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BRASIL

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ASPECTOS MILITARES DAS ENTRADAS OU


BANDEIRAS

Uma organização militar a serviço do Brasil.

O século XVII assinalou a exploração e o conhecimento do interior, através do amplo movimento de


entradas sertão adentro. Por se organizarem em companhias ou bandeiras – modalidades que
foram introduzidas no Brasil no século XVI, conforme se viu anteriormente–, esses
empreendimentos acabaram por ficar mais conhecidos pelo nome de bandeiras, e de bandeirantes
os seus componentes.
Foi sobretudo graças a eles que o país conquistou e conservou, em
linhas gerais, a forma atual do seu território. Caso se mantivesse dentro
das fronteiras demarcadas no século XVI, o Brasil terminaria hoje, na
hipótese mais favorável, às margens do rio Paranapanema.
Os bandeirantes colheram informações valiosas sobre a geografia do
interior, principalmente das grandes bacias do Amazonas e do Prata.
Pôde assim Portugal ter uma idéia da configuração geral do Brasil, para
orientar sua política de limites.
Fundaram também vários povoados, alguns dos quais conservam a
denominação original, seja de inspiração indígena ou cristã.
No Centro-Oeste e no Sul, os paulistas, de armas na mão, barraram o avanço da colonização
espanhola que tinha suas bases no Paraguai e no Peru. Ao norte foram vencidos os estrangeiros
que tentavam levantar fortificações no baixo Amazonas.
Os sertanistas consolidaram a integridade da comunidade brasileira, com sua língua comum, com
seus usos e costumes, com a mesma organização administrativa e também com os mesmos
sentimentos a valores da tradição cristã. Lançaram as sementes de uma formação democrática
brasileira, aprendendo nas duras campanhas o quanto valem a solidariedade e a tolerância entre
grupos diversos. As alianças e a intensa miscigenação com os indígenas contornaram divergências
e preconceitos raciais, desde o início, num grau raramente observado em qualquer outra civilização
do ciclo moderno.
Foi por esses fatores que, ao contrário do que aconteceu na América espanhola, o Brasil, ao
desligar-se politicamente da antiga Metrópole, conservou sua integridade territorial.
As primeiras entradas.

Aleixo Garcia, marinheiro português a serviço da Espanha, participou da


armada de João Dias de Solis. Tomando conhecimento das riquezas do
interior, organizou uma expedição (1516-1526) que alcançou os rios Paraná
e Paraguai, atravessou o Chaco e foi até o Peru, onde entrou em contato
com os incas. Regressando, carregado de ouro e de prata, morreu às
margens do rio Paraguai, vítima dos terríveis índios paiaguás.
Em 1531 partiu da Guanabara pequena expedição enviada por Martim
Afonso de Souza, a qual, em dois meses, percorreu 260 léguas. Ainda
naquele ano, foi mandada por esse chefe militar outra expedição sob o
comando de Pero Lobo, que saiu de Cananéia com 80 homens, entre arcabuzeiros e besteiros, na
direção sudoeste. Nenhum sobrevivente retornou.
Desde 1538 diversos exploradores partiam de Porto Seguro procurando esmeraldas. Tomé de
Souza despachou duas entradas, uma em 1550, outra em 1554. A primeira malogrou logo de início.
A segunda, sob o comando do espanhol Francisco Bruza de Espinoza, chegou à região da atual
cidade de Diamantina. Em 1561, Vasco Rodrigues Caldas atingiu a Chapada do mesmo nome. Sete
anos depois Martim Carvalho seguiu até a serra de Itacambira, percorrendo 1.300 quilômetros.
Em 1561 houve em São Paulo uma entrada em que tomou parte, como intérprete, José de
Anchieta. João Ramalho, em 1562, investiu violentamente contra os índios do vale do Paraíba que
ameaçavam atacar a vila de São Paulo. O Capitão Jerônimo Leitão comandou em 1585 uma entrada
contra os carijós, alcançando Paranaguá.
A expedição que em 1578, sob as ordens de Francisco Barbosa da Silva, rumou para o São
Francisco, foi destroçada em Pernambuco. Por esse tempo, Belchior Dias Moreya, neto de
Caramuru, percorreu durante oito anos o sertão de Sergipe, em busca de minerais. Diogo Martins
Cão, em 1596, esquadrinhou a serra das Esmeraldas, no Espírito Santo, nada encontrando de valor.
Por volta de 1574-75, Cristóvão de Barros derrotou os tamoios de Cabo Frio.
Ao terminar o século XVI, o domínio português no litoral ia das muralhas do Forte dos Reis Magos,
no Rio Grande do Norte, até Cananéia. Pelo interior, os paulistas dominavam os vales do Paraíba e
do Tietê e a região que se estendia da serra da Mantiqueira até o Paranapanema.

