Você está na página 1de 41

https://integra.univesp.

br/courses/2737 - Por exemplo, a idéia de fração pode ser


introduzida através da idéia de divisão de
Semana 1 (25/10): Ambientes de pizzas, enquanto, mais tarde, o significado de
aprendizagem nas aulas de Matemática ''fração'' pode ser desenvolvido pela
Texto-base: Cenários de Investigação introdução de outros conjuntos de referências.
1. Introdução Portanto, o significado também pode ser visto,
- A aula de matemática é dividida em duas primeiramente, como um característica das
partes: primeiro, o professor .apresenta ações e não somente como uma característica
algumas idéias e técnicas matemáticas e, dos conceitos;
depois, os alunos trabalham com exercícios - Semi-realidade não se trata de uma
selecionados; realidade que "de fato'' observamos, mas uma
- O aluno fica a maior parte do tempo realidade construída, por exemplo, por um
envolvido com resolução de exercícios; autor de um livro didático de matemática;
- A educação matemática tradicional se - Ambientes de aprendizagem:
enquadra no paradigma do exercício;
- O paradigma do exercício pode ser
contraposto a uma abordagem de
investigação, que pode tomar muitas formas,
como o trabalho de projeto na escola primária
e secundária, bem como no nível
universitário;
- Matemática crítica, desenvolvimento da
materacia, vista como uma competência
similar à literatura caracterizada por Freire. Se a) O ambiente tipo (1) é aquele dominado por
refere à competência de interpretar e agir exercícios apresentados no contexto da
numa situação social e política estruturada ''matemática pura'', os quais podem ser da
pela matemática, desenvolvimento da seguinte forma:
educação matemática como suporte da
democracia; e
- A matemática é parte de nossas estruturas
tecnológicas, militares, económicas e políticas
e como tal, um recurso tanto para maravilhas
como para horrores; b) O tipo (2) é caracterizado como um
ambiente que envolve números e figuras
2. O que acontece se …? geométricas. O exemplo introdutório da
- Um cenário para investigação é aquele que translação de figuras geométricas numa
convida os alunos a formularem questões e tabela de números ilustra esse tipo de
procurarem explicações; ambiente;
- O convite é simbolizado pelo ''O que c) O ambiente tipo (3) é constituído por
acontece se...?'' do professor. O aceite dos exercícios com referências à semi-realidade.
alunos ao convite é simbolizado por seus A natureza desse ambiente pode ser ilustrada
''Sim, o que acontece se...?"; pelo seguinte exemplo, a situação é artificial:
- Um convite pode ser feito de muitas
maneiras e para alguns alunos um convite do
professor pode soar como um comando; e * A semi-realidade pode ser uma referência
- O que pode servir perfeitamente como um que ofereça suporte para alguns alunos na
cenário para investigação a um grupo de resolução de problema;
alunos numa situação particular pode não * Alguns dos princípios desse acordo são os
representar um convite para um outro grupo seguintes: a semi-realidade é totalmente
de alunos. descrita pelo texto do exercício; nenhuma
outra informação é relevante para a resolução
4. Ambientes de aprendizagem do exercício; mais informações são totalmente
irrelevantes; o único propósito de apresentar o 6. A zona de risco
exercício é resolvê-lo; - Um contrato didático pode ser definido em
* Uma gemi-realidade é um mundo sem termos do ''equilíbrio no ambiente de
impressões dos sentidos (perguntar pelo aprendizagem". Assim, um contrato didático
gosto das maçãs está fora de questão), de refere-se à harmonia entre os parâmetros do
modo que somente as quantidades ambiente de aprendizagem, isto é, uma
mensuradas são relevantes; e harmonia entre a maneira que o significado é
* Toda informação quantitativa é exata. produzido, as tarefas são organizadas, o livro
d) O ambiente (4) também contém referências didático é estruturado, a comunicação é
a uma semi-realidade, mas agora ela não é desenvolvida, etc.;
usada como um recurso para a produção de - Um contrato didático pode ser quebrado de
exercícios: é um convite para que os alunos muitas maneiras como, por exemplo, quando
façam explorações e explicações; alunos começam a questionar detalhes de
e) Exercícios baseados na vida real oferecem uma semi-realidade, conforme descrição
um ambiente de aprendizagem do tipo (5). Por anterior. O contrato pode ser quebrado se a
exemplo, diagramas representando o avaliação é drasticamente mudada. Em geral,
desemprego podem ser apresentados como melhorias na educação matemática estão
parte do exercício, e, com base, podem ser intimamente ligadas à quebra de contrato.
elaboradas questões sobre períodos de Quando, inicialmente, sugeri desafiar o
tempo, países diferentes, etc.; e paradigma do exercício, isso pode ser visto
f) O ambiente de aprendizagem do tipo (6). As também como uma sugestão de quebrar o
referências são reais, tornando possível aos contrato da tradição da matemática escolar;
alunos produzirem diferentes significados para - A incerteza não deve ser eliminada. O
as atividades (e não somente os conceitos). O desafio é enfrentá-la;
pressuposto de que há uma, e somente uma - O computador desafiará a autoridade do
resposta correta, não faz mais sentido. professor (tradicional) de matemática;
- O professor deve estar sempre pronto para
5. Movendo-se entre diferentes ambientes enfrentar perguntas que podem não ser
de aprendizagem facilmente respondidas. A autoridade do
- A linha vertical que separa o paradigma do professor tradicional está para ser quebrada
exercício dos cenários para investigação é, dentro de segundos; e ninguém sabe sobre o
por certo, um linha muito ''espessa'', próximo momento. Certamente, nem o
simbolizando um terreno imenso de professor;
possibilidades; - O computador não é simplesmente um
- Uma boa parte da educação matemática instrumento que estende nossa maneira de
está alternando os ambientes (1) e (3). o pensar; em vez disso, como descreve Borba
paradigma do exercício oferece uma (1 999), os computadores reorganizam nosso
fundamentação assentada na ''tradição'' da pensamento;
educação matemática; - Qualquer cenário para investigação coloca
- A educação matemática deve se mover entre desafios para o professor. A solução não é
os diferentes ambientes tal como apresentado voltar para a zona de conforto do paradigma
na matriz; do exercício, mas ser hábil para atuar no novo
- É importante que os alunos e professores, ambiente;
juntos, achem seus percursos entre os - Uma condição importante para os
diferentes ambientes de aprendizagem; e professores se sentirem capazes de trabalhar
- Antes de os alunos se envolverem com na zona de risco é o estabelecimento de
investigação em algum ambiente, eles devem novas formas de trabalho colaborativo, em
compreender algumas técnicas que podem, particular, entre os professores, mas também
mais eficientemente, ser produzidas dentro do juntamente com alunos, pais, professores e
paradigma do exercício, isso geralmente não pesquisadores;
é adequado. - À ''autonomia intelectual" como um objetivo
explicitamente declarado para seus esforços
em estabelecer uma tradição da matemática 1.1.2.) Referências à semirrealidade
investigativa em contraste com a tradição da
matemática escolar;
- Deixar a ''zona de risco'' também significa
eliminar oportunidades de aprendizagem
associadas à idéia de computadores como
reorganizadores;
- Um sujeito crítico tem que ser um sujeito que
age;
- Um sujeito crítico é também um sujeito - Por exemplo:
reflexivo; e
- Nem afirmaria que é suficiente construir uma
educação matemática baseada somente em
referências à vida real. Minha expectativa é 1.1.3.) Referências à realidade
que a busca de um caminho entre os
diferentes ambientes de aprendizagem possa
oferecer novos recursos para levar os alunos
a agir e refletir e, dessa maneira, oferecer
uma educação matemática de dimensão
crítica.

Material-base: Ambientes de aprendizagem - Por exemplo:


1) Ambientes de Aprendizagem

1.2.) Paradigma da Investigação


1.1.) Paradigma do Exercício 1.2.1.) Referências à matemática pura
1.1.1.) Referências à matemática pura

- Por exemplo:
- Por exemplo:
1.2.3.) Referências à realidade

- Por exemplo:

* Comparar preços: Quanto custa esse


almoço se compramos os ingredientes no
mercado próximo a nossa casa?
* Tipo de alimentação: E se fizermos o molho
de tomate, qual seria o custo? Quais as
- Perguntas investigativas para nortear a vantagens e desvantagens
atividade, por exemplo:

Semana 2 (02/10): Relações entre


Matemática, cultura e ensino
Texto-base: Por que Etnomatemática?
Antecedentes
- As grandes navegações sintetizam o
conhecimento não acadêmico da Europa do
século XV;
- O conhecimento matemático da época,
fundamental para os descobrimentos, não
pode ser identificado como um corpo de
1.2.2.) Referências à semirrealidade conhecimento;
- Houve surpresa e curiosidade em toda a
Europa pelas novas terras e pelos novos
povos. O imaginário europeu se viu
estimulado pelos descobrimentos, sobretudo
pelo continente americano, o Novo Mundo.
Portanto, esses povos e essas terras
despertaram menos controvérsias. O novo
estava no Novo Mundo;
- Cronistas portugueses e espanhóis são
- Por exemplo:
responsáveis por importante literatura
descrevendo a natureza, fenômenos e povos
encontrados;
- O reconhecimento de outras formas de
pensar como sistemas de conhecimento é
* Os alunos podem fazer alguns comentários tardio na Europa;
sobre seu enunciado:
- Há um grande interesse das nações - O reconhecimento, tardio, de outras formas
europeias em conhecer povos e terras do de pensar, inclusive matemático, encoraja
planeta. Surgem as grandes expedições reflexões mais amplas sobre a natureza do
científicas; pensamento matemático, do ponto de vista
- Séculos XVIII e XIX, a polêmica sobre a cognitivo, histórico, social, pedagógico. Esse é
“inferioridade” do homem, da fauna e da flora, o objetivo do Programa Etnomatemática.
e da própria geologia, do Novo Mundo;
- Expedições científicas, a que produziu maior O Programa Etnomatemática
impacto talvez tenha sido a de Alexander von - O grande motivador do programa de
Humboldt (1768-1859), que, já em idade pesquisa é procurar entender o saber/fazer
avançada, sintetizou sua visão de um universo matemático ao longo da história da
harmônico na obra Cosmos; humanidade, contextualizado em diferentes
- Aceitação, como intrínseca ao Novo Mundo, grupos de interesse, comunidades, povos e
da “incivilidade” encontrada no Novo Mundo, nações;
justificando assim uma missão civilizatória do - Programa Etnomatemática, não se trata de
imigrante; propor uma outra epistemologia, mas sim de
- O imigrante, chegando com uma missão entender a aventura da espécie humana na
civilizatória, dificilmente poderia reconhecer a busca de conhecimento e na adoção de
cultura local, uma mescla das culturas dos comportamentos;
primeiros colonizadores com as culturas dos - A pesquisa em etnomatemática deve ser
indígenas e dos africanos trazidos como feita com muito rigor, mas a subordinação
escravos; desse rigor a uma linguagem e a uma
- Nos demais povos do planeta, há algo de metodologia padrão, mesmo tendo caráter
base que diferencia seus conhecimentos e interdisciplinar, pode ser deletério ao
comportamentos daqueles que têm origem Programa Etnomatemática;
nas civilizações mediterrâneas; - Não é possível chegar a uma teoria final das
- Oswald Spengler (1880-1936), propôs uma maneiras de saber/fazer matemático de uma
filosofia da história que procurava entender o cultura;
Ocidente sob um novo enfoque, vendo cultura - O fato de ser necessário estarmos sempre
como um todo orgânico; abertos a novos enfoques, a novas
- Se a Matemática fosse uma mera ciência, metodologias, a novas visões do que é ciência
como a Astronomia ou a Mineralogia, seria e da sua evolução, o que resulta de uma
possível definir o seu objeto. Não há, porém, historiografia dinâmica; e
uma só Matemática; há muitas Matemáticas; - Todo indivíduo vivo desenvolve
- Spengler procura entender a matemática conhecimento e tem um comportamento que
como uma manifestação cultural viva, reflete esse conhecimento, que por sua vez
chegando a dizer que as catedrais góticas e vai-se modificando em função dos resultados
os templos dóricos são matemática do comportamento.
petrificada;
- O século XX vê o surgimento da antropologia A noção de cultura
e muita atenção foi dada ao entender os - A espécie humana também obedece a esse
modos de pensar de outras culturas; instinto. Indivíduos procuram e encontram
- Eu posso, portanto, imaginar que podem outros, intercambiam conhecimentos e
também existir outros modos de pensamento, comportamentos, e os interesses comuns, que
mesmo em matemática; são comunicados entre eles, os mantém em
- Não devemos nos limitar a aplicar associação e em sociedades, organizadas em
diretamente os métodos que são diversos níveis: grupos de interesse comum,
correntemente considerados como os famílias, tribos, comunidades, nações;
melhores na Europa e na América, mas - O cotidiano de grupos, de famílias, de tribos,
devemos estudar a instrução matemática de comunidades, de agremiações, de
apropriada à Ásia; e profissões, de nações se dá, em diferentes
regiões do planeta, em ritmo e maneiras
distintas, como resultado de prioridades o curso evolutivo da espécie humana de seus
determinadas, entre muitos fatores, por parentes mais próximos, os chimpanzés;
condições ambientais, modelos de - Dança e canto são intimamente associados
urbanização e de produção, sistemas de com representações matemáticas de espaço e
comunicação e estruturas de poder; tempo;
- No compartilhar conhecimento e - A mais importante transição conceitual da
compatibilizar comportamento estão história da humanidade. A agricultura
sintetizadas as características de uma cultura. possibilita padrões de subsistência
Assim falamos de cultura da família, da tribo, impossíveis de serem atingidos por grupos de
da comunidade, da agremiação, da profissão, caçadores e coletores. A espécie humana
da nação; encontrou, graças à agricultura, sua
- Culturas estão em incessante transformação, alimentação por excelência;
obedecendo ao que podemos chamar uma - O surgimento da agricultura representa,
dinâmica cultural; particularmente nas civilizações em torno do
- As distintas maneiras de fazer [práticas] e de Mediterrâneo, a transição conceitual de uma
saber [teorias], que caracterizam uma cultura, visão matriarcal para uma visão patriarcal do
são parte do conhecimento compartilhado e mundo. Até a invenção da agricultura, as
do comportamento compatibilizado; e grandes divindades eram femininas;
- Assim como comportamento e - As populações aumentam e surge a
conhecimento, as maneiras de saber e de necessidade de instrumentos intelectuais para
fazer estão em permanente interação. o planejamento do plantio, da colheita e do
armazenamento, e, consequentemente,
Alimentação, espaço e tempo organização de posse da terra, de produção
- A necessidade de se alimentar, em organizada e de trabalho, fundando as
competição com outras espécies, é o grande estruturas de poder e de economia ainda hoje
estímulo no desenvolvimento de instrumentos prevalentes. Faz-se necessário saber onde
que auxiliam na obtenção de alimentos; [espaço] e quando [tempo] plantar, colher e
- A avaliação das dimensões apropriadas para armazenar;
a pedra lascada talvez seja a primeira - A geometria [geo=terra, metria=medida] é
manifestação matemática da espécie; resultado da prática dos faraós, que permitia
- A invenção da lança veio dar ao homem uma alimentar o povo nos anos de baixa
maior segurança para o abate de presas, que produtividade, de distribuir as terras
são, em geral, maiores e mais fortes que ele; produtivas às margens do Rio Nilo e medi-las,
- Coordenação muscular, percepção de alvo, após as enchentes, com a finalidade de
reconhecimento de partes vulneráveis da recolher a parte destinada ao armazenamento
presa, mostram o desenvolvimento de uma [tributos].
grande capacidade de observação e análise; - Os calendários sintetizam o conhecimento e
- O aprendizado dos hábitos e dos o comportamento necessários para o sucesso
comportamentos das espécies, não apenas de das etapas de plantio, colheita e
indivíduos, mostra o desenvolvimento da armazenamento. Portanto, os calendários são
capacidade de classificar objetos [indivíduos] locais;
por qualidades específicas. - A construção de calendários, isto é, a
- A cooperação entre grupos relativamente contagem e registro do tempo, é um excelente
numerosos de indivíduos, centrada em mitos e exemplo de etnomatemática.18
representações simbólicas, foi provavelmente - A geometria e os calendários são exemplos
responsável pelo surgimento de canto [tempo] de uma etnomatemática associada ao sistema
e dança [espaço], o que levou grupos de de produção, resposta à necessidade primeira
indivíduos de distintas famílias a estarem das sociedades organizadas de alimentar um
juntos, situando em tempo e espaço seu povo;
universo simbólico; Conhecimentos e comportamentos são
- Segundo William H. McNeill, canto e dança compartilhados e compatibilizados,
foram a primeira grande inovação distinguindo
possibilitando a continuidade dessas - Nas Américas, a etnomatemática comparece
sociedades; E fortemente nas culturas nativas
- Esses conhecimentos e comportamentos remanescentes;
são registrados, oral ou graficamente, e - Conciliar a necessidade de ensinar a
difundidos e passados de geração para matemática dominante e ao mesmo tempo dar
geração. Nasce, assim, a história de grupos, o reconhecimento para a etnomatemática das
de famílias, de tribos, de comunidades, de suas tradições é o grande desafio da
nações. educação indígena;
- As relações econômicas e os sistemas de
O fazer matemático no cotidiano produção são importantes fatores no
- O cotidiano está impregnado dos saberes e desenvolvimento e transformação da
fazeres próprios da cultura. A todo instante, os etnomatemática como corpo de
indivíduos estão comparando, classificando, conhecimento; e
quantificando, medindo, explicando, - A etnomatemática é parte do cotidiano, que
generalizando, inferindo e, de algum modo, é o universo no qual se situam as expectativas
avaliando, usando os instrumentos materiais e e as angústias das crianças e dos adultos.
intelectuais que são próprios à sua cultura;
- A etnomatemática do cotidiano. É uma Vídeo-base: Ensino de Matemática:
etnomatemática não apreendida nas escolas, etnomatemática, linguagem e
mas no ambiente familiar, no ambiente dos educação/Paulus Gerdes
brinquedos e de trabalho, recebida de amigos O que é a etnomatemática?
e colegas; - Campo de estudo que estuda a interação
- Crianças ajudando os pais na feira-livre, em entre matemática, cultura e educação;
Recife, adquirem uma prática aritmética muito - Surgiu tanto no Brasil em 1980 e países
sofisticada para lidar com dinheiro, calcular africanos;
troco, ser capaz de oferecer desconto sem - O contexto de seu surgimento estava com a
levar prejuízo; finalidade de melhorar a qualidade da
- A utilização do cotidiano das compras para educação e melhorar a confiança dos alunos
ensinar matemática revela práticas em aprender matemática; e
apreendidas fora do ambiente escolar, uma - Os alunos acreditavam que matemática era
verdadeira etnomatemática do comércio; algo estranho à vida e que não tem nada
- Um importante componente da haver com suas culturas.
etnomatemática é possibilitar uma visão crítica
da realidade, utilizando instrumentos de Aprendizagem matemática
natureza matemática; - A linguagem influencia no aprendizado da
- Grupos de profissionais praticam sua própria matemática também;
etnomatemática; - As diferenças da estrutura das línguas
- O reconhecimento de práticas matemáticas influência na contagem, por exemplo, em
no cotidiano da África tem sido objeto de portugues quanto contamos de 1 até 10 temos
importantes pesquisas.32 Um exemplo muito dez palavras diferentes, já em línguas
interessante é a utilização de instrumentos de africanas, por exemplo, 11 se diz dez um, 12
percussão, parte integrante das tradições se diz dez dois e etc.;
originárias da África. O ritmo que acompanha - Se cada criança aprender em uma
os instrumentos de percussão pode ser determinada língua e nela tiver uma boa
estudado como auxiliar na compreensão de estrutura, quando essa criança aprender em
razões; outra língua ficará confusa;
- Claudia Zaslavsky. Seu livro, publicado em - Se a aprendizagem for a partir da língua
1973, foi pioneiro ao reconhecer que muito materna é muito mais fácil;
das práticas matemáticas encontradas na - Portugês didático: não é o portugues oficial,
África tem características próprias; mas um adaptado, utilizado no primeiro ano,
- O interesse pela etnomatemática das se mistura duas línguas para os que estão
culturas africanas tem crescido enormemente; aprendendo que são provenientes de outros
países, por exemplo, de países africanos. É - Huizinga (1990) a atividade lúdica se
muito mais fácil para a criança aprender sem constitui numa atividade a ser realizada cujo
precisar passar por um funil; fim está na própria realização da atividade, ou
- Temos que pensar como melhorar a língua seja, uma atividade lúdica objetiva a
portuguesa no sentido de adaptá-la para fins satisfação na realização da própria atividade;
didáticos. Por exemplo, ao invés de utilizar - Cada grupo étnico apresenta sua forma
triângulo para aquela figura geométrica, particular de ludicidade, sendo que o jogo se
utilizamos três lados. Pois, isso facilitará para apresenta como um objeto cultural;
que a criança compreenda melhor; e - Freire (2002,p.88) ao se referir ao jogo
- Precisamos nos concentrar no aprendizado cultural, destaca que se a cultura humana é
das crianças para matemática e não que elas uma construção que depende de uma
se concentrem em aprender palavras difíceis, atividade interior, o jogo tem a propriedade de
ao invés de raciocinar e se concentrar-se “sugar” para esse interior as vivências da
realmente em aprender a matemática. realidade, sendo o jogo indispensável à
formação da cultura humana;
Grupos culturais - O jogo tem a propriedade de trazer as
- Em várias línguas quando o professor que experiências do mundo exterior para o espírito
está ensinando em português exprime ao humano, de maneira que, jogando com elas, a
contrário a expressão, por exemplo, ao invés cultura possa ser criada, revista, corrigida,
de 3X4, dizem 4X3 e isto dá um enorme ampliada, garantindo o ambiente de nossa
embaraço na cabeça das pessoas desses existência;
outros países; e - Kishimoto (1994,p.2) nos alerta para o fato
- Nos últimos anos houve inúmeras pesquisas de que um mesmo fenômeno pode ser
sobre a relação de língua e do ensino de considerado um jogo ou não-jogo,
matemática. dependendo do significado atribuído a ele, nas
diferentes culturas;
- Atirar com arco e flecha, para uns, é jogo,
Semana 3 (09/10): O lúdico nas aulas de para outros, é preparo profissional; e
Matemática - As atividades lúdicas estão diretamente
Texto-base: Concepções quanto ao uso de influenciadas pelo contexto sócio-cultural a
jogos no ensino da Matemática que pertence.
Resumo
- O jogo guarda vários “segredos”, sendo um Concepções de jogo nas diferentes
deles, a sua “inevitabilidade”. Para a criança, tendências do ensino da Matemática
jogar é tão necessário quanto comer. Tem--se - A idéia da utilização pedagógica de jogos
que no ato de jogar é inevitável a mobilização não é recente;
corporal do sujeito, que se manifesta - Comenius (1997), princípios didáticos
enquanto linguagem, enquanto representação “infalíveis” para a aprendizagem do aluno,
daquilo que se está pensando. dentre eles, aborda a utilização de materiais,
simulações (jogos) e situações concretas
Introdução como fontes enriquecedoras de aprendizagem
- É comum associarmos a ideia de jogo a um com facilidade e solidez;
material manipulável, que muitas vezes - Tendências de ensino apontadas por
utilizamos em sala de aula como um Fiorentini (1995):
instrumento puramente motivacional para as 1ª) Formalista clássica:
aulas de Matemática; a) a ênfase era dada à Matemática em sua
- O jogo é muito mais do que um simples forma clássica, desenvolvida a partir do
material manipulável. Corresponde ao que modelo euclidiano e vinculada a uma
denominamos de atividade lúdica; concepção platônica de Matemática;
- As atividades lúdicas fazem parte do b) Pensar na utilização pedagógica de jogos
contexto cultural em que o indivíduo está nessa tendência seria mais como um jogo de
inserido; palavras e definições, de perguntas e
respostas, com pouca contribuição para a complexas que, ao invés de facilitar a
produção matemática clássica propriamente compreensão dos conceitos e das “estruturas
dita; e matemáticas” subjacentes ao jogo, acabam
c) Portanto, para um ensino nesta tendência, confundindo o aluno; e
considerado “livresco” e centrado no d) Acredita-se que a manipulação dos jogos
professor, este acostumado a aulas deva estar desvinculada da Matemática formal
expositivas, não teria espaço para o jogo, para e sua linguagem.
o lúdico, para o prazer e ação do aluno em 4ª) Ensino tecnicista:
aprender. a) pretende-se otimizar os resultados da
2ª) Empírico-ativista: escola e torna-la “eficiente”
a) Surge em oposição à escola clássica (competente/qualidade total) e “funcional”
anterior; (visão utilitarista);
b) Considera o professor um orientador e b) Valorização na memorização de fórmulas,
facilitador da aprendizagem do aluno e este, estabelecimento de definições e aplicação em
passa a ser o centro da aprendizagem, um ser inúmeros exercícios, muitas vezes repetitivos;
“ativo”; c) Reduz a Matemática a um conjunto de
c) O aluno “aprende fazendo”, abstrações técnicas, regras e algoritmos; e
surgem a partir de raciocínios indutivos e d) A utilização de jogos, vinculados a essa
intuitivos; tendência, se aproxima do que acontece em
d) Esta tendência não rompe com a idéia de muitas salas de aula de Matemática, onde o
que a Matemática existe no mundo externo ao professor utiliza alguns jogos do tipo, dominó,
sujeito e que este necessita “descobri-la”; bingo, jogo de perguntas e respostas, as
e) Inseridos nesta tendência estão os máquinas de ensinar (Skinner) e a maioria dos
chamados “empírico-sensualistas” que jogos educativos computacionais, a fim de
acreditam que a simples observação e simplesmente memorizar uma regra ou fixar
contemplação da natureza (aprendizagem um
sensorial) permitem, por exemplo, a determinado conteúdo.
descoberta das idéias geométricas; 5ª) Construtivista:
f) Ainda contemplam esta perspectiva a) Possibilita a compreensão da Matemática
empírico-ativista. Por exemplo, propõe-se um como uma construção humana que resulta da
quebra-cabeça como o Tangran, solicita que interação dinâmica do homem com o meio
os alunos montem as figuras com as sete que o circunda, constituída por estruturas e
peças, alguns alunos conseguem, outros não, relações abstratas, que valoriza mais o
outros ainda copiam dos colegas e a atividade processo do que o produto;
termina; b) Erro da criança passa a ser visto como
g) Os alunos aprenderam sozinhos, pela fonte de aprendizagem e diagnóstico para o
simples manipulação; e professor;
h) É comum o professor utilizar os jogos no c) O professor é o mediador e facilitador na
final da aula, nos minutos restantes, para fixar aprendizagem do aluno, intervindo e
um determinado conteúdo ou desenvolver problematizando;
uma habilidade. d) Os educadores necessitam conhecer
3ª) Formalista moderna: determinados componentes internos dos seus
a) Um retorno ao formalismo matemático alunos para orientarem a aprendizagem deles,
excessivo do rigor e da linguagem de maneira significativa;
matemática; e) Os jogos, as brincadeiras, enfim, as
b) Acentua-se uma abordagem estrutural e atividades lúdicas exercem um papel
internalista da Matemática, uma Matemática fundamental para o desenvolvimento
auto-suficiente; cognitivo, afetivo, social e moral das crianças,
c) Nesta perspectiva, identificamos os jogos representando um momento que necessita ser
com os blocos lógicos propostos por Zoltan P. valorizado nas atividades infantis; e
Dienés. Esses jogos, muitas vezes, se f) O jogo sendo utilizado para diagnóstico e
apresentam com regras tão extensas e intervenção com alunos que apresentam
dificuldades de aprendizagem, de 3°) O “Jogo pelo jogo”: jogo”: jogar para
relacionamento e de socialização. garantir regras:
6ª) Tendência Socioetnocultural:
a) O conhecimento matemático passa a ser
visto como um saber prático, relativo,
não-universal e dinâmico, produzido 4°) Intervenção pedagógica verbal:
histórico-culturalmente nas diferentes práticas
sociais, sendo legitimado mesmo que formal
(sistematizado) ou informal;
b) Considera que o aluno terá uma
aprendizagem mais significativa se esta
estiver relacionada ao seu cotidiano e à sua 5°) Registro do jogo:
cultura;
c) Estes jogos fazem parte do que
denominamos “cultura lúdica” destas crianças.
Por exemplo, os jogos que atualmente fazem
parte da cultura lúdica da maioria das crianças
residentes em centros urbanos, são os jogos
eletrônicos (computacionais, videogames,
minigames, etc.);
d) Cada grupo cultural tem suas formas de
matematizar. Não há como ignorar isso
quando do ingresso da criança na escola, todo 6°) Intervenção escrita:
o passado cultural da criança deve ser
respeitado, lhe dará uma certa dignidade
cultural ao ver suas, origens culturais sendo
aceitas por seu mestre;
e) É necessário ao professor, que busca na
atividade lúdica uma forma de
desencadeamento do processo de
ensino-aprendizagem da Matemática;
f) O jogo infantil, inserido em cada cultura, 7°) Jogar com “competência”:
investigando o cotidiano da criança;
g) Acredita-se que é possível, pelos jogos,
identificar rudimentos dos antigos costumes,
cultos e rituais das culturas antigas; e
h) O estudo dos jogos poderia esclarecer
muitas analogias e significados ocultos do
modo de vida dos povos. - Kishimoto, baseando-se em Ivic e
Marzanovic, aponta cinco razões que
- Podemos definir “momentos” de intervenção procuram justificar o emprego dos jogos
pedagógica com jogos no ambiente da sala de tradicionais na educação:
aula, sendo:
1°) Familiarização com o material do jogo:

2°) Reconhecimento das regras:


Palavras finais
- Os estudos sobre o jogo, de certa forma,
ainda não se esgotaram, estão apenas
começando, visto que o jogo guarda vários
“segredos”, sendo um deles, a sua - Essas autoras apontavam que o material
“inevitabilidade”. Para a criança, jogar é tão concreto, da forma como utilizado pelos
necessário quanto comer; professores em nada estava contribuindo para
- No ato de jogar é inevitável a mobilização uma melhor Educação Matemática.
corporal do sujeito, que se manifesta
enquanto linguagem, enquanto representação Uma breve contextualização do uso de
daquilo que se está pensando; e materiais Uma breve contextualização do
- Justificativa da utilização de jogos na sala de uso de materiais manipuláveis nas aulas
aula não pode se restringir ao caráter de Matemática
motivacional, mas que depende de uma ação - O uso de materiais manipuláveis no ensino
intencional, planejada, executada, registrada, foi destacado pela primeira vez por Pestalozzi,
avaliada e compartilhada pelos alunos e no século XIX, ao defender que a educação
professores. deveria começar pela percepção de objetos
concretos, com a realização de ações
Material-base: Jogo: Avançando com o concretas e experimentações;
resto - No Brasil, surgiu na década de 1920. Esse
-No contexto do ensino de Matemática, este período foi marcado pelo surgimento de uma
jogo tem como objetivo auxiliar os alunos a tendência no ensino de Matemática que ficou
desenvolverem cálculos mentais com as conhecida como empírico-ativista , decorrente
operações de divisão e multiplicação; dos ideais escolanovistas;
- Para o professor de Matemática que - Segundo Fiorentini (1995), na concepção
pretende aplicar o jogo em sua sala de aula, é empírico-ativista o aluno passa a ser
importante jogá-lo também para perceber as considerado o centro do processo e os
potencialidades que ele tem, principalmente métodos de ensino, se pautavam em
para propiciar discussões sobre divisibilidade atividades. Atividades desencadeadas pelo
com os alunos nas aulas de Matemática; e uso de jogos, materiais manipuláveis e
- Este recurso foi criado para ser utilizado na situações lúdicas e experimentais;
disciplina Educação Matemática do curso de - Durante o movimento modernista, acabaram
Licenciatura em Matemática para possibilitar produzindo vários materiais, principalmente
aos alunos conhecerem e jogarem o jogo nos finais dos anos de 19702 e início dos
“Avançando com o resto”, o qual existe em anos de 1980;
sua versão física. - Em 1968, durante o Regime Militar, foi
criada a Fundação Nacional de Material
Escolar (FENAME), que passa a assumir a
Semana 4 (16/10): A importância dos coordenação e distribuição do livro didático a
materiais concretos no ensino de estudantes de baixa renda. Inicia-se a era dos
Matemática livros descartáveis;
Texto-base: Eu trabalho primeiro no - O livro didático como afirmam Freitag, Costa
concreto e Motta, (1997, p. 108), “não serve aos
Introdução professores como simples fio condutor de
- O discurso da maioria dos professores seus trabalhos, mas passa a assumir o caráter
especialistas pauta-se na pouca ou nenhuma de “critério de verdade” e “última palavra”
valorização do uso de materiais manipuláveis sobre o assunto”;
para se ensinar Matemática, sendo tal uso - Dienes, dedicou-se a estudar e propor
considerado como perda de tempo; atividades e materiais para o ensino de
- 1990. Naquela época já se discutia sobre o Matemática. Tinha como princípio de que a
mito do material manipulável, ou seja, a experiência deveria preceder a análise, ou
crença de que “a manipulação de material seja, as experiências cuidadosamente
concreto garantiria a aprendizagem da escolhidas pelo professor sustentariam o
matemática” (SCHLIEMANN; SANTOS e fundamento sobre o qual estaria baseado o
COSTA, 1992, p. 99); e aprendizado matemático;
- Bruner, afirma: “o que é mais importante material que só fará significado ao aluno se
para ensinar um conceito básico é que a houver, como destacam Matos e Serrazina
criança seja ajudada a passar gradativamente (1996, p. 196), uma interpretação dessas
do pensamento concreto à utilização de relações, bem como a possibilidade de uma
métodos de pensar mais adequados interação dos estudantes com o material;
conceitualmente” (1960, apud POST, 1981, - Uso bastante equivocado do material,
p.11); alguns desses equívocos:
- A partir dos anos de 1990 vários recursos a) Total falta de interação dos alunos com o
didáticos vêm sendo sugeridos para o ensino material no sentido de perceber quais as
de Matemática; relações entre as suas peças;
- Além dos materiais manipuláveis, destaca-se b) Solicitação ao aluno para que faça a
também o uso de calculadoras e de representação – via desenho – de
computador – embora esses recursos ainda quantidades usando as peças do material.
estejam bastante distantes da maioria das Assim, o aluno perde um longo tempo
salas de aula; e desenhando os cubinhos, barras e placas do
- Muitas vezes, incorporam um discurso a material;
favor do ‘concreto’, sem uma reflexão do que c) O fato de o livro trazer a representação –
seria concreto em Matemática. por meio do desenho – do cubinho, por
exemplo, como sendo bidimensional
Materiais manipuláveis para o ensino de (representação de um quadrado) e continuar a
Matemática: facilitador ou complicador? chamá-lo de ‘cubo’. No que diz respeito às
- Definição dada por Reys (1971, apud operações com números naturais, raramente
MATOS e SERRAZINA, 1996, p. 193) para há registros que possibilitem ao aluno
materiais manipuláveis: “objectos ou coisas relacionar as ações realizadas no material e o
que o aluno é capaz de sentir, tocar, manipular algoritmo que se está introduzindo; e
e movimentar. Podem ser objetos reais que d) Usar o material dourado para que a criança
têm aplicação no dia-a-dia ou podem ser compreenda os mecanismos de trocas e
objectos que são usados para representar ‘destrocas’ para o algoritmo da subtração.
uma idéia”; - Um uso inadequado ou pouco exploratório
- Não há nenhuma garantia que os alunos de qualquer material manipulável pouco ou
vejam as mesmas relações nos materiais que nada contribuirá para a aprendizagem
vemos”; matemática;
- Duas características das atividades - O problema não está na utilização desses
envolvendo materiais concretos que podem materiais, mas na maneira como utilizá-los;
trazer resultados negativos: 1) a distância - Geometria, há vários materiais sugeridos e
entre o material concreto e as relações utilizados pelos professores, como: conjunto
matemáticas a serem representadas; 2) o de sólidos geométricos, tangram, geoplano e
material “toma as características de um poliminós;
símbolo arbitrário em vez de uma - Importância dos processos de visualização:
concretização natural” (Hiebert e Carpenter, A visualização pode ser considerada como a
1992, apud MATOS e SERRAZINA, 1996, p. habilidade de pensar , em termos imagens
197); e 2); mentais (representação mental de um objeto
- Os professores utilizam os materiais para ou de uma expressão), naquilo que não está
introduzir uma noção, mas, uma vez se ante os olhos, no momento da ação do sujeito
chegando a ela (cálculo, propriedade, sobre o objeto. O significado léxico atribuído à
algoritmo), já não interessa o contexto no qual visualização é o de transformar conceitos
o material foi utilizado e passa-se a trabalhar abstratos em imagens reais ou mentalmente
apenas no nível abstrato; visíveis. (NACARATO e PASSOS, 2003, p.
- Matemática: o material dourado e a escala 78);
Cuisenaire, é indicado para se trabalhar o - O desenvolvimento dos processos de
sistema de numeração decimal e o valor visualização depende da exploração de
posicional. No entanto, esse é um tipo de
modelos ou materiais que possibilitem ao - Não é o simples uso de materiais que
aluno a construção de imagens mentais; possibilitará a elaboração conceitual por parte
- Pais (2000, p.14), no ensino da Geometria, do aluno, mas a forma como esses materiais
destaca a existência de duas posturas são utilizados e os significados que podem ser
redutoras dos valores educativos dessa área negociados e construídos a partir deles.
do conhecimento:
a) Uma consiste no entendimento de que os O uso de materiais manipuláveis
conceitos geométricos são entidades produzindo significados para o aluno
platônicas puramente racionais, pertencentes - Nenhum material didático – manipulável ou
a um suposto mundo abstrato de idéias de outra natureza – constitui a salvação para
prontas, acabadas e acessíveis somente a melhoria do ensino de Matemática;
através do método axiomático em seu aspecto - Sua eficácia ou não dependerá da forma
formal; e como o mesmo for utilizado;
b) A outra expressa-se pela visão de que o - “Não é o uso específico do material concreto,
ensino da geometria pode ser reduzido ao mas, sim, o significado da situação, as ações
nível de um conhecimento essencialmente da criança e sua reflexão sobre essas ações
sensitivo, trabalhado somente no aspecto que são importantes na construção do
experimental através da manipulação estrita conhecimento matemático” (SCHLIEMANN;
de modelos materiais e de desenhos. SANTOS; COSTA, 1992, p. 101);
- Pais (1996) analisa a epistemologia do - O significado matemático é obtido através do
pensamento geométrico, destacando quatro estabelecimento de conexões entre a idéia
elementos essenciais: matemática particular em discussão e os
a) Objeto real (modelos) – que dá o suporte outros conhecimentos pessoais do indivíduo;
de materialidade e funciona como uma e
representação dos conceitos geométricos; - As ideias matemáticas formarão conexões
b) Desenhos – constituem uma segunda de alguma maneira, não apenas com outras
forma de representação, com complexidade idéias matemáticas como também com outros
maior que os modelos, pois exigem aspectos do conhecimento pessoal.
interpretação para o seu significado;
c) Imagens mentais – que são estimuladas Videoaula 3: Os materiais manipuláveis no
pelos objetos e desenhos e estão mais Ensino de Matemática
próximas da abstração; e O que é o concreto e o abstrato?
d) Os conceitos de natureza geral e abstrata.
- O uso de materiais manipuláveis como as
peças do tangram, por exemplo, possibilitam
diferentes rotações, composições e
decomposições, ampliando o repertório de
representações possíveis não apenas para a
do quadrado, como também para a de outros
polígonos; - O concreto aquilo que está ligado a realidade
- ‘Inversão didática’. A inversão “ocorre e o abstrato aquilo que não se liga a
quando o material passa a ser utilizado como realidade; e
uma finalidade em si mesmo em vez de ser - O concreto é aqui que se liga ao empírico.
um instrumento para a aquisição de um
conhecimento específico”; O que é o senso comum e o conhecimento
- Pais (2000), O uso de materiais didáticos no científico?
ensino de geometria deve ser sempre
acompanhado de uma reflexão pedagógica
para que, evitando os riscos de permanência
em um realismo ingênuo ou de um empirismo,
contribua na construção do aspecto racional; e
- Senso comum não se liga a uma
racionalidade, fazendo oposição ao Exemplo de material estruturado
conhecimento científico. a) Material dourado

O concreto na matemática e no ensino

- Para o matemático as abstrações fazem


parte do concreto para ele, diferente do
ensino;
- Não podemos deixar de considerar aquilo
que é abstrato, por exemplo, os números,
figuras também fazem parte do concreto para
esta ciência e não apenas o que pode ser
fisicamente tocado.

O que são materiais manipuláveis?

- Formado por quatro tipos de peças, como a


- Objetos que o aluno pode tocar, podem ter imagem acima;
ou não aplicação no dia a dia. - Sua idealizadora, conteúdos trabalhados e
opções de confecção.
Diferença entre materiais estruturados e
não estruturados
b) Geoplano
d) A senha

- Utilizado para trabalhar as formas


geométricas, através de elásticos e pregos em
uma tábua de madeira; e
- Idealizador, conteúdos trabalhos e opções de - A ideia deste jogo é que um dos jogadores
confecção. montem uma sequência de cores, como na
imagem acima e o outro jogador precisa
c) Algeplan adivinhar as cores e a sequência em que elas
estão. O jogador que contém a senha precisa
ir falando se o outro jogador que está tentando
advinhar acertou a posição e/ou a cor e este
por sua vez marca com as peças brancas
(como na imagem); e
- Idealizador, conteúdos trabalhados e opções
de confecções.

