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São Paulo, 19 de julho de 2023.

SBN 83/2023

NOTA TÉCNICA SOBRE O USO DE CÂNULAS DE BLOQUEIOS

A Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) vem por meio deste trazer a opinião colegiada da
sociedade de especializada com prerrogativa para emitir nota técnica e disciplinar a prescrição deste
material. Muitos hospitais têm negado o uso de cânulas para bloqueio para infusão de fármacos como
ferramenta no tratamento da dor osteoarticular por “excesso de consumo” ou que não há evidência na
literatura conclusivas para sua indicação. Os planos de saúde têm indicando a agulha de raquianestesia
como sua substituta das cânulas a fim de reduzir custos.

Sabemos que as cânulas específicas para bloqueios apresentam em sua ponta ativa a capacidade
de estímulo sensitivo e motor com a finalidade de localizar um nervo e, em seguida bloqueá-lo por aplicação
de solução anestésica local (injeção de fármaco) pelo mesmo canal/luz da cânula. A estimulação elétrica é
utilizada para permitir a localização precisa, detectando o alvo, reduzindo os riscos de uso e/ou bloqueio
inadequado ou até mesmo lesão de nervo. As cânulas são descartáveis e de uso único de utilização como
preconiza a Agência Nacional de Saúde (ANS).

É amplamente conhecido que o uso de cânulas específicas para infiltrações facetaria e foraminal da
coluna e outras articulações tem vantagens específicas sobre as agulhas de raquianestesia sugeridas pelos
planos como substituto:
a) Maior precisão no alvo: as cânulas possuem sistema que permitem realizar teste sensitivo e motor
b) A cânula de bloqueio é radiopaca: a cânula é facilmente visível na no Raio x promovendo uma
melhor precisão para alcançar o alvo.
c) Maior resistência do material do que agulhas convencionais e de raquianestesia: isso evita que
agulha se quebre dentro do paciente ao encontrar resistência óssea

Muitos equipamentos para o procedimento têm evoluído para realizar até 4


bloqueios/radiofrequências simultaneamente. Isso, visa a realização mais rápida do procedimento,
principalmente quando deve ser realizado em diversos níveis diferentes da coluna. Reduz, assim o tempo

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de sedação, custos associados ao maior tempo de sala cirúrgica, mas principalmente o incomodo do
paciente durante o procedimento. Logo, muitas vezes é necessário mais de uma unidade para realização do
tratamento adequado. Além disso, conforme Consulta n° 1934/2010 – CREMESC: “ANVISA na RDC n° 156
e na RE n° de 2605 ambas de 11 de agosto de 2006, pelo risco que expõe o paciente e submete o médico
nos parece ser ilegal, antiética e irresponsável. Na literatura existem artigos que consideram a reutilização
expõe o paciente a transmissão de doenças, mostra que a estética da lâmina está visivelmente alterada
após a primeira utilização, e á análise química foram detectados inúmeros elementos como colágeno,
hidroxiapatita e alguns tipos de sais como carbonato de Cálcio nos materiais reesterelizados...”, então a
reutilização de uma única agulha para diversos níveis não é recomendada.

Uma das opções ofertadas, a agulha de raquianestesia, como o próprio nome diz é para ser usada
na coluna para aplicação de anestesia peridural ou subdural ou coleta de líquor e conhecida como agulha
de uso hospitalar, e vem sendo apresentada pelas operadoras como alternativa as agulhas especificas e
indicadas pelos seus fabricantes e pela ANVISA, para serem utilizadas nos procedimentos de infiltração e
denervação facetaria, na coluna vertebral.

Porém, em nenhuma hipótese as agulhas de uso hospitalar devem ser utilizadas para este fim, pelo
risco que trazerem dano aos pacientes. Isto é comprovado pela bula do fabricante e seu posterior registro
na ANVISA. As bulas dos fabricantes informam que: “O uso é para raquianestesia e em caso de
resistência óssea, retirar a agulha imediatamente, pelo risco de entortar, quebrar e que parte da
agulha fique dentro do paciente.”

