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Dom Estevão Bettencourt - Curso Bíblico
Dom Estevão Bettencourt - Curso Bíblico
Prezado cursista,
Hoje é colocado em suas mãos o início de um Curso Bíblico por Correspondência. É uma
graça de Deus, pois lhe possibilitará mais penetrante compreensão da Palavra Sagrada. A fim de
que o seu estudo seja eficaz, sugerimos-lhe:
1) Utilize uma tradução moderna da Bíblia feita a partir dos originais. Utilize mapas
bíblicos.
2) Consulte todos os textos bíblicos citados em cada lição. Assim você terá a ocasião de
conhecer melhor as Escrituras.
4) Esteja atento ao modo de citar a Bíblia indicado no verso desta folha. Caso contrário,
poderá haver citações ambíguas ou incompreensíveis.
Atenciosamente
guardar na memória as suas principais datas, como você guarda as da história do Brasil (1500,
1792,
1822, 1889...). Sem o referencial à história de Israel, você mal poderá conhecer o Antigo e o
Novo
Testamento.
você irá conhecendo o Livro Sagrado. Sem revolver muito a Bíblia, você não a penetrará.
Com o tempo, você poderá fazer sua tabela cronológica própria, ampliando a que você
agora tem
nas mãos, acrescentando novos nomes, novas fontes, dados paralelos da história universal, etc.
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A Redação
ESCOLA "MATER ECCLESIAE"
LÉXICO BÍBLICO
Na elaboração de nossas aulas, resolvemos adotar uma linguagem acessível ao grande público, mas
enriquecida por vocábulos técnicos, específicos do linguajar exegético bíblico. Tais vocábulos são, por
vezes, insubstituíveis; daí a necessidade de utilizá-los. Conhecê-los exigirá do estudioso um certo esforço,
esforço, porém, bem compensado. Eis porque publicamos a seguir, um pequeno Vocabulário ou Léxico
bíblico, que poderá valorizar a cultura bíblica de nossos leitores e servirá de instrumental para acompanhar
nossas aulas
A Redação
***
Amanuense: a pessoa que escreve quanto lhe é ditado por outrem, sem colocar algo de próprio. Ver
autor.
Apócrifo: em grego, apókryphos quer dizer oculto. Tal era o livro não lido em assembléia pública
de culto, mas reservado à leitura particular. Apócrifo opõe-se a canônico, pois canônico era o livro lido no
culto público, porque considerado Palavra de Deus inspirada aos homens. Ver inspiração.
Apócrifo não tem necessariamente sentido pejorativo. É simplesmente o texto que, por um motivo
qualquer, não era de uso público; pode conter verdades históricas, como a da Assunção corporal de Maria
SS. aos céus.
Apocalipse: do grego apokálypsis, revelação. É um gênero literário ou um modo de redigir escritos
que tem as seguintes características: imagina o fim da história, por ocasião do qual o Senhor virá à terra
sensivelmente para julgar os homens e restaurar a ordem violada. Esse aparecimento de Deus é assinalado
por sinais no mundo, abalo da natureza, catástrofes... Tal gênero literário recorre freqüentemente a símbolos
e imagens, que devem ser interpretados segundo critérios objetivos ou de acordo com a mentalidade dos
escritores antigos. Determinado símbolo podia significar uma coisa para os antigos e pode significar outra
para os modernos.
Apocalipse de São João é o nome de um apocalipse, que vem a ser o último livro da Bíblia. Há,
entre os apócrifos, o Apocalipse de Henoque, o de Elias...
Aramaico: língua dos filhos de Aram (cf. Gn 10,22), muito próxima do hebraico. Tornou-se língua
diplomática ou internacional no Oriente antigo a partir do V a. C. Os judeus após o exílio (587-538 a.C.) a
adotaram como língua corrente, reservando o hebraico para o culto sagrado, Havia o dialeto aramaico de
Jerusalém e o da Galiléia (cf. Mt 26,73). Jesus e seus discípulos falavam aramaico.
Autor: a pessoa que concebe idéias ou o conteúdo de determinado escrito; é o responsável supremo
pelo teor do seu livro. Tal é o caso de São Paulo em relação a 1/2 Ts, Gl, 1 Cor...
Em alguns, casos na antiguidade, o autor não escrevia diretamente, mas ditava a um companheiro,
que escrevia. Este era chamado escriba ou amanuense. Ver escriba.
Em outros casos, o autor não ditava, mas deixava ao companheiro a tarefa de compor e exprimir as
idéias do autor. Tal companheiro então se chamava redator, pois era ele quem redigia a mensagem do autor.
Há, por exemplo, quem admita que Hb teve como autor São Paulo e, como redator, um discípulo de Paulo,
como seria Apolo ou Barnabé.
Bíblia: a palavra vem do grego bíblos, livro. O diminutivo é bíblion, livrinho, que no plural faz
bíblia livrinhos. O diminutivo perdeu sua força própria com o passar do tempo, de modo que bíblia ficou
sendo simplesmente o mesmo que livros. A Bíblia é, pois, etimologicamente falando, uma coleção de livros.
Bispo: é o sacerdote que mais participa do sacerdócio de Cristo, estando colocado no grau supremo
do sacramento da Ordem. Abaixo dele vêm os presbíteros e, a seguir, os diáconos.
Enquanto os Apóstolos viviam, eram eles os pastores ambulantes de toda e qualquer comunidade
cristã. Em cada uma destas instituíam um colegiado de presbíteros (= anciãos: em grego), também
chamados "superintendentes" ou "vigilantes" (epískopoi, em grego); cf. At 14,23: 11,30; Ti 1,5; Fi 1,1; At
20,17.28. Governavam a comunidade sob a jurisdição dos Apóstolos. Com a morte dos Apóstolos, as
comunidades passaram a ser governadas por um pastor residente, escolhido dentre os presbíteros ou
epíscopos (superintendentes). Esse pastor supremo local ficou exclusivamente com o nome de epíscopo (=
bispo), ao passo que os membros do colegiado subalterno ficaram sendo chamados exclusivamente
presbíteros (= padres, no sentido de hoje). No inicio do século II, isto é, nas cartas de S. Inácio de
Antioquia(† 107) se registra a existência do episcopado monárquico como ele é hoje.
Cânon: do grego kanná, caniço. Significa medida, régua; em sentido metafórico, designa regra ou
norma de vida (cf. Gl 6,16). Os antigos falavam do cânon da fé ou da verdade, para designar a doutrina
revelada por Deus, que era critério para julgar qualquer doutrina humana e para nortear a vida dos cristãos.
Derivadamente cânon significava também catálogo, tabela, registro; neste ultimo sentido os cristãos
passaram a falar do cânon bíblico ou da Bíblia (= catálogo dos livros bíblicos).
Carisma: do grego chárisma, quer dizer dom em geral. Já nas epístolas de São Paulo carisma é dom
para tal ou tal tipo de serviço; cf. 1Cor 12,7; 14,26-31; Ef 4,12-16. O dom das línguas, por exemplo, nada
vale se não há quem as interprete para o serviço e a edificação dos ouvintes; cf. 1Cor 14,5-13. Existem os
carismas da profecia, das curas, do governo, do apostolado... Mas o melhor carisma é o da caridade (ágape),
que não produz espalhafato, mas tudo perdoa, tudo crê, tudo suporta (1Cor 13,7). Muitos carismas nada têm
de portentoso: o de assistir aos enfermos, o de educar crianças, o de instruir os ignorantes, o de liderar um
grupo...
Chalom: palavra hebraica que significa Paz. Em hebraico, tem sentido muito mais rico do que em
português: não significa apenas "ausência de guerra", mas "bem-estar, harmonia do homem com Deus, com
a natureza e consigo mesmo". Os profetas bíblicos tinham consciência de que o pecado introduzira a
desordem no mundo; em conseqüência anunciavam a Paz; esta seria o grande dom do Messias; cf. Mq 5,4;
Is 9,5s. No Novo Testamento, diz São Paulo que Cristo é a nossa Paz; Ele fez de dois povos (judeus e
pagãos) um só povo ou um só corpo (Ef 2,14-22). Por isto Cristo, vitorioso sobre a morte após a
ressurreição, deixou aos Apóstolos a sua paz, junto com o dom do Espírito Santo e o poder de perdoar os
pecados (cf, Jo 20,19-23); são estes que se opõem à paz dos homens com Deus e entre si. Temos que tornar
realidade crescente essa paz de Cristo na terra: "Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão
chamados filhos de Deus" (Mt 5,9). O nome da cidade "Jerusalém", símbolo da bem-aventurança final (Ap
21,9-27), é interpretado como "Visão da Paz".
Cheol: os judeus chamavam cheol um lugar subterrâneo, por eles imaginado, onde estariam,
inconscientes ou adormecidos, todos os indivíduos humanos após a morte. A terra era tida como mesa
plana, debaixo da qual se
encontraria a "mansão dos mortos'; esta em grego era chamada Hades: em latim, inferni (da preposição
infra, que significa abaixo; donde inferni = inferiores lugares.
Em conseqüência, os antigos judeus não podiam admitir retribuição póstuma nem para os homens
bons nem para os infiéis, pois todos se achavam inconscientes; ver, por exemplo, Jó "-21s; 21,21; Is 14,10;
38,18; 63,18; S! 6,6; 29(30), 10,.. A justiça divina, segundo tal concepção, devia exercer-se no decorrer
mesmo da vida presente; os homens fiéis seriam recompensados com saúde, vida longa, dinheiro..., ao
passo que os pecadores sofreriam doenças, morte prematura, miséria...
Com o tempo, as concepções antropológicas dos judeus foram-se esclarecendo, de modo que já no
século II a.C. admitiam a ressurreição dos mortos e a retribuição final para bons e maus depois da morte.
Ver Dn 12,2s: "Muitos dos que dormem no solo poeirento acordarão, uns para a vida eterna, e outros para o
opróbrio, para o horror eterno. Os sábios resplandecerão como o esplendor do firmamento; e os que
tornaram justos a muitos, como as estrelas por toda a eternidade refulgirão" (cf. 2Mc7,9.11.14).
No tempo de Jesus, os judeus já admitiam sorte póstuma diferente para os bons e os maus; veja-se,
por exemplo, a parábola do ricaço e do pobre Lázaro, em Lc 16,19-31, onde aparece a separação de uns e
outros. Na terminologia cristã latina, a palavra inferno ficou reservada para designar a sorte póstuma dos
réprobos. Todavia a topografia do além, supondo terra plana e compartimentos subterrâneos para bons e
maus, está superada. A fé cristã professa a realidade da vida póstuma ou a subsistência da alma humana
após a morte, mas não pode indicar lugar determinado para o céu e o inferno (o que não esvazia em
absoluto os conceitos respectivos).
Circuncisão: ablação ou retirada do prepúcio feita com um cutelo de pedra (cf. Js 5,3).
Originariamente, fora de Israel, era um rito de integração do menino no clã e de iniciação ao matrimônio.
No século XIX a.C., com Abraão, a circuncisão veio a ser o sinal da aliança do israelita com Javé. Através
dos tempos, os Profetas insistiam na espiritualização da circuncisão, que deveria coincidir com a conversão
do coração; cf. Jr 4,4; 6,16; Dt 10,16; 30,6.
Escatológico é o que se refere aos últimos acontecimentos. Perspectiva escatológica, por exemplo, é
a consideração dos fatos presentes à luz da eternidade ou da consumação para a qual tendem. Bens
escatológicos são os bens definitivos já presentes em meio ao tempo.
Escriba: entre os cristãos, é o amanuense, que escreve quanto lhe é ditado; tal foi o caso de Tércio
(cf. Rm 16,22). Entre os judeus, os escribas eram aqueles que, desde o tempo de Esdras (século V a.C.),
eram entendidos nas coisas da Lei; por isto eram também chamados legisperitos" ou "doutores da Lei" (cf.
Lc5,17; Mt 22,35). Os escribas tiveram grande influência sobre a vida do povo judeu.
Geena: vem de ge-hinnom, em aramaico. Nos arredores de Jerusalém havia um vale (ge’, em
hebraico) pertencente aos filhos de Hinnom (ben-hinnom) Donde ge'-ben-hinnom ou ge'-hinnom, em
hebraico. Nesse vale se sacrificavam crianças ao deus Moloc, da Babilônia; cf_ 2Rs 16,3; 21,6; Jr 32,35.
Depois do exílio (587-538 a.C.), os judeus lá queimavam seu lixo. Por isto, o ge'-hinnom ou a ge'-hinnam
era um lugar de fogo. Jesus se serviu do vocábulo para designar a sorte póstuma dos que renegam a Deus;
cf. Mc 9,43.45.47.
A definição do gênero literário de determinado texto não se pode fazer arbitrariamente, mas deve
obedecer a critérios científicos (exame das características do texto).
Hagiógrafo: autor sagrado ou autor de algum escrito bíblico. Um só livro pode ter mais de um autor
ou hagiógrafo.
Inferno: do latim infernus, adjetivo que vem de infra, abaixo. Inferno seria a região inferior,
colocada debaixo da superfície da terra. Significaria o cheol dos judeus antigos. Na linguagem cristã, feita
abstração de topografia ou de geografia do além, inferno significa o estado póstumo dos que renegaram
consciente e voluntariamente a Deus.
Inspiração bíblica: distingue-se da inspiração no sentido usual da palavra, pois não é ditado
mecânico nem é comunicação de idéias que o homem ignorava, inspiração bíblica é a iluminação da mente
de um escritor para que, sob a luz de Deus, possa escrever, com as noções religiosas e profanas que possui,
um livro portador de autêntica mensagem divina ou um livro que transmite fielmente o pensamento de Deus
revestido de linguajar humano.
Javé: é o nome com o qual Deus se revela a Moisés em Ex 3,14s. Pode ser interpretado de várias
maneiras: a tradição dos judeus de Alexandria, muito dados a especulações filosóficas, traduziu Javé para o
grego por ho on, Aquele que é; queriam indicar assim o Absoluto ou o Transcendente de Deus. Todavia
parece que, segundo a concepção dos judeus da Palestina, menos propensos a elevações filosóficas, o nome
Javé significa Aquele que é fiel, que acompanha o seu povo e lhe está sempre presente.
Lei: na linguagem paulina designa freqüentemente a Torá ou a Lei de Moisés de modo que, quando
o Apóstolo censura a Lei (cf. Gl 2,6; 3,10.19), tem em vista não qualquer lei nem a boa ordem publica, mas
a Lei de Moisés, que era um provisório preparativo da vinda do Cristo.
Messias: vocábulo hebraico que significa Ungido; foi traduzido para o grego por Christós. Eram
ungidos os reis de Israel (cf. 1Sm 10,1; 16,13; 2Sm 2,4...), que por isto traziam o nome de "Ungidos de
Javé". A unção significa relação particular entre o Senhor Deus e o ungido, que assim era revestido de
autoridade especial e inviolável (cf. 1Sm 24,7; 26,9.11...). Ungidos eram também os sacerdotes em Israel
(cf. Ex 28,41; Lv 10,7; Nm 3,3). Aos profetas se aplicava uma unção não em sentido próprio, mas em
sentido metafórico (cf. 1Rs 19,19; 2Rs 2,9-15). -Visto que o Salvador prometido desde Gn 3,15 seria Rei,
filho de Davi (cf. 2Sm 7,12-16), Sacerdote (cf. Hb 7,1-25; Gn 14,17-20) e Profeta, o titulo de Ungido lhe
foi atribuído na literatura judaica e nos escritos do Novo Testamento (cf. Jo 1,41; 4,25). Jesus foi ungido
com o Espírito Santo e com poder (At 10,38); Ele mesmo aplicou a Si o texto de Is 61,1, apresentando-se
corno o Ungido que veio anunciar aos povos a Boa-Nova (cf. Lc 4,18-21).
Com o tempo, a palavra Ungido, que era um adjetivo próprio para significar uma função, tornou-se
nome próprio, justaposto a Jesus; donde Jesus Cristo, e não Jesus o Cristo.
Midraxe: é uma narração de fundo histórico, ornamentada pelo autor sagrado para servir à instrução
teológica e à edificação dos seus leitores. O autor conta o fato de modo a pôr em relevo o valor ou o
significado religioso desse fato. A sua intenção não é estritamente a de um cronista, mas a de um catequista
ou teólogo. Como exemplo, citemos o caso do maná: em Nm 11,4-9 é apresentado como alimento insípido e
pouco atraente; mas em Sb 16,20s é tido como cheio de sabor, adaptando-se ao paladar dos que comiam.
Parece haver contradição; na verdade não a há: o autor de Nm escreve uma narração de cronista, ao passo
que o de Sb nos apresenta o sentido teológico do maná num midraxe: o maná era pão delicioso não por seu
paladar, mas porque era o penhor da entrada do povo na Terra Prometida; visto no contexto da história da
salvação, o maná foi delicioso.
Parábola: história fictícia que serve para ilustrar uma verdade teológica. É, pois, uma longa
comparação; caracteriza-se pelas fórmulas "O reino dos céus é semelhante..., é como...". A parábola nunca
aconteceu. Deve-se interpretar a parábola procurando a linha-mestra do seu ensinamento e transpondo tal
mensagem para o plano da fé. Assim em Lc 15,11-32 a bondade do pai para com o filho pródigo ilustra a
misericórdia de Deus para com os pecadores; em Lc 10,30-37 a solicitude caridosa do bom samaritano
ilustra a maneira como devemos tratar o próximo, qualquer que seja a sua condição humana ou social.
A alegoria carece da fórmula "é semelhante, é como..." Exprime diretamente o nexo entre o sujeito e
o predicado: "Eu sou o Bom Pastor" (Jo 10,11), "Eu sou a verdadeira videira" (Jo 15,1)... Na alegoria os
pormenores da imagem podem ser aplicados ao plano transcendental com mais rigor do que na parábola
(esta geralmente fala apenas por seu fio condutor}.