Aspectos militares das entradas no Sul.

Em seu trabalho de catequese, os jesuítas concentravam os índios nas reduções, onde os silvícolas
ficavam aldeados ou reduzidos. Dentro destes padrões, introduzidos pelo padre Roque González
de Santa Cruz, foram organizadas as províncias jesuíticas do Guaíra, no atual Estado do Paraná, e
do Tape, no atual Rio Grande do Sul. Mas, se o sistema facilitava a catequese e a aculturação do
índio, por outro lado tornava-o presa fácil dos assaltos dos bandeirantes, em virtude de haver
perdido sua capacidade natural de defesa, baseada na mobilidade e dispersão.
Por isso, os bandeirantes paulistas, não tendo encontrado ainda ouro e havendo necessidade de
escravos cuja fonte achava-se interrompida por causa da dominação holandesa em Pernambuco,
assaltavam as missões onde encontravam índios já dóceis para serem vendidos no litoral como
escravos.
Destruição do Guaíra.

A partir de 1607, entradistas de São Paulo começaram a apresar índios em terras atualmente
paranaenses. A grande expedição de Lázaro da Costa em 1615 percorreu os sertões do Sul,
principalmente de Santa Catarina. A tomada da Bahia pelos holandeses em 1624 levou vários
sertanistas em socorro à área ameaçada.
Entre 1628 e 1638, Antônio Raposo Tavares, um dos mais notáveis bandeirantes, avançou com
grande número de mamelucos e índios para o Sul; a expedição tinha 69 oficiais qualificados para
comando, 900 mamelucos e 2 mil índios auxiliares. O atual território paranaense constituía a
província jesuítica espanhola do Guairá, habitada por cerca de 300 mil índios pacificados,
distribuídos em 13 povoações.
Os bandeirantes aprisionaram muitos índios e destruíram várias povoações. Outras foram
abandonadas pelos silvícolas em pânico. Em 1629 a expedição regressou a São Paulo, conduzindo
de 8 a 9 mil índios cativos. Em 1631, Raposo Tavares preparou-se para a segunda fase do seu
avanço; no entanto, os jesuítas decidiram deslocar-se para o Sul, conduzindo 12 mil índios de suas
povoações. A retirada, muito às pressas, fez-se pelo Paraná abaixo, em 700 balsas e muitas canoas.
No salto das Sete Quedas perderam-se 300 canoas, despedaçadas nas pedras. Dali para o Rio
Grande do Sul a expedição seguiu a pé, perecendo milhares de índios.
Por intervenção do Bispo do Paraguai junto aos bandeirantes, deslocaram-se em ordem, para
aquele país, cerca de 4.500 pessoas, entre brancos e índios. Em 1632 os bandeirantes arrasaram
Villa Rica e Ciudad Real, completando a conquista do Guaíra, que era uma enorme área delimitada
pelos rios Paranapanema, Tibagi, Paraná e Iguaçu.
Para essa conquista os paulistas empregaram como principal força de choque os tupis aliados,
muitos dos quais prisioneiros feitos em campanhas anteriores.

Destruição do Tape.

Procedente da Redução de Santo Inácio Guaçu, situada na forquilha Tibicuari-Paraná, o padre


