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Consciência situacional- a arte do momento presente

Quem é que nunca ficou surpreendido com as capacidades quase sobre-humanas das figuras
do universo cinematográfico da espionagem, como James Bond, ou Ethan Hunt, ou até mesmo
Jason Bourne?

Como é que muitas vezes parece que estão dois ou três passos à frente dos vilões da história e
conseguem evitar as situações mais perigosas?

É a usa melhor arma de defesa e uma das melhores práticas de qualquer pessoa que deseja
preparar-se é o desenvolvimento e a manutenção de uma das habilidades mais fortes que
também você caro ouvinte poderá aprender:

A consciência situacional.

Neste episódio vamos conhecer um pouco mais sobre o que é a consciência situacional e
depois discutiremos as avaliações de ameaças em escala de paranóia e dar-lhe várias
sugestões sobre como você pode obter benefícios do exercício desta faculdade especial na sua
vida.

Existe muita informação disponível na Internet mas também existe muita informação inútil ou
mesmo exagerada, a menos que você seja um agente do SIS, das forças de segurança a
trabalhar num teatro de operações e num ambiente não permissivo, saiba que que você não
precisa de estar constantemente num estado de híper vigília e atenção plena.

A maior parte do nível de ameaça que requer a nossa atenção é sobretudo urbana.

Para a grande maioria de nós que vivemos nas grandes cidades nosso maior problema é a
criminalidade, um acidente, uma catástrofe natural ou simplesmente estar no local errado e na
hora errada, não é mesmo?

Então vamos começar este podecast e falar sobre esta capacidade importante.

A consciência situacional tem tudo a ver com prontidão e esta faculdade pode ser
desenvolvida por si.

Pode á primeira vista ser uma habilidade que parece fácil, mas na realidade requer muita
prática.

E embora esta faculdade seja ensinada num nível mais restrito a operacionais das forças de
segurança e defesa, por força da natureza do seu trabalho, é uma habilidade importante que
também podemos e devemos aprender.

Numa situação disruptiva, ao desenvolvermos esta habilidade passamos a estar cientes da


presença e do nível de uma potencial ameaça momentos antes de todos os outros.

E isso pode fazer toda a diferença.

Esta habilidade, quando bem desenvolvida, pode mantê-lo a si e à sua família seguros.

Prestar atenção ao nosso ambiente num dado momento em tempo real para que possamos
rapidamente reagir a uma potencial situação ameaçadora, evitando-a ou fazendo-a diminuir
ou neutralizar é o objetivo desta habilidade.

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Consciência situacional- a arte do momento presente

O ouvinte poderá fazer a seguinte pergunta:

Isso não será um pouco paranóico?

A resposta é: Sim e Não.

Imaginem a seguinte situação:

De um lado à esquerda imaginamos uma pessoa ingénua como por exemplo uma pessoa que
circula na via pública, num jardim ou no metro andando por aí com o rosto e pensamentos
imersos no smartphone e não presta atenção ao que está ao seu redor alheando-se dos
perigos ambientais ou situacionais.

Do outro lado temos uma pessoa paranoica, a pessoa de porte altivo, segura de si ,
constantemente a olhar para todo o lado, que se senta de costas no restaurante para poder
observar quem sai e que entra, que muitas vezes usa armas de autodefesa e extremamente
confiante nas suas capacidades de resolver as situações por qualquer via.

A minha pergunta é esta:

Em qual dos perfis você se encaixa?

No ingénuo?

Ou no paranóico?

Não tenho uma resposta cem por cento correta para si.

Há muitas circunstâncias a analisar.

A minha sugestão é que se mantenha num estádio de equilíbrio.

Ou seja, um estado que eu designo de adequadamente paranóico.

Significa que sabemos que podemos relaxar um pouco se soubermos que nos encontramos
num ambiente aparentemente calmo e seguro mas tornar-se rapidamente vigilante e
consciente se esse estado de ambiente se alterar.

A diferença está sempre diretamente relacionada ao nível de ameaça.

Avaliar potenciais ameaças é um processo deliberado por meio do qual você observa o
ambiente que o rodeia de forma analítica tentando prever o que provavelmente acontecerá
consigo caso alguma dessas situações se altere.

Felizmente sabemos que durante o decurso das nossas vidas, a grande maioria das pessoas
terá algum tipo de acidente urbano, um acidente automóvel, um problema de saúde, etc.

Ou seja, em geral na vida teremos uma maior probabilidade de nos tornarmos vítimas de um
acidente, de um alvo aleatório de crime de oportunidade do que de ser vítima de um crime
deliberado e estatisticamente falando a possibilidade é maior de ser vítima de um ataque
terrorista ou de um tiroteio são muito improváveis, mas não quer dizer que aconteça. Basta
apercebermo-nos da crescente escalada de conflito no médio oriente e as manifestações por
todo o mundo para termos uma noção do crescimento do nível de ameaça terrorista no nosso
país.

