ela queria que—
ela precisava que — ele escalasse esse muro por ela.
"Faça amor comigo. Eu sei que não existe nenhuma razão para
isso agora que eu estou carregando seu—".
Ele afagou o dedo polegar por sobre os lábios dela enquanto uma
profunda ternura enchia seus olhos. "Eu acho que pode haver mais do
que uma razão agora”.
Ele abaixou os lábios até os dela, e com um suspiro doce, ela deu
boas-vindas, ao calor, ao sabor, à gentileza da língua dele que
lentamente se precipitava em sua boca.
Toda urgência que parecia acompanhar o ato de amor anterior
deles se derreteu como a neve em uma janela quando o sol o alcança.
A meta que uma vez o tinha trazido até a cama dela era agora
uma faísca de vida que crescia dentro dela. Os seios já começavam a
ficar fartos, e logo a barriga começaria a inchar.
Com o propósito alcançado, ela acreditava que uma fenda iria se
alargar entre eles enquanto esperavam o nascimento. Ela não acreditava
que iria cair nas graças da apreciação dele.
Com ternura infinita, ele a tocou como se ela fosse um presente
raro, os dedos deslizando pela pele, tocando, provocando até que a
boca se movia para satisfazê-la.
Ela sentiu como se o corpo estivesse se tornado um líquido
morno, uma névoa de sensações giravam em sua mente enquanto ele
viajava do topo de sua cabeça e ia até a ponta dos dedões do pé. Não
importava onde sua boca tocava, ela sentia como se ele a estivesse
tocando toda.
Ela deslizava as palmas das mãos pelos ombros dele, apertava as
mãos contra as costas, passava os dedos pelos cabelos, apreciando as
texturas diferentes do corpo: o sutil pinicar dos pelos que cobriam o
peito, os músculos firmes que ondulavam quando ele se movia, a
respiração morna que deixava uma trilha pela pele dela enquanto a
boca continuava seu caminho pelo corpo dela.
Nada que eles tinham compartilhado antes a tinha preparado
para isso: a alegria final de ser querida, de se sentir estimada.
Quando ele se ergueu sobre ela e capturou seu olhar, a respiração
dela parou. Quando ele a penetrou profunda e lentamente, o corpo dela
se enrolou firmemente ao redor do dele.
Ela se moveu no ritmo exato dos movimentos dele, das estocadas
rápidas: dando, recebendo, compartilhando. O poder e força dele. A
determinação e coragem dela. A vida que eles tinham criado.
Quando uma vez ela soube que o temia, agora ela sabia que o
amava.
O corpo dela se arqueou, contra o dele, e nos olhos dele, ela viu
refletida a glória e o triunfo, e deu boas-vindas a eles como parte dela
mesma quando ele estremeceu e enterrou o rosto dentro dos cabelos
dela, a respiração dele tocando rapidamente o pescoço e ombro dela.
Letargicamente, ela se deitou e escutou a respiração profunda
dele.
Se ele a amasse tanto quanto ela o amava, ela não achava que ele
poderia dar mais a ela.
Com a criança dele crescendo dentro dela, a esperança de que um
dia ele viria a amá-la ganhava vida novamente dentro de seu coração.
Capítulo 15
Capítulo 16
Antes de ela estar completamente acordada, antes de abrir os
olhos, ela estava ciente dos dedos mornos que estavam juntos dos dela.
As pálpebras dela tremularam, e ela pôde ver Dallas sentado em uma
cadeira ao lado da cama, a cabeça escura curvada, o rosto sem barbear.
Lágrimas bloqueavam sua garganta e seus olhos queimavam. Ele
era um homem de luto. Ela usou o pouco de força que tinha para poder
apertar os dedos dele.
Repentinamente ele moveu a cabeça e se debruçou para frente.
Os olhos estavam injetados, muito vermelhos. Suavemente ele tirou o
cabelo do rosto dela. "Como você está se sentindo?", ele perguntou com
uma voz que soava tão áspera quanto uma lixa.
