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Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

IV – INTRODUÇÃO À TEORIA DOS ERROS

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A Topografia é uma ciência experimental, não exata. As medições conduzidas pelo ser humano, se
caracterizam pela inevitável presença de erros. Há também os erros devido às imperfeições dos
equipamentos – fabricados pelo homem com peças que se desgastam – e aqueles devido às influências
das condições ambientais, uma vez que a natureza não é, felizmente, exata. Conseqüentemente há
necessidade de se abdicar da pretensão de se obter valores verdadeiros, ou exatos, para as grandezas
observadas, e buscar valores mais prováveis para tais grandezas bem como estimar a precisão destes
valores. Assim, a descrição georreferenciada (ou toporreferenciada) de um lugar deve ser feita com um
nível de confiabilidade estatisticamente comprovado.
Nas engenharias de Agrimensura e Cartográfica o que garante a qualidade de um trabalho não são
os anos de experiência nem as aparências, mas os bons resultados de corretas avaliações estatísticas.
Este capítulo faz uma breve introdução à teoria dos erros, classificando-os [1], apresentando
algumas definições estatísticas [2] e tratando da chamada “lei de propagação” dos erros, ou das variâncias
[3]. Um estudo mais aprofundado do assunto pode ser feito em textos específicos sobre ajustamento de
observações.
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1- CLASSIFICAÇÃO DOS ERROS:

Os erros, também conhecidos como propriedades estatísticas das observações, podem ser
classificados em:

a) Erros grosseiros (Enganos):

Causas: desatenção e imperícia do observador, equipamento desregulado, variação brusca do


meio.
Características: Observações com erros grosseiros devem ser eliminadas.
Detecção: às vezes pode ser feita com três observações; porém muitas vezes as observações com
erros grosseiros só podem ser detectadas através de testes estatísticos.

b) Erros sistemáticos (Efeitos sistemáticos):

Causas: Imperfeições do observador, dos equipamentos, dos métodos e do meio. As causas de


erros sistemáticos devem ser conhecidas num processo de medição.
Características: Ocorrem sempre no mesmo sentido, acrescentando ou subtraindo a grandeza
procurada. Devem ser corrigidos aplicando técnicas especiais de observação ou
através de modelos matemáticos.
Detecção: Através de análises estatísticas.

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Rodrigues, D. D. - 2008 Introdução à teoria dos erros

c) Erros acidentais (Efeitos acidentais):

Causas: Inexatidão do observador, dos equipamentos e do meio.


Características:
• São conhecidas como “flutuações probabilísticas das observações”
• São aleatórios, ocorrem ora num, ora noutro sentido de forma que, quando
o número de observações tende ao infinito, o somatório dos resíduos (ou
desvios), veja item dois deste capítulo, tende a zero.
È em razão deste tipo de erro, que os Engenheiros Agrimensores e Cartógrafos se abdicam de
valores exatos para as grandezas espaciais observadas e buscam, com o apoio da estatística, valores mais
prováveis para tais grandezas bem como suas precisões com um determinado nível de confiança.

2- ALGUMAS DEFINIÇÕES

A falta de confiança no resultado de uma medida isolada leva naturalmente à repetição das
observações. A repetição do processo de medição conduzirá a valores diversos para as medidas e daí a um
novo problema: que valor usar para representar a grandeza medida? o comportamento inconstante das
observações define o caráter estatístico dos resultados, podendo ser considerado como sua principal
propriedade.
Nem sempre é exeqüível repetir as medições para empregar o método probabilístico na análise das
propriedades estatísticas do processo. Uma forma de contornar essa dificuldade é determinar as
propriedades estatísticas dos instrumentos em meios e condições semelhantes àquelas em que serão
empregados, ou seja, é calibrar o instrumento – método determinístico, no qual se admite que sob as
mesmas condições obtêm-se sempre os mesmos resultados. Recomenda-se que todo instrumento de
medição tenha seu certificado de calibração atualizado e devidamente assinado pelo profissional
responsável. Infelizmente, essa é uma prática pouco comum no Brasil. As informações dos fabricantes de
instrumentos de medição são nominais; nem sempre efetivas, uma vez que foram transportados e
calibrados em meios e condições diferentes daquelas em que serão utilizados.
A seguir serão apresentadas definições e equações que podem ser mais bem estudadas em textos
específicos sobre Estatística ou Ajustamento de observações.
• Experiência: método científico que consiste em observar um fenômeno natural sob condições
determinadas que permitam aumentar o conhecimento que se tenha das manifestações ou leis
que regem esse fenômeno, (FERREIRA, 1986).
• Experimento: ensaio técnico-científico com o objetivo de verificar um fenômeno natural.
• Evento estatístico ou observação: ocorrência, num fenômeno aleatório, de um membro de um
determinado conjunto que se define a priori; acontecimento. Em outras palavras, é o resultado
de um experimento. Por exemplo, o valor da medida de um ângulo é o resultado de
experimento estatístico.
• Variável aleatória: é o nome para o resultado de um evento. (Leick, 1995).