E uma vez avaliado o tipo de ameaça é altura de encontrar formas de o mitigar .

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Consciência situacional- a arte do momento presente

Deixem-me dar-vos alguns exemplos.

Como atenuamos a possibilidade de um acidente de viação?

A resposta poderia ser conduzindo defensivamente um veículo e de forma segura, usando


cinto de segurança, por exemplo.

Como atenuamos problemas de saúde auto infligidos?

A resposta poderia ser , evitando estilos de vida não saudáveis, comendo de forma saudável,
não fumando, fazendo exercício físico regular, limitando o consumo de açúcar e sendo
moderado no consumo de álcool.

Da mesma forma minimiza-se o potencial de sermos um potencial alvo de um crime


deliberado , mantendo um perfil discreto, não sendo vistoso com a sua riqueza e estilo de vida.

Assim podemos minimizar o potencial de sermos vítima de um crime de oportunidade.

Seja Inteligente.

Mantenha-se sempre consciente para onde vai, quando é que vai, mantenha um perfil discreto
preste atenção ao momento presente.

Evite colocar-se numa posição em que criminosos oportunistas possam assaltá-lo com
facilidade, quando tira dinheiro quando vai a um multibanco, que seja negligente com o seu
telemóvel e instale aplicações de origem desconhecida, que deixe a sua mala quando vai
rapidamente ao supermercado.

O crime espreita constantemente e basta que lhe dê razões e oportunidade para isso.

Mas também pode e deve ser desenvolvida por razões que não necessariamente as de defesa
e segurança pessoal.

A consciência situacional é, na verdade, apenas outra palavra para atenção plena, o que
chamamos ou em inglês com o termo Mindfulness.

Esta faculdade de desenvolver a consciência do momento presente, estando consciente do


que acontece ao nosso redor, faz-me estar mais focado e mais presente nas minhas atividades
diárias, e como consequência ajuda-me a tomar melhores decisões em todos os aspetos da
minha vida.

Como ex militar passei algum tempo a aprender e a conversar com especialistas da área sobre
a natureza da consciência situacional.

Agora, passo para si o conhecimento desta importante habilidade de preparação.

Embora a aprendizagem incida principalmente no desenvolvimento da nossa consciência


situacional para prevenir ou sobreviver a um evento violento, os princípios referidos neste
podcaste também o poderão ajudar a aperfeiçoar os seus poderes de observação e análise em
todas as áreas da sua vida.

Neste terceiro episódio do Podecaste prepara-te vamos aprender como desenvolver a nossa
consciência situacional e estar preparados para reagir face ao desconhecido.

Mas primeiro, caro ouvinte, quero que tenha noção de uma coisa.

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Consciência situacional- a arte do momento presente

A nossa incapacidade de prestarmos atenção a tudo ao mesmo tempo torna impossível


obtermos uma consciência situacional completa.

A mente humana só consegue lidar com um determinado número de informações num


determinado momento.

Assim, no domínio da segurança pessoal, onde as coisas se desenrolam rapidamente e os


segundos são muitas vezes a diferença entre a vida e a morte, a forma para onde e como
dirigimos a nossa atenção é fundamental.

Portanto, precisamos nos concentrar em algumas coisas de cada vez e que proporcionem o
melhor resultado possível.

E fazemos isso, caro ouvinte, confiando numa perspetiva heurística para a análise das
situações de risco e potenciais ameaças.

As heurísticas é um processo de atalhos mentais rápidos que usamos para a resolução de


problemas e para descobrir e tomar decisões quando as informações disponíveis são mínimas
e o nosso tempo é limitado.

As decisões tomadas a partir da heurística nem sempre são perfeitas, mas no contexto da sua
segurança pessoal, geralmente são boas o suficiente para decidirmos de forma sábia e eficaz.

Hoje discutiremos os princípios gerais para aumentar as nossas habilidades de observação e,


em seguida, falaremos no uso da consciência situacional para responder a essas questões
importantes.

Mas antes disso caro ouvinte vamos conhecer o ciclo de tomada de decisões rápidas e gestão
de riscos.

O ciclo OODA, a base sobre o qual se cria a consciência situacional.

OODA é uma abreviatura em Inglês que significa Observa,

Orienta,

Decide

E Atua.

O sistema de decisões rápidas OODA é um sistema de aprendizagem e processo de tomada de


decisão militar que foi estabelecido pela primeira vez nos anos 70 pelo piloto de caça e
estratega militar da Força Aérea norte americana, o coronel John Boyd.