Ele ficou embaraçado quando as lágrimas surgiram no rosto dela.
"Nosso bebê era um menino?", ela perguntou.
Ele fechou os olhos com força e apertou os lábios contra as costas
da mão dela. Então ele abriu os olhos e manteve o olhar dela. Ela viu a
garganta dele se mover enquanto engolia em seco.
"Sim, era. Eu, hm, eu o enterrei próximo ao moinho de vento.
Eu… sempre gostei do modo como as lâminas fazem clack quando o
vento vem, e eu não sabia mais o que fazer”.
Ela desejou ter forças para se sentar na cama e envolvê-lo nos
braços, confortá-lo. As lágrimas rolaram. "Eu escutei o que o Dr.
Freeman disse—que eu não poderei ter outros filhos. Dallas, eu sinto
muito—".
"Shh. Você está bem e é isso que importa. Eu achei que iria perder
você, também”.
Nesse momento ela não achou que conseguiria amá-lo mais—
pela mentira que ele tinha falado com tanta sinceridade. Ela sabia a
verdade. Se ela morresse também, ele poderia casar de novo—com
qualquer uma das mulheres que recentemente tinham se mudado para
Leighton—e teriam o filho que ele tão desesperadamente queria.
Ele encostou-se à cadeira. "Dee, eu quero saber o que aconteceu”.
Fungando, ela enrugou a testa. "O que aconteceu?".
"Você deixou o quarto. Eu ouvi o grito—".
Ela apertou a mão, pedaços de imagens correram por sua mente.
"Oh, Dallas. Rawley”.
"Rawley?".
"O menininho. Eu ouvi uma criança chorar. Eu fui atrás do hotel,
e eu o vi apertado em um canto. Então alguém me empurrou e as caixas
caíram… Oh, Dallas, ele podia ter se machucado, também. Você o viu?".
"Eu só vi você”.
"Dallas, nós temos que achá-lo”. Ela tentou se sentar, e ele
colocou as mãos nos ombros dela.
"Você não pode sair da cama. Eu enviarei Austin para achá-lo”.
"Faça ele trazer Rawley aqui para que eu possa ver que ele está
bem”.
Rawley Cooper sabia que estava enrascado. Soube isto por dias e
sabia que mais cedo ou mais tarde seu engano o alcançaria.
Ele teria preferido mais tarde.
Ele se sentou olhando fixamente para as chamas vermelhas e
laranjas que dançavam e aqueciam o quarto. O homem que o tinha
trazido para esta casa grande estava sentado com os pés escorados na
escrivaninha, as esporas oscilando.
O homem tinha dito que seu nome era Austin. Uma vez Rawley
tinha ido para uma cidade chamada Austin. Ele achava que este
homem era muito importante já que ele tinha uma cidade com seu
nome.
Homens importantes assustavam Rawley. Eles podiam fazer
qualquer coisa que quisessem e ninguém os pararia.
Rawley quase tinha dado um salto quando Austin abriu uma
gaveta.
"Dallas tem um pouco de pastilhas de limão aqui. Você quer
uma?".
Ele estudou Austin, viu a bolsa que ele segurava na mão e a bola
amarela que ele rolava por entre os dedos. Ele se lembrou que o homem
tinha dado a ele uma sarsaparilla uma vez e que não o tinha
machucado quando ele a pegou. Mas isso tinha sido há muito tempo
atrás. Ele agitou a cabeça e voltou sua atenção para o fogo.
Ele sabia tudo sobre ganhar presentes. Mais cedo ou mais tarde,
eles sempre cobravam um preço alto.
"Você não fala muito, não é?", Austin disse.
Rawley se perguntou se ele seria absorvido pelo fogo se se
jogasse contra ele. Ele pensava nisso às vezes. Achar um caminho para
desaparecer para que ninguém pudesse tocá-lo, ninguém pudesse
machucá-lo.
"Onde está sua mãe?", Austin perguntou.
"Morta, eu acho”.