Roque González de Santa Cruz atravessou o rio Uruguai e, a 3 de maio de 1626, lançou os
fundamentos de São Nicolau do Piratini, primeira redução jesuítico-espanhola em terras rio-
grandenses. A esta seguiram-se, entre 1626 e 1633, mais 19
reduções que concentravam vários milhares de índios aldeados e
constituíam a província do Tape.
Em 1635 uma grande expedição seguiu de São Paulo, por mar, até
Laguna; dali avançou para o Rio Grande, comandada por Francisco
Rendon e João Raposo Bocarro, com 200 brancos e muitos índios
aliados. No ano seguinte partiu para atacar o Tape, como era
conhecido o grande conjunto de povoações jesuíticas no atual Rio Grande do Sul, a grande
expedição de Antônio Raposo Tavares, com 120 paulistanos e mais de mil tupis aliados. Gastou 10
meses no percurso, porque ia atacando as tribos que encontrava, fazendo prisioneiros e
engrossando as fileiras com muitos novos aliados. Investiu contra as povoações do Tape,
comandando verdadeiras multidões de índios amigos, e voltou a São Paulo com grande quantidade
de prisioneiros.
Em 1637 saiu de São Paulo para o Tape a expedição de Francisco Bueno, causando tanta destruição
que obrigou os jesuítas a abandonar todas as suas povoações no local, exceto as do Ibicuí, ainda
não atacadas pelos paulistas. As últimas povoações da província do Tape foram destruídas em 1638
por Fernão Dias Paes Leme, que devastou o vale do Ibicuí. Outras expedições seguiram para o Rio
Grande.
O historiador Alfredo Ellis Júnior assinala no sertão rio-grandense, mais ou menos na mesma
época, duas bandeiras paulistas: a de Domingos Cordeiro e a de Jerônimo Pedroso de Barros. A
primeira foi destruída em Caasapaguaçu em 1639; a segunda, penetrando pela margem direita do
Uruguai, sofreria a dura derrota de Mbororé, a 11 de março de 1641, frente aos comandados do
morubixaba Inácio Abiaru. O episódio assinalou o surgimento do índio militarmente organizado,
adestrado no manejo de armas de fogo.
Os paulistas reapareceram no rumo sul somente 10 anos depois, em 1651, comandados por
Domingos Barbosa Calheiros. Organizavam-se em várias colunas e tinham objetivos ambiciosos:
pretendiam alcançar a região de Buenos Aires. Foram repelidos, embora tivessem chegado até
perto de Corrientes.
Aspectos militares das entradas no Centro-Oeste.

Outro importante grupo de povoações jesuítico-espanhola foi o de Itatim, na parte meridional do


atual estado do Mato Grosso do Sul. Seus aldeamentos são
contemporâneos das reduções do Guaíra e, de certa forma, faziam
parte do mesmo cordão de povoações cuja finalidade parece ter
sido a de conter a expansão luso-brasileira, impedindo-a de
ultrapassar o meridiano de Tordesilhas. A configuração de uma
"Ilha-Brasil", expressão muito do agrado de autoridades e cronistas
castelhanos da época, sugere o intuito de impor limites geográficos
à colônia portuguesa.
Assim, na região Apa-Miranda, desde anos anteriores aos assaltos dos bandeirantes ao Guaíra, já
eram assinaladas as instalações de Torém, Mboyboy, Terecani, Maracaju, Caaguaçu, Atirá e Nossa
Senhora da Fé, além de Ipané e Santo Inácio, estas duas ao sul do Apa. O pólo destes núcleos era
Santiago de Jerez, burgo fundado por Diaz Melgarejo em 1580.
Com a destruição de Guaíra, as posições jesuíticas refluíram para Tape e Itatim; neste último local
ajudaram a intensificar as reduções, ao longo do rio Paraguai, no trecho Miranda-Apa. O burgo de
Santiaqo de Jerez tinha então importância estratégica. Não era redução, mas sede de autoridade e
local de moradia de civilizados; sua posição à margem do Mbotey (rio Miranda) barrava o acesso
fluvial ao Paraguai, ao mesmo tempo que flanqueava a serra do Amambaí, caminho natural para o
norte, na direção da atual Cuiabá.
Localizados na rota para o Peru – o fascinante El Dorado – ardentemente cobiçado pelos paulistas,
vinham os redutos de Itatim, que foram alcançados pelas bandeiras a partir de 1622, ano em que
ali morreu Antônio Castanho da Silva. Outros ataques ocorreram em 1632, quando foi destruída a
localidade de Santiago de Jerez. Seguiu-se a ofensiva das bandeiras de Jerônimo Bueno e Jerônimo
da Veiga, aniquilando as reduções localizadas no vale do Paraguai.
Foi a bandeira de Francisco Pedroso Xavier que em 1636, após incursionar vitoriosamente pela
província jesuítica do Paraná, derrotou na serra de Maracaju as tropas comandadas por D. Juan
Diaz de Andino, Governador de Assunção, consolidando dessa forma o nosso domínio na vertente
do Paraguai.
A 8 de setembro, nova bandeira atacou a redução de Nossa Senhora da Fé de Taré. Batidos, índios
e padres retiraram-se para o Apa, indo reorganizar-se na redução de Mboyboy. Nesse local foi
surpreendê-los no ano seguinte (10 de novembro de 1648) a bandeira de Antônio Pereira de
Azevedo, participante da expedição que, articulada em dois escalões, Raposo Tavares conduziu ao
Peru pela rota de Aleixo Garcia.
Tendo perdido a maior parte do efetivo, o sertanista, acompanhado de uns 60 brancos e de alguns
índios, subiu os rios Paraguai, Guaporé, Mamoré e Madeira, alcançou o Amazonas, desceu até
Gurupá, de onde retornou a São Paulo, gastando três anos neste percurso.
Por volta de 1680-90, os bandeirantes mantinham um campo entrincheirado nas margens do rio
Miranda, na região de Santiago de Jerez. Esta posição fortificada poderia barrar uma eventual
penetração espanhola para o norte, ao mesmo tempo que permitia a ligação de São Paulo com
Mato Grosso.
Em 1691 a grande bandeira de Campos Bicudo, saindo de São Paulo, conseguiu aprisionar 1.500
índios da redução de Chiquitos, na Bolívia, ao norte de Santa Cruz de la Sierra. Decorridos cinco
anos, bandeirantes paulistas voltaram a percorrer aquela região boliviana. Em fins do século XVII,
duas entradas procedentes de São Paulo vasculharam as margens do rio Iguatemi e a serra de
Maracaju, procurando minas de prata.
Finalmente, em 1718, Pascoal Moreira Cabral Leme descobriu ouro no local onde hoje está Cuiabá,
para onde seguiram, imediatamente, multidões vindas de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Em 1734 encontraram-se novas minas à margem do Guaporé, na região da cidade de Mato Grosso.
Em 1748 criou-se a Capitania de Mato Grosso, desligada da de São Paulo.
Importantíssimos, do ponto de vista político-militar, foram os resultados das conquistas guerreiras
dos bandeirantes no Centro-Oeste, porque:
• A eliminação das reduções jesuíticas de Guaíra abriu caminho à fixação do uti possidetis
(direito de posse pelo tempo de ocupação territorial) luso-brasileiro na vertente do Paraná;
• A conquista de Santiago de Jerez e a posterior destruição dos redutos de Itatim não só
entregaram ao Brasil a riquíssima vacaria mato-grossense como, permitindo ao luso-
brasileiro o domínio sobre a via fluvial – curso do médio Paraguai – possibilitaram a expansão
ao sul e ao norte de Mato Grosso.
Bandeirantes no Centro-Oeste e no Nordeste.