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• População (Universo): diz respeito ao conjunto de todos os elementos onde, cada um deles,
apresenta uma ou mais características em comum. È a totalidade de todos os eventos. Inclui
todos os possíveis valores que uma variável aleatória pode ter.
• Amostra: quando se extrai um conjunto de n observações da população, ou seja, toma-se parte
desta, para a realização do estudo, tem-se a amostra. Por exemplo, se uma mesma distância
foi medida dez vezes, estas dez medidas formam uma amostra de todas as possíveis medidas.
Às vezes uma amostra consiste de uma única observação. Na prática, a partir de uma amostra,
podem-se fazer inferências para a população. Neste texto serão utilizados os mesmos
símbolos para informações de amostras e de população.
• Média aritmética ( X ): valor mais provável (ou valor estimado) para a grandeza procurada e
medida n vezes. È o valor que, atribuído como mais provável, fornecerá um mínimo para o
somatório do quadrado dos resíduos. A média de uma variável aleatória é dada por:

X = E {X} , (4.1)

onde o operador E{ } denota a esperança estatística, e a média de um conjunto de n

observações é dada por:


n

∑X i

X=
i =1 (4.2)
n

• Resíduo (V): também conhecido como desvio. É a diferença entre a média ( X ) e o valor
observado ou medido. O valor numérico de um resíduo é, portanto:

Vi = X − Xi (4.3)

Quanto mais a observação se afasta da média, maior é o resíduo. Uma observação com
grande resíduo pode ser classificada como observação com erro grosseiro e assim, eliminada
da amostra.

• Variância de uma observação isolada ( σ2X ): é uma medida da dispersão das observações em
torno da média. A variância de uma “população de variáveis aleatórias” é dada por:

σ2Xi = E {(X − µ ) }
i X
2
(4.4)

ou
SQV (4.5)
σ 2X =
n −1

onde SQV é a ‘soma dos quadrados dos resíduos’, ou seja:

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Rodrigues, D. D. - 2008 Introdução à teoria dos erros

n n
SQV = ∑
i =1
Vi
2
= ∑ (X − X )
i =1
i
2
(4.6)

• Covariância ( σXY ) : exprime a correlação estatística entre duas amostras. A covariância de


uma “população de variáveis aleatórias” é dada por:

σ XY = E{ (X − µ X )(Y − µ Y ) } (4.7)

ou
n

∑ ( X − X )( Y − Y )
i=1
i i
σ xy = (4.8)
n −1

Se σXY = 0 pode-se dizer que X e Y são “estatisticamente, não correlacionadas”.

• Desvio Padrão de uma observação isolada (σ X ) : é a raiz quadrada positiva da variância, ou

seja:

SQV
σX = + σ2X = + (4.9)
n −1

É também uma medida da dispersão das observações em torno da média. O desvio padrão
apresenta, em relação à variância, a vantagem de ter a mesma unidade das observações
consideradas. É também conhecido como erro padrão (“standard error”) de qualquer observação,
ainda que a palavra “erro” não tenha um significado estritamente estatístico. É uma medida da
precisão ou incerteza do processo de medição. Quanto maior o desvio padrão, menor a precisão ou
maior a incerteza.

• Desvio padrão da média ou erro padrão da média (σ X ) : se uma população de elementos X tem

variância σ X , a média da população X , calculada empregando a equação (4.2), terá o


2

seguinte desvio padrão:

σX SQV (4.10)
σX = = +
n n(n − 1)

Que é uma medida da incerteza da média, ou seja, uma medida da precisão do valor mais
provável para a grandeza procurada.