"Você não sabe?".
Rawley ergueu os ombros.
A porta se abriu. Austin tirou o pé do chão e ficou de pé. Rawley
ficou de pé, também, as pernas tremendo. Melhor enfrentar o homem
que o queria.
"Você o achou”, o homem disse.
O homem era grande. Rawley o tinha visto com uma senhora
bonita.
"Sim. O pai dele estava desmaiado na taverna. Eu disse ao
homem do bar para dizer a ele que o menino estava aqui quando
acordasse”.
"Bom”.
O homem sentou na sua cadeira na escrivaninha. Austin levantou
um quadril e se sentou no canto da escrivaninha. Rawley tentou não
parecer assustado mas ele tinha a impressão de que não estava tendo
muito sucesso.
O homem se debruçou para frente. "Você sabe quem eu sou?".
Rawley movimentou a cabeça. "Sim, senhor. Você pertence à
bonita senhora”.
Um canto do bigode do homem se ergueu enquanto ele
ligeiramente sorria. "Eu creio que sim. Meu nome é Dallas Leigh. A
bonita senhora é Sra. Leigh”. Seu sorriso depressa desapareceu,
deixando sua boca firme. "Ela foi machucada algumas noites atrás”.
O coração de Rawley começou a bater tão rápido que achou que
ele fosse sair pela boca. "Ela morreu?".
"Não, mas ela está machucada… muito. Ela disse que alguém a
empurrou. Você sabe quem a empurrou?".
Rawley agitou a cabeça depressa e virou o olhar para o chão para
que assim Dallas Leigh não pudesse ver que ele estava mentindo.
Silêncio desceu entre eles. Rawley ouviu os troncos crepitarem
enquanto as chamas os devoravam. Logo eles seriam nada além de
cinzas. Ele gostaria que algo o tornasse cinzas.
"Você gostaria de vê-la?".
Os olhos dele aumentaram rapidamente. Dallas Leigh estava
olhando para ele como se pudesse ver através dele. Ele achou que
qualquer um que mentisse para o Sr. Leigh acabaria com as costas
queimadas.
Ele indecisamente movimentou a cabeça, perguntando-se o que
custaria para ele ver a bonita senhora, desejando que ela não estivesse
muito machucada a ponto de não poder sorrir para ele. Ele adorava os
sorrisos dela. Os sorrisos que não eram como os sorrisos que a maioria
das pessoas dava a ele, sorrisos que escondiam algo feio por trás.
Sr. Leigh ficou de pé e olhou para Austin. "O Dr. Freeman está
comendo na cozinha. Leve ele para cima”.
Austin saiu do quarto. Sr. Leigh pôs uma mão nos ombros de
Rawley. Rawley recuou horrorizado.
Sr. Leigh o estudou por um minuto, os olhos marrons
penetrantes. Rawley achou que ele pudesse ver claramente através de
sua coluna vertebral.
"Siga-me”, Sr. Leigh disse e andou a passos largos e longos na
direção da porta.
Rawley teria tragado se tivesse alguma saliva, mas sua boca
estava tão seca quanto o algodão que ele tinha colhido em um verão
passado.
Ele e o Sr. Leigh seguiram pelo corredor. Ele nunca tinha visto
uma casa tão grande e nem degraus tão largos. Ele acreditou que dez
homens poderiam caminhar lado a lado por aqueles degraus sem
encostarem uns nos outros. No topo dos degraus, ele queria ter um
momento para olhar para baixo, fingir que ele era o rei do mundo, mas
ele não ousou. Ele não achava que o Sr. Leigh era um homem de
paciência e que entenderia seu desejo de olhar de cima em um mundo
que sempre o tratou com desprezo.
Sr. Leigh abriu uma porta. "Aqui”.
O coração de Rawley deu um salto. A bonita senhora sorriria
para ele, talvez segurasse sua mão, e conversasse com ele com uma voz
que ecoava tão suave quanto o vento. Ele enxugou as mãos em suas
calças curtas, não querendo que ela sentisse seu suor, e entrou no
quarto.