Entre 1653 e 1655, Álvaro Rodrigues do Prado chefiou uma bandeira que
saiu de São Paulo em busca de esmeraldas. Por volta de 1656, daí partiu
também a bandeira de Luís Pedroso de Barros, atraída pelas riquezas
fabulosas do Peru, onde o chefe da expedição veio a falecer.
Em meados do século XVII, como os tamoios no Rio de Janeiro e os caetés
em Pernambuco, os tupinambás da Bahia ofereciam resistência a
colonização branca, mantendo os portugueses praticamente restritos à orla
litorânea de poucas léguas. O Governador-Geral do Brasil apelou para os
sertanistas de São Paulo e em outubro de 1658 seguiu de Santos a
expedição comandada por Domingos Barbosa Calheiros.
A partir de 1662, Domingos Jorge Velho iniciou a exploração e o povoamento do Piauí, pouco
depois seguido por Afonso Mafrense, rendeiro da Casa da Torre. Em 1668 a bandeira de Lourenço
Castanho Taques atingiu o rio Sapucaí e o Paracatu, afluente do São Francisco, à procura de ouro,
que não encontrou, mas venceu os índios cataguás, que até então bloqueavam aquele itinerário.
Surgiram novas ameaças de índios na Bahia e para lá seguiram, de novo, combatentes paulistas
comandados pelo Capitão Estêvão Ribeiro Parente, que dominou os índios ameaçadores. Por esse
tempo partia de São Paulo a famosa bandeira de Fernão Dias Paes Leme, o Caçador de Esmeraldas
que veio a falecer no sertão.
Entre 1676 e 1692, Francisco Dias de Ávila, o maior entradista baiano, estendia seus domínios no
Nordeste.
Em 1682, Bartolomeu Bueno da Silva, comandando uma bandeira de grande efetivo, penetrou nos
sertões de Goiás e encontrou ouro, que as mulheres índias usavam de adorno. O célebre
estratagema de que lançou mão, inflamando um pouco de álcool e ameaçando os índios de
incendiar os rios, valeu-lhe o apelido de Anhangüera que passou para seu filho, também grande
sertanista.
Após terem os paulistas vencido os tapuias no sertão baiano do Paraguaçu, não demorou a surgir
em todo o interior do Nordeste um movimento geral dos índios contra os colonizadores. Os cariris,
ainda dominavam imensa área que se estendia do São Francisco ao Parnaíba, hoje abrangida pelos
Estados da Bahia, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí. Os índios da Paraíba
foram os que mais tenazmente resistiram à colonização.
O maior sertanista paraibano, António de Oliveira Ledo, ao lado de outros bandeirantes, teve papel
importante na dominação dos cariris em todo o Nordeste. A longa campanha, denominada Guerra
dos Bárbaros, luta cruenta, difícil, sofrida, começou em 1683 e quatro anos depois assumiu
aspectos alarmantes, sobressaltando toda a população nordestina. Dela participaram muitos
sertanistas de São Paulo, inclusive alguns chefes de destaque, como Domingos Jorge Velho, que
ficaria célebre como destruidor do quilombo dos Palmares. Seu primeiro ataque ao reduto, em
1687, não foi bem sucedido, mas isto não o fez desanimar. A partir de uma posição fortificada
construiu uma forte estacada que fazia avançar durante a noite em direção ao quilombo, ao
mesmo tempo em que cortava todos os suprimentos para o reduto, comandado pelo Zumbi
(chefe) Gangazuma. Desesperados, os quilombolas tentaram romper o cerco às duas da
madrugada de 5 de fevereiro de 1694. A maioria pereceu na luta, sendo os restantes aprisionados.
O Zumbi escapou mas foi denunciado a um destacamento de paulistas, que o capturou e
decapitou.
Descobriu-se ouro nas Minas Gerais ao findar o século XVII, atraindo para aquela região
verdadeiras multidões. Vieram aventureiros até de Portugal, os chamados emboabas. A rivalidade
entre brasileiros e estrangeiros agravou-se com o tempo. Também foram os sertanistas paulistas
que descobriram ouro em Goiás, para onde seguiram, por volta de 1727-29, numerosos
contingentes de outros recantos do país. Começava o grande ciclo do ouro no Brasil.
A descoberta de regiões auríferas em Mato Grosso, Goiás e em Minas teve conseqüências decisivas
na formação do Brasil.
Bandeirantes na Amazônia.