• Coeficiente de correlação linear (ρ XY ) : mede o grau de dependência linear de duas variáveis


aleatórias. È determinado por:

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σ XY
ρ XY = (4.11)
σX ⋅ σY

• Coeficiente de Variação (CV): é também uma medida da precisão das observações. É


adimensional e equivale ao erro relativo. È expresso em porcentagem e dado pela seguinte
equação:

σX
CV = ⋅ 100 (4.12)
X

• Erro verdadeiro (ε): è a diferença entre o valor observado e o valor exato da grandeza
observada ( µX ), ou seja:

ε i = Xi − µ X (4.13)

O valor exato de uma grandeza pode ser obtido em casos como erros de fechamento
angular e linear de um polígono. Na maioria das vezes não se conhece o valor verdadeiro de
uma variável aleatória espacial.

• Erro aparente (e): è a diferença entre o valor observado e o valor mais provável para a
grandeza observada ( X ), ou seja:

ei = Xi − X (4.14)

Corresponde ao resíduo com sinal trocado.

• Erro médio quadrático ou “root mean square” (rms): outra medida da precisão de um processo
de medição. É definido como:

SQV
rm s = ± σ X = (4.15)
n −1

Apresenta como vantagem em relação ao desvio padrão o fato de assumir sinais positivo e
negativo, mostrando que o “erro” pode ocorrer para mais ou para menos.

• Erro relativo (er): pode ser dado pela razão entre o erro padrão e o valor mais provável para
grandeza observada.
σX
er = (4.16)
X

É uma forma de representar o erro. Pode ser expresso em porcentagem (%), partes por
milhão (ppm) ou no formato de escala com numerador igual à unidade. Se o valor encontrado

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pela (4.16) é multiplicado por 100 tem-se er em porcentagem e se multiplicado por 106 em
ppm. Na notação de escala tem-se:

1 (4.17)
er =
X
σX

• Precisão: diz respeito ao grau de aderência das observações umas às outras.


• Exatidão: diz respeito ao grau de aderência do valor mais provável em relação ao valor
verdadeiro. A Figura 4.1, tiro ao alvo, é uma forma clássica de mostrar a diferença entre
precisão e exatidão. Na 4.1-a tem-se alta precisão e baixa exatidão, provavelmente devido a
erros sistemáticos; na 4.1-b alta precisão e alta exatidão e na 4.1-c baixa precisão e alta
exatidão. Quando se trata de dados e informações espaciais, o valor verdadeiro raramente é
conhecido e não há como falar em exatidão e sim em acurácia.
• Acurácia: “propriedade de uma medida de uma grandeza física que foi obtida por instrumentos
e processos isentos de erros sistemáticos”, (FERREIRA, 1986). Diz respeito, portanto, ao grau
de aderência de um valor mais provável a outro valor mais provável sabidamente isento de
erros sistemáticos.

••
•••••• •
•••••• • ••
•• •
• • •

a b c

Figura 4.1: Diferença entre ‘precisão’ e ‘exatidão’.

3- PROPAGAÇÃO DAS VARIÂNCIAS

Se as medidas ou observações topográficas (direções, ângulos, leituras estadimétricas, distâncias,


fases da portadora, etc) são variáveis aleatórias sujeitas às leis da estatística, as quantidades derivadas
delas (coordenadas, distâncias, áreas, volumes, etc), também o são. Em outras palavras, as variâncias dos
elementos observados se propagam às grandezas derivadas e tal propagação se faz através do modelo
funcional que relaciona as observações com os parâmetros procurados.
A fórmula que expressa a relação entre as variâncias das observações e as dos parâmetros é
denominada ‘fórmula de propagação das variâncias’ ou ‘lei de propagação dos erros’.
Se o parâmetro X1 é uma função explicita das observáveis l1, l2 e l3, ou seja, se

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X1 = f (l1, l2 , l3 ) (4.18)

a variância de X1, σ 2X1 , é dada por:

2 2 2
⎛ ∂X ⎞ ⎛ ∂X ⎞ ⎛ ∂X ⎞ ⎛ ∂X ⎞ ⎛ ∂X ⎞
σ 2
X1 = ⎜⎜ 1 ⎟⎟ ⋅ σl21 + ⎜⎜ 1 ⎟⎟ ⋅ σl22 + ⎜⎜ 1 ⎟⎟ ⋅ σl23 + 2 ⋅ ⎜⎜ 1 ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ 1 ⎟⎟ ⋅ σl1l2 +
⎝ ∂l1 ⎠ ⎝ ∂l2 ⎠ ⎝ ∂l3 ⎠ ⎝ ∂l1 ⎠ ⎝ ∂l2 ⎠
⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂X 1 ⎞
2 ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ l1 l3 + 2 ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ l2 l3
⎝ ∂ l1 ⎠ ⎝ ∂ l3 ⎠ ⎝ ∂ l2 ⎠ ⎝ ∂ l3 ⎠

(4.19)

e se um outro parâmetro X2 é também função de l1, l2 e l3, ou se

X 2 = f (l1, l2 , l3 ) , (4.20)
então

2 2 2
⎛ ∂X ⎞ ⎛ ∂X ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞ ⎛ ∂X ⎞ ⎛ ∂X ⎞
σ 2X2 = ⎜⎜ 2 ⎟⎟ ⋅ σl21 + ⎜⎜ 2 ⎟⎟ ⋅ σl22 + ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σl23 + 2 ⋅ ⎜⎜ 2 ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ 2 ⎟⎟ ⋅ σl1l2 +
∂l
⎝ 1 ⎠ ⎝ ∂l2 ⎠ ∂l
⎝ 3 ⎠ ⎝ ∂l1 ⎠ ⎝ ∂l2 ⎠
⎛ ∂X 2 ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞
2 ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ l1 l3 + 2 ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ l2 l 3
⎝ ∂ l1 ⎠ ⎝ ∂ l3 ⎠ ⎝ ∂ l2 ⎠ ⎝ ∂ l3 ⎠

(4.21)

e a covariância dos parâmetros derivados, X1 e X2, é dada por:

⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞ ⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞ ⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞
σ X1 X 2 = ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ l21 + ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ l22 + ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ l23 +
⎝ ∂ l1 ⎠ ⎝ ∂ l1 ⎠ ⎝ ∂ l2 ⎠ ⎝ ∂ l2 ⎠ ⎝ ∂ l3 ⎠ ⎝ ∂ l3 ⎠

⎡⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞ ⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞⎤ ⎡⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞ ⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂X 2 ⎞⎤
⎢ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ + ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⎥ ⋅ σ l1 l2 + ⎢ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ + ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⎥ ⋅ σ l1 l3 +
⎢⎣ ⎝ ∂ l1 ⎠ ⎝ ∂ l2 ⎠ ⎝ ∂ l2 ⎠ ⎝ ∂ l1 ⎠ ⎥⎦ ⎢⎣ ⎝ ∂ l1 ⎠ ⎝ ∂ l3 ⎠ ⎝ ∂ l3 ⎠ ⎝ ∂ l1 ⎠ ⎥⎦

⎡⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂Y ⎞ ⎛ ∂X 1 ⎞ ⎛ ∂Y ⎞⎤
⎢ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ + ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⎥ ⋅ σ l2 l 3
⎣⎢ ⎝ ∂ l 2 ⎠ ⎝ 3 ⎠∂ l ⎝ ∂ l3 ⎠ ⎝ ∂ l 2 ⎠ ⎦⎥
(4.22)

Se X é uma função explicita dos n elementos l1 , l 2 , L, l n não correlacionados, dada por:

X = f (l1, l 2 , Lln ) (4.23)

e as observações de l1, l2, ..., ln são independentes, não correlacionadas, σ li lj = 0 , os termos que

multiplicam as covariâncias desaparecem e a variância de X, σ X , é dada por:


2

2 2 2 2
⎛ ∂X ⎞ ⎛ ∂X ⎞ ⎛ ∂X ⎞ ⎛ ∂X ⎞
σ 2
X1 = ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ l21 + ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ l22 + ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ l23 + L + ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ ln2 (4.24)
⎝ ∂ l1 ⎠ ⎝ ∂ l2 ⎠ ⎝ ∂ l3 ⎠ ⎝ ∂ ln ⎠

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Aumentando o número de observáveis e parâmetros, faz-se necessário o uso da notação matricial,


para evitar equações cada vez mais enfadonhas. Se X é um vetor com m variáveis aleatórias derivadas de
outras n variáveis aleatórias contidas no vetor L, ou seja, se
X 1 = f1 ( l 1 , l 2 , l 3 , L l n )
X 2 = f 2 ( l1 , l 2 , l 3 , L l n )
X 3 = f 3 ( l1 , l 2 , l 3 , L l n ) (4.25)