Parusia: visita que o Imperador Romano fazia às cidades do Império; tal aparição do Imperador era
sempre ocasião de alegria festiva. - Ora os cristãos assumiram este vocábulo para designar a segunda vinda
de Cristo ao mundo a fim de consumar a história; Ele virá como Senhor, Kyrios, Imperador a fim de julgar
o mundo e restaurar plenamente a ordem.
Promessa: no vocabulário paulino, é a promessa, feita por Deus a Abraão, de que sua posteridade
seria numerosa e por ela todos os povos receberiam a bênção (= o Messias); cf. Gl 3,16.18. Tal promessa se
cumpriu em Cristo; cf. 2Cor 1,20.
Revelação: a Bíblia nos dá, a saber, que Deus falou aos homens comunicando-lhes o mistério da sua
vida trinitáría e o seu desígnio de salvação, centrado em Cristo Jesus. Nunca os homens chegariam por si a
conhecer tais verdades. Por isto o judaísmo e o Cristianismo são religiões reveladas.
A Bíblia contém a revelação de Deus aos homens, mas nem todas as páginas da Bíblia, embora
inspiradas, são portadoras de revelação divina. Note-se, por exemplo, que em Is 7,14 está predito que uma
virgem conceberia e daria à luz um filho: isto foi consignado no texto sagrado por efeito de dois carismas (o
da revelação e o da inspiração); mas, quando Mt 1,20-23 e Lc 1,26-38 nos dizem que a virgem concebeu e
deu à luz um filho, já não escrevem por efeito de revelação (o fato já ocorrera e era notório), mas
unicamente por efeito do dom da inspiração bíblica. - Toda profecia é fruto de revelação divina.
Salmos (numeração): O texto hebraico (M) e o dos LXX e da Vulgata latina contêm 150 salmos,
mas o modo de numerá-los é diverso, como se pode ver na seguinte tabela:
1-8 1-8
9-10 9
11-113 10-112
114-115 113
116,1-9 114
116,10-19 115
117-146 116-145
147,1-11 146
147,12-20 147
148-150 148-150
Em nossas aulas indicaremos sempre as duas numerações de cada salmo, quando as houver; a
anterior será a da Vg, e a posterior a do texto hebraico.
Satã ou Satanás: termo hebraico que significa "adversário". Satã podia ser o indivíduo que diante
de um tribunal exercesse o papel de acusador (cf. S1108,6). Tal vocábulo, aos poucos a partir do século V a.
C., foi reservado a um anjo que Deus criou bom, mas que se perverteu pelo pecado e se tornou adversário
ou tentador do gênero humano; cf. Jó 1,6-2,7; 1 Cr 21,1. Foi identificado com a serpente de Gn 3,1 (cf. Sb
2,24). Portanto Satã não é uma figura mitológica nem é a realidade neutra do Mal, mas é uma criatura
inteligente, incorpórea, que o Criador fez para a sua glória e que se afastou livremente de Deus; atualmente
recebe do Senhor autorização para provar os homens, dando-lhes ocasião de acrisolar e corroborar a sua
fidelidade a Deus; cf. Rm 16,20; Ef 6,16; 1Pd 5,8. Com Satã muitos outros anjos se perverteram pelo
pecado e são atualmente chamados "anjos maus" ou "demônios". Estes estão subordinados a Deus; cf. Ap
12,7.-17. S. Agostinho nos diz que Satã é um cão acorrentado, que pode latir fortemente, mas só consegue
morder a quem se lhe chega perto ou a quem se lhe entrega.
Semitas; são os descendentes de Sem, filho de Noé; cf. Gn 10,22-30. Correspondem a diversos
povos, entre os quais o hebreu ou israelita, o assírio, o babilônico, o etíope, o fenício, o púnico, o moabítico,
o aramaico.
Testamento: A Bíblia consta de dois Testamentos: o Antigo e o Novo. A razão desta divisão e
nomenclatura é a seguinte: Os judeus, movidos pelo próprio Deus, designavam as suas relações com Javé
como sendo um Berith (= aliança); por isto falavam dos livros da Aliança. Todavia nos séculos III/II a. C.,
quando se fez a versão da Bíblia hebraica para o grego em Alexandria, os intérpretes traduziram Berith por
diathéke (- disposição); queriam desta maneira ressalvar a unicidade e soberania de Deus; na verdade,
quem faz Aliança com alguém, é par ou igual a esse alguém, ao passo que quem faz uma disposição é
soberano ou Senhor. Assim os livros sagrados de Israel foram chamados livros da diathéke ou da
disposição (de Deus em favor dos homens). Quando a palavra diathéke foi traduzida para o latim entre os
cristãos, estes usaram o vocábulo testamentum (- disposição que se torna válida em caso de morte do
testador). Recorreram à palavra testamentum, porque ficou comprovado que a disposição de Deus em
favor dos homens só se tornou plenamente válida e eficiente mediante a morte de Cristo. Assim os livros
sagrados, entre os cristãos, foram distribuídos em duas categorias: os da Aliança (ou Testamento) antiga e
os da nova Aliança ou do novo Testamento; cf. 2Cor3,14s.
Traduções gregas do Antigo Testamento. Além da tradução dita dos Setenta, que será
apresentada no módulo III deste Curso (1a Etapa), devem ser mencionadas as de Teodocião,
Áquila e Símaco.
Teodocião é um prosélito ou pagão convertido ao judaísmo, que traduziu o Antigo Testamento para
o grego no século II d. C. a fim de tentar extinguir o uso do texto dos LXX. Esta tradução, realizada em
Alexandria entre 250 e 100 a. C., era muito utilizada pelos cristãos para provar a messianidade de Jesus,
Visto que isto desagradava aos judeus, Teodocião se dispôs a fazer nova versão, que é mais propriamente
uma revisão retocada do texto dos LXX. O texto de Teodocião teve importância para os cristãos, pois a
partir dele se fez a tradução latina das partes deuterocanônicas do livro de Daniel.
Áquila, também no século II, fez urna autêntica tradução grega do A. T. O seu texto se prende muito
à letra do hebraico, esforçando-se por guardar em grego expressões tipicamente semitas.
Símaco é o terceiro tradutor do Antigo Testamento para o grego. A sua versão é mais livre do que as
anteriores; procura levar em conta o espírito e as peculiaridades da língua grega. Tanto Símaco como Áquila
tentaram suplantar o uso dos LXX.
Vulgata é a tradução latina da Bíblia que se deve a S. Jerônimo († 421). No século IV era grande o
número de traduções latinas das Escrituras, todavia apresentavam grandes deficiências de forma e de
conteúdo. Por isto o Papa São Dâmaso pediu a S. Jerônimo preparasse uma versão nova e fiel dos livros
sagrados. Este sábio, de grande erudição na sua época, aplicou-se à tarefa entre 384 e 406. Não chegou a
traduzir de novo o texto do Novo Testamento, mas fez a revisão dos textos já existentes cotejando-os com
bons manuscritos gregos. Para traduzir o Antigo Testamento, Jerônimo estabeleceu-se na Terra Santa, onde
aprendeu o hebraico com os rabinos e traduziu em Belém todo o Antigo Testamento, menos Br, 1/2Mc,
Eclo e Sb.
A tradução de São Jerônimo aos poucos substituiu as anteriores, de modo a chamar-se Vulgata
editio ou edição divulgada. Tornou-se a tradução oficial da Igreja até o Concilio do Vaticano II (1962-65).
Todavia a tradução de S. Jerônimo não podia deixar de ter suas falhas, pois foi feita em época na qual não
havia os recursos arqueológicos, históricos, lingüísticos... de nossos tempos. Por isto, após o Concílio do
Vaticano II, Paulo VI mandou refazer, a tradução latina dos livros sagrados, que, uma vez pronta, é chamada
a Neo-Vulgata.
ESCOLA "MATER ECCLESIAE"
Iniciaremos o nosso estudo pela Introdução Geral à Bíblia (1a Etapa), que trata da
Inspiração, do Cânon, da História do Texto e da Hermenêutica (Interpretação) da S. Escritura.
Estes primeiros passos poderão parecer áridos ao cursista, porque não abordam diretamente o
texto sagrado; mas, com paciência e perseverança, o estudante adquirirá noções fundamentais e
indispensáveis para poder entrar no estudo do próprio texto sagrado. Na 2a Etapa estudaremos o
Novo Testamento (entraremos na Bíblia pela porta do Novo Testamento, que é mais acessível) e
na 3a Etapa consideraremos o Antigo Testamento, detendo-nos sobre cada um dos livros
sagrados. Serão apontadas as notas características de cada qual e os traços importantes para
facilitar a respectiva leitura. A 4a Etapa do Curso apresentará a exegese (explicação) dos onze
primeiros capítulos do Gênesis, que tratam da criação do mundo, do homem, do pecado, do
dilúvio e da torre de Babel. Ao todo, o Curso consta de 45 Módulos, que poderão oferecer ao
cursista perseverante e "teimoso" um instrumental apto para aprofundar seus conhecimentos
bíblicos.
1a ETAPA: INTRODUÇÃO GERAL À BÍBLIA
MÓDULO l: INSPIRAÇÃO BÍBLICA
Lição 1: Noção e Extensão
O estudo da Bíblia deve começar pela prerrogativa que cristãos e judeus reconhecem a este livro: é a
Palavra de Deus inspirada. Por causa disto é que tanto a estimamos.
a) Mas, quando se fala de inspiração bíblica, talvez aflore à mente a noção de ditado mecânico,
semelhante ao que o chefe de escritório realiza junto à sua datilógrafa; esta possivelmente escreve coisas
que não entende e que são claras apenas ao chefe e à sua equipe.
Ora tal não é a inspiração bíblica. Ela não dispensa certa compreensão por parte do autor bíblico (-
hagiógrafo) nem a sua participação na redação do texto sagrado.
b) A inspiração bíblica também não é revelação de verdades que o autor humano não conheça.
Existe, sim, o carisma (= dom) da Revelação, que toca especialmente aos Profetas, mas é diverso da
inspiração bíblica; esta se exercia, por exemplo, quando o hagiógrafo descrevia uma batalha ou outros fatos
documentados em fontes históricas, sem receber revelação divina.
c) Positivamente, a inspiração bíblica é a iluminação da mente do autor humano para que possa, com
os dados de sua cultura religiosa e profana, transmitir uma mensagem fiel ao pensamento de Deus. Além de
iluminar a mente, o Espírito Santo fortalece a vontade e as potências executivas do autor para que realmente
o hagiógrafo escreva o que ele percebeu; cf. 2Pd 1,21. As páginas que assim se originam, são todas
humanas (Deus em nada dispensa a atividade redacional do homem) e divinas (pois Deus acompanha passo
a passo o trabalho do homem escritor). Assim diz-se que a Bíblia é um livro divino-humano, todo de Deus e
todo do homem; transmite o pensamento de Deus em roupagem humana; assemelha-se ao mistério da
Encarnação, pelo qual Deus se revestiu da carne humana, pois na Bíblia a palavra de Deus se revestiu da
palavra do homem (judeu, grego, arameu, com todas as particularidades de expressão).
d) Notemos agora que a finalidade da inspiração bíblica é estritamente religiosa. Os livros sagrados
não foram escritos para nos ensinar dados de ciências naturais (pois, estas, o homem as pode e deve cultivar
com seus talentos), mas, sim, para nos ensinar aquilo que ultrapassa a razão humana, isto é, o plano de
salvação divina, o sentido do mundo, do homem, do trabalho, da vida, da morte... diante de Deus. Não há,
pois, contradição entre a mensagem bíblica e as das ciências naturais, nem se devem pedir a Bíblia teorias
de ordem física ou biológica... Mesmo Gênesis 1-3 não pretendem ensinar como nem quando o mundo foi
feito.
Pergunta-se então: a Bíblia só é inspirada quando trata de assuntos religiosos? Haveria páginas da
Bíblia não inspiradas?
a) Respondemos que toda a Bíblia, em qualquer de suas partes, é inspirada; ela é, por inteiro,
Palavra de Deus; cf. 2Tm 3,15s. Mas há passagens bíblicas que são inspiradas por si, diretamente, e há
outras que só indiretamente são inspiradas. Em outros termos: a mensagem religiosa que Deus quer
comunicar diretamente aos homens, tem que aludir a este mundo e às suas diversas criaturas (céu, terra,
mar, aves, peixes...); ela o faz, porém, em linguagem familiar pré-científica, que costuma ser bem entendida
no trato quotidiano. Também nós usamos de linguagem familiar, que, aos olhos da ciência, estaria errada,
mas que não leva ninguém ao erro porque todos entendem que essa linguagem familiar não pretende ensinar
matéria científica. Tenham-se em vista as expressões "nascer do sol", "pôr do sol", "Oriente e Ocidente":
supõem o sistema geocêntrico, a terra fixa e o sol girando em torno da terra (ultrapassado), mas não são
censuradas como mentirosas, porque, quando as usamos, todos sabem que não intencionamos definir
assuntos de astronomia. Assim, quando a Bíblia diz que o mundo foi feito em seis dias de vinte e quatro
horas, com tarde e manhã..., quando diz que a luz foi feita antes do sol e das estrelas, ela não ensina alguma
teoria astronômica, mas alude ao mundo em linguagem dos hebreus antigos para dizer que o mundo todo é
criatura de Deus; cf. Gn 1,1 -2,4a. A Bíblia não poderia transmitir esta mensagem de ordem religiosa sem
recorrer a algum linguajar humano, que, no caso, é mero veículo ou suporte da mensagem religiosa.
Por conseguinte, todas as páginas da Bíblia são inspiradas, qualquer que seja a sua temática.
Acrescentemos que também as palavras da Escritura são inspiradas. A razão disto é que os
conceitos ou as idéias do homem estão sempre ligadas a palavras; não há conceitos, mesmo não expressos
pelos lábios, que não estejam, em nossa mente, ligados a palavras. Por isto, quando o Espírito Santo
iluminava a mente dos autores sagrados, para que vissem com clareza alguma mensagem, iluminava
também as palavras com as quais se revestia essa mensagem na mente do hagiógrafo. É por isto que os
próprios autores sagrados fazem questão de realçar vocábulos da Bíblia; veja Hb 8,13; Gl 3,16; Mc 12,26s.
Observemos, porém, que somente as palavras das línguas originais (hebraico, aramaico, grego)
foram assim iluminadas. As traduções bíblicas não gozam do carisma da inspiração. Por isto, quando
desejamos estudar a Bíblia, devemos certificar-nos de que estamos usando uma tradução fiel e equivalente
aos originais. Além disto, é absolutamente necessário levar em conta o gênero literário do respectivo texto,
como se verá abaixo.
Se a Bíblia é a Palavra de Deus revestida da linguagem humana, entende-se que ela utiliza os
gêneros literários ou os artifícios do linguajar dos homens.
Gênero literário é o conjunto de normas de vocabulário e sintaxe que se usam habitualmente para
abordar algum assunto. Assim o assunto "leis" tem seu gênero literário próprio (claro e conciso, para que
ninguém se possa desculpar por não haver entendido a lei); a poesia tem seu gênero literário antitético ao
das leis (é metafórica, reticente, subjetiva...); uma crônica tem seu gênero próprio, que é diferente do de
uma carta; uma carta comercial é diferente de uma carta de família, uma fábula é diferente de uma peça
histórica, etc.
Ora na Bíblia temos os gêneros literários dos antigos judeus e gregos; existe por exemplo, a história
no sentido estrito do termo (1° Macabeus), a história edificante ou midraxe ou ainda hagadá (Tobias,
Judite, Ester, Rute), a história em estilo popular (como a de Sansão em Juízes, 13,1-16,31), a parábola (Mt
13,1-51; Lc 15,1-32), a alegoria (Jo 15,1-6), a lei (Ex 20,1-17), a poesia (Isaías 5,1-7), o apocalipse (Mt
24,4-44) ; merece especial atenção a história etiológica ou a história narrada em vista de propor a causa
(aitía, em grego) de um fato estranho (assim Gn 19,30-38 explica pelo incesto das filhas de Lote a
inimizade existente entre Israel e os povos de Amon e Moab; tais povos seriam filhos do pecado)...
Não é licito, de antemão ou antes da abordagem criteriosa do texto, "definir" o respectivo gênero
literário, como quem diz: "Eu acho que isto é poesia", ou "Para mim, isto é uma tradição folclórica". Mas é
preciso que o leitor se informe objetivamente a respeito do gênero literário do livro que está para ler, a fim
de entender o livro segundo os critérios de redação adotados pelo autor. Tal informação pode ser colhida nas
Introduções que as edições da Bíblia apresentam antes de cada livro sagrado. Não é necessário que todo
leitor da Escritura conheça as línguas originais e sua variedade de expressionismos, mas basta que leia a
Escritura com alguma iniciação, que pode ser facilmente encontrada. Todos compreenderão que não se pode
ler a Bíblia escrita do século XIII antes de Cristo até o século I depois de Cristo como se leria um jornal de
hoje.
Se a Bíblia é a Palavra de Deus feita palavra do homem, entende-se que ela deva ser inerrante (sem
erro de espécie alguma) ou veraz (portadora da verdade).
Mas como se pode sustentar isto, se à Escritura, à primeira vista, está cheia de "erros"? O sol terá
parado no seu curso em torno da terra, conforme Js 10,12-14; Is 38,7s... Nabucodonosor era rei de Nínive,
segundo Jt 1,5; Dario terá sido filho de Assuero, conforme Dn 9,1..
Eis a resposta:
1) É isento de erro ou veraz tudo aquilo que o hagiógrafo como tal afirma...
Comentemos:
1) O autor sagrado pode afirmar algo em seu nome, como pode afirmar em nome de outrem. Por
exemplo, em Jo 1,18, o Evangelista afirma que Jesus nos revelou Deus Pai. Mas no salmo 53 (52), 22 se lê:
"Deus não existe". Como explicar a contradição? Em Jo 1,18 é o autor sagrado como tal quem afirma; a sua
afirmação é absolutamente verídica; mas no Sl 53 (52), 1, o salmista apenas afirma que o insensato diz em
seu coração: "Deus não existe". Quem diz que Deus não existe, não é o autor sagrado; este apenas afirma (e
afirma com plena veracidade) que o insensato nega a existência de Deus (o insensato erra ao negá-la; o
salmista apenas verifica o fato).