Além da expedição de Raposo Tavares, várias outras lançaram-se de São Paulo


para a Amazônia. Em 1613, partiu a leva de Pero Domingues, que percorreu
parte das bacias do Araguaia e do Tocantins. Quando regressavam a São
Paulo, subindo o Araguaia, aprisionaram cerca de 3 mil índios que tinham
ligação com os franceses. Os prisioneiros conseguiram escapar. Esta expedição
esteve no vale do Amazonas e reconheceu a ilha do Bananal. Outra bandeira,
comandada por Sebastião Paes de Barros, desceu o Tocantins e o Amazonas,
atingindo Belém do Pará. Em 1673 foi repelida por tropa enviada pelo
Governador do Pará, sob a alegação de que os bandeirantes andavam
capturando alguns guajarás, prejudicando-lhes a catequese.
Na segunda metade do século XVII, várias bandeiras de São Paulo vasculharam os sertões de Goiás,
entre elas a de Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhangüera, no período de 1670 a 1673. Em 1616,
Francisco Caldeira Castello Branco fundou Belém do Pará, onde ergueu uma fortificação. Começava
a ocupação da Amazônia, naquela época muito cobiçada por holandeses, franceses e ingleses que
percorriam o baixo Amazonas, comerciando com os nativos, criando estabelecimentos comerciais e
construindo fortins.
Em julho de 1637, Pedro Teixeira recebeu do Governador do Estado do Maranhão, Jácome de
Noronha, a missão de organizar grande expedição para explorar o Amazonas. Sua força tinha 70
soldados e 1.200 índios flecheiros. Com os oficiais, pessoal de serviços gerais, mulheres e crianças,
o efetivo total chegava quase a 2.500 pessoas, embarcadas em 45 grandes canoas, de 20 remos
cada uma. Em 28 de outubro de 1637 começou a grande arrancada, que o levou até as terras
ocupadas pelos espanhóis, alcançando Quito. Na fronteira entre o Peru e o Equador, Pedro Teixeira
fundou Franciscana. Reconheceu a grande via de acesso que seria percorrida por outros
sertanistas e em 16 de agosto de 1639 tomou posse da área, em nome do Rei de Portugal.
Pedro Teixeira tornou-se o mais destacado sertanista da Amazônia. Além da grande expedição que
iniciou o reconhecimento da área em 1637, foi companheiro do Capitão Castello Branco quando
este fundou Belém. Realizou várias entradas de exploração do sertão. Abriu o primeiro caminho
terrestre ligando o Pará ao Maranhão. Procurou civilizar os índios e ganhar sua aliança na luta em
defesa de Belém. Combateu holandeses e ingleses, em muitas refregas, sempre os derrotando e
demolindo os fortes que em geral levantavam ao longo do Amazonas. Exerceu ainda a função de
Capitão-Mor do Grão-Pará, em 28 de fevereiro de 1640, mas por pouco tempo, pois morreu em
Belém a 4 de junho de 1641.
Sobre sua obra de pioneirismo escreveu o General Francisco Paula Cidade: "Até hoje não foi
erguido à entrada do rio Amazonas o monumento que a gratidão brasileira deve ao grande
sertanista, cuja obra precursora constitui o primeiro ponto de apoio para a doutrina do uti
possidetis, mais tarde sustentada pela diplomacia imperial e que tem sido um fator de bom
entendimento entre o Brasil e os seus vizinhos. A extensão da brasilidade a uns dois terços da
bacia hidrográfica do rio Amazonas foi um trabalho em que tomaram parte várias gerações, mas o
pioneirismo de Pedro Teixeira nunca foi excedido".
Dispondo de informações sobre a riqueza da flora amazônica, muitos sertanistas avançaram na
região, onde colhiam, sem grandes dificuldades, as especiarias então chamadas “drogas do sertão”
– baunilha, castanha, poaia, cacau e raízes aromáticas. Na sua esteira seguiam militares e
missionários.
Ao findar o século XVII, canhões de ferro e de bronze já artilhavam o Forte de São José do Rio
Negro, origem de Manaus. A Amazônia era brasileira.
Aspectos militares das expedições missionárias no Norte.