M
X m = f m ( l1 , l 2 , l 3 , L l n ) ,

a equação matricial que representa a lei de propagação das variâncias é:

C X = J X L ⋅ C L ⋅ J TX L (4.26)

onde
Cx é a Matriz das Variâncias e Covariâncias (MVC) - ou simplesmente Matriz das Covariâncias (uma
vez que variância é um caso particular de covariância) –, dos parâmetros X 1 , X 2 , X 3 , L X m , que tem
a seguinte forma:

⎡ σ 2X1 σ X1 X 2 σ X1 X3 σ X1 Xm ⎤
⎢ ⎥
⎢σ X X σ 2X 2 σ X2 X3 L σ X 2 Xm ⎥
⎢ 2 1 ⎥
CX = ⎢ σ X3 X1 σ X2 σ 2X3 σ X 3 Xm ⎥ ; (4.27)
⎢ X3

⎢ M O ⎥
⎢ ⎥
⎢σ σ Xm σ Xm σ 2Xm ⎥⎦
⎣ Xm X1 X2 X3

CL é a matriz das covariâncias das observações l1 , l 2 , l 3 , L l n organizada da seguinte forma:

⎡ σ l21 σ l1 l2 σ l1 l3 σ l1 ln ⎤
⎢ ⎥
⎢σ l l σ l22 σ l 2 l3 L σ l2 ln ⎥
⎢ 21 ⎥
C l = ⎢σ l3 l1 σ l 2 l3 σ l23 σ l3 ln ⎥ (4.28)
⎢ ⎥
⎢ M O M ⎥
⎢ ⎥
⎢σ σ ln l 2 σ ln l3 2 ⎥
σ ln ⎦
⎣ ln l1
e
JXL é denominada Matriz Jacobiana. É a matriz das derivadas parciais dos parâmetros (Xi) em relação
às observações (Lj) – com o seguinte formato:

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⎡ ∂X 1 ∂X 1 ∂X 1 ∂X 1 ⎤
⎢ ∂ l1 ∂ l2 ∂ l3 ∂ l n ⎥⎥

⎢ ⎥
⎢ ∂X 2 ∂X 2 ∂X 2 ∂X 2 ⎥
⎢ L
∂ l1 ∂ l2 ∂ l3 ∂ ln ⎥
⎢ ⎥
⎢ ⎥
∂X ∂ F(L ) ∂X 3 ∂X 3 ∂X 3 ∂X 3 ⎥ , (4.29)
JX L = = = ⎢
∂L ∂L ⎢ ∂ l1 ∂ l2 ∂ l3 ∂ ln ⎥
⎢ ⎥
⎢ ⎥
⎢ M O M ⎥
⎢ ⎥
⎢ ⎥
⎢ ∂X n ∂X n ∂X n ∂X n ⎥
⎢ ⎥
⎢⎣ ∂ l1 ∂ l2 ∂ l3 ∂ l n ⎥⎦

Observa-se que as matrizes de covariâncias são quadradas e simétricas, uma vez que σ12 = σ 2 1 ,

conforme mostra a equação (4.8). Sendo simétricas, é possível anotar nas MVCs somente os elementos da
diagonal e os acima dela.
Segundo Cooper, 1987, é prática comum considerar as observações independentes, não
correlacionadas, de forma que todos os pares de covariâncias sejam nulos e todas as medidas não
correlacionadas, não somente por conveniência prática, mas por que a experiência justifica isso. De
qualquer forma é muito difícil determinar a covariância entre pares de observações realizadas empregando
procedimentos normais de campo. No entanto, se os elementos do vetor L são derivados de outras
variáveis, poderá haver correlação entre eles.
Para se propagar as variâncias e assim verificar o efeito de um erro de uma observação em um
parâmetro, há necessidade de determinar o valor numérico da derivada parcial da função em relação á
variável.

4- ALGUMAS DERIVADAS

A seguir são relacionadas algumas funções, e suas derivadas, comumente usadas em Agrimensura
e Cartografia.