2 - Muitos Salmos podem ser numerados de duas maneiras (a hebraica e a grega). O
cursista o aprenderá quando estudar o Módulo referente aos Salmos.
2) "... no sentido em que o hagiógrafo o entendeu". Com outras palavras:.. de acordo com o
gênero literário adotado pelo autor bíblico. Se este quis usar de metáfora, não deverei tomá-lo ao pé da
letra; se quis usar de gênero estritamente narrativo, não deverei entendê-lo metaforicamente.
Voltando aos casos apontados, diremos: quando Js 10,12-14 diz que Josué mandou parar o sol, o
gênero é de poesia lírica; há, pois, uma imagem literária, segundo a qual o "estacionamento do sol" quer
dizer "escurecimento da atmosfera, clima de tempestade de granizo"; por conseguinte, Josué pediu a Deus
uma tempestade de granizo que o ajudasse a vencer a batalha, tempestade da qual fala o texto de Js 10,11.
Quando os livros de Judite e Daniel parecem errar na cronologia dos reis, estão recorrendo ao gênero do
midraxe, que intencionalmente não pretende ser crônica, mas apresenta a história como veículo de
edificação religiosa (ver no Léxico Bíblico anexo o verbete Midraxe). Quando Mateus 1,1-17 diz que de
Abraão até Cristo houve 42 gerações (na verdade houve mais do que isto), quer jogar com a simbologia do
número 42 - o que também pertence ao gênero midráxico; de resto, o assunto voltará a ser estudado na
Introdução ao Evangelho de Mateus.
Vê-se, pois, que a Bíblia é isenta de erro em todas as suas páginas, mesmo quando fala de assuntos
não religiosos. Qualquer erro atribuído à Bíblia, recairia sobre o próprio Deus. Todavia a veracidade ou a
mensagem de cada passagem da Bíblia deverá ser depreendida do respectivo gênero literário: a poesia tem
veracidade diversa da veracidade da lei ou da veracidade do midraxe. Ademais, notemos que a Bíblia só
pretende afirmar categoricamente verdades de ordem religiosa. Em assuntos não religiosos, ela não comete
erros, mas adapta-se ao modo de falar familiar ou pré-científico dos homens que, devidamente entendido,
não é portador de erro, como atrás foi dito.
Diante das dúvidas no entendimento da S. Escritura, o cristão rezará com S. Agostinho: "Faze-me
ouvir e descobrir como no começo criaste o céu e a terra. Assim escreveu Moisés, para depois ir embora,
sair deste mundo, de Ti para Ti. Agora não posso interrogá-lo. Se pudesse, eu o seguraria, implorá-lo-ia em
teu nome para que me explicasse estas palavras,... mas não posso interrogá-lo; por isto dirijo-me a Ti,
Verdade, Deus meu, de que estava ele possuído quando disse coisas verdadeiras; dirijo-me a Ti: Perdoa
meus pecados. E Tu, que concedeste a teu servo enunciar estas coisas verdadeiras, concede também a mim
compreendê-las" (Confissões XI 3,5).
Bibliografia:
ARENHOEVEL, DIEGO, Assim se formou a Bíblia. Ed. Paulinas.
BARRERA, JÚLIO TREBOLLE, A Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã, Ed. Vozes 1996.
CASTANHO, AMAURY, Iniciação à Leitura da Bíblia. Ed. Santuário.
CECHINATO, LUIZ, Iniciação à Sagrada Escritura. Ed. Vozes.
HARRINGTON, WILFRÍD J., Chave para a Bíblia. Ed. Paulinas.
MANNUCCI, VALERIO, Bíblia. Palavra de Deus. Ed. Paulinas.
SCHARBERJ, JOSEF, Introdução à Sagrada Escritura. Ed. Vozes.
ENCICLOPÉDIA ILUSTRADA DA BÍBLIA. Ed. Paulinas.
MUNDO DA BÍBLIA, por vários autores. Ed. Paulinas.
* * *
PERGUNTAS
Escreva suas respostas em folhas à parte, e mande-as, com o nome e o endereço do(a) Cursista, para:
CURSOS POR CORRESPONDÊNCIA, Caixa Postal 1362, 20001-970 de Janeiro (RJ).
Lição 1: Nomenclatura
2) Canônico = livro catalogado - o que implica seja inspirado (no sentido do Módulo I).
1) o livro sagrado não pode ter sido escrito fora da terra de Israel;
Podemos, pois, dizer que havia dois cânones entre os judeus no início da
era cristã: o restrito da Palestina, e o amplo de Alexandria.
Deve-se, por outro lado, notar que não são (nem implicitamente) citados
no Novo Testamento livros que, de resto, todos os cristãos têm como canônicos;
assim Eclesiastes, Ester, Cântico dos Cânticos, Esdras, Neemias, Abdias, Naum,
Rute.
S. Jerônimo († 421) foi, sem dúvida, uma voz destoante neste conjunto.
Tendo ido do Ocidente para Belém da Palestina a fim de aprender o hebraico,
assimilou também o modo de pensar dos rabinos da Palestina neste particular.
Tiago: também foi discutida a autoria deste escrito, que, além do mais,
parecia contradizer a S. Paulo em Rm e Gl; a fé sem as obras seria morta (cf. Tg
2,14-24). Prevaleceu, porém, a consciência de que é escrito canónico,
perfeitamente conciliável com S, Paulo: ao passo que este afirma que a fé sem
obras (sem méritos do indivíduo) basta para entrarmos na amizade com Deus
(ninguém compra a amizade), S. Tiago quer dizer que ninguém persevera na
graça se não pratica boas obras ou se não vive de acordo com a fé.
Portanto, São Paulo trata do ingresso na amizade com Deus, São Tiago trata da
perseverança na mesma.
Bibliografia:
PERGUNTAS
2) Por que a Bíblia dos protestantes não tem sete livros que a Bíblia dos
católicos tem? Exponha a história completa.
Nos séculos VII -X, entre 650 e 1000 d. c., os massoretas fixaram o
texto, colocando-lhe as vogais. Verifica-se hoje, mediante apurados estudos de
lingüística, rítmica e literatura orientais, que as opções feitas pelos massoretas
eram autênticas.
Quanto aos manuscritos, notemos que até 1947 não possuíamos cópias
do texto hebraico anteriores aos séculos IX/X depois de Cristo. Naquela data,
porém, foram descobertos os manuscritos de Qumran, a N. O. do Mar Morto,
que datam dos séculos I a. C. e I d. C. Foi possível assim recuar mil anos na
história da tradição manuscrita; verificou-se então que há identidade entre os
manuscritos medievais e aqueles de Qumran - o que quer dizer que o texto se foi
transmitindo fielmente através dos séculos. Os judeus muito estimavam a sua
literatura sagrada a ponto de não permitirem que se deteriorasse gravemente.
Os LXX
Os judeus se estabeleceram na cidade de Alexandria (Egito) nos séculos
IV/III a. C., lá constituindo próspera colônia. Adotaram a língua grega, de modo
que tiveram a necessidade de traduzir a Bíblia do hebraico para o grego - o que
foi feito devagar entre 250 e 100 a. C. Chama-se esta "a tradução alexandrina da
Bíblia". A lenda, porém, diz que esta tradução teve origem milagrosa, a saber: o
rei Ptolomeu II Filadelfo (285-247 A. C.), querendo possuir na sua biblioteca um
exemplar grego dos livros sagrados dos judeus, terá pedido ao sumo sacerdote
Eleázaro de Jerusalém os tradutores respectivos. Eleázaro terá enviado seis
sábios de cada uma das doze tribos de Israel (portanto, 72 sábios) para
Alexandria; estes terão sido encerrados em 72 cubículos isolados e, não obstante,
haverão produzido o mesmo texto grego do Antigo Testamento - o que só podia
ser milagre. Esta lenda, hoje bem reconhecida como tal, fez que a tradução
alexandrina fosse também chamada "dos Setenta Intérpretes". É importante,
porque nos refere o modo como os judeus liam a Bíblia nos séculos III/II a. C.
A Vulgata
Entre os cristãos do Ocidente, havia no século IV tantas traduções latinas
da Bíblia que os leitores se viam confusos a respeito. Foi por isto que o Papa São
Dâmaso (366-384) pediu a S. Jerônimo fizesse uma revisão dessas traduções. S.
Jerônimo revisou o texto grego do Novo Testamento e traduziu o hebraico do
Antigo Testamento, dando à Igreja um texto latino que logo se propagou e foi
chamado "Vulgata latina" (forma di-vulgada latina). -A Vulgata de S. Jerônimo
gozou de grande autoridade até o Concilio do Vaticano II; hoje em dia existe a
Neo-Vulgata, tradução latina dos originais realizada com mais recursos
lingüísticos e arqueológicos do que a Vulgata de S. Jerônimo.
Para aprofundamento;
PERGUNTAS
Nas lições sobre a inspiração bíblica dizia-se que a S. Escritura é, toda ela, Palavra de
Deus feita palavra do homem. Disto se segue uma verdade muito importante: para entender a
Escritura, duas etapas são necessárias: o reconhecimento da sua face humana, para que,
depois, possa haver a percepção da sua mensagem divina. É impossível penetrarmos no
conteúdo salvífico da Palavra bíblica se não nos aplicamos primeiramente à análise da roupagem
humana de que ela se reveste. Isto quer dizer: não se pode abordar a S. Escritura somente em
nome da "mística", procurando ai proposições religiosas pré-concebidas; é preciso um pouco de
preparo ou de iniciação humana para perceber o sentido religioso da Bíblia. Doutro lado, não se
podem utilizar apenas os critérios científicos (lingüísticos, arqueológicos...) para entender a
Bíblia; é necessário, depois do exame científico do texto, que o leitor procure o significado
teológico do mesmo.
1 - Interpretação quer dizer "explicação, comentário" (Aurélio). Em grego a arte de interpretar é
dita "HERMENÊUTICA".
Examinemos mais detidamente cada qual das duas etapas acima assinaladas.
1. A Bíblia não é um livro caído do céu, mas um livro que passou por
mentes humanas de judeus e gregos existentes numa faixa de tempo que vai do
séc. XIV a. C. ao século I d.C.
Isto não quer dizer que todo leitor da Bíblia deva ser um intelectual,
perito em línguas, história e geografia do Oriente, mas significa que
1) Em Ap 13,18 lê-se que o número da besta é 666. Isto quer dizer que o
leitor tem que procurar um nome de homem cujas letras (dotadas de valor
numérico) perfaçam o total de 666. Tal procura tem que ser efetuada no
ambiente histórico e geográfico de S. João e dos primeiros leitores do
Apocalipse; teremos que indagar na Ásia Menor e no século I da era cristã que
personagem poderia ser esse. A conclusão mais provável é que se trata do
Imperador Nero (54-68), primeiro perseguidor da Igreja, cujos feitos malvados
os cristãos ainda estavam experimentando no fim do século I; São João deve ter
intencionado revelar discretamente esse nome aos seus leitores, a fim de lhes
dizer que o perseguidor pereceria. Por conseguinte, é despropositado dizer que o
Papa é a besta do Apocalipse, porque (assim afirmam sem fundamento) traz na
cabeça a inscrição "VICARIUS FILII DEI"; São João e os primeiros leitores do
Apocalipse não sabiam latim, que ainda era urna língua ocidental quando tal
livro foi escrito; não adiantaria aos leitores propor-lhes um nome que eles não
pudessem perceber através da linguagem cifrada de Ap 13,18.
Na Escritura, Deus nos fala não somente por palavras, mas também por
pessoas, coisas e fatos, que são imagens ou tipos de realidades futuras. Assim ele
quis fazer do primeiro Adão um esboço ou uma figura (tipo) do segundo Adão,
Jesus Cristo, conforme Rm 5,14; o primeiro Adão, qual homem compendioso,
recapitula toda a humanidade, como Jesus Cristo a recapitula. Melquisedec (Gn
14,17-20) também é figura de Cristo, conforme Hb 7,1-25; o cordeiro de Páscoa
(cf. Ex 12,1-14) é figura de Cristo, conforme 1Cor 5,7; a serpente de bronze
igualmente, segundo Jo 3,14s; cf. Nm 21,4-9... Quando as Escrituras do Novo
Testamento apontam trechos do Antigo Testamento, como portadores de figuras,
diz-se que tais textos têm sentido típico.
PERGUNTAS
Lição 1: Generalidades
Sabemos que Jesus pregou entre 27 e 30 sem nada deixar por escrito. Também não mandou os
Apóstolos escreverem; conseqüentemente, o Evangelho foi primeiramente anunciado de viva
voz, e só aos poucos consignado por escrito. Há, pois, um intervalo de 20, 30 ou mais anos entre
Jesus e o texto definitivo dos Evangelhos. Depois de muito estudar o texto sagrado e a história
da Igreja nascente, os bons autores (e, com eles, a Igreja na sua Instrução "Sancta Mater
Ecclesia", de 21/04/1964) admitem três etapas nesse período de tempo:
- Em resposta, ponderemos:
Observemos como São Paulo tem consciência de que mitos não fazem
parte da mensagem evangélica e, por isto, devem ser banidos da pregação: 1Tm
1,4; 4,7; 2Tm 4,4; Tt 1,14; cf. 2Pd1,16.
* * *
PERGUNTAS
Lição 3: A mensagem de Mt
A ordem concatenada dos temas era mais importante para Mateus do que
a seqüência cronológica dos acontecimentos. Por isto o Evangelista agrupou, em
blocos, acontecimentos ou sermões de Jesus que, segundo a ordem histórica,
deveriam estar muito distantes uns dos outros, mas que, reunidos, melhor ajudam
o leitor a compreender a mensagem do Mestre. Vejamos
Em suma, Jesus não veio abolir a Lei de Moisés, mas levá-la à plenitude,
isto é, cumprir todas as promessas e profecias nela contidas (cf. Mt 5,17).
3. Mt = o Evangelho da Igreja
Aliás, todo o mistério da Igreja está contido no episódio dos magos (Mt
2,1-12), que só Mt refere; conduzidos de longe por uma estrela e orientados
pelos próprios judeus, os pagãos reconheceram e adoraram o Messias, ao passo
que o rei Herodes e sua corte o quiseram matar.
Para aprofundamento:
PERGUNTAS
Pedro ocupa lugar saliente em Mc; cf. Mc 1,29-31.36; 5-37; 9,2-6; 11,21;
14,33. Pedro é explicitamente nomeado em Mc, enquanto nas passagens
paralelas Mt e Lc o silenciam; comparemos entre si Mt 21,20 e Mc 11,21 ; além
disto, Mt 24,3; Lc 21,7 e Mc 13,3; também Mt 28,7 e Mc 16,7. De modo
especial, em Mc as falhas de Pedro são salientadas (Mc 8,32s; 14,37.66-72) e é
silenciado o que redundaria em honra de Pedro (o caminhar sobre as águas, Mt
14,28-31, e a promessa do primado, Mt 16,17-19) - o que só se explica bem se a
pessoa de Pedro é indiretamente a responsável pela redação do Evangelho de
Marcos.
Lição 2: Os destinatários de Mc
Mc não cita vocábulos aramaicos sem os traduzir; cf. 3,17; 5,41; 7,11-34;
10, 46; 14,36; 15,22-34. Também explica os costumes dos judeus como se
fossem estranhos aos leitores: 7,3s; 14,12; 15,42.
Omite o que não seria claro a gente pouco familiarizada com o judaísmo:
as questões referentes à Lei de Moisés (cf. Mt 5-7) ; quase todas as censuras de
Jesus aos fariseus e escribas (cf. Mt 23 e Mc 12,3840); o voto de que a fuga de
Jerusalém não ocorra em sábado (no sábado o judeu não caminhava muito; cf.
Mt 24,20 e Mc 13,18); a menção do sinal de Jonas (cf. Mt 16,4 e Mc 8,12).
Lição 3: A mensagem de Mc
Mc
Mas só Mateus, o cobrador de impostos, refere o preço por que Jesus foi
entregue aos carrascos: Mt 26,15; cf. Mc 14,11; Lc 22,5.
É este mesmo Marcos que apresenta Jesus como Deus com clareza
surpreendente. Assim, por exemplo,
em 1,1: "início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus";
em 1,11; 9,7 é o Pai celeste quem proclama Jesus seu Filho bem-amado;
em 13,32; 14,62: Jesus mesmo se diz o Filho de Deus bendito;
em 2,5.10-12: Jesus perdoa os pecados, e faz um milagre para provar que
Ele pode usar desta prerrogativa de Deus.
Para aprofundamento:
BALLARÍNI, T., Introdução à Bíblia IV. Ed. Vozes, Petrópolis, 1972.
BARBAGLIO, FABRIS, MAGGIONI, Os Evangelhos (I). Ed. Loyola
1990.
DE LA CALLE, FR., A Teologia de Marcos. Ed. Paulinas, São Paulo
1978.
DELORME, J., Leitura do Evangelho segundo Marcos. Ed. Paulinas, São
Paulo 1982.
***
PERGUNTAS
1. S. Lucas não era judeu, mas gentio de Antioquia da Síria; cf.-Cl 4,10-
14. Era homem culto e formado em medicina. Não se pode dizer com segurança
quando se converteu ao Cristianismo. Associou-se a São Paulo em trechos da
segunda e da terceira viagens missionárias; cf. At 16,10-37; 20,5-21,18. Em 60
embarcou com Paulo para Roma (At 27,1-28,16), permanecendo-lhe fiel durante
o primeiro cativeiro (cf. Cl 4,14; Fm 24): Acompanhou o Apóstolo também no
segundo cativeiro romano; cf. 2Tm 4,11.
O 3o Evangelho terá sido escrito por volta de 70, com vistas aos pagãos
convertidos ao Cristianismo. Estes parecem representados pelo "Excelentíssimo
Senhor Teófilo", ao qual S. Lucas dedica seu Evangelho (1,3).