Em 1652, Pará e São Paulo eram os dois pólos da geografia política do Brasil.
Enquanto as bandeiras investiam e aprisionavam os índios ao sul, como
vanguardeiras do povoamento branco e mestiço, ao norte os missionários
procuravam catequizá-los e civilizá-los, protegendo-os dos colonos que
pretendiam usá-los como escravos.
Os missionários, em trabalho lento e seguro, conquistavam a confiança e a
amizade dos índios e aprendiam seus dialetos e seus costumes; ficavam
conhecendo as diversas regiões e desenhavam os primeiros mapas. As próprias
características do local, com numerosos rios, impediam ações militares de vulto,
favorecendo indiretamente a catequese.
Em defesa dos silvícolas, o próprio padre António Vieira chegou a percorrer o sertão do rio
Tocantins, 250 léguas rio acima, na bandeira comandada por Gaspar Cardoso.
Por iniciativa pessoal de Vieira, em 1654, o Governo do Pará e do Amazonas foi confiado ao Mestre-
de-Campo André Vidal de Negreiros, brasileiro e veterano das lutas da Restauração Pernambucana,
que, em sua gestão, muito favoreceu a ação dos missionários. Naquela mesma época Vieira
aconselhava mais entradas na Amazônia.
Em 1658, com os rumores de guerra iminente com a Holanda, as autoridades resolveram
solucionar o problema dos nheengaíbas, índios hostis que ocupavam a ilha de Marajó, até então
inimigos dos portugueses e, possivelmente, ligados aos holandeses e franceses.
Vieira solicitou, uma vez mais, 4ue se fizesse nova tentativa de aliança com aqueles índios. Pelo seu
grande prestígio, conseguiu convencer os indígenas a aceitar aliança com os luso-brasileiros. Após
a missa comemorativa da aliança, colocou os índios alinhados e fez com que repetissem, em coro,
o juramento de fidelidade ao Rei de Portugal. Não fossem o trabalho sereno dos missionários e a
ação pessoal de Vieira, tornar-se-ia difícil o domínio do delta do Amazonas, com graves
conseqüências futuras.
Nos anos seguintes, os luso-brasileiros lançaram-se de maneira decisiva ao interior da Amazônia.
Em 1660, o Capitão Pedro da Costa Favela, de Pernambuco, levantou a primeira fortificação no
Araguari; construiu-se, provavelmente em 1669, o Forte de São José do Rio Negro que daria origem
a Manaus; em 1673, bandeirantes de São Paulo desceram o Tocantins; em 1685, o Capitão
Francisco da Mota Falcão ergueu novos baluartes, marcos da posse luso-brasileira da região.
Enquanto isto, em 1676, os franceses tomavam Caiena aos holandeses.
A ocupação ordeira dos missionários era seguida por militares e sertanistas luso-brasileiros que
asseguravam a posse do terreno, principalmente com a construção de vários bastiões. Em fins do
século XVII, os jesuítas ficaram ao sul do Amazonas, em cuja margem esquerda continuavam os
franciscanos, mercedários e carmelitas.