Complicadores

- Um dos complicadores de se trabalhar com


estes materiais com os alunos pode ser sua
- Utilizado para se trabalhar algebra; falta de interação com os mesmos e essa
- Essas formas trabalham a abstração interação, por muitas vezes, não é simples de
presente na álgebra, mas do ponto de vista ser conquistada; e
geométrico, como na imagem acima; - Para sair do jogo e ir para o conteúdo o
- Conteúdos trabalhados e opções de professor precisará ter um trabalho muito
confecção. intenso para fazer esta transposição,
mostrando aos educados que não é um dependendo da estratégia que os resolve, e
simples jogo feito para ganhar e sim com um recomendam-se esquemas de passos a
fim pedagógico de aprender um conteúdo. serem seguidos para melhor resolver
problemas;
Semana 5 (23/10): Ensino de Matemática - Mais recentemente a resolução de
com resolução de problemas problemas passa a ser considerada
Texto-base: Matemática e Resolução de competência básica do indivíduo, para que ele
Problemas possa se inserir no mundo do conhecimento e
Introdução do trabalho;
- Matemática e resolução de problemas são - Os currículos, trazem indicações explícitas
duas ideias que sempre estão juntas; de que todos os alunos devem aprender a
- Resolver problemas necessariamente inclui resolver problemas e são necessárias
alguma forma de pensar matemática. Mesmo escolhas cuidadosas quanto às técnicas e aos
os problemas diários ou profissionais exigem problemas a serem usados no ensino. Nesta
que os dados sejam analisados e que alguma concepção, tanto os problemas mais
estratégia seja pensada para sua resolução; tradicionais, envolvendo o conteúdo
- A resolução de problemas tem assumido ao específico, quanto os diversos tipos de
longo do tempo diferentes papéis, situações-problema e os métodos e
dependendo da concepção que se tem de por estratégias de resolução são enfatizados para
que ensinar matemática e de como se que se aprenda matemática;
acredita que seja ensinar e aprender; - Essas três concepções não se excluem, mas
- Resolução de problemas pode ser entendida mostram diferentes sentidos do ensino de
como a meta do ensino de matemática no matemática e podem ser encontradas em
Modelo Tradicional. Nessa perspectiva, o currículos, materiais didáticos e orientações
ensino de matemática, seus conceitos, do ensino, uma com maior ou menor ênfase
técnicas e procedimentos devem ser que outra;
ensinados antes, para que depois o aluno - Há mais uma forma de se conceber a
possa resolver problemas. Nessa concepção, resolução de problemas, quando ela é
a matemática é importante em si mesma, a interpretada como uma metodologia para o
resolução de problemas é uma consequência ensino de matemática e descrita como um
do saber matemático, e, ao resolver conjunto de orientações para o ensino tais
problemas, o aluno demonstra se de fato como: usar um problema detonador ou desafio
aprendeu ou não matemática; que possa desencadear o en- sino e a
- Uma segunda maneira de se conceber a aprendizagem de conhecimentos
resolução de problemas como os processos matemáticos; trabalhar com problemas
de resolução, ou as formas de pensar que abertos; usar a problematização ou
cada pessoa utiliza para resolver situações formulação de problemas em projetos;
que apresentam alguma questão a ser - Nos Parâmetros Curriculares Nacionais
respondida. Essa concepção sobre a (BRASIL, 1997, p. 32-33) encontramos um
resolução de problemas nasceu com os item que sugere alguns caminhos para “fazer
trabalhos de Polya (1978) e teve maior mate- mática” na sala de aula, e um deles é o
importância nos anos 1960, quando recurso à resolução de problemas
educadores começaram a centrar sua atenção baseando-se em alguns princípios:
nos processos ou procedimentos usados a) O ponto de partida da atividade matemática
pelos alunos para resolver problemas. Tem não é a definição, mas o problema;
coco as estratégias e os procedimentos b) O problema certamente não é um exercício
utilizados para se chegar à resposta. Essa em que o aluno aplica, de forma quase
concepção de resolução de problemas mecânica, uma fórmula ou um processo
baseia-se na crença de que, ao entender operatório;
como se resolvem problemas, é possível c) Aproximações sucessivas ao conceito são
ensinar a outros como fazê-lo. No ensino os construídas para resol- ver um certo tipo de
problemas são classificados por tipos, problema; num outro momento, o aluno utiliza
o que aprendeu para resolver outros, o que duas ações: questionar as respostas obtidas e
exige transferências, re- tificações, rupturas, questionar a própria situação inicial;
segundo um processo análogo ao que se - Resolver uma situação-problema não
pode observar na história da Matemática; significa apenas a compreensão do que é
d) O aluno não constrói um conceito em exigido, aplicar as técnicas ou fórmulas ade-
resposta a um problema, mas constrói um quadas e obter a resposta correta, mas
campo de conceitos que tomam sentido num investigar a questão resolvida;
campo de problemas; e - O processo de resolução ganha tanta
e) A resolução de problemas não é uma importância quanto a resposta e, sempre que
atividade para ser desenvolvida em paralelo possível, há incentivo para que os alunos
ou como aplicação da aprendizagem, mas procurem por soluções diferentes;
uma orientação para a aprendizagem, pois - Nesse processo investigativo, passam a ter
proporciona o contexto em que se pode valor atitudes naturais do aluno que não
apreender conceitos, procedimentos e encontram espaço dentro do modelo
atitudes matemáticas. tradicional de ensino, como é o caso da
- A resolução de problemas de acordo com os curiosidade e da confiança em suas próprias
PCNs de 1997 para o ensino fundamental é ideias.
uma competência que se espera desenvolver - Na Perspectiva Metodológica de Resolução
em todos os alunos e que está entrelaçada à de Problemas, a essência está em saber
aprendizagem de matemática. problematizar;
- Na prática da resolução de problemas é
Outra concepção de resolução de essencial o planejamento da escolha das
problemas situações-problema e das possíveis perguntas
- Perspectiva Metodológica da Resolução de que levarão à reflexão e análise da questão;
Problemas; - Terceira característica, a não separação
- Nessa perspectiva, a resolução de entre conteúdo e metodologia. Isto é, não há
problemas é uma forma de organizar o ensino método de ensino sem que esteja sendo
que envolve mais que aspectos puramente trabalhado algum conteúdo, e todo conteúdo
metodológicos, incluindo toda uma concepção solicita uma ou mais formas adequadas de
frente ao que é ensinar e, consequentemente, abordagem para alcançar a aprendizagem;
do que significa aprender, e uma - As problematizações devem ter como
compreensão de por que ensinar matemática; objetivo alcançar a aprendizagem de algum
- A resolução de problemas é uma postura conteúdo porque contêm questões que me-
pautada pela investigação e pelo recem ser respondidas;
inconformismo, ou, como vamos explicar mais - Compreendemos como conteúdo não
adiante, pela problematização; apenas os conceitos e propriedades
- Problema é toda situação que não possui matemáticas, mas também as habilidades de
solução evidente e que exige que o resolvedor pensamento envolvidas no processo de
combine seus conhecimentos e se decida pela resolução. Essas habilidades são o
forma de usá-los em busca das soluções; reconhecimento da situação como um
- É considerar como problema toda situação problema, análise dos dados em função do
que permita alguma problematização. que se quer respon- der, estabelecimento de
Essas situações podem ser atividades bem estratégia e alocação dos recursos necessá-
diversas; rios para implementar essa estratégia, tomada
- A segunda característica é a de decisão e execução, assim como avaliação
problematização. A resolução de problemas da resposta obtida para, eventualmente, saber
tradicional está centrada em apenas duas reconhecer erros ou faltas e recomeçar o
ações: o professor ou o texto didático processo de resolução;
propõem problemas e os alunos devem - Trabalhar na Perspectiva Metodológica da
resolvê-los. Na Perspectiva Metodológica de Resolução de Problemas requer diversificar as
Resolução de Problemas, inserimos mais formas e organizações dos alunos em sala e é
preciso construir estratégias e recursos de
ensino novos, para que com os alunos se c) Há sempre uma maneira certa de resolver
estabeleça um ambiente de produ- ção ou de um problema, mesmo quando há várias
re-produção do saber. soluções uma delas é a correta;
d) Aprender a resolver problemas é uma
Problemas convencionais e problemas não questão de esforço e prática, eu aprendo
convencionais tomando notas, memorizando todos os passos
a) Os problemas convencionais de uma sequência correta e praticando; e
- Se caracterizam por: e) Um bom professor não deve me deixar
a) O texto do problema ser composto por confuso. É responsabilidade do professor
frases, diagramas ou parágrafos curtos; orientar o que devo fazer, pois isso é ensinar.
b) O problema ser proposto após a - Não basta saber que o ensino pautado pelos
apresentação de determinado conteúdo; problemas conven- cionais gera essas
c) Todos os dados de que o resolvedor crenças, nem significa romper com esses
necessita aparecem explicitamente no texto; problemas, tampouco basta propor problemas
d) A resolução depender da aplicação direta interessantes, é preciso, sim, diversifi- car os
de um ou mais cálculos ou aplicação de tipos de problemas que se propõem, mas é
procedimento já apresentado ao resolvedor; igualmente importante estabelecer um
e) A resolução seguir os seguintes passos: ambiente de aprendizagem em que o aluno se
transformar as informações do problema em perceba como ser pensante e produtor de seu
linguagem matemática, identificar que próprio conhecimento.
operações são apropriadas e mostrar a
solução; e b) Os problemas não convencionais
f) Ser essencial encontrar a resposta correta, - O objetivo ao selecionar outros problemas
que existe e é quase sempre única. além dos convencionais é que os alunos não
- São apresentados sempre relacionados a consolidem crenças inadequadas sobre o que
um conteúdo específico. Problemas que se é problema, o que é resolver problemas e,
resolvem por adição após o estudo da adição, consequentemente, sobre o que é pensar e
problemas sobre medidas de comprimento aprender em matemática;
após o estudo dessas medidas e assim por - São aqueles que rompem com as
diante. características de um problema convencional;
Segundo Diniz (2001, p. 89): - Problemas não necessariamente
Quando adotamos os problemas relacionados a um conteúdo específico,
convencionais como único material para o problemas com várias soluções, problemas
trabalho com resolução de problemas na com excesso de informações e aqueles
escola, podemos levar o aluno a uma postura apresentados com diferentes tipos de textos
de fragilidade e insegurança frente a situações permitem ao aluno desenvolver sua
que exijam algum desafio maior; capacidade de leitura e análise crítica, pois,
- Outro aspecto, são as más concepções que para resolver a situação proposta, é
os alunos desenvolvem em relação a resolver necessário voltar muitas vezes ao texto para
problemas; lidar com os dados e analisá-los, selecionando
- Borasi (1993), identificou as más os que são relevantes e descartando os
concepções, segundo essa pesquisadora, se supérfluos.
revelam muitas vezes nas falas dos alunos, - O aluno naturalmente abandona a
assim: passividade e adquire uma postura
a) Não vale a pena gastar muito tempo para diferenciada frente à resolução de problemas;
resolver um problema, se a solução não pode e
ser encontrada rapidamente é porque eu não - É importante que o professor conheça
sei resolvê-lo; diferentes tipos de problemas que podem ser
b) Se eu cometi um erro devo desistir e propostos aos alunos e quais são as
começar tudo de novo, não adianta tentar características de cada tipo para propô-los da
entender o porquê do erro; forma mais adequada.
Texto-base: O Recurso Problemateca longo do ano, propor esses problemas para
Uma coletânea de problemas não que os alunos tenham oportunidade de
convencionais é o que denominamos desenvolver diferentes estratégias de
problemateca. pensamento para a resolução de problemas.
- O objetivo é oferecer aos alunos a
possibilidade de resolverem problemas Diferentes tipos de problemas
que exigem a elaboração de estratégias a) Problemas sem solução
não convencionais para sua resolução; - Esse tipo de problema evita que se
- A problemateca pode ser utilizada de duas estabeleça nos alunos a concepção de que os
formas: dados que estão no problema devem ser
a) Como um arquivo de problemas do usados na resolução e de que todo problema
professor, há pelo menos três formas tem solução;
diferentes de organização dos alunos para a - Ajuda a desenvolver no aluno a habilidade
utilização dos problemas da problemateca: de aprender a duvidar, que faz parte do
1ª) A primeira delas é a seleção pelo professor pensamento crítico;
de um ou dois problemas para serem - Um exemplo:
resolvidos por todos os alunos em uma aula; Para fazer um tratamento dentário, Carla irá
2ª) Individualmente ou em duplas, os alunos ao dentista duas vezes por semana e, em
têm um tempo para pensar e resolver os cada consulta, ficará uma hora. Quanto irá
problemas e, em seguida, há uma aula durar o tratamento?
coletiva em que todos podem apresentar e * Nesse caso, o problema não tem solução
debater as resoluções. porque falta a informação de quantas
b) A segunda forma de utilização é nos semanas vai durar o tratamento de Carla.
momentos de trabalho diversificado. Os - Uma forma de obter esse tipo de problema é
problemas são organizados em uma caixa ou retirar um ou mais dados de um problema
fichário com fichas numeradas contendo um convencional.
problema em cada uma e a resposta no verso,
para utilização direta dos alunos que termi- b) Problemas com mais de uma solução
naram suas tarefas coletivas, cada um em seu - Fazem com que o aluno perceba que
ritmo; resolver problemas é um processo de
- Os problemas mais complexos, que exigem investigação, do qual ele participa e em que
mais tempo, podem ser trabalhados na pode produzir soluções diferentes daquelas
terceira versão da problemateca, que é na encontradas por seus colegas;
forma de um “problema da semana”. Ou seja, - Um exemplo:
esse problema é proposto aos alunos e eles Pedro e seu irmão ganharam 6 brinquedos.
têm o tempo de uma semana para resolvê-lo; Quantos brinquedos Pedro ganhou?
- A problemateca pode ter também uma * As possibilidades de resposta são: 1, 2, 3, 4
versão virtual. Um banco de problemas no ou 5 brinquedos para Pedro. Há ainda a
computador torna a escolha e a troca de possibilidade de Pedro não ter recebido
problemas muito mais rápidas, o que permite nenhum brinquedo ou ter ganho todos os 6;
constante atualização do acervo; no entanto, o texto sugere que os dois irmãos
- Os problemas são todos não convencionais, receberam presentes, o que elimina essas
ou seja, não têm solução evidente, nem duas últimas possibilidades.
sempre se resolvem com uma conta ou - A obtenção de planificações de poliedros e
algoritmo; podem ter mais de uma resposta vários problemas que exigem alguma
correta ou não terem resposta possível; construção geométrica têm, em geral, várias
- Quando um aluno resolve determinado soluções;
problema, é importante que ele explique como - Nessa categoria de problemas encontram-se
pensou; assim, o professor saberá se seus aqueles mais adequados aos anos iniciais,
objetivos foram alcançados; e incluindo-se a Educação Infantil, que são
- Conhecer os tipos e as finalidades permite simulações da realidade. Esses problemas
ao professor planejar a melhor forma de, ao apresentam ao aluno uma situação que pode
ser real, próxima à vivência da criança, e que ou revistas e anúncios de vendas também são
per- mite várias soluções, umas mais problemas com excesso de informações.
adequadas que outras, mas sempre mais do
que uma delas; d) Problemas de lógica
- Alguns problemas convencionais podem ser - Esses são problemas que exigem o
transformados nesse tipo de problema raciocínio lógico-dedutivo em sua resolução;
retirando-se alguma condição entre os dados. - Muitas vezes não contêm números em seus
dados, mas pistas na forma de afirmações
c) Problemas com excesso de dados que, combinadas, devem levar à resposta do
- Problemas com informações desnecessárias problema.
à resolução; - Um exemplo:
- Esse tipo de problema impede que os alunos Três pessoas têm profissões diferentes. Eles
desenvolvam a crença de que um problema têm preferência por alimentos e bebidas
não pode permitir dúvidas e de que todos os diferentes. Siga as pistas e depois responda
dados do texto são necessários para sua às perguntas.
resolução; 1) Paulo bebe leite e não é advogado;
- Evidencia ao aluno a importância de ler, 2) O amigo de quem é motorista prefere
fazendo com que ele aprenda a selecionar refrigerante;
dados relevantes para a resolução de um 3) André não come pizza nem batatas fritas.
problema; 4) Sérgio é músico; e
- Um exemplo: 5) Quem come pizza bebe café.
Ontem de manhã, tia Lúcia saiu de casa com
45 reais na carteira para receber sua Quem prefere pizza?
aposentadoria. Chegou ao banco às 9 h 30 Quem bebe refrigerante?
min e ficou na calçada esperando o banco Quem é motorista?
abrir. Às 10 h, entrou e recebeu seu dinheiro.
Antes de ir para casa, passou no * Para resolver o problema é preciso algum
supermercado e gastou 64 reais. No açougue, registro – uma tabela, uma lista, um esquema;
comprou carne e frango com 25 reais. Quando cada pessoa prefere uma forma para
chegou em casa tinha 605 reais. Quanto tia organizar os dados. A cada informação é
Lúcia recebeu de aposentadoria? preciso voltar às demais pistas do texto e
* Todos os dados relativos a horários e ao que combiná-las para deduzir algo sobre os
foi comprado são informações personagens e suas preferências.
desnecessárias. ** O problema se resolve ** No problema acima, é possível concluir,
adicionando- -se 605 + 25 + 64 = 694 e com base na informação de que Paulo bebe
subtraindo-se o que já estava na carteira: 694 leite e quem come pizza bebe café, que Paulo
– 45 = 649 reais, que deve ser o valor da não prefere pizza. Mas André também não
aposentadoria de tia Lúcia. come pizza; assim, resta Sérgio na
*** Repare que esse problema pode ser preferência desse tipo de alimento. A resposta
resolvido com outras sequências de cálculos. final ao problema é: Sérgio prefere pizza,
- De acordo com Stancanelli (2001, p. 111): André bebe refrigerante e Paulo é o motorista.
Esse tipo de problema se aproxima de - Problemas como esse permitem o
situações mais realistas que o aluno terá que desenvolvimento de operações de
enfrentar em sua vida, pois na maioria das pensamento, como: previsão e checagem,
vezes os problemas que se apresentam no levantamento de hipóteses, busca de
cotidiano não são propostos de forma objetiva suposições, análise e classificação. Além de
e concisa; envolver estratégias não convencionais para
- Esse tipo de problema pode ser produzido sua resolução;
acrescentando-se dados a um problema - Esses problemas, pelo curso das histórias e
convencional. Problemas propostos a partir de pela sua estrutura, estimulam mais a análise
dados em tabelas, gráficos, artigos de jornais dos dados, favorecem a leitura e interpretação
do texto e, por serem motivadores, atenuam a
pressão para se obter a resposta correta - Antes da discussão coletiva, os alunos
imediatamente; tenham tempo para pensar sobre o problema
- As crenças de que todo problema exige e tentar resolvê-lo por si mesmos;
cálculos ou aplicação de fórmulas e de que a - A resolução dos problemas deve ser um
resolução deve ser rápida não têm espaço momento de investigação, descoberta, prazer
quando se trabalha com esse tipo de e aprendizagem; e
problema; - Diversidade de problemas tem também o
- Eles naturalmente permitem que os alunos objetivo de mudar a postura dos alunos frente
apresentem diferentes resoluções, o que à resolução de problemas, desmistificando as
favorece a argumentação e a ampliação do crenças descritas por Borasi (1993) como más
repertório dos alunos quando uns conhecem concepções dos alunos.
os registros das diversas soluções
encontradas por seus colegas; e A problemateca
- Esses problemas podem ser propostos - Esses problemas não convencionais foram
desde os anos iniciais, com textos mais organizados em três grandes blocos e em
simples do que o do exemplo acima. cada bloco se apresentam com a indicação do
ano escolar mais adequado para sua
e) Problemas de estratégia aplicação:
- Esse é um problema que, por si só, solicita a) No grupo Lógica: Estão aqueles problemas
uma estratégia para sua resolução e não um não relacionados a qualquer conteúdo
algoritmo; específico de matemática, cujo objetivo é
- A solução desse tipo de problema depende desenvolver nos alunos seu raciocínio
de combinar as informações do texto de forma lógico-dedutivo;
adequada e escolher alguma estratégia não b) No bloco de Números e operações: Estão
convencional para sua resolução; e problemas que apresentam esse tema como
- Exemplo: foco maior, mas que obviamente exigem dos
Um elevador inicia sua descida no 16° andar, alunos diferentes formas de raciocínio,
2 das pessoas descem no 9° andar e sobem inclusive o lógico-dedutivo; e
outras 3 pessoas; no 6° andar descem 4 c) No bloco Espaço e forma e Medida:
pessoas e no 5° andar sobem 3 pessoas. Apresenta problemas que envolvem algum
Finalmente, em sua última parada antes do conteúdo de Espaço e Forma ou de
térreo, no 2o andar, desce 1 pessoa e sobem Grandezas e Medidas.
3. No térreo descem as 7 pessoas que - Essa categorização não é rígida nem
estavam no elevador. Quantas pessoas inquestionável, mas pretendeu auxiliar o
estavam no elevador no 16° andar, quando ele professor na escolha dos problemas de
começou essa descida? acordo com seus objetivos de ensino, sem se
* É preciso pensar de trás para frente, distanciar dos conteúdos que, usualmente,
começando com as informações do final do tem como meta que os alunos aprendam;
texto. Um esquema ou desenho pode ajudar - É importante planejar de modo que os
na resolução e chegar à resposta, que é: 6 alunos resolvam pelo menos um ou dois
pessoas estavam no elevador no 16° andar. problemas não convencionais por semana e
que os tipos de problemas se apresentem
Para terminar alternadamente;
- Não devemos trabalhar com os diversos - O professor não deve se preocupar com a
tipos de uma só vez; quantidade, mas com a qualidade das
- Resolução de problemas ao longo de todo o discussões sobre as resoluções propostas
curso de forma diversificada e pertinente; pelos alunos; e
- Planejar que os alunos resolvam um ou dois - Não é o caso de treinar estratégias de
problemas não convencionais a cada semana, resolução, mas de formar alunos pensantes,
alternando os tipos de problemas; questionadores e confiantes em suas formas
de pensar.
Videoaula 4: Resolução de problemas e o exercícios e escolhe o método de resolução,
ensino de Matemática contém uma única resposta;
Definição tradicional de resolução de - Problema mal definido: Geralmente
problemas problemas das áreas sociais; e
- Entre esses dois extremos existe uma vasta
opção de problemas que podem ser propostos
aos alunos. E o importante é que se proponha
problemas que tenham mais de uma solução
para que os alunos debatam.