Pergunta-se: por que Lc quis assim orientar todo o seu Evangelho? Qual
a razão deste direcionamento?
- Eis a resposta: assim como Mateus apresentou Jesus como o novo
Moisés, Lc quis descrever Jesus como o novo Elias ou o novo Profeta. Ora uma
das características do Profeta é morrer em Jerusalém, como diz o próprio Jesus
(cf. Lc 13,33). Tal é a chave da estrutura do Evangelho de Lucas. Observemos
que Jesus em Lc aparece freqüentemente como "um grande Profeta" (cf. 4,24;
7,16.39; 9,8; 13,33; 24,19); Jesus mesmo comparou a sua sorte com a dos
profetas Elias e Eliseu (cf 4,24-27).
Lição 4: A mensagem de Lc
Por conseguinte, não sem motivo S. Lucas foi chamado "o escritor da
mansidão de Cristo" (Dante Alighieri).
O Espírito Santo era o dom prometido pelos profetas como fruto da vinda
do Messias.
* * *
PERGUNTAS
Conhecia bem as festas dos judeus e seus usos: 2,6.13; 4,9; 5,1; 6,4; 7,2;
11,55; 18-28. Há 20 citações do Antigo Testamento no IV Evangelho.
Três eram os discípulos mais chegados a Jesus: Pedro, Tiago e João (cf.
Mc 5,37; 9,2; 14,33).
Fica excluído Pedro, pois o autor se distingue de Pedro: ver 13,24; 18,15;
20,2; 21,7.20. Ademais a redação do Evangelho supõe a morte de Pedro já
ocorrida; cf. 21,18s.
Também Tiago não vem ao caso, pois sofreu o martírio por volta de 44
(cf. At 12,1 s), ao passo que o 4o Evangelho foi redigido depois desta data, tendo
o evangelista chegado a avançada idade (Jo 21,22s).
Jo Mt Mc Lc
Pedro 40x 26x 25x 29x
Filipe 12x — — —
Judas Iscariotes 8x 4x 2x 3x
Tomé 7x — — —
Natanael (Bartolomeu) 6x — — —
André 5x 1x 3x —
Judas Tadeu 1x — — —
a) S. João não quis repetir quanto haviam dito os sinóticos, mas supôs os
escritos de Mt, Mc e Lc. Por exemplo, João Batista não é apresentado (com seu
gênero de vida, sua família...), mas logo posto em atividade em 1,15.19-34; a
Mãe de Jesus não é chamada por seu nome "Maria" (cf. 2,1; 19,25), embora o
evangelista se refira a outras "Marias" em 11,1; 19,25 e 20,1. Nada se encontra
em Jo sobre a origem humana de Jesus; em Jo 3,24 está dito que "João ainda não
fora encarcerado", mas não é narrado o encarceramento de João. As notícias de
11,1 fazem o eco a Lc 10,38-42. Em Jo 11,2 há alusão a Mc 14,2-9;
Por isto afirma o evangelista: "Jesus fez muitos outros sinais que não
estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus
é o Messias, e, acreditando, tenhais a vida em seu nome" (Jo 20,30s).
Lição 3: A mensagem de Jo
Quais os principais traços da mensagem teológica de Jo?
Jo Mt Mc Lc
Mundo 76 9 3 3
Vida 36 7 4 5
Testemunhar 33 1 — —
Enviar 32 4 1 10
Água Luz 24 23 8 5 6
7 1 7
Glória 18 8 3 13
Pecado 17 7 6 11
Eterno 17 6 3 4
Trevas 9 1 — 1
Mt Mc Lc Jo
Reino 56 18 45 5
Escriba 23 22 14 1
Parábola 17 13 18 —
Geração 13 5 15 —
Poder 13 10 15
(milagre)
9 5
Fé 11
* * *
PERGUNTAS
Lição 1: Conteúdo de At
O livro se divide em duas partes: uma marcada por Pedro (At 1-12), e a
outra marcada por Paulo (At 13-28). Entre estas duas partes existe concatenação
lógica, pois a atividade de Pedro, Apóstolo dos judeus, prepara a de Paulo,
Apóstolo dos gentios: Pedro leva o Evangelho de Jerusalém à Judéia e à
Samaria, chegando ao seu ponto extremo na conversão do primeiro pagão,
Cornélio (10,1-11,18). Paulo desenvolve a evangelização dos gentios mediante
três viagens missionárias em terras pagãs. O capítulo 15 é como que a solda
entre as duas partes do livro: relata os debates do Concílio de Jerusalém, que
terminaram pelo reconhecimento de que o Reino de Deus superara os limites do
judaísmo e se estendia aos gentios.
2. Examinemos agora o texto de At para perceber o que nos diz sobre seu
autor:
O autor nunca cita o próprio nome nas listas dos numerosos personagens
que acompanhavam S. Paulo. Todavia ele descreve segmentos das viagens de
São Paulo recorrendo à primeira pessoa do plural (seções em nós: 16,10-17;
20,5-15; 21,1-18; 27,1-28,16), isto é, incluindo-se entre os companheiros de São
Paulo. A modéstia impedia-o de inscrever-se ao lado dos seus companheiros.
Donde se conclui: se a tradição apontou Lucas como autor dos Atos, de
preferência a outros mais conhecidos (Silvano, Timóteo, Tito...), esta indicação
só se explica porque Lucas de fato escreveu At.
Quanto aos indícios de autor médico em At, são tênues: citam-se a cura
do paralítico com seus pormenores em At 3,7, e a descrição da moléstia do pai
de Públio em At 28,8.
Lição 4: A mensagem de At
***
PERGUNTAS
Aos quinze anos de idade, foi enviado para Jerusalém, onde se sentou aos
pés do rabino Gamaliel (cf. At 22,3; 26,4; 5,34): foi então iniciado na arte
rabínica de interpretar a S. Escritura, como também deve ter aprendido uma
profissão manual: a de curtidor de couro ou seleiro, profissão que o Apóstolo
havia de exercer a vida inteira.
Em Tarso deve ter permanecido quatro ou cinco anos, até 43. A esta
altura, algo de importante se deu na vida de Paulo: Antioquia da Síria tornara-se
importante centro missionário, onde trabalhava Barnabé, primo de Paulo. Ora
Barnabé, consciente da capacidade apostólica de seu parente, resolveu ir buscá-
lo em Tarso para que colaborasse na missão em Antioquia; cf. At 11,25s. Esta
nova tentativa foi bem sucedida, tanto que no ano seguinte, em 44, Barnabé e
Paulo foram enviados pelos cristãos de Antioquia, para levar os frutos de uma
coleta feita em favor dos pobres de Jerusalém; cf. At 11,27-30;12,25.
Paulo fez assim a sua primeira viagem missionária, que durou cerca de
três anos (45-48), percorrendo a ilha de Chipre e parte da Ásia Menor (cf. At
13,1-14,28): muitos gentios abraçaram o Evangelho, constituindo comunidades
cristãs esparsas pelo Sul da Ásia Menor. Eis, porém, que, em conseqüência, se
levantava sério problema para Paulo: os judaizantes (judeus convertidos ao
Cristianismo, mas adeptos das observâncias judaicas) queriam que os pagãos não
fossem batizados sem abraçar antes a Lei de Moisés (como eles mesmos a
tinham abraçado). Ora Paulo havia pregado o Evangelho e batizado sem
mencionar a Lei de Moisés e a circuncisão. O Apóstolo compreendia bem que a
Lei era como uma preparação provisória para o Evangelho; ela significava a
vinda do Messias; por conseguinte, perdera seu papel logo que chegara o Cristo.
Não haveria sentido, pois, em dar o batismo e impor a circuncisão
simultaneamente. Paulo assim aparecia como o arauto da liberdade cristã frente
às observâncias judaicas; todavia muitos judaizantes o viam como libertino ou
traidor.
Na base destes dados, julga-se que a carta aos Romanos, que tem 16
capítulos e 1.701 palavras, deve ter exigido mais de 98 horas de escrita e 50
folhas de papiro hierático; isto equivale a 32 dias com 3 horas de trabalho ou a
49 dias com 2 horas de trabalho; facilmente, porém, poderíamos admitir que a
redação de Rm se tenha protraído por dois meses ou mais, se levássemos em
conta as depressões de saúde e os imprevistos que perturbavam a vida do
Apóstolo. A 1Ts, com 1.472 palavras, pode ter exigido 20 horas de escrita; a
1Cor, com 6.820 palavras, 94 horas; a 2Cor, com seus 13 capítulos, 62 horas;
Galatas, com 2.200 vocábulos, 22 horas; Colossenses, com 4 capítulos, 21 horas;
2Ts, com 3 capítulos, 11 horas; 1Tm, com 6 capítulos, 22 horas; a 2Tm, com
1.329 vocábulos, 17 horas; Tt com seus 3 capítulos, 9 horas; Filemon com 335
palavras, 5 horas ou 2/3 serões.
Estes números não são aceitos por todos os estudiosos. Julgam que o
temperamento enérgico do Apóstolo não se concilia com tal morosidade na
redação de mensagens que, muitas vezes, eram urgentes.
Em qualquer hipótese é claro que as cartas de S. Paulo foram redigidas por etapas,
com repetidas interrupções do fio das idéias. Estas concorrem para explicar a falta de conexão
entre certas passagens, a transição brusca de um tema para outro, as repetições, os
truncamentos de textos, as mudanças repentinas de estilo e sintaxe do epistolário paulino.
* * *
PERGUNTAS
1) Cite três episódios da vida de São Paulo que mais o(a) tenham
impressionado. Justifique sua escolha.
2) Diga como São Paulo escrevia suas cartas.
3) Aponte três textos paulinos cujo conteúdo lhe pareça especialmente
significativo. Justifique a escolha.
Ler 4,13-18... S. Paulo quer dizer que os fiéis defuntos nenhum prejuízo
sofrerão pelo fato de já terem morrido, pois ressuscitarão e serão associados com
os demais fiéis na glória do Senhor. Quatro pontos merecem nossa atenção nesta
seção:
Lição 2: A 2Ts
Deve ter sido curto o intervalo entre 1Ts e 2Ts, pois ambas reproduzem
as mesmas preocupações. Daí colocarmos a 2Ts no ano de 52.
***
PERGUNTAS
No século III a.C. algumas tribos celtas (gálataí é a forma mais recente
de kéltai, em grego) se moveram da Gália e penetraram na Ásia Menor; após
guerras violentas estabeleceram-se na região central desta, tendo por capital
Ancira (Ankara de hoje, na Turquia). Em 25 a.C. os romanos invadiram a
Galácia e a integraram numa confederação mais ampla, chamada "Província
Romana da Galácia", que chegava até o sul da Ásia Menor (compreendendo a
Pisídia, a Licaônia e a Panfilia). Havia, pois, a Galácia étnica, situada no centro
da Ásia Menor, com população rude e belicosa, e a Galácia política, que
chegava até o sul da Ásia Menor e compreendia outros povos além dos celtas.
Para não nos alongar inutilmente, optamos, com a maioria dos autores,
pela Galácia étnica ou Galácia no sentido estrito da palavra. São Paulo visitou tal
região tanto na segunda como na terceira viagens missionárias (cf. At 16,6;
18,23). Certamente Paulo não teria chamado "galatas" (Gl 3,1) os habitantes da
Galácia política, que não eram de sangue celta ou galata.
1.2. A problemática de Gl
Da Galácia, durante a terceira viagem missionária, por volta de 54, Paulo
dirigiu-se a Éfeso, onde permaneceu durante três anos (cf. At 19,1 -10; 20,31),
mantendo intercâmbio muito intenso com as comunidades da Ásia e da Grécia.
Foi nesse contexto que se apresentaram a Paulo irmãos portadores de notícias da
Galácia: tinham sobrevindo a esta região judaizantes estremados que
perturbavam as comunidades, declarando que, sem a circuncisão e a Lei de
Moisés, não haveria salvação. Os argumentos desses pregadores estavam para
induzir os galatas a abraçar as observâncias mosaicas; cf. Gl 1,6-9;
3,1;4,9s.21;5,1.12. Os judaizantes tentavam enfraquecer ou anular a autoridade
de Paulo, dizendo que este não era apóstolo propriamente dito, pois não seguira
Cristo na terra como Pedro e Tiago (cf. Gl 1,1); era, sim, discípulo dos
apóstolos; para compensar a autoridade que não tinha, Paulo seria um
oportunista, pregando um Cristianismo mutilado (sem as observâncias da Lei)
somente para agradar aos ouvintes; Paulo procuraria tão somente o favor dos
homens, pois tinha mandado circuncidar Timóteo para não melindrar os judeus
(cf. At 16,3), mas se tinha oposto à circuncisão de Tito para não desagradar aos
pagãos (cf. Gl2.3) ; cf. Gl 1,10. As calúnias e difamações dividiam e
amarguravam os galatas, que "se mordiam e devoravam reciprocamente" (5,15).
Por isto Paulo houve por bem escrever sem demora a epístola aos
Galatas, já que não podia abandonar o intenso ministério que praticava em
Éfeso. Esta carta deve datar de 54, escrita na cidade de Éfeso. É um dos mais
veementes escritos do Apóstolo, em que faltam os habituais elogios à
comunidade, próprios do início de cada carta (cf. 1Ts 1,2-10; 2Ts 1,3-5; 1 Cor
1,4-9; Fl 1,3-11...).
Lição 2: O conteúdo de Gl
Em 1,6-24 o Apóstolo afirma que o Evangelho por ele apregoado não foi
aprendido em escola humana; é, sim, o fruto de revelação divina. Para prová-lo,
Paulo recorda o chamado à conversão (1,13-16) que Cristo lhe dirigiu. Paulo não
teve a pressa de procurar a aprovação dos demais Apóstolos, mas foi para a
Arábia, e só três anos depois subiu a Jerusalém para encontrar-se com Pedro; não
viu então nenhum dos outros Apóstolos; como teria recebido o apostolado de
mãos humanas?
Lição 3: A mensagem de Gl
2) Por seu conteúdo tão veemente, Gl foi chamada por Lutero e outros
reformadores "a Magna Carta da Liberdade Cristã", isto deve ser sabiamente
entendido: Gl só apregoa a liberdade em relação à Lei de Moisés, não frente a
toda lei: o cristão está obrigado a praticar as obras da lei superior da caridade e
da graça; cf. 5,6.13s.16.
Mais precisamente: quando São Paulo afirma que somos salvos pela fé, e
não pelas obras da Lei, quer dizer que entramos na justificação ou na amizade
com Deus não porque tenhamos praticado obras boas e meritórias, mas
unicamente porque Deus nos chamou e demos fé a esse chamado (como Abraão
foi chamado e deu fé a esse chamado). Por conseguinte, ninguém "compra" a
amizade com Deus ou ninguém sai do estado de pecador porque o mereça; é
Deus quem gratuita e soberanamente dá a graça que perdoa o pecado e nos faz
filhos de Deus. Mas São Paulo não é menos enérgico ao afirmar que ninguém
permanece na amizade com Deus, gratuitamente recebida, se não pratica as
obras boas que a filiação divina impõe ao homem: "Em Cristo Jesus nem a
circuncisão nem a incircuncisão tem valor, mas a fé agindo pela caridade" (Gl
5,6); o mesmo é dito em 1Cor 7,19; 13,1-13; Rm 13,16. São Tiago, sem negar a
gratuidade da justificação (cf. Tg 1,8), incute, como São Paulo, a necessidade
das boas obras como fruto da graça dentro do cristão (cf. Tg 2,14-26).
***
PERGUNTAS
Corinto ficava na Acaia, num istmo entre dois golfos - o Sarônico, com
seu porto de Cêncreas no mar Egeu, e o Coríntio, com o porto de Lequem no
mar Adriático. Esta posição geográfica assegurava a Corinto prosperidade
material crescente, pois para lá afluíam viajantes, com suas mercadorias e seus
sistemas de vida, provenientes de diversas partes do mundo. Em 27 a. C., César
Augusto fez de Corinto a capital da província romana da Acaia (Grécia
Meridional).
Antes do mais, Paulo procurou apoio na colônia judaica, que era assaz
numerosa em Corinto; entre esses judeus, encontrava-se o casal Áquila e
Priscila, provavelmente já cristão, que exercia a profissão de curtidor como
Paulo; ofereceu ao Apóstolo não somente hospedagem, mas também a
possibilidade de trabalhar e ganhar o pão (coisa que S. Paulo aceitou de bom
ânimo, a fim de não se tornar pesado a nenhum de seus fiéis).
Deve ter sido escrita poucos meses após a carta mencionada em 1Cor 5,9,
pois supõe o equívoco ainda recente. Considerando-se 5,7 e 16,8, deve-se
dizer:... redigida pouco antes da Páscoa de 56, três ou quatro anos depois que
Paulo deixara Corinto. De 16,8 e 18 se depreende que foi escrita em Éfeso.
b) Os idolotitos: 8,1-11,1
Em principio, é licito comer carnes imoladas aos ídolos, já que estes nada
são. Todavia, se isto causa escândalo aos irmãos mais fracos, é preciso abster-se
dos idolotitos (8,1-13). O próprio Paulo abstém-se do que lhe é lícito, não
querendo receber dos fiéis nem mesmo o sustento cotidiano a que teria direito.
Castiga o seu corpo, pois a abstinência é necessária para se vencerem as
tentações como o demonstra a história mesma do povo de Deus (9,1-10,13).
Solução de casos práticos (10,14-11,1).
É necessário que haja diversos carismas, como num corpo é preciso que
haja diversas funções: 12,1-31a. A caridade é o mais nobre dos dons de Deus,
embora nem sempre aparatosa: 12,31b-13,13. Entre os demais carismas, o da
profecia é preferível ao das línguas, pois é mais útil ao próximo: 14,1-40.
No lar em que nem todos são cristãos, a parte fiel santifica a parte não
cristã e os filhos (7,14). A virgindade é preferível ao matrimônio porque permite
mais íntima aplicação às coisas do Senhor (7,32-35).