Os bandeirantes como força terrestre.

Os primeiros núcleos de colonização no interior do Brasil enfrentavam o


perigo permanente das investidas dos índios, e os no litoral, as dos
assaltantes do mar.
No Sul, os paulistas, de início fortemente ameaçados pelos índios, logo que
puderam passaram à ofensiva, vencendo o adversário em todas as frentes.
Houve dois focos iniciais de irradiação em São Paulo: no litoral, Santos e
São Vicente; no planalto, São Paulo de Piratininga. Pela costa, os paulistas
estenderam-se para o norte até Angra dos Reis, fundada em 1624 por
habitantes do Rio de Janeiro a mando do Capitão João de Moura Fogaça,
perto do núcleo existente desde 1593; para o sul foram surgindo várias povoações, até Laguna,
durante muito tempo base do avanço dos paulistas pelos campos sulinos. São Paulo deu origem a
três outros centros de expansão: Taubaté, de onde partiam expedições para a bacia do São
Francisco, Bahia e Nordeste; Itu, de onde desciam o rio Anhembi ou Tietê, alcançando a Bacia do
Prata; e Sorocaba, início do caminho para o Sul, para os vastos campos das Palmas, Lajes e Vacaria.
Os bandeirantes organizavam-se em expedições de caráter nitidamente ofensivo, inclusive
destruindo ou submetendo pelas armas grupos adversos. Constituíram uma das mais importantes
forças terrestres no tempo colonial. Para suas campanhas, adaptavam os ensinamentos militares
portugueses às condições regionais. Como a maioria do efetivo das expedições era de índios
aliados, os sertanistas aprendiam seus métodos de combate, ao mesmo tempo que sua língua e
seus costumes. Os caminhos utilizados também eram os conhecidos pelos silvícolas.
Da organização militar ibérica os bandeirantes herdaram sentimento prático da hierarquia. Suas
expedições geralmente estruturavam-se em escalões definidos: um comandante ou chefe geral,
que era denominado cabo da tropa, alguns comandantes brancos, um corpo mais numeroso, que
era o escalão intermediário, constituído por mamelucos, e o grosso da tropa, a verdadeira força de
choque, composto de índios submissos ou aliados.
Em suas ações ofensivas, a expedição dividia-se em colunas de ataque, formadas de companhias
ou bandeiras, as quais se apoiavam mutuamente, para não serem batidas isoladamente. Os
bandeirantes evitavam a formação em massa diante do inimigo: preferiam a dispersão, que
aprenderam com os indígenas.
Em seus deslocamentos de dezenas de léguas, não descuidavam da segurança, protegendo-se com
destacamentos de vanguarda, retaguarda e flanco-guarda. Não subestimavam o valor dos
adversários, acerca dos quais procuravam manter-se sempre informados Quando percorriam
terras do sul de Mato Grosso e de Goiás, habitadas pelos guaicurus, índios cavaleiros, deslocavam-
se junto às orlas da mata, evitando a campanha rasa, onde poderiam ser destroçados pela
cavalaria indígena.
Atacavam sempre de surpresa e da maneira mais agressiva possível, aos gritos, com forte fuzilaria,
desfraldando os estandartes de guerra, procurando aterrorizar e desorganizar o inimigo.
Habituados às emboscadas, usavam de embustes os mais variados, chegando a se vestir de padres
para granjear a confiança dos indígenas. Em situações perigosas sabiam manobrar em retirada ou
então dispersar-se pelo mato, esperando pacientemente a oportunidade de retornar ao ataque.
Adquiriram a paciência dos índios: quando acabavam os meios de subsistência, acampavam
durante meses, esperando que as colheitas das plantações permitissem a continuação das longas
jornadas.
As tropas deslocavam-se a pé, marchando antes da aurora. Os sertanistas conheciam as vantagens
da guerra psicológica: procuravam ampliar a imagem de suas façanhas, tornando-se admirados
pelos homens do governo e atemorizando os adversários.

Organização das entradas ou bandeiras.