Os problemas podem ser de duas


naturezas: Problemas rotineiros ou
convencionais e Problemas não rotineiros
- Essa tem sido a grande ênfase nas teorias ou não convencionais
que é buscar formas de ensinar para o aluno
problemas que eles não saibam todos os
caminhos e sim problemáticas que ele terá
que buscar estratégias no momento de
aprendizagem. Nesta teoria o aluno é bem
ativo e o professor ganha o papel de mediador
da aprendizagem do educando.

Diferença de exercício e problema


- A ideia da resolução de problemas é
levarmos para a sala de aula os problemas
não convencionais, pois isto estimulará os
alunos na evolução de sua criatividade, os
fará pensar de uma maneira não
convencional, sendo realmente desafiados.

1ª Linha de pensamento: Ensino ACERCA


DA resolução de problemas
- No exercícios dá-se uma lista de alunos e
eles resolvam depois que estes estudaram a
teoria; e
- No problema os alunos têm conhecimento de
parte da teoria ou não tem a teoria e tentam
solucionar os problemas.

Existem: problemas bem definidos e mal - Este tipo de ensino foi formulado por George
definidos Polya e apresentado por meio de seu livro (A
Arte de Resolver problemas):

- Problema bem definido: É aquele problema


típico da matemática, onde o aluno recebe
* Sua teoria dizia que as aulas de matemática 2ª Linha de pensamento: Ensino PARA A
deveriam estar embasadas na resolução de resolução de problemas
problemas.

a) Etapas da resolução de problemas

- Aqui diferente da teoria anterior que dizia


que o aluno deveria seguir e adquirir para si
aquelas estratégias de resolução de
problemas, está teoria segue outras
- Essas etapas não são fixas, elas podem ir e proposições (abaixo descritas).
voltar;
- Na primeira etapa (Compreensão do a) Etapas da resolução de problemas
Problema) além do supracitado é importante
que o professor também cative o aluno,
motivando-o para resolver problemas, fazendo
com que ele veja sendto;
- Na terceira etapa é a etapa do
desenvolvimento do raciocínio propriamente
dito, aqui o aluno criará conhecimentos
matemático por si só;
- A quarta etapa é a mais importante, é nela
que o aluno irá voltar no que estudou e fará a
- Práticas de “problemas de palavras”: É
consolidação dos conhecimentos adquiridos; e
criado um contexto que aborda os
- No momento em que o aluno consolidar
procedimentos que estão por detrás conforme
estes conhecimentos ele criará significados
galgados na etapa anterior;
para aquele conhecimento adquirido,
- O problema é a etapa final, primeiro
culminando nos conhecimentos significativos.
ensina-se os conceitos matemáticos, para
depois solucionar problemas. Por isso o
b) Dicionário de Heurística
conceito “para a”.

3ª Linha de pensamento: Ensino ATRAVÉS


DA resolução de problemas

- O autor mencionado anteriormente propôs


que as quatro etapas para a resolução de
problemas deveriam ser seguidas a partir de
um dicionário de heurística (questões) que
nortearam os alunos através de
questionamentos como os acima.
- É na escola o lugar de adquirir os conceitos
científicos, sistematizar os conceitos
adquiridos espontaneamente no cotidiano,
como afirma Vygotsky;
- Através de situações de comunicação, o
professor pode obter informações importantes
sobre conhecimentos prévios e
incompreensões dos alunos. Tal
conhecimento orienta o trabalho do professor,
- Esse pensa a resolução de problemas como que pode, então, planejar atividades
um modo de instrução; apropriadas para superar dificuldades
- A resolução de problemas vista como uma encontradas e atender a necessidades
teoria. individuais. (CÂNDIDO, 2001, p. 27);
- A Escola como instituição responsável pela
A formulação de problemas formalização dos conhecimentos não pode
partir do pressuposto de que aquele
conhecimento adquirido informalmente não
tem valor para a estruturação do saber
científico;
- É fundamental que o professor, antes de
elaborar situações de aprendizagem,
investigue qual é o domínio que cada criança
- Para além do aluno saber resolver tem sobre o assunto que vai explorar;
problemas é importante também que ele saiba - O ensino da matemática de forma
criar problemas; e tradicional, como uma simples transmissão de
- Instigar o aluno a trazerem e a formularem conhecimentos através de técnicas
problemas, com isso a criatividade e a desprovidas de significados e a repetição do
originalidade do educando está sendo algoritmo sem sentido algum, dão lugar à
trabalhada. memorização, repetição sem a garantia do
sucesso da aprendizagem;
Semana 6 (30/10): Ensino e aprendizagem - Tradicionalmente difundidas em torno da
de conceitos matemáticos no Ensino Álgebra têm colocado em foco principalmente
Fundamental a memorização e mecanização de fórmulas,
como metodologia para assimilação dos
Texto-base: Pensamento Algébrico: uma conceitos algébricos;
relação entre álgebra, aritmética e - A escola em vez de ser uma aliada do
geometria estudante para facilitar suas atividades do dia
Introdução a dia, torna-se um fator que dificulta, quando a
- O ensino intra-disciplinar e de forma abordagem em torno do assunto difunde muito
integrada tende a fortalecer a aprendizagem da realidade do mesmo;
das três, sem a ideia de linearidade; - Os livros didáticos, muitas vezes utilizados
- Algumas ideias ou procedimentos como “livros de receitas”, não trazem
matemáticos, como proporcionalidade, metodologias que, por si só, são capazes de
composição e estimativa, são fontes naturais construir o conhecimento;
e potentes de inter-relação e, desse modo, - A simples repetição de regras e fórmulas,
prestam-se a uma abordagem dos conteúdos não possibilita ao aluno fazer conexões e
em que diversas relações podem ser pensar de forma autônoma e nem facilita a
estabelecidas.( BRASIL, 2001, p.38); compreensão dos conceitos e procedimentos
- Lorenzato(2006) também defende o ensino estabelecidos pela Álgebra;
da Matemática no Ensino Básico de forma - Um livro muito bem elaborado, aliado a uma
integradora; boa formação do professor é uma excelente
fonte para a construção do conhecimento
matemático, até mesmo porque a Álgebra tem - Explicar é muito mais do que fazer uma mera
ocupado lugar privilegiado nos livros didáticos; exposição. É buscar na estrutura cognitiva dos
e alunos as ideias relevantes que servirão como
- Um livro muito bem elaborado, aliado a uma ponto de partida para o que se quer ensinar. É
boa formação do professor é uma excelente caminhar com base nessas ideias, ampliando
fonte para a construção do conhecimento os esquemas mentais já existentes,
matemático, até mesmo porque a Álgebra tem modificando-os ou substituindo-os por outros
ocupado lugar privilegiado nos livros didáticos. mais sólidos e abrangentes. Nesta tarefa
desempenham papel fundamental e
Relação entre a Álgebra e a Aritmética exemplificação e o enriquecimento do que
- A concepção que a grande maioria dos está sendo explicado com um número
estudantes têm da Álgebra, que a letra é suficiente de informações. (MOYSES, 2006, p.
sempre uma incógnita, serve apenas para 37);
indicar um valor desconhecido; - A Álgebra hoje é apresentada formalmente
- Os adolescentes desenvolvem de forma aos estudantes do Ensino Fundamental
bastante significativa a habilidade de pensar somente a partir do 7º ano ( 6ª série) quando
“abstratamente”, se lhes forem letras são usadas pra representar números e
proporcionadas experiências variadas, de acordo com Souza e Diniz (1996), de forma
envolvendo noções algébricas, a partir dos fragmentada, abstrata e descontextualizada
ciclos iniciais, de modo informal, em um sem a preocupação com formação do
trabalho articulado com a Aritmética. Assim os conceito da variável em suas diversas formas.
alunos adquirem base para uma Lins e Gimenez (1997, p. 10);
aprendizagem de Álgebra mais sólida e rica - “É preciso começar mais cedo o trabalho
de significados.(BRASIL,1998, p.117); com a Álgebra, e de modo que esta e a
- Se o aluno não é capaz de apropriar-se dos Aritmética desenvolva-se juntas, uma
conceitos algébricos ele não desperta o prazer implicada no desenvolvimento da outra”;
de aprendê-los; - Um dos principais problemas da
- As situações de aprendizagem precisam aprendizagem da Álgebra, como assinala o
estar PCN(1998), é a noção de variável;
centradas na construção de significados, na - Klüsener (2001, p. 186), acentua que “ O uso
elaboração de estratégias e na resolução de de variáveis tende a confundir-se com o
problemas em que o aluno desenvolve simples uso das letras x, y, z ...
processos importantes como intuição, manipulando-as naturalmente, sem chegar a
analogia, indução e dedução e não atividades valorizar a sua complexidade, nem os seus
voltadas para a memorização desprovidas de múltiplos significados”;
compreensão ou de um trabalho que privilegie - A internalização do conceito de variável
uma formalização precoce de conceitos depende de dois processos: o de
(BRASIL, 1998, p.63); generalização que permite a passagem de
- O papel do professor é fundamental para situações concretas para aquilo que é comum
que os estudantes desenvolvam um sentido a todas elas e a simbolização que é uma
numérico concomitante ao pensamento forma reduzida de expressar essa
algébrico, levando-os a perceber o que há de característica comum a todas as situações. O
comum entre as duas, para que consigam conceito de generalização pode ser
fazer a transição da Aritmética para a Álgebra desenvolvido ainda Ensino Fundamental I, por
como uma continuidade e não como uma meio de atividades que trabalham com padrão
fenda; sem a necessidade de apresentação formal
- Matos (2005, p.54) lembra que é preciso “ da Álgebra;
levar o aluno a encarar a Álgebra, não só - Em sempre o estudante consegue perceber
como um assunto que se deve dominar, mas essa diferença entre variável e incógnita, o
também como uma ferramenta que é que dificulta ou praticamente impede que este
importante saber mobilizar em diferentes desenvolva o pensamento algébrico;
situações”;
- O conceito de variável, cabe ao professor desde que o professor trabalhe no estudante
utilizar de metodologias diversificadas para tal habilidade e conduza o processo de
que o estudante produza significados que o investigação;
assegure a formação do conceito; - O trabalho com padrões e regularidades por
meio da Resolução de Problemas é uma
a) O pensamento Algébrico estratégia metodológica que permite aos
- Nos tempos atuais, o grande objetivo da estudantes elaborar conjecturas a partir de
Álgebra é o desenvolvimento do pensamento suas observações e reflexões, e desenvolver
algébrico; conceitos algébricos, ao invés de desenvolver
- De acordo Vygotsky “[...] o desenvolvimento competência no desempenho de
do pensamento é determinado pela manipulações algorítmicas sem significados
linguagem, isto é, pelos instrumentos para este.
linguísticos do pensamento e pela experiência
sociocultural da criança” (VYGOTSKI, 1998, Relação entre a Álgebra, a Aritmética e a
p.62); Geometria
- O pensamento algébrico é favorecido - Interessante também propor situações em
quando, desde as séries iniciais do ensino que os alunos possam investigar padrões,
fundamental, se valoriza as diferentes formas tanto em sucessões numéricas como em
de representação de ideias e relações representações geométricas e identificar suas
matemáticas, através de recursos diversos estruturas, construindo a linguagem algébrica
como símbolos, desenhos, material para descrevê-los simbolicamente. Esse
manipulativo e atividades de agrupar, trabalho favorece que o aluno construa a ideia
classificar, ordenar que facilitem os trabalhos de Álgebra como uma linguagem para
com os padrões; expressar regularidades. (BRASIL, 1997,
- O pensamento algébrico está associado à p.117);
capacidade de estabelecer generalizações e - As representações geométricas auxiliam na
relações, interpretar situações e resolver organização do pensamento lógico, que é
problemas. Mason (1996) acentua que a fundamental na resolução de problemas;
generalização é o coração da Matemática; - A figura ajuda na capacidade de expressar
- Estratégias de ensino devem ser algebricamente um pensamento, estabelecer
diversificadas pelos professores para que os relações e fazer generalizações;
estudantes desenvolvam a compreensão da - As experiências de resolução de perímetro,
linguagem algébrica de forma mais área e volume, podem ser usadas para
espontânea e não venham a sofrer tamanho proporcionarem uma melhor compreensão
impacto com a transição da Aritmética para a dos cálculos algébricos, uma vez que, por
Álgebra. A generalização é um dos caminhos meio da geometria métrica o estudante já
alternativos para o desenvolvimento do adquire conceitos que são extremamente úteis
pensamento algébrico, que só se concretiza na construção do conhecimento algébrico;
se utilizar desta habilidade para resolução de - A Geometria, segundo Fiorentini (1992)
diferentes problemas e situações, caso tende a subsidiar a construção dos conceitos
contrário fica fortemente restringido na sua algébricos;
competência matemática ( PONTE, 2005); - Lins e Gimenez (2005, p.11), “[...] a
- É importante que o estudante seja envolvido introdução da álgebra é o grande momento de
em atividades de caráter exploratório e corte na educação matemática escolar, e que
investigativo, contribuindo para o a reação usual é deixar para depois, ao invés
desenvolvimento das atividades relacionadas de antecipar essa introdução”;
ao - Aritmética e a Álgebra constituem, junto com
pensamento algébrico ( ABRANTES, a Geometria, a base da matemática escolar”
SERRAZINA e OLIVEIRA, 1999; NCTM (LINS e GIMENEZ, 1997, p. 13); e
2007); - O ensino da Álgebra deve não só estar
- A investigação é uma metodologia de ensino articulado com os conceitos aritméticos desde
que pode ser utilizada desde as séries iniciais, os anos iniciais do Ensino Fundamental, mas
enfatizar as várias concepções da álgebra 1) Aritméticas e os demais campos
também dentro da Geometria, visando assim,
um efetivo desenvolvimento do pensamento
abstrato e a capacidade para generalizar os
conceitos nas séries posteriores à educação
básica.