* * *
PERGUNTAS
Daí a pergunta: que terá acontecido entre 1 e 2Cor para provocar tal
mudança de conteúdo e de estilo?
- Não há como responder muito precisamente, pois o livro dos Atos nada
refere a propósito. Somente da própria 2Cor podemos deduzir alguns dados
conjeturais, como faremos a seguir. O trabalho de consulta de textos e leitura em
filigrana, que vamos empreender, requer paciência e atenção do leitor; se não,
pouco compreenderia da exposição seguinte:
4) Para não punir logo, Paulo deixa Corinto, prometendo voltar em breve.
Mas, absorvido por afazeres, adiou o seu retorno; pelo que, foi acusado de
leviano, inconstante e covarde; cf. 2Cor 1,15s.23.
7) Antes que partisse, Paulo marcou encontro com Tito em Trôade (Ásia
Menor). Mas, como teve que deixar Éfeso precipitadamente por causa da
celeuma de Demétrio (At 19,23-20,1), Paulo não encontrou Tito em Trôade (cf.
2Cor 2,12s).
10) Todavia Tito não podia deixar de relatar calúnias e invectivas dos
judaizantes em Corinto. À semelhança do que se dera na Galácia, acusavam
Paulo de não ser verdadeiro Apóstolo, pois não convivera com Jesus. O
procedimento de Paulo seria um aberto testemunho de que não estava seguro da
sua autoridade; sim, o adiamento da viagem prometida era tornado como sinal de
hesitação e inconstância, próprias de um homem sujeito às suas paixões, não de
quem está revestido da autoridade de Cristo (cf. 2Cor 1,17); Paulo era dito
covarde, pois à distância ameaçava duros castigos, escrevia cartas severas, mas
não ousava comparecer e, quando presente entre os coríntios, tinha aparência
fraca, desprezível, usava de linguagem simples e não se aventurava a punir
ninguém (cf. 2Cor 10,2-11; 11,2; 13,2-4). Além disto, o fato mesmo de ter Paulo
procurado viver do trabalho de suas mãos em Corinto, sem pesar aos fiéis (cf.
1Cor 9,12-18; 1Ts2,9; 2Ts 3,7-10), era interpretado como indício de que ele
reconhecia não ter direito às esmolas dos fiéis e não ser Apóstolo como os
demais (cf. 2Cor 11,7-12; 12,13); e, não obstante o aparente desinteresse
pecuniário, ainda acusavam Paulo de viver das esmolas que arrecadava para a
comunidade de Jerusalém (cf. 2Cor 6,8).
11) Ciente das boas disposições da comunidade, Paulo decidiu voltar lá,
numa terceira visita (cf. 2Cor 12,14; 13,1). Para preparar esse novo encontro
com os fiéis, quis escrever a 2Cor, que na verdade é a quarta carta de São Paulo
aos coríntios. Esta devia mais uma vez chamar os coríntios à ordem, para que,
presente, o Apóstolo não tivesse de censurá-los (cf. 2Cor 13,10).
São Paulo via-se caluniado pelos judaizantes. Tais acusações, porém, não
afetavam apenas a pessoa do Apóstolo, mas punham em xeque a própria causa
do Evangelho. Daí a necessidade que incumbia a Paulo, de responder fazendo
longa exposição de suas intenções, de seus trabalhos e da eminente dignidade da
sua missão apostólica. Nessa epístola Paulo expandiria toda a sua alma de
homem ardente que lutava pela mais sublime das causas. Ao fazer isto, porém, o
Apóstolo não se fechou numa visão individualista ou mesquinha da realidade; ao
contrario, desenvolveu perspectivas teológicas muito vastas e belas.
Embora seja tolo expor os próprios títulos de glória, Paulo ousa fazê-lo,
coagido pelos adversários: recorda os seus trabalhos, os dons extraordinários
recebidos de Deus e também as moléstias corporais, nas quais o poder de Deus
se manifesta (11,16-12,10).
Paulo indica novos sinais da autenticidade da sua missão. Os coríntios
deveriam defendê-lo das calúnias, já que tanto amor lhes demonstrou no passado
(12,11 -18).
O argumento em favor dos judaizantes era forte. Contudo Paulo quis dar
às suas deficiências físicas uma interpretação contrária à dos adversários.
Conforme o Apóstolo, as misérias físicas do cristão são justamente o sinal da
presença de Deus no fiel. No caso de Paulo, os achaques significariam que não
era Paulo, como simples homem, que agia, mas era Deus, quem agia por meio de
Paulo. Toda a obra missionária de Paulo era efeito da graça de Deus, que Paulo
trazia como um tesouro em vaso de argila (4,7-10). Por conseguinte, pelas
deficiências do instrumento Paulo comprovava a autenticidade da sua missão. É
justamente próprio de Deus mostrar em meio à fraqueza humana todo o poder
divino (12,9).
PERGUNTAS
1) Compare o que Paulo diz nos capítulos 2-3 com o que diz nos cap. 10-
13 de 2Cor e diga se a epístola das lágrimas poderia ser2Cor 10-13.
2) Como é que os coríntios receberam Tito e a epístola das lágrimas?
Cite textos.
3) Indique as três passagens que mais lhe falam na 2Cor.
4) Que seria o aguilhão da carne de que fala 2Cor 12,7?
5) Compare 2Cor 2,5-10; 7,12 e 1 Cor 5,1-7. Será o mesmo caso em
ambas as epístolas?
6) Como você aplicaria à sua vida e à vida do mundo de hoje a
interpretação do sofrimento proposta peta 2Cor?
7) Qual a atitude que São Paulo propõe aos seus fiéis diante da
perspectiva de coleta ? Deduza os traços principais dos capítulos 8 e 9.
São Paulo tinha por princípio, em sua vida missionária, não intervir na
vida de comunidades que outros haviam evangelizado (cf. Rm (15,20s), 2Cor
10,13-16). Todavia o caso da Igreja Romana lhe parecia diferente: Roma era a
capital do Império pagão. Ora, consciente da sua missão de anunciar a fé entre os
gentios (cf. Gl 1,15s; Rm 1,14s; Ef 3,8s), Paulo julgava que devia chegar até
Roma e mesmo até a Espanha (que marcava os limites do Império romano e da
oikouméne, terra habitada). Já no fim da sua permanência em Éfeso (56), o
Apóstolo concebeu o projeto de ir até Roma (At 19,21); depois passaria para a
Espanha (Rm (15,23s). Das relações com os irmãos de Roma o Apóstolo só
podia esperar confirmação e proveito na fé (Rm 1,10-15).
Nutrindo tal desejo, Paulo quis preparar sua visita aos cristãos de Roma
mediante uma carta (Rm 15,23s.28s). Esta foi escrita no fim da terceira viagem
missionária, quando Paulo passava os três meses de inverno de 57/58 em
Corinto, à espera de uma nave que o levasse à Palestina. Estas circunstâncias são
confirmadas pelo fato de que o Apóstolo está para ir a Jerusalém levando as
esmolas dos fiéis da Acaia e da Macedônia - o que bem concorda com o quadro
do fim da terceira viagem missionária (cf. At (19,21); 1Cor 16,1-4; 2Cor8s).
Além disto, em Rm 16,1s Paulo recomenda aos leitores Febe, diaconisa da
igreja de Cêncreas e portadora da carta (ora Cêncreas era porto contíguo a
Corinto).
Paulo deve ter ditado a Tércio, seu escriba (cf. Rm 16,22). A redação da
carta pode ter levado uma centena de horas ou o equivalente a 32/49 serões de
trabalho1.
1 - Ver na Introdução Geral ao epistolário paulino a maneira como São Paulo redigia suas
cartas.
Lição 2: O conteúdo de Rm
Não tendo problemas particulares a tratar, São Paulo quis abordar o tema
geral "vida cristã", ou melhor, a justificação que nos faz viver como filhos de
Deus, herdeiros do Pai e co-herdeiros com Cristo (cf. Rm 8,15-17).
Esta verdade é ensinada pela história de Abraão, que foi feito amigo de
Deus séculos antes que Moisés trouxesse a Lei. Abraão é o pai (modelo) de
todos os que crêem (3,31-4,25).
Epílogo: 15,14-16,27
Lição 3: A mensagem de Rm
A epístola aos Romanos sempre foi muito lida entre os cristãos. Sabe-se,
porém, que não é de fácil interpretação; os Reformadores protestantes fizeram
desse documento o esteio da doutrina da fé sem as obras, interpretando
unilateralmente o pensamento paulino. Quem estuda Rm, deve conjugar esse
estudo com o de Gl e o de Tg. Com razão afirmava São Pedro que "nas cartas de
Paulo se encontram pontos difíceis de entender, que os ignorantes e vacilantes
torcem, como fazem com as demais Escrituras, para a sua própria perdição"
(2Pd3,16). Quando S. Paulo diz que a fé, sem obras boas, nos faz amigos de
Deus, tem em vista a nossa entrada na filiação divina; ninguém a "compra" por
merecimentos prévios. Uma vez, porém, feitos amigos de Deus, temos que
praticar obras boas, como ensinam S. Paulo e S. Tiago; ver Gl 6,10; 1ïs 5,15; Fl
2,12; Tg 2,14-26.
Para aprofundamento deste estudo, ver pág. 56.
* * *
PERGUNTAS
Há quem julgue que Paulo esteve preso também em Éfeso, pois nesta
cidade permaneceu três anos (cf. At 20, 31) e sofreu hostilidades (cf. 1Cor 16,8,
"adversários numerosos"; 15,32, "luta contra as feras; At 19, 13-40, tumulto dos
ourives). Mais: em 2Cor 11,23 Paulo afirma que sofreu várias vezes a prisão; ora
os Atos só referem até a data de 2Cor a prisão em Filipos (cf. At 16,23-40); não
se deveria, por isto, supor um encarceramento em Éfeso? Em Rm 16,4 é dito que
Priscila e Áquila expuseram sua cabeça para salvar a vida de Paulo - o que se
supõe tenha ocorrido em Éfeso (cf. At 19, 23s).
Por causa dos laços afetivos com os filipenses, Paulo mais de uma vez
aceitou deles auxílio em dinheiro (cf. 2Cor 11,8s; FI 4,15-16). Paulo não
costumava aceitar ofertas, pois queria pregar o Evangelho sem ser, de algum
modo, oneroso aos fiéis ou vivendo unicamente do trabalho de suas mãos.
Precisamente, estando Paulo cativo em Roma, os filipenses, após certo recesso,
enviaram-lhe alguns recursos por intermédio de Epafródito, delegado da
comunidade junto a Paulo (cf. Fl 4,10-13; 2,25). Epafródito, porém, adoeceu
gravemente. Este fato muito preocupou os fiéis de Filipos e o próprio enfermo.
Paulo então resolveu mandar este de volta aos seus, juntamente com uma carta
(cf. Fl 2,25-29), que teria como principal objetivo agradecer aos fiéis os socorros
materiais e o afeto que dedicavam ao Apóstolo (Fl 4,15-20); aproveitando o
ensejo, Paulo mandaria notícias suas, principalmente do seu apostolado (cf. 1,12-
25); exortaria os fiéis à unidade e à concórdia fraternas (1,27-2,18; 4,1-4) e os
acautelaria contra as ciladas dos judaizantes (cf. 3,1-6).
1. A epístola aos Filipenses é, com razão, tida como "a carta da alegria
cristã". O vocábulo "alegria" e seus sinônimos constituem a trama desse
documento, recorrendo 24 vezes; cf. 1,4.7.25; 2,2.18; 3,1; 4,1.4... E São Paulo,
portador da alegria, quer que ela seja a partilha também de todos os seus fiéis.
Todavia essa alegria paulina é paradoxal: existe num homem já adiantado em
anos e detido na prisão, de onde escreve uma carta cheia de entusiasmo. Parece
reproduzir-se, na prisão donde Paulo escreve, o que ocorrera na cidade de Filipos
muitos anos antes: Paulo e Silas estavam detidos em cárcere público, sofrendo
terrivelmente pelas feridas da flagelação que ainda sangravam; e contudo, pela
meia-noite, cantavam hinos de louvor a Deus (cf. At 16,23-25).
É de notar que também os filipenses, na época em que esta carta lhes era
escrita, sofriam perseguições por causa da fé (cf. Fl 1,27-30). Todavia São Paulo
os admoesta a não se deixarem abater, mas antes exorta-os a agradecer a Deus
não só pela garça de crerem em Cristo, mas também pela de sofrerem por Ele,
empenhados todos num duro combate (cf. 1,27-30). A eles, sofredores, dirige
Paulo o estribilho: "Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos!" (Fl 4,1).
***
PERGUNTAS
Sabemos que Paulo por duas vezes evangelizou a Frigia: por ocasião da
segunda viagem missionária (cf. At 16,6) e no fim da terceira expedição (cf. At
18,23). Todavia a comunidade cristã de Colossos foi fundada sem a intervenção
direta de Paulo, como atesta a própria carta aos Colossenses (2,1: não conheciam
Paulo pessoalmente). A sua origem se deve à prolongada permanência do
Apóstolo em Éfeso nos anos de 54-57, tempo durante o qual "todos os habitantes
da Ásia, judeus e gregos, puderam ouvir a Palavra do Senhor" (At 19,10). Entre
esses ouvintes, estavam certamente Epafrás (Cl 1,7) e Filemon (Fm 1), cidadãos
colossenses, que, convertidos em Éfeso, se encarregaram de fundar a
comunidade cristã de sua cidade; de modo especial, Epafrás parece ter sido o
grande arauto da Palavra nas cidades de Colossos, Laodicéia e Hierápolis (cf. Cl
4,12-14).
É de notar ainda que a maioria dos fiéis de Colossos era de origem pagã
(cf. Cl 2,13; 1,21.27), embora ainda devesse haver também judeus, que eram
numerosos na Frigia.
Ora quem examina a carta aos Efésios, verifica que não se refere a fatos,
pessoas e acontecimentos determinados, como as outras cartas; apresenta tom
impessoal, a ponto de faltarem as habituais saudações dos numerosos
colaboradores, como Timóteo e Aristarco, tão conhecidos aos efésios (cf. Aí
19,22-29; 1 Cor 4,17); também não se encontram saudações aos amigos
residentes em Éfeso. Dir-se-ia mesmo que os destinatários só conheciam Paulo
indiretamente ou por ter ouvido falar (cf. Ef 3,2-4;4,21). Em síntese, o texto de
Ef dá a impressão de ser um tratado teológico, apresentado a leitores
desconhecidos, sem polêmica nem intervenção em casos particulares, e não uma
carta a discípulos muito amados.
Cl tem apenas 30% de próprio, isto é, sem paralelos em Ef; esta possui
50% de exclusivamente seu. São passagens próprias de Cl: 1,15-20 (hino
cristológico, talvez tirado da Liturgia antiga); 2,1-9.16-23 (polêmica contra os
falsos pregadores) ; 3,1-4 (exortação a procurar as coisas do alto); 4,9 (saudações
e encargos). Ef tem de exclusivamente seu: 1,3-14 (o grande prólogo de ação de
graças); 2,1-10 (a vida nova em Cristo); 3,14-21 (oração para que os fiéis
compreendam o mistério); 4,1-16 (exortação à unidade); 5,8-14 (exortação a
caminhar na luz); 5,23-32 (o matrimônio inserido no mistério de Cristo e da
Igreja) ; 6,10-17 (a armadura do cristão).
PERGUNTAS
Lição 1 : Autenticidade
Lição 2: Os destinatários
Tito, que devia ter a mesma idade que Timóteo, é-nos conhecido apenas
por referências em quatro cartas de S. Paulo: Gl, 2Cor, Tt, 2Tm. Os Atos não
falam deste discípulo. Filho de pais pagãos (cf. Gl 2,1 s) e convertido à fé
provavelmente por Paulo (cf. Tt 1,4), Tito pertencia à comunidade cristã de
Antioquia. Pela primeira vez aparece como companheiro de Paulo, por ocasião
do Concilio de Jerusalém (Gl 2,1-2). Após o fracasso de Timóteo, aceitou o
convite de reconduzir à obediência e paz a comunidade agitada dos coríntios;
levando a estes a "carta das lágrimas", viu seus esforços bem sucedidos (cf.
2Cor7,13-15; 8,6; 12,17s). Foi também o portador da 2Cor (cf. 2Cor 8,6.16-24).
Após longo intervalo, Tito reaparece ao lado de Paulo em Creta, onde é deixado
com a tarefa de concluir a organização das comunidades locais (cf. Tt 1,5); aí
devia ficar até que Artemas ou Tíquico o fosse substituir (Tt 3,12). Segundo a
tradição, morreu em 93 como bispo da ilha de Creta. Em conseqüência, pode-se
dizer que Tito possuía um temperamento sólido forte e ponderado; era apto a
tarefas difíceis, bom organizador, zeloso no ministério... Salientaremos, a seguir,
alguns traços mais importantes das Pastorais.
* * *
PERGUNTAS
Até cinqüenta anos atrás era comum dizer-se que Hb é carta de S. Paulo
Apóstolo. Em nossos dias, porém, já não se afirma isto, mesmo entre os
católicos. Aliás, faz-se oportuno notar que é lícito discutir a autoria de algum
escrito bíblico, contanto que não se ponha em dúvida a canonicidade do mesmo
ou o seu valor de Palavra de Deus. É o que ocorre com Hb: pergunta-se qual o
autor humano dessa carta inspirada pelo Espírito Santo.
Uma vez considerados todos estes pontos, pergunta-se: que autor terá
escrito um tal documento?
Lição 2: Os destinatários de Hb
Lição 3: A mensagem de Hb
Como Deus... Cristo preexistia à Encarnação, como Deus que era; cf. Hb
13,8. Em Hb 1,10-12 é aplicado a Cristo o Sl 101 (102), 26-28, que louva a Javé
e opõe a imutabilidade de Deus à caducidade da criatura. Também merece a
adoração dos anjos (1,6); é como o resplendor que procede da glória do Pai; é
como a imagem que reproduz fielmente a substância do Pai (1,3).