O coração dele quase parou.
Ele olhou ao redor do quarto, procurando por um sinal de que ele
não tinha sido enganado, mas com um conhecimento que um menino
de sua idade não deveria possuir, ele entendia muito bem a verdade de
sua situação.
Ele sabia que não deveria confiar, desejar ou querer.
Ele ouviu um andar arrastado e se virou. Um homem que
pareceu ter saído de um caixão estava de pé na entrada.
"Esse é o Dr. Freeman”, Sr. Leigh disse. "Ele vai olhar você”.
Rawley sentiu a bílis queimando na garganta. "A bonita
senhora—".
"Você pode vê-la assim que o Dr. Freeman terminar com você”.
"Ela quer que eu faça isto?", ele perguntou.
"Sim”. Sr. Leigh movimentou a cabeça ligeiramente para o
médico e pisou no corredor, fechando a porta atrás de si.
Rawley lutou contra a decepção amarga e a traição, e começou a
se imaginar em um lugar onde o sol o manteria aquecido, onde a grama
era suave embaixo de seus pés, onde a brisa sempre cheirava a flores.
Capítulo 17
LEIGH
FILHO
1881
Ela queria segurá-lo. Ela queria dar banho nele e pentear seu
cabelo e assisti-lo crescer. Ela queria que suas lágrimas molhassem seus
ombros, seu riso preenchesse seu coração.
Ela queria tudo que ela nunca poderia ter—e queria
desesperadamente.
A angústia rasgava seu peito por tudo que eles tinham perdido:
seu filho e a fundação de um amor que ele poderia ter dado a eles.
Dallas nunca a amaria agora como ela o amava.
Ela ouviu som de passos abafados, mas não conseguiu se forçar a
se virar. Ela tentou enxugar as lágrimas de suas bochechas, mas outras
vieram à
(*) N.da R.: December = dezembro.
superfície. Ela colocou os braços ao redor do corpo, tentando
segurar a dor, mas ela apenas aumentou.
Dallas colocou sua jaqueta de lã sobre os ombros dela. Os braços
a envolvendo, e ele a puxou colocando as costas dela contra seu peito.
Para seu desespero, ela soltou um gemido baixo e ele a segurou
com mais força.
"Eu nem sequer o vi”, ela disse com a voz cansada.
"Ele era tão minúsculo, é difícil de dizer… mas eu gosto de
pensar que ele seria parecido com você”.
"Dói. Deus, como dói”.
"Eu sei”, ele disse com a voz ferida.
"Nós perdemos tanto quando nós o perdemos”.
"Tudo”, ele disse baixinho. "Nós perdemos tudo”.
As palavras dele a envolveram junto com o vento.
Tudo.
Capítulo 18
Leigh querido,
Eu estou prisioneira do Sr. Cooper. Você tem até o meio-dia de amanhã
para trazer US$1.000,00 para o poço seco ao norte de onde termina seu rancho.
Vá sozinho, sem qualquer arma de fogo ou faca.
Eu não estou machucada, mas se você não seguir as ordens, ele me
matará.
Sra. Leigh
Capítulo 19
Capítulo 20
Dallas foi ficando mais quente a cada hora que passava. Quando
ele tremia, Cordelia não se atrevia a cobri-lo com cobertores. Dr.
Freeman disse a ela que as costas dele precisavam de ar. Ainda que isso
não fosse verdade, ela não achava que ele conseguiria sobreviver com
qualquer coisa o tocando.
A noite já tinha caído quando ela tinha retornado da casa dos
McQueen. Houston tinha levado Amelia e as crianças para casa. Austin
tinha cavalgado até a cidade. Rawley estava dormindo sonoramente,
nem mesmo acordou quando ela tirou as mexas de cabelo que caíam
sobre sua testa.
Ela tinha tomado seu lugar na vigília ao lado de Dallas,
colocando sua mão sobre a dele. Uma mão tão forte, com um toque tão
gentil. Um homem tão forte, com um coração tão tenro.