O procedimento de infiltração facetaria na coluna é realizado colocando-se a medicação dentro da


articulação facetaria ou no ramo lateral de Luska, a qual sempre apresenta resistência, pois se trata de
superfície óssea (resistência óssea). A BULA ANVISA do produto, feita pelo fabricante, recomenda que seja
retirada a agulha a qualquer sinal de resistência óssea. Logo, a agulha de raquianestesia é inadequada para
os procedimentos.

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Exemplo de Manual da Agulha de Raquianestesia:
https://consultas.anvisa.gov.br/#/saude/250000224649948/?nomeProduto=AGULHA%20SPINAL%20RAQ
UI%20DESCARTAVEL%20UNIEVER%20UNISIS:~:text=IFU%20AGULHA%20SPINAL,a%20legisla%C3%
A7%C3%A3o%20vigente.
A afirmação que os procedimentos não possuem evidencias na literatura também é equivocada, já
que temos muitos trabalhos a favor de seu uso, assim como experiencias de diversos profissionais pelo
Brasil. A infiltração foraminal ou facetaria ou articular é realizado com anestésico local e/ou corticoide nas
articulações ou intradiscais da coluna vertebral e forames no tratamento das dores axiais ou radiculares de
coluna vertebral(1-3). Pode ser utilizado em casos emergenciais em que a dor não alivia com medicações
habituais realizadas no pronto-atendimento (4-6). Se a resposta inicial ao bloqueio for favorável, mas de
curta duração, é recomendada uma série de injeções (3-6 vezes por ano) ou ablação pulsada por
radiofrequência do gânglio da raiz dorsal correspondente. O intervalo para o bloqueio sequencial varia de
dias a semanas para a série de procedimentos(5).

Injeções para a infiltração podem controlar a inflamação e estabilizar a atividade neural nociceptiva
sensibilizada devido às muitas fontes diferentes de dor originadas na coluna vertebral(6). O objetivo
terapêutico é aliviar a dor e melhorar a qualidade de vida, fornecer um rápido retorno para o funcionamento
físico e trabalho, restaurar a capacidade de realizar atividades da vida diária, permitir a participação em
atividades de recreação.
É indicado para os pacientes que necessitem de tratamento não cirúrgico da dor radicular não-
traumática ou traumática espondilótica, dor radicular de cicatrização pós-operatória, dor radicular quando
uma lesão passível de correção cirúrgica não pode ser encontrada, dor radicular quando uma urgente
cirurgia ou não é indicada ou é contraindicada por condições médicas, neuralgia pós-herpética, estenose
espinhal, especialmente na estenose foraminal sintomática, dor discogênica, dor nas costas no pós-
operatório quando as considerações anatômicas tornam inviável uma abordagem translaminar(7-9).

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Outro procedimento associado com as agulhas/cânulas é a rizotomia por radiofrequência. Porém,
especificamente para os casos de rizotomia por radiofrequência já temos regulamentação pela DUT 62 do
Rol da ANS anexo II.

Lembramos ainda que conforme a Resolução CFM No 2.318/2022 que disciplina a prescrição de
materiais, a escolha das características técnicas do material a ser utilizado para cada procedimento é
prerrogativa única e exclusiva do médico assistente, e este material deve ser compatível com seu
treinamento. Contudo, o médico assistente não poderá exigir marca ou empresa específica, dando 03 opções
às operadoras. Ainda conforme a mesma resolução, o médico não pode renunciar à sua liberdade
profissional, evitando quaisquer restrições ou imposições que prejudiquem o tratamento de seu paciente.