* * *
PERGUNTAS
1) Explique o sentido de Hb 2,3 e compare com Gl 1, 1s. 12. 16s. Que se
segue daí a respeito do autor de Hb?
2) Hb 6,4-8 quer dizer que há pecados sem perdão? Procure o sentido
exato destes versículos.
3) É licito discutir a respeito do autor de um escrito bíblico? Explique.
4) Indique três textos de Hb em que apareça a crise de fé aos leitores.
5) Em que passagem o autor trata de sábado e repouso? Qual a sua
mensagem?
6) Onde é que o autor compara a Palavra de Deus a uma espada de dois
gumes?
7) Onde Hb diz que Deus é o arquiteto e construtor da cidade definitiva?
1.1. O autor de Tg
Em 1,27; 3,9 Deus é dito "Nosso Pai", sem que haja menção do Filho; é
Pai dos homens, à semelhança das concepções do Antigo Testamento.
c) O autor deve ser identificado com Tiago, bispo de Jerusalém; cf. 1,1.
No Novo Testamento ocorrem três homens apostólicos de nome "Tiago":
- Tiago, irmão de João, filho de Zebedeu. É dito "Tiago Maior"; está fora
de cogitação, pois morreu em 44 (cf. At 12,2) e a epistola é posterior a esta data.
1.2. Os Destinatários de Tg
2.1. A 1JO
2.1.1. O autor
Em seu conteúdo a 1Jo refere-se, não raro, a Jo. Assim, o autor diz
explicitamente que é testemunha ocular do que narra, mas nunca diz o seu nome;
cf. 1Jo 1,1-3; 4,14; Jo 1,14; 19,35. Em 1Jo 2,13s, o autor diz que escreve... e
escreveu; isto não são fórmulas retóricas, mas o presente se refere a 1Jo, ao
passo que o pretérito a Jo.
Aliás, dados os vários títulos de afinidade entre 1Jo e Jo, bons exegetas
julgam que a 1Jo foi escrita para apresentar aos leitores o Evangelho segundo
João.
2.1.2. Os destinatários
O autor sabe que tais leitores correm perigo por parte de falsos
pregadores, que querem quebrar a unidade existente entre Cristo-Deus e Jesus-
homem; cf. 1Jo 2,18-22.26; 4,1-3.14s; 5,1.5-13. Negavam que, por ocasião da
Paixão, o Filho de Deus estivesse unido à humanidade de Jesus; em
conseqüência, negavam que a Redenção tenha sido obtida mediante o sangue do
Filho de Deus.
2.1.3. A mensagem da 1 Jo
2.2. As2/3Jo
O autor é chamado "o ancião (cf. 2Jo 1; 3Jo 1). Este apelativo indica a
dignidade do escritor e lembra o titulo que os discípulos atribuíam a S. João em
Éfeso na sua velhice
* * *
PERGUNTAS
Simão, filho de João (Jo 1,42; 21,15-17; Mt 16,17) era, como seu irmão
André, discípulo de João Batista (Jo 1,40s). Foi chamado pelo Senhor, que lhe
impôs o nome de Cephas = Pedro (Jo 1,42). Durante toda a vida pública de
Jesus, exerceu papel de destaque; cf. Mt 14,28-31; 17,24-27; Jo 6,67-69. A Pedro
o Senhor prometeu e outorgou o primado entre os Apóstolos; cf. Mt 16,16-19;
Lc 22,31s;Jo 21,15-17.
A tradição refere que Pedro esteve em Roma, onde morreu como bispo
local após ter sofrido a crucificação de cabeça para baixo. A sua sepultura foi
encontrada na basílica de S. Pedro em Roma. Deve ter morrido no ano de 67, em
dia incerto para nós.
Não tem fundamento a sentença segundo a qual Silvano teria escrito toda
a 1 Pd, de acordo com as idéias de Pedro, muito depois da morte do Apóstolo.
O lugar de redação deve ter sido Roma (cf. 5,13, onde Babilônia é alusão
a Roma). Como data de origem, assinalamos os anos de 63-64 anteriores à
perseguição de Nero, pois na 1 Pd não há indícios de tal perseguição.
O autor da carta se chama "Judas... irmão de Tiago" (v. 1). Ora em Mc 6,3 e Mi
13,55 são mencionados, entre os primos de Jesus, Tiago e Judas. É de crer que
este seja o autor da carta em foco. - Outra sentença julga que tal autor é o próprio
Apóstolo Judas, de cognome Tadeu (= homem de coração), mencionado no
catálogo dos Apóstolos (Lc 6,16; Aí 1,13; Mi 10,3; Mc 3,18). Contra esta tese,
aponta-se o v. 17, no qual o autor se distingue do grupo dos Apóstolos.
2.2. Destinatários de Jd
2.3. Jd e 2Pd
Jd4 - 2Pd2,1
Jd6 - 2Pd 2,4.9
Jd7 - 2Pd2,6
Jd8 - 2Pd2,10
Jd10 - 2Pd2,12
Jd11s - 2Pd 2,13-15
Jd13 - 2Pd2,17
Jd16 - 2Pd2,18
Jd17 - 2Pd3,1s
Jd18 - 2Pd3,3
Lição 3: A 2Pd
Aliás, para o cristão, basta que a epístola tenha sido reconhecida pela
Igreja como canônica e represente um legado da época dos Apóstolos. O autor
queria prevenir seus leitores (genericamente indicados em 1,1) contra a invasão
de falsas doutrinas (2Pd 2), como também lembrar-lhes verdades fundamentais:
a participação na natureza divina pela graça (1,4), o caráter inspirado das
Escrituras (1,20s), a certeza da parusia futura (3,3-13).
* * *
PERGUNTAS
Lição 2: A interpretação do Ap
Procura-se então: qual o nome cujas letras somadas dão o total de 666?
Logo para início de resposta, note-se que não se deve procurar tal nome
entre os latinos ou na história posterior a S. João; os leitores do Ap não sabiam
latim (sabiam grego e, talvez, hebraico); só conheciam os acontecimentos do seu
passado e do seu presente. Ora era para esses leitores que João queria transmitir
uma mensagem que eles compreendessem.
N V R N R S Q
50 6 200 50 200 60 100 = 666
Caso se omita o Nun (N) final de Nero (n), dando-se a forma latina Nero
ao nome, tem-se o total 666-50 = 616. Isto explicaria que alguns manuscritos do
Ap tenham 616 em vez de 666. - Nero, na verdade, foi o tipo do perseguidor
anticristão, de modo que S. João o deve ter tido em vista no texto de 13,18.--
H E L L E N G O V L D W H I TE
50 50 5 50 500 5+5 1 = 666
Ora também esta interpretação é falsa, pois está fora do alcance dos
leitores imediatos de Ap.
Para aprofundamento,
BARBAGLIO, FABRIS, MAGGIONI, O Apocalipse. Ed. Loyola, 1990.
* * *
PERGUNTAS
Os cinco primeiros livros da Bíblia (Gn, Ex, Lv, Nm, Dt) constituem a
Lei ou Torá de Moisés, também chamada Pentateuco (em grego, pente = cinco;
teuchos = rolo ou livro). Começaremos por este conjunto de cinco livros; a
princípio, entre os judeus, constituíam uma obra só (= a Lei); mas, por razões
práticas, a Lei foi dividida em cinco partes.
MÓDULO l: O Pentateuco
Lição 1: Generalidades
1.Até o século XVIII d.C. admitia-se que Moisés no séc. XIII a.C. tivesse
escrito os cinco livros da Lei. Em favor desta tese, podem ser citados textos do
Antigo Testamento, como Ex 17,14; 24,4; Nm 33,2; Dt 31,9.22.24... e do Novo
Testamento: Jo 5,45-47; Mt 8,4; 19,8; Mc 7,10; 12,26...
Estes dados são suficientes para justificar as dúvidas dos críticos sobre a
origem do Pentateuco: dificilmente se poderia sustentar que Moisés tenha
escrito o "livro da Lei" como ele hoje se encontra.
Lição 3: A solução
Como se vê, Moisés não pode ser tido como autor do Pentateuco no
sentido moderno; não escreveu por inteiro a Lei.
* * *
PERGUNTAS
1. O nome Josué quer dizer "Javé é salvação" (cf. Js 1,9). Josué era filho
de Nun (Ex 33,11; Nm 11,28; 13,8.16), da tribo de Efraim (Nm 13,8).
Distinguiu-se no combate contra os amalecitas (Ex 17,8-16); acompanhou
Moisés ao monte Sinai (Ex 24,13; 32,17); tomou parte na expedição de
reconhecimento de Canaã (Nm 13,8; 14,38). Guardou firme confiança no
Senhor; por isto, Josué e Caleb foram os únicos homens que, tendo saído do
Egito, entraram na Terra Prometida (Nm 14,30.38; 26,65; 32,12). Moisés
escolheu Josué como seu servidor (Ex 24,13), quando este era jovem (cf. 33,11).
Quando Moisés, perto de morrer, pediu ao Senhor que indicasse o seu sucessor,
Javé designou Josué (Nm 27,15-23). Por conseguinte, após a morte de Moisés, a
chefia do povo tocou a Josué.
Josué teve que exercer árdua missão, a saber: zelar pela observância da
Lei, introduzir o povo na terra prometida, lutando contra os cananeus, e
distribuir a terra entre as tribos de Israel. Estes encargos tinham índole religiosa,
pois eram etapas na organização do povo messiânico ou do povo que preparava a
vinda do Messias. Josué revelou-se um chefe enérgico e tenaz, ao mesmo tempo
que prudente.
Lição 2: A origem de Js
O título do livro não quer dizer que Josué seja o autor do mesmo, mas,
sim, que o livro narra os feitos de Josué.
Essa praxe era comum aos antigos povos em geral. Devia-se não só a um
grau de cultura pouco evoluída, mas também a uma concepção religiosa estranha
a nós: cada povo julgava que, na guerra, a honra dos seus deuses estava em jogo;
uma derrota militar significaria desprezo para os deuses da nação vencida, assim
como a vitória seria triunfo da Divindade. Por conseguinte, os guerreiros
julgavam que aos deuses do vencedor deviam ser religiosamente imolados os
homens, as famílias, as cidades, as posses do povo vencido.
Ora esse costume foi respeitado por Deus nas suas relações com Israel; a
mentalidade seria aos poucos corrigida... Devemos mesmo dizer que, para os
hebreus, o herém se tornava particularmente necessário: este povo, e ele só,
possuía a verdadeira fé para um dia transmiti-la ao mundo; por conseguinte, era
de sumo interesse que Israel não corrompesse a sua religião. Todavia, para
manter incontaminada a crença de Israel, não havia outro meio senão a absoluta
separação dos hebreus de entre os demais povos; a experiência mais de uma vez
comprovou que, ao habitar pacificamente com tribos vencidas na guerra, os
judeus se deixavam seduzir pelas suas pompas religiosas. Em conseqüência, era
absolutamente necessário que a legislação de Israel apelasse para o herém, a fim
de evitar danos religiosos. Apoiando-se nestas idéias, o legislador sagrado assim
recomendava o herém a Israel:
"Quanto às cidades dos povos que o Senhor teu Deus há de te dar como
herança, nelas não deixarás a vida a nenhum indivíduo que respire. Entregarás
esses povos ao anátema: os heteus, os amorreus, os cananeus, os ferezeus, os
heveus e os jebuseus, como o Senhor teu Deus te mandou, a fim de que não vos
ensinem a imitar todas as abominações que eles cometem para com os seus
deuses e não pequeis contra o Senhor vosso Deus" (Dt 20,16-18; cf. 7,2-4).
Firme este princípio, pode-se admitir que, para entregar Jericó aos
israelitas em prêmio da sua fé, o Senhor se tenha servido de causas segundas: um
terremoto (como ocorreu em 1Sm 14,15), pequenos combates (mencionados em
Js 24,11), a sede, que pode ter flagelado os habitantes da cidade cercada (como
em Jt 7,6). Em suma, podemos crer que o livro de Josué não nos refere a história
completa da tomada de Jericó, mas se limita ao episódio que realçava a
influência da fé naquela campanha militar.
Esta análise nos mostra que os vv. 12-14 se referem à batalha descrita em
7-11, realçando em estilo poético o que ela teve de glorioso.
* * *
PERGUNTAS
Foi nesse contexto que Javé suscitou juízes em Israel. Estes eram heróis,
dotados de força e carisma especiais pelo Senhor, para libertarem uma ou mais
tribos de Israel, dominada(s) pelos estrangeiros. Depois de terminarem a sua
obra, não tinham continuidade nem dinastia; também não promulgavam leis nem
impunham tributos. Os juízes são o testemunho vivo de que Javé nunca
abandonou o seu povo, mas foi dirigindo a história deste até mesmo dispensando
carismas (ou dons) extraordinários.
O nome de juízes foi dado a esses homens porque a função mais
freqüente que compete a um chefe de tribo, é a de julgar as causas ou os litígios
da população. A autoridade de cada juiz não se estendia para além dos limites de
uma ou de poucas tribos. Somente Eli e Samuel tiveram autoridade que
provavelmente abrangia todo Israel; mas, à diferença dos juízes anteriores, não
eram chefes de exército (cf. 1Sm 7,8-17).
Lição 2: Conteúdo de Jz
O livro dos Juízes nos refere as façanhas de doze Juízes. Destes, seis são
tidos como maiores, porque apresentados com mais minúcias; tais são Otoniel
(da tribo de Judá), Aod (Benjamin), Barac (Neftali), Gedeão (Manasses), Jefté
(Gad), Sansão (Da). Os outros seis são ditos "menores", porque poucas notícias
há a respeito deles; tais são: Samgar (Simeão), Tola (Issacar), Jair (Galaad),
Abesã (Aser), Elon (Zabulon) e Abdon (Efraím).
"O Senhor lhes suscitou um juiz ou salvador"; cf. 2,16; 3,9-15; 4,23s...
Este liberta do domínio estrangeiro a sua gente.
Dois apêndices:
- a idolatria de Dã (17,1-18,31)
- a luxúria dos benjaminitas (19,1-21,24).
A história de Sansão (Jz 13-17) nos diz que, enquanto Sansão tinha longa
cabeleira, vencia seus inimigos; mas, desde que lhe cortaram os cabelos, perdeu
a sua força extraordinária. Esta história é, à primeira vista, fabulosa. Todavia
pode ser entendida dentro do quadro religioso de Israel.
O livro de Rute se prende ao dos Juízes pelas suas palavras iniciais: "No
tempo em que os Juízes governavam, houve uma fome no pais". Há
comentadores que o consideram como o terceiro apêndice de Jz.
***
PERGUNTAS
2.1. Samuel
Uma mulher estéril, chamada Ana (= graça), sofria por não ter filhos, ou
por não poder colaborar para a vinda do Messias, prometido à linhagem de
Abraão. Isto lhe parecia uma maldição de Deus. Tendo rezado, obteve um filho:
Samuel ( = Deus ouviu). Na Bíblia, o filho dado a uma mulher estéril tem
sempre uma missão particular (ver Isaque, Gn 18,1-15; Sansão, Jz 13,1-25; João
Batista, Lc 1,5-17); assim também Samuel.
2.2. Saul
2.3. Davi
Tocador de harpa, Davi foi chamado por Saul para suavizar o seu mau
humor, passando assim para a corte real (1Sm 16,14-23). Os filisteus desafiavam
Israel, representados pelo gigante Golias; Davi se apresentou então para
enfrentar e combater Golias, obtendo, por graça de Deus, maravilhosa vitória
(1Sm 17,1-58); esta aumentou muito o prestigio de Davi. O jovem guerreiro
tornou-se grande amigo de Jônatas, filho de Saul, que passou a enciumar-se do
seu rival e procurou ferir mortalmente Davi (1Sm 18,1-19,17); Davi teve que
fugir, mas antes celebrou uma aliança com Jônatas (20.1-21,1). Começou então a
via dolorosa de Davi, que vivia em cavernas (1Sm 22,1-23) e no deserto (1Sm
23,1-24,23). Apesar da malvadez de Saul, Davi soube ser generoso para com o
rei, que ele podia ter assassinado (1Sm 26,1-25).
1. Quem lê 1/2Sm com atenção, verifica que não foram escritos de uma
vez nem pelo mesmo autor, mas que são obras de compilação. Com efeito, aí se
encontram numerosas repetições:
Duas vezes ocorre a promessa de dar como mulher a Davi uma filha de
Saul: 1Sm 18,17-19 e 20-27.
Duas vezes Jônatas intervém em favor de Davi: 1Sm 19,1-7 e 20,1-
10.18-39.
Por conseguinte, Samuel não é o autor de 1/2Sm, mas uma das suas
principais figuras. Estamos diante de uma obra que tem vários autores
desconhecidos, que elaboraram paulatinamente a narração na base de
documentos e fontes (cf. 2Sm 1,18: o Livro do Justo é citado). Deram-lhe a
forma final possivelmente no séc. VIII a.C.
* * *
PERGUNTAS
- o ciclo do profeta Elias, que ficou sendo muito popular e caro a Israel
(1Rs 17T1-2Rs 1,17). Tem-se aqui uma figura corajosa, que enfrenta reis e falsos
profetas para defender a causa do único Deus. A leitura de tais episódios é
agradável por seus pormenores muito vivazes. Ver em Eclo 48,1-11 como Elias
foi posteriormente apreciado;
Corpo: juízo sumário sobre o rei, proferido na base da sua atitude frente
à Lei do Senhor. Os reis da Samaria são condenados em bloco por terem seguido
o modelo do cismático Jeroboão (cf. 1Rs 14,7-9; 16,26-28; 2Rs 15,9.18.24.28...).