• Se f ( x ) = x n , .............a derivada é ............... f ′( x ) = n ⋅ x n−1

• Se h( x ) = f ( x ) + g( x ) ,.................................... h ′( x ) = f ′( x ) + g′( x )

• Se h( x ) = f ( x ) ⋅ g( x ) ,........................................ h ′( x ) = f ′( x ) ⋅ g( x ) + f ( x ) ⋅ g′( x )

f (x ) f ′(x ) ⋅ g(x ) − f (x ) ⋅ g′(x )


• Se h( x ) = , .......... .......... .......... .......... ...... h' ( x ) =
g(x ) g 2 (x )

• Se f (x ) = 1 , ................................................... f ' (x ) = − g ' (x )


g(x ) g2 (x )

1
• Se f ( x ) = arctg x , ........................................... f ′( x ) =
1 + x2

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Rodrigues, D. D. - 2008 Introdução à teoria dos erros

−1
• Se f ( x ) = arccos x , ......................................... f ′( x ) =
1 − x2

1
• Se f ( x ) = arcsen x , ......................................... f ′( x ) = ,
1 − x2

5- EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

i) Sabendo-se que a leitura estadimétrica, m, é resultado da diferença entre as leituras na mira com
os fios superior e inferior, FS, e FI; calcular a variância de uma leitura estadimétrica qualquer,
sabendo que σ FS = σ FI = 3 mm . OBS: A precisão com que se lê FS, FM e FI, em uma mira

vertical, depende da distância. Quanto maior a distância menor a precisão, ou seja, maior o desvio
padrão.

A função que relaciona, explicitamente, as leituras com os fios (observações) e a leitura estadimétrica
(incógnita ou parâmetro) é:
m = FS − FI .

Se FS e FI são variáveis aleatórias, m também o é. Aplicando a lei de propagação das variâncias


tem-se:
2 2
⎛ ∂m ⎞ ⎛ ∂m ⎞ ⎛ ∂m ⎞ ⎛ ∂m ⎞
σ m2 = ⎜ ⎟ ⋅ σ FS + ⎜
2
⎟ ⋅ σ FI + 2 ⋅ ⎜
2
⎟⋅⎜ ⎟ ⋅ σ FS FI
⎝ ∂FS ⎠ ⎝ ∂FI ⎠ ⎝ ∂FS ⎠ ⎝ ∂FI ⎠
Portanto

σ m2 = (1) ⋅ σ FS (− 1) ⋅ σ 2FI + 2 ⋅ (1) ⋅ (− 1) ⋅ σ FS FI


2 2
2
+

Como σ FS = σ FI e admitindo que σ FS FI = 0 , ou seja, admitindo que não haja correlação entre as

observações com o fio superior e inferior, tem-se:

σ m2 = 2 ⋅ σ F2
portanto,

σm = 2 ⋅ σF .

Como o desvio padrão das leituras é igual a 3 mm,

σm = 2 ⋅ 3 mm = 4 mm

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Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

ii) Se m = 0,513 m, g = 100 e î = 30 o , calcular a variância da distância horizontal determinada com

estas observações, sabendo que o desvio padrão de î é de 5’ (300”) e de m, 4 mm


( σ m = 4 mm .)

A função que relaciona as observações com a distância a ser determinada é:

D = m ⋅ g ⋅ cos 2 î ,

sendo g uma constante. Aplicando a lei de propagação das variâncias tem-se:

2 2
⎛ ∂D ⎞ ⎛ ∂D ⎞ ⎛ ∂D ⎞ ⎛ ∂D ⎞
σ 2
D =⎜ ⎟ ⋅ σ m + ⎜⎜
2
⎟ ⋅ σ 2î + 2 ⋅ ⎜
⎟ ⎟ ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ σ m î
⎝ ∂m ⎠ ⎝ ∂ î ⎠ ⎝ ∂m ⎠ ⎝ ∂ î ⎠
Portanto

(
σ D2 = g ⋅ cos 2 î )
2
⋅ σ m2 + (− 2 ⋅ m ⋅ g ⋅ cos î ⋅ sen î )2
( )( )
⋅ σ 2 + 2 ⋅ g ⋅ cos 2 î ⋅ − 2 ⋅ m ⋅ g ⋅ cos î ⋅ sen î ⋅ σ m Î

Admitindo que não haja correlação entre a leitura estadimétrica e o ângulo de inclinação, ou seja, admitindo
que σ m Î = 0 , tem-se:

(
σ m2 = g ⋅ cos 2 î )2
⋅ σ m2 + (− 2 ⋅ m ⋅ g ⋅ cos î ⋅ sen î ) 2
⋅ σ2

Substituindo os valores de m, g e î, tem-se que:

σ m2 = 5625 ⋅ σ m2 + 1973,768 (m 2 ) ⋅ σ 2

Para adequar as unidades na equação acima, é necessário transformar a unidade da variância de î para
radiano ao quadrado, assim:

σ 2î = (300 ′′) 2 = (300 ⋅ sen 1′′ rad) 2 = 2,1154 x 10 -6 rad 2

e
σ D2 = 5625 ⋅ 16 (mm 2 ) + 1973,768 × 10 6 (mm 2 ) ⋅ 2,1154 × 10 −6

portanto,
σ D2 = 90 000 (mm 2 ) + 4175,308 (mm 2 )

De onde se observa que o efeito de um desvio de 5’ no ângulo vertical – segundo termo da equação - é
menor que o efeito de um desvio de 3 mm na leitura com os fios estadimétricos. O efeito conjunto desses
desvios na distância D, de 38,475 m, será:
σ D = 30,7cm ,

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Rodrigues, D. D. - 2008 Introdução à teoria dos erros

levando, portanto, um erro relativo de 1/125.

iii) Sabendo que, de acordo com a Figura 4.2, as coordenadas do ponto B podem ser calculadas
empregando as equações mostradas na Figura, que as coordenadas do ponto A têm as seguintes

precisões: σ XA e σ YA e a seguinte covariância σ X A YA , que a distância e o azimute medidos têm

precisões iguais a σD e σ AZ e que não há correlação entre a distância e o azimute, ou seja, que

σ D AZ = 0 , calcular as variâncias de XB e YB e a covariância entre XB e YB.

Y
B X B = X A + D AB ⋅ sen AZ AB

YB = YA + D AB ⋅ cos AZ AB
AZAB DAB

YA
A

XA X

Figura 4.2: Coordenadas cartesianas (X e Y) a partir de coordenadas polares (AZ e D)

As funções que relacionam as variáveis aleatórias XA, YA, DAB e AZAB, componentes de um vetor L,
com as variáveis XB e YB, componentes de um vetor X, são:

X B = X A + D AB ⋅ sen AZ AB

YB = YA + D AB ⋅ cos AZ AB

Empregando a notação matricial tem-se que:

C X = J X L ⋅ C L ⋅ J TX L

onde
⎡σ 2X A σ X A YA 0 0 ⎤
⎢ ⎥
⎢ σ 2YA 0 0 ⎥
CL = ⎢ ⎥.
⎢ σ D2 AB 0 ⎥
⎢ ⎥
⎢⎣ σ 2AZ AB ⎥⎦

Os valores nulos na matriz relevam que não há correlação entre as coordenadas e as observações e entre
as observações. As derivadas parciais são dispostas na matriz JXL da seguinte forma:

62
Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

⎡ ∂X B ∂X B ∂X B ∂X B ⎤
⎢ ∂X A ∂YA ∂D AB ∂AZ AB ⎥⎥
∂ F( L ) ⎢
JX L = = ⎢ ⎥
∂L ∂YB ∂YB ∂YB ∂YB ⎥

⎢ ∂X A ∂YA ∂D AB ∂AZ AB ⎥⎦

Calculando as derivadas parciais, tem-se:

⎡ 1 0 sen AZ D ⋅ cos AZ ⎤
J XL = ⎢ ⎥
⎢⎣ 0 1 cos AZ − D ⋅ sen AZ ⎥⎦

Multiplicando a matriz JXL pela CL tem-se:

⎡ σ 2X A σ X A YA senAZ ⋅ σ D2 D ⋅ cos AZ ⋅ σ 2AZ ⎤


JX L ⋅ CL = ⎢ ⎥.
⎢⎣ σ X A YA σ 2YA cos AZ ⋅ σ D2 − D ⋅ sen AZ ⋅ σ 2AZ ⎥⎦

E multiplicando essa matriz pela transposta de JXL, tem-se:

⎡σ 2X A + (senAZ ) 2 ⋅ σ D2 + (D ⋅ cos AZ ) 2 ⋅ σ 2AZ σ X A YA + senAZ ⋅ cos AZ ⋅ σ D2 − D 2 ⋅ senAZ ⋅ cos AZ ⋅ σ 2AZ ⎤