Ele negaria isto, claro, mas ela tinha visto evidências demais para
não reconhecer a verdade. Apesar de toda sua grosseria, ele tinha um
coração tão vasto quanto o Texas.
Ela ouviu um barulho e se virou encontrando Rawley de pé na
entrada, o cabelo preto levantado de um lado. Ela estendeu a mão.
"Venha se sentar do meu lado”.
Ele entrou apressado no quarto e parou próximo da mão dela. "Eu
não posso, senhora Dee. Eu enganei você. Ele disse que mataria a
senhora se eu não fizesse. Eu não sabia que ele ia machucar o Sr. Leigh.
Juro por Deus, eu não sabia. Eu não farei mais o que ele me disser para
fazer. Eu juro por Deus que eu o deixarei me matar antes de fazer algo
que ele diga”.
Ela o alcançou, e embora ele fizesse resistência, ela finalmente
conseguiu aninhá-lo em seus braços, e trazê-lo até seu colo. Ela
começou a embalá-lo de um lado para o outro, o coração despedaçado
pela vida que a criança tinha suportado.
"Ele não machucará você, Rawley”, ela sussurrou, afagando seus
cabelos com os dedos. "Ele foi para longe. Foi para o céu”.
Rawley se moveu, estudando-a. "Você quer dizer que ele está
morto?".
Ela não queria dizer assim tão abruptamente, e, com toda
honestidade, ela não achava que tinha ido para o céu. Embora ela não
acreditasse que Rawley tivesse qualquer afeto pelo homem, Cooper
tinha sido seu pai. "Alguém o matou”.
"Eu estou contente”, Rawley disse com veemência. "Eu estou
contente por ele estar morto, assim ele não poderá mais machucar
ninguém, não mais”.
Ela apertou o rosto dele contra seu peito e logo sentiu as lágrimas
mornas dele passarem através de sua roupa. Ela sabia que ele precisava
chorar. Embora seu pai nunca o tivesse amado, ainda assim ele tinha
sido seu pai. Da mesma maneira que ela precisava lamentar pela
família que tinha despedido nesta mesma tarde.
Ela finalmente percebeu que com exceção de Cameron, ela nunca
verdadeiramente tinha conhecido o amor, mas mesmo assim doía dizer
adeus.
Capítulo 21
Epílogo
Maio, 1884.
1
N. da R.: Houston disse heat = calor ou animal no cio.
"Oi, papai”.
"Como ela está?", ele perguntou.
"Oh, ela está bem”.
Ele olhou o quarto. Sombras de final de tarde surgiam nos cantos.
Pelo menos seu filho teve o bom senso de nascer em uma hora decente.
"Eu posso vê-la?"
"Dr. Freeman está terminando agora”.
Ela tomou o braço dele e o levou para o quarto. Ele se sentiu
desajeitado de pé ao pé da cama, assistindo sua esposa passar os dedos
em cima da cabeça do seu filho.
Dr. Freeman fechou a bolsa de couro preto com um estalido. Ele
deu a Dallas um olhar duro. "Aprecie esta criança porque você não terá
mais. Eu garanto. Eu não sei como ela conseguiu dar este a você”.
Ele saiu do quarto, Amelia o seguindo. Ela fechou a porta atrás
deles, deixando Dallas sozinho para olhar maravilhado sua esposa.
Ela lançou um olhar para ele e sorriu timidamente. Dallas
caminhou em torno da cama e se ajoelhou ao lado dela. Ele passou os
dedos em uma mexa solta de seu cabelo. "Como você está sentindo?".
"Cansada, mas feliz. Tão feliz”. Alegria iluminava seu rosto, calor
em seus olhos.
Dallas olhou para o ser minúsculo que se aconchegava dentro de
seus braços. Uma cabeça pequena, uma cara enrugada que parecia o
rosto de um homem velho e cabelo preto, muito preto. "Ele certamente
tem muito cabelo”.