Os reis de Judá são julgados em relação a Davi, "o rei segundo o coração de
Deus"; o autor os distribui em três categorias;
- reis maus, por terem permitido ou praticado a idolatria; assim Abdias, 1
Rs 15,3- 5 ; Acaz, 2 Rs 16,2-4; Manassés, 2 Rs 21,2-9 ; Joacaz, 2 Rs 23,32;
2) Inspiração deuteronômica
Os dois livros dos Reis não tencionam narrar a história pela história, mas,
sim, para realçar que os acontecimentos humanos são orientados por Javé, para
cumprimento do seu plano de salvação. Especialmente os golpes e reveses
sofridos pelo povo eleito são vistos como sinais da justiça divina, que assim quer
chamar os infiéis à consciência do seu pecado e à conversão. O leitor de 1/2Rs,
segundo o autor sagrado, deve reconhecer as culpas dos antepassados e suas
próprias culpas, que são resposta inadequada aos benefícios recebidos do
Senhor; em conseqüência, procure voltar a Deus, que o pecado menospreza. A
tese teológica do livro se encontra em 2Rs 17,7: "Isto aconteceu, porque os
filhos de Israel tinham pecado contra Javé seu Deus, que os tirara da terra do
Egito".
O autor da primeira redação terá sido o autor principal, supõe-se que era
filho de Jerusalém, provavelmente sacerdote, devoto do templo e convicto
adepto dos princípios deuteronômicos. Talvez tenha trabalhado sob o rei Josias,
ou seja, entre o início da reforma religiosa (621) e a morte do rei (609).
PERGUNTAS
1) tabelas genealógicas desde Adão até Davi; 1Cr 1,1-9,44. Vê-se, pois,
que a época anterior a Davi é preenchida apenas por listas de nomes; a atenção
do autor se volta especialmente para a tribo de Judá e a descendência de Davi,
para os levitas e os habitantes de Jerusalém.
2) A história do rei Davi, cheio de zelo pelo culto do Senhor: 1Cr 10,1-
29,30. O autor não menciona as desavenças com Saul, nem o pecado de Davi
com Betsabéia, a mulher de Urias assassinado, nem os dramas de família de
Davi nem as revoltas contra o rei. A profecia de Natã, porém, é posta em relevo
particular (c. 17) assim como o interesse de Davi pelo culto: a trasladação da
arca e a organização da liturgia em Jerusalém (c. 13; 15-17), os preparativos para
a construção do Templo (cc. 21-29): Davi traçou o plano, reuniu o material,
organizou pormenorizadamente as funções do clero e deixou a execução ao seu
filho Salomão.
- o valor de cada rei é julgado na base do seu interesse pelo culto divino;
o grande referencial e modelo é sempre o rei Davi;
* * *
PERGUNTAS
1) Compare entre si 2Cr 16,12-14 e 1 Rs 15,23; 2Cr20,35-37 e 1 Rs
22,49; 2Cr 20,55-31 e 1Rs 22,49; 2Cr 24,17-25 e 2Rs 12,18-22; 2Cr
25,14-28 e 2Rs 14,8-14. E veja o que o cronista acrescentou.
Porque o acrescentou?
2) Em 2Sm 24,1 e 1 Cr 21,1 diz-se que Davi fez um recenseamento.
Quem o instigou a isso? Por que o texto de 1Cr difere do de 2Sm neste
particular?
3) Em 2Cr 35,22 e 2Rs 23,29 há referência ao mesmo fato. Que há de
próprio em 2Cr?
4) Compare entre si Esdr 5,1 e Ag 1,2-11. Que disse Ageu aos
repatriados?
c) o texto dos três livros passou por uma história obscura, o que suscitou
questões de crítica do texto e canonicidade: Tb, Jt e Est 10,4-16,24 não constam
do cânon dos judeus da Palestina; são, por isto, chamados "deuterocanônicos".
Com efeito. Mais de uma vez em sua história, o povo de Israel esteve sob
a ameaça de poderosos reis pagãos, que se apresentavam como senhores
absolutos (et Jt4,1s; 6,2): assim foi o rei Assurbanipal (669-630?), da Assíria,
cuja campanha é mencionada em 2Cr 33,11; assim também Senaqueribe (704-
681), da Assíria, conforme 2Rs 18,13-37; igualmente terrível foi a opressão
exercida pelos reis selêucidas, da Síria, contra Israel, entre 200-142 a.C.,
conforme 1/2Mc. De todas as campanhas, a que parece fazer fundo de cena ao
livro de Judite, é a de Artaxerxes III Ocos (359-338), da Pérsia, ocorrida por
volta de 351 a.C.
1. O rei Assuero deu, certa vez, grande banquete; por essa ocasião, a
rainha Vasti recusou-se a comparecer em público e foi repudiada (1,1-22). Em
seu lugar, entrou Ester, israelita, prima órfã de um israelita chamado Mardoqueu,
que residia em Susa (Pérsia) e servia na corte do rei (2,1-20).
O livro pode ter sido escrito em hebraico na época dos Macabeus (167-
160). Por volta do ano 100 a.C., terá sido traduzido para o grego e enriquecido
com os fragmentos deuterocanônicos,
Para aprofundamento:
* * *
PERGUNTAS
1. O 1Mc, após breve relato da difícil situação (1,1 -2,70), narra os feitos
de Judas Macabeu (166-160) em 3,1-9,22; os de Jônatas (160-142) em 9,23-
12,53, os de Simão (142-134) em 13,1-16,22. Judas conseguiu vencer os sírios e
recuperar o Templo, que ele mandou purificar e dedicar de novo em 164(3,1-
4,61); morreu no campo de batalha (9,17s). Jônatas foi ainda mais feliz em suas
campanhas militares e diplomáticas, mas começou a se afastar do ideal do seu
pai, aliando-se a pagãos e colocando os interesses políticos acima dos religiosos;
aceitou ser nomeado Sumo Sacerdote pelo rei sírio Alexandre Balas, morreu
vítima de emboscada em 142. Sucedeu-lhe seu irmão Simão, cujo prestigio ainda
foi maior; cultivando amizade com os estrangeiros (sírios, espartanos, romanos),
obteve a autonomia política para seu povo; usava os títulos de "Sumo Sacerdote"
e "Etnarca" (chefe da nação) dos judeus; cf. 15,1. Morreu tragicamente colhido
em cilada, e teve por sucessor seu filho João Hircano (134); cf. 16,11-24
O autor deve ter escrito nos últimos anos de João Hircano (134-140 a.C.)
ou pouco depois da morte dele, em hebraico, na Palestina. O livro não foi
recebido pelos judeus da Palestina em seu catálogo bíblico, pois estes julgavam
encerrado o cânon antes da época dos hasmoneus, que não lhes era de grata
recordação. Os israelitas, porém, estimavam os livros dos Macabeus, como se
depreende do uso que deles fazem os escritores Flávio José (37-95 d.C.) e Filon
de Alexandria († 44 d.C.).
Jasão de Cirene, autor dos cinco livros subjacentes a 2Mc, foi um judeu
da diáspora1; Cirene ficava no norte da África. Era homem de zelo e piedade.
Quanto àquele que fez o resumo (= 2Mc), é-nos desconhecido; preocupava-se
com a arte de traduzir, na qual se afadigou (leia o prefácio: 2,19-32; o autor diz
que muito labutou para fazer seu compêndio - o que bem mostra que a inspiração
bíblica não é revelação, mas é iluminação da mente para que o escritor produza
obra isenta de erros). Merece atenção também o epílogo (15,37-39).
1 - Diáspora quer dizer dispersão, em grego. Significa o povo judeu espalhado fora da Palestina.
Jasão terá escrito sua longa obra em meados do séc. II; em 2,21 alude ao
fim do reinado de Antíoco V. O resumo (= 2Mc) terá sido confeccionado no
último decênio do século II a.C. Os judeus não aceitaram tal obra, dada a sua
origem tardia; por isto é deuterocanônica. Todavia a epístola aos Hebreus, em
11,35, alude ao martírio de Eleazaro (6,18-31) e dos sete irmãos "macabeus"
(7,1-42).
Por estes títulos o 2Mc foi muito caro à tradição cristã, especialmente à
liturgia.
* * *
PERGUNTAS
Aos poucos a sabedoria foi tomando caráter religioso; tem suas raízes no
temor do Senhor e procura agradar a Deus; ver Pr 1,7; 6,16; Jó 28,28; Eclo 1,11-
21... É um dom que o Senhor concede; ver Jó 32,8; Ecl 2,26; Eclo 1,1; 2,6s; Sb
7,27...
Dentre os sete livros sapienciais, Jó, Pr, Ecl, Eclo, Sb, representam bem
as expressões da sabedoria administrativa, moral e religiosa de israel. Os livros
dos Salmos e do Cântico menos adequadamente são enumerados nessa categoria.
Ora precisamente sobre este pano de fundo foi escrito o livro de Jó. O
autor apresenta um homem reto, Jó, que perde seus bens e sua saúde (Jó 1,1-
2,10). Três amigos comparecem para fazer-lhe companhia e lhe recomendam que
acuse seus pecados, pois, se foi ferido de tal maneira, deve ter graves faltas, Jó,
porém, afirma sua inocência e julga que a sua situação é inexplicável (4,1-
31,40); apela para o juízo de Deus(31,35s). Aparece então um jovem chamado
Eliu, que, em parte, confirma os dizeres dos amigos de Jó, em parte tenta nova
explicação (Deus pode permitir o sofrimento dos bons para preservá-los do
orgulho); cf. cc. 32-37. Finalmente Deus intervém majestosamente e impõe o
silêncio a Jó e seus amigos; ninguém é capaz de sondar os desígnios da
Providência Divina; Deus é sábio demais para que o homem lhe possa pedir
contas dos seus planos; cf. cc. 38-41. Jó então reconhece sua incapacidade de
julgar Deus (42,1-6). Deus o recompensa, restituindo-lhe a saúde e os bens
materiais (42,7-17).
Como se vê, Deus não confirma a tese antiga, que explicaria o sofrimento
como castigo de pecados pessoais, mas também não expõe o sentido do
sofrimento, especialmente quando afeta os bons. A explicação do problema só
poderia ser dada quando os judeus tivessem noção de que, após a morte, existe
outra vida, em que os homens conservam plena consciência do que lhes acontece
e, por isto, são capazes de colher os frutos das obras praticadas na terra. Ora
somente no séc. II a.C. (Jó é talvez do século V a.C.) Israel chegou a noção de
vida póstuma consciente. Na era cristã, Jesus Cristo, o justo que sofre em
expiação dos pecados alheios e ressuscita dentre os mortos, projetaria nova luz
sobre o sentido do sofrimento.
Uma tão artificiosa composição do livro sugere que o autor não esteja
descrevendo a história propriamente, mas desenvolvendo outro gênero literário,
que seria o do diálogo filosófico-religioso.
Jó não se dobra ao convite, pois ele nada tem que o acuse. O herói torna-
se assim o porta-voz das dúvidas relativas à antiga sentença judaica; aponta o
caso dos ímpios que prosperam, e professa perplexidade diante dos seus
sofrimentos.
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PERGUNTAS
1) Leia atentamente Pr 8,1-36 e Eclo 24,1-34. E responda: qual é o
sujeito que fala nesses capítulos? Como é que os cristãos os
a
podem entender (cf. 1 Etapa, módulo IV)?
2) Em Jó 19,25-27 Jó fala da ressurreição dos mortos? A sua Bíblia diz
alguma coisa em nota de rodapé?
3) Como é que o livro de Jó explica o sofrimento do inocente?
4) Que faltava ao autor de Jó para explicar melhor o sofrimento?
5) Como é que Jó entendia o Cheol? Leia Jó 3,16; 7,6-10; 10,8s.18-22;
14,10-12.18-22.
Lição 1: Os Salmos
Tais elementos não impediram que toda a tradição, com seus santos e
místicos, encontrasse nos salmos uma vívida expansão de afetos cristãos.
Lição 2: Os Provérbios
Não nos surpreende essa afinidade de Provérbios com textos dos sábios
não israelitas. A experiência da vida e as normas que ela dita, são as mesmas em
todos os povos, independentemente das respectivas crenças religiosas. Essa
sabedoria humana e universal foi assumida pelo autor sagrado, que a
reconsiderou sob a luz dos seus princípios de fé: a vida e o comportamento do
homem são colocados em relação com o Criador (Pr 17,5; 22,19); é o Senhor
quem tudo vê e providencia, e não o homem ou o rei (Pr 5,21; 15,3); Ele pune a
iniqüidade (Pr 24,18; 25,22); assume a si a causa dos pequeninos (Pr 17,5;
22,22s; 23,10s). Assim os clássicos dizeres dos sábios orientais são
aprofundados e mais valorizados em Pr.
Para aprofundamento:
* * *
PERGUNTAS
Quem lê o livro, pode, à primeira vista, ficar confuso. O autor fala, sem
nexo lógico, de muitos assuntos, demonstrando não só pessimismo em relação a
tudo, mas também ceticismo: parece não ter ideal, nem ânimo na vida. Dá
também a impressão de ser materialista, pois recomenda o gozo dos prazeres
materiais do momento e afirma que "o homem não leva vantagem sobre os
animais...; todos vêm do pó e voltam ao pó" (Ecl 3,19s).
Todavia uma leitura mais atenta do livro permite mais exata compreensão
do mesmo. Consideremos o seguinte:
- o autor de Ecl, como o de Jó, não tinha noção de uma vida póstuma
consciente. Compartilhava a idéia de que, após a morte, o ser humano entra em
estado de torpor e se torna incapaz de receber a retribuição de seus atos bons e
maus; por conseguinte, julgava que é nesta vida que Deus exerce sua justiça para
com uns e outros. Ora a experiência bem mostra que os ímpios são, muitas
vezes, sadios e ricos, ao passo que os fiéis sofrem perseguição e miséria (cf. 9,2).
Isto leva o autor do Ecl ao desânimo.
Esta conclusão bem mostra que o autor não é um cético, nem um ateu:
depois de haver discutido o problema da retribuição, ele o acha insolúvel; por
isto, chama seu discípulo para o realismo: sejamos fiéis a Deus e entreguemos
nossas obras ao julgamento do Senhor. Nesta proposição está timidamente
expressa a esperança de que haverá uma retribuição póstuma. Qualquer ímpeto
de desespero ou revolta é superado por esse fecho do livro, que representa a
última palavra do autor temente e submisso a Deus.
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PERGUNTAS
Lição 2: O Eclesiástico
O autor deve ter escrito a sua obra por volta de 190-180 a.C. em
Jerusalém, já que o seu neto (duas gerações depois) a traduziu para o grego em
132 a.C. É de notar que a Palestina acabara de passar para o domínio dos sírios
em 200. Estes procuraram impor aos judeus costumes pagãos, violentando as
consciências de Israel. Esta pressão chegaria ao auge sob Antíoco IV Epifanes
(175-163) que provocou a revolta dos irmãos Macabeus. Neste contexto
compreende-se melhor o zelo do Sirácides pelas tradições religiosas e civis do
seu povo; ele é cheio de fervor pelo Templo e seu ritual, cheio de estima pelo
sacerdócio e pelos escritos sagrados do seu povo.
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PERGUNTAS
Houve, sem dúvida, falsos profetas: alguns, sem ter chamado divino, se
apresentavam como profetas para ganhar dinheiro (cf. 1Rs 22,13; Is 30,10; Mq
2,11; 3,5.11); procuravam justificar os vícios em vez de os censurar devidamente
(cf. Jr 23,9,40; Ez 13,1-16; Jr 14,14s); anunciavam falsas calamidades ou
ocorrências (cf. Dt 18,20-22; Mq 3,5; Jr28,9); eram negligentes no cumprimento
do seu dever (Ez 3,17-21; 13,22s; 33,2-4).
Lição 2: Isaías
A situação histórica suposta por Is 40-55 difere da do séc. VIII (Is 1-35):
o rei Ciro da Pérsia parece conhecido aos leitores; Javé o dirigirá contra a
Babilônia; cf. 46,1-13; 47,1-11;
os leitores são estimulados à confiança e à alegria, pois se aproxima o
fim do exílio; cf. 40,10s.27; 41,10-13; 46,12s; 48,20.
contudo o Senhor enviará sua salvação, mas não por obra de Ciro ou do
Servo de Javé; cf. 60,22; 61,1-3; 62,7s;66,12s;
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PERGUNTAS
Em 605, Jeremias ditou ao seu secretário Baruc os oráculos que ele tinha
proferido desde o começo da sua missão ou desde 626 (cf. 36,2); Baruc leu-os
para o povo no Templo. Então o rei Joaquim de Judá, mandou queimar esse
escrito (cf. 36,27). Em conseqüência, o Profeta os ditou de novo, acrescentando-
lhes ainda outros vaticínios (cf. 36,32). O rei Sedecias, posterior a Joaquim, mais
uma vez mandou encarcerar Jeremias com o traidor da pátria (cf. 37-39).
Jerusalém tendo caído sob os golpes de Nabucodonosor em 587, Jeremias foi
libertado da prisão e quis ficar na Terra Santa, junto a Godolias, que o invasor
colocara como Prefeito à frente de Judá (cf. 40,1-6). Todavia Godolias foi
assassinado por judeus, que fugiram para o Egito levando consigo o Profeta (cf.
-42,1-43,13). Neste país, Jeremias ainda exortou a sua gente à penitência (cf.
44,1-30). Reza a tradição, à qual parece aludir Hb 11,37, que Jeremias morreu
apedrejado pelos judeus que não o queriam ouvir no Egito.
Por ter sido o homem das dores, Jeremias é tido como figura do Cristo
Jesus; é o tipo do arauto da Palavra de Deus que sofre duras contradições por ser
fiel à sua missão. Pelo mesmo motivo, Jeremias dá inicio, na história do povo de
Deus, à corrente dos "pobres (anawim) de Javé"; em tal contexto, pobre é aquele
que carece de amparo humano e, por isto mesmo, mais se apóia em Deus;
conserva a fé e a confiança numa alma destituída de qualquer presunção ou
arrogância.