Conclusão
- As dificuldades de compreensão
apresentadas pelos estudantes no
ensino/aprendizagem da Matemática, os induz - A noção de quantidade trabalhada na reta
a pensar que a matemática é extremamente numérica irá auxiliar o aluno a entender o
difícil e inútil; aspecto de comprimento;
- A culpa muitas vezes sobre cai no trabalho - O geoplano auxilia a trabalhar geometria e
do professor, que se justifica por má formação também aritmética por meio de multiplicações
ou pelas condições de trabalho que se fazem realizadas com os quadrados ali existentes;
necessárias devido à remuneração precária; - Trabalhar com busca de padrões, pois isso
- A falta de motivação para a aprendizagem fará com que o educando relacione padrões e
Matemática se dá pela falta de aplicabilidade isso está começando a introduzir o aluno no
dos cálculos matemáticos na vida; pensamento algébrico; e
- O conhecimento quando construído, ao invés - A álgebra é uma abstração da matemática,
de transmitido pelo professor faz muito mais aonde se trabalha generalizações.
sentido para estudante, por isso é mais
facilmente absorvido; Exemplo na multiplicação
- A iniciação do conhecimento algébrico o
quanto antes na vida escolar da criança é um
dos caminhos almejados para a concretização
de um conhecimento matemático mais
integrador e provocante, possibilitando aos
alunos desenvolverem suas capacidades
matemáticas com compreensão; e
- Atividades adequadas sem uma abordagem
pontual não geram significados,
principalmente quando estas são de cunho
- 5 traços na horizontal e 6 traços na vertical,
investigativo.
o aluno conseguirá descobrir com este
método multiplicando o número total de
Material-base: Relações entre os diferentes
traços. Além disso, é possível ainda o aluno
campos da Matemática
perceber que 5X6 é o mesmo que 6X5.
Como as unidades temáticas estão
organizadas na BNCC?
Exemplo de aritmética e combinatória

- Os diferentes campos da Matemática devem


- Trabalhar com análise combinatória, por
ser trabalhados de maneira integrada.
exemplo, fazer com que o aluno faça uma
combinação com o retângulo vermelho com o
verde e assim por diante.

2) Geometria, grandezas e medidas

Jogo de dados
- Geogebra é um aplicativo que auxilia no
aprendizado de geometria com algebra; e
- Trabalhar os números figurados para
aprender relações aritméticas.

Trabalhar o quadrado perfeito

- Jogar dois dados e a soma dos dois é a


quantidade de casas que ele andará;
- Este jogo possibilita ao aluno perceber que a
escolha inicial que o aluno fizer poderá
- Essa imagem pode ser trabalhada no determinar se ele irá chegar primeiro ou não;
Algeplan para trabalhar o aspecto geométrico e
e algébrico. - Neste jogo não temos o um, pois o menor
resultado que é possível de dar é o dois.
Números figurados
4) Probabilidade e estatística

- A ideia aqui é forma formas geométricas a


partir de pontos; - Buscar dados em jornais, revistas para
- É possível trabalhar potenciação com este trabalhar estatísticas e probabilidade; e
tipo de imagem; - É possível percebermos o quão importante e
- Trabalhar também a percepção de como podemos trabalhar os diferentes
regularidades e irregularidades, por exemplo. campos da matemática integrado.

3) Probabilidade e estatística Videoaula 5: Dificuldades de aprendizagem


de Álgebra
A natureza das respostas

- Aqui a aluna considera 5n, mas não tem


certeza de que isso poderia ser uma resposta,
pois ela considera estranho ver uma letra
- No momento em que o aluno está junto com um número.
começando a trabalhar com a álgebra ele
acha muito estranho a ideia de ter letra como Outras dificuldades
resultado e com isso a ideia do número está
muito presente;
- A resposta algébrica pode sim ter dois
termos e letra.

Erros comuns no início do aprendizado de


álgebra

- Uma das dificuldades é as representação da


multiplicação;
- Essas diferentes representações deixam os
alunos muitos confusos;
- Para o aluno o símbolo precisa sempre estar
exercendo uma função, por exemplo 5a+5b, o
aluno acredita que sempre precisa executar
uma soma, quando na verdade não o dá;
- As letras também tem um rotulo, por
exemplo, o “m” para representar metro, o
aluno acredita que o “x” pode está
representando algo, quando na verdade é
simplesmente uma noção de abstração;
- Noção de variável que causa muita
confusão; e
- É uma postura muito esperada da aluna que - A ordem dos cálculos geram também muita
acredita que é preciso sempre ter números confusão.
para representar a resposta. No exemplo
acima a aluna poderia ter dito simplesmente Por exemplo…
2n como resposta, mas para ela isso é
inconcebível, já que não é possível ter letras
na resposta;
- Muitas vezes consideramos o exercício que
o aluno fez errado, mas não questionamos a
ele o porquê que chegou aquele pensamento
e quando assim o fazemos, percebemos que
estes erros não são por acaso e eles possuem
resposta.
Semana 7 (06/11): Comunicação e
interação nas aulas de Matemática
Material-base: Comunicação nas aulas de
Matemática
- Encontramos diferentes tipos de
comunicação nas aulas de matemática;
- Padrões de comunicação entre o professor e
alunos:
- Pela necessidade de utilizar o 5 e fazer uma
a) monólogo;
operação, o aluno confunde e ele acha que
- Exemplo:
precisa substituir o “y” por alguma valor,
quando na verdade este é multiplicando
aquele;
- Este problema ocorre por causa de
exercícios assim que é dado para as crianças
realizarem:

- O professor fala, o aluno escuta.


b) diálogo;
- Características:
* Atividades investigativas: descobertas;
** Imprevisibilidade: oportunidades de
aprendizagem;
*** Promover a igualdade: todos têm direito à
fala;
**** Atos dialógicos: estabelecer contato,
perceber, reconhecer, posicionar-se, pensar
alto, reformular, desafiar e avaliar
- Explicitar perspectivas;
- Aprofundar perspectivas;
- Tentar compreender o que o outro diz;
- Neste exemplo o aluno entendeu, mas teve
- Reformular perspectivas;
dificuldades em expressar seus pensamentos
- Fazer perguntas;
algebricamente.
- Argumentar e defender uma perspectiva;
- Desafiar; e
Dificuldades em relação ao conceito de
- Avaliar o trabalho realizado.
função
c) “sanduíche”:
- Exemplo:

- Professor pergunta, aluno responde,


professor avalia.
d) “adivinhação” e/ou “funil”.
- Exemplo:
- Os termos utilizados na aprendizagem de
função (domínio, contradomínio);
- Dificuldade de uma representação para
outra, por exemplo, da escrita para a gráfica.
- As perguntas se tornam mais diretas e as
respostas mais próximas daquela esperada
pelo professor. Padrão funil