Essas expedições eram empresas coletivas, organizadas para obter lucros individuais para os seus
integrantes. A obediência incondicional ao chefe fazia parte do negócio, e a disciplina obedecia aos
padrões militares e normas jurídicas da época, muito mais rígidas que as atuais. O comandante
tinha direitos absolutos sobre todos os expedicionários.
Simples e flexível, a organização procurava principalmente manter
sob disciplina os numerosos índios armados.
A grande expedição que em 1628 atacou as reduções jesuíticas
espanholas no Paraná, com 900 brancos e 2.200 índios, constituía-
se de quatro companhias ou bandeiras, das quais a primeira
comandada pelo famoso Raposo Tavares, auxiliado pelo Alferes
Bernardo de Souza e pelo Sargento Manuel Morato. A que
percorreu o norte paranaense em 1676 tinha um capitão-mor comandante, um alferes-mor, um
capelão e dois capitães, cada um com seu tenente. As de maior vulto possuíam mais elementos
administrativos, como ronda-mor e escrivão repartidor para a partilha dos índios apresados. As de
colonização representavam verdadeira comunidade em marcha, levando consigo todos os
elementos de organização social. Exemplo desse tipo especial foi a do Capitão Domingos de Brito
Peixoto para fundar Laguna, posto avançado paulista no litoral sul.
A alimentação vinha da exuberância da terra. A mandioca desempenhou papel importante e até
hoje se consome um prato típico bandeirante, o virado à paulista: feijão com farinha de mandioca e
torresmo ou carne seca.
O sertão apresentava toda sorte de perigos para a saúde, valendo-se os bandeirantes dos precários
recursos da medicina da época, com complicados tratamentos baseados em sangrias, emplastros,
purgantes, vomitórios e cauterizações. Confiavam muito nas raízes, ervas e infusões dos índios.
Havia muitas crendices; umas tinham origem árabe, outras africana. Acreditava-se nas virtudes
ocultas e sutis de certas pedras preciosas, como as do diamante, bom para o fígado. De grande
valia eram os benzimentos: a bandeira de João Batista Vitoriano, que partiu de São Paulo em 1740,
não levava como medicamento senão uma fórmula para benzer o ar e espantar doenças: "Ar vivo,
ar morto, ar de estupor, ar de perlésia, ar arrenegado, ar excomungado, ar te arrenego." Nestas
circunstâncias, foram muitos os sertanistas que adoeceram e faleceram no sertão.
Armas e equipamentos.

As expedições levavam armas brancas, de fogo e também armas


indígenas, usadas pelos flecheiros, índios aliados.
De uso mais corrente era a escopeta, espécie de espingarda curta.
O arcabuz, que já estava caindo em desuso, tinha o cano reduzido.
Havia também bacamartes, carabinas, espingardas e mosquetões.
O armamento de fogo era rústico e leve, embora de tiro lento, pois
carregava pela boca, bala a bala, e possuía efeito aumentado pelo estampido, principalmente com
o estrondo das escopetas, quando disparadas pelas formações maciças de tropa, técnica da época.
A proporção normal da pólvora para o chumbo era de um para três. E foi com esta munição que
bandeirantes e sertanistas ocuparam os vastos sertões. Com o tempo os índios foram se
acostumando às armas de fogo, aprendendo a manejá-las e estimá-las.
Como proteção individual, os bandeirantes usavam capacetes, escudos redondos, peitos de couro
e gibões, grandes casacos de couro forrados de algodão e impenetráveis às flechas. Os gibões,
também chamados "corpos d'armas", de algodão, eram adaptação ao nosso meio da velha jaqueta
do guerreiro medieval europeu. Uma carta régia de 1684 recomendava ao Governador do Rio de
Janeiro que enviasse ao de Angola até 80 gibões usados pelos sertanejos de São Paulo. O preço era
elevadíssimo!
Os sertanistas levavam vasto equipamento para abertura de picadas: machados, foices, enxós,
facões, alfanjes e machetes. Os que partiam à procura de ouro levavam material de mineração;
aqueles que apresavam índios não dispensavam as correntes, com vários anéis, e até 30 colares de
ferro, além de cadeados e gargalheiras.
Uma indicação segura sobre a indumentária dos bandeirantes paulistas encontra-se na famosa
reprodução de Debret em seu livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. O desenho reproduz
alguns soldados mamelucos das milícias de Mogi das Cruzes, chamados ao Rio de Janeiro para
capturar escravos fugidos que, homiziados nas matas do Corcovado, praticavam desordens e
ameaçavam os moradores de Botafogo e Laranjeiras, poucos anos antes da Independência.
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