⎢ ⎥.
CX = ⎢ ⎥
⎢ σ YA + (cos AZ ) ⋅ σ D + ( −D ⋅ senAZ ) ⋅ σ AZ
2 2 2 2 2

⎣ ⎦

Ou seja:

σ 2XB = σ 2X A + ( senAZ ) 2 ⋅ σ D2 + (D ⋅ cos AZ ) 2 ⋅ σ 2AZ

σ 2XB = σ 2YA + (cos AZ ) 2 ⋅ σ D2 + ( −D ⋅ senAZ ) 2 ⋅ σ 2AZ

σ XB YB = σ X A YA + senAZ ⋅ cos AZ ⋅ σ D2 − D 2 ⋅ senAZ ⋅ cos AZ ⋅ σ 2AZ

6- EXERCÍCIOS PROPOSTOS

i) A partir das seguintes funções:


X 2 − X1
f (x) = ( X 2 − X1 ) 2 + ( Y2 − Y1 ) 2 e g( x ) = arctg ( )
y 2 − y1

determinar as seguintes derivadas parciais:


a) f ' ( x 1 ) b) f ' ( y 1 ) c) f ' ( x 2 ) d) f ' ( y 2 )

e) g' ( x 1 ) f) g' ( y 1 ) g) g' ( x 2 ) h) g' ( y 2 )

63
Rodrigues, D. D. - 2008 Introdução à teoria dos erros

ii) Sabendo-se que um ângulo α é resultado da diferença entre a direção final, δ f , e a direção

inicial, δ i , ou seja, α = δ f − δ i ; calcular as covariâncias de um ângulo α qualquer, sabendo que


as direções são medidas uma precisão de 10”.
iii) Se distâncias são medidas com um erro relativo de 1/500 (0,2% ou 2000 ppm), qual é o desvio
padrão de uma distância cujo valor mais provável é 30 m?
X1 X2 X3 X
iv) Se X = + + + L + n ; calcular o desvio padrão de X , σ X , sabendo que
n n n n
σ X1 = σ X2 = σ X3 = L = σ Xn = σ X .

v) Para obter o valor do ângulo da Figura 4.3, foram medidos os lados do triângulo com um desvio
padrão de 1 cm. Qual será o desvio padrão do ângulo calculado, em minutos do sistema
sexagesimal? Ou seja, qual é o efeito do erro de 1 cm nas distâncias medidas, no ângulo
procurado?

30,16 m 26,57 m

α
41,83 m
Figura 4.3: Ângulo com trena

vi) Sabendo que, de acordo com a Figura 4.2, as coordenadas do ponto A, seus desvios padrão e o
coeficiente de correlação entre elas, são iguais a: XA = 1245,192 m, YA = 2341,052 m, σ XA = 5 cm ,

σ YA = 5 cm , ρ X A YA = − 0,12 . Sabendo ainda que DAB = 123,000 m , σ D = 5 mm , AZAB = 48º 00’ e

σ AZ = 1' , calcular as coordenadas do ponto B, seus desvios padrão, em mm, e o coeficiente de


correlação entre elas.
vii) Dadas, de acordo com a Figura 4.4, as coordenadas X, Y e Z dos pontos P e Q e sua matriz das

covariâncias, CPQ, determinar os desvios padrão de DPQ, DHPQ, AZPQ, Ẑ PQ , sabendo que:

DPQ

Ẑ PQ AZPQ

Z DHPQ
Y
P

O X

Figura 4.4 – Coordenadas polares e retangulares

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Topografia: planimetria para engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

• As coordenadas de um mesmo ponto são correlacionadas, porém, não há correlação


entre as coordenadas dos pontos P e Q;

[ ]
1
• D PQ = ( X Q − X P ) 2 + ( YQ − YP ) 2 + ( Z Q − Z P ) 2 2 ,

[ ]
1
• DHPQ = ( X Q − X P ) 2 + ( YQ − YP ) 2 2 ,

XQ − XP
• AZ PQ = arctg ( ) e
YQ − YP

Z Q − ZP
• Ẑ PQ = ar cos ( )
[ (X ]
1

Q − XP ) 2
+ ( YQ − YP ) 2
+ (Z Q − ZP ) 2 2

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