Br 1-5 é uma coletânea de três peças, que supõem o povo de Judá exilado
na Babilônia: após uma introdução (1,1-4), que estabelece a comunhão entre os
exilados e os habitantes de Jerusalém, a primeira parte (1,15-3.8) é uma oração
de confissão dos pecados e de esperança dos exilados, que imploram a
misericórdia divina. A segunda parte (3,9-4,4) é um poema sapiencial, que
identifica a sabedoria com a Lei de Deus e exorta Israel a voltar para a fonte da
sua felicidade, que é a observância da Torá (= Lei). A terceira parte (4, 5-5,9) é
outro poema, no qual Jerusalém personificada se dirige a seus filhos no exílio,
exortando-os à coragem e à perseverança na fé (4,5-29); depois do que o Profeta
consola Jerusalém atribulada, recordando-lhe as promessas messiânicas (4,30-
5,9).
A carta vem a ser uma exortação aos exilados para que não caiam na
idolatria do ambiente babilônico em que se acham; chama a atenção para a
inércia dos ídolos, que não têm vida e são incapazes de ajudar. Observemos os
refrões: "Por conseguinte, não os termais" (vv. 15.22.28.64.68) ou: "Como crer
ou dizer que são deuses?" (vv. 39.44.49.56) ou "Quem não vê que não são
deuses?" (vv. 51.63.68). O autor da carta valeu-se de textos de Profetas
anteriores como Is 1,29; 2,18; Mq 1,7; 5,12s; Jr 2,5.8.25-29; 5,19; 11,12s... Mais
diretamente ainda o autor se inspirou em Is 40-55, e Jr 10,3-16. Além destas
fontes, o escritor consultou sua própria experiência: 6,3-5 (as pompas da
idolatria); 6,8.10.12-14.19 (os ornamentos das estátuas); 29,42s (os abusos do
culto ).
Para aprofundamento:
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PERGUNTAS
1. Ezequiel (= Deus da força) era sacerdote (Ez 1,3), casado, que perdeu
a esposa pouco antes da queda de Jerusalém (Ez 24,16-18). Foi chamado para a
missão profética em 593 (Ez 1,2); exerceu seu ministério até 571 (Ez 29,17).
Não se sabe bem onde nem quando morreu; uma tradição judaica pouco segura
diz que foi apedrejado pelos judeus em virtude das censuras que lhes fazia. Por
conseguinte, Ezequiel acompanhou o povo de Judá na fase mais crítica da sua
história, quando Jerusalém caiu sob Nabucodonosor (587 a. C.).
as datas fornecidas nos cc. 26-33 não seguem ordem cronológica; cf. 26,1
; 29,1 ; 30,20; 31,1 ;32,1 ; 32,17; 33,21.
Lição 2: Daniel
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PERGUNTAS
O texto dos LXX coloca os profetas menores antes dos maiores. A seguir,
apresentaremos breves notas introdutórias em cada Profeta Menor, seguindo a
provável ordem cronológica, e não a ordem do Cânon; estas notas serão
entendidas se o estudioso tiver ante os olhos uma tabela cronológica da história
do Antigo Testamento, com atenção especial para a queda de Samaria (721) e a
de Jerusalém (587); o exílio na Babilônia ocorreu de 587 a 538.
1. Amós era natural de Técua (Judá); cf. 1,1. Pastor de gado e cultivador
de sicômoros (7,14), era homem simples, de linguagem franca e rude. Exerceu o
ministério profético por chamado de Deus (7,5), que o levou para o Reino da
Samaria, onde profetizou sob o rei Jeroboão II (783-743 a. C.). Este monarca foi
próspero em seus empreendimentos e dilatou as fronteiras do reino (cf. 6,14; 2Rs
14,25). O bem-estar provocou o luxo na construção das casas (3,15; 5,11; 6,8),
depravação dos costumes (2,6-8; 4,1; 6,1-6), culto idolátrico (4,4; 5,21-23; 8,14).
As calamidades passadas não tinham deixado recordação na mente do povo (4,6-
11); este esperava o dia do Senhor (dia do julgamento final) como se fosse
ocasião de mais bem-estar para Israel (5,18-20; 9,10).
4. Sofonias exerceu sua atividade sob o piedoso rei Josias (640-609) ou,
mais precisamente, antes da reforma religiosa empreendida por este monarca em
622 (cf. 2Rs 22,3-23,21), pois o Profeta censura o culto de falsos deuses (1,4s),
os ministros da corte real (1,8s; 3,3), as modas estrangeiras (1,8), os falsos
profetas (3,4), as injustiças sociais (3,1-3), males aos quais Josias procurou dar
um fim em 622.
5. Naum era natural de Elcos, cidade a nós desconhecida (cf. 1,1). Trata
unicamente da iminente queda de Nínive, capital do império assírio, que
ameaçava e subjugava as populações do Próximo Oriente e, em particular, de
Judá. Começa por um salmo que descreve a esplendorosa manifestação de Javé,
juiz dos povos (1,2-8); a seguir, propõe em duas cenas a ruína de Nínive: 1,9-
2,14, a descrição profética da queda da cidade; 3,1-19, a lamentação sobre a
cidade destruída.
* * *
PERGUNTAS
1) Leia Hab 2,4; Rm 1,17; G! 3,11; Mb 10,38 e veja em que contexto
Habacuc escreveu as palavras que o Novo Testamento cita três vezes.
2) Leia Mq 7,6 e Mt 10,35s e diga qual o contexto em que Miquéias
escreveu as palavras citadas no Evangelho.
3) Em Mt 12,39-41 Jesus cita o sinal de Jonas. Somos, por isto,
obrigados a admitira historicidade de Jn? Explique.
4) Leia Os 11,7-9 e explique o que este texto quer dizer.
5) Como entender os sinais no céu anunciados em Jl 3,3s; 4,15s?
Em síntese:
Desta maneira, o autor mostra que Deus fez o mundo bom e convidou o
homem para o consórcio da sua vida (ordem sobrenatural). Todavia o homem
disse Não. Deus houve por bem reafirmar seu desígnio de bondade, prometendo
restaurar, mediante o Messias, a amizade violada pelo pecado (Gn 3,15). Este
foi-se alastrando cada vez mais, como atestam os episódios de Caím e Abel, do
dilúvio e da torre de Babel. Então, para realizar seu intento de reconciliação do
homem com Deus, o Criador quis chamar Abraão para constituir a linhagem
portadora da fé e da esperança messiânicas. Assim chegamos a Gn 12 (a vocação
de Abraão).
a) Deus é um só. Não há, pois, astros sagrados (como os caldeus da terra
de Abraão admitiam). Nem há bosques sagrados (como os cananeus da nova
terra de Abraão professavam). Nem há animais sagrados (como os egípcios,
entre os quais viveu Israel, professava).
b) Deus é bom e, por isto, fez o mundo muito bom. Se há mal no mundo,
não vem de Deus, mas do homem (como explica o relato de Gn 3). Os autores
assim rejeitavam toda forma de dualismo ou de repúdio à matéria como se fosse
essencialmente má.
c) O mundo não é eterno, mas foi criado por Deus e começou a existir.
Afirmando isto, o texto sagrado não tenciona dirimir a questão "fixismo ou
evolucionismo?", mas apenas assevera que a matéria e o espírito têm origem por
um ato criador de Deus; qualquer teoria científica que admita isto, é aceitável
aos olhos da fé.
DEUS
3) Pode-se também dizer que o autor sagrado, utilizando o esquema
6†1=7, quer realçar a índole boa da obra de Deus. Sete é, sim, um símbolo de
perfeição conforme os antigos; essa índole é enfatizada pelo fato de se pôr em
evidência a sétima unidade (há seis dias de trabalho, homogêneos entre si, e um
último, o sétimo, de índole diferente). Estes ensinamentos, como se vê, não
pretendem dirimir questões de ciências naturais. Podem parecer pobres aos olhos
de quem procura na Bíblia uma resposta para indagações de astronomia,
cosmologia, geologia, botânica, zoologia... Todavia, são de enorme valor, pois
nenhum povo anterior a Cristo, fora Israel, chegou a tão sublime conceito de
Deus e de origem do mundo. O Deus da Bíblia é o Senhor único que, com sua
onipotência, domina a natureza; por conseguinte, tudo produz a partir do nada ou
por sua vontade criadora. Aliás, o verbo bará (= fez), ocorrente em Gn 1,1, é
sempre usado na Bíblia para indicar a ação prodigiosa e singular de Deus; cf. Is
48,7; 45,18; Jr 31,22; SI 50(51), 12; 103(104), 30...
***
PERGUNTAS
1. Origem do homem. Será que o texto de Gn 2,7 quer dizer algo sobre
o modo como apareceu o homem na face da terra?
3. Resta, então, indagar: que diz o texto sagrado sobre a maneira como
apareceu o ser humano?
* * *
PERGUNTAS
Não é necessário admitir que a mulher tenha visto uma serpente diante de
si, mas pode-se dizer que o diálogo entre o tentador e a mulher foi meramente
interno, como acontece geralmente nas tentações do pecado.
Vejamos agora
Há, porém, quem julgue que o ato de gerar é pecaminoso se por ele se
transmite o pecado dos primeiros pais. - Respondemos que o ato biológico de
gerar foi instituído pelo próprio Criador; em si ele nada tem de pecaminoso;
transmite a natureza como se acha nos genitores; tal ato não é a causa do pecado
original ou do estado desregrado em que nascem as crianças, nem pode exercer
influxo sobre tal estado. O ato biológico de gerar poderia transmitir também a
graça santificante se os primeiros pais a tivessem conservado. - O que a geração
não dá, isto é, a graça santificante, a regeneração ou o Batismo o deve dar. Por
isto, é que não se deve protrair o Batismo das crianças. O segundo Adão, Jesus
Cristo, readquiriu a filiação divina para o gênero humano e a comunica mediante
o Batismo.
* * *
PERGUNTAS
Neste caso não se pode dizer que Caim e Abel foram filhos diretos dos
primeiros pais. Nem era a intenção do autor sagrado dizê-lo. Nos onze primeiros
capítulos do Gênesis, a Bíblia propõe fatos históricos, sim, dispostos, porém, de
maneira a nos fazer compreender o porquê da vocação de Abraão; ela quer
mostrar que o primeiro Não dito a Deus desencadeou uma série de outras
negações, das quais a primeira é o Não dito ao homem. Segundo tal
interpretação, o fratricídio cometido por Caim contra seu irmão Abel é fato
histórico, mas um fato que não ocorreu apenas uma vez no século XIII a.C.;
ocorre em todas as épocas, a partir da primeira fase da história da humanidade;
até hoje há muitos Caíns que matam seus irmãos, como houve também um no
início da história sagrada.
1) os números são muito freqüentes: o autor diz com que idade cada
Patriarca gerou o primeiro filho; quantos anos viveu depois disto, e com que
idade morreu;
O autor sagrado quis propor a linhagem dos bons; estes têm números,
isto é, gozam de ordem e harmonia e estão inscritos no "livro da vida". Diz o
livro da Sabedoria que "o Senhor tudo dispõe conforme número, peso e medida"
(Sb 11,20). Não se atribui aos setitas nenhuma obra civilizatória, pois tais obras
estavam associadas, na mente do autor, aos impérios pagãos da vizinhança de
Israel.
Aloro reinou 36.000 anos; Alaparo 10.800 anos; Almelon 46.800 anos;
Amenon 43.200 anos; Amegalaro 64.800 anos; Amenfsino 36.000 anos; Otiartes
28.800 anos; Daono 36.000 anos; Edoranco 64.800 anos; Xisutro 64.800 anos.
Henoque viveu 365 anos e, sem passar pela morte, foi arrebatado por
Deus (Gn 5,21-24). A sua vida é a mais breve da lista setita; não obstante, o
número que a acompanha, diz que atingiu a consumação devida; de fato, 365 é o
número característico do ano solar; por isto, Henoque é apresentado como um
sol que consumou sua trajetória sobre a terra, difundindo luz e calor. Por isto
também é o sétimo patriarca da lista setíta (cf. Jd 14). Assim Henoque constitui o
ponto culminante da tabela de Gn 5: em torno dele, o autor sagrado coloca os
dois símbolos máximos de longevidade: seu pai Jared viveu 962, e seu filho
Matusalém 969 anos; assim, diríamos, a bênção dada a Henoque se estendeu aos
que lhe estão em comunhão. Ótimo comentário da figura de Henoque é a
descrição do justo apresentada por Sb 4,7-15. - À luz do que acaba de ser dito,
vê-se que não há motivo para afirmar que Henoque não morreu. Lameque
representa, depois de Henoque, a vida menos longa da linhagem setita: 777 anos.
Mas também esta vida é tida como perfeita ou consumada, vista a insistência no
número 7. Além do que, Lameque, ao gerar Noé (5,28s), professa esperar deste
filho alívio ou repouso, uma espécie de sábado (sétimo dial).
Abraão viveu 175 anos, divididos em três períodos: chamado por Deus,
deixou a terra de Harã aos 75 anos de idade (cf. Gn 12,4); gerou aos 100 anos
(cf. 21,5) e morreu aos 175 anos (cf. 25,7). Ora esta distribuição em três
períodos mais ou menos simétricos evidencia o artifício dos números. . . .
José do Egito viveu 110 anos (cf. Gn 50,26). Moisés chegou a 120 (3 x
40) anos de idade (cf. Dt 34,7). Um salmo atribuído a Moisés reza: "Setenta anos
é o tempo da nossa vida; só os mais vigorosos chegam aos oitenta" (SI 89[90],
10). O salmista já não utilizava linguagem simbolista, mas descrevia a realidade
da duração humana em termos que até hoje correspondem à nossa experiência.
Poderíamos dizer que, apresentando o decréscimo da longevidade através dos
tempos, o autor sagrado queria significar que os homens se iam afastando, cada
vez mais, da fonte da bênção largamente concedida às primeiras gerações.
***
PERGUNTAS
1) por duas vezes é indicada a corrupção moral dos homens como causa
da catástrofe: Gn 6,5-7 e 11-13;
3) por duas vezes, e quase com as mesmas palavras, está dito que Noé
executou tudo o que o Senhor lhe ordenara: 6,22 e 7,5;
Eis a resposta:
De quanto foi dito, percebe-se que o dilúvio bíblico não pode ser
confundido com os dilúvios ou os degelos que a geologia aponta em épocas pré-
históricas; estas foram catástrofes universais, ao passo que o dilúvio bíblico não
foi universal, nem do ponto de vista geográfico (não recobriu a terra inteira),
nem do ponto de vista antropológico (não extinguiu a espécie humana toda).
Com efeito. Para recobrir a terra toda, as águas deveriam atingir o pico
mais alto, o Everest, com 8.839 m de altitude. Ora uma camada de quase 9.000
m em torno de toda a terra implicaria um volume de águas de 4.600.000.000 m3,
volume que toda a massa de águas hoje conhecida não chegaria a produzir. E,
mesmo que o produzisse, o frio provocado seria tal que mataria todos os seres
vivos, inclusive dentro da arca. - A universalidade antropológica também é
excluída, visto que a narrativa bíblica supõe o grau de civilização do período
neolítico, em que os homens já estavam espalhados por várias partes da terra. O
próprio livro do Gênesis, aliás, a partir de 4,1, só narra os feitos dos setitas e
caínitas; embora refira que Adão gerou filhos e filhas (5,4), o autor sagrado não
descreve a descendência e a história desses outros seres humanos; é, pois, no
quadro da história dos caínitas e setitas que o autor coloca o dilúvio, sem
tencionar envolver os demais homens na catástrofe. - Por conseguinte, quando o
texto bíblico fala de "terra inteira" e de "todos os homens" em Gn 6-9, não tem
em vista o sentido geográfico e antropológico destas expressões, mas o sentido
religioso: dado que queria escrever não simplesmente história, mas história
religiosa, o gênero humano, para o autor sagrado, se reduzia aos indivíduos
portadores dos valores religiosos da humanidade. De resto, os semitas usavam
freqüentemente as locuções "todos os homens" e "a terra inteira" em sentido
hiperbólico; cf. Gn 41,54.57; Dt 2,25; 1Rs 10,23; 2Cr 20,29; At 2,5.
Após quanto foi dito até aqui, compreende-se que o episódio do dilúvio
nos transmite uma mensagem de ordem catequética, cujos termos são os
seguintes:
* * *
PERGUNTAS
1) Por que é tão longo o relato do dilúvio bíblico? Será uma narração
simples?
2) O dilúvio bíblico foi fato histórico ou não? Explique.
3) O dilúvio bíblico foi universal?
4) Quais os ensinamentos religiosos de Gn 6-9?
Este episódio não tenciona explicar a origem das línguas, mas é portador
de profunda doutrina teológica.
Examinemos, primeiramente, o que diz o texto sagrado. Ler Gn 11,1-9...
"A terra inteira" em Gn 11,1, por certo, não designa todo o globo, mas
apenas a porção de terra que interessava à história da salvação.
Mais: tais homens queriam também criar para si um nome famoso, que
os mantivesse unidos. Isto significa, em outros termos, que queriam formar um
poderoso centro político e cultural, todo impregnado do culto de um ídolo;
queriam constituir, longe do verdadeiro Deus, um reduto político e religioso que
tivesse domínio universal; o símbolo desse poderio seria a torre muito alta ou o
templo pagão.
Por fim, o autor nota que à cidade inacabada se deu o nome de Babel ou
Babilônia, "pois foi lá que o Senhor confundiu a linguagem da terra inteira" (v.
9). Não é necessário que, na base dessa indicação, identifiquemos a cidade de Gn
11 com a famosa capital da Babilônia. O autor sagrado muito provavelmente
quis atribuir à cidade de Gn 11, que era símbolo do orgulho, o nome de
Babilônia, pois esta, na história sagrada, se tornou o tipo do poderio deste mundo
que se faz grande e insolente contra Deus (cf. Jr 51,20-58; Ap 18,21-19,5).
Caro cursista, aqui termina seu Curso Bíblico. Frutifique em sua vida
como a semente lançada em terra boa e generosa! Que Ele continue a lhe falar!
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