Ele trocou o olhar para Dee. O sorriso dela murchou, e ela trouxe
a criança para mais perto do peito como que para protegê-la.
"O quê?", ele perguntou. "O que há de errado com ele?".
Ela correu a língua lentamente ao redor dos lábios. "Ele está bem.
Muito bem”.
Dallas estreitou o olhar. "Não, ele não está. Eu nunca vi nada de
bom quando você diz que está ‘bem’”.
Ela respirou fundo antes de revelar, "Ele é uma menina”.
"O que você quer dizer com ele é uma menina?".
Ela cuidadosamente desdobrou os lados do cobertor. "Você tem
uma filha”.
Ele olhou fixamente para as pernas delgadas, os dedões do pé
minúsculos, o peito pequeno rapidamente puxando ar e soltando.
Depressa ele cobriu a criança para impedir que ela sentisse frio. Seus
dedos inadvertidamente tocaram o punho tenso da criança. Ela abriu a
mão e firmemente envolveu um dedo de Dallas.
Ela podia também envolver seu coração.
"Eu sinto muito”, Dee disse baixinho.
"Sente?", Dallas falou rouco.
"Eu sei que você queria um filho—".
"Eu tenho um filho, e agora tenho uma filha”. Ele passou os
dedos ao longo da bochecha de Dee. "Nós temos uma filha, e ela é
bonita como a mãe”.
As lágrimas brotaram nos olhos dela enquanto ela deitava a
palma da mão contra a bochecha eriçada dele. "Eu amo tanto você”.
Inclinado sobre a filha, ele pressionou os lábios contra os de Dee,
beijando-a profundamente, dando à luz todo o amor que sentia por ela.
"Você vai me bater se eu agradecer por você ter me dado uma
filha?", ele perguntou tranquilamente.
Ela enterrou o rosto contra o pescoço dele. "Não. Eu estava com
tanto medo de que você ficaria desapontado”.
"Nada que você me dê pode me desapontar”.
Uma batida suave soou na porta antes de ela lentamente abrir.
Houston colocou a cabeça dentro do quarto. "Rawley está preocupado”.
Dee acenou com a mão. "Traga ele para dentro”.
Rawley entrou no quarto, cautelosamente se aproximando até
que ele estava de pé ao lado de Dallas.
"Ouvi você gritar”.
Estendendo o braço, Dee tomou a mão dele. "Às vezes, as coisas
machucam, mas nós recebemos coisas maravilhosas em retorno”. Ela
girou o bebê ligeiramente. "Você tem uma irmã”.
Rawley enrugou a testa. "Uma irmã?".
"O que você acha?", Dallas perguntou.
Rawley deu uma olhada rápida para cima. "Acho que ela é muito
feia”.
Dallas riu. "Dê a ela alguns anos, e você com certeza se sentirá
diferente”.
"Como você vai chamá-la?".
Dee encontrou o olhar de Dallas. “Eu estava pensando em Faith”,
ela disse tranquilamente, “para lembrar que nós nunca devíamos
perder a fé em nossos sonhos”.
FIM
Cachorro de Pradaria
Os cachorros de pradaria são pequenos roedores, um tipo de
esquilo. São denominados assim por causa do som de alarme que fazem
que se assemelha ao latido de um cachorrinho. Há cinco espécies
diferentes. São encontrados nos Estados Unidos, Canadá e México. Em
média, esses roedores crescem entre 30 e 40 centímetros e pesam entre
500 e 1.300 gramas.
Sarsaparilla
Bootjack
O BootJack, é um pequeno instrumento que ajuda na retirada das
botas. Ele é composto de uma boca em formato de 'U' que agarra o salto
da bota, e uma área chata à qual o peso deve ser aplicado. Para que
funcione, o usuário coloca o salto da bota na boca do bootjack, pisa na
base no dispositivo com outro pé, e puxa o pé livre para frente. O
processo então é repetido até que ambas as botas sejam retiradas.