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Rainhas e Reis
Justificativa
Imperadores do Samba, para o Carnaval de 2024, traz luz àqueles que certa vez foram
apagados da nossa própria história. Hoje, mais do que nunca, é importante valorizar
nossa realeza ancestral. Para além de valorizar nossa negritude, precisamos reconhecer
nossa herança de Rainhas e Reis que fazem nosso orgulho ser maior.
Somos filhos de Rainhas e de Reis de África que foram apagados dos livros de história ou
transformados em mitos para que pudessem ser facilmente esquecidos. A Rainha
Makeda, por exemplo, apesar de jovem, foi uma hábil articuladora política no leste
africano. Ao se aproximar de Salomão, gerou filhos e toda a dinastia da Etiópia e, dizem,
de grandes impérios e reinos africanos. Porém, até mesmo a sua menção bíblica foi
limitada, e a história a reduziu à sedutora Rainha de Sabá. Ou ainda o Rei Taharqa, que
foi o primeiro a ser considerado faraó dos Cuxitas. Este antigo povo da Núbia unificou as
populações ao longo do rio Nilo e elevaram a civilização a um novo patamar. Infelizmente,
os livros de história insistem em branquear deuses e faraós. Nossas Rainhas e Reis
vieram de África e transcendem a história.
Somos filhos de tantos povos e de tantas culturas que se espalharam pelo mundo.
Tuaregues, Bantos, Maasai. A bravura das guerreiras de Daomé. A inteligência dos
comerciantes muçulmanos do Mali. A religiosidade do Império de Oió. Há muitos povos e
civilizações importantes que contribuíram significativamente para a história do mundo
como o conhecemos atualmente. O entrelaçamento entre arte e cultura, comércio e
agricultura, propiciou a expansão de um continente inteiro. Somos o que somos porque
tantos ancestrais buscaram e transmitiram conhecimento. Nasceram na África ancestral a
semente da ciência e da astrologia, o início do comércio e da economia. Nossas Rainhas
e Reis transcenderam o continente e seu poder se expandiu por todo o mundo.
Somos Rainhas e Reis hoje para que ainda haja Rainhas e Reis amanhã.
Somos Filhos de
Rainhas e Reis
Enredo
Escute.
Escute esse coração vermelho e essa pele preta.
Escute, minha filha. Escute, meu filho. Escute essa voz que te fala
com amor e com firmeza, que te encoraja a seguir em frente, a lutar por seus
sonhos. Você tem a força e a coragem dos nossos ancestrais. Você tem em suas
veias a linhagem de rainhas e reis, de guerreiros, griôs, feiticeiros.
Você tem a sabedoria e a inteligência de um continente.
Somos filhos de Rainhas e Reis de África. Nossas histórias e nossas vozes transcendem
as areias do deserto, as savanas e as florestas. Em cada tom, diferentes formas de contar
quem somos nós. Assim, é nossa pele negra. Assim, é nossa negritude. Única em cada
tom, única em cada dom. Somos a herança de reinos e impérios, das rainhas e dos reis,
que governaram com justiça e sabedoria. Somos a continuação dessa nobreza que
desafia as adversidades e sobrevive ao tempo.
Somos filhos de Rainhas e Reis dos povos e das civilizações que se espalharam por todo
o continente. Suas culturas e seus saberes contribuíram significativamente para a história
do mundo como o conhecemos atualmente. Somos o que somos porque nossos
ancestrais buscaram e nos transmitiram conhecimento através dos tempos.
No deserto, o povo negro se tornou dono das rotas comerciais, com arte em tecidos,
desbravou o deserto e desafiaram o tempo. Embora tenham enfrentado muitos desafios
ao longo da história, seu papel na cultura permanece na memória. Pelas savanas, foi
responsável por uma grande expansão, levando tradições, línguas e agricultura, deu
origem a reinos e impérios, e influenciou outras culturas africanas, tornando-se a base de
todo o conhecimento difundido no continente. Nas florestas, com seus estudos do corpo e
do espírito, honrando a vida selvagem, continuam a tecer a história da África. As estrelas
do céu e as chamas das tecnologias iluminaram o caminho dos saberes que são nosso
legado.
Nós somos, desde tempos imemoriais, o apogeu do conhecimento do povo negro que
semeou o mundo. De nossa habilidade em navegar pelas areias do Saara à nossa rica
cultura, tantos feitos se tornam poesia.
Somos filhos de Rainhas e Reis no Brasil. Marcamos nossa história nas vozes que
entoavam cantos de origem africana. Nas plantações de cana-de-açúcar, nos cafezais,
nas charqueadas, onde foi construída a riqueza desse país. Transformamos as senzalas
em lugares de resistência e de busca pela nossa ancestralidade. Marcamos nossa história
nas fugas para mocambos e quilombos, que são os símbolos da nossa luta pela liberdade
e pela igualdade.
Somos a inteligência que ecoa a luta pela liberdade e pelo reconhecimento de nossa
negritude. Somos o vigor do corpo que dança passo a passo, da garganta que arranha os
céus e acorda as multidões, da forma que deforma o padrão e afronta a realidade. Somos
a música que invade os condomínios que querem nos copiar. Somos a beleza que
querem nos usurpar. Somos escrevivências; somos palavras rasgando o asfalto, letras
negras marcando páginas em branco. Somos as histórias que nós mesmos contamos e
não são contadas por nós.
Somos celebração. Que ano após ano invade as ruas e subverte todas as morais e bons
costumes em nome da alegria e da felicidade de se ver cheio de luxo. Que traz as
narrativas dos nossos ancestrais e torna viva a história de tantas rainhas e tantos reis.
Que se aquilomba, se abraça, se ajunta para bater na palma da mão, para cantar, para
sorrir durante o nosso Carnaval.
Somos Rainhas e Reis hoje para que haja Rainhas e Reis amanhã.