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Os Bailes Black surgiram no Brasil na cidade de São Paulo, no ano de 1958. Eles chegaram ao cenário de
Belo Horizonte na década de 70, e no início de 1980 receberam a denominação atual. Essa forma de
festejar se estrutura no ato de dançar e propagar o consumo do Soul e ritmos vindos da América do
Norte.
Com os bailes chegando ao seu ápice no estado mineiro, Toninho Black, detentor de uma grande
coleção de discos, decide fundar o que futuramente seria uma das maiores festas do gênero na cidade.
Através da união dos amantes da festa e o forte impacto pela onda do Black Power, em 1983, no bairro
Venda Nova, surge o Baile da Saudade, onde os jovens negros da capital mineira podiam desfrutar de
boa música e muita dança. Após 2014, o Baile da Saudade passou a acontecer no centro de Belo
Horizonte.
As influências iniciais dos Bailes Black partiu de James Brown, que revolucionou os ritmos da música
negra e forneceu o modelo para todo um subgênero do funk, e dos Jackson Five, icônico grupo de Soul
que foi a porta de entrada de uma geração inteira ao movimento. Em festas espontâneas à base da
música Funk e Soul, grupos periféricos se reuniam para “escorregar”, como os praticantes de Soul
chamam o ato de fazer os famosos passinhos, no Brasil com forte influência dos movimentos da
capoeira e do congado, mas sem possuir uma fórmula pronta, pois o swing do soul “vêm mesmo é da
alma”. Apesar de seus conhecidos pontos de encontro, as festas não possuíam organização fixa, devido
à falta de recursos e a perseguição da ditadura civil-empresarial-militar contra o movimento negro e as
manifestações culturais periféricas. Naquele tempo de violência e opressão, a alegria do povo preto era
dançar. Os principais pontos de encontro dos festejos eram danceterias - onde também tocavam
músicas Disco -, praças, casas de famílias, e até mesmo escolas e igrejas. O centro da cidade se tornou
um espaço de encontro da comunidade do Soul, com vários pontos urbanos de referência - como por
exemplo o Quarteirão do Soul, na esquina da rua Goitacazes, entre São Paulo e Curitiba.
Para ir aos eventos, a juventude se valia de vestimentas formais e espalhafatosas, como os icônicos
ternos e cabelos “Black Power”. A escolha por uma vestimenta mais formal para as festas se deu por
dois fatores principais: Evitar perseguição policial contra as pessoas negras que frequentavam os bailes;
e a questão cultural de se estar sempre “bem trajado” para ocasiões sociais e festivas. Os cabelos afro
armados, uma das principais imagens dos bailes, se originaram nos Estados Unidos, no auge do “Black
Is Beautiful”, movimento cultural e estético com o fim de dar valorização aos traços fenotípicos,
identidade e cultura do povo negro, que se espalhou pelo mundo, ao lado do slogan “Black Power” -que
aqui no Brasil dá nome ao icônico penteado-. Para alcançar o cabelo armado e volumoso, os jovens da
época se utilizavam da criatividade, fazendo pentes garfos com arame - geralmente de bicicleta - presos
em um cabo de madeira.
A influência dos Bailes Black se manteve viva e se adaptou em diferentes manifestações culturais
brasileiras. No campo musical, artistas como Tim Maia, Jorge Ben Jor, Tony Tornado, Banda Black Rio,
Elza Soares, Sandra de Sá, e vários outros tiveram bastante influência da música Soul, Funk e seus
derivados, muitos deles mesclando sonoridades estrangeiras aos estilos musicais brasileiros. Nos anos
80, a popularização do Miami Bass e do Baile Charme, que iriam originar o funk carioca, tinha também
como uma das principais características a prática de passinhos durante as festividades.
Atualmente, os passinhos de funk e o break dance são algumas das manifestações culturais mais fortes
entre a juventude, que bebe bastante da fonte do Baile Black. Isso não quer dizer que o Soul morreu - até
hoje pessoas vão de terno e cabelo ouriçado para lugares como a Praça da Sete e o Parque Municipal
com a intenção de se jogar no ritmo do Soul.