Concluindo, podemos perceber que não há critérios técnicos-cientifico ou base Legal Médica
justificável para a suspensão do uso das cânulas de bloqueio no tratamento da dor. Elas têm sua indicação
especifica para a realização dos procedimentos corretamente, e coagir médicos para uso de agulhas de
raquianestesia para este fim pode submeter o paciente a riscos desnecessários, conforme consta na Bula
ANVISA deste um material. Os pacientes que sofrerem danos por conta de uso inadequado de agulhas de
raquianestesia no lugar das cânulas de bloqueio específicas poderão acionar juridicamente tanto o
médico assistente que aceitou realizar o uso off-label da agulha de raquianestesia quanto o plano de
saúde que forçar a indicação deste material para fins diferentes dos descritos na BULA ANVISA.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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ciática pela hérnia discal lombar: um estudo prospectivo, controlado, randomizado e duplo-cego. Programa
de Iniciação Científica-PIC/UniCEUB-Relatórios de Pesquisa. 2019.
2. Filippiadis DK, Kelekis A. A review of percutaneous techniques for low back pain and neuralgia: current
trends in epidural infiltrations, intervertebral disk and facet joint therapies. The British journal of radiology.
2016;89(1057):20150357.
3. Perolat R, Kastler A, Nicot B, Pellat J-M, Tahon F, Attye A, et al. Facet joint syndrome: from diagnosis
to interventional management. Insights into imaging. 2018;9(5):773-89.
4. Burns BD. An evidence-based approach to the evaluation and treatment of low back pain in the
emergency department. Emergency medicine practice. 2013;2.
5. Won H-S, Yang M, Kim Y-D. Facet joint injections for management of low back pain: a clinically
focused review. Anesthesia & Pain Medicine. 2020;15(1):8-18.

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6. DePalma MJ, Bhargava A, Slipman CW. A critical appraisal of the evidence for selective nerve root
injection in the treatment of lumbosacral radiculopathy. Archives of physical medicine and rehabilitation.
2005;86(7):1477-83.
7. Slipman CW, Lipetz JS, DePalma MJ, Jackson HB. Therapeutic selective nerve root block in the
nonsurgical treatment of traumatically induced cervical spondylotic radicular pain. American journal of
physical medicine & rehabilitation. 2004;83(6):446-54.
8. Gajraj NM. Selective nerve root blocks for low back pain and radiculopathy. Regional Anesthesia &
Pain Medicine. 2004;29(3):243-56.
9. Rathmell JP, Aprill C, Bogduk N, Weiskopf RB. Cervical transforaminal injection of steroids. The
Journal of the American Society of Anesthesiologists. 2004;100(6):1595-600.
10. Schaerer J. Radiofrequency facet rhizotomy in the treatment of chronic neck and low back pain.
International Surgery. 1978;63(6):53-9.
11. Bogduk N. Evidence-informed management of chronic low back pain with facet injections and
radiofrequency neurotomy. The Spine Journal. 2008;8(1):56-64.
12. Savitz M. Percutaneous radiofrequency rhizotomy of the lumbar facets: ten years' experience. The
Mount Sinai Journal of Medicine, New York. 1991;58(2):177-8.
13. Pope JE. 15 Complications of Radiofrequency Rhizotomy for Facet Syndrome. Reducing Risks and
Complications of Interventional Pain Procedures: Volume 5: A Volume in the Interventional and
Neuromodulatory Techniques for Pain Management Series; Expert Consult Online and Print. 2012:126.
14. Bogduk N, Dreyfuss P, Govind J. A narrative review of lumbar medial branch neurotomy for the
treatment of back pain. Pain Medicine. 2009;10(6):1035-45.
15. Maas ET, Ostelo RW, Niemisto L, Jousimaa J, Hurri H, Malmivaara A, et al. Radiofrequency
denervation for chronic low back pain. Cochrane Database of Systematic Reviews. 2015(10).
16. Niemisto L, Kalso EA, Malmivaara A, Seitsalo S, Hurri H, Back C, et al. Radiofrequency denervation
for neck and back pain. Cochrane Database of Systematic Reviews. 1996;2010(3).
17. Kapural L, Mekhail N. Radiofrequency ablation for chronic pain control. Current Pain and Headache
Reports. 2001;5:517-25.
18. McDonald GJ, Lord SM, Bogduk N. Long-term follow-up of patients treated with cervical
radiofrequency neurotomy for chronic neck pain. Neurosurgery. 1999;45(1):61.

Atenciosamente,

Dr. Wuilker Knoner Campos Dr. Ítalo Capraro Suriano Dr. Rodrigo A. Rocha da Cruz Adry
Presidente da SBN Secretário Geral da SBN Com.Especial de Auditoria e Pericias Médicas da SBN
Gestão 2023-2024 Gestão 2023-2024 Gestão 2023-2024

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