Ainda que originalmente fosse idealizado numa perspetiva militar, o coronel Boyd baseou-se
em três princípios filosóficos e científicos para demonstrar que as incertezas e ambiguidades
das nossa vidas estão muitas vezes inseridas na realidade humana – tanto externamente no
ambiente que nos rodeia, quanto internamente.

O coronel Boyd afirmava o seguinte, e passo a citar:

“Para vencer, devemos conseguir operar num tempo ou ritmo mais rápido do que nossos
‘inimigos’ ”.

“E que tal atividade nos fará parecer imprevisíveis, gerando confusão e desordem no inimigo,
explicou o coronel.”

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Consciência situacional- a arte do momento presente

Os três importantes princípios referidos pelo coronel do exército norte-americano são:

Os Teoremas da incompletude de Gódel:

De forma resumida, estes teoremas provam que algumas coisas na matemática nunca poderão
ser comprovadas.

E que deste modo, qualquer modelo lógico da realidade é incompleto (e possivelmente


inconsistente) e deve ser continuamente refinado e adaptado constantemente, quando nos
deparamos com novas observações.

O princípio da incerteza de Heisenberg

Esse princípio mostra que não podemos fixar ou determinar simultaneamente a velocidade e
a posição de uma partícula ou corpo.

Ao aplicarmos esse princípio, o coronel deduziu que, mesmo quando é possível obtermos
observações mais precisas sobre um domínio específico, provavelmente podemos sentir ainda
mais incerteza sobre outros.

Conclui assim que há uma limitação na capacidade em observarmos a realidade com precisão,
pois é empírica, ou seja, baseada nos nossos sentidos – e isso é uma limitação humana.

E por último, a 2ª Lei da Termodinâmica.

Ao aplicarmos este princípio na resolução de problemas e tomada de decisões, Boyd infere a


necessidade de nos comunicarmos com o mundo que nos rodeia e não agirmos como um
“sistema fechado”.

Na termodinâmica há um fenómeno designado por entropia, associada ao grau de “desordem”


ou “aleatoriedade” de um sistema.

E esse efeito pode atingir muitas pessoas, desde gestores de empresas a decisores políticos,
médicos a forças de segurança ou qualquer outra pessoa no seu dia a dia quando confrontada
com uma tomada de decisão.

As quatro etapas do ciclo OODA são:

Primeiro, observar.

Refere-se á observação do contexto em que estamos inseridos.

A observação depende do ponto onde a pessoa se encontra num dado momento e também
em que contexto ela se encontra.

O objetivo, porém, é um só: termos uma visão ampla do que nos rodeia.

Segundo, orientar.

Ou seja, orientarmo-nos em relação às opções disponíveis para a solução de um dado


problema. Após fazer o levantamento da situação ambiental é hora de pensarmos em
possíveis soluções.

Para isso devemos basear a nossa informação em factos e informações verídicas.

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Consciência situacional- a arte do momento presente

A fase de experimentação e testes das ideias ou propostas provisórias e possíveis soluções


encontram-se nesta segunda etapa, para ajudar á tomada do processo de decisão.

Terceiro, decidir.

Decidir qual será a solução mais adequada para a resolução do problema.

No final da fase de experimentações, é hora de decidirmos qual é o melhor caminho a ser


seguir na resolução do problema.

E caso a etapa anterior tenha gerado mais de uma solução possível, devemos comparar qual
poderá ser a mais adequada.

Além disso, e dependendo do contexto, é possível que mais de uma ação seja possível e
poderão muitas vezes acabar por atuar ambas em conjunto.

E por último, agir.

É hora de efetivamente agir de forma rápida e eficaz, aplicando as soluções que foram
decididas na etapa anterior, pois nesta fase encontramo-nos na posse da melhor informação
possível nesse dado momento, e em que possíveis falhas ou imprevistos já foram detetadas e
corrigidas, possibilitando que possamos agir de forma rápida e direta sobre o problema.

E como é uma metodologia não-linear, este ciclo não termina por aqui.

Numa situação, ao observarmos o desempenho da solução empregada, devemos também


possuir a capacidade de reunir os dados e informações dos resultados gerados,
acompanharmos o desenvolvimento dos acontecimentos e estarmos aptos para gerar uma
nova tomada de decisão, retomando desta forma um novo ciclo de tomada de consciência.

A primeira lição sobre a consciência situacional:

Mantenha o controle da área ao seu redor – o que se encontra diante de nós, e atrás de nós,
sabendo o que está acontecendo examinando seu ambiente.

E dependendo do contexto em que se encontra, existe também um propósito que deve


procurar, para manter esse estado de vigília constante.

E para isso, caro ouvinte, também deve sempre fazer as seguintes perguntas:

O que procuro exatamente? Como posso saber se estou a prestar atenção às coisas certas?

Quais são os comportamentos ou sinais de alerta de uma ameaça iminente que eu deva
conhecer?

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