- Absolutismo burocrático:
a) O absolutismo, sustentar que os erros são
absolutos e podem ser eliminados pelo Texto-base: O diálogo nos ambientes de
professor” (p. 22); aprendizagem nas aulas de matemática
b) A tarefa do professor é detectar e eliminar Introdução
esses erros. Não significa que não deve-se - Pedagogia do Oprimido, a importância da
corrigir os erros (relativismo absoluto); dialogicidade como prática educativa
c) Os erros precisam ser discutidos e libertadora em contraposição à teoria da ação
relativizados (processo, resultado, algoritmo, antidialógica que se utiliza da relação com o
sequência de ações, interpretação). Apontar outro para manter a opressão. “Os opressores
caminhos por onde o aluno deve “caminhar”; pretendem transformar a mentalidade dos
d) O modo como o professor enxerga o erro oprimidos e não a situação que os oprime”
em matemática também influencia no modo (FREIRE, 1987, p.34);
como ele se comunica com os alunos; - O papel político da educação na perspectiva
e) Mesmo o professor querendo mudar sua de emancipação humana;
prática, muitas vezes não consegue pois o - Como afirmam Shor e Freire (1986), o
ambiente escolar foi engessado pelo diálogo não é uma técnica de ensino para
absolutismo burocrático; e obter resultados e menos ainda uma forma de
f) Por um lado, o professor tem que formar manipulação para conquistar amizades na
alunos críticos, por outro tem que seguir um relação professor-aluno; e
livro-texto e treinar os alunos para - Freire (1987) destaca que para o diálogo
determinadas provas baseadas em acontecer são necessários dois elementos
absolutismos burocráticos. primordiais: ação e reflexão. Ele não se
- Padrões de comunicação e aprendizagem: esgota na relação “eu-tu” e nos interesses
a) Formas de comunicação estabelecidas nas desse binômio. O diálogo é, portanto, inerente
aulas influenciam as qualidades da à natureza da humanidade e se caracteriza
aprendizagem de matemática (ALRØ; pelo encontro entre pessoas capazes de
SKOVSMOSE, 2004); refletir sobre suas realidades, de analisá-las
b) Dependendo do modo como o professor criticamente e transformá-las.
possibilita que os alunos manifestem-se e
como ele responde a essas manifestações, o Educação Matemática Crítica como campo
tipo de participação dos alunos na aula será de estudo e de pesquisa
distinto e isso influencia no processo de - A Educação Matemática Crítica (EMC) é um
aprendizagem (STREITLIEN, 2010); campo de estudo que revela preocupações
c) Não só as metodologias de ensino com a matemática e seu ensino. Esse campo
influenciam o tipo de aprendizagem, mas, se preocupa com os fins sociais para os quais
também, a forma como professor e alunos tal ciência se destina. É foco desse campo de
interagem! estudo investigar as práticas sócio-políticas
em que a matemática opera, seja em
- Modelo de cooperação investigativa: contextos tecnológicos, profissionais, políticos
ou de pesquisa, com o intuito de analisá-las
criticamente (Idem, 2014a);
- E as práticas sociais são formatadas pela
matemática, ou seja, os modelos matemáticos
utilizados nesses contextos têm poder
prescritivo (DAVIS; HERSH, 1988);
- A EMC se preocupa com as formas com as
quais se aprende matemática na escola e está
- O professor, ao considerar o paradigma do
voltada para a formação do sujeito crítico;
exercício ou os cenários para investigação,
- Atividades escolares preparem os alunos
como estratégia pedagógica, o faz a partir de
para a cidadania e reflitam sobre a natureza
três referências. A primeira referência
crítica da matemática; e
caracteriza-se pela preocupação com a
- O papel da Educação Matemática (EM) que
matemática pura em si ou com os conteúdos
pode tanto formatar o sujeito como o
curriculares;
empoderar de conhecimentos reflexivos.
- A segunda, caracterizada pela
semirrealidade, situações de aprendizagem
Ambientes de Aprendizagem nas aulas de
relacionadas com ambientes contextualizados;
Matemática
- Na terceira referência, alunos e professores
- Todo espaço escolar em que há interação
trabalham com situações do mundo real, que
entre professor e aluno constitui um ambiente
interagem com outras áreas do conhecimento;
de aprendizagem (CIVIERO, 2009);
- Essas três referências podem ter papéis
- As práticas que ali acontecem distinguem-se
distintos no ensino e na aprendizagem da
entre dois paradigmas, denominados, por
matemática, dependendo em qual paradigma
Skovsmose (2000), de paradigma do exercício
está alicerçada:
e cenários para investigação;
a) O ambiente de aprendizagem tipo (1),
- Paradigma do exercício é que existe uma, e
vinculado à matemática pura, desenvolve
somente uma, resposta certa para o exercício.
habilidades de sistematização, estimulando a
Os exercícios, geralmente de livros didáticos,
prática de seguir regras e de organização,
costumam apresentar informações
concluindo etapa por etapa. São os exercícios
estritamente necessárias para seu objetivo
do tipo siga o modelo, encontrados facilmente
final, ou seja, para a sua solução;
e em abundância nos livros didáticos. Esse
- Os cenários para investigação constituem
ambiente é importante para a fixação de
ambientes de aprendizagem construídos na
regras, técnicas e algoritmos relativos a
sala de aula para dar suporte a um trabalho
conteúdos matemáticos;
investigativo, no qual os estudantes são
b) O ambiente tipo (2), também desenvolvido
convidados a realizar descobertas, em um
com base na matemática pura, vai além da
processo repleto de perguntas, explicitação de
sistematização de regras e fórmulas
perspectivas e reflexão;
pré-estabelecidas. Além de se questionar os
- Skovsmose (2000), um cenário para
porquês dessas fórmulas e regras, professor e
investigação é constituído a partir do momento
alunos estão engajados em realizar
em que os alunos aceitam (e se assumem
descobertas sobre conceitos matemáticos que
como participantes ativos) o processo de
representam novidades aos alunos;
exploração e de explicação. Segundo o autor:
c) Ambiente do tipo (3), os exercícios tratam
Um cenário para investigação é aquele que
de situações referentes a uma suposta
convida os alunos a formular questões e a
realidade. No entanto, na maioria das vezes, o
procurar explicações;
contexto apresentado no exercício é distante
- Skovsmose (2000) apresenta uma matriz
da realidade dos alunos, sendo relevante
combinando três tipos de referências e a
somente os dados numéricos estabelecidos.
distinção entre os dois paradigmas de práticas
O objetivo é usar uma técnica ou algoritmo em
de sala de aula:
determinado contexto não matemático;
d) O ambiente tipo (4) também contém
referências a situações contextualizadas, mas
que não são efetivamente reais. Nesse
ambiente, não há respostas pré-determinadas
pelo professor ou autor do livro didático. A Quando se deseja saber o que o outro pensa,
situação é aberta a argumentações, os alunos pode-se desconfiar de algo, mas não se tem a
apresentam suas perspectivas, trabalham em certeza do que o outro vai responder.
grupo, e chegam a conclusões; Aprender e investigar em um cenário dialógico
e) O ambiente tipo (5) pode levar o aluno a envolve correr riscos e há o desafio de
agir em seus processos de aprendizagem, experimentar novas possibilidades, o que gera
reconhecendo a matemática como parte de oportunidades de aprendizagem. O
sua realidade. Segundo essa abordagem, os sentimento de incerteza em excesso não é
dados utilizados vêm da vida real, oferecendo benéfico ao diálogo. Os alunos podem desistir
uma condição diferente para a comunicação da atividade ao se sentirem perdidos. A ideia
entre professor e os alunos. Não há reflexão não é remover o risco, mas sim promover
ou levantamento de questões a respeito do momentos de incerteza passageira. Uma
que tratam as situações apresentadas; e relação interpessoal igualitária. Todos têm
f) No ambiente tipo (6), em que a s referências direito à fala, e as diferenças e a diversidade
também são à realidade, tornando possível ao agir e pensar são respeitadas;
aos alunos produzir diferentes significados b) A segunda característica do diálogo
para as atividades. O pressuposto de que há refere-se ao conjunto dessas ações,
uma, e somente uma resposta certa, não faz chamadas de atos dialógicos, os quais
parte dessa proposta, sendo eliminadas as auxiliam tanto na manutenção como no
autoridades que exercem seu poder no desenvolvimento do diálogo;
paradigma do exercício. c) Estabelecer contato é um elemento
fundamental na atividade de cooperação. Sem
O Diálogo na perspectiva da Educação esse elemento, o processo de cooperação
Matemática Crítica não se inicia. Não basta, portanto,
- Paulo Freire, dialogar não se refere a uma estabelecer um contato inicial, mas também
simples conversa. O diálogo é um encontro mantê-lo;
entre pessoas com o objetivo de pronunciar o d) O ato dialógico de reconhecer envolve o
mundo, o que significa tentar modificá-lo. detalhamento de uma perspectiva, quando
Nesse sentido, o diálogo é existencial e são expressas suas particularidades e
envolve ação e reflexão. Não se trata de uma implicações para a investigação.;
disputa de ideias, uma discussão guerreira, e) os alunos posicionam-se para argumentar,
nem uma imposição. Diálogo é criação em defender ou rejeitar ideias. A fala é uma
conjunto. É um direito das pessoas. Não há ferramenta poderosa na aprendizagem
diálogo se não houver amor, humildade, fé matemática;
nos homens, esperança; f) . O ato dialógico de pensar alto refere-se à
- Alrø e Skovsmose (2004) conceituam o verbalização de raciocínios para tornar pública
diálogo como um tipo de conversação com uma perspectiva, e assim possibilitar que seja
algumas características especiais que visa à investigada;
aprendizagem crítica; g) A partir da exposição das ideias, tanto por
- Os autores caracterizaram o diálogo por oito parte do professor quanto por parte do aluno,
atos dialógicos que compõem o Modelo de ambos podem reformular o que é dito pelo
Cooperação Investigativa (Modelo-CI): outro, verificando se as perspectivas de cada
estabelecer contato, perceber, reconhecer, lado foram entendidas;
posicionar-se, pensar alto, reformular, desafiar h) Desafiar significa tentar levar os raciocínios
e avaliar: envolvidos em um trabalho para uma nova
a) Nessas atividades, cada participante pode direção. O desafio, porém, não pode ser feito
ter um ponto de vista no qual acredita e de qualquer modo; e
defende, mas deve haver um equilíbrio entre i) É importante que professor e alunos possam
posicionar-se e abrir mão do que se pensa, avaliar o trabalho realizado como um todo e
para que o coletivo seja valorizado e outras também os raciocínios e os procedimentos
perspectivas sejam criadas e exploradas. os específicos.
rumos de um diálogo são imprevisíveis.
- Milani (2015) propôs a seguinte interpretação tentar adivinhar o que o professor quer como
de diálogo. Diálogo é uma forma de interação resposta, característica essa do padrão
entre professor e alunos, engajados em uma adivinhação (ALRØ; SKOVSMOSE, 2004);
atividade de aprendizagem, em que a fala e a d) Construir uma discussão em aula a respeito
escuta ativa são compartilhadas, ideias são do assunto e verificar se mais alunos pensam
discutidas e a compreensão do que o outro diz como aqueles que responderam à pergunta
é fundamental. Essa perspectiva de diálogo do professor;
em educação matemática tem como base e) Ao perguntar, o professor procura
uma postura política que acredita que não reconhecer a perspectiva do aluno,
pode haver a fala dominada por apenas uma aprofundar-se a respeito das ideias
das partes, mas, sim, compartilhada entre as evidenciadas. Além das perguntas, o
partes (MILANI, 2015, p.202, grifo do autor); e professor pode dizer como entendeu a
- O diálogo, para Alrø e Skovsmose, está perspectiva do aluno, trazendo à tona o ato
diretamente associado aos ambientes de dialógico de reformular;
aprendizagem em que figuram cenários para f) Alunos e professor são parte do diálogo e,
investigação. com a participação de ambos, a
responsabilidade pelo processo de
O diálogo em ambientes de aprendizagem: aprendizagem é compartilhada;
um novo eixo, novas possibilidades g) Outra possibilidade da comunicação entre
- Os modos com que professor e alunos se professor e alunos avançar em direção ao
comunicam nas aulas de matemática diálogo é o que Skovsmose (2014b) chama de
influenciam nas formas de aprendizagem que abrir um exercício;
ali ocorrem (ALRØ; SKOVSMOSE, 2004); h) A ideia de abrir um exercício refere-se a
- Quando o aluno assume a posição central no criar outras possibilidades de
processo de aprendizagem, sua participação, encaminhamento sobre a temática proposta
inclusive verbal, torna-se mais ativa; nele (SKOVSMOSE, 2011); e
- O desafio que percebemos existir para os i) Abrir um exercício pode fazer com que
professores é o de como implementar ações professor e alunos passem a trabalhar em um
que se aproximem do diálogo, nos ambientes cenário para investigação com referência à
de aprendizagem ligados ao paradigma do matemática pura.
exercício; - No ambiente tipo (2):
- O ambiente de aprendizagem (1): a) Com propósito de questionar os porquês
a) Está localizado no paradigma do exercício das regras e entender os conceitos
com referência à matemática pura. O matemáticos, o diálogo é intensificado. O
professor explica o conteúdo, traz definições, professor não mais emite apenas respostas,
mostra como as regras e algoritmos mas torna-se um inquiridor;
funcionam e dá exemplos. Os alunos escutam b) O diálogo é ampliado para questões de
a fala do professor e resolvem exercícios de natureza investigativa, do tipo “e se…?”, “o
fixação; que acontece se...?”; e
b) Outra possível interação entre professor e c) Se faz presente nesse ambiente a fala e a
alunos, nesse ambiente, seria quando o escuta ativa compartilhadas por parte de
primeiro abre espaço para a fala dos alunos e professor, visto que a intenção das
estudantes para completar uma ideia iniciada atividades no ambiente não é encontrar a
por ele ou para adivinhar o que ele quer como resposta certa, mas, sim, a aprendizagem dos
resposta a uma pergunta fatual; conceitos envolvidos por parte de todos, sob a
c) O padrão sanduiche, em que a fala dos forma da investigação.
alunos é sanduichada pela do professor. Esse - O ambiente tipo (3):
padrão é quase um monólogo, pois os alunos a) Refere-se à semirrealidade. A tarefa do
apenas recheiam o discurso do professor. aluno, como no ambiente (1), segue sendo a
Algumas vezes, eles não respondem o que de resolver exercícios de uma única resposta.
ele estava esperando e, aí, começa um jogo Esses, porém, possuem um contexto não
de adivinhação, em que a preocupação é
limitado à matemática, como, por exemplo, a b) Aqui, toda exploração, reflexão e crítica são
da compra de algum produto; possíveis;
b) Para não gerar conflitos, torna-se essencial c) Ele poderá, portanto, mobilizar diferentes
um “acordo” entre professor e alunos para estratégias de resolução e conhecer com mais
trabalharem no paradigma do exercício, ou profundidade os conteúdos matemáticos e o
seja, o aluno deve contentar-se em encontrar contexto em que vive; e
a solução, sem muitas considerações extras; d) Quando o professor procura realizar uma
e escuta ativa, ele inicia o movimento do diálogo
c) A comunicação fica limitada à busca por tal que busca a compreensão do que o aluno diz.
solução única. Esse movimento não é simples e imediato,
- No ambiente tipo (4): pois trata-se de uma mudança de postura, no
a) Nesse ambiente, os alunos são sentido epistemológico, metodológico e
incentivados a explorar os elementos do político.
enunciado do exercício. Eles têm mais
liberdade para investigar, fazer inferências e Considerações finais
tomar decisões. O pressuposto da „resposta - Nos ambientes associados ao paradigma do
certa‟ é substituído pelo da melhor resposta‟; exercício, a intencionalidade do professor ao
b) O diálogo é intensificado, ao provocar os propor atividades se restringe quase que
alunos a perceberem as relações para além exclusivamente à aprendizagem de um
das fórmulas matemáticas. A matemática a conteúdo matemático, independentemente de
ser utilizada, muitas vezes, pode não estar as atividades fazerem referência à matemática
explícita, o que exige do aluno a sua pura (1), à semirrealidade (3) ou à realidade
descoberta; (5). Nestes ambientes a memorização do
c) A atividade de simulação é também um conteúdo por meio da repetição é comumente
exercício de possíveis realidades; e priorizada por professores e alunos. Já, nos
d) É necessário posicionar-se, avaliar, cenários para investigação, nos ambientes (2),
estabelecer contato reformular, desafiar, (4) e (6), nas respectivas referências, a
perceber, reconhecer e pensar alto para prioridade é a reflexão sobre os conteúdos
participar da atividade. Vale frisar que não matemáticos e a sua imbricação com a
existe uma ordem fixa entre os atos realidade; de modo a avançar num movimento
dialógicos. para além da técnica matemática;
- O ambiente de aprendizagem (5): - É oneroso para o professor que é instigado a
a) Localiza-se no paradigma do exercício com sair da sua zona de conforto. Nessa zona ele
referência à realidade. Os dados dos não corre riscos porque possui uma vasta
exercícios são extraídos de situações reais. experiência com o planejamento que
Não são os alunos que os trazem para a aula, reproduz, por vezes, anos após anos,
mas, sim, são apresentados pelo professor e, conhece bem o funcionamento da classe e
a exemplo dos ambientes caracterizados dos alunos, sabe bem as perguntas que
anteriormente nesse paradigma, podem surgir quando ensina um determinado
encontram-se todos no enunciado do conteúdo. Além disto, ele é instado a investir
exercício. A solução também é única e é o mais tempo de pesquisa para construir os
foco da resolução. As discussões oriundas do cenários;
exercício sobre a realidade não são o objetivo - Ensinar por meio dos cenários para
nesse ambiente. investigação não depende somente do
- Ambiente tipo (6): professor. Há diversos fatores que interferem
a) Nesse ambiente, o diálogo entre professor fortemente desde a constituição até a
e alunos e entre alunos se intensifica, e já não implementação;
há uma regra explícita para resolução da - As condições de trabalho e de preparação
atividade. O processo de investigação instiga das aulas; reconhecimento da
o entrelaçamento de conversas e debates, profissionalização docente; o apoio dos pares,
para decifrar os próximos passos. É preciso dos alunos, dos pais e demais membros da
negociações; a palavra está aberta; comunidade escolar;
- É possível que em uma mesma aula o gráfico, calcule primeiro alguns pontos da fun-
professor trabalhe atividades associadas aos ção!”); à interpretação do texto (“Não, quando
dois paradigmas, começando, por exemplo, o exercício é escrito desse jeito, você tem que
com um cenário para investigação para depois primeiro encontrar o valor de x!”); à progra-
apresentar uma lista de exercícios do livro mação dos alunos (“Não, não, esses
didático. O que pensamos ser problemático é exercícios são para amanhã!”);
permanecer sempre em um mesmo ambiente - Embora esses erros sejam diferentes entre
de aprendizagem, privando os alunos de si, no momento da correção eles são
outros tipos de aprendizagem e comunicação; reduzidos a uma única categoria absoluta: a
- Entendemos que o diálogo pode impulsionar de erro. E só há uma única coisa a fazer:
reflexões que provoquem tais mudanças e corrigi-los. O fenômeno caracterizado pelo
que, de certa forma, possam atenuar a linha tratamento uniforme de todos os tipos de erro
que separa os ambientes; e ocorridos em sala de aula como se fossem
- O diálogo que pressupõe a relação erros de verdade nós denominamos
sociopolítica e cultural e, portanto, a absolutismo de sala de aula;
mutualidade e a equidade entre os atores, - O professor discute de que forma o aluno
poderá acontecer nos ambientes de errou; ele apenas aponta o erro. Tampouco há
aprendizagens quando há cooperação qualquer indício de orien- tação sobre o que o
investigativa aluno deveria fazer:

Texto-base: Comunicação na sala de aula - O professor não diz claramente que o aluno
de matemática cometeu um erro, mas como só se apaga algo
- Antes mesmo de ter experimentado aulas de que está errado ou incompleto, o aluno pode
matemática por si próprias, as crianças já facilmente depreender que se trata de uma
demonstram uma compreensão de que errar e correção de um erro:
cor- rigir são parte integrante da Educação
Matemática;
- Em epistemologia, o termo “absolutismo”
está associado à noção de que o indivíduo
- O professor privilegia o procedimento
tem a possibilidade de conceber a verdade
algorítmico ou o resultado da investigação dos
absoluta. Isso tem relação com o ideal
alunos:
euclideano. O “relativismo”, por outro lado,
sustenta que a verdade é sempre definida por
alguém em certo contexto em certa época; e
- No contexto matemático, o relativismo tem
sido promovido tanto pelo construtivismo
radical quanto pelo social.

Absolutismo burocrático
- O absolutismo filosófico sustenta que
algumas verdades abso- lutas podem ser
obtidas pelo indivíduo. O absolutismo da sala - O erro diz respeito a um algoritmo
de aula vem à tona quando os erros (dos equivocado ou ao uso equivocado do
alunos) são tratados como absolutos: “Isso algoritmo:
está errado!”, “Corrija essas contas!”;
- Um erro pode se referir ao resultado de um
algoritmo (“A conta não está certa!”); ao
algoritmo empregado (“Você não tem que - O erro apontado pelo professor obviamente
somar, e sim subtrair!”); à sequência com que diz respeito ao resultado do trabalho do aluno.
as ações foram feitas (“Para desenhar o Correções evocam, explicita ou
implicitamente, uma autoridade, que pode ser que os alunos têm que fazer certos tipos de
o professor, o livro-texto ou o livro de exercício e que as fórmulas que eles têm que
respostas: usar são aquelas escritas no alto da página;
- Mesmo quando o professor mostra grande
simpatia com alguma forma de ensino
inovadora, acaba impedido de colocar essas
ideias em prática, já que o ambien- te escolar
- O professor impõe uma convenção para tornou-se engessado pelo absolutismo
indicar números usados pelo aluno no burocrático;
exercício. O professor não argumenta por que - Normalmente a comunicação em sala de
motivo fazer uma linha poderia ser melhor ou aula é caracteri- zada por uma relação
mais correto do que colocar uma cruz em desigual entre professor e alunos;
cima dos números. O professor passa a - O “sanduíche” é um padrão de comunicação
exercer sua autoridade: que enfatiza a existência de uma autoridade
na sala de aula e pode ser visto como uma
manifestação do absolutismo de sala de aula.
O professor conhece as respostas para suas
questões de antemão e espera que os alunos
adivinhem o que ele tem em mente. Alunos
concentram-se mais no processo de
- A correção do professor indiretamente faz adivinhação do que no conteúdo matemático
referência ao livro-texto: “Seguir as estudado:
instruções”, isto é, que o aluno seguisse
exatamente o que foi prescrito no livro-texto.
O livro-texto passa a representar a autoridade:

- Pudemos perceber como o repertório de


- O resultado do aluno é comparado com o respostas dos alunos ante esse modelo de
livro de respostas, que apresenta um comunicação é limitado. Exemplos:
resultado diferente:

- Os alunos não são apresentados a uma


argumentação, mas a uma autori- dade
aparentemente uniforme e consistente, muito
embora os reais motivos para as correções
possam ser bem outros;
- Em todo o caso, todos os erros são tratados - Os alunos não assumem qualquer
como absolutos; responsabilidade pelo processo de
- Nós qualificamos o absolutismo de sala de aprendizagem.
aula como um absolutismo burocrático, que
estabele- ce em termos absolutos o que é Perspectiva
certo e o que é errado sem expli- citar os - Nem sempre o absolutismo burocrático está
critérios que orientam tais decisões; presente nas aulas de matemática
- O absolutismo burocrático é marcado por tradicionais;
uma dificuldade de entrar em contato com a - Existem outros padrões de comunicação;
autoridade “de verdade”: “Nós não podemos - A impossibilidade de mudança na
fazer nada a respeito; isto está fora de nosso comunicação, mesmo quando o professor se
alcance. Sentimos muito por isso”; sente impelido a isso por algum motivo
- O professor de mate- mática numa aula pedagógico;
absolutista está impedido de mudar o fato de
- Perspectiva. Ela é o pano de fundo do diferentes com respeito a conteúdo e
processo de comunicação; tamanho;
- Uma perspectiva é uma fonte de - Vistas privilegiadas são criadas quando o
significados. Sem uma perspectiva, nenhum professor prepara o terreno. Elas representam
ato de comunicação seria possível. A possíveis perspectivas nas atividades de sala
perspectiva determina aquilo que o de aula. Uma vista privilegiada proporciona
participante esco- lhe ver, ouvir e entender uma visão geral da tarefa e dá algum sentido
numa conversação, e ela se manifesta através a ela;
do uso da linguagem, naquilo sobre o que - Quando se prepara um terreno, é possível
escolhemos falar e não falar, e na forma como que muitas tarefas se definam. Se elas fize-
entendemos uns aos outros; rem sentido para os alunos a ponto de eles
- O propósito de uma conversação pode ser conseguirem des- crevê-las ou mesmo discutir
explicar uma perspectiva, entender a a respeito, então se diz que vistas
perspectiva de outra pessoa e, talvez, chegar privilegiadas foram encontradas;
a um consenso sobre uma perspectiva, ou - Ao conhecer uma perspectiva sobre o
simplesmente reconhecer que há perspectivas conteúdo matemáti- co, os alunos ganham a
distintas que as partes não abrem mão de possibilidade de associar novos signi- ficados
defender; para as atividades relacionadas – aceitáveis
- Ou professor e alunos podem ter ou não;
perspectivas diferentes; - Por que os alunos não reagem? Em grande
- Uma perspectiva compartilhada pode se parte, porque eles sabem que se seguirem o
estabelecer e se tornar a mola-mestra da professor, vai dar tudo certo. Tudo o que se
produção de significados de uma co- tem a fazer é descobrir aonde ele quer
municação sem ser mencionada; chegar;
- Uma perspectiva costuma prevalecer sobre - Outra possibilidade é que os alunos estão
as demais. Apontar erros é uma forma de tão acostumados com o profes- sor e o seu
sustentar uma perspectiva que os alunos jeito de se expressar que eles são capazes de
deveriam acolher para evitar novos erros; entender a mensagem que para alguém de
- Corrigir erros molda perspectivas e, portanto, fora parece absurda; e
ajuda a fazer prevalecer a inquestionável - . Quando os alunos perseveram no objetivo
perspectiva da autoridade, fonte da produção de entender o professor, isso pode ser
de significados na sala de aula absolutista; interpretado como um voto de confiança nele.
- Um primeiro passo que professor e alunos
podem dar para tentar superar o absolutismo a) Adivinhando o que o professor tem em
burocrático é identificar e avaliar suas mente
perspectivas; e - Alguns alunos têm uma formidável faculdade
- Para que o absolutismo burocrático seja de adivinhar o que o professor está querendo
superado, não basta que o professor passe e uma forma elegante de apreender suas
por uma mudança de atitude, uma vez que as ideias. Isso não quer dizer, contudo, que eles
raízes dessa perspectiva não estão na atitude, estejam aprendendo alguma coisa;
mas em toda a lógica escolar. - O professor tem uma perspectiva ou uma
intenção em mente e que os alunos devem
“Quanto se consegue preencher com adivinhá-la. Duas formas de comunicação
jornal?” convivem nesse cenário. O professor já
- O livro-texto Matema busca proporcionar preparou o assunto e tem certo entendimento
oportunidades para que professores e alunos do que deseja fazer. Os alunos querem
consigam estabelecer interação com base no somente esclarecer do que se trata a aula; e
conhecimento matemático que se pretende - A comunicação direta do professor
trabalhar educacionalmente; confronta-se com a comunicação inquisitiva e
- Sugere-se trabalhar com peso, altura e circular dos alunos.
largura, mas também comparar jornais
b) Percebendo que os alunos podem ter em suficientemente contextualizados, não foram
mente algo diferente estabelecidas vistas privilegiadas que possam
- A princípio, eles estão falando da mesma ajudá-los a dar sentido às atividades
coisa, apenas com perspectivas diferentes. No sugeridas. Os alunos ficam perdidos e
final das contas, professor e aluno não se confusos;
encontram na comunicação. - Uma aproximação constitui-se na busca de
uma pers- pectiva satisfatória;
c) Que unidade usar? - Uma aproximação mal-sucedida também
- Na discussão sobre “qual unidade usar”, pode acontecer;
professor e aluno obtêm, pelo menos, um - A aproximação é um fenômeno muito
ponto de vista comum sobre o significado do interessante, que revela as estruturas da
termo “preencher”: ele está relacionado com a prática de sala de aula real. Ela propicia,
área. Esse esclarecimento pontual da ainda, elementos para uma discussão sobre a
perspectiva pode propiciar aos alunos um natureza das atividades de aprendizagem;
novo impulso para a aprendizagem. - Há dois fatores que podem inibir
aproximações. Primeiro, a aula pode ser
d) Os alunos assumem o comando organizada de tal forma que todas as tarefas
- Um professor autoritário. Ela argu- menta e ficam claramente estabelecidas. O segundo
explica, mas também dá ordens: “Então vá fator ocorre quando os alunos não estão
buscar o jornal.”, ela se impõe: “Vocês estão interessados naquilo que estão fazendo ou já
me ouvindo?” e faz perguntas cujas respostas incorporaram um comportamento
já sabe (em parte): “Qual era aquela que instrumentalizado;
estava aqui agora há pouco? Como se - Dois padrões de comunicação dos alunos
chamava?”. Quando os colegas questionam a (“adivinhando o que o professor tem em
sua autoridade, ela refere-se ao que o mente” e “os alunos assumem o comando”)
professor havia dito: “Mas foi o que ele disse”. como tentati- vas, por parte dos alunos, de
Assim, o professor está presente na aproximarem-se do propósito ge- ral da
comunicação (ainda que invisível), e Marlene atividade;
é sua procuradora; - A aproximação dos alunos indica que (pelo
- O fato de Marlene assumir o controle pode menos alguma) aprendizagem pode ser
ser interpreta- do como uma reação à falta de entendida como ação;
comando do professor; e - Ação pode ser associada a termos como
- Professor não toma decisões, alguém mais meta, decisão, plano, motivo, propósito e
tem que fazê-lo. Pode ser a expressão da intenção;
intenção dos alunos de criar orientações - Para que uma atividade seja classificada
claras para o curso. A situação pode ser vista como ação, é preciso que haja certa
também como um exemplo de uma “lei” intencionali- dade por trás dela;
dinâmica de grupo, que passa a valer quando - Para que uma pes- soa possa realizar uma
uma autoridade oficial se faz ausente. Nessas ação é que a pessoa não esteja numa
circunstâncias, há geralmente uma disputa situação sem alternativas;
para determinar quem decide, e apenas um - Agir pressupõe tanto o envolvimento da
assume a liderança no final. pessoa quanto uma abertura;
- Abertura tem seu lado positivo e negativo.
Os estudantes passam a ter a chance de
Aprendizagem como ação descobrir qual é o propósito da unidade. Na
- Podemos interpretar as atividades realizadas medida em que eles são capazes de
pelos estudantes em “quanto se consegue reconhecer os objetivos e se identificar com
preencher com papel?” em ter- mos de eles, eles podem se tornar condu- tores do
aproximação; próprio processo educativo;
- O professor passa algumas tarefas e - Conduzir em conjunto também significa
atividades, mas, mesmo que os conceitos compartilhar perspectivas;
matemáticos e as tarefas sejam
- A abertura pode levar à confusão, que cria - É importante sabermos aonde queremos
obstáculos à partici- pação dos alunos; chegar, mas enfatizando também cada parte
- Intenção e ação estão intimamente do processo.
relacionadas, mas não no sentido de que
primeiro vem a intenção de se fazer alguma Construção da Ciência, por Gaston
coisa para só depois acontecer certo Bachelard
desdobramento que realiza a intenção; e
- As intenções têm de estar presentes no
próprio processo de aprendizagem.

Videoaula 6: Erros na pesquisa e na


aprendizagem da Matemática
Como é possível o erro em matemática?

- O conhecimento anterior pode se tornar um


problema para se conhecer algo novo, por
exemplo, com a revolução científica os
conhecimentos aprendidos na idade média,
por exemplo, passam a ser questionados e
postos a julgamento.
- Normalmente temos a impressão de que o
matemático/pesquisador não erra, mas o que
justamente não aparece nas pesquisas
apresentadas é o erro e este faz parte do
processo de aprendizagem e da construção
do conhecimento.

Jacques Hadamard Erro no processo de aprendizagem, por


Guy Brousseau

- Sempre temos a impressão de um conteúdo


de matemática pronto e acabado, ou seja, não
se apresenta o caminho para se chegar - O aluno na construção de novos
àquele produto/teorema, por exemplo; conhecimentos já traz conhecimentos
- Os erros dos professores precisam ser anteriores e esses conhecimentos podem
valorizados também, pois às vezes os funcionar como um obstáculo na construção
mesmos erros cometidos por nós pode ser dos novos, por exemplo, começamos a
cometidos também pelos alunos; e ensinar aritmética para os alunos e nela temos
sempre uma resposta numérica, mas quando
começarmos a trabalhar com álgebra, que
envolve letras, com este aluno, ele
apresentará dificuldades; e
- Nesse processo de aprendizagem este aluno
ainda comete erros, mas estes erros são
provenientes de seu aprendizado passado
que um dia fez sucesso e que para o aluno
ainda faz sentido.

Os erros na aprendizagem da Matemática

- Obstáculos didáticos.

Situação

- É importante estimular o aluno para que ele


escreva de diversas maneiras os resultados
para tentarmos evitar os obstáculos didáticos
(compreensão qualitativa, quantitativa e
conceitual).

Você